Aconteceu entre os dias 13 e 17 de julho de 2011, a 52ª edição do Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes). Esse congresso acontece bienalmente e reúne mais de 6 mil jovens universitários do Brasil inteiro para debater política, educação, conjuntura, entre tantos outros temas.
Infelizmente, as últimas gestões da entidade máxima dos estudantes brasileiros, jogam a sua história na lata do lixo, quando serve de porta-voz do governo dentro das universidades, como hoje é comum. O único debate sobre a reforma no código florestal, do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) foi impedido de acontecer pela UJS, juventude do PCdoB, porque tem medo de debater o tema com os estudantes. Também neste congresso, a direção majoritária da UNE (UJS, PPL, PMDB, DS) balançou de maneira vazia a bandeira dos 10% do PIB para a educação. Vazia por que não disseram como fazer isso se o governo federal corta todos os anos o orçamento da educação, e somente este ano cortou R$ 3 bi. Vazia porque não coloca claramente como é que vamos ter 10% do PIB para a educação enquanto o governo destina todos os anos mais de 30% de seu orçamento para pagar juros da dívida pública. Vazia porque não coloca como ter 10% do PIB para a educação enquanto o governo, através do Sr. Haroldo Lima (PCdoB), presidente da ANP (Agência Nacional do Petróleo) continuar privatizando nossas reservas naturais.
Porém, um importante e destacado papel cumpriu a União da Juventude Rebelião e a tese REBELE-SE nesse congresso. Demonstrando claramente que a UNE precisa mudar de rumo se quiser de fato servir aos interesses dos estudantes brasileiros. Precisa se referenciar na juventude grega e espanhola que vai às ruas pelos seus direitos. Nossa juventude e nossa tese deixou bem claro, que a UNE precisa no próximo período, seguir o exemplo da juventude egípcia e tunisiana, que derrubaram ditaduras em busca de um mundo mais justo e que valorize a vida humana e não o lucro.
Ao final do congresso, na eleição da nova diretoria da UNE, a oposição cresceu sua presença na executiva da entidade. A chapa “Oposição de Esquerda” (REBELE-SE, Levante, Juntos, Contraponto, Vamos a Luta, Rompendo Amarras e UNE pela Base) obteve 581 votos, elegendo 3 diretores na executiva da entidade. Além disso, outra chapa de oposição “Reconquistar a UNE” (Articulação de Esquerda-PT, Trabalho-PT e outras tendências do PT) elegeu também 1 na executiva da entidade.
Parabéns a todos os militantes da União da Juventude Rebelião (UJR), a todos os que contribuíram com a tese REBELE-SE para que construíssemos essa grande bancada e essa grande vitória para todos os estudantes que querem ver a UNE de volta as lutas do povo brasileiro.
O 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes, em Goiânia-GO, finaliza suas atividades neste domingo (17). Cerca de cinco mil estudantes, entre delegados e observadores, participam dos debates com pautas diversificadas, focando nas políticas governamentais para o ensino superior. As universidades da PUC-GO e da UFG concentraram a maior parte das atividades, que agora partem para os últimos debates e aprovação do plenário no Goiânia Arena.
Abertura para ninguém
Esvaziado, o Congresso da UNE teve sua abertura manchada por poucas delegações estaduais terem chegado ao local do evento na quarta-feira. Muitas universidades públicas ainda estão em fim de semestre letivo, o que atrapalhou a participação dos estudantes. Uma abertura de poucos aplausos, baixa combatividade e participação de todas as teses que compõem a UNE infelizmente resume bem a abertura.
Quinta-feira de atrasos
O primeiro dia, realmente, para o congresso foi a quinta-feira. Neste dia, o Congresso começou a tomar forma e começaram suas principais atividades. Na manhã, contou com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Educação Fernando Haddad, num “encontro” organizado pela UNE em defesa do Prouni – programa do governo que investe em faculdades privadas recursos que deveriam ir para aumentar vagas nas universidades públicas.
