UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 27 de julho de 2025
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Seca é flagelo para milhões de brasileiros

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SecaA estiagem atinge uma grande parte do território nacional desde janeiro. Todas as cidades do Semiárido nordestino foram afetadas e quase 70% dos 1.794 municípios do Nordeste estão em situação de emergência, somando cerca de 10 milhões de pessoas,  segundo estimativas do Ministério da Integração Nacional. Também o Norte de Minas Gerais e parte do Espírito Santo sofrem com a seca.

No ano inteiro foram raríssimas as chuvas, que apenas acenderam uma ponta de esperança no sertanejo, mas que não matou sua sede. Pelo contrário, o que vimos morrer foram plantações de pequenos agricultores e os rebanhos de ovinos e bovinos, formando verdadeiros cemitérios ao ar livre dentro das propriedades e na beira das estradas. Um cenário desolador e absolutamente contrário à prosperidade, desenvolvimento e justiça social dos discursos governamentais tão repetidos ultimamente.

“Temos que dividir a água com os animais”

Sem chuva, o pasto foi reduzido à areia. Além de não ter capim para dar aos animais, os pequenos produtores ainda são obrigados a comprar ração e complementos alimentícios a preços inflacionados. “Se, pelo menos, o governo ajudasse com a ração, que é o que faz os animais darem leite, ajudaria bastante. Mas, até agora, recebemos água de carro-pipa só para o abastecimento de casa. Mesmo não dando, temos que dividir a água com os animais para que eles não morram”, afirma a agricultora Sônia Souza Costa, de Poço Redondo, em Sergipe.

Em Alagoas, a região do Município de Batalha, a maior bacia leiteira do Estado, é uma das que mais sofrem com a seca e já viu a produção de leite cair pela metade. A seca também atingiu de forma avassaladora o Estado do Ceará, que, apesar de contar com as duas maiores barragens de água do Nordeste, possui quase 90% de seu território no Semiárido (apenas seis dos 184 municípios não decretaram situação de emergência), afetando praticamente toda a atividade pecuária. Já na Bahia, os produtores da região de Jacobina perderam metade do rebanho de três milhões de cabeças de gado.

As duas principais culturas produtivas do Semiárido nordestino (milho e feijão) foram extirpadas. No Maranhão a perda chegou a 60% da produção de arroz, milho e soja do leste do Estado.

Com a brusca queda da produção no campo, verificou-se nas cidades uma alta dos preços dos alimentos, chegando ao dobro do valor em relação ao ano passado, além de um novo êxodo populacional, inchando ainda mais os grandes centros.

O próprio sistema para o consumo humano de água também está completamente em colapso. Na Paraíba, por exemplo, com 195 de seus 223 municípios em estado de emergência, a cidade de Cabaceiras está há dois meses sem uma gota de água encanada, mesmo na área urbana. O padre Djacy Brasileiro, que atua na região, enviou diversas cartas ao Congresso Nacional e à Presidência da República questionando o tratamento dado às vítimas da seca:

“Será que a seca, que devasta e mata, não é tão cruel quanto as guerras no Oriente Médio, o atentado às Torres Gêmeas do World Trade Center e o furacão Sandy, nos Estados Unidos? Será que a seca, que devasta e mata, não merece a devida atenção tanto quanto à crise econômica europeia, as reuniões opulentas e luxuosas do G8 e a Copa do Mundo 2014? Será que a seca, que devasta e mata, não merece a devida atenção tanto quanto o julgamento do Mensalão e de outros atos ilícitos de repercussão nacional?”

A indústria da seca

Em 13 de novembro, a presidente Dilma Rousseff publicou Medida Provisória para aumentar os benefícios concedidos aos atingidos pela estiagem. Os agricultores receberão um auxílio extra de R$ 280 por meio do Programa Garantia-Safra, que paga míseras cinco parcelas de R$ 80. No entanto, boa parte desta ajuda nem sequer chega às vítimas da seca.

“A ajuda não está chegando nem na quantidade, nem velocidade que a gente entende que seria necessária. Estamos fazendo uma série de cobranças ao Governo Federal e Estadual [Pernambuco]. Tivemos uma reunião com o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, para iniciarmos uma campanha de arrecadação de água para consumo humano. Temos municípios entrando em colapso. Pedimos também à Igreja que cobre dos governos. Queremos recursos para a realização de obras como cisternas e barragens subterrâneas. A situação está séria e a burocracia é grande. O que percebemos é que o governo não se preparou para enfrentar um momento como esse”, afirma Doriel Barros, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape).

No dia 9 de novembro, ao inaugurar a Adutora do Algodão, na região de Guanambi, na Bahia, a presidente Dilma Rousseff ouviu Maria Mendes do Pindaí, representante dos movimentos sociais da região, falar sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres com a seca: “A primeira coisa que a gente precisa é ter água, porque sem água não tem café para darmos aos nossos filhos”.

O governo federal anunciou ainda a criação do programa “Mais Irrigação”, que terá investimentos de R$ 10 bilhões, sendo R$ 3 bilhões de recursos públicos e R$ 7 bilhões da iniciativa privada, de acordo com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra. Na prática, o resultado será um aprofundamento do poder do capital no campo através das famigeradas parcerias público-privadas (PPPs).

Já os carros-pipa, ícones da chamada indústria da seca no Nordeste, foram amplamente ressuscitados nesta estiagem e, com eles, os chamados “coronéis da água”. Em várias cidades, moradores denunciam que a entrega de água obedece a critérios políticos: à época das últimas eleições municipais, quem não votasse no candidato que controla os carros-pipa não recebia a água. Onde esses candidatos não se elegeram houve retaliações e o completo abandono das famílias por parte do poder público.

Só minoria tem acesso à água

A pobreza no Sertão nordestino é crônica. Vários municípios hoje atingidos pela seca coincidem com os que tinham a renda mais baixa e os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país há 12 anos.

De acordo com o último Atlas do Desenvolvimento Humano, feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em 2000, das quatro cidades com menor IDH do país, três estão na lista de municípios em emergência pela seca. A cidade com menor IDH do país é Manari-PE, com índice de 0,467 – o país teve média de 0,649 no mesmo período. Outras duas cidades nordestinas, Traipu-AL e Guaribas-PI, também estão no topo da lista, com 0,479 cada uma.

A verdade é que todos os especialistas e pesquisadores sérios do Brasil vêm afirmando há décadas que o problema do Nordeste brasileiro não é a falta de água, mas sim sua concentração em determinadas propriedades privadas. Ou seja: o centro da questão não é climático, resultado de fenômenos naturais, é político, econômico, social.

