Na manhã de domingo, 11/09, faleceu o companheiro Carlos Sá Pereira, 82 anos, militante do Partido Comunista Revolucionário – PCR e do Movimento Luta de Classes-MLC. Sá Pereira perdeu o pai aos 7 anos de idade e para ajudar a família começou a trabalhar aos 11 anos e estudava no turno da noite. Foi Secretário de Ação do Grêmio Estudantil do Colégio Noturno de Contabilidade, denominado Grêmio Literário e Comercial Português. Participou ativamente da campanha: “O petróleo é nosso”, quando iniciou sua militância no PCB.
Em 1956, ingressou na Petrobrás. Em 1962 desenvolveu um processo de denuncias contra a Diretoria que tentava formar Associação profissional com objetivo de arrecadar os recursos dos trabalhadores que não tinham seu sindicato, o que motivou perseguições e suspensões de alguns companheiros, assim como, algumas demissões sumárias. Apesar das ameaças continuou reivindicando e cobrando da diretoria que viessem a público dar satisfações aos associados. Esse processo resultou na fundação do SINDIPETROPa/Am/Ma/Ap, do qual Sá Pereira foi o presidente-fundador.
Na noite de 30 de março de 1964, véspera do golpe militar, Sá participava de umaAssembleia permanente de vigília, em apoio ao presidente João Goulart quando tomou conhecimento que seu nome estava na lista pra ser preso. Tentou fugir, mas foi pego e conduzido ao Quartel General do VIII RM e de lá para central de polícia, depois removido para o quartel da Polícia Militar e de lá encaminhado para o presídio na ilha de Cotijuba, onde ficou preso incomunicável por mais de seis meses.
Após saída da prisão, para poder sobreviver, Sá foi trabalhar de pedreiro, carpinteiro, serviços gerais, etc, arrastando consigo uma senhora depressão, provocada mais pelos problemas familiares, os quais resultaram na sua expulsão do lar.
Já depois de anistiado, Sá voltou, em 1986, para Petrobras, casou-se com Dona Cleonice Rabelo Lima com quem viveu até os últimos dias de sua vida, além de ser reeleito várias vezes membro do conselho fiscal do Sindipetro. Do primeiro casamento nasceu: Carlos Sá Pereira Junior e Carmem Júlia Pereira Lourenço.
Em 2009, Sá Pereira conheceu e ingressou no Partido Comunista Revolucionário – PCR onde permaneceu organizado até o final de sua vida. Diante dessa grave crise do capitalismo, que tem jogado os prejuízos nas costas dos trabalhadores, Sá Pereira gostava de dizer: “só nos resta ir à luta, pois é mais honroso morrer de pé lutando do que viver o pouco resto da vida de joelhos, como escravos modernos a que estamos promovidos”.
O corpo de Sá Pereira foi velado no Recanto da Saudade onde recebeu visitas de diversas lideranças políticas, sindicais, estudantis, amigos e familiares. No momento do enterro, ao final da tarde de domingo, a militância do PCR gritou: Sá Pereira presente, agora e sempre!
A Associação dos Estudantes Secundaristas do Estado do Rio de Janeiro (Aerj) realizou no dia 25 de agosto, sua jornada de luta em homenagem ao Dia do Estudante. Mais de 500 secundaristas e universitários saíram da Praça da Bandeira em direção ao prédio da prefeitura para levar suas reivindicações – passe livre e meia passagem sem restrições para secundaristas e universitários, respectivamente, eram as principais.
Atualmente os estudantes só têm direito a duas passagens por dia, precisam recarregar o cartão diariamente e enfrentam diversas dificuldades para receber o seu cartão, devido ao sistema de controle feito pela prefeitura e pela Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor).