Também neste dia os estudantes saíram em passeata desde o Centro de Convenções até a UFG em um ato público. Notória foi a divisão das forças que compõem a entidade, entre governistas (UJS/tendências do PT/JMDB…) e a oposição de esquerda (Rebele-se/Juntos/Contraponto/Rompendo Amarras/Vamos a Luta…). O primeiro sempre defendendo o governo e suas propostas de educação, com ressalvas muito vazias. Já o segundo, mostrando muita disposição por propostas que realmente possam mudar a educação brasileira e questionando posições retrógradas do governo, como a proposta de Reforma Florestal do senador Aldo Rebelo (PCdoB) e o próprio Prouni.
À noite, os grupos de discussão trouxeram pautas importantes para os estudantes, como preconceito, Centro de Cultura da UNE, direitos humanos, financiamento do movimento estudantil, assistência estudantil e o próprio movimento estudantil em debate. Nos grupos, muita denúncia da precariedade das universidades públicas e o abusivo aumento das mensalidades, que a força majoritária da UNE é conivente, chegando à vergonha de, no dia seguinte, chamar na mesa de ensino privado um representante dos donos de faculdades particulares para defender o ensino privado e o Prouni.
Sexta dos acuados e sábado de voz
Com as bancadas já formadas, a manhã de sexta-feira foi de intensa disputa entre a oposição de esquerda e a força majoritária da UNE em todos os GDs. Iniciados depois de muito atraso, várias denúncias da oposição irritaram os governistas que, por várias vezes, tentaram mover o rumo dos debates desvalorizando as críticas. Acuados, já tinham uma resposta pronta: “…este governo é o que podemos ter de mais avançado e temos que respeitar seus limites…” e “…isso é o melhor para o Brasil…”.
O principal debate esperado pelos estudantes era sobre o novo Código Florestal. Buscando impedir o debate – que consequentemente deixaria visível as relações de Aldo Rebelo (PCdoB) com os ruralistas e o DEM -, colocaram o debate em uma sala longe de todo o resto dos GDs com espaço para somente 50 estudantes. Com sala superlotada e o corredor cheio de pessoas ainda tentando entrar flertou-se começar o debate. Os estudantes logo denunciaram a manobra da UJS para impedir a participação de todos e exigiram que fosse mudado para um auditório ou um espaço maior. Em meio à discussão gerada o representante do governo na mesa esbravejou que o código não interessava aos estudantes e que ‘apostava’ que ninguém tinha lido a proposta de novo Código Florestal e então se retirou da sala. Menosprezando a capacidade do estudante e incapaz de continuar em meio a uma discussão tão ampla e importante, a diretoria da UNE, envergonhada pelas palavras de ordem contra o novo código, fez encerrar o GD antes mesmo de começar.
O sábado resumiu-se a plenária de propostas com importante espaço de denúncias nas defesas de propostas, o que chegou a sensibilizar forças de oposição independentes a retirar suas propostas em apoio a oposição de esquerda.
Rebele-se na UNE indica presidente
A chapa Rebele-se na UNE, formada por membros e simpatizantes da UJR e uma das principais forças da oposição, cresceu muito desde sua formação em meados de 2003. O nome escolhido foi o de Yuri Pires, estudante de História da UFRPE. Pires foi presidente do DCE-UFRPE e membro da Federação do Movimento Estudantil de História. Na sua gestão do DCE, em 2009, organizou a luta pela reabertura do Restaurante Universitário, fechado há anos, e quando este foi reaberto, a ocupação que garantiu o aumento no número de refeições e a queda em 50% do preço do RU – hoje a R$ 3 -, já noticiado por A Verdade. De acordo com Yuri: “A UNE tem que se colocar na frente da luta de enfrentamento a mais uma crise do capitalismo. Tem que se colocar contra as injustiças sociais como fome, miséria, desemprego… se colocar contra o corte de verbas para a educação. É preciso se posicionar por uma sociedade mais justa, uma universidade popular e pelo socialismo”.
Eduardo Augusto Correspondente no 52º CONUNE Fotos: Camila Sol
Revoltados com o assassinato covarde de Mark Duggan, morador de um bairro de 29 anos, no sábado dia 6 pela polícia, e com os cortes nos gastos sociais, principalmente na educação e na saúde, e o alto desemprego, jovens ingleses estão nas ruas desde domingo promovendo várias manifestações e enfrentamentos com a polícia. Os jovens ergueram barricadas para se proteger dos tiros da polícia. Na terça feira, dia 9 de agosto, outro cidadão, de 26 anos, foi morto em Croydon,, subúrbio londrino, por um tiro. O governo em vez de atender a reivindicação de Justiça dos manifestantes, decidiu aumentar a repressão.