O professor de sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Paulo Decio de Arruda Mello afirma que não há, necessariamente, uma relação direta entre a miséria e as estiagens. “Não é uma coisa automática. Podem existir locais com produção e desempenho econômicos elevados, mas que sejam atingidos pela seca. O Sertão do Nordeste acabou sendo alvo de políticas assistencialistas ao longo de décadas, o que impediu o desenvolvimento sustentável. Os governos não investiram como deveriam em obras estruturantes no Semiárido brasileiro porque nessas áreas geralmente se concentra a agricultura familiar, que não são commodities ou exportadores. São áreas ocupadas por economias agrícolas de pouco valor agregado, que acabam relegadas a um segundo plano. A tendência é investir mais em setores mais rentáveis”.

Segundo o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) João Abner Guimarães Júnior, especialista em recursos hídricos, “há água para consumo humano e animal com sobra. Há estoques suficientes para atender plenamente às necessidades do cidadão do campo, mesmo num período como este. São 10 bilhões de metros cúbicos armazenados na região acima do Rio São Francisco, em grandes reservatórios. Um sistema adutor com capilaridade seria suficiente para atender a toda demanda local, comprometendo menos de 20% da disponibilidade hídrica dos reservatórios”.

“Se o governo federal instituísse um programa do tipo ‘Água para Todos’, isso custaria cerca de R$ 20 por ano, por habitante. É um custo muito menor do que os aluguéis dos carros-pipas e do que as ajudas emergenciais, como o Bolsa-Estiagem, e representaria um terço do valor da transposição do Rio São Francisco”, afirmou.

Na cidade de Pão de Açúcar, em Alagoas, a menos de 500 metros do rio, comunidades rurais sofrem com a seca como se não houvesse uma imensidão de água ao lado, tudo porque a água do rio nunca chegou até eles. Em Glória, na Bahia, moradores revoltados afirmam que não há abastecimento de água nem energia elétrica. “Aqui a gente acorda e vê esse rio cheio de água e vê o esquecimento em que vivemos desde que nascemos. Nunca chegaram para trazer um copo d’água desse rio pra gente”, afirma dona Maria São Pedro, que vive a menos de 5 km do rio.

Seca para alguns, abundância para outros. Eis o dilema em que se encontrará o Nordeste e o Brasil enquanto viver num regime econômico que privilegia uma minoria.

Rafael Freire, presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba

Violentados em Fortaleza 822 crianças e adolescentes

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Violência infantilSomente nos três primeiros meses do ano, 822 crianças e adolescentes foram violentados em Fortaleza, de acordo com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). Mas esse número pode ser ainda maior, pois esse dado se refere somente aos casos atendidos neste órgão. O mais grave é que tais atrocidades foram cometidas pelos próprios pais ou responsáveis.

Esse absurdo nos leva a refletir o tipo de sociedade em que nossos filhos e filhas estão inseridos. Na realidade, o sistema capitalista não respeita nem mesmo a inocência das nossas crianças e acaba com as relações de afetividade entre pais e filhos. Através das músicas, filmes e novelas, sexualiza crianças e adolescentes. Até a moda tem fortalecido essa triste realidade. É comum vermos meninas usando roupas extravagantes, curtas e sapatos de saltinho, sendo transformadas em mulheres-pequenas. Muitas vezes crianças e adolescentes são vistas dançando coreografias com gestos obscenos de músicas com letras pornográficas. Dessa forma, crimes como a pedofilia, o abuso sexual e a prostituição de crianças e adolescentes são fortalecidos e naturalizados.

Se a humanidade não transformar essa sociedade, acabando com o capitalismo, uma realidade cada vez mais dura será imposta para todas as crianças, homens e mulheres.

Paula Virgínia Colares, Fortaleza

A quem serve o novo Código Florestal?

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Charge de Código FlorestalO ano de 2012 termina com a publicação do novo Código Florestal (Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012 e alterações da Lei nº 12.727, de 2012). Após três anos de debates, o novo Código Florestal se assemelha à proposta inicial dos ruralistas, elaborada em 2009 pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).  Acaba, assim, a legislação de 1934 para preservar parte da vegetação nativa dentro de propriedades privadas. A burguesia e os latifundiários finalmente têm um código para chamar de seu.

A Lei nº 12.727, sancionada pela presidente Dilma em outubro, é cheia de contradições, mas na essência defende os interesses dos latifundiários. Vejamos.

Os produtores que respeitaram o Código Florestal antigo, independente do tamanho do imóvel, terão de manter 50m de florestas ao redor de nascentes perenes, 30m ao largo dos pequenos rios, respeitar as florestas dos topos de morro e encostas; os que desrespeitaram não precisarão recuperar a vegetação dos topos de morro e encostas, terão só 15m ao redor de nascentes e, a depender da área do imóvel, poderão nem ter mata ciliar ao largo dos pequenos rios.

Outra característica é a sua complexidade, assim, ocorrendo desmatamento de áreas protegidas (Área de Preservação Permanente – APP e Reserva Legal – RL), a punição depende de quando ocorreu e da área do imóvel. Um pequeno proprietário que tinha todo seu imóvel desmatado antes de 2008 terá que recuperar muito pouco da vegetação original. Um médio proprietário, na mesma situação, terá que recuperar bem menos do que na legislação anterior. Se o desmatamento ocorreu após 2008, no entanto, a situação será completamente diferente para ambos. Se parte do desmatamento foi antes e parte depois de 2008, a situação será outra ainda; na prática, não vai ocorrer punição aos infratores..

No caso da Amazônia, em 90 municípios a RL cairá de 80% para 50%. Os imensos igapós e várzeas (com área do tamanho do Estado de SP) deixaram de ser considerados APP. Todas as nascentes intermitentes, abundantes nas áreas de transição com o Cerrado, poderão ser desmatadas. Foi concedida anistia ao desmatamento do Cerrado (49% da área total) e da Mata Atlântica (76% da área total), seguindo de exemplo para estimular aos que quiserem avançar um pouco mais do que a legislação permite.

Apesar dos nove pontos vetados pela presidente Dilma, que aumentavam ainda mais a anistia a grandes proprietários, a possibilidade de “restauração” de matas ciliares com frutíferas, outros pontos importantes passaram: a anistia dos desmatamentos ilegais e redução da proteção de áreas ambientalmente sensíveis. Substituindo a lacuna dos vetos, veio um decreto que regulamenta alguns itens do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e dos Programas de Regularização Ambiental (PRAs), que serão desenvolvidos pelos governos estaduais. O governo federal garante que a nova lei não permite anistias, mas é bom lembrar que, na vigência do antigo Código Florestal, que era mais rígido, os desmatadores na maioria não pagaram um centavo das multas aplicadas até hoje é ver para crer.