Os estudantes seguiram até a prefeitura e, lá, encontraram os portões trancados e um forte esquema de segurança da Guarda Municipal para impedir-lhes o acesso ao prédio público. Imediatamente, pararam o trânsito da maior e mais importante avenida do Rio, a Presidente Vargas, sentando no asfalto e exigindo que o prefeito os atendessem. Nessa hora entraram em cena o Batalhão de Choque e várias guarnições da Polícia Militar. A truculência, as bombas de gás lacrimogêneo, o spray de pimenta e a farta distribuição de cacetadas em jovens secundaristas, na maioria menores de idade, passou a ser o “diálogo”. A covardia da PM foi tamanha que muitos adolescentes passaram mal e o diretor de Assistência Estudantil da UNE, Esteban Crescente, foi agredido – tomou choques no rosto e no pescoço – por três policiais que tinham ordens para prendê-lo, mas não conseguiram.
Resistência e recuo da PM
Apesar de toda a violência da PM, os estudantes não se intimidaram e enfrentaram os policiais com seus punhos, pés, agilidade e inteligência. Por alguns momentos, sem entender o que se passava, o Batalhão de Choque ficou desnorteado com a rápida e corajosa reação dos jovens contra o policial que jogava o gás de pimenta, ou contra aquele que agredia as jovens, ou mesmo o que lançava a bomba de gás lacrimogêneo.
Depois de vários minutos de confronto aberto, o comando da manifestação, que contava com diretores da Aerj e de militantes da União da Juventude Rebelião (UJR), reorganizou todos aqueles que se dispersaram e negociou com o comando da PM, que foi obrigado a reconhecer o direito de expressão da juventude, a realização do ato e a devolução de todo o material apreendido durante a repressão. Os estudantes terminaram a manifestação cantando a palavra de ordem “A Aerj somos nós, nossa força e nossa voz!” e garantindo data para uma audiência com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.
Com muita determinação e empolgação foi realizado, no município de Jaboatão dos Guararapes, no dia 7 de agosto, o 3º Congresso do Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas (MLB) de Pernambuco. Participaram do encontro 300 delegados das ocupações Padre Henrique, Fernando Santa Cruz, Mércia de Albuquerque I e II, Mulheres de Tejucupapo, do Conjunto Habitacional Dom Hélder Câmara e das associações de moradores das comunidades da Vera Lúcia e de Jardim Piedade. Estiveram na mesa de abertura representantes da Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, da UFPE, do Central do Movimento Populares (CMP), do Movimento de Luta Pelo Teto e da Caixa Econômica Federal.
Os delegados presentes ao congresso debateram temas como cultura, juventude, mulher, saúde, meio ambiente e as injustiças causadas pelo capitalismo na sociedade.
O encontro reafirmou também a importância de se organizar uma grande delegação para a participação no 3º Congresso Nacional do MLB, com uma enorme disposição de lutar para fazer uma transformação social. No final, além de aprovação de propostas que vão nortear as lutas pela reforma urbana e pelo socialismo, foi eleita a nova coordenação estadual do MLB-PE.
2008 foi um ano marcante para o MLB da cidade de Diadema, São Paulo. Em 8 de outubro de 2008, o movimento se organizou para fazer sua primeira ocupação em Diadema. Nesse dia, cerca de 200 famílias realizaram a Ocupação Olga Benário. Uma homenagem do movimento composto por sua maioria de mulheres à grande heroína brasileira.
A ocupação durou três dias e terminou com uma passeata até a prefeitura. Lá o movimento tinha entre outras propostas, a formação de uma cooperativa para a geração de emprego e renda para mulheres do MLB. Afinal, segundo o Dieese, 61% dos desempregados brasileiros eram mulheres em 2007.
Fruto desta luta, surgiu a Cooperativa de Costureiras de Diadema “Rarilis” (iniciais dos nomes das companheiras que hoje compõem a cooperativa) que completou um ano em agosto. Elas contam como foi o caminho que a cooperativa percorreu até agora.
“Até a formação da cooperativa foi um processo demorado. Fizemos um curso que começou com 53 mulheres. No curso aprendemos o básico para começar a costurar, modelagem e corte e costura. Muitas de nós nos conhecemos no curso e para a formação de uma cooperativa forte tivemos que reunir nossas qualidades. Sozinhas cada pessoa fazia pouca coisa, umas faziam unha, outras sabiam fazer doces ou café.
