Dado recente aponta que as indústrias de cervejas faturam R$ 20 bilhões por ano e gastam em publicidade mais de R$ 700 milhões. Uma pesquisa chegou a comparar a propaganda na televisão de álcool com a propaganda de bebidas não-alcoólicas na televisão. Gravaram-se 420 horas de programas humorísticos, esportivos e novelas nos quatro canais de televisão aberta de maior audiência durante os cinco primeiros meses de 2006. Os programas selecionados apresentaram audiência de no mínimo 10% de jovens de acordo com a medição do Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística). Foram identificadas 7.359 propagandas veiculadas nas 420 horas gravadas, tanto nos intervalos dos programas como inserções dentro dos programas gravados (merchandising). Foram 444, as propagandas de bebidas alcoólicas, ficando em 7º lugar do total encontrado. Muito mais do que as propagandas de bebidas não-alcoólicas, que tiveram 197 propagandas identificadas, ficando em 11º lugar.
A pesquisa também constatou que em todos os horários do dia há mais propaganda de bebida alcoólica do que de bebida não-alcoólica. Chama bastante atenção, também, que a cerveja sozinha compete com grande margem de vantagem em relação à inserção de propaganda de bebidas não-alcoólicas. As propagandas de bebidas alcoólicas aparecem nos períodos manhã e tarde quase em sua totalidade ligadas a eventos esportivos.
As conseqüências sociais dessa propaganda abusiva do álcool na TV são graves. Segundo levantamento feito pelo Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas (Cebrid), encomendado pela Secretaria Nacional Antidrogas, o consumo de bebidas alcoólicas aumentou, em cinco anos, 30% entre jovens de 12 a 17 anos e 25% entre jovens de 18 a 24 anos.
Mas, enquanto a propaganda sempre associa bebidas com esportes, sexualidade (mulheres são sempre acessórios das cervejas nas propagandas exibidas) e com prazer, a realidade mostra que o número de pessoas viciadas em álcool, os alcoólatras, crescem enormemente.
De acordo com o Ministério da Saúde, o número de brasileiros mortos devido a doenças provocadas pelo consumo de bebidas alcoólicas cresceu 18,3% em seis anos. A pesquisa foi realizada sobre dados fornecidos pelo Sistema de Informações sobre mortalidade no período de 2000 a 2006. De acordo com o levantamento, o número de mortes devido ao álcool passou de 10,7 por 100 mil habitantes para 12,64. Entre as causas mais comuns dos óbitos registrados por doenças, estão a cirrose, pancreatite e doenças vasculares. Mais que um problema cultural, o álcool tornou-se também um dos ingredientes ativos no aumento da violência, da criminalidade e das agressões familiares.
Outra pesquisa realizada por uma equipe do Programa Acadêmico sobre Álcool e outras Drogas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com vítimas fatais de acidentes de trânsito, mostrou que o álcool esteve presente em cerca de 75% dos casos.
Enquanto eles lucram bilhões em todo o mundo mais de um milhão de pessoas morrem no mundo em decorrência de acidentes de trânsito causados pelo uso abusivo de bebidas alcoólicas e outros milhões de jovens ficam dependentes do álcool, achando que estão consumindo um produto que faz bem à saúde e o torna sua vida mais feliz.
No entanto, os meios de comunicação da burguesia escondem essa dura realidade. Não poderia ser de outra forma, pois são bem pagos pela indústria de bebidas alcoólicas.
A verdade é que enquanto os capitalistas lucram bilhões com a propaganda do álcool e com sua venda, estão, ao mesmo tempo, embriagando nossas consciências para que aceitemos a vida de exploração e miséria em nosso país, as guerras e as injustiças no mundo.
Há alguns meses, a partir das revoltas e revoluções do mundo árabe, as empresas de informação e comunicação vêm tratando do papel central da juventude nesses episódios, sobretudo do papel fundamental das redes sociais de internet.
É estranho que se chame tanto a atenção sobre a importância da juventude nessas revoluções, quando, na verdade, em todas as revoluções da história os setores mais jovens desempenharam um papel central.
Sendo o setor mais dinâmico, a juventude sonha em estar na primeira linha de batalha em qualquer conflito sociopolítico. Portanto, é normal que tenhamos visto os jovens como um destacado setor das recentes lutas no mundo árabe, ainda mais porque a juventude representa um percentual altíssimo da população desses países1.
Neste sentido, como comunistas, devemos saber situar o papel dos setores da população em seu devido lugar, analisando em profundidade a realidade, sem observações superficiais. Por outro lado, devemos saber advertir os desejos de difundir discursos contrarrevolucionários dentro da esquerda, levando em conta que uma luta generalizada não é o que tem acontecido no mundo árabe, nem tampouco o que vá emancipar os setores populares e a classe trabalhadora. Devemos entender que o que se sucede ali é que os jovens compreenderam a necessidade de unir-se à luta popular com uma presença destacada.
Se devemos advertir sobre os desejos de difundir discursos contrarrevolucionários no seio da esquerda, faz-se também muito importante colocar no seu devido lugar as ferramentas comunicativas, como as redes sociais de internet. Devemos deixar claro que os comunistas devem aproveitar todas as oportunidades que possibilitam os avanços tecnológicos que o capitalismo oferece – desde a invenção do trem até a internet.
Desse modo, as redes sociais são uma nova maneira de dirigir as massas, igual ao que foram os panfletos, os cartazes, o rádio e que deve ser a televisão. No entanto, devido à possibilidade de participação ou interlocução dos membros das redes sociais, a burguesia e alguns discursos contrarrevolucionários, que querem se fazer passar por discursos de esquerda, pretendem transmitir a ideia de que essas redes sociais substituem as organizações de massas e, até mesmo, as organizações fundamentais das classes sociais: sindicatos e partidos.
É aqui que as empresas de comunicação e informação mostram seu caráter de classe, seus verdadeiros interesses de classe, pois, com esta análise, lançam-nos uma mensagem: não é necessário que nos organizemos, apenas devemos ficar diante do computador assistindo a um evento ou “curtindo” um comentário na internet. Quer dizer: não se organizem, apenas mostrem sua inofensiva opinião na internet.
Mas as redes sociais não podem substituir a organização, que é a única maneira autêntica de transformar a realidade, de conseguir melhorias reais, de preparar a transformação definitiva, de conquistar o poder e construir uma sociedade diferente. De fato, se atentarmos para o exemplo com que começamos – o das revoltas no mundo árabe – nos daremos conta de que os governos da Tunísia e do Egito foram derrotados sem uma importância significativa dos novos meios de comunicação, incluindo a internet, como mostra a tabela sobre o grau de acesso à internet2.
Nesses países, o fundamental foi a organização da classe operária, em primeiro lugar, e de outros setores populares, em sindicatos e partidos. Na Tunísia, várias greves sacudiram o país ao longo de 2010, enfrentando uma forte repressão por parte do governo de Ben Ali. No Egito, alguns meses antes das revoltas, houve importantes greves em vários setores, e o governo caiu diante de uma greve geral que se proclamou por tempo indeterminado. No que foram importantes as novas tecnologias da comunicação para difundir e retransmitir imediatamente os acontecimentos que estavam ocorrendo nesses países. Mas, dentro do país, essas tecnologias cumpriram certa função apenas sobre a base de um grau de organização, raiva e combatividade anteriores a qualquer “evento virtual”.
Uma vez mais, devemos responder à ideologia de classe dominante com firmeza e, sobretudo, com otimismo, dizendo com a cabeça bem alta que a organização das pessoas em torno de seus interesses, e com uma perspectiva política concreta e de superação, será o que nos permitirá transformar a realidade e construir o socialismo. Neste momento, mais do que nunca, devemos dizer: organizemo-nos e lutemos!
1. No Norte da África, os jovens entre 16 e 29 anos correspondem a cerca de 33% da população (na Espanha, a 20%), e, do ponto de vista econômico, nesses países os jovens são até 50% da população ativa (na Espanha é de 25%). Quer dizer, é normal que a juventude tenha presença marcante num país onde é o setor mais numeroso da população.
2. Como vemos na tabela, países de baixo acesso da população à internet conseguiram derrubar governos com mobilizações e greves, pelo que a ferramenta da internet não pode ser um fator fundamental. Ao mesmo tempo, vemos que Portugal, país da Europa onde se produziu a maior manifestação convocada pela internet, é um dos países europeus onde são mais fortes as organizações de esquerda, tanto na sociedade como no parlamento. Tudo isso nos confirma qual é o fator fundamental: o organizativo.
Em 1º de abril de 1964, um grupo de militares golpistas depõem o presidente eleito pelo voto popular João Goulart e instauram um regime de força, mergulhando o país em uma noite que durou vinte e um anos. Sequestros, torturas, desaparecimentos quase se institucionalizaram no país inteiro e, particularmente, nos grandes centros urbanos.
Essa realidade é abordada no filme Cidadão Boilesen, documentário de Chaim Litewski, que pretende mostrar a ligação da burguesia nacional, particularmente o grupo Ultragaz, através de seu diretor Henning Boilesen, com os militares e sua ditadura. Essa relação é jogada para debaixo do tapete desde então.
Boilesen fazia parte de um grupo de empresários que financiava a famigerada Operação Bandeirantes (Oban). Mais: Boilesen era o articulador do financiamento. Ele era o responsável por recolher, entre a burguesia paulista, as “contribuições para a caixinha”. Nessa caixinha, grande grupos financiavam não só a Oban, mas a ditadura em si. O documentário nos mostra o papel que cumpriram homens como Boilesen e mesmo o então ministro da Economia, Delfim Netto, na articulação dos empresários que financiavam o golpe.
O dinheiro era usado para capacitar os policiais (até mesmo com agentes da CIA dando cursos de “investigação” e “interrogatório”), comprar instrumentos de tortura novos (entre eles uma máquina de choques elétricos batizada em homenagem ao empresário, a Pianola Boilesen) e outros gastos.
O documentário tem como centro da narração o assassinato de Boilesen, na cidade de São Paulo, em 1971, em ação de justiçamento por parte de militantes do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e da Aliança Libertadora Nacional (ALN). A partir desse centro, o diretor analisa a ligação íntima entre o aparelho de repressão do Estado, os militares e a burguesia nacional e internacional.
O documentário é baseado nos depoimentos de pessoas que viveram o período. Mas não fica apenas na reportagem: cenas de novelas, filmes e outros documentários são usados também como fonte para um melhor entendimento do período. Personalidades como dom Paulo Evaristo Arns, Carlos Eugênio Paz, Jean Marc Van der Weid, Frei Tito de Alencar (em passagem emocionante) falam ou sobre o assassinato de Boilesen ou sobre a repressão e a luta por democracia e liberdade que se travava nas ruas do país.
Cidadão Boilesen é um filme obrigatório para quem quer entender a ditadura militar e mesmo para quem não quer ver se repetirem a repressão e a tortura em nosso pais. O documentário ousa colocar o dedo numa ferida polêmica: a participação de civis na tortura e no assassinato daqueles que lutavam por justiça e democracia. Essencial como documento histórico e grito em favor da abertura dos arquivos da ditadura e punição aos torturadores, assim é Cidadão Boilesen.
No dia 11 de março foi inaugurado no Centro do Rio de Janeiro, na Rua do Lavradio, o busto do escritor carioca Afonso Henriques de Lima Barreto. Essa homenagem vem sendo perseguida há alguns anos pela Casa Lima Barreto, uma confraria de cultura popular que divulga a obra do escritor e que conta com muito samba.
Estavam presentes os confrades da Casa, a velha guarda da Portela, o escultor do busto, Edgar Duvivier, o representante da prefeitura do Rio de Janeiro, além dos frequentadores assíduos das atividades da Casa Lima Barreto que acompanharam a luta por essa justa homenagem.
Para Simão, um dos confrades da Casa, “Lima Barreto tinha uma grande devoção ao povo humilde e uma paixão pela cidade do Rio de Janeiro. Devoção que pode ser detectada nas personagens de seus contos, romances e crônicas. Diz Moisés Gikovate: “O amor à sua terra vibra nas descrições dos aspectos naturais do Rio e de seus subúrbios. Foi Lima Barreto o romancista da gente humilde e dos desprotegidos da sorte”.
Lima Barreto foi um escritor que não cedeu às oligarquias dominantes do inicio da Primeira República. Denunciava em seus contos todas as desigualdades e mazelas que via em seu dia a dia; escritor de origem humilde, do subúrbio do Rio de Janeiro, nunca esqueceu suas raízes. Foi um dos precursores do modernismo, pois escrevia “ao correr da pena” sem se valer de textos cheios de pompa e com pouco conteúdo, e, sim, usava palavras simples, com um estilo próprio e que muito tinha a dizer.
Para o artista Edgar Duvivier, “Lima Barreto foi sem dúvida um grande escritor que representou a alma de nossa cidade. Nunca fez parte da Academia. Era mulato, pobre, suburbano, mas venceu todos esses obstáculos e preconceitos e se firmou como um dos maiores escritores do país. Fico, portanto, muito feliz em tomar parte nesse agradecimento, nesse reconhecimento que vem em forma de uma homenagem em bronze e que ficará lá, dia e noite, olhando e sendo olhada pelo povão que passa na [rua do] Lavradio, bem perto do local onde ele, Lima, morou.”
Chico César é um exemplo de amor pela música, e de persistência. Natural de Catolé do Rocha, Alto Sertão Paraibano, aos 10 anos de idade, já participava de festivais de música na região. Quando questionado por parentes e amigos o que queria ser quando crescesse, ele respondia: “vou viver de música”. Se alguém procurava chamar-lhe a atenção para as dificuldades desse mercado em nosso país, respondia convicto: “vocês vão ver”.
Mudou-se para João Pessoa, onde cursou jornalismo e integrou o grupo poético-musical de vanguarda, Jaguaribe Carne. Aos 21 anos de idade, mudou-se para São Paulo. Trabalhou como revisor e continuou fazendo música e se apresentando para pequeno público até abrir espaço e “viver de música”, como prometia na infância.
Chico César descreve bem na entrevista a motivação, a inspiração, o conteúdo do seu trabalho que tem, de fato, um caráter popular, regional e universal, num entrelaçamento dialético. Com um jeito todo próprio, como ele autoavalia, de falar de coisas duras com um jeito bem-humorado.
Atualmente, já na maturidade (46 anos), ele também é gestor público, na função de diretor executivo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope). Como gestor, faz a diferença ao negar o paternalismo e estimular os artistas e as pessoas, em geral, a participar cada vez mais e não ficar só esperando pelos governos.
Em certa ocasião, numa entrevista a um canal de televisão, Chico César declarava não aspirar a ser estrela de primeira grandeza. Queria apenas um lugarzinho nessa constelação chamada MPB. Pois bem, com sete CDs lançados e vários sucessos, ele não é apenas um dos principais nomes da chamada nova MPB, como, a meu ver, está ao lado dos que compõem a plêiade dessa constelação.
Em relação à consciência social do artista, que ele tem e se preocupa em desenvolver nos novos, gostaria de destacar uma caracterização magistral que ele faz na música MPB’s: “…de alma proletária e o motor pequeno-burguês”.
É isto. No mais, leiam com atenção a entrevista concedida ao jornalista Rafael Freire, em João Pessoa, especial para A Verdade e procurem conhecer toda a obra do pequeno-grande Chico César. Vale a pena! (Luiz Alves, advogado, participou, como concorrente de Chico César, em festivais de música no sertão paraibano nos anos 70).
A Verdade – Chico, todo artista persegue alguns objetivos na carreira e busca passar ao público uma mensagem. Quais os seus?
Chico César – Gilberto Gil tem uma música que diz: “Não se meta a exigir do poeta que ele explique o conteúdo de sua lata”. Na verdade, ele está falando sobre o conteúdo da obra do artista. A impressão que eu tenho é que o artista é um pouco diferente dos outros profissionais. Muito do que ele colhe tem a ver com o acaso. No meu caso, a minha música já me levou muito mais longe do que eu imaginava ou desejava. Antes de lançar disco, eu achava que meu público seria de estudantes universitários. Quando lancei o meu primeiro, o público era de estudantes secundaristas, e eu me surpreendi muito. Mas na arte às vezes é isso: você atira no que vê e mata o que não vê.
Quando cheguei a São Paulo, eu achava que o meu público seria o pessoal do movimento alternativo, que curtia Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, o público do Lira Paulistana. Pouco depois de quando eu cheguei lá, em maio de 95, o Lira Paulistana acabou, e o público já estava indo pra outras coisas. Quando lancei o primeiro disco, que fiz o primeiro show depois, aí só vi gente com cara de 16 anos e, ao levar meu disco pra casa, conseguiram uma conexão com os pais, porque os pais talvez estivessem mais ligados em uma música com certo engajamento, com raízes brasileiras, que tinha a ver com a música dos anos 70, com a música de Caetano, Gil, Chico, Vandré, Tarancón. Então, isso para mim foi muito surpreendente.
Eu, que desejava conquistar o público underground, conquistei um público à parte do underground e, depois, um público mais massificado com o segundo disco; eu via que poderia cantar uma canção que diz “Já fui mulher, eu sei”, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, com um monte de homens que trabalham na roça, e vê-los cantando. Aí eu pensei que estava iludido com aquele negócio de underground. A minha música tem uma matriz muito popular, porque eu trabalhei em loja de disco, ouvi muito rádio, e o que eu tenho para dizer com a minha música está inevitavelmente contagiado disso. Há uma identificação natural com a pessoa mais simples, que não frequentou a universidade. Houve várias conexões que fugiram ao meu controle.
A Verdade – Muitas das suas composições têm uma clara influência das coisas da terra, da Paraíba, da sua vivência como nordestino. Essa é a sua principal fonte de inspiração?
Chico César –Eu me inspiro muito pelo estranhamento. Pela coisa de uma pessoa que nasceu no interior da Paraíba e que ali mesmo já entrou em contato com a poesia de Zé Limeira, de João Cabral de Melo Neto, de Oswald de Andrade, de Mário de Andrade, de Maiakovski, com a literatura de José Lins do Rego, de Guimarães Rosa, com os cordéis. Essa raiz é uma referência natural que já está dentro de mim. Eu nunca fiz pesquisa sobre música negra, indígena, nordestina. Eu sinto que a terra serve mais de mola para mim do que de âncora. Ela me impulsiona em direção ao universal. Ela não me prende. E também sou muito atraído pelo que eu não sou. Porque o que eu sou já me preenche e nunca vai deixar de ser, de ser um cara do Nordeste, nascido em Catolé do Rocha, que fez jornalismo em João Pessoa. Isso está na minha base.
A Verdade – Outro elemento forte é a questão do negro, do elemento racial, seja valorizando essa identidade seja fazendo uma denúncia do preconceito, como nas composições Mama África, Respeitem meus cabelos, brancos, Filá, Mand’ela. Você sente necessidade de falar sobre esse assunto?
Chico César –Sinto sim. Não sei se eu fosse um dinamarquês eu iria fazer músicas valorizando o fato de ser branco e louro. Mas o fato de ser descendente de negros e índios nordestinos me serve como inspiração, porque sinto falta desses modelos, sinto falta da presença, na mídia, do descendente do índio, do negro. E muitas vezes os papéis sociais que eles representam são ainda caricatos: é o artista (no meu caso, por exemplo), é o jogador de futebol. Por outro lado, ainda temos poucos geógrafos negros, historiadores, psicanalistas, ministros. Trazer essa presença para a música, ajuda as pessoas a lembrar. E eu faço isso de um jeito mais leve, nunca de um jeito ranzinza, porque é da minha personalidade dizer coisas duras de um jeito bem-humorado, utilizando a metáfora, com a possibilidade do riso, sem, no entanto, perder a força.
A Verdade – Hoje você se encontra como gestor cultural, na condição de diretor executivo da Funjope. O que o levou a buscar esse novo espaço? Quais os desafios encontrados diante de tanta burocracia do Estado brasileiro?
Chico César –Eu acho que, quando o então prefeito Ricardo Coutinho me chamou para a Funjope, ele o fez porque me conhecia como militante da cena cultural de João Pessoa na década de 80. Fizemos várias coisas naquela época, como o Movimento Fala Bairros, o movimento de cineclubes, o movimento de escritores independentes etc., e não tínhamos dinheiro, não estávamos no governo, éramos contra o governo, e, mesmo assim, conseguíamos fazer as coisas. Acho que o fato de eu ser uma pessoa oriunda desse meio, acostumado a lidar com privações, e também de ter conseguido uma visibilidade e uma viabilidade como artista, me potencializava para esse trabalho. Aí, ao receber o convite, achei bacana e disse “quero ir lá, quero, depois de 25 anos, reaprender a cidade, dar minha contribuição”. E quanto à burocracia, acho que tão ruim quanto ela é a visão paternalista que alguns artistas têm em relação ao poder público, de achar que política pública de cultura é só para artistas. Na verdade, toda política pública é para a sociedade. Essa política pode até também ser feita com os artistas, através de conselhos, fóruns, conferências, da mesma forma como a política de saúde deve ser feita com os profissionais da área. A política do Ministério de Cultura, em âmbito federal, trabalha de forma mais republicana, com editais, valorizando os conselhos, as gestões coparticipativas. Então esse é um momento muito rico, porque ainda está sendo construído no Brasil todo. Se fosse para trabalhar na política do pires na mão, em que você beneficia as pessoas que têm simpatia pela sua política, pelo seu governo, talvez fosse mais fácil, mas eu acho que eu nem saberia trabalhar assim. Temos que estimular as pessoas cada vez mais a participar, a não ficar só esperando pelos governos. Quando cheguei aqui, eu quis despachar nos bairros. Levei um computador, a chefe de gabinete, e fomos aproveitando os espaços do Orçamento Democrático. A partir daí, conheci vários grupos novos de teatro, de jovens que mexem com o grafite, com o hip-hop, são novos artistas plásticos, mexem com dança, com a palavra, com a música. A cidade de João Pessoa é muito diferente daquela cidade que eu deixei há 25 anos. Ele tem novos desafios e precisa de um novo olhar. Se eu fosse olhar a capital com o mesmo olhar de 25 anos atrás, seria algo enviesado. Nós queremos dar mais condições de mercado aos artistas, mas não apenas isso. É muito importante também que os artistas tenham uma consciência social.
A Verdade – Falando sobre essa questão do mercado: existe uma barreira entre o interesse do artista de chegar até o público e as reais condições de esse público ter acesso a uma produção de qualidade, porque no meio disso está a indústria fonográfica e vários outros interesses capitalistas envolvidos. Como você vê essa questão?
Chico César –O consumo de bens culturais vive uma crise que também interfere na própria produção desses bens. Mas isso não é necessariamente ruim, porque toda grande crise antecede um momento novo, que não sabemos ainda no que vai dar. Eu acho primeiramente que falta uma política de educação que traga para dentro da escola a discussão sobre a cultura, não apenas cultura como entretenimento, como algo que você vai comprar num shopping, mas como algo que está ligado ao dia a dia das pessoas. É preciso levar às escolas um Mestre Carboreto, uma Vó Mera, e reconhecê-los como patrimônio vivo, e não para dar a eles um dinheirinho todo mês. E isso não significa que eu imagine que toda a sociedade vá ficar fazendo só reizado. É para que as pessoas possam potencializar a expressão delas no momento. Um dos movimentos mais significativos dos últimos tempos nas artes nordestinas, o Manguebeat, fez isso espontaneamente. Foram beber na fonte de Mestre Salustiano para fazer sua música. E não foi pra fazer grupo folclórico. Foi para potencializar a expressão da música urbana deles. E aí foram também nos figurinos. O cinema foi atrás disso. Uma parte da população jovem do Recife, de Pernambuco, do Nordeste, passou a ter referências próprias e a se questionar “qual é o nosso passado?”, “pra onde é que a gente pode ir?”. Isso foi um exemplo muito interessante.
Chico César – Existe uma quantidade enorme de artistas que se dizem referenciados na obra de Jackson do Pandeiro, mas os grandes meios de comunicação não valorizam suas músicas. Por quê?
Chico César –Com certeza. Rádio é concessão pública. Só que, na hora em que o empresário ganha a concessão, ele se esquece disso e começa a fazer daquilo um negócio próprio. Acontece também com a televisão, que também é concessão pública. E aí, muitas vezes, são deputados que já querem lançar o filho, a filha, o cunhado, criando um novo tipo de coronelismo. O Nordeste padece muito disso. A gente vai dar entrevista numa rádio dessas, e eles perguntam: “Você foi discriminado em São Paulo por ser nordestino?”. E eu respondo: “Meu amigo, ainda bem que existiu São Paulo no meu caminho, porque se eu dependesse de vocês, eu não estaria em lugar nenhum, porque vocês estariam tocando outro tipo de música. Aqui na sua rádio não tem espaço para os artistas daqui da Paraíba. Vocês não tocam Adeildo Vieira, Escurinho, Cátia de França”. Uma vez na vida tocam uma música minha, de Zé e Elba Ramalho, mas teriam que tocar mais Jackson do Pandeiro, Livardo Alves, Pinto do Acordeom. Aqui na Paraíba você ainda tem uma única rádio pública, a Tabajara, que faz um trabalho ainda incipiente nesse sentido. Essa rádio teria que dar o exemplo, valorizar ainda mais a produção local dos novos e dos eternos (Jackson, Sivuca etc.), criar conexões disso com a cultura popular, com o coco, o reizado, os cambindas, e reforçar essa necessidade, porque se depender dessas comerciais aí está perdido. Muitas vezes eles dizem: “A programação vem em rede de São Paulo”. A emissora de lá, por sua vez, já é uma cópia, só toca Lady Gaga, Madonna, Beyoncé, uma dupla sertaneja, um grupo de pagode, e só. Por isso que falo novamente na escola: lá é preciso mostrar aos alunos a música brasileira, tocar na difusora na hora do intervalo. É preciso haver um resgate do sentido real de educação, porque se isso ficar a cargo só da internet, da televisão, a coisa vira uma espécie de barbárie cultural. É preciso encarar com muita vontade essa questão. As pessoas são bombardeadas o tempo todo por vários assuntos como religião, sexualidade, música, pela maneira de se vestir e, no geral, o que existe é uma dificuldade de leitura por parte das pessoas sobre essa realidade. Um governo que se diga responsável deve imediatamente pensar a educação e traçar um plano para a consolidação de uma formação humanista nos jovens.
O livro “Assim foi temperado o aço”, de Nicolai Ostrowski, teve um grande sucesso de vendas na União Soviética, sendo um exemplo do papel da literatura em auxiliar o Estado revolucionário a educar seus jovens e desenvolver nas novas gerações a coragem e a confiança em sua missão de formar e consolidar a sociedade socialista. Aqui no Brasil, a editora Expressão Popular lançou a obra em português, e está entre seus livros mais vendidos.
O livro relata a vida do protagonistaPavel, do período da tomada do poder pelos bolcheviques, em 1917, até o final da década de 1920, ambientado na Ucrânia, um dos países que viria a constituir a União Soviética. O país vive então um processo muito difícil, envolvendo o período de guerra civil e dos primeiros passos da construção de uma nova sociedade.
Pavel passa por diversas provações e tensões desse período, trabalhando incansavelmente. Aos 24 anos, após escapar da morte diversas vezes, seja por bala ou por doenças, já está com o sistema nervoso bastante debilitado, sem nenhuma condição de cumprir tarefas práticas. Acaba aposentado e passa a se dedicar integralmente ao trabalho político e intelectual, lendo sem cessar a literatura marxista.
Em sua procura por tarefas dentro do Partido, Pavel tem a possibilidade de trabalhar na imprensa e consegue uma conversa com a editora-chefe do jornal central. A seguir, o diálogo entre a redatora e Pavel:
Na redação receberam Pavel muito afavelmente. A diretora, velha militante dos tempos da ilegalidade e membro da comissão central de controle da Ucrânia, fez-lhe várias perguntas.
– Qual é a sua instrução, camarada?
– Três anos de escola primária.
– Esteve nas escolas políticas do Partido?
– Não.
– Não importa; às vezes sem isso surgem também bons jornalistas. O camarada Akim falou-nos de você. Podemos dar-lhe trabalho, não para que venha obrigatoriamente aqui, mas para que o faça em casa, em geral, criar-lhe condições adequadas. Mas esse trabalho requer amplos conhecimentos. Em particular na esfera da literatura e da linguagem.
Tudo aquilo augurava a derrota de Pavel. Em meia hora de conversação, manifestou-se sua falta de conhecimentos; e no artigo, escrito por ele, a mulher sublinhou com lápis vermelho mais de trinta erros de estilo e não poucos ortográficos.
– Camarada Pavel! Você tem grandes condições. Se se preocupar em aprofundar seus conhecimentos, no futuro poderá converter-se num trabalhador literário, mas agora você escreve mal. Por seu artigo vê-se que não conhece a língua russa. Isso não é de admirar, não teve tempo para estudar. Mas sentimos muito, não podemos utilizá-lo. Repito-lhe que você tem grandes condições. Se se corrigisse seu artigo, sem mudar o conteúdo, seria magnífico. E nós necessitamos, precisamente, de pessoas que saibam corrigir o artigo dos outros.
Esse diálogo do livro nos traz uma importante lição: a necessidade de os revolucionários conhecerem e dominarem a sua língua. Hoje, vivemos no Partido, um importante debate entre os que fazem o jornal A Verdadeparaescreveremmais e melhor, visando garantir uma publicação semanal. Lendo Assim foi temperado o aço, conheceremos a rica história da construção do socialismo na União Soviética e encontraremos essa e muitas outras grandes lições.
A América Latina, extensão de países que vai desde o México até a Patagônia, no extremo sul da Argentina, sempre foi uma região bastante explorada pelas potências imperialistas. A revolução industrial européia (síntese do surgimento do capitalismo) não seria possível sem o saque das riquezas naturais (principalmente o ouro e a prata) de nuestra América. Estima-se que esse saque custou a vida de 60 milhões de indígenas que aqui viviam antes da invasão de portugueses e espanhóis. Portanto, já no surgimento do capitalismo, a América Latina sofria a opressão do imperialismo.
Mas os latino-americanos resistem. Desde Tupac Amaru e Sepé Tiaraju, líderes indígenas que lutaram contra a exploração colonial, passando por Símon Bolívar e Abreu e Lima, até os guerrilheiros das décadas de 60 e 70 do século passado, vários são os exemplos de rebeldia sul-americana. Toda essa resistência popular culminou num levantamento popular antiimperialista que alçou ao poder líderes de uma esquerda popular, democrática e antiimperialista. Hugo Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, o casal Kischner na Argentina são alguns dos que, em maior ou menor medida confrontaram os interesses dos EUA na região.
É neste contexto que se passa o documentário, do cineasta norte-americano Oliver Stone, Ao Sul da Fronteira. Demonstrando um profundo conhecimento da conjuntura política local, Stone entrevista os presidentes latino-americanos e mostra cenas de telejornais norte-americanos que falam sobre esses países e mostram um profundo desrespeito e antipatia aos povos latino-americanos por parte da mídia imperialista.
“Ao sul da fronteira dá voz aos pobres” diz Oliver Stone. Decerto que sim, o lançamento do filme na América Latina foi assistido por 6 mil pessoas em Cochabamba na Bolívia. Em outra apresentação aberta, 3 mil venezuelanos assistiram o filme em Caracas. “Nunca na minha vida estive numa sala com seis mil pessoas vibrando e aplaudindo” confessa Oliver Stone em entrevista a um sítio especializado em cinema.
No documentário, Stone vai além do aparente. Mostra como o povo norte-americano (não só o norte-americano, o povo brasileiro sofre o mesmo com a Globo e Cia.) é bombardeado de informação anti-povo. Analistas e jornalistas pedem golpe de estado para derrubar Chávez. Falam de um “índio” no poder na Bolívia de maneira pejorativa e desrespeitosa. E é claro que, por isso mesmo, não poderia deixar de ser atacado pela mídia imperialista. A exemplo da crítica feita ao filme na Veja, “Stone desceu do Olímpo hollywoodiano para exaltar o regime de esquerda de países como a Venezuela.” (http://vejasp.abril.com.br/cinema/ao-sul-da-fronteira) Isto é: Hollywood é bom. América Latina é ruim. Mas é mesmo como disse Hugo Chávez certa vez: “tudo o que cheire a povo enoja a imprensa imperialista.”
Para responder a quem chama o filme de tendencioso e de mau gosto, responde Stone: “Fico impressionado com o fato de que as pessoas dizem que não há críticas no filme. Francamente, há um bocado de críticas a eles [os presidentes] no filme, se olhar mais atentamente. Mas essas pessoas nunca parecem satisfeitas. Há muita crítica ao governo de Chávez no filme, tanto por parte dos americanos quanto dos colaboradores dos americanos na Venezuela.”
Excelente documentário que instigará grandes debates e discussões onde quer que seja exibido. Mas, independente do tom do debate, uma coisa se pode extrair do filme: a América Latina ousa dizer não mais uma vez!
Em uma cidadezinha do Sul dos EUA, (Hinleyville, estado do Alabama), há uma fábrica têxtil de 800 operários, onde as condições de trabalho são péssimas. Falta segurança, sobra um barulho infernal e um salário de fome. Nesta fábrica trabalha uma família de pai, mãe e filha. A filha se chama Norma Rae (Sally Fields, atriz do seriado norte-americano Brothers and Sisters), que constantemente entra em choque com a direção da empresa contra os maus tratos recebidos pelos operários. Em um dado momento, a mãe de Norma perde a audição temporariamente (caso comum em indústrias barulhentas) e é tratada com descaso pelo supervisor.
Daí em diante, Norma passa a reclamar cada vez mais das péssimas condições de trabalho. Notando a “má influência” que era para os demais operários, é promovida pela empresa para o cargo de supervisora de qualidade, como tentativa de cooptação. Norma fica no cargo até o momento em que percebe que seus colegas não a vêem mais com bons olhos, e então volta para o tear.
Certo dia, aparece na cidade Reuben Warshowsky (Ron Leibman), dirigente do Sindicato dos Tecelões da América (TWUA, em inglês), que chega com a missão de organizar a categoria na “única fábrica têxtil norte-americana em que ainda não há sindicato”. Norma e Reuben se conhecem e depois se reencontram, logo após ela ter sido esbofeteada pelo homem com quem mantinha um relacionamento. A partir de então, passam a ter uma relação de amizade e companheirismo muito profunda.
A partir de então, Warshowsky passa a influenciar decididamente o pensamento político de Norma, e muda sua vida radicalmente. Ao passo que se engaja mais no sindicato, vai enfrentando novas dificuldades, principalmente por sua condição de mulher operária. Paralelamente, casa-se com Sonny, outro operário da fábrica, e procura retomar sua vida afetiva. Já é mãe de um garoto e uma garota, filhos de pais diferentes. O filme propõe uma discussão sobre o papel da mulher na sociedade. Como ser a “rainha do lar” sem ajuda do marido no serviço doméstico pequeno e ainda dar conta de participar ativamente das questões de relevância social? Como ser protagonista de sua própria história e da história humana quando se está presa a uma jornada dupla? Como ser dona do próprio destino, quando os salários são mais baixos, quando há assédio por parte de seus superiores e de alguns colegas de trabalho?
Tendo que cuidar dos filhos, da casa, trabalhar na fábrica e ainda organizar o sindicato, vê-se constantemente exausta. Enquanto isso, as reuniões crescem de tamanho e os trabalhadores começam a falar dos seus problemas. Por conta do fortalecimento do sindicato, Norma passa a dedicar menos tempo as tarefas domésticas, o que gera brigas entre ela e seu marido, que não enxerga bem sua militância.
Baseado em fatos reais, Norma Rae (1979), dirigido por Martin Ritt, tem outra cena muito marcante. Quando Norma é demitida, dirige-se para o centro da fábrica, escreve à mão um cartaz com a palavra UNION (sindicato), sobe em cima de uma mesa e, pouco a pouco, os operários vão desligando as máquinas uma por uma, causando uma paralisação de protesto. Mesmo com o sacrifício da demissão de Norma, as vitórias do sindicato logo aparecem.
Denúncia profunda da exploração que sofrem os trabalhadores (e as trabalhadoras em especial) na sociedade capitalista, Norma Rae é uma excelente opção de filme para assistir e debater sobre a luta de homens e mulheres por mudança social, organização de classe e rebeldia.
Na manhã deste 18 de junho, faleceu em sua residência, aos 87 anos, o escrito e comunista português José Saramago. Ele vivia, desde 1993, com sua esposa e tradutora Pilar del Río na ilha de Lanzarote, arquipélago das Canárias, Espanha. Saramago lutava há anos contra leucemia crônica e veio a óbito por falência múltipla dos órgãos.
Filho e neto de camponeses sem terra, iletrados, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, no dia 16 de novembro de 1922. Seus pais emigraram para Lisboa quando ele ainda tinha dois anos de idade. Passou a maior parte de sua vida na capital portuguesa. Fez estudos secundários, mas, por dificuldades econômicas, não pôde concluí-los. Seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico, tendo exercido depois diversas outras profissões: desenhista, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista.
Publicou o seu primeiro livro, o romance Terra do Pecado, em 1947, ficando até 1966 sem publicar. Em 1969, filia-se ao Partido Comunista Português (PCP) e enfrentou a repressão do regime fascista de Antônio Salazar. Pertenceu à primeira direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, de 1985 a 1994, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores.
Vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 1998 e de um prêmio Camões, a mais importante condecoração da língua portuguesa, o autor é considerado o criador de um dos universos literários mais pessoais e sólidos do século 20.
De volta à prosa, seu estilo característico começa a ser definido em Levantado do Chão (1980) e em Memorial do Convento (1982). Em 1991, lança sua obra mais polêmica, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, a qual foi considerada uma afronte pela Igreja Católica de Portugal e o levou a deixar o país pouco tempo depois. Seu último romance editado foi Caim, publicado em 2009.
O escritor e crítico literário Hildeberto Barbosa Filho considera que as literaturas portuguesas perdem sua referência com a morte de Saramago. “Além de um grande escritor no campo da narrativa ficcional, Saramago foi o primeiro de língua portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, dando a ela um caráter mais universal e sintetizando-a historicamente”. Entre os romances de Saramago, Hildeberto aponta O Ano da Morte de Ricardo Reis como o melhor. “É nesta obra que ele revela um olhar crítico sobre a ditadura de Salazar e a história do escritor Fernando Pessoa. Também faz uma profunda reflexão sobre o papel da arte e da estética na história”.
“É uma história de crime, mas é também uma história de guerra sobre a luta de classes”. Assim, Michael Moore define o seu mais novo filme Capitalismo: uma história de amor.
O cineasta de Tiros em Columbine e Fahrenheit 11 de setembro denuncia dessa vez os efeitos da crise que começou em 2008 e se arrasta até os nossos dias. Como temos acompanhado no jornal A Verdade, a crise econômica do capitalismo tem feito vítimas em todo o mundo e já são milhões de novos desempregados, famintos e desabrigados. O grande mérito do filme é dar nome, rosto e voz a esses anônimos que sofrem as conseqüências da crise que os capitalistas criaram. Várias são as denúncias que Moore faz ao longo do filme, desde famílias inteiras sendo despejadas de suas casas por não terem dinheiro para arcar com suas dívidas, até multinacionais que fazem seguro de vida de seus funcionários em nome da empresa. Ou seja, a morte desses funcionários deixa essas empresas mais ricas em alguns milhares de dólares.
Mais profundo que seus demais filmes, Capitalismo: uma história de amor denuncia o assalto aos cofres públicos, com a retirada de mais de U$ 700 bi do tesouro norte-americano e a entrega desse dinheiro aos bancos, montadoras e monopólios. Para isso, homens da inteira confiança de Wall Street são sempre os indicados para o Ministério do Tesouro (qualquer semelhança com o nosso Henrique Meireles, ex-diretor do Bank of Boston, não é mera coincidência). Senadores e deputados são subornados com empréstimos facilitados, um golpe é dado no Congresso, e implanta-se, assim como foi feito para preparar a invasão ao Iraque e Afeganistão, uma imensa propaganda para amedrontar as pessoas, ou nas palavras de Bush: “(…) sem a ação imediata do Congresso, os EUA podem entrar num pânico financeiro (…) Mais bancos irão falir, inclusive os da sua comunidade, a bolsa de valores cairá ainda mais, o que desvaloriza o seu fundo de pensão, o valor de sua casa despencará, as execuções hipotecárias aumentariam drasticamente. Ficará mais difícil obter crédito. Empresas fecharão suas portas.” Em outras palavras, ou dás o dinheiro aos coitadinhos dos banqueiros ou ficarás pobre, desabrigado e desempregado.
Com a eleição de Obama, a esperança ressurge e vários são os que acreditam que agora realmente as coisas vão mudar. Por isso, a imprensa e os poderosos começam uma intensa campanha para identificá-lo como socialista (ponto alto quando Arnold Schwarzenegger, diz que saiu da Europa porque o socialismo tinha acabado com as oportunidades. O detalhe é que a Áustria, país do exterminador do futuro, nunca foi socialista). E o mais impressionante é que, quanto mais o identificavam como socialista, mais ele crescia nas pesquisas, e uma pesquisa feita durante a eleição apontava que apenas 37% dos adultos nos EUA preferem o capitalismo ao socialismo, contra 33% que acham o socialismo o melhor sistema. “O capitalismo é um mal. Não se pode regular o mal. Temos que eliminá-lo e construir algo que seja bom para todos!”, nos diz Moore.
O filme é coroado com a resistência do povo estadunidense a todos esses absurdos. Operários ocupam fábricas, a juventude protesta, trabalhadores fazem greves, donas de casa se solidarizam com grevistas, deputados denunciam os crimes cometidos no congresso e a falsa democracia no capitalismo (ápice quando uma deputada denuncia que o centro do poder não é o congresso, mas Wall Street). Enfim, cria-se um pólo de resistência ao capitalismo no coração do sistema e a lente de Michael Moore nos mostra tudo ao som da Internacional (em inglês, no ritmo de jazz: mais norte-americano impossível).
São duas horas de olhos grudados na tela, alguns risos, cenas comoventes e muita pedrada no capitalismo e nos responsáveis pelo sofrimento do povo. “Fiz esse filme como se fosse o último filme que eu estaria autorizado a fazer”. Se for, Michael encerrará em grande estilo.
Pedro Laurentino Reis Pereira é natural de Teresina, capital do Piauí, e desde muito jovem iniciou sua militância política e revolucionária em defesa dos mais pobres e do socialismo. Foi militante do movimento estudantil, sendo eleito presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal Rural de Pernambuco e presidente da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP).
Foi ainda diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE) e protagonizou, juntamente com outros camaradas, diversas lutas da juventude contra a ditadura militar fascista do Brasil iniciada em 1964 e pela libertação de vários companheiros que se encontravam presos, bem como pela anistia. Escritor e poeta, atualmente é diretor do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal do Piauí (Sintrajuf-PI).
Recentemente, Pedro Laurentino vem se dedicando à literatura, mas sem abandonar seus ideais. Do que eu sei do mundo é sua terceira obra, que se soma a Luís Cândido da Silva e Mistérios e histórias de Azeneth (em prosa), livros que contam as histórias do povo simples, cheio de dificuldade, esperança e dedicação para conquistar uma vida melhor para si e para sua família.
É, portanto, sua primeira produção em forma de poesia. Em sua obra, a poesia reflete muitas de suas experiências de vida, os espaços em que viveu e seu amor pela família. O traço mais marcante em seus versos, porém, é o valor crítico e de caráter de classe. Ele adota uma linguagem simples e acessível até aos menos letrados, ressaltando a importância da organização do povo em defesa de seus direitos, como educação e moradia. Dessa forma, usa a arte como mais um importante instrumento na defesa de uma sociedade mais justa e igualitária.
Ortodoxia
O mínimo no mínimo o máximo no corte o salário fraco o mercado forte poupando na vida lucrando na morte azar no trabalho o capital tem sorte.
Equação
Trinta bilhões de dólares que possui o Eike Batista por um bilhão de famintos – não perca a conta de vista. Quanto vale um estômago No cálculo capitalista?