A legislação aprovada abre brecha para que médios e grandes proprietários não precisem ter RL, simplesmente alegando que a área já estava desmatada antes da existência da legislação de 1934, que determina a existência da RL. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) explica que a RL só passou a existir no Cerrado em 1989 e, nos biomas  da Caatinga, Pantanal e Pampas, em 2001. Interessante que a CNA não se lembra de que a lei da propriedade privada da terra é de 1850, e que os indígenas brasileiros até hoje não têm direito às suas terras demarcadas (e já moravam havia milhares de anos no País, antes da lei de 1850).

As reações com a publicação do novo Código Florestal pela burguesia tiveram variações. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), afirmou que entrará com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra as medidas. “Esse AGU [advogado-geral da União], Luís Inácio Adams, é um analfabeto. O que foi feito foi de uma total arrogância, prepotência e inconstitucionalidade”, afirmou Caiado. A avaliação do AGU e do Ministério do Meio Ambiente é de que o próprio Congresso deu a autorização para o Executivo legislar nesse caso, ao determinar que as regras do PRA fossem feitas por decreto. Outros representantes da burguesia tinham a intenção de derrubar os vetos da presidente Dilma, mas o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse que tem de furar uma fila de outros 2.424 vetos engavetados.

Para finalizar, com a palavra a representante oficial dos ruralistas, a senadora do PSD-TO Kátia Abreu:  “Se não estou 100% satisfeita como produtora rural, me considero 100% contemplada como cidadã, pois tivemos espaço para debater e chegamos a um bom termo na legislação.”

Hinamar de Medeiros, Recife

Sérgio Miranda: comunista e militante do povo

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Sérgio MirandaNascido em Belém (PA), Sérgio Miranda começou sua militância ainda como estudante, aos 15 anos, no movimento estudantil secundarista, quando ingressou Partido Comunista Brasileiro (PCB). Representou os estudantes do Ceará no Congresso de Ibiúna, quando foi preso, época em que estudava Matemática na Universidade Federal do Ceará (UFC), então militante do PCdoB, sendo expulso do curso em 1969, atingido pelo Decreto 477 do governo militar. Foi obrigado a viver na clandestinidade, organizando, assim, a resistência à ditadura. Sua extrema dedicação, firmeza e capacidade de organização na realização das tarefas, o levou ao comitê central do PCdoB.

Saído da clandestinidade, Sérgio Miranda foi transferido para Minas Gerais, com a função de organizar e ampliar o trabalho do partido. Em 1988, foi eleito vereador em Belo Horizonte, tendo grande atuação na criação da Lei Orgânica do município, além de ter sido o autor da lei da meia-entrada estudantil nos eventos culturais e esportivos.

De 1993 a 2006, foi eleito quatro vezes deputado federal, destacando-se da defesa dos interesses nacionais. Foi eleito por 11 vezes consecutivas na lista dos “Cabeças do Congresso” organizada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que elege os cem melhores parlamentares.

Especialista em orçamento, tornou-se referência nacional ao ser o primeiro a demonstrar o verdadeiro propósito da Lei de Responsabilidade Fiscal, criada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso: garantir o pagamento das dívidas externa e interna em detrimento dos serviços prestados à população.

Em todos os mandatos, apresentou emendas para a valorização do salário mínimo e foi sempre contrário à CPMF, denunciando que o imposto não servia à saúde, mas ao ajuste do sistema financeiro e à especulação. Participou ativamente dos movimentos nacionais em defesa do SUS e do ensino público, gratuito e de qualidade. Atuou na CPI das fraudes do INSS, na investigação do assassinato dos fiscais do Ministério do Trabalho.

Sérgio Miranda teve papel decisivo na criação do Plano de Carreira e Salários dos servidores federais do Judiciário e do Ministério Público – direito estendido a milhares de trabalhadores em todo o país. Além disso, foi um dos precursores da proposta de diminuição da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais, sem diminuição do salário. Além do mais, defendeu a adoção do software livre no serviço público e o desenvolvimento da informática nacional.

Em 2003 e 2005, votou contra a Reforma da Previdência, pois retirava direitos dos trabalhadores. Esta votação, somada a divergências com a linha política do PCdoB, levou Sérgio a sair do partido no qual militou por 43 anos, mantendo-se coerente com seus princípios e sua história de lutas.

Em 2008, foi candidato a prefeito de Belo Horizonte, obtendo 42.812 votos, ficando em quarto lugar no pleito. Em 2010, foi candidato a deputado federal em Minas Gerais com o apoio do Partido Comunista Revolucionário (PCR), das Brigadas Populares e da Refundação Comunista. Apesar de ter obtido uma grande votação (55 mil votos), ficando entre os dez candidatos mais votados na Capital, não conseguiu ser eleito.

Lutando a vida toda

Não abandonando seus princípios comunistas e a luta pelo socialismo, os últimos anos de sua vida foram marcados pela militância a favor dos movimentos sindical e popular. “O papel da esquerda é construir outro caminho, buscar alternativas para mudar a realidade, e essas mudanças somente poderão acontecer com a organização e mobilização do povo”.  Tentou, nesses anos, com a mesma força de vontade que marcou toda a sua militância, passar sua experiência; dedicou-se ainda mais ao estudo da realidade brasileira, proferiu centenas de palestras, cursos, seminários, assessorou sindicatos e reuniu-se com lideranças populares.

No início do ano de 2012, descobriu que estava com um câncer no pâncreas. Iniciou um difícil tratamento em São Paulo, e as seções de quimioterapia não tiveram o resultado esperado. Nos últimos meses, foi morar em Brasília junto com a esposa, a engenheira Cristina Sá Brito, onde deu continuidade ao tratamento. No dia 26 de novembro, faleceu em casa, ao lado da mulher e da irmã Margarida Brito. Seu enterro no Cemitério Campo da Esperança, no Distrito Federal, foi marcado por uma grande emoção.

A primeira pessoa a falar foi sua irmã, afirmando que a maioria das pessoas ali presentes tinham uma convivência maior com o Sérgio do que os familiares, já que faziam parte da vida dele e compartilhavam dos mesmos ideais. Margarida lembrou que Sérgio era pessoa muito sensível aos problemas das pessoas, que sua relação na família foi sempre de muito respeito e carinho, que para a família ele era o Zó (apelido) e gostava muito de poesia.

Renato Rabelo, presidente do PCdoB, destacou a dedicação de Sérgio na construção do PCdoB, destacando-se como um dos melhores organizadores no período mais difícil na década de 1970.

Ronald Rocha, da Refundação Comunista, disse que “Sérgio gostava muito de debater a conjuntura, sendo que ele mesmo tomava a iniciativa de falar do assunto, era o primeiro a expor seus pontos de vista. Não tinha nenhum tipo de sectarismo, mas tinha posições claras sobre qualquer tema da realidade, era um intelectual, um militante dedicado às causas populares, admirado e respeitado por todos”.

Simman Sammer, das Brigadas Populares, destacou “a importância de Sérgio Miranda para a conjuntura política atual e o valor que Sérgio dava à necessidade da unidade popular no contexto atual”.

Fernando Alves, da direção nacional do Partido Comunista Revolucionário (PCR), afirmou que  “Sérgio Miranda teve sua trajetória de vida marcada pela coerência e pelos princípios revolucionários. Era uma referência política na sociedade, em especial, para todos os que tiveram o privilégio e a oportunidade de conhecê-lo e de militar ao seu lado Por esses motivos, Sérgio Miranda estará sempre presente em nossas vidas e em nossas lutas!”.

Raimundo Rodrigues Pereira, diretor da revista Retrato do Brasil e grande amigo de Sérgio, bastante emocionado, conseguiu apenas pronunciar que Sergio era membro do Conselho Editorial da revista.

Para os comunistas e o povo, Sérgio Miranda deixa um grande legado, uma vida de muitas lutas, um exemplo a ser seguido, de que vale a pena lutar a vida toda e que esse é o caminho para que o socialismo um dia se torne realidade em nosso país e no mundo.

No sepultamento, a palavra-de-ordem “Sérgio Miranda, presente!” ecoou pelo ar para se espalhar por todo o nosso Brasil.

Da Redação

Dinheiro público garante sucesso de Eike Batista

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Eike BatistaÉ grande a propaganda das possibilidades de sucesso e ascensão dentro do capitalismo. Mesmo no período de crise geral, os meios de comunicação se esforçam em alardear os “exemplos de sucesso” e de fortunas construídas por alguns poucos.

Nos últimos anos, um dos grandes escolhidos da mídia é o bilionário Eike Batista, com direito a capas de revista, entrevistas na televisão e, claro, muita propaganda de sua fortuna e de sua liderança empresarial.  Mas, como no sistema em que vivemos nada acontece por acaso, a mais recente empresa de seu grupo, a Six Semicondutores, é uma prova viva do favorecimento feito pelo Estado para aumentar a fortuna dos ricos.

Criada no mês de novembro, a fábrica de semicondutores (matéria-prima básica para a produção de chips de computadores) será instalada em Minas Gerais. Por ser o Brasil o quinto maior fabricante de computadores do mundo, ocupa um papel estratégico para o desenvolvimento de toda a indústria de tecnologia no país.  Para o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, a Six Semicondutores é “símbolo do avanço da sólida indústria brasileira rumo ao século XXI”.

Acontece que o Brasil já possui uma indústria de semicondutores, e uma empresa pública, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a Ceitec, criada em 2008, mas praticamente esquecida pelo ministro na construção dessa sólida indústria brasileira a que ele se refere.

Mais R$ 700 milhões para Eike

A Six Semicondutores terá seu início no final de 2014, com um custo estimado, para sua instalação, em R$ 1 bilhão. Os parceiros, ou melhor, beneficiados pelo Governo, serão a SIX Soluções Inteligentes (de Eike Batista), IBM, Matec Investimentos, Tecnologia Infinita WS-Intecs e os bancos estatais BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais) e o BNDESPAR, responsável pelas participações acionárias do BNDES.

Do total de ações da empresa, caberão ao BNDESPAR 33%, ao custo de R$ 245 milhões, o mesmo que a SIX Soluções Inteligentes, sendo os 34% restantes divididos entre os demais participantes. Se não bastasse esse grande apoio, o BNDES ainda aprovou um financiamento de R$ 267 milhões, e, para não restarem dúvidas do interesse em patrocinar o novo “projeto” de Eike Batista, a estatal Finep, Financiadora de Estudos e Projetos, liberou para a SIX um empréstimo de R$ 202 milhões. Resumindo: R$ 714 milhões de dinheiro público gastos na criação dessa empresa. E viva a iniciativa privada!

Mas por que Eike Batista? Será que o megaempresário, que de acordo com a lista da Forbes está entre as 10 maiores fortunas do mundo, o homem mais rico do Brasil com mais de R$ 30 bilhões, precisaria de um financiamento público para tocar sua empresa?

Será que uma análise de crédito séria deveria desconsiderar os constantes prejuízos que suas empresas vêm tendo ao longo dos últimos meses? De acordo com a consultoria Economática, de janeiro a setembro deste ano, as empresas de Eike tiveram um prejuízo de R$ 1,68 bilhão, 64% maior que o prejuízo do ano passado, de R$ 1,02 bilhão. O mesmo tratamento seria dado a uma pequena ou média empresa após dois anos de prejuízo em suas contas?

A verdade é que, para os capitalistas, a iniciativa privada só existe em seus discursos e na divisão dos lucros, pois na hora dos investimentos os recursos do Estado, arrecadados sobre os impostos dos mais pobres, são utilizados em seus interesses sem nenhuma cerimônia.

Sendo esse um setor tão importante para a indústria brasileira, o Governo, que é quem pagará a conta, deveria assumir a tarefa de impulsioná-lo mediante a criação de uma empresa pública, ou mesmo da utilização da Ceitec.

Fica claro, assim, que as grandes fortunas e grandes empresas não são obra do acaso ou do esforço de seus proprietários. São resultado de uma política combinada, de apropriação do trabalho do povo e da utilização de investimentos estatais, recursos estes que deveriam ser destinados a benefício de toda a população e não para impulsionar as fortunas de meia dúzia de famílias.

Rafael Pires,
militante do PCR

Patrões gastam bilhões nas eleições para assegurar exploração dos trabalhadores

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Dinheiro derramado nas eleiçõesExcetuando a derrota do PSDB para o PT em São Paulo, houve pouca mudança nas eleições de 2012 em relação à posição dos partidos nos 5.564 municípios brasileiros.  O PMDB foi o partido que mais elegeu prefeitos: 1.031, redução de 15% em relação a 2008. O PSDB ficou em segundo lugar, elegendo 702 prefeitos, e o PT em terceiro, com 636 prefeituras. Somadas, as prefeituras vencidas pelo PT concentram 20% do eleitorado. Destaque para São Paulo, que tem cerca de 6% dos eleitores brasileiros.

Nas capitais, o PT elegeu quatro prefeitos: Goiânia, João Pessoa, São Paulo e Rio Branco. Em 2008 foram seis. O PSDB venceu as eleições para prefeito em Maceió, Belém, Manaus e Teresina; o PSB ganhou em Recife, Fortaleza, Belo Horizonte, Cuiabá e Porto Velho. Os peemedebistas elegeram dois prefeitos de capital: Rio de Janeiro (RJ) e Boa Vista (RR). O DEM ganhou em Salvador e Aracaju. O PDT venceu em Porto alegre, Curitiba e Natal; o PP em Campo Grande (MS) e Palmas (TO); o PPS venceu em Vitória (ES); o PSOL elegeu o prefeito de Macapá, no Amapá, e o PSD (nova mutação do PFL), venceu em Florianópolis.

No total, PMDB, PSDB, PTB, DEM, PSD, PPS, PP, PR, etc, têm mais de 4.000 prefeituras. Portanto, a imensa maioria dos municípios brasileiros continua sendo governada por partidos claramente de direita.

Como, então, explicar após 10 anos de governo do PT, que a hegemonia da maioria das  prefeituras do país continue com os partidos conservadores?

Em primeiro lugar, tal resultado é fruto da política de alianças adotada pelo PT desde as eleições de 2002. Uma política que em vez de enfraquecer os partidos de direita, os fortalece  com ministérios, cargos no governo e financiamento eleitoral legal e ilegal. De fato, em São Paulo, para assegurar mais tempo de TV para Fernando Haddad, o PT fez acordo com o PP de Paulo Maluf. Não bastasse, conforme revelou à imprensa no dia 27 de novembro, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), a presidente Dilma Rousseff convidou o PSD para ocupar um ministério e integrar a base aliada do governo federal. Segundo Kassab, a presidente chegou a oferecer mais de uma opção de ministério.

Maluf, aliás, acabou de ser condenado pelo tribunal de Jersey, paraíso fiscal da Inglaterra, a devolver US$ 22 milhões (R$ 45 milhões) à Prefeitura de São Paulo por ter superfaturado obras em favor da empreiteira Mendes Júnior que, em troca, depositou 11,1 milhões de dólares em  contas bancárias de empresas de Maluf e de seu filho.

Em segundo lugar, da mesma forma que não fez nenhuma reforma nas Forças Armadas mantendo seu alto mando reacionário, que continua nos quartéis, chamando o golpe militar de 1964 de revolução, o PT também não realizou nenhuma mudança profunda no regime econômico que segue sendo capitalista e dominado pelo capital financeiro e por grandes monopólios nacionais e internacionais. Ora, como o controle da economia continua nas mãos da burguesia, esta classe utiliza de forma cada vez mais descarada seu poder econômico (o capital) nas eleições, visando a aumentar seu controle sobre o Estado. Pode parecer algo secundário, mas quando observamos o rio de dinheiro que é gasto nas campanhas eleitorais, vemos que faz toda a diferença.

Com efeito, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os candidatos a prefeito e a vereador gastaram R$ 3,59 bilhões nas campanhas eleitorais deste ano. Vale ressaltar que esse número é parcial, pois falta serem incluídas nele as despesas totais dos 100 candidatos que foram para o segundo turno.  Tal situação determinou, inclusive, uma composição ainda mais à direita nas câmaras municipais do país e a não eleição de vários parlamentares de esquerda.

Boa parte dessa dinheirada veio das empreiteiras que doaram diretamente aos partidos políticos legais R$ 270 milhões. Somente a Andrade Gutierrez doou R$ 18,5 milhões ao PT; R$ 15,9 milhões ao PMDB; R$ 13,5 milhões ao PSDB; R$ 6,7 milhões ao PSB e R$ 4,6 milhões ao PSD. Coincidentemente, os partidos que mais conquistaram prefeituras no país.

Repete-se o que ocorreu nas eleições de 2010, quando grandes empresas foram responsáveis por 70% dos recursos gastos nas eleições de deputados federais e senadores e 90% dos candidatos a governador e a Presidente da República.

Por isso, passadas as eleições, os governantes optam por prestar contas aos seus financiadores e não aos eleitores. Basta observar os constantes subsídios, isenção de impostos e financiamentos dados pelos governos para as grandes empresas, e as leis aprovadas no Congresso Nacional. São os casos, por exemplo, do Código Florestal, da Lei da Copa e do Orçamento da União, que não reserva dinheiro para aumentar o salário dos servidores públicos, mas garante subsídios para montadoras de automóveis, empreiteiras e o chamado agronegócio, enquanto a Reforma Agrária aguarda na fila, além de manter o superávit primário e o pagamento religioso dos juros da famigerada divida pública.

Tal situação prova, mais uma vez, o quanto é ilusória a ideia de que eleições dentro do capitalismo são democráticas e de que é possível promover profundas transformações políticas  e sociais mantendo a propriedade privada dos meios de produção.

Entretanto, partidários da tese nazista de que uma mentira repetida mil vezes torna-se uma verdade, os ideólogos burgueses afirmam que em Cuba, onde não existe influência do capital nas eleições, não há democracia, mas no Brasil – onde se compra voto por até R$ 200 – e os EUA, país  onde as eleições são um paraíso para os ricos e um enganação para os pobres, vive-se numa democracia. Bela democracia essa!

Tal realidade nos países capitalistas impõe a necessidade dos revolucionários, se quiserem realizar uma verdadeira revolução, se vincularem, como unha e carne, aos trabalhadores e às massas exploradas, organizarem e desenvolverem muito mais lutas e trabalharem sem descanso para elevar a consciência das massas e sua organização. Em outras palavras, é preciso realizar uma profunda reflexão sobre o trabalho que atualmente desenvolvemos no seio do povo, questionar se ele vem sendo realizado de forma cotidiana e de maneira correta e se estamos recrutando novos militantes e organizando-os no ritmo necessário. Trata-se de uma questão urgente, pois, como sabemos, só um partido profundamente ligado ao povo pode enfrentar e derrotar o poder do capital. Ademais, não demorará muito para os enfrentamentos de classes que hoje acontecem em várias partes do mundo, ocorrerem também no Brasil, e o mal só acaba cortando-o pela raiz.

Lula Falcão,
membro do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário

Trabalhadores de Suape enfrentam repressão policial

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Repressão policial em SUAPEOs trabalhadores das obras da Refinaria Abreu e Lima e do complexo petroquímico de Suape, localizadas em Ipojuca na Região Metropolitana do Recife-PE, realizaram duas greve em menos de dois meses. O motivo da última greve, que teve início dia 30 de outubro, foi o descumprimento do acordo coletivo de equiparação salarial entre as empresas do complexo, que pagavam salários diferenciados por trabalhadores que exerciam a mesma função. A diferença chega a ser de até 47%.

Do mesmo modo como tem reprimido as lutas operárias, o Tribunal Regional do Trabalho decretou a ilegalidade do movimento no dia 16 de novembro, e logo a Polícia, a serviço dos patrões, desencadeou uma brutal repressão, abrindo fogo contra os manifestantes e deixando dezenas de operários feridos.

A maior repressão aconteceu quando os trabalhadores marchavam em direção à PetroquímicaSuape, onde iriam se reunir em assembleia na sexta-feira, dia 16. Quando os trabalhadores estavam próximos da portaria, foram reprimidos com bombas de efeito moral e balas de borrachas. Revoltados com a violência da Polícia, os funcionários que estavam na parte de dentro saíram em passeata para se unir a um grupo do lado de fora e realizar mais uma assembleia, que aprovou a continuidade da greve.

Na segunda-feira, dia 19, o aparato policial era gigantesco: cinco ônibus do Batalhão do Choque, dois helicópteros, dezenas de motos e dezenas de viaturas policias, dois caminhões pipas e um veículo do corpo de bombeiros, além da infiltração de agentes da polícia civil e militar entre os operários para descobrir e prender os principais dirigentes do movimento grevista. No dia 21, os operários retornaram ao trabalho.

Rodrigo Rafael, presidente do Sindtêxtil-Ipojuca

Congresso dos Jornalistas cria Comissão da Verdade e Justiça

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Congresso dos Jornalistas no AcreA Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) realizou, entre os dias 07 e 10 de novembro, em Rio Branco-AC, seu 35º Congresso Nacional, com tema: “Os desafios do Jornalismo e sua contribuição para o desenvolvimento sustentável”.

A programação girou sobre questões como aquecimento global, política energética, desmatamento, Código Florestal, etc., contando com debatedores de diversos órgãos e institutos, porém com pouca representação dos movimentos sociais e dos povos da floresta. Coube então ao professor Hélio Scalambrini (UFPE) ressaltar, durante sua palestra, que é impossível alcançar desenvolvimento sustentável na sociedade capitalista: “a lógica do consumismo e do lucro, sempre será colocada à frente do interesse da maioria da sociedade e da preservação do meio ambiente”, sentenciou.

Um importante momento do Congresso foi o ato político de criação da Comissão Memória, Verdade e Justiça da Fenaj, que vai apurar perseguições a jornalistas e à imprensa durante a Ditadura Militar. O foco dos trabalhos serão os casos de censura, “empastelamento” de jornais e revistas, impedimento do trabalho dos jornalistas, prisões, torturas, mortes e desaparecimentos. Dentre os nomes cotados para integrar a Comissão estão os jornalistas Audálio Dantas (ex-presid. Fenaj), Carlos Alberto Oliveira (ex-presid. Sind. Jornalistas do Município RJ), Nilmário Miranda (ex-presid. Sind. Jornalistas MG, ex-deputado federal e agora membro da Comissão de Anistia), Rose Nogueira (ex-presa política e diretora do Sind. Jornalistas SP) e Sérgio Murillo de Andrade (diretor e ex-presid. Fenaj).

“Pela primeira vez, vamos montar um acervo a partir do olhar dos jornalistas. Eles contarão a sua história desse período”, Celso Schröder, presidente da Federação. Além de casos conhecidos como a perseguição ao tabloide “O Pasquim” e a morte do jornalista de Vladimir Herzog, espera-se que muitas outras histórias ainda desconhecidas sejam reveladas. “Tenho viajado e percebido que há casos por todo o país que estão pouco registrados ou registrados muito localmente”, afirmou.

O jornalista Ricardo Carvalho, também presente ao evento, representou o Instituto Vladimir Herzog no ato e revelou que eles já contam com mais de cem horas de gravações de depoimentos de militantes e jornalistas do período da Ditadura, em especial sobre diversas publicações de esquerda, muitas vezes esquecidas propositalmente pela grande mídia quando se fala em censura da imprensa.

Gilney Amorim Viana, coordenador do projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, proferiu uma palestra sobre o tema, emocionando a todos com seu depoimento, exibindo também o documentário “Valeu a Pena”, que retrata a greve de fome de 32 dias realizada pelos presos políticos do Presídio Frei Caneca, no Rio (da qual ele mesmo participou), em defesa da “Anistia ampla, geral e irrestrita”.

O congresso da Fenaj também reafirmou as bandeiras de lutas específicas, com prioridade para a luta em defesa da formação de nível superior (aprovação da PEC do Diploma na Câmara Federal em 2013); o PL do Piso Nacional de R$ 3.270,00; a aprovação de um Marco Regulatório para as comunicações no Brasil; entre outras.

Da Redação

Ministério Público investiga Prefeitura por incêndio em favela

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Incêndios em favelas de SPApós a denúncia dos movimentos de moradia que associam as dezenas de incêndios em favelas paulistanas à pressão exercida pela especulação imobiliária (ver A Verdade, nº 144), o Ministério Público do Estado de São Paulo abriu uma investigação contra a Prefeitura da Capital, dirigida pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM). Entre os casos investigados está o do incêndio na favela do Piolho, ocorrido no dia 3 de setembro, que deixou 1.140 pessoas sem casa.

Em especial, o Ministério Público investiga a situação de comunidades do entorno da Av. Chucri Zaidan, situadas próximas a um polo comercial de alto padrão no Campo Belo, na Zona Sul. Nesta região, estão em construção 14 empreendimentos imobiliários tocados por consórcios de grandes empreiteiras.

Existe na região um programa da Prefeitura que tem o objetivo de “revitalizar” a área (provavelmente o prefeito queria usar a palavra higienizar). Ao programa, chamado Operação Urbana Consorciada (OUC) Águas Espraiadas, foram destinados R$ 3,2 bilhões, sendo R$ 2,9 bilhões oriundos de um leilão do direito de construir acima do estabelecido em lei. Através da bolsa de valores, a Prefeitura leiloou certificados que garantem às empreiteiras o direito de construir empreendimentos com mais andares e unidades do que o plano diretor da cidade permite para a região.

Com esses certificados na mão, as empreiteiras passam a fazer lobby para que os pobres sejam retirados da região, rápido e de qualquer jeito.

Do dinheiro até agora utilizado pela Prefeitura na OUC, R$ 106 milhões foram para realizar desapropriações e só R$ 77 milhões (2,2% do total) para construir habitações de interesse social. Pior. Muitas dessas famílias estão sendo enviadas para bairros distantes, como o Jabaquara e Americanópolis, contrariamente ao que está definido na lei que aprovou a operação urbana, ou seja, as famílias tinham que ser assentadas em moradias na região.

Enquanto isso, a Prefeitura quer fazer crer que os mais de 32 incêndios ocorridos em favelas paulistanas são frutos de acidentes particulares ou de “gatos” de energia. “Acompanhei esses casos e acho muito estranho, pois normalmente as favelas bem localizadas se incendeiam mais frequentemente do que as mal localizadas. Além disso, esses incêndios mostram despreparo total da Prefeitura em atender essas pessoas”, afirmou a arquiteta Lucila Lacreta, do Movimento Defenda São Paulo.

O fato é que a busca por lucros da parte das grandes empreiteiras não conhece limites. Pouco importa se as pessoas serão desalojadas, deslocadas para longe do lugar onde trabalham e seus filhos estudam ou mesmo se a casa dessas pessoas será incendiada.

Redação São Paulo

Biografia de Jorge Amado – A obra revolucionária do baiano rebelde

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Jorge Amado e Zélia Gattai“…Minha criação romanesca decorre da intimidade, da cumplicidade com o povo. Aprendi com o povo e com a vida, sou um escritor, não um literato; em verdade, sou um obá – em língua iorubá da Bahia, obá significa ministro, velho, sábio: sábio da sabedoria do povo”. 

Falar de Jorge Amado remete-nos à adolescência. Assim como eu, grande parte dos(as) militantes revolucionários(as) se emocionou, aderiu ou fortaleceu sua adesão à causa da liberdade e do socialismo ao beber na fonte dos Ásperos Tempos, Agonia da Noite e Luz no Túnel, que compõem a trilogia dos Subterrâneos da Liberdade. E os Capitães da Areia, de cujas aventuras se ergue Pedro Bala para lutar na Seara Vermelha da luta camponesa e da Rebelião de 1935? A luta pela posse da terra na região cacaueira da Bahia, tão bem retratada em São Jorge dos Ilhéus e Terras do Sem-Fim. E o Mundo da Paz, mostrando as mudanças promovidas pelo socialismo na URSS e nas democracias populares do Leste europeu? O Cavaleiro da Esperança com sua Coluna, percorrendo o país de Sul a Norte, chamando o povo a se levantar contra a opressão, por uma democracia de verdade!

De onde vem tanta inspiração, capaz de traduzir-se em personagens bravas, sempre gente simples enfrentando o poder, esquecendo o “eu” para pensar no “coletivo”? Mesmo quando deixa de escrever romances políticos para dedicar-se ao romanceiro de costumes, os heróis e heroínas não saem das classes dominantes, mas do seio dos excluídos, tais como Gabriela, Tereza Batista, Tieta do Agreste. São mulheres negras, terra.

Menino grapiúna (do litoral)

Quem diria, Jorge Amado era filho de coronel do cacau, João Amado, casado com Eulália Leal, dona Lalu. Nasceu em Itabuna, mas, ainda criança, a família se mudou para Ilhéus. O nascimento foi no dia 10 de agosto de 1912. “Aprendi com os camponeses nas roças de cacau, os coronéis em Ilhéus e os proletários nas universidades dos becos e ladeiras de Salvador”. Para a capital, foi aos 11 anos, estudar em colégio interno dos jesuítas. Era comum. Os coronéis se orgulhavam de ter filhos doutores. Mas Jorge demorou pouco. Não cursou o terceiro ano, Fugiu da portaria onde um tio o deixara. Os padres até gostaram, pois no ano anterior, o “moleque” os escandalizara, proclamando-se ateu e bolchevique.

Aos 14 anos, começou a trabalhar em jornal, aos 18, publicou seu primeiro romance, País do Carnaval, do qual ele não gostava, considerando que ainda não tinha um estilo próprio, estava sob influência europeia. No seguinte, Cacau, tudo muda, o estilo é próprio, é brasileiro, com o povo em cena no enredo e na linguagem. Será um romance proletário? Perguntou. Era. E vieram outros tantos, alguns citados no início desta louvação.

Em 1928, entrou na Academia dos Rebeldes, formada por jovens escritores baianos que pretendiam afastar as letras baianas da retórica, da oratória balofa, da literatice. Dar à literatura um caráter nacional e social, reescrever a linguagem, aproximando-a da fala do povo. Conseguiram. “Sentíamo-nos brasileiros e baianos, vivíamos com o povo em intimidade e com ele construímos, jovens e libérrimos, nas ruas pobres da Bahia”.

A família

Aos 20 anos, casou com Matilde, com quem ficou até 1944 e teve uma filha, Lila. Mas o grande amor de sua vida foi Zélia Gattai. Eles se conheceram em 1945, no Primeiro Congresso de Escritores Brasileiros, realizado em São Paulo. Zélia era casada, mas Jorge não desistiu. Deu certo. Ela também separou-se e passaram a viver juntos em julho do mesmo ano, assim permanecendo sob o signo da paixão até a morte. Tiveram dois filhos: João Jorge e Paloma.

Militância política

Homem da escrita e da ação, desde jovem, Jorge Amado se filiou ao Partido Comunista do Brasil (PCB), fundado em 1922. Ele se definia como um militante de base que cumpria tarefas de direção. Em 1946, com a abertura política, candidatou-se a deputado federal, eleito por São Paulo.Não queria exercer o mandato; sua ideia era atrair votos, renunciando após a eleição, quando assumiria um suplente do Partido. Mas, atendendo ao pedido de Prestes, permaneceu até os parlamentares comunistas terem seus mandatos cassados, 1947.

Sobre sua atuação, fala Jorge Amado: “Custou-me muito esforço; tarefa difícil e chata; fiz o possível”. Considera que o resultado mais importante foi a apresentação de emenda constitucional, vitoriosa, garantindo a liberdade de crença no Brasil. Apesar de a República ter proclamado o Brasil um Estado laico, na prática, a Igreja Católica conservava todos os privilégios e recebia altos subsídios dos cofres públicos. Já os protestantes, os espíritas e, sobretudo, as religiões de origem africana não tinham apoio algum. No caso dos cultos africanos, assim como toda cultura negra, a ordem era exterminar mesmo. Jorge Amado se engajara na luta contra a discriminação e opressão aos terreiros desde os 14 anos. Expõe essa luta em romances como Jubiabá e Bahia de Todos os Santos. Ele próprio foi consagrado como Obá de Xangô.

Foi muito atuante também na Comissão de Educação e Cultura. Dedicado, chegava à Câmara Federal às 14 horas e retornava pelas 20 horas. Quando havia sessão noturna, não tinha hora para chegar. Zélia, também militante, sentia a ausência do amado, mas compreendia.

Com a cassação dos mandatos e a colocação do PCB na ilegalidade, a família se muda para a França, de onde também é expulsa em 1948, seguindo para a Tchecoslováquia. Participou da organização de inúmeros eventos de caráter político e cultural pela paz mundial. Em1952, recebeu em Moscou o Prêmio Internacional Stálin da Paz.

Retorna ao Brasil. Em março de 1953, ano em que morre Josef Stálin, Jorge estaria entre os integrantes da representação do PCB às solenidades funerais do grande líder. Por problemas de voo, a comissão não conseguiu embarcar, o que permitiu que Jorge Amado pudesse sepultar o escritor e amigo muito querido, Graciliano Ramos, falecido no mesmo mês.

Em 1954, o 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, agora revisionista, faz denúncias de uma série de crimes pretensamente cometidos por Stálin. Jorge Amado, que o chamara de Pai do Povo em várias obras, vacila. O famoso arquiteto Oscar Niemeyer, também grande amigo, tenta convencê-lo: “É tudo invencionice capitalista”. Mas não teve jeito.

Manteve, entretanto, a coerência de princípios. Afirmou: “…não me sinto desligado do compromisso assumido de não revelar informações a que tive acesso por ser militante comunista. Mesmo que a inconfidência não traga mais consequência alguma, não me sinto no direito de alardear o que me foi revelado em confiança”.

No Governo Médici, em 1970, assinou, junto com Érico Veríssimo um manifesto contra a censura prévia à publicação de livros (já era aplicada nos jornais, televisão e letras de canções) e articulou sua publicação na imprensa. Os principais jornais o publicaram, provocando declarações de apoio de muitos escritores, um verdadeiro movimento nacional contra a censura.

Em 1974, ainda sob a Ditadura Militar, escreveu no livro Bahia de Todos os Santos: “Retiro da maldição e do silêncio e aqui inscrevo seu nome de baiano, Carlos Marighella”.

Em 1986, tendo o Governo Sarney reatado relações com Cuba, Jorge Amado e Zélia Gattai tiveram encontro com Fidel Castro. Na ocasião, o Governo cubano estava dialogando com a Igreja Católica, com a assessoria de teólogos da libertação, especialmente frei Betto. Jorge propôs a Fidel que o mesmo diálogo fosse realizado com as religiões de origem africana tão populares em Cuba como no Brasil. O Comandante ouviu, reflexivo, não respondeu. Avalia Jorge Amado: “Na sala do Comitê Central, deixei soltos os orixás para reflexão de Fidel Castro”.

Para que prêmios?

Jorge Amado recebeu muitos prêmios pelo mundo inteiro. Mas o prêmio maior que ele considerava era o fato de ter revolucionado a literatura, levando o povo e seu jeito de falar para ser o sujeito de suas obras. Nada de academicismo, embora tenha ganhado assento na Academia Brasileira de Letras, em 1961. “Não escrevo para ganhar prêmios; outros motivos me inspiram e ordenam; não receber o Nobel não me aflige, nunca pensei merecê-lo. Opino por infeliz o escritor que trabalha e cria em função de prêmios e honrarias”.

Obra revolucionária, eterna, universal

Impossível melhor balanço da vida de Jorge Amado, que faleceu em 2001, que o feito por ele mesmo: “A vida me deu mais do que pedi, mereci e desejei. Vivi ardentemente cada dia, cada hora, cada instante. Briguei pela boa causa, a do homem e a da grandeza, a do pão e da liberdade. Bati-me contra os preconceitos, ousei práticas condenadas, percorri os caminhos proibidos, fui o oposto. Chorei e ri, sofri, amei, me diverti”. Sobre a sua obra, avalia o escritor do povo: “Recolho-me à minha modesta condição de intérprete menor do povo da Bahia com o que me basta e sobra”.

Em relação à sua obra, não posso concordar. Peço licença ao mestre Guimarães Rosa para devolver a Jorge Amado a dedicatória que fez ao romancista mineiro: “Sua obra é eterna (e revolucionária, acrescento) porque você a escreveu com sangue e não com tinta as histórias do povo brasileiro”. Salve, Jorge Amado. Axé!

Nota: A fonte de informações e das citações deste artigo foi Navegação de Cabotagem, livro de memórias do autor publicado pela Editora Record, Rio de Janeiro, 1992.

José Levino é historiador

Nova biografia de Lênin é lançada pelas Edições Manoel Lisboa

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Biografia ilustrada de Lênin

No marco dos 95 anos da Revolução Russa, as Edições Manoel Lisboa lançarão o livro Breve História Ilustrada de Lênin. Em sua quinta edição, revisada e ampliada, Elio Bolsanello, autor do livro e colaborador do jornal A Verdade, espera alcançar principalmente o público jovem. Elio, 77 anos, que é advogado e acompanhou atentamente o processo de editoração desta nova edição do livro, afirma que “a revolução vale pena”.

A Verdade – Elio, o que o motivou a escrever uma biografia sobre o Lênin desta forma tão simples e didática? Para quem você escreveu?

Elio Bolsanello – Eu considero Lênin a mais importante personalidade do século XX. A Revolução Russa de 1917 é, sem dúvida, o acontecimento político mais importante do século passado e por meio dela Lênin fundou o primeiro país socialista do mundo, que proporcionou enormes avanços sociais para seu povo e para o planeta. Somente um grande estrategista poderia tê-la conduzido sem promover um grande derramamento de sangue.

Eu não encontrei biografia do Lênin escrita por brasileiros e achei necessário escrevê-la. Visitei Moscou e consegui material que não tinha no Brasil para poder fazer essa produção.

Escrevi este livro principalmente para a juventude, por isso é um livro simples, muito claro, para que todos possam entender. Eu também não queria um livro complexo, falando de Lênin já durante o processo revolucionário, porque queria mostrar por que Lênin fez a Revolução.

E mais, queria tirar o medo do que é uma Revolução. No início, Lênin queria fazer uma Revolução pacífica, mas isso não foi possível e teve que partir para armas… eu queria mostrar que fazer a Revolução não é optar pelo morticínio. Lênin queria melhorar o mundo, e melhorou.

Como você vê os avanços alcançados com a Revolução Russa?

A Rússia era um país que tinha 80% de analfabetos em 1917 e, quarenta anos depois, a URSS lançou o primeiro satélite artificial da Terra para o espaço, o Sputnik I. Isso para você ver o valor de uma Revolução Socialista. Ainda hoje, mesmo com a derrocada da URSS – com tudo que aconteceu na Rússia capitalista, que não tem nada a ver com a proposta de Lênin –, o que ainda sobra de avançado é resquício da Revolução. O povo, até hoje, é muito culto; se não fosse a revolução, o país estaria até hoje com analfabetos. No livro eu trato disso; meu objetivo é mostrar que a Revolução valeu e vale a pena.

Lênin é ainda um exemplo?

Sem dúvida, ele é uma personalidade que deveria ser mais seguida no mundo de hoje. Por isso aí está a quinta edição do livro, e acho que essa edição do Centro Cultural Manoel Lisboa vai ser a melhor, vai ser o livro mais benfeito.

Você, que é assíduo leitor e colaborador do jornal A Verdade, gostaria de deixar uma mensagem para nossos leitores?

Eu gostaria que, em cada Estado onde se encontra o jornal A Verdade, se multiplicassem as vendas por mil, porque eu gosto muito desse jornal. Aliás, ele tem um ótimo nome também. É um jornal fácil de ser lido, com ótimos artigos, com conteúdo aprofundado. Sou assinante do jornal com muito prazer.

Vivian Mendes, São Paulo