No final do curso, muitas arrumaram emprego ou foram trabalhar por conta. Quando começamos a nos organizar como cooperativa éramos 32. As dificuldades foram aumentando, pois achávamos que a prefeitura ia nos conseguir o básico para começar uma cooperativa, o espaço. Cobrávamos pelo menos o espaço, pois não tínhamos dinheiro para pagar aluguel. Decidimos vir para minha casa, pois aqui já tinha duas máquinas, a Rita trouxe mais uma, daí começamos.
Com essas dificuldades muitas saíram, pois não dava dinheiro no começo. Foi muito difícil, pois também precisamos comer. Hoje somos quatro, conseguimos nos estabilizar, temos nossos materiais e pagamos nossas contas.” , afirma Mara
“Ser mulher nessa sociedade não é fácil. O recado que eu deixo é que nunca devem desistir, porque problemas virão de todos os lados. Mas devemos nos manter de cabeça erguida para enfrentar as dificuldades lutando”, diz Roseli.
“Na sociedade capitalista as coisas são sempre mais difíceis para os pobres. Por isso temos que unir as forças e lutar. A ajuda do próximo e o conhecimento são fundamentais.”, complementa Ritai.
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi instituído em 1988 com a proposta de atender universalmente à população. Apesar de ser um direito previsto na Constituição, a saúde ainda está longe de ser um bem de todos. Após 23 anos, o SUS ainda não é capaz de assistir com qualidade a 100% dos brasileiros, deixando caminho aberto para o chamado sistema suplementar, os planos ou seguros de saúde.
Mas mesmo depois de 11 anos de sua criação, ainda não foi regulamentada a Emenda Constitucional nº 29, que instituiu valores fixos de financiamento para a saúde. Com isso, o governo federal, a cada ano que passa, reduz sua participação no financiamento, apesar de possuir a maior arrecadação de impostos, deixando a cargo dos estados e municípios a maior parcela dos gastos com a saúde.
Associada a isso, encontra-se a má administração dos recursos: de um lado a prioridade dada para a disciplina orçamentária com contenção de gastos sociais, e, de outro, o apoio à iniciativa privada, por meio de benefícios tributários. Os subsídios públicos aos mercados privados de saúde incluem a isenção tributária a hospitais privados credenciados por planos de saúde; deduções no Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) e de Pessoa Jurídica (IRPJ) dos consumidores de serviços privados de saúde; financiamento de planos privados aos servidores públicos; e o não ressarcimento das operadoras privadas pelos serviços utilizados através do SUS, apesar de previsto em lei. Somente a isenção tributária e a dedução do IR equivaleram, em 2006, a 30,6% dos gastos do Ministério da Saúde.
Nos últimos tempos tem-se observado também a reserva de vagas particulares nos hospitais públicos, principalmente hospitais universitários e os administrados pelas organizações sociais (OS). Exemplo disso foi o Projeto de Lei Complementar nº 45, aprovado em dezembro de 2010 na Assembleia Legislativa de São Paulo, que destina até 25% dos leitos de hospitais públicos administrados por OS para o atendimento de usuários de plano de saúde.
Nesses casos, de acordo com a regulamentação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), os planos deveriam ressarcir o sistema público pelo atendimento prestado a seus usuários – o que não vem sendo cumprido pela maioria das empresas do setor suplementar desde 2009. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo de 26 de junho deste ano, essa dívida acumulada encontrava-se na casa dos R$ 97 milhões, dos quais apenas 25 milhões haviam sido efetivamente pagos até então.
Apesar da existência de um órgão do governo encarregado de regulamentar a ação dos planos de saúde, na prática o que se vê são seus representantes defendendo os interesses particulares em detrimento do SUS. A verdade é que as empresas de seguros de saúde financiam a campanha de muitos dos candidatos eleitos a cargos nos mais variados níveis de governo, garantindo assim sua representação. A contrapartida desse investimento seria a defesa de seus interesses por esses candidatos, nos diversos níveis do Congresso: apoio à saúde suplementar e sucateamento do SUS, com ampliação de isenções e deduções fiscais e aprovação de contratos e parcerias entre o SUS e os planos de saúde.
É preciso reacender o espírito da Reforma Sanitária, mobilizando todos os setores da sociedade, beneficiários do SUS, para ir à luta na garantia dos direitos constitucionais.
Ludmila Outtes, formada em Enfermagem e estudante de pós-graduação em Saúde Coletiva
Sheila Juruna pertence ao grande povo juruna e é componente do Movimento Xingu Vivo, símbolo da resistência à construção da Usina de Belo Monte. Mulher e guerreira indígena, tem levado o grito do Xingu Vivo em atos, palestras e debates pelo Brasil, sempre defendendo as florestas, os rios e a vida na Amazônia. No dia 30 de junho, Sheila foi homenageada na Assembleia Legislativa do Pará com a medalha de Honra ao Mérito. Durante a cerimônia, concedeu entrevista exclusiva ao jornal A Verdade.
A Verdade – Faça um breve relato sobre sua etnia.
Sheila Juruna – O povo juruna é um povo que vem sofrendo muito em decorrência dos grandes projetos, principalmente na época dos grandes seringais, com a abertura da Transamazônica. Nós sofremos impacto direto com a perda do nosso território e com a dizimação do nosso povo, que foi dado como extinto. A principal luta no momento é a questão do nosso território, que está para ser demarcado e reconhecido, mas é uma situação que tem sido prolongada devido à falta de interesse do governo em resolver.
Quais os principais problemas enfrentados pelos indígenas com a construção da usina de Belo Monte?
A questão de Belo Monte já vem sendo discutida há muitos anos, e nós povos indígenas da região nos sentimos ameaçados diretamente com esse empreendimento porque trará muitos impactos ambientais e sociais para nosso povo, principalmente nossos parentes jurunas, que moram na boca grande do Xingu. Serão cem quilômetros de rio seco, e, além do impacto ambiental, haverá um impacto direto sobre nossa população do ponto de vista social e cultural. Já estamos sendo ameaçados diretamente na nossa área que não é demarcada, sofrendo com medo de as empreiteiras invadirem nossas aldeias e outras consequências graves desse empreendimento.
Qual o interesse do governo federal em construir essa usina?
O governo federal demonstra que tem vários interesses além do crédito político, interesse no capital – e por detrás de Belo Monte tenho certeza de que estão as grandes mineradoras, que estão aí para tirar o que é nosso, tirar nosso minério, tirar as nossas riquezas que estão localizadas na volta grande do Xingu.
Como os povos indígenas esperam impedir a construção da usina?
Para poder impedir a construção, só com muita luta e com muita união entre todos os povos – não só os povos indígenas, mas todos os ribeirinhos, agricultores, pescadores, todos aqueles que estão sendo impactados diretamente com esse megaprojeto. Juntos poderemos impedir, com certeza, esse empreendimento.
Após de 66 dias de greve e 32 dias acampados em frente à Secretaria Estadual de Educação por melhores condições salariais e respeito profissional, os professores da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro decidiram suspender a greve. Após a greve, algumas conquistas importantes foram arrancadas do governo: descongelamento do Plano de Carreira dos Funcionários Administrativos, com garantia de 8% entre os níveis e iniciando com o valor do salário mínimo (R$ 545,00); reajuste de 5% para professores a partir de setembro; antecipação da parcela de 2012 do Nova Escola para julho de 2011; antecipação das parcelas restantes do Nova Escola para 2012 e 2013 acrescidas do reajuste de 5%; reajuste de 14,66% para os Animadores Culturais (equivalente ao reajuste somado com a incorporação); pagamento dos enquadramentos por formação atrasados, incluindo os professores de 40 horas; equiparação do valor da GLP ao vencimento básico do nível 3 do plano de carreira; 1/3 da carga horária de todos os professores destinada para Planejamento a partir de 2012; reajuste no Adicional de Qualificação (Mestrado e Doutorado); adicional de difícil acesso e abono de todos os dias paralisados.
Os trabalhadores da Rede Estadual que recebiam menos que um salário mínimo conquistaram um reajuste significativo após a incorporação integral da gratificação Nova Escola além dos 5% acordados para os profissionais da educação. Um funcionário de nível superior que recebia R$ 543,27, passará a receber R$ 1.089,46.
O governador Sérgio Cabral (PMDB) e o Secretário de Educação tentaram de todas as formas diminuir a importância do movimento grevista recusando as várias tentativas de diálogo com o Sindicato dos Profissionais de Educação (SEPE) e ameaçando os grevistas de demissão e não pagamento dos salários. Durante os 66 dias de greve, a batalha com o Governo foi muito dura, mas terminou com vitória.
Segundo o Ministério da Educação (MEC) a Universidade Federal Rural de Pernambuco é a primeira da lista de Instituições Federais de Ensino Superior do país com mais obras paradas. São nove obras paradas, sendo quatro obras na Unidade Acadêmica de Garanhuns (UAG), expansão da UFRPE no Agreste pernambucano e cinco obras na Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), expansão da universidade no sertão do estado. Além disso, vários estudantes assistem as aulas em prédios com obras ainda em andamento, como é o caso dos cursos de matemática e física que ficam na sede da UFRPE no Recife. Na UAST, estão paradas as obras de dois prédios: um com salas de professores, dois laboratórios e a Casa do Estudante, que serve para alojar aqueles que vêm de outra cidade. Na UAG estão paradas as obras de um prédio administrativo, um para necropsia de animais, um reservatório de água e até um prédio de salas de aula.
Para resolver estes e outros problemas, os estudantes técnicos e professores se uniram e pararam todas as atividades na UAST durante a maior parte do mês de agosto. Os estudantes, indignados com a situação, picharam os tapumes espalhados pela unidade reivindicando democracia e o fim do museu de obras. O coordenador geral do DCE-UFRPE, Cloves Silva, chegou a ser detido pela polícia, que foi acionada para reprimir a luta dos estudantes. “Essa atitude truculenta só nos dá mais vontade de lutar!” diz Cloves. Em Garanhuns, no dia 23 de agosto, foram realizadas assembleias com todos os segmentos da universidade, e no dia 24 as ruas da cidade foram tomadas por uma grande passeata. “Só com a luta e a unidade entre os seguimentos da universidade vamos garantir nossas conquistas”, afirmou o Coordenador Geral do D.A de Zootecnia da UAG, José Claudenildo.
Com a luta, as vitórias apareceram. Em Garanhuns, a obra da sala de aula já está sendo retomada em função da pressão feita pelos estudantes em luta desde o semestre passado, se configurando como uma grande vitória por parte dos Diretórios Acadêmicos e do Diretório Central dos Estudantes (DCE).
A quarta edição da Marcha das Margaridas reuniu em Brasília, nos dias 16 e 17 de agosto, cerca de 70 mil mulheres do campo e das florestas de todo o Brasil. A marcha, que é hoje uma das maiores mobilizações das mulheres agrárias na América Latina, conjugou as propostas e reivindicações dessas trabalhadoras rurais às ações das trabalhadoras das cidades. As Margaridas, que demoraram em média dois dias de viagem para chegar à capital do país, traziam em suas malas 2.011 Razões para Marchar.
As trabalhadoras foram em busca de resposta às reivindicações apresentadas ao Governo Federal para melhorar a qualidade de vida e trabalho das mulheres do campo, com foco na saúde e no enfrentamento da violência.
Antes de realizarem, no dia 17, a marcha que seguiu do Parque da Cidade até a Esplanada dos Ministérios, as Margaridas participam de oficinas e palestras em que puderam trocar experiências e, principalmente, dividir histórias da dura realidade das trabalhadoras do meio rural.
No encerramento das atividades, a presidente Dilma Rousseff, acompanhada de diversas ministras e ministros, foi à Cidade das Margaridas para entregar às marchantes o caderno de respostas às suas reivindicações. Dilma aproveitou o momento de solenidade para anunciar a criação de um grupo de trabalho interministerial que debaterá as demandas das mulheres do campo.
A secretária de Mulheres da Contag, Carmen Foro, que recebeu o caderno das mãos da presidente, falou da necessidade urgente de reforma agrária e de implementação de políticas de enfrentamento à violência contra a mulher, tendo em vista que a luta pela terra e pelos recursos naturais motivam a violência contra a trabalhadora rural, principalmente na região amazônica. Carmen completou dizendo que aquelas trabalhadoras, e outras milhares que ali não puderam estar presentes, querem, sim, discutir a situação da vida no campo, mas, para além, querem fazer parte das decisões que definirão os rumos do país.
Diante do retumbante fracasso do sistema capitalista e de sua promessa de uma economia globalizada sem crises econômicas, muitos companheiros perguntam por que, sendo o socialismo muito superior ao capitalismo e a nossa causa tão justa, não fazemos logo a revolução para acabar com esse odioso sistema econômico e político?
Para obter uma resposta precisa e correta para essa questão, é preciso, antes de mais nada, analisarmos quais foram as principais condições que determinaram a vitória das revoluções socialistas que ocorreram no mundo.
“Quem debilita, por pouco que seja, a disciplina férrea do partido do proletariado ajuda, de fato, a burguesia contra o proletariado.” (V.I. Lênin)
Comecemos pela primeira e mais importante: a grande revolução socialista soviética de 1917. V. I. Lênin, líder e organizador do Partido Comunista Bolchevique da URSS, ao analisar uma das condições fundamentais para o êxito dos bolcheviques, escreveu:
“Seguramente agora quase todos vêem que os bolcheviques não teriam se mantido no poder, não digo dois anos e meio, mas nem sequer dois meses e meio, sem a disciplina rigorosíssima, verdadeiramente férrea, no nosso partido, sem o apoio mais completo e abnegado a ele por toda a massa da classe operária, isto é, por tudo o que ela possui de consciente, honrado, influente, capaz de atrair as camadas atrasadas. (…) Mas como se mantém essa disciplina no partido revolucionário do proletariado? Primeiro, pela consciência da vanguarda proletária e pela sua dedicação à revolução, pela sua firmeza, pelo seu espírito de sacrifício, pelo seu heroísmo.” (Lênin, O esquerdismo, doença infantil do comunismo).
Portanto, sem uma disciplina rigorosíssima do partido e sem o apoio incondicional de toda a massa, não é possível a vitória da revolução.
Um dos obstáculos para alcançar essa disciplina férrea no partido é, sem dúvida, o individualismo. Afinal, o Partido Comunista precisa ser construído no interior de uma sociedade burguesa cujo princípio moral é “Primeiro cuida de ti, para depois pensar nos outros”.
Com efeito, como o capitalismo é um sistema econômico baseado na exploração do homem pelo homem, não é possível nele a melhoria da vida de todas as pessoas. Assim, para manter a ilusão nesse regime econômico, a burguesia procura convencer a maioria explorada de que o segredo do sucesso é “não se importar em pisar nas outras pessoas nem com o sofrimento de ninguém”.
Variadas são as formas, tais como filmes, novelas, canções, revistas e jornais, escolas e universidades, que a burguesia utiliza para propagandear essa sua moral. Por isso, é comum vermos reportagens na TV destacando pessoas que colocaram seus projetos pessoais acima de qualquer coisa e que “venceram na vida e hoje vivem felizes”. Não importa quantos ficaram infelizes para que isso acontecesse ou quantos trabalhadores ficaram desempregados, o que interessa é que aquela pessoa conseguiu seu objetivo: ficou rica! Ser feliz é sinônimo de ter muito dinheiro e de poder comprar o que quiser, inclusive, o amor.
Um exemplo sempre citado pelos meios de comunicação burgueses é o do bilionário norte-americano Bill Gates, dono da Microsoft, empresa proprietária do programa Windows. Entretanto, nunca é dito que a Microsoft cresceu graças aos financiamentos recebidos do governo norte-americano, ao acesso que teve às pesquisas tecnológicas da NASA e do Pentágono e à proteção de seu monopólio. Sem esse “empurrãozinho”, Bill Gates em vez de ganhar fortuna e fama, teria sucumbido à concorrência internacional.
O culto ao individualismo
Também, para melhor cooptar para sua ideologia, a burguesia e seus porta-vozes promovem a exaltação do individualismo com afirmações como “o projeto pessoal é a coisa mais importante da vida de uma pessoa” e “os desejos e a vontade individual são sempre mais importantes que qualquer anseio coletivo”.
Mas seria possível alguém existir no mundo, se a sociedade não existisse? Como seria a vida desse ser humano se a humanidade não tivesse trabalhado coletivamente e milhões e milhões de pessoas não tivessem lutado e muitas doado suas vidas para que esse “eu”, ou seja, essa pessoa, continuasse existindo?
Que tipo de felicidade é possível quando se sabe que a cada três segundos uma criança morre de fome no mundo, bilhões de indivíduos vivem privados de água e de trabalho e os “donos do mundo” diariamente promovem guerras e assassinam centenas de pessoas?
A essas perguntas, a burguesia responde com os versos da canção Epitáfio de Sérgio Brito, gravada pela banda Titãs: “Queria ter aceitado / A vida como ela é/ A cada um cabe alegrias/ E a tristeza que vier… O acaso vai me proteger/ Enquanto eu andar distraído/ O acaso vai me proteger/ Enquanto eu andar…”.
Em outras palavras, as tristezas virão de todo jeito, não importa se o homem luta ou não. Então, posso só pensar em mim, ser egoísta, e dormir tranqüilo.
Infelizmente, em virtude das dificuldades da luta revolucionária e das privações que os revolucionários são obrigados a viver numa sociedade capitalista, alguns militantes terminam sendo atraídos por essa moral burguesa – e sua filha dileta, a ideologia pequeno-burguesa – e abandonam seus camaradas, o partido e a causa que juraram defender.
Para aliviarem sua consciência, ou a falta dela, dizem que “no partido comunista não se tem liberdade; um pequeno grupo decide tudo e não se pode ser como se realmente é.”
Levantam, assim, a bandeira da “liberdade”, mas não a da liberdade dos explorados, e sim a liberdade dos ricos explorarem os pobres e dos poderosos massacrarem os trabalhadores.
A nova moral
Outra importante revolução socialista vitoriosa foi a revolução vietnamita, dirigida por Ho Chi Minh e pelo Partido Comunista do Vietnam.
A revolução vietnamita derrotou primeiro o império japonês, depois, em 1945, o imperialismo francês e, na década de 70, impôs a mais profunda derrota já sofrida pelas poderosas Forças Armadas dos Estados Unidos da América.
Tio Ho, como era carinhosamente chamado pelo povo vietnamita, morreu no dia 3 de setembro de 1969, portanto, há quarenta anos, mas deixou vários artigos escritos sobre a necessidade de se imprimir um duro combate ao individualismo para o triunfo da revolução. Vejamos o que Ho Chi Minh escreveu em seu artigo A Nova Moralidade:
“Tendo nascido na sociedade antiga, cada um de nós conserva em si mais ou menos seqüelas dessa sociedade do ponto de vista da ideologia, dos costumes etc. O aspecto mais negativo e mais perigoso é o individualismo. O individualismo é o oposto da moral revolucionária. Por menos que reste ainda na pessoa, o individualismo espera a ocasião propícia para desenvolver-se e eclipsar a moral revolucionária, para impedir-nos a inteira devoção à luta da causa revolucionária.
O individualismo é uma coisa astuta e pérfida: atrai insidiosamente o homem (e a mulher) para uma descida fatal. Sabemos que descer a ladeira é mais fácil que subi-la novamente, por isso o individualismo é ainda mais perigoso.” (A Nova Moralidade)
Não é raro vermos companheiros dominados por esse individualismo. De repente, passam a se considerar tão bons que teorizam que o mais importante não é o partido, mas eles próprios. Quando criticados, lançam um ultimatum ao partido ou ao coletivo de que participam. Não importa se cometeram erros graves ou não, têm a certeza de que qualquer outro erraria mais, assim, merecem elogios.
Vaidosos, querem ser aplaudidos a todo instante e são contaminados por uma preguiça que os impede de estudar e de se perguntar o que podem aprender com os demais companheiros.
Muitas vezes se apresentam maravilhados de si mesmo e superiores a todos os camaradas. Uma vez ou outra dizem que ainda têm muito que aprender, mas o que pensam mesmo é que sabem mais que todos os membros do partido juntos.
Alguns desses camaradas chegam ao ponto de recusarem ir às reuniões, pois sabem que o coletivo irá discutir seus erros e criticar suas atitudes. Querem logo passar uma borracha e seguir adiante como se nada tivesse acontecido. Dizem para si próprios que na hora que quiserem não errarão mais, portanto, não é com eles que o coletivo deve-se ocupar.
É claro que, pouco a pouco, esse comportamento vai afastando esses companheiros do partido, uma vez que eles não se sentem mais obrigados a cumprir as decisões do coletivo e crêem que sozinhos podem encontrar soluções melhores que as adotadas coletivamente.
Esse comportamento individualista trabalha silenciosamente para debilitar a unidade do partido e é incompatível com a moral revolucionária.
De fato, uma condição para a vitória da revolução é exatamente a existência de uma profunda unidade de pensamento e de ação dos militantes. Quanto mais coesão tem um partido, mais e melhor lutará esse partido. A moral comunista está assentada na propriedade comum dos meios de produção, na força do trabalho coletivo e de que seus frutos beneficiem a todos e não apenas uma minoria. A humanidade chegou até aqui graças ao trabalho coletivo. Se dependesse somente de um homem e de seus interesses mesquinhos, a sociedade teria sucumbido há muito tempo.
Além do mais, a fome, a pobreza, a exploração, as guerras e a infelicidade existentes hoje no mundo são resultados de um sistema econômico baseado na propriedade individual dos meios de produção e numa moral que tem como máxima a filosofia do “ou saqueia teu próximo ou este saqueia a ti; ou trabalhas para alguém ou esse alguém trabalha para ti; ou és dono de escravos ou és escravo” (Lênin).
Na verdade, a luta contra o individualismo é uma das principais lutas ideológicas que o partido necessita travar no seu interior. Nesse embate, ele se desenvolve, aprofunda sua coesão e avança sua consciência revolucionária. Por isso mesmo, o partido não pode abrir mão de exigir dos seus membros a disciplina, a honestidade e a dedicação sem vacilação à causa revolucionária.
Porém, como adverte Ho Chi Minh, vivendo numa sociedade burguesa ninguém tem completa imunidade e “o individualismo espera a ocasião propícia para desenvolver-se”; logo, é indispensável que todos os militantes se mantenham vigilantes e dispostos a combater em si e em qualquer companheiro, o individualismo. Pois, só trilhando esse caminho revolucionário, construiremos um partido capaz de derrotar a ideologia burguesa e seus fundamentos econômicos e construir uma sociedade fraterna e verdadeiramente feliz. Dito de outro modo, sem vencer o individualismo e a moral burguesa, o partido não é capaz de comandar o projeto coletivo de transformação social, isto é, realizar a revolução socialista.
Lula Falcão, membro do comitê central do Partido Comunista Revolucionário