As férias da Scotland Yard foram todas suspensas. “Vamos ter ajuda de policiais de outras regiões do país e faremos tudo que for necessário para impedir a desordem. Até agora 700 pessoas foram presas e vamos fazer de tudo para acelerar os processos, porque devemos esperar mais detenções. Vocês (manifestantes) vão sentir a força total da lei. Se vocês têm idade o suficiente para cometer esses crimes, vocês têm idade o suficiente para serem punidos”, declarou em tom raivoso o primeiro-ministro.
Segundo o “Guardian”, cerca de 200 jovens entraram em confronto com policiais no Centro de Birmingham, vitrines de lojas foram quebradas. Mais tarde, uma delegacia foi incendiada, e 87 pessoas presas. Uma “zona de exclusão” foi instalada ao redor do shopping center “Bullring”, que fica perto da área onde os conflitos iniciaram. A polícia local disse que mais agentes foram convocados para trabalhar depois que trocas de mensagens na Internet alertavam para uma mobilização na cidade.
Devido aos protestos, o amistoso entre Inglaterra e Holanda marcado para quarta-feira, dia 10, em Wembley, foi cancelado, apesar de 70 mil ingressos vendidos. Os confrontos se concentra mais nas periferias, mas atinge também as áreas mais nobres de Londres. Na segunda-feira, vário grupos de jovens atacaram na segunda-feira os bairros de Hackney, Peckham, Lewisham, Croydon, Clapham, Kilburn, Camden, Notting Hill, Colliers Wood, Ealing e Dalston, entre outros. Todos esses bairros são pobres e possuem grande população de trabalhadores imigrantes desempregados. Moradores afirmam que há muita raiva contra a forma que a policia trata os pobres que são revistados sem nenhuma razão.
Panfletos dos organizadores dos protestos são distribuídos ensinando como não ser capturado pela polícia. Um dos panfletos orienta: “Joguem fora todas as roupas usadas nos protestos, inclusive mochilas e acessórios, mudem a cor do cabelo ou passem a usar óculos e barba”. Também, ensina a não fazer nenhum comentário sobre a ação na internet e a se defender das agressões da polícia.
Realizou-se com grande êxito em Quito o 15º Seminário Internacional “Problemas da Revolução na América Latina”. O encontro anual, que se realiza desde 1996, reuniu 26 organizações populares, partidos e frentes políticas da esquerda do continente latino-americano, da Europa e da Ásia, que participaram de importantes debates sobre as perspectivas da revolução na América Latina, contribuindo para o intercâmbio entre as várias organizações e para a avaliação da atual etapa da luta dos trabalhadores e dos povos em nossa região. O Partido Comunista Revolucionário do Brasil esteve representado no seminário pelos companheiros Luiz Falcão e Vivian Mendes.
Nos debates realizados durante cinco dias na capital equatoriana foi ressaltado o importante papel desempenhado pela teoria revolucionária, seu conhecimento e a necessidade de sua difusão para criar a consciência necessária à transformação social. Também se destacou o papel da vanguarda revolucionária para elevar a consciência das massas populares e garantir os objetivos estratégicos da revolução. Entre outros elementos, esses debates e discussões são os que fazem do Seminário de Quito uma importante tribuna do pensamento e da ação das esquerdas na América Latina.
Um dos eventos que atraíram maior público foi o painel “A esquerda e os povos do Equador frente ao governo de Correa”, com a participação de representantes da esquerda equatoriana, como Luis Villacís, Gustavo Vallejo, Marcelo Larrea e Alberto Acosta, que fizeram uma análise do processo de direitização do governo do presidente equatoriano Rafael Correa e da criminalização do movimento social no país.
A arte e a cultura popular também estiveram presentes com uma bela apresentação dos grupos “Mashca Danza”, da Universidade Técnica de Cotopaxi, e o de dança contemporânea da União Nacional de Artistas Populares do Equador.
Antes do encerramento, os participantes aprovaram uma declaração final (que reproduzimos a seguir) e cantaram o hino dos trabalhadores do mundo, a Internacional.
Da Redação
“Para a vitória da revolução é indispensável utilizar todas as formas de luta”
O mundo continua a estremecer-se como resultado da crise econômica do sistema capitalista que eclodiu há pouco mais de três anos no seio do imperialismo americano e cujas manifestações e efeitos se estenderam rapidamente primeiro às economias mais desenvolvidas e, em seguida, a todo o planeta. As pequenas e curtas manifestações de parcial recuperação, exaltadas pelos grupos financeiros e os economistas defensores do sistema como indícios de que a crise chegava a seu fim, não têm feito mais que confirmar o caráter cíclico dessas crises, no marco da crise geral do capitalismo.
As medidas ensaiadas pelos governos e os organismos internacionais para driblar os problemas derivaram em seu aguçamento. Por efeito da lógica do funcionamento do capitalismo, as classes trabalhadoras, a juventude e os povos em geral transformaram-se em principais vítimas da crise, mas não a enfrentam com resignação: resistem, lutam e, em importantes setores, apresentam propostas assinadas com a exigência de que a crise seja paga pelos capitalistas – os únicos responsáveis por ela -, e não pelos trabalhadores.
Destaca-se na atualidade o fato de que, em vários pontos do mundo, a luta pelo salário, pelo emprego, pela educação e pela saúde vão se incorporando às bandeiras da democracia, da liberdade e de outros direitos políticos. Vivemos um período de ascensão da luta das massas e essa corrente derrubou regimes autoritários e ditatoriais – como os do Ben Ali (Tunísia) e Hozni Mubarak (Egito) – e mantém vários outros em xeque. O questionamento da institucionalidade burguesa está presente nessas lutas, nas exigências dos “indignados” da Espanha, nas greves dos trabalhadores na Grécia ou na Inglaterra, nas mobilizações da juventude na América, entre outros casos. É evidente que as expressões políticas da crise estão tomando vulto.
Na América Latina, a tendência democrática, progressista e de esquerda se afirma e se qualifica em seus setores mais avançados. Tempos atrás constatamos que ocorreu na região uma mudança na correlação de forças políticas e sociais: a burguesia neoliberal e seus partidos sofreram derrotas político-eleitorais em vários países e perderam espaços nos aparelhos administrativos do Estado; emergiram alguns governos progressistas como resultado da busca de mudança por parte de nossos povos e dos combates contra governos entregues abertamente ao capital estrangeiro e aos interesses das classes dominantes locais.
Sem dúvida alguma esse novo cenário latino-americano significou um passo positivo para os povos, para as forças democráticas, progressistas e de esquerda, pois alimentou o desejo de mudança existente entre as massas e afirmou sua confiança na possibilidade de superar um sistema que só trouxe fome e desesperança para os trabalhadores e os povos. Como questão fundamental, o novo momento pôs na mesa de discussão a perspectiva do socialismo como alternativa ao decadente sistema capitalista.
Entretanto, com o passar os anos, pudemos constatar os limites políticos que afetam esses governos. Uns, mais rapidamente que outros, iniciaram giros à direita, traindo as expectativas do início de tempos novos para quem sempre tem vivido na opressão. Tratados de livre comércio com países ou blocos imperialistas, leis de corte antipopular, processos de criminalização do protesto social, entrega das riquezas naturais ao capital estrangeiro e medidas econômicas neoliberais foram assinados por quase todos esses governos que ofereceram a mudança.
De regimes que respiravam a perspectiva de executar profundas mudanças econômicas, políticas e sociais, e, por isso, abriam espaços para que as organizações de esquerda avançassem no processo de acumulação de forças revolucionárias, a maioria se transtornou em diques para o avanço da luta das massas, para a perspectiva da revolução e do socialismo.
A direitização operada na maioria desses governos, a despeito do que era esperado pelas classes dominantes e pelo imperialismo, não provocou o desalento ou a frustração entre os povos. O desejo de mudança continua presente, manifesta-se nos protestos contra o desemprego, por educação, pela terra, pela água, contra os impostos, por democracia – para que seja escutada sua voz na hora de tomar decisões nas esferas de governo.
A perspectiva do triunfo da revolução e do socialismo se mantém e não depende do que façam o oportunismo, o reformismo ou qualquer facção burguesa pseudoesquerdista; está nas mãos dos trabalhadores e dos povos, das forças autenticamente revolucionárias. Para a vitória da revolução é indispensável utilizar e combinar todas as formas de luta, de acordo com as particularidades presentes em cada país.
Agora, no propósito de pôr fim à contradição que marca a natureza da época em que vivemos, a contradição trabalho-capital, não podemos evitar o combate à política que a social-democracia no poder executa em nome não da mudança social, mas em benefício das classes dominantes e do capital financeiro imperialista.
Para o avanço da luta revolucionária é indispensável separar da nefasta influência ideológica burguesa, em suas diferentes expressões, o movimento operário, a juventude, as mulheres, o movimento popular em geral; nesse propósito, devemos combinar o impulso da luta de massas por suas reivindicações materiais e direitos políticos com o debate ideológico que permita desmascarar o caráter funcional do capitalismo que essas propostas encarnam. O desmascaramento do oportunismo e da social-democracia forma parte da luta ideológica que os revolucionários levantam contra o capitalismo e seus defensores em geral.
As organizações de esquerda revolucionárias constituem o setor mais avançado da tendência democrática, progressista e de esquerda; sua responsabilidade é trabalhar para que o conjunto da tendência e dos povos em geral vejam e compreendam os limites políticos que têm os governos progressistas, a natureza dos de caráter neoliberal e, sobretudo, para que assumam as bandeiras e o programa de uma autêntica revolução que conduza ao socialismo.
Nesse aspecto é fundamental a política de unidade com os setores e forças interessadas na defesa das aspirações e direitos dos trabalhadores e dos povos e por defender os interesses soberanos do país.
Mas a unidade deve ultrapassar as fronteiras nacionais, pois, sendo a revolução um processo que deve concretizar-se em cada um dos países, em sua essência é um movimento de caráter internacional. O trabalho por uma grande frente anti-imperialista dos povos, que se expresse em lutas e ações específicas, é nosso compromisso. A solidariedade ativa com todos aqueles povos que lutam pela libertação social nacional e pela independência é parte de nossa luta. Hoje mesmo expressamos nosso apoio à luta do povo palestino contra o criminoso sionismo israelense, ao povo de Porto Rico em sua luta pela independência, rechaçamos o bloqueio imperialista estabelecido há cinco décadas contra Cuba e a presença de tropas de ocupação no Haiti; condenamos todo ato de agressão e intervenção político-militar impulsionado pelas potências imperialistas contra os povos.
Com esforço coletivo chegamos a este 15º Seminário Internacional que, ano a ano, faz um acompanhamento dos problemas fundamentais que as circunstâncias impõem às organizações revolucionárias. Resgatamos a validade desses tipos de evento que permitem resumir e compartilhar experiências e, por isso, nos comprometemos a dar continuidade a este trabalho e a difundir os acordos e resoluções assumidos nesta ocasião. Convocamo-nos para um evento similar dentro de um ano.
Quito, 15 de julho de 2011
Partido Comunista Revolucionário (Brasil)
Partido Comunista Revolucionário da Argentina
Partido Revolucionário Marxista-Leninista (Argentina)
Movimento de Mulheres Olga Benário (Brasil)
Minga Sul Palmira – Polo Democrático Alternativo (Colômbia)
Partido Comunista da Colômbia (marxista-leninista)
Partido Comunista da Espanha (marxista leninista)
Frente Democrática Nacional (Filipinas)
Partido Comunista do México (marxista-leninista)
Frente Popular Revolucionária (México)
Coordenadora Caribenha e Latino-americana (Porto Rico)
Partido Comunista do Trabalho da República Dominicana
Juventude Caribe (República Dominicana)
Frente Universitária Revolucionária Socialista (Venezuela)
Movimento de Mulheres Ana Soto (Venezuela)
Movimento de Educação para a Emancipação (Venezuela)
Movimento Gayones (Venezuela)
Partido Comunista Marxista Leninista da Venezuela
Partido Comunista (bolchevique) Rússia
Juventude Revolucionária do Equador
Confederação Equatoriana de Mulheres pela Mudança
Movimento Popular Democrático (Equador)
Partido Comunista Marxista-Leninista do Equador (PCMLE)
Nos seus esforços para embrutecer as massas, a burguesia encontrou um aliado excelente no álcool. A cidade estava minada de adegas privadas, mais perigosas do que fábricas de pólvora. Este álcool nas veias da população significava o caos para a vida da cidade. Com este propósito, as adegas foram abertas e a multidão convidada a entrar e servir-se à sua vontade. Os bêbados, de garrafa na mão, saiam dos porões para cair de bruços na neve ou para andar pelas ruas disparando e saqueando.
Os bolcheviques replicaram a estes pogroms partindo as garrafas a tiro de metralhadora, uma vez que não havia tempo para as partir todas à mão. Destruíram três milhões de rublos de vinho nos porões do Palácio de Inverno, e alguns já lá estavam a um século. Os vinhos saíram não para as gargantas do czar e dos seus servidores, mas para uma mangueira ligada a uma bomba de incêndio que os despejava nos canais. Uma perda terrível. Os bolcheviques lamentaram-na muito porque precisavam do dinheiro. Mas precisavam ainda de ordem.
Para resolver esta crise foi afixado um cartaz dirigido aos cidadãos da Rússia: “Cidadãos! – disseram – Não à perturbação da ordem revolucionária! Nem roubos, nem assaltos! Seguindo o exemplo da Comuna de Paris, aniquilaremos todos os ladrões e todos os instigadores da desordem”.
Como a tentativa de envenenar a mente do povo com vinho não foi bem sucedida, tentou-se a imprensa. Estas fábricas de mentiras publicavam uma torrente de jornais e cartazes predizendo a queda iminente dos bolcheviques, dizendo que Lênin fugira para a Finlândia com três milhões em ouro e platina roubados do Banco do Estado, que os vermelhos massacravam mulheres e crianças e que havia oficiais alemães no Smolni (sede do Partido Bolchevique), chefiando as operações.
Os bolcheviques responderam com a suspensão de todos os órgãos “que incitassem à revolta e ao crime”.
“As classes poderosas – declaravam – que possuem a parte de leão da imprensa, procuram confundir o raciocínio e a consciência do povo com uma torrente de mentiras e calúnias. […] Se a primeira Revolução, que derrubou a monarquia, teve o direito de suprimir a imprensa monárquica, então, esta revolução, que derrubou a burguesia, tem o direito de suprimir a imprensa burguesa”.
Contudo, a imprensa da oposição não foi completamente suprimida. Jornais proibidos num dia, apareciam no dia seguinte, sob um novo nome. A Palavra tornou-se A Palavra Livre. O Dia apareceu como A Noite, e depois A Noite Escura, Meia Noite, Duas Horas da Manhã, etc. A revista Sátira continuava, alegre e impiedosamente, a ridicularizar os bolcheviques com desenhos e versos. O Comitê Americano de Informação Pública (nota – O Comitê Americano de Informação Pública foi criado pelo presidente Wilson em abril de 1917, pouco depois de os EUA entrarem na guerra mundial. As suas funções incluíam: propaganda de guerra, censura e espionagem. No outono de 1917 foi crida uma delegação russa do Comitê. Na Rússia ele dedicou-se a atividades anti-soviéticas e publicava os Boletins Americanos) continuava a sua propaganda livremente, publicando os discursos de Samuel Gompers (nota – Gompers: Dirigente sindical americano reacionário que apoiou a intervenção contra a Rússia Soviética) sob o título “Socialistas apóiam a guerra”.
Contudo, as medidas dos bolcheviques foram suficientemente eficientes para se impedir a divulgação maciça de mentiras.
O czar tinha feito da Igreja Ortodoxa a sua polícia espiritual e da religião o “ópio do povo”. Com a ameaça das penas do inferno e as promessas de uma vida melhor no paraíso, as massas tinham sido mantidas na submissão à autocracia. Agora a Igreja era outra vez chamada a desempenhar as mesmas funções pela burguesia. Os bolcheviques foram solenemente excomungados de todos os seus ritos e serviços religiosos.
Os bolcheviques não fizeram um ataque direto à religião, mas separaram a Igreja do Estado. Cortaram a torrente de fundos governamentais para os cofres eclesiásticos. Proclamaram o casamento uma instituição civil. Confiscaram as terras dos mosteiros. Transformaram alguns mosteiros em hospitais.
O patriarca protestou contra esses sacrilégios, mas com poucos resultados. A devoção das massas à Santa Igreja mostrou ser quase tão mítica como a sua devoção ao czar. Olhavam para o Decreto da Igreja, que os ameaçava com o inferno se se juntassem aos bolcheviques. Depois olhavam para o Decreto bolchevique que lhes dava terras e fábricas.
“Se temos de escolher – diziam alguns -, escolhemos os bolcheviques”. Outros escolheram a Igreja. Muitos disseram-me, simplesmente: Nitchevo (não tem importância nenhuma) e participavam na procissão religiosa num dia e nas manifestações bolcheviques no dia seguinte.
(Do livro Lenine e a Revolução de Outubro, Coleção Caminhos da Revolução. N° 4. Edições Avante.1977.Lisboa – Portugal.)
Após uma longa batalha contra o câncer, morreu no dia 5 de junho o comunista belga Ludo Martens. No fim dos anos 60, Martens fundou a revista Amado (“Todo o poder para os operários”), de clara orientação antirrevisionista e de crítica ao Partido Comunista da Bélgica, reformista. Dez anos depois, em 1979, o núcleo militante em torno da revista comemorou o congresso de fundação do Partido do Trabalho da Bélgica, do qual Martens seria presidente por muitos anos. Em 1999, deixou o cargo de presidente para se transferir ao Congo e prosseguir o seu trabalho de solidariedade na antiga colônia belga, um dos seus principais campos de batalha.
Autor de importantes obras como o relato antirracista Tien gekleurde meisjes (Dez meninas de cor) e Pierre Muleleou asecond vie de Patrice Lumumba, em que narra a vida do revolucionário congolês Pierre Mulele (Patrice Lumumba); e O Partido da Revolução, onde descreve os seus 30 anos de experiência como militante comunista, e La contre-révolution de velours (A contra-revolução de veludo), descreve os diferentes movimentos contrarrevolucionários que se deram nos países do Leste e as causas que levaram ao retorno do capitalismo nesses países.
Mas, sem dúvida, o livro de Ludo Martens mais conhecido em todo o mundo foi o seu Stálin – Um novo olhar,editado no Brasil pela Editora Revan. Um trabalho corajoso que foi precursor do estudo de Stálin e de sua época a partir de um enfoque oposto ao paradigma imposto por revisionistas burgueses e trotskistas.
Além das diferenças políticas que cada um possa ter, Ludo Martens foi um lutador antirracista e um comunista que combateu o revisionismo europeu e os falsos partidos socialistas do Velho Continente.
No dia 22 de maio, visitei Marcelo Rivera, presidente da Federação Nacional de Estudantes Universitários do Equador (FEUE), que está preso há um ano e seis meses e recentemente foi transferido para uma presídio de segurança máxima na província de Sucumbios, a oito horas de Quito, capital equatoriana.
Marcelo foi preso durante uma mobilização em defesa de uma universidade democrática. Acusado injustamente de terrorismo, foi enquadrado em uma lei do período da ditadura do Equador destinada a prender militantes populares.
Em nossa visita, informamos a Rivera a campanha de solidariedade a ele que vem sendo realizada no Brasil e a nossa avaliação de que precisamos denunciar mais amplamente as ações do governo Rafael Correa para criminalizar os movimentos sociais no país.
Mas o que mais me estimulou ao visitar o companheiro Marcelo Rivera foi seu entusiasmo e sua disposição para a luta revolucionária. Vibrava quando seus companheiros passaram o informe do Congresso da Fese e dos resultados da Consulta Popular que impôs derrotas ao presidente Rafael Correa: “Estamos aqui em uma trincheira da luta revolucionaria. Assim que sair, seja agora, por bom comportamento, ou ao fim dos três anos, me integrarei imediatamente à luta com meus companheiros.”
Gregorio Gould, vice-presidenete da Ubes e militante da UJR
Uma denúncia feita por um funcionário público ