O marxismo-leninismo é a concepção científica do mundo que desvenda a origem das desigualdades sociais e, a partir desse ângulo, classifica-se como uma avançada teoria do pensamento social, pois representa e defende os interesses da maioria, traçando o caminho para se chegar a um sistema sem exploração. Nesse caminho, o partido do proletariado é situado como uma necessidade histórica. Portanto, o marxismo-leninismo é a sua base filosófica, econômica e política; sua estratégia e tática para alcançar a emancipação dos trabalhadores e dos povos oprimidos e para construir socialismo e o comunismo.
O marxismo-leninismo é uma teoria científica do desenvolvimento social; descobriu as leis que regem as mudanças verificadas na natureza, da sociedade e do pensamento. Não se limita a diagnosticar a realidade, mas visa a identificar as contradições que determinam e promovem essas mudanças; desenvolve as formas e métodos que servem para transformar a sociedade, assim como o papel das forças protagonistas de cada momento histórico. Esta é a diferença que tem com o socialismo utópico, que o precedeu, pois, enquanto este apenas descreve uma sociedade justa e igualitária, sem menção à forma de alcançá-la, o marxismo-leninismo o faz com uma base científica provada na prática social. Ao descobrir as forças antagônicas que promovem as mudanças, o marxismo verifica a existência de luta de classes. Seu mérito não está nessa descoberta, mas no fato de projetar o fato de que o resultado dessa luta de classes no capitalismo conduz, de forma indefectível, ao estabelecimento da ditadura do proletariado.
Outro elemento básico do marxismo-leninismo é a histórica missão atribuída ao proletariado, a classe trabalhadora, em geral, como a classe mais avançada, a vanguarda na luta pela derrubada do capitalismo e construção do socialismo e do comunismo. Esta concepção de marxismo, no momento atual, tem sido muito contestada por setores da pequena burguesia no seu desejo de negar a perspectiva da revolução, para trazer o que eles chamam de “novos atores sociais”, a “sociedade civil”, cuja missão é atenuar a luta de classes, promover o pacifismo e alcançar algumas reivindicações dentro dos moldes capitalistas.
O marxismo-leninismo fundou a necessidade histórica do partido do proletariado como um dos fatores subjetivos mais importantes para assegurar o processo revolucionário.
Para o partido do proletariado, o marxismo-leninismo não é um dogma, é um guia para a ação revolucionária; parte da análise concreta da realidade, a fim de identificar a situação das forças sociais envolvidas, as suas aspirações, a sua correspondência, o ânimo das massas populares, a finalidade e a forma da sua luta. Serve para a educação política dos militantes e das massas, para elevar o seu nível de consciência, de unidade e de organização para conseguir sua libertação, pela tomada do poder e pela construção da nova sociedade.
CIPOML – Conferência Internacional dos Partidos Marxista-Leninistas
Em todas as etapas da luta histórica do proletariado pela derrubada do mundo de exploração e pelo socialismo, a propaganda das idéias do marxismo-leninismo teve um papel extraordinário.
Nos anos de 1890-1900, quando a classe operária da Rússia entrou no cenário da história com sua grande luta libertadora, Vladimir Ilitch, o grande Lênin, viu a propaganda da doutrina de Marx e Engels como a tarefa mais importante da social-democracía russa. Lênin escreveu então:
“Os social-democratas russos vêem como sua tarefa, antes de tudo, “propagar” a doutrina do socialismo científico, difundir entre os operários conceitos justos sobre a ordem social e econômica contemporânea, sobre suas bases e seu desenvolvimento, sobre as diversas “classes” da sociedade russa, sobre suas relações, sobre a luta dessas classes entre si, sobre o papel da classe operária nesta luta, sobre sua atitude para com as classes que degeneram e as que se desenvolvem, para com o passado e o futuro do capitalismo, sobre a tarefa histórica da social-democracía internacional e da classe operária russa”¹.
De acordo com o conteúdo da propaganda Lênin define também o conteúdo da agitação.
Lênin diz que o propagandista deve dar muitas ideias, que serão assimiladas por algumas pessoas. O agitador, falando da mesma questão, deve dar à massa uma só ideia. Quando, por exemplo, o propagandista fala sobre o desemprego, deve explicar aos operários a natureza das crises, a razão da sua inevitabilidade no mundo capitalista, descrever a necessidade de converter a sociedade capitalista em uma sociedade socialista, etc. O agitador, ao falar sobre o desemprego abordará somente um problema qualquer, por exemplo, um caso de uma família de operários desempregados, mortos de fome, e com este ou outros exemplos tentará produzir nas massas a indignação contra a injusta ordem capitalista, deixando a explicação completa desses casos para os propagandistas.
Lênin mostrou mais de vez que não se pode desligar o trabalho teórico dos trabalhos de propaganda, de agitação e organização. Assim, a agitação, ligando a teoria à prática, organiza as massas, estimula-as para a ação, concentrando-as em torno às palavras de ordem.
Lênin exigia, já em 1800-1900, a liquidação dos métodos individuais na organização do trabalho de propaganda, a concentração de toda a propaganda nos comitês de direção do Partido, locais ou regionais, como também a organização de viagens de propagandistas pelas diversas cidades. Lênin indicou a necessidade de uma educação sistemática dos quadros de propagandistas e de uma elevação ininterrupta de seu nível de instrução.
Lênin dedicou uma atenção especial à seleção cuidadosa dos propagandistas :
“Os propagandistas realmente conseqüentes do ponto de vista de princípio e de sua capacidade são “muito pouco numerosos” (e para sê-lo é preciso estudar muito e acumular experiência), é preciso especializar esses homens, ocupá-los completamente e cuidar deles”².
Em todas as etapas da revolução, Lênin ressaltou a necessidade de ligar estreitamente o “aprendizado sistemático das verdades do marxismo” aos ensinamentos visíveis da luta revolucionária das massas.
Lênin exigia dos propagandistas do Partido saber estar sempre com as massas, mas nunca marchar a reboque delas.
O exemplo de Lênin como propagandista
O conceito leninista da propaganda e da agitação se torna mais claro com a análise da experiência pessoal de Lênin como propagandista e agitador. E Lênin foi um grande e destacado mestre da propaganda e da agitação bolcheviques. Seu estilo de propagandista se caracterizava, antes de tudo, pela imensa força de convicção na verdade da causa comunista. Ao propagar o marxismo, Lênin o desenvolveu, e enriqueceu de maneira genial as teses do marxismo por intermédio das novas experiências da luta de classes. Cada palavra da propaganda de Lênin estava imbuída de ardente amor aos trabalhadores e do ódio irredutível aos exploradores.
Desde a sua juventude. Lênin estudou as obras de Marx e Engels e as leu muitas vezes, profundamente convencido da justeza de sua grande doutrina.
Lênin considerava que o conhecimento profundo da matéria de que trata o propagandista, é seu primeiro dever. Lênin conhecia bem não apenas as obras de Marx e Engels, cujas idéias eram difundidas já em 1890, como possuía em geral uma profunda cultura e um conhecimento amplo. Dominava perfeitamente a economia política, a filosofia, a história, o direito, havia estudado algumas línguas estrangeiras, e lia os autores estrangeiros no texto original.
A particularidade de Lênin como propagandista era sua capacidade maravilhosa de tornar compreensível e adaptada ao nível das massas a teoria marxista, mas também em convertê-la num guia para a ação.
¹ V. I. Lênin – OBRAS COMPLETAS, págs. 178 e 179, tomo II, edição russa, Moscou.
² Obras Completas, pág. 185, tomo V, edição russa, Moscou.
O Soviete de Vladivostok era construído por operários – mecânicos, estivadores, ferroviários, etc, e a mão pesada do tsar tinha-lhes caído em cima. Uns tinham sido presos, outros forçados a vaguear pelo mundo.
Ao apelo da Revolução, regressaram do exílio. Utkine e Jordan voltavam da Austrália falando inglês; Antonov de Nápoles, falando italiano. Mélnikov, Nikíforov e Prominski saíram das prisões falando francês. Este trio tinha transformado a sua prisão numa universidade. Tinham-se especializado em matemática e agora eram peritos em cálculos, planeando gráficos tão bem como tinham planeado revoluções.
Tinham estado juntos na prisão durante sete anos. Agora que estavam livres, cada um podia seguir o seu caminho. Mas os anos duros e longos tinham-nos unido por laços de amizade mais fortes do que as cadeias que os prendiam. Tinham estado unidos na morte e agora, na vida, não podiam estar separados. No entanto, as suas opiniões divergiam bastante e cada um defendia a sua com uma energia feroz. Apesar disso, por mais profundas que fossem as suas divergências ideológicas, na prática agiam como um todo. O partido de Mélnikov não apoiava, na altura, o Soviete, mas os seus dois camaradas faziam-no. Por isso, este seguiu-os e entrou para o serviço do Soviete, como comissário dos Correios e Telégrafos.
No espírito de Mélnikov tinha-se travado uma grande batalha, que lhe deixara a face sulcada de rugas profundas e os olhos duramente marcados de sofrimento. Mas a vitória e uma grande serenidade estavam escritas no seu rosto. Os olhos brilhavam e pairava-lhe sempre um sorriso nos lábios. Quando as coisas se tornavam mais sombrias, sorria mais.
O Soviete recebeu pouca ajuda dos intelectuais. Estes proclamaram um boicote contra o Soviete, até que os operários mudassem de programa por completo. Num comício proclamaram abertamente uma política de sabotagem.
A resposta dada por um mineiro era amarga e sarcástica: “Vocês orgulham-se dos vossos conhecimentos e das vossas habilidades. Mas quem vos deu isso? Nós, com o nosso suor e o nosso sangue. Enquanto vocês se sentavam em vossas carteiras nas escolas e nas universidades, nós trabalhávamos como escravos na escuridão das minas e no fumo das fábricas. Agora lhes pedimos ajuda, e vocês nos dizem: “Desistam do vosso programa e aceitem o nosso. Assim lhes ajudaremos”. E nós dizemos: “Não desistiremos do nosso programa. Cá nos arranjaremos sem vocês “.
Que audácia suprema a destes operários, inexperientes no governo, assumindo a administração de um território tão grande como a França e tão rico como a Índia, assediado por hordas de imperialistas intriguistas e assoberbado por catadupas de problemas.
O Soviete de Vladivostok tinha tomado o poder sem ter derrubado uma gota de sangue. Isso fora fácil. Mas a tarefa que o esperava era difícil – terrivelmente difícil e complexa.
O primeiro problema a resolver era o econômico. A desorganização da indústria ao longo da guerra e da Revolução, o regresso dos soldados, e os lock-outs dos patrões enchiam as ruas de desempregados. Dando-se conta do perigo que isso constituía, o Soviete tratou de reabrir as fábricas. A administração foi entregue nas mãos dos operários e o crédito fornecido pelo Soviete.
Os dirigentes reduziram voluntariamente os seus ordenados. Por decreto do Comitê Executivo Central dos Sovietes o salário máximo de um funcionário do Soviete foi fixado em 500 rublos por mês. Os comissários de Vladivostok, tendo em conta o baixo nível do custo de vida no Extremo Oriente (reduziram o seu para 300. Depois disso, quando alguém mostrava o desejo de receber um envelope de pagamento mais pesado estava sujeito a que lhe perguntassem: “Queres ganhar mais que Lênin e Sukhánov?”. Não havia resposta para isso.
(Fonte: Lenine e a Revolução de Outubro. Albert Rhys Williams)
José Stálin ou Iosssif Vissariónovictch, nasceu no ano de 1879, em Gori, Geórgia. Após a morte de V. I. Lênin, Stálin foi o principal dirigente do Partido Comunista (Bolchevique) da União Soviética, desempenhando um papel destacado na construção do socialismo na URSS e na derrota do nazi-fascismo na II Guerra Mundial, evitando, assim, a escravidão da humanidade por Hitler e a morte de milhões de pessoas. Em 5 de março de 2003, completaram-se 50 anos da sua morte. Em homenagem a este que foi um dos maiores dirigentes do proletariado internacional, A Verdade publica o artigo Stálin, da jornalista norte-americana Ana Louise Strong.
Faz alguns anos, quando, pela primeira vez, almocei com o presidente Roosevelt, que acabava de ter uma entrevista com H. G. Wells, me certifiquei de que o assunto que mais o interessava sobre a União Soviética era o relacionado com a personalidade de Stálin e, em particular, a técnica de governo de Stálin. Era um interesse natural, e creio que o assunto interessa à maioria dos norte-americanos. O crescente prestígio de Stálin, durante os últimos vinte anos, tanto dentro da União Soviética como além de suas fronteiras, merece, realmente, a atenção de todas as pessoas que se preocupam com a política.
Apesar disso, a imprensa norte-americana dá mostras de sua total ignorância a respeito de Stálin ao referir-se, como o faz freqüentemente, “ao enigmático mandatário do Kremlin”. Recorreu-se a toda espécie de pérfidas insinuações e de caricaturas tendenciosas para criar a lenda de um ditador astuto e sanguinário, que pretendia lançar o mundo no caos e na guerra, a fim de que uma coisa que denominam de “bolchevismo” pudesse alcançar o triunfo. Essa lenda absurda está destinada a ser em breve destruída. Nasceu do fato de que a maior parte dos escritores norte-americanos não estavam dispostos a fazer um pouco de esforço para compreender a União Soviética e de que, por outro lado, o próprio Stalin se mantinha inacessível à maior parte dos jornalistas estrangeiros. Pes-soas para quem se abriam as portas dos lugares mais altos do mundo e que po-diam conversar amigavelmente com Winston Churchill, Adolf Hitler, Benito Mussolini, Franklin D. Roosevelt e até com Chiang Kai-shek, sentiam-se profundamente irritadas ao ser-lhes negada uma entrevista com Stálin.
A verdade, porém, era que Joseph Stálin estava demasiado ocupado numa tarefa para cuja realização em nada podiam contribuir nem os contatos pessoais com estrangeiros nem a publicidade. Sua tarefa, como a de um presidente do Partido Democrata, consistia em organizar o Partido dominante e, por seu intermédio, o país inteiro. Desde que principiou a guerra germano-soviética, Stálin se converteu em chefe do exército e do governo. Agora pode receber o maior número de estrangeiros. E começou muito bem com Harry Hopkins e W. Averell Harriman. Ambos, ao que parece, ficaram vivamente impressionados. E compreendo o fato porque eu também falei com Stálin. A lenda do ditador inacessível morrerá à luz das impressões que sobre ele iam formando norte-americanos e ingleses destacados. E não seria difícil que chegássemos a ouvir falar de Stálin como sendo o “maior democrata do mundo”, segundo o qualificou, em certa ocasião, um escritor soviético.
Quando falei com Stálin não achei que fosse um homem enigmático. Pareceu-me uma pessoa com quem é muito fácil manter contato. É o melhor presidente de comitê que conheci em toda a minha vida. Possui o dom de dar a conhecer os pontos de vista de cada um e saber combiná-los num mínimo de tempo. Seu método de dirigir um comitê faz-me lembrar Jane Addams, de Hull House, ou Lilian D. Wald, de Henry Street Settlement. Possuíam a mesma técnica eficaz e democrática, conquanto recorressem a uma pressão maior que Stálin.
Ainda que tenha sido inabordável pelos estrangeiros com raras exceções isto não significa que vivesse isolado, numa espécie de torre de marfim do Kremlin. Cerca de duzentos milhões de pessoas o mantinham ocupado. Com muitas se entrevistava. Nem sempre eram elementos do Partido. Uma camponesa que tivesse superado o recorde na ordenha; um homem de ciência que tivesse desintegrado o átomo; um aviador que tivesse voado até a América; um mineiro que tivesse inventado um novo processo de trabalho; um operário que enfrentasse um problema do alojamento; um engenheiro com dificuldades nascidas de uma nova situação; toda pessoa que representasse um triunfo notável ou um problema típico podia ser convidada a trocar impressões com Stálin. Dessa maneira, obtinha informações e mantinha-se em contato com o ritmo do país.
Como conheci Stálin
Essa foi a causa (de que só tive conhecimento posteriormente) de minha entrevista com Stálin. Durante cerca de dez anos havia-me interessado pela URSS e havia feito esforços para triunfar ali; de dois anos para trás, eu havia organizado e vinha editando um pequeno semanário destinado aos outros norte-americanos que trabalhavam no país, colaborando no primeiro Plano Qüinqüenal. Encontrava-me a ponto de abandonar a empresa, por causa da censura, dos entraves burocráticos e devido ao aparecimento de outro semanário rival. O diretor de meu semanário praticamente fazia uma chantagem comigo, pois ameaçava destruir minha reputação caso eu renunciasse.
Um amigo russo aconselhou-me então que me queixasse a Stálin. Assim o fiz. Três dias depois recebi um chamado de seu escritório sugerindo-me que passasse lá para falar com alguns “camaradas responsáveis”. O convite tinha um caráter tão protocolar que me senti tentada a recusar, pois o meu diretor já se havia resolvido a aceitar minha renúncia e eu tinha dado por terminado o assunto. Pensei, no entanto, que, depois de haver enviado a carta, devia comparecer à entrevista, quando mais não fosse, por motivos de cortesia.
Esperava encontrar-me com algum funcionário, mais ou menos importante, no escritório do Partido, e senti-me aniquilada quando o carro se encaminhou diretamente para o Kremlin e, sobretudo, quando ao entrar num amplo salão de conferências não só me encontrei com Stálin, que se pôs de pé para saudar-me, mas, também, com Kaganovich e Voroshilov. A reunião pareceu-me extraordinariamente desproporcionada para a importância do assunto, mas, depois, compreendi que não era meu pequeno problema pessoal que lhes interessava. Eu era um dos milhares de norte-americanos que começavam a preocupá-los. Tínhamos ido à União Soviética para trabalhar em suas indústrias; éramos bastante honrados e capazes, mas não progredíamos. Stálin desejava saber por que não nos ajustávamos às necessidades da indústria soviética. Ao investigar minhas dificuldades, poderia averiguar a razão de nosso êxito na terra soviética, embora mais freqüentemente nos sucedesse o contrário. Mas se ele, por meu intermédio, aprendeu alguma coisa a respeito dos norte-america-nos, eu dele aprendi alguma coisa igualmente importante: qual é o processo de integração da União Soviética e como trabalha Stálin.
Minha primeira impressão sobre ele foi vagamente desfavorável. Um homem robusto, vestido com um simples uniforme cáqui, franco, modesto, cuja primeira preocupação foi a de saber se eu entendia o russo suficientemente para tomar parte de uma discussão. Achei que não possuía a imponência de uma grande homem. Sentamo-nos então de maneira tão pouco protocolar que Stálin nem sequer se instalou à cabeceira da mesa, que foi ocupada por Voroshilov. Stálin tomou lugar num assento de onde podia ver os rostos de todos nós. Iniciou a conversa fazendo uma pergunta direta ao homem de quem me havia queixado e imediatamente se colocou numa espécie de segundo plano, ouvindo os comentários dos demais. Subitamente, manifestaram-se o engenho brilhante de Kaganovich, as risadinhas alegres de Voroshilov e as características das pessoas de menor categoria que foram consultadas. Principiei a entendê-los melhor e sentir-me atraída para eles, inclusive o diretor de quem me havia queixado. Inesperadamente, surpreendi-me falando e expressando meus pontos de vista com maior rapidez e clareza do que nunca. Os que me escutavam pareciam estar de acordo. E, assim, chegamos sem tropeços ao miolo da questão, tendo Stálin falado menos que todos os presentes na reunião.
Depois, examinando mentalmente a entrevista, compreendi que a habilidade de Stálin para escutar nos havia ajudado a todos nos expressarmos e compreendermos melhor. Freqüentemente, fez-me repetir algumas de minhas palavras, dando-lhe uma entonação interrogativa ou uma ligeira ênfase. Isso fazia-me sentir que eu não havia compreendido bem algum ponto, ou que o havia exagerado e, assim, induzia-me a ser mais explícita. Com os demais, havia procedido da mesma forma. Compreendi, então, que sua maneira de escutar possuía um força dinâmica.
O hábito de escutar de Stálin data dos primeiros dias de sua carreira revolucionária. “Lembro-me disso perfeitamente, desde os primeiros tempos do nosso Partido” declarou-me um bolchevique veterano. “Era um jovem silencioso, que não se sentava ao centro do comitê, que falava pouco, mas escutava muito. Ao terminarem as discussões, fazia breves comentários e, às vezes, formulava apenas algumas perguntas. Gradualmente, começamos a compreender que ele fazia sempre o melhor resumo de nossos pensamentos”.
Todo aquele que conhecer Stálin reconhecerá que essa opinião é exata. Em qualquer grupo, geralmente, é o último a expressar sua opinião. Procura não impedir a livre e completa expressão dos demais, como poderia fazer facilmente, falando em primeiro lugar. Além disso, aprende escutando: “É capaz de escutar até como cresce a erva” disse-me um cidadão soviético.
O homem de aço
Com as informações assim obtidas, Stálin chega a conclusões, não “através da solidão da noite”, segundo afirma Emil Ludwig a respeito de Mussolini, mas conferenciando e discutindo. Nas entrevistas, raramente recebe o visitante sem estar acompanhado de algum auxiliar; quase sempre estão presentes Molotov, Voroshilov e Kaganovich. É possível até que não conceda uma entrevista sem antes discutir o assunto dela com seus camaradas mais íntimos. É um hábito adquirido há muito tempo. Nos dias do movimento revolucionário subterrâneo, acostumou-se ao trabalho de estreita cooperação com camaradas que tinham em suas mãos as vidas alheias. Para sobreviver, era necessário que aprendessem a porem-se todos de acordo rapidamente, chegando até a adivinhar os pensamentos à distância. Foi entre esse grupo que conquistou seu nome atual: Stálin (“o homem de aço”).
O povo soviético tem uma forma de expressar a característica de Stálin, a qual pode parecer estranha aos norte-americanos. Diz-se que “Stálin não pensa individualmente”. Mas estas palavras têm um supremo sentido elogioso. Isso quer dizer que Stálin não só pensa com o seu próprio cérebro, mas também com os cérebros da Academia de Ciências, dos chefes das indústrias, da Confederação dos Sindicatos, dos dirigentes do Partido. Assim é que pensam os homens de ciência e também os bons sindicalistas. Não pensam “individualmente”; não se apegam às conclusões de um só cérebro. É esse um processo extraordinariamente útil, pois hoje em dia não existe cérebro humano com poder capaz de resolver os complexos problemas do mundo. Somente será possível encaminhar esses problemas atuais mediante o trabalho conjunto de muitos cérebros, não em conflito, mas em estreita cooperação.
O próprio Stálin fez essa afirmação por vinte vezes, a diversas pessoas que o entrevistaram. Quando Emil Ludwig e, posteriormente, Roy Howard, quiseram saber “como chegava às suas conclusões o grande ditador”, Stálin disse-lhes: “As pessoas, isoladamente, não podem decidir. A experiência tem-nos ensinado que as decisões individuais, que não são controladas por ninguém mais, contêm uma grande percentagem de erro”.
Os habitantes da URSS não se referem nunca “à vontade de Stálin”, nem “às ordens de Stálin”; falam das “ordens do governo” e da “linha do Partido”, que são resoluções tomadas coletivamente. Mas falam com muita freqüência do “método de Stálin” como sendo uma coisa que todos devem aprender. É o método de obter resoluções rápidas com o auxílio de muitas pessoas, o método do bom trabalho de comitê. Na União Soviética, os jovens de talento, que se sentem inclinados para a política, estudam cuidadosamente esse método.
Poucos dias depois daquela conferência pude compreender melhor esse método. Minha impressão era a de que Stálin, Voroshilov, Kaganovich e os demais haviam concordado numa determinada linha de ação. Mas o tempo transcorria sem que viesse uma solução. A conferência chegou a parecer-me quase um sonho. Transmiti minhas preocupações a um conhecido meu, que era russo, e este riu-se de mim: “É assim a nossa terrível democracia, disse-me. É possível que seu caso já esteja realmente resolvido. Mas, tecnicamente, deve ser aprovado por todos os membros do Birô Político, alguns dos quais estão no Cáucaso e outros em Leningrado. De acordo com a rotina, o seu caso será aprovado juntamente com outras resoluções. É esse o nosso modo de proceder costumeiro, pois qualquer dos membros do Birô poderá desejar acrescentar ou modificar algumas dessas resoluções”.
Stálin contribui largamente para essas decisões conjuntas. As pessoas que o conhecem admiram nele, antes de mais nada, sua franqueza e simplicidade, assim como sua presteza em abordar os problemas. Posteriormente apercebem-se de sua clarividência e objetividade na análise dos assuntos. Não existe nele nada da histeria emotiva de Hitler nem da egolatria jactanciosa de Mussolini. Não faz nenhum esforço para fazer sentir o seu domínio. Gradualmente, a pessoa apercebe-se de sua penetrante capacidade de análise de seus colossais conhecimentos, de seu domínio sobre a política mundial, de seu desejo de enfrentar os fatos e, especialmente, de sua visão perspectiva, que situa o problema dentro da história, julgando não só seus fatores imediatos, como, também, seu passado e seu futuro.
A ascensão de Stálin ao poder realizou-se lentamente. Principiou muitos anos atrás com seu estudo de história e, particularmente, de história das revoluções. O presidente Roosevelt, em nossa palestra, comentou com surpresa o profundo conhecimento de Stálin sobre a revolução de Cromwell, que foi posto em foco em sua conversa com H. G. Wells. É que, na realidade, Stálin estudou a história das revoluções da Inglaterra e dos Estados Unidos muito mais a fundo do que costumam fazê-lo os políticos ingleses e norte-americanos. A Rússia czarista caminhava para a Revolução. Stálin tinha a intenção de participar dela e ajudar a dar-lhe forma. Transformou-se num autêntico homem de ciência quanto ao conhecimento do processo histórico segundo o ponto de vista marxista: como vivem as massas do povo; como se desenvolvem a técnica industrial e as relações sociais; como surgem e lutam as classes sociais; como alcançam êxito etc. Stálin analisou e comparou todas as revoluções do passado. E, além de tudo isso, além de ser um homem de ciência, é, também, um homem de ação.
A arte de ser dirigente
Nos primeiros dias da Revolução o nome de Stálin era pouco conhecido fora dos círculos do Partido. Em 1923, durante a última enfermidade de Lênin, vários homens cujas opiniões me mereciam confiança disseram-me que Stálin “era o homem do futuro”. Baseavam seu parecer no agudo conhecimento que Stálin possuía das forças políticas e no seu trato contínuo dos problemas de organização política na qualidade de secretário do Partido Comunista. Baseavam-se também na sua capacidade para atuar rapidamente, no momento oportuno, e diziam que, até então, no decurso da Revolução, nunca se havia equivocado. Diziam que era homem a quem recorriam os membros responsáveis do Partido, sempre que desejavam uma formulação clara e sintética do que todos eles pensavam. Naqueles dias, Trotsky zombava de Stálin, chamando-o de “medíocre típico”. E até certo ponto isso era uma verdade. Stálin mantinha-se em contato estreito com o “homem médio”, pois este constitui a matéria-prima da política.
“A arte de ser dirigente disse Stálin em certa ocasião é um problema muito sério. O chefe não pode ficar atrás do movimento porque isto significaria isolar-se das massas. Também não pode avançar com demasiada rapidez, porque isso equivaleria ao contato com as massas”. Com estas palavras estava apontando a seus camaradas a maneira de tornarem-se líderes e ao mesmo tempo expressava o seu próprio ideal, que tem posto em prática de forma efetiva.
Há cerca de vinte anos, durante a guerra civil na Rússia, em mais de uma ocasião o instinto de Stálin para captar os sentimentos das grandes massas ajudou os exércitos soviéticos a obter a vitória. Um dos exemplos mais conhecidos desse fato foi a disputa entre Stálin e Trotsky a respeito de um avanço através do Cáucaso do Norte. Trotsky desejava seguir a rota militar mais curta. Stálin fez notar que essa rota atravessava as zonas hostis ocupada pelos cossacos, o que, em última análise, redundava em ser mais longa e mais sangrenta. E escolheu um caminho indireto, através de cidades que contavam com um elevado número de trabalhadores e nas quais o povo ajudou os exércitos vermelhos, ao invés de lhes fazer oposição. Esse contraste é típico e, de então para cá, tem sido ilustrado por vinte anos de história. Stálin está em seu elemento, manejando as forças sociais, como o demonstra o seu recente apelo a uma “guerra popular” na retaguarda dos exércitos alemães. Sabe como despertar a terrível força de um povo enfurecido, como organizá-lo e como conduzi-lo de acordo com os desejos populares.
O mundo começou a ouvir falar de Stálin por ocasião das discussões que precederam o primeiro Plano Qüinqüenal. Os trabalhadores russos não pertencentes ao Partido Comunista começaram a ver em Stálin um chefe durante o primeiro período da espetacular expansão da indústria soviética. Em março de 1930, pela primeira vez, alcançou o papel de líder entre os camponeses, graças ao seu famoso artigo A vertigem do êxito, com o qual pôs um ponto final nos abusos que estavam ocorrendo na coletivização rural.
A democracia proletária
O grande dia de Stálin, quando se revelou o líder de todo o povo soviético, foi ao apresentar o novo Código Político do Estado Socialista, como presidente da Comissão de Constituição. Haviam sido fornecidas instruções a uma comissão de 31 pessoas historiadores, economistas e políticos mais destacados do país para redigirem “a Constituição mais democrática do mundo”, com a maquinaria mais eficiente idealizada até agora para expressar a “vontade do povo”. Trabalharam um ano e meio, estudando detalhadamente todas as constituições existentes no mundo, não só as dos governos, mas também as dos sindicatos e agrupamentos formados voluntariamente. O projeto que preparam foi discutido, durante vários meses, por todo o povo soviético, em mais de meio milhão de meetings, a que corresponderam 36,5 milhões de pessoas. Como resultado das discussões populares, chegaram às mãos da Comissão de Constituição 154 mil sugestões de emendas. Sabe-se que o próprio Stálin leu vários milhares dessas cartas enviadas pelo povo.
Quando Stálin apresentou seu parecer perante o Congresso dos Sovietes, havia duas mil pessoas no Salão Branco do Kremlin. Num plano mais baixo que meu assento no camarote dos jornalistas estendia-se a platéia abarrotada de deputados ao Congresso; nos camarotes laterais, achava-se o corpo diplomático; atrás, na ampla galeria, havia grande número de cidadãos notáveis, especialmente convidados para o ato. Fora do recinto, dezenas de milhões de pessoas escutavam pelo rádio, tanto nos campos algodoeiros do sul da Ásia Central quanto nas estações de pesquisa das costas do Ártico. Era um momento decisivo na história soviética. Mas as palavras de Stálin foram simples, diretas, tão despidas de formalidade como se estivesse palestrando com alguns amigos junto à lareira. Explicou o significado da constituição, examinou as emendas sugeridas, fazendo uma ligeira discussão das mais importantes.
Dentre mais de uma dúzia das emendas que Stálin discutiu pessoalmente, apoiou as que facilitavam a expressão democrática, repelindo aquelas que poderiam entorpecê-la. Não faltaram, por exemplo, aqueles que achavam que as diferentes repúblicas não poderiam ter o direito de separar-se da união. Stálin afirmou que, muito embora não fosse provável que quisessem separar-se, seu direito a fazê-lo deveria estar garantido pela Constituição, como uma afirmação democrática. Um número considerável de pessoas desejava negar direitos políticos aos sacerdotes, temendo que influíssem indevidamente na política. “É chegado o momento de implantar o sufrágio universal sem limitações” replicou Stálin, sustentando que o povo soviético já havia alcançado o grau de maturidade necessária para saber o que queria.
Uma frase significativa do discurso de Stálin é, nesses momentos, de mais importância para nós que as formas constitucionais e, até mesmo, do que seu funcionamento. Terminou seu discurso com uma referência inequívoca à crescente ameaça nazista na Europa. Falando a 25 de novembro de 1936, antes que qualquer governo europeu enfrentasse o hitlerismo seriamente, Stálin declarou que a nova Constituição Soviética representava “uma condenação ao fascismo e uma afirmação de que o socialismo e a democracia são invencíveis”.
Nos anos que seguiram ao Congresso Constituinte, a personalidade de Stálin começou a ser amplamente conhecida. Seu retrato e suas frases alcançaram tal difusão na União Soviética que houve muitos estrangeiros que viram nesse fato uma “idolatria” forçada e insincera. A maior parte das pessoas que conheci na URSS sente realmente uma grande devoção por Stálin, pelo homem que construiu o regime que conduziu o país ao êxito. Conheci pessoas que mudaram temporariamente sua residência, em vésperas de dias de eleições, a fim de ter a oportunidade de votar diretamente em Stálin, no distrito em que era candidato, em lugar de fazê-lo em favor do outro, menos brilhante, de seu próprio distrito.
É impossível desvendar a vida íntima de Stálin, principalmente através de suas relações com as personalidades eminentes que o têm ajudado a forjar a história soviética. Valery Chkalov, o brilhante aviador que fez o primeiro vôo de Moscou aos Estados Unidos, passando pelo Pólo Norte, descreveu uma visita que fez a Stálin em sua casa de verão, onde esteve das quatro da tarde à meia-noite. Stálin cantou muitas canções do Volga, tocou discos de gramofone para que os jovens dançassem, tendo se comportado como um ser humano normal, que descansa no seio da família.
As três mulheres aviadoras, que superaram todos os recordes mundiais femininos com seu vôo espetacular de Moscou ao Extremo Oriente, foram também honradas com uma reunião noturna realizada no Kremlin. Uma delas, Raskova, contou depois que Stálin havia gracejado com ela acerca da época pré-histórica da matrimônio, quando as mulheres governavam a sociedade humana. Disse que, nos primeiros dias do desenvolvimento da humanidade, as mulheres haviam transformado a agricultura na estrutura básica da sociedade e do progresso, dedicando-se os homens exclusivamente à caça e à guerra. E, depois de referir-se aos séculos subseqüentes de escravidão feminina, Stálin acrescentou: “Agora, estas três moças estão vingando os longos séculos de escravidão da mulher”.
Creio, porém, que o melhor incidente é o que se relaciona com Maria Demchenko, porque revela o pensamento de Stálin a respeito dos dirigentes e de como se formam. Maria era uma camponesa que concorreu a um congresso agrícola em Moscou e fez um juramento pessoal a Stálin, que se achava sentado num palanque, de que nesse ano sua brigada feminina haveria de produzir vinte toneladas de beterraba por acre de terra. Foi uma promessa impressionante, pois o rendimento médio, na Ucrânia, andava em cerca de cinco toneladas. A promessa de Maria deu lugar, entre os cultivadores de beterraba ucranianos, a uma séria competição que teve ampla divulgação na imprensa soviética. Todo o país acompanhou com entusiasmo a luta de Maria contra uma peste na beterraba e os esforços dos bombeiros locais para combater a seca, tendo que levar vinte mil caçambas de água para o campo. Todos souberam que esse grupo de mulheres teve que limpar os campos de ervas daninhas nove vezes, e oito de insetos. Finalmente, Maria colheu vinte e uma toneladas por acre, enquanto que a melhor de suas concorrentes obteve treze.
Essa colheita constituiu um acontecimento nacional. Maria e seu grupo foram a Moscou fazer uma visita a Stálin, durante as festa do outono. Os periódicos deram-lhes as honras de estrelas de cinema, publicando suas entrevistas em lugar preeminente. Stálin perguntou a Maria sobre o que desejava como recompensa ao seu próprio recorde e por haver despertado o entusiasmo dos demais cultivadores de beterraba. Maria respondeu que a coisa que mais desejava era ter ido a Moscou para conhecer “os dirigentes”. “Mas os dirigentes são vocês mesmos´ disse Stálin a Maria. “Não há dúvida respondeu Maria , mas de qualquer forma desejávamos vê-lo.”
Seu maior desejo, que foi realizado, era estudar numa Escola de Agricultura.
“Para frente, para a vitória”
Quando a Alemanha lançou seus exércitos contra a União Soviética, muitos estrangeiros surpreenderam-se de que Stálin não tivesse pronunciado imediatamente um discurso para levantar o ânimo do povo. Alguns de nossos periódicos mais “marrons” lançaram a suposição de que Stálin havia fugido. Os habitantes da União Soviética sabiam que Stálin confiava em que eles cumpririam com seu dever e que faria um resumo da situação, tão logo esta estivesse definida. E ele o fez, de fato, pelo rádio, na madrugada de 3 de julho.
As palavras com que principiou foram muito significativas: “Camaradas! Cidadãos! disse ele, como o tem feito com freqüência. Em seguida acrescentou: “Irmãos e Irmãs!”. Pela primeira vez Stálin usava em público essas cálidas palavras familiares. Para todos que o escutavam, isso queria dizer que a situação era muito séria; que precisavam estar unidos para fazer frente à prova final e que, mais do que nunca, deveriam aproximar-se e amar-se uns aos outros; queria dizer que Stálin o estreitava em seus braços, vigorizando-os para a tarefa que tinham pela frente. Essa tarefa consistia em suportar com seus próprios recursos o peso do ataque mais tremendo que conhece a História, resistir a ele, dominando-o, salvar o mundo. Todos sabiam que era necessário fazê-lo, e Stálin sabia que o fariam.
Stálin explicou, com perfeita clareza, que o perigo era grave, que os exércitos alemães se haviam apoderado da maior parte dos países bálticos, que a luta seria incrivelmente custosa e que, nesse momento, estava em jogo a alternativa entre liberdade ou escravidão, vida ou morte para o regime soviético. Disse-lhes textualmente: “O inimigo é cruel e implacável. Quer apoderar-se de nossas terras, regadas com nosso suor, para transformar nossos povos em escravos dos príncipes e barões germânicos”. Apelou para a “valente iniciativa e inteligência que são peculiares ao nosso povo” que ele, durante mais de vinte anos, havia ajudado a criar. Traçou, com alguns detalhes, o áspero caminho que todos deveriam seguir, cada um em seu próprio campo de ação, e disse que os russos encontrariam aliados entre todos os povos do mundo amantes da liberdade. Terminando, concitou-os a marchar “para a frente, para a vitória!”.
Enviando informações de Moscou sobre os acontecimentos ocorridos na madrugada em que Stálin pronunciou seu discurso, Erskine Caldwell referiu-se às imensas multidões que enchiam as praças públicas da cidade, atentas aos alto-falantes e que “continham a respiração, num silêncio tão profundo, que era possível escutar todas as inflexões da voz de Stálin”. Em duas ocasiões, durante o discurso, pôde-se ouvir até o cair da água num copo, ao fazer Stálin uma pausa para beber. O absoluto silêncio continuou durante vários minutos depois que Stálin havia terminado. Então, uma mulher disse: “Trabalha tanto, que não tem tempo para dormir. Preocupa-me a sua saúde”. É dessa forma que Stálin conduz o povo soviético para enfrentar a prova terrível da guerra.
Ana Louise Strong
Nascida nos Estados Unidos da América. Licenciou-se em filosofia pela Universidade de Chicago. Morreu em Pequim, em 1970, aos 84 anos.
E o fogo varreu as ruas do Arraial de Ouro Podre, Município de Vila Rica, Província das Minas Gerais. E as casas foram reduzidas a cinzas. E quem sobreviveu foi para o olho da rua. Exceto os líderes populares como Felipe dos Santos e Tomé Afonso Pereira, levados para as masmorras coloniais. O primeiro, morto e esquartejado no dia 21 de julho de 1720. Por que tanta crueldade?
Passara a fase da exploração do pau-brasil. Agora, século 18, a extração de minérios tornara-se a principal fonte de riqueza da Colônia do Brasil. O Centro dessa atividade, a Real Capitania das Minas de Ouro e dos Campos Gerais.
As Câmaras de Vereadores, órgãos coloniais de administração, fixavam os tributos e os recolhiam, passando um quinto para Portugal. Mas as revoltas eram constantes e as câmaras perdiam o controle sobre a produção e comercialização dos minérios. Parece que os espíritos libertários haviam escolhido as montanhas de Vila Rica (atual cidade de Ouro Preto) para habitá-las.
Então a Coroa portuguesa intervém pesadamente. Proíbe o livre comércio e decreta o monopólio das Casas de Fundição. De imediato, envia tropas para garantir a aplicação das medidas, sob a responsabilidade do recém-nomeado governador da Província, D. Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, o Conde de Assumar. Segundo o historiador Souto Maior, o conde era “um militar pouco inteligente e completamente inabilitado para a função que exercia”.
A revolta
“Dorme, meu menino, dorme
Que o mundo vai se acabar
Vieram fantasmas de fogo
São do Conde de Assumar
Pelo Arraial de Ouro Podre
Começa o incêndio a lavrar”
Há poucas informações sobre Felipe dos Santos Freire. Mas os registros indicam que era português, tropeiro e pobre, bom orador, querido pelo povo e revoltado com a opressão do Reino de Portugal sobre o Brasil.
Todos eram prejudicados pelo tributo, agravado pelo monopólio estabelecido. Felipe dos Santos planejou mobilizar o povo. Economicamente, os mais ricos eram os principais atingidos. Ele buscou seu apoio, conseguindo de alguns, especialmente de Mosqueira Rosa e Pascoal da Silva Guimarães, cujo filho viria a trair o Movimento informando o Conde de Assumar e o Ouvidor de Vila Rica.
Era noite de São Pedro, ano de 1720. Enquanto os fogos, bombas juninas e tiros de bacamarte explodiam, um grupo de mascarados desce as montanhas de Ouro Preto e ocupa as ruas, incitando o povo a cercar a casa do ouvidor de Vila Rica, Martinho Vieira, que, avisado, já havia sumido.
O povo segue para a Câmara de Vereadores, ocupa o Paço Municipal e Felipe dos Santos apresenta o Memorial que será encaminhado ao governador com as seguintes reivindicações, informando que só deporão as armas quando todas forem atendidas:
Fim das casas de fundição.
Abolição dos monopólios do comércio de gado, sal, aguardente e fumo.
Redução de vários tributos.
Diminuição das custas processuais.
Um emissário, José Peixoto, foi enviado a Ribeirão do Carmo (atual cidade de Mariana), onde se encontrava o governador. Pelo caminho, ele buscava o apoio popular, informando de sua missão e bradando: Viva o Povo! As Gerais estão levantadas!
O Conde de Assumar não demonstrou nenhuma inabilidade. Disse ao emissário que simpatizava com as reivindicações e convocaria uma Junta Geral para analisar os pleitos; que os rebeldes voltassem à sua vida normal, que não haveria nenhuma punição.
A proposta foi rejeitada e no dia 2 de julho mil pessoas irrompiam pelas ruas de Ribeirão do Carmo. O conde havia se preparado. Aquartelou os soldados em sua residência, mobilizou o povo da cidade para se concentrar em frente à casa e receber calorosamente os revoltosos.
Fez um discurso conciliador, abriu a palavra para a liderança rebelde e, a cada pleito apresentado, respondia: “Deferido como pedem“. A multidão aplaudiu entusiasmada e os vila-riquenses voltaram em festa, comemorando a vitória. Alguns diziam que os próximos passos seriam a independência e a república.
Outros, porém, nascerão!
O Conde de Assumar não pretendia cumprir nenhuma das promessas. Os mineradores ricos desmobilizaram suas forças. Os líderes populares não acreditaram e continuaram pregando a revolta.
O conde escalou a tropa, conseguiu dos fazendeiros de Ribeirão a disponibilização de escravos, reuniu 1.500 homens. No dia 14 de julho, ocupou Vila Rica, prendeu os fazendeiros Manoel Mosqueira, Sebastião da Veiga Cabral, Pascoal da Silva e os frades que apoiavam o Movimento.
Organizaram a caçada aos líderes do povo, encontrando Felipe dos Santos falando para o povo em frente à igreja de Cachoeira e Tomé Afonso fazendo o mesmo em Sabará. Foram imediatamente levados para a prisão.
Mas o Conde de Assumar tinha sede de vingança e mandou incendiar o arraial do Morro, em Ouro Podre, onde os líderes residiam e tinham sua principal base de apoio. Foi uma devastação.
Dorme, meu menino, dorme Dorme e não queiras sonhar Morreu Felipe dos Santos E por castigo exemplar Depois de morto na forca Mandaram-no esquartejar.
Felipe dos Santos, o mais popular dos líderes, foi escolhido para servir de exemplo aos que ousassem enfrentar o domínio de Portugal. Enforcado no dia 21 de julho de 1720, seu corpo foi amarrado à cauda de um cavalo e esquartejado. A seguir, cortaram-lhe a cabeça e expuseram-na num poste de Vila Rica, espalhando as outras partes pelas estradas da região.
Instalam-se as casas de fundição, soldados vigiam rigorosamente a produção e comercialização do ouro e outros minérios. O sonho de libertação é contido e não extinto. Ele voltará.
Dorme, meu menino, dorme Que Deus te ensine a lição Dos que sofrem neste mundo Violência e perseguição. Morreu Felipe dos Santos Outros, porém, nascerão.
E nasceram. Brejo Salgado (1736), Montes Claros (1775), Vila Rica, outra vez, com a Conjuração Mineira e seu herói, Tiradentes (1789). “Felipes dos Santos” morrendo, outros “felipes dos santos” nascendo, até o povo brasileiro conquistar sua verdadeira independência e soberania.
Nota: O poema reproduzido é uma composição de Sueli Costa sobre trecho doRomanceiro da Inconfidência, da poetisa Cecília Meireles. A música foi gravada por Chico Buarque de Holanda e pelo Quarteto em Cy
Com a presença de mais de 70 pessoas e uma abertura cultural da sambista Zilá Santos que empolgou a todos, foi realizado no dia 20 de agosto, no Sindipetro de Duque de Caxias, o I Congresso do MLB do Rio de Janeiro.
A mesa de abertura foi composta por Elisabeth Araújo (MLB/RJ), que fez um resgate do movimento no estado, desde sua origem com as lutas e todos que contribuíram para sua história; Marcos Villela, do PCR; Esteban Crescente, da UJR; Rêneo Augusto, do MLC, Klebson Henrique, da Aerj; Sérgio, do Sindpetro; Marcos Figueredo, ex-secretário de Habitação de Duque de Caxias.
O principal debate, sobre a luta pela reforma urbana, teve como debatedores Marcelo Brandão, da CMP, e Heron Barroso, do MLB. Os grupos de debate da saúde e do trabalho permitiram que a plenária pudesse expor suas opiniões e fazer denúncias que deixaram todos com mais vontade de cobrar seus direitos e lutar por uma vida melhor e pelo socialismo.
Com uma representação de mais de 80% de mulheres no congresso, a participação foi garantida com o funcionamento de uma creche, que contou com o apoio da União da Juventude Rebelião (UJR) e de algumas mães.
No final, o congresso teve a aprovação de uma série de propostas como a luta por creches nos bairros, inclusive no horário da noite, já que muitas mães precisam trabalhar durante o dia e estudar à noite; mais postos de saúde e médicos, principalmente em ginecologia e pediatria; a luta pela moradia digna; e a construção de uma grande delegação ao Congresso Nacional do MLB.
Pela Constituição chilena é terminantemente proibido o lucro na educação. No entanto, as instituições de ensino superior do país são todas pagas, mesmo as instituições públicas, herança da ditadura de Pinochet (1973-1990), levando os estudantes a ficarem endividados antes mesmo de terminarem a faculdade. Ao todo, o Chile tem mais de um milhão de estudantes universitários num país de 17 milhões de habitantes.
É dentro desse cenário que ocorre uma das principais mobilizações dos estudantes chilenos. Ao longo dos últimos três meses, estudantes secundaristas e universitários têm se mobilizado para cobrar mudanças no sistema educacional chileno, na busca de uma educação gratuita e de qualidade, garantindo-a como um direito social humano universal.
“Fim ao lucro” é uma das palavras de ordem mais presentes em faixas, bandeiras e nas ocupações, que já atingem mais de 700 escolas e praticamente todas as principais universidades do país. A ampla participação estudantil tem chamado atenção de todo o mundo, e a postura intransigente do governo Sebastián Piñera transformou a bandeira da educação pública num grande enfrentamento político entre o governo e o povo chileno.
Nos dias 24 e 25 de agosto, foi convocada uma greve geral pelas centrais sindicais em apoio às reivindicações de educação pública e gratuita e contra a política econômica. Um milhão de pessoas foram às ruas convocadas por um total de 82 organizações sindicais, estudantis, de professores e de direitos humanos. No aeroporto de Santiago, os trabalhadores aderiram à paralisação, que aconteceu ainda na saúde, na distribuidora de energia Chilectra e na maioria dos serviços públicos como correios, previdência social e bibliotecas, entre outros órgãos. Como expressão dessa luta, 33 jovens decretaram greve de fome, na tentativa de sensibilizar o governo para as negociações.
As manifestações estudantis desencadearam um rico processo de união e mobilização de todo o povo, e isso já tem criado efeito na própria imagem do governo, que, pouco mais de um ano depois de tomar posse, tem um índice de aprovação de apenas 26%. Mas, demonstrando todo o seu desprezo com as reivindicações populares, o governo de Piñera tem mobilizado um grande aparato repressivo e entrado em choque com os estudantes, mesmo fora das manifestações, perseguindo-os em especial nos bairros pobres de Santiago. Várias são as cenas de agressão e violência protagonizadas pela polícia chilena, deixando cada vez mais claro o caráter de classe do Estado e seus interesses e mais de 1.000 estudantes estão presos.
No dia 26 de agosto, em Santiago, um jovem de 16 años, Manuel Gutiérrez, foi assassinado pela policía chilena quando participava de uma manifestação. Segundo uma testemunha, um policial realizou três disparos, dos quais um foi no peito de Manuel. Merina Reinoso, mãe do adolescente, também confirmou o crime “as pessoas que estavam com meu filho são testemunhas de que foram os policiais quem dispararam”.
Falando a imprensa, a líder estudantil Camila Vallejo, de 23 anos, ameaçada de morte recentemente, disse que os protestos vão continuar até que o governo atenda às exigências dos estudantes. “Já não nos serve este modelo neoliberal, que tem por finalidade o lucro e o negócio de uns poucos. Nós cremos que é necessário avançar para um sistema igualitário e de uma projeto para educação que possa pensar um país novo. Queremos um país livre, justo, democrático e igualitário. E para isso necessitamos de uma educação de qualidade para todos”, afirmou a dirigente da Federação dos Estudantes da Universidade Chilena (FECH).
O “inverno chileno” promovido pela juventude do país é mais uma prova da disposição de luta da juventude, e de que os efeitos da crise – que aumentam o desemprego e exigem dos governos o corte dos investimentos nas áreas sociais – só serão vencidos com a mobilização popular, para que se possa, de uma vez por todas, dar um basta ao regime do lucro e da exploração e construir uma educação pública e gratuita para todos e um mundo justo e sem opressão.
Organizados pelo SindMetal, os metalúrgicos da empresa Aquasolis, de Mário Campos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, fizeram pela primeira vez, no dia 17 de agosto, uma paralisação contra os abusos e a exploração praticados pelo patrão.
Os trabalhadores sempre sofreram com assédio moral, desvio de função, falta de higienização dos banheiros, excesso de horas extras, além do não pagamento de insalubridade e periculosidade. Além disso, recebem um dos menores salários da categoria em Minas Gerais. Viviam humilhados pelo patrão, ouvindo xingamentos como “você é um burro”, “você é um merda” etc.
Em fevereiro de 2011, porém, foi fundado o Sindmetal, o sindicato que começou a modificar essa situação. A princípio o presidente do sindicato, Leonardo Zegarra, passou a sofrer forte assédio moral, agressões verbais, desvio de função e até agressões físicas; ameaças como “aqui o problema se resolve é na faca” eram ditas com frequência pelo dono da empresa e por seus encarregados.
No dia 8 de agosto, o cúmulo aconteceu: o dono da empresa, Mário de Lima Ribeiro, agrediu verbalmente o presdiente do Sindicato diante de seus colegas, chamando-o de “bosta”. E, como absurdo maior, o administrador da empresa, Luiz Paulo, partiu para a agressão física: empurrou Leonardo contra uma mesa e ainda lhe fez ameaças como a de “organizar um grupo para espancar o presidente do sindicato”.
Então, como resposta, no dia 17 de agosto, o SindMetal, com o apoio do Movimento Luta de Classes, do SindMassas e do SindMetro, organizou os trabalhadores na porta da empresa e se promoveu uma paralisação. Cerca de 90% dos operários participaram da mobilização. Os trabalhadores cruzaram os braços durante todo o dia e ficaram na porta da empresa, sem entrar. Quando alguém furava a greve, os outros gritavam e chamavam de “fura-greve”, “baba-ovo”, “cobaia” etc. Os operários mostraram ao patrão que, sem eles, não há produção – logo, comandam a empresa.
Mesmo com a pressão dos trabalhadores e com a produção parada, o patrão ainda resistiu em negociar com o sindicato. Mas o que ele não esperava era que a Delegacia Regional do Trabalho (DRT) iria convocá-lo, naquele mesmo dia, para, no dia seguinte, participar de uma reunião de negociação com a categoria, assim o obrigando a atender às reivindicações dos operários.
O trabalho com o jornal A Verdade está cada vez mais forte no Recife. As brigadas acontecem todas as sextas-feiras, na Avenida Sete de Setembro, centro de Recife e cada vez têm mais repercussão. A última, no final de agosto, contou com a presença de 21 militantes, e foram vendidos 40 exemplares do jornal.
Entre os compradores, a grande maioria já conhecia A Verdade e concordava com a sua linha política. “Quero conhecer melhor a ideologia do PCR, sua visão sobre o socialismo”, afirmou Valdomiro Francisco, professor.
Houve também os que se interessaram por ter mais uma opção de acesso à informação. “Quero ter acesso às notícias do Brasil e do mundo, e notei que A Verdade traz informações completamente diferentes das publicadas pelos demais meios de comunicação”, afirmou Jonas Santana, músico, ao comprar o jornal.
Outros foram atraídos pela movimentação e empenho dos militantes. Gilmara Cunha e Danila Vasconcelos, por exemplo, afirmaram terem sido levadas a comprar o jornal pelo empenho dos militantes não só em vender o periódico, como também em explicar sobre os temas de que ele divulga.
De acordo com a coordenadora Thays Santos, as brigadas estão crescendo e se firmando, ficando assim provado que A Verdade está, cada vez mais, conquistando espaço e que as pessoas precisam de uma publicação voltada para a melhoria de vida das pessoas e não para manipular a sociedade. Isso vem sendo traduzido no aumento das vendas do jornal.
Os militantes estão de parabéns pelo esforço e dedicação.
Jeniffer Nascimento, estudante de jornalismo e militante do PCR
Para enfrentar a crise do capitalismo, o governo federal cortou 52 bilhões de reais em custeio – salários dos servidores públicos federais e investimentos nas áreas sociais – visando aumentar o superávit primário e garantir o pagamento dos juros da dívida pública. Mas, como em todos os países, os trabalhadores resistem a esses ataques a seus direitos e, no dia 24 de agosto, os trabalhadores do setor público e do campo se uniram e tomaram a Esplanada dos Ministérios para dizer que não deixarão passar as propostas do governo de colocar sobre os ombros da classe trabalhadora o ônus da crise do capitalismo.
Trinta mil trabalhadores, em sua maioria servidores públicos e militantes do MST e do MTST, e representações das centrais sindicais (Conlutas, CUT e CTB) caminharam gritando palavras de ordem contra a política de arrocho salarial e o corte de verbas sociais. A marcha continuou afirmando que o que cria emprego são a reforma agrária e os investimentos em políticas públicas. Durante a manifestação, que prestou solidariedade às categorias em greve, foi denunciada a posição desrespeitosa do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) nas negociações com os servidores públicos.
Trabalhando com o prazo do final de agosto, quando será votado o orçamento da União no Congresso Nacional, o governo tratou de transformar as negociações em enrolação. Cientes dessa tática covarde do governo, os trabalhadores ligados à Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Públicas Brasileiras (Fasubra) estão em greve desde 6 de junho. Apesar da arrogância do governo ao não aceitar negociar com o Comando de Greve, os servidores se mantêm unidos – e de braços cruzados. Também na base da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) alguns locais paralisaram o trabalho. Os servidores ligados aos órgãos do Ministério da Cultura, em todo o país, reunidos em seu Encontro Nacional, resolveram encampar a proposta do RJ e também deflagraram greve. Os servidores que trabalham nos teatros, museus, bibliotecas e demais espaços culturais denunciam que o governo só destina 0,06% do orçamento para a cultura, enquanto dedica quase 45% para pagar a dívida interna e externa. A greve é pelo cumprimento de um acordo firmado com o governo Lula, em 2007.
No Rio de Janeiro, todos os museus já fecharam suas portas e a repercussão da greve já chegou a outros países. As cinco Associações de servidores da cultura (Asban, Asbram, Asminc, Asphan e Asserte) estão unidas e participando do comando da greve.
No Arquivo Nacional, órgão vinculado ao Ministério da Justiça, os servidores realizaram uma paralisação de 24 horas no dia 24 de agosto, em defesa do Plano de Carreira e pela mudança do diretor-geral. E, diante da represália da direção em cortar o ponto, os servidores, tendo à frente a Associação dos Servidores (Assan) e o diretor do Sintrasef, Vicente de Oliveira (militante do Movimento Luta de Classes), ocuparam um andar inteiro do órgão, exigindo a suspensão do corte do ponto, o que acabou acontecendo por causa da postura combativa dos servidores, que não pouparam vaias aos diretores de administração e de Recursos Humanos do órgão. No Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), os companheiros do MLC ajudaram a fechar o setor de protocolo; e os servidores do Instituto Nacional do Câncer (Inca) realizaram ato público contra a privatização do hospital.
Na base do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), os servidores se encontram também em greve em mais de 200 instituições de ensino, com o apoio dos estudantes, como é o caso dos alunos do Colégio Pedro II que, ao lado da UJR, participam do movimento.
Onde o MLC está tem luta e greve
Esses exemplos demonstram que os trabalhadores não ficam parados esperando as coisas caírem do céu. No Brasil e no mundo todo, onde as direções sindicais apontam o caminho da luta, das mobilizações e da greve, os trabalhadores respondem afirmativamente, se dispondo a lutar por seus direitos e por uma vida melhor.
Em todas essas lutas dos servidores públicos, os companheiros(as) do MLC estão presentes. Participam do comando de greve da Fasubra e propõem a continuidade do movimento em resposta à intransigência do governo. São os companheiros e companheiras do MLC que estão na linha de frente da greve da Cultura e no movimento do Arquivo Nacional. Como deliberou a reunião da direção: onde o MLC estiver, tem luta e greve contra os patrões capitalistas, pelos direitos dos trabalhadores e pelo socialismo.
Infelizmente, a plenária da Condsef deliberou encaminhar alterações na proposta do governo em relação ao PGPE e ao PST (para julho de 2012). Na nossa opinião, a proposta, além de insuficiente, é um desrespeito aos servidores ativos, aposentados e pensionistas que lutam para trabalhar de maneira digna ou ter sua aposentadoria respeitada. Por isso, o mais correto seria rejeitar essa proposta e continuar trabalhando pela greve geral da categoria, fortalecendo os setores que já se encontram em greve, e fazendo referência a eles para mobilizar os outros setores.
A plenária também aprovou um calendário de mobilização, que só terá efeito se todos os servidores da base se engajarem nessa luta pela construção efetiva da greve dos servidores públicos federais, única forma de luta capaz de derrotar a política do governo de privilegiar o pagamento da dívida pública em detrimento dos direitos dos trabalhadores.
Segundo dados de pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, 52% das mulheres compõem a População Economicamente Ativa (PEA). Destas, apenas 26% estão empregadas no chamado mercado formal, ou seja, possuem carteira de trabalho assinada e direitos trabalhistas. As demais trabalham sem registro ou por conta própria, fazendo bicos. Em 2010, quase 40% chefiavam suas famílias, sendo o seu salário o único da casa ou sua principal fonte de sustento. Apesar de a Constituição Federal brasileira prever que não pode haver diferenciação salarial por conta do sexo, a mulher continua a receber salário inferior ao dos homens pelo mesmo trabalho. Segundo pesquisa realizada em fevereiro deste ano pela Fundação Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário delas corresponde a apenas 75,7% do que os homens recebem pela mesma função.
(…) Considerando que ficaremos famintos, se suportarmos que continuem nos roubando, queremos deixar bem claro que são apenas vidraças que nos separam deste bom pão que nos falta. (Resolução – B. Brecht)
Além de trabalhar fora, a mulher ainda é a principal responsável pelo trabalho doméstico. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, se o trabalho realizado principalmente por mulheres, em casa, fosse contabilizado pelo Produto Interno Bruto do país, nosso PIB aumentaria 10,3%. Segundo essa mesma pesquisa, as mulheres dedicam cerca de 20,9 horas semanais, além da jornada de trabalho, aos afazeres domésticos, porém não recebem nada por isso.
Na realidade, esse trabalho, invisível, fundamental e infindável, favorece aos capitalistas, aos patrões e ao Estado burguês. Isso porque eles não precisam investir em creches, em restaurantes e lavanderias coletivas, já que a mulher realiza tudo isso em casa e de graça. O trabalho doméstico, apesar de imprescindível, é altamente desvalorizado socialmente e aprisionador da mulher ao lar.
Por outro lado e como parte dos problemas que sofrem as trabalhadoras, apenas 13 de cada 100 crianças têm vagas garantidas em creches. O cuidado com as crianças, que deveria ser uma tarefa coletiva, garantida pelo Estado, também recai sobre os ombros das mulheres, que devem se desdobrar para trabalhar, cuidar de casa e ainda conseguir um local em que seus filhos possam permanecer durante o período em que estão fora.
As mulheres trabalhadoras contribuem com seu trabalho para a construção de todo o país. Toda a riqueza desta nação tem a marca de suas mãos e de seu suor: trabalham nos campos, plantando e colhendo os alimentos; trabalham nos supermercados, distribuindo esses alimentos; estão nas escolas, alfabetizando e educando os filhos e filhas da classe trabalhadora; e trabalham também em casa, alimentando a família e cuidando das crianças.
Nos períodos de crise capitalista, como a que vivemos agora, são as primeiras a ser despedidas ou contratadas como mão de obra mais barata e sem direitos; são a maioria entre os trabalhadores que trabalham sem carteira assinada.
Sob o capitalismo as mulheres são, portanto, duplamente exploradas. Exploradas enquanto trabalhadoras, tendo o fruto de seu trabalho roubado pelos patrões, recebendo baixos salários e precária condição de trabalho e oprimidas em casa, sendo responsabilizadas por um trabalho que não deveria ser apenas seu.
É preciso dar um basta a tamanha exploração. Exigimos a redução do preço dos alimentos. Exigimos creches para nossas crianças, nos locais de trabalho e nos bairros onde moramos. Exigimos salário igual para trabalho igual. Queremos redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.
De agora em diante, mulher trabalhadora, o que nos espera é a luta, luta por um mundo mais justo, no qual possamos usufruir do fruto de nosso próprio trabalho. Esse mundo mais justo se chama socialismo, e o conquistaremos com a nossa união, organização e luta ao lado de todos os trabalhadores.