Pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), realizada em parceria com a Unesco, revelou que o Brasil ocupa a quarta posição na lista dos países mais violentos para crianças e adolescentes no mundo, ficando atrás apenas de El Salvador, Venezuela e Guatemala.
Nos últimos 30 anos, o número de assassinatos de crianças e adolescentes na faixa etária entre 0 e 19 anos cresceu 346%; são registrados por dia cerca de 55 homicídios de crianças e adolescentes nessa faixa de idade. No primeiro semestre de 2012, já foram registrados mais de 500 homicídios de crianças e adolescentes no Estado de Alagoas, onde em 2011 houve 882 casos, constituindo-se esse o Estado mais violento do País para as crianças e adolescentes, seguido pelo Espírito Santo e a Bahia.
Os dados apresentados também confirmam um diagnóstico feito recentemente pela Anistia Internacional. Segundo Átila Roque, diretor-executivo no País, “o Brasil convive, tragicamente, com uma espécie de ‘epidemia de indiferença’, quase cumplicidade de grande parcela da sociedade, com uma situação que deveria estar sendo tratada como uma verdadeira calamidade social. Isso ocorre devido a certa naturalização da violência e um grau assustador de complacência do Estado em relação a essa tragédia”.
Para os pesquisadores, as crianças e jovens vítimas dessa violência são em sua maioria oriundas das regiões mais pobres das grandes aéreas urbanas do Brasil, e a maioria dessas mortes está relacionada direta ou indiretamente com o uso e o tráfico de drogas. A pesquisa ainda indica que a maioria desses jovens não frequenta regularmente a escola e mostra que é alarmante o descaso do poder público com a situação da juventude brasileira.
Enquanto faltarem vagas nas universidades públicas, enquanto faltarem empregos e qualificação profissional, enquanto não houver uma política séria de combate as drogas, por parte do poder público, continuaremos a viver essa triste realidade.
As metas do Plano Nacional da Educação (PNE) são chegar a 2022 com um novo quadro na educação brasileira: mais valorização profissional e mais acesso à educação em todos os níveis (infantil, médio e superior), além da erradicação do analfabetismo entre crianças e adolescentes até 15 anos. Hoje esse índice é de cerca de 18%. Tais pretensões necessitam, portanto, ser confrontadas com a atual situação da educação pública.
No Estado de Pernambuco, por exemplo, com o propalado crescimento da economia, a chegada de novos polos, como o petroquímico e o automobilístico, os governos (municipais, estadual e federal) limitam seus investimentos em educação à educação técnica ou profissionalizante. O resultado é que, no lugar de formar jovens que tenham a capacidade de relacionar-se com o seu meio de forma crítica e não apenas receptiva, preocupados com sua capacidade intelectual, formam-se os tão conhecidos “apertadores de parafuso”, que conseguem desenvolver determinada função operacional, mas não conseguem interpretar um texto. Segundo Uacir Matias, diretor técnico do Senai, a principal dificuldade na formação técnica ou profissionalizante é que os alunos entram para esse tipo de formação sem noções básicas de português e matemática de ensino fundamental.
Tais condições precárias na educação são reafirmadas por pesquisa do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011-2012, que aponta que cerca de 35% das pessoas com ensino médio completo podem ser consideradas plenamente alfabetizadas e 38% dos brasileiros com formação superior têm nível insuficiente em leitura e escrita. Do total, são 27% de analfabetos funcionais e apenas 26% da população que pode ser considerada plenamente alfabetizada, mesmo índice apontado pela pesquisa em 2001.
Mesmo que sejam aplicados 10% do PIB na educação, a possibilidade de transformação dessa situação não é para já. Para Nelson Cardoso Amaral, doutor em educação da Universidade Federal de Goiás, é preciso considerar que a maioria dos países com mais problemas na área possui mais de um terço de sua população em idade educacional. Nos cálculos do professor, em 2010 o Brasil tinha 45% de seus habitantes – 84,4 milhões de pessoas – dentro da faixa etária que deveria estudar. Com um investimento próximo aos 10% do PIB na educação, as metas educacionais propostas seriam alcançadas só em 2040!
Assim, ainda que pesem as reformas educacionais, há que se considerar que, enquanto continuarem existindo as disparidades entre direito do acesso à educação e dever do Estado de assegurar esta a todos, continuará a crescer a distância entre metas e possibilidades de realização da superação histórica dos problemas educacionais no Brasil.
Nos últimos anos, a Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, empresa estatal que detêm o monopólio de distribuição de energia no Estado, tem adotado medidas como a retirada de direitos, avaliações de desempenho tendenciosas, redução de quadro de pessoal e perseguição a trabalhadores e diretores do sindicato da categoria, o Sindieletro. A direção da empresa chegou ao absurdo de contratar um grupo de “segurança” privado, comandado por um sujeito que atende pela alcunha de Amílcar e que carrega a tira-colo uma dezena de ex-militares que operaram à época da ditadura. Para esse serviço sujo, o chefe Amílcar recebe salário de 7 mil reais.
A população também paga por essa gestão da empresa que tem como objetivo maior a maximização dos lucros para os acionistas: aumento do tempo de interrupção de energia e da frequencia dos desligamentos; o aumento da terceirização e pagamento de uma das contas de energia mais caras do mundo. Benefícios apenas para os acionistas, que levam quase todo o lucro da empresa (mais de 2 bilhões de reais por ano). Apesar de ser o estado o seu principal acionista, com 51% das ações com direito a voto, as ações com direito a lucros estão nas mãos dos outros acionistas, que levam 76% do lucro e quase metade dessa bagatela vão para os acionistas estrangeiros, o que mostra que o mercado de ações nada mais é do que uma forma de manter a colonização à distância. Outro acionista que tem se dado muito bem com a gestão da empresa (vale lembrar que o governo do estado está nas mãos do PSDB) é a empreiteira Andrade Gutierrez, que “comprou” 1/3 das ações da CEMIG em 2010 numa ação entre os amigos Sérgio Andrade (dono da empreiteira) e o então governador do estado e atual senador Aécio Neves. Aliás, a Andrade Gutierrez é uma das principais financiadoras de campanha eleitoral no estado de Minas Gerais.
Por denunciar sistematicamente estas falcatruas na empresa, a organização dos trabalhadores tem sofrido diversos ataques.
No último mês, quatro trabalhadores foram demitidos da empresa: três são membros da CIPA e 1 é diretor de sindicato e técnico em segurança do trabalho, todos são concursados e com tempo mais de 20 anos de dedicação à empresa. Todos os trabalhadores demitidos são lideranças na base e têm se manifestado sistematicamente contra a gestão entreguista da empresa. No dia seguinte às demissões, os trabalhadores responderam com a paralisação imediata das atividades. O sindicato tem tomado todas as medidas possíveis para reverte às demissões, mas a empresa insiste em jogar o processo para o judiciário que, em Minas Gerais, sempre se manifesta a favor dos patrões.
Não vamos permitir que a CEMIG e sua gestão terrorista implante a lógica da demissão em empresa pública, não respeitando sequer o direito a estabilidade dos membros de CIPA e diretores de sindicatos.
Vamos continuar denunciando o saque às riquezas produzidas pelos trabalhadores e a farra com dinheiro público feita pela direção da empresa e pelo governo do estado.
Jobert Fernando de Paula, diretor do Sindieletro-MG
Com os salários congelados há três anos, e uma grande precarização das condições de trabalho do serviço público, cerca de 350 mil funcionários de 26 setores entraram em greve para garantir suas reivindicações, que são principalmente reposição salarial e reestruturação da carreira.
O governo federal vem anunciando na mídia um aumento de 45% para os professores federais, porém a realidade é que essa é uma proposta de reajuste sem ganhos reais para 90% dos professores universitários, parcelado em 3 anos, além disso diz ser impossível negociar reposição salarial dos técnicos-administrativos, pois o país está passando por uma grande crise financeira.
Essa crise que infelizmente só tem resultados negativos para os trabalhadores, pois ano a ano o governo federal vem cortando verba das áreas sociais como saúde e educação e precarizando o serviço público, mas vem mantendo com muita rigidez o pagamento da dívida pública com mais de 45% do orçamento da União, que já foi paga incontáveis vezes aos banqueiros do país.
Não satisfeitos com a proposta do governo, nos dias 16 a 20 de julho foi realizado um acampamento em Brasília, para pressionar o Governo Federal para atender as reivindicações dos grevistas.
Outro setor que vem participando ativamente das mobilizações de greve, são os estudantes, que também aderiram ao movimento e estão acampados em Brasilia não só para apoiar as reivindicações dos servidores públicos federais, mas também para adendar reivindicações a pauta da greve, mais verbas para a Assistência Estudantil e a melhoria imediata da situação estrutural e de cursos de diversas unidades das Universidades, Institutos Federais e CEFET’s.
No dia 18 de julho uma grande manifestação, com mais de 15 mil pessoas vindas de todos os estados do Brasil, marcou o acampamento, mas a combatividade dos Servidores Públicos Federais e estudantes não parou por ai, na madrugada do dia 19 os manifestantes bloquearam a entrada do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e condicionaram sua saída a uma reunião com o ministério, que aconteceu com a presença das entidades representativas dos trabalhadores e um representante dos estudantes.
Presentes nessa reunião o Secretário Executivo Adjunto do MPOG, Valter Correia da Silva e o Secretario de Relações do Trabalho, Sergio Mendonça, se comprometeram em nome do Governo Dilma apresentar até o dia 31 de julho uma proposta em relação a pauta geral apresentada.
Está provado, o único caminho para a conquista é a luta. A determinação dos trabalhadores do funcionalismo público federal foi fundamental para arrancar esse compromisso do governo, com o encerramento do acampamento, a greve deve se intensificar em cada estado, para conquistar as reivindicações dos servidores públicos federais.
Neste mês de agosto o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ) tem uma nova diretoria, eleita nos dias 26, 27 e 28 de junho, em todo o Estado. Mais de 16 mil filiados votaram e elegeram a direção central e os núcleos regionais do Sepe. A Chapa 1, “Sepe na Escola” venceu com 40% dos votos, composta por militantes do PCR, PSOL e PCB, além de outros profissionais da categoria. Na cidade de Caxias, a chapa 1 obteve 74% dos votos. O processo de composição da diretoria do sindicato é proporcional.
O Sepe representa os professores e funcionários das redes estadual e municipal de todo o Estado do Rio de Janeiro e esta foi a primeira vez que o Movimento Luta de Classes compôs sua direção, integrando a diretoria central e os núcleos de Duque de Caxias e Macaé.
Esta nova gestão tem o compromisso de levar à frente a luta da categoria, já que os ataques do governo estadual são muitos.
O ano letivo iniciou-se com o fechamento de escolas, o que impossibilitou o acesso dos estudantes à educação e deixou muitos professores sem escola para trabalhar. No mês de maio, o governador entrou na justiça para retirar nosso triênio (gratificação de adicional por tempo de serviço). E, além disso, o assédio moral tem sido uma constante por parte da Secretaria de Educação. O governo ainda organizou uma manobra para anunciar que deu reajuste salarial, quando apenas antecipou parcelas do acordo anterior, o que fez, na prática, que os professores tivessem este ano reajuste zero.
Por tudo isso, é fundamental que o sindicato se aproxime cada vez mais da categoria, promovendo as lutas necessárias para conquistarmos uma educação emancipadora, que possa desenvolver de fato o ser humano.
Mesmo com a comprovação dos elevados índices de acidentes fatais e com milhares de ações judiciais contra empresas, há várias tentativas de ampliar a legitimidade do processo de terceirização, como o Projeto de Lei n° 4.330/2004, do deputado Sandro Mabel.
No sistema Petrobras essa modalidade de contrato faz parte da realidade de muitos dos seus trabalhadores, verdadeiros responsáveis pelo crescimento da empresa. É comum, no dia a dia, ouvir dos empregados dessas “prestadoras de serviço” sobre práticas de descumprimento da legislação, que vão desde o não pagamento de horas extras até as questões rescisórias. Na Transpetro (empresa integrante do sistema Petrobras), são vários os exemplos de empresas terceirizadas que negligenciam direitos trabalhistas. São os casos da Steel Serviços Auxiliares Ltda. e da Nova Locadora de Veículos e Equipamentos Ltda.
Em 2011, os técnicos administrativos da Steel descobriram que não havia o repasse ao INSS por parte da empresa e ameaçaram paralisar as atividades, caso não houvesse a regularização junto à Previdência. No caso da empresa Nova Locadora, que disponibiliza veículos e motoristas para a Transpetro, os empregados são obrigados a pagar por qualquer avaria, inclusive as decorrentes de acidentes ou imperícia, conforme consta no contrato individual de trabalho.
Dessa forma, os motoristas sofrem com os descontos salariais, como pagamento por pneus desgastados ou para-brisas trincados, danos resultantes das condições de trânsito precárias das rodovias, no exercício normal da profissão. Não bastasse essa falta de respeito, a empresa ainda se negava a pagar o valor referente à cesta básica, descumprindo a Convenção Coletiva.
Diante dessa situação, os empregados primeirizados da Transpetro (Malha Nordeste Setentrional do Gasoduto Gasfor-Fortaleza/CE), em solidariedade aos colegas terceirizados paralisaram, nos meses de junho e julho, suas atividades por duas horas e meia, exigindo o pagamento das cestas básicas devidas pela empresa aos motoristas e o ressarcimento dos descontos por avarias nos veículos.
Após a comunicação da paralisação, a comissão de negociação estabeleceu prazos para o cumprimento dos itens de pauta, em mesa de negociação. O resultado foi o pagamento dos 24 meses de atraso das cestas (equivalente a R$ 1.080), comprovando a força da união dos trabalhadores.
Porém a empresa Nova Locadora se mantém resistente à devolução do valor das avarias. Além disso, a Petrobras descontou as duas horas e meia do salário dos seus empregados que participaram da mobilização. O Sindipetro-CE já iniciou as devidas ações judiciais contra esse abuso dos patrões.
É necessário que todos os trabalhadores da Petrobras unam forças contra os descasos decorrentes da terceirização e contra as medidas de represália que têm sido adotadas contra os que resolvem ir à luta. Somente através da solidariedade entre os trabalhadores é que serão derrotadas as tentativas cada vez mais intensas por parte da burguesia de destruir os direitos conquistados, com muita luta, pela classe operária.
Emanuel Menezes, diretor do Sindipetro-CE e do Movimento Luta de Classes
Entre os anos de 1976 e 1983, o sangrento Regime Militar que se instalou na Argentina sequestrou 500 bebês, e cerca de nove mil pessoas desapareceram ou foram assassinadas.Entretanto, segundo organismos de direitos humanos, este número supera a casa dos 30 mil.
Vários meios foram utilizados pelos militares para reprimir o movimento popular e deter a ação revolucionária dos militantes contrários à Ditadura, e um deles eram os “voos da morte”, durante os quais os presos políticos, depois de torturados, eram lançados ao mar. No caso dos bebês, as crianças sequestradas eram entregues a famílias de militares ou de apoiadores do Regime.
Uma dessas crianças foi Hilda Victoria Montenegro, nascida em 13 de janeiro de 1976 e hoje com 36 anos. Seu pai, Roque Orlando Montenegro, era um guerrilheiro do Exército Revolucionário do Povo (ERP). Assassinado aos 20 anos num daqueles voos da morte, seu corpo arremessado sobre o Rio da Prata. Sua mãe, Hilda Romana Torres, continua desaparecida até hoje.
Em uma entrevista recente, Victoria contou que foi presa com os pais, aos 13 dias de vida, quando eles moravam em Buenos Aires. Ela foi roubada pelo tenente-coronel Hernán Antonio Tezlaff, um dos responsáveis pela morte de seu pai e de muitos outros pais de bebês sequestrados.
“Me deram o nome de María Sol Tetzlaff Eduartes, nascida em 28 de maio de 1976, em Boulogne, San Isidro, como filha de Herman Antonio Tetzlaff e sua esposa María del Carmen Eduartes. Eu nunca tive dúvidas de que não era María Sol, mas eles me diziam que eu era filha deles. Em 1989, as Avós da Praça de Maio começaram a desconfiar do meu caso e a pedir os exames de DNA”, relata Victoria.
Ela diz que viveu sem saber o que acontecia e que sempre foi tratada como uma filha pelos apropriadores: “Era uma relação de pai e filha. Durante minha infância, não desconfiava de nada. Cresci num entorno militar, os amigos da família, os encontros, as festas, eram as típicas desse meio”. Em 2000, Victoria realizou um exame de DNA e descobriu a verdade.
Esta história se assemelha à de tantas outras famílias argentinas, e todas elas só querem uma coisa: justiça!
Hoje, mais de 30 anos depois, Victoria está perto de conseguir seu mais forte desejo: no dia 5 de julho deste ano, a Justiça argentina condenou nove responsáveis por esses crimes, entre eles o ditador Jorge Rafael Videla, que recebeu a pena de 50 anos de prisão pelo sequestro de bebês. O ex-ditador Reynaldo Bignone foi sentenciado a 15 anos, no mesmo julgamento. Vale lembrar que Videla já havia recebido, em 2010, sua segunda condenação à prisão perpétua por crimes contra a Humanidade. Seu “pai-sequestrador”, o tenente-coronel Tezlaff, já havia sido condenado a oito anos de prisão pelo crime de rapto de menores, em agosto de 2001, mas faleceu ainda em meados de 2003.
Conforme a associação Avós da Praça de Maio, formada por mães de militantes de esquerda, já foram localizados 105 bebês. Até o momento, segundo a imprensa argentina, outros julgamentos para casos pontuais de roubo de bebês foram realizados, com condenações de até 16 anos para os acusados.
Os servidores públicos federais, indignados com a política de arrocho salarial e com a estratégia de enrolação do Governo Dilma, estão em greve geral em todo o país. Estima-se cerca de 300 mil trabalhadores paralisados. O Brasil não vê um movimento sindical com esta força desde a luta contra a Reforma da Previdência em 2003.
A primeira categoria a entrar em greve foram os professores universitários, no dia 17 de maio. Antes mesmo de ser deflagrado, o movimento já arrancara uma vitória: a incorporação de gratificações e o reajuste de 4% nos salários, que estava previsto para março de 2012, mas que fora descumprido.
Com a entrada de outras categorias no movimento a greve se converteu em greve geral da educação federal. Em 11 de junho, foram os servidores técnico-administrativos das universidades federais representados pela Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação das Universidades Brasileiras (Fasubra). Dois dias depois, foi deflagrada a greve nos Institutos Federais de Educação, base representada principalmente pelo Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe).
Os estudantes universitários, revoltados com a intransigência do Governo Dilma – que provocou a greve – e com a realidade de sucateamento da educação, também se mobilizaram em apoio à greve, levantando também suas pautas específicas.
Até o final de julho, mais de 26 categorias em todo o Brasil estavam em greve, a maioria da base da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), além dos servidores das Agências Reguladoras e Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Com o objetivo de mostrar nas ruas a força do movimento, foi convocado para Brasília-DF um acampamento unificado de cinco dias, entre 16 e 20 de julho. O auge do movimento foi a Marcha Unificada, no dia 18, que interditou completamente a Esplanada dos Ministérios no trecho entre a Catedral e o Congresso Nacional. As seis faixas da via, no sentido Congresso, foram bloqueadas pelos mais de vinte mil servidores que participaram do protesto.
No dia 19, o movimento bloqueou a entrada do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), impedindo a entrada de servidores para trabalhar. Apesar da repressão policial, que utilizou spray de pimenta e cassetetes contra os estudantes e servidores, o ato foi vitorioso, obrigando a Secretaria de Relações do Trabalho a receber os comandos de greve. Maria de Lourdes Neta, servidora da UFPB e militante do Movimento Luta de Classes (MLC), presente no ato, se disse revoltada diante da postura do Governo: “Somos trabalhadores e não marginais. Queremos negociação e não repressão”.
Há anos que a postura do Governo Federal tem sido de dividir as categorias com negociações específicas, que geralmente resultam em acordos rebaixados ou mesmo sem nenhum resultado concreto.
O Movimento Luta de Classes defendeu desde o início a greve geral dos servidores federais e tem atuado firmemente para sua ampliação. O MLC atuou com destaque no Comando Nacional de Greve da Fasubra e nos Comandos Locais da UFPB e da UFAL. Apoiou a greve do Sinasefe e deflagrou a greve do Ministério da Cultura, no Rio de Janeiro, e paralisou o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).
A greve geral conseguiu parcialmente quebrar a intransigência do Governo, que foi obrigado a editar a Medida Provisória 568/2012 para cumprir os acordos firmados com Andes, Sinasefe e Condsef em 2011.
Mesmo assim, o Governo ainda tentou passar na Medida Provisória dois artigos que retiravam direitos dos servidores: reduzia o salário dos médicos federais pela metade e congelava o valor dos adicionais dos servidores que trabalham em áreas insalubres ou perigosas. A reação a este ataque foi grande, o que forçou o Congresso Nacional a derrubar os artigos danosos da Medida Provisória.
Mas os servidores não querem apenas manter direitos. Querem a valorização do seu trabalho e dos serviços prestados. O Governo não pode mais sustentar o discurso autoritário, de que não negociava com grevistas, e manter negociações efetivas com os seus funcionários, seja qual for seu setor.
Agora é fortalecer a luta rumo à vitória!
Clodoaldo Oliveira,
servidor da UFPB e membro da Coordenação do MLC
Para explicar as razões da greve nacional da educação federal, A Verdade entrevistou Aroldo Félix, professor de Engenharia do Petróleo da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), que possui campus em Mossoró, Rio Grande do Norte. Aroldo foi presidente do DCE da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, é mestre em Engenharia Química, membro do Comando de Greve da Ufersa e militante do Movimento Luta de Classes (MLC).
A Verdade – Quais as principais reivindicações da greve dos servidores federais da educação, em especial dos professores?
Aroldo Félix –Esta é uma greve em defesa da Educação Pública, Gratuita e de Qualidade. Estamos questionando a forma como está sendo realizado o Projeto de Expansão das Universidades e Institutos Federais em nosso país e que é tão propagandeado pelo Governo Federal. O que conseguimos observar é uma Expansão que não prioriza a qualidade do ensino. Universidades com estrutura precária; salas de aulas superlotadas, algumas com mais de 100 alunos; disciplinas sem professor. Por isso, reivindicamos 10% do PIB para a educação. Mas não é possível melhorá-la sem valorizar seus profissionais (professores e técnico-administrativos). Daí a reivindicação dos docentes por melhores condições de trabalho e pela reestruturação da carreira. A nossa proposta de reestruturação da carreira passa por garantir no início da tabela, como primeira faixa do piso salarial, o salário mínimo nacional proposto pelo Dieese, que é de R$ 2.329,35. Este valor seria pago ao professor graduado com regime de trabalho de 20 horas, seguindo uma escala crescente até o último nível da carreira, quando o professor se aposenta. Também reivindicamos incorporação das gratificações ao vencimento básico; carreira única; progressão em treze níveis com percentuais constantes na passagem de um nível para o outro; percentuais fixos por titulação; paridade de reajustes entre ativos e aposentados. Em contrapartida, o Governo Federal apresentou nos últimos dias uma proposta que não valoriza o professor e que desestrutura nossa carreira, ao contrário do que está sendo amplamente divulgado na mídia, com o objetivo de colocar a opinião pública contra nossa categoria. O Governo propõe reajuste diferenciado para as classes (auxiliar, assistente, adjunto, associado e titular) e em três parcelas, sendo a primeira para 2013 e a última para 2015. Quando contabilizamos a inflação prevista até lá, vamos ter, na verdade, perda salarial ao receber a última parcela. A proposta também não contempla nenhum ponto da reestruturação da carreira. Por isso que a proposta do Governo foi rejeitada pelas assembleias de professores em todo o país.
Como você avalia a construção desta greve nacional?
São 58 das 59 universidades federais em greve. Apenas a UFRN não parou, mas já existe um grupo de professores se organizando para reverter este quadro isolado. Isto mostra o tamanho da indignação dos professores com as atuais condições de trabalho e com a desvalorização da carreira. Até fevereiro deste ano, o piso do professor universitário na tabela da carreira era de R$ 557,00, menor que um salário mínimo! Se compararmos o salário dos professores universitários com doutorado ao dos demais servidores públicos federais que possuem apenas a graduação, vamos observar que o primeiro está bastante abaixo. Este conjunto de situações, somado ao descumprimento, por parte do Governo, do acordo assinado no ano passado (apresentar em março deste ano uma proposta para a reestruturação da carreira), levou à deflagração da greve desde o dia 17 de maio. É visível a quantidade de professores jovens participando ativamente das assembleias, dos atos e dos comandos de greve, mostrando muita disposição de luta e abrindo novas perspectivas para que os sindicatos renovem suas diretorias num futuro próximo, fortalecendo ainda uma linha combativa dentro do Andes, o sindicato nacional dos docentes universitários.
Você é professor da Ufersa. Quais as principais atividades desenvolvidas pela greve na universidade?
O movimento grevista na Ufersa está muito dinâmico. As assembleias têm ocorrido semanalmente, onde fazemos uma avaliação da greve e planejamos várias atividades. São atos públicos pelas ruas da cidade, em sua maioria em conjunto com os técnico-administrativos em greve; panfletagens em frente à universidade; piquetes dentro do campus, como no dia em impedimos, junto com os técnico-administrativos, a realização das matrículas no SISU, o que causou uma grande repercussão no estado. Também já realizamos atividades culturais e esportivas, com o objetivo de construir um momento de integração entre os professores. Nos últimos dias, fizemos uma carreata nas ruas de Mossoró, circulando com um carro de som e dialogando com a sociedade para desmascarar a proposta mentirosa que o Governo Federal está anunciando na mídia e mostrar o porquê de estarmos em greve. Os estudantes da Ufersa, assim como em várias outras universidades, deliberaram em assembleia geral o apoio à greve.
Qual sua expectativa para o movimento docente universitário e para a universidade brasileira?
O Governo Federal conseguiu, com seu descaso e intransigência, colocar em movimento uma categoria que há alguns anos não fazia greve. Porém, acredito que o próprio Governo não esperava tanta força. Esta greve fortaleceu bastante a categoria, elevando seu nível de consciência política, uma vez que estamos discutindo não apenas salários, mas melhorias na qualidade da educação nas universidades brasileiras. Com certeza, o movimento docente terá uma dinâmica mais ativa do que vinha apresentando. E isto será extremamente necessário para garantirmos uma Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade em nosso país. O que estamos observando hoje é uma total falta de compromisso com o setor. O país que é a sexta maior economia do mundo, possui uma das maiores arrecadações tributárias e diz que 10% do PIB para educação é muito, que valorizar o professor causará um grande impacto financeiro. Contraditoriamente, entrega de mão beijada quase metade de todas as riquezas do país para os banqueiros e agiotas nacionais e internacionais através do pagamento dos juros da dívida. Enquanto isso, vemos a universidade pública sucateada. A luta por uma educação de qualidade exigirá uma grande força do movimento docente, do movimento estudantil e dos técnico-administrativos, mas não só destes setores, e sim de toda a sociedade.
Na madrugada de Sábado, 14 de julho, policiais fortemente armados da tropa de choque, policiais à paisana e médicos, todos sem identificação, invadiram o hospital IASERJ (Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro) e retiraram cerca de 50 pacientes, muitos deles em estado grave, colocando em risco a vida desses pacientes. Segundo o governo do estado, o IASERJ será demolido para a ampliação do INCA. É importante a expansão do INCA, o investimento no hospital, mas ele pode ser ampliado sem comprometer uma estrutura da qual dependem centenas de pessoas. Não há justificativa para a demolição do IASERJ. Emocionada, uma paciente que veio da zona oeste e chegou às 5:30 da manhã buscando atendimento, desabafou: “esse é o hospital onde atendem a gente com dignidade, se ele fechar iremos para onde? Os outros não tem capacidade”.
Na manhã de 16 de julho, diversos pacientes foram procurar atendimento no hospital, e seu funcionamento foi normal, devido a dedicação dos profissionais de saúde ali presentes. Inconformados com a possível demolição, servidores do estado, professores, estudantes e usuários do hospital estão fazendo uma ocupação para garantir o atendimento dos pacientes e garantir que esse importante hospital, que atende a 44 especialidades não seja destruído para enriquecer ainda mais alguns empresários. Todos os dias têm acontecido panfletagens para alertar a população e atos dentro do pátio para conscientizar os pacientes que essa é uma luta de todos. Os servidores também argumentam o fato do hospital não fazer parte do patrimônio do estado e sim dos servidores estaduais, que contribuem com 2% para saúde e assistência social. Esse descaso com a saúde pública, com os servidores do estado e com o povo mostra um governo atrelado com a iniciativa privada, sem compromisso com a qualidade de vida da população.
O Hospital da Restauração (HR), em Recife, PE, foi inaugurado em 1967 e abarca um amplo serviço de saúde, sendo referência no atendimento de politraumatismo, neurocirurgia, queimadura e intoxicação no Norte-Nordeste. 100% vinculado ao SUS, apresenta uma grande demanda de atendimentos ambulatoriais e de emergência, além de internamento e cirurgia adulta e pediátrica.
Apesar do elevado número de serviços prestados, o hospital funciona com várias deficiências que comprometem o atendimento prestado à população e dificultam a vida dos diversos profissionais que lá trabalham.
Sem a realização de concursos públicos e processos seletivos para contratação de funcionários, o hospital funciona com diversos trabalhadores temporários, contratados por plantão, que não recebem qualquer direito trabalhista. Ainda assim, faltam profissionais necessários para a manutenção de alguns serviços médicos: mensalmente, vários procedimentos cirúrgicos são cancelados por falta de médico anestesista.
Para piorar, falta estrutura física e material médico-hospitalar. Os poucos leitos disponíveis de UTI não comportam a demanda do hospital, faltam medicamentos, aparelhos de monitoração estão quebrados e, recentemente, começaram a faltar aparelhos de ventilação mecânica, também conhecidos como respiradores artificiais, fundamentais para pacientes graves que não conseguem manter os movimentos respiratórios por si mesmos. Segundo depoimento do próprio diretor do HR, Dr. Miguel Arcanjo, dos 184 respiradores que o hospital dispõe, mais de 80 encontram-se quebrados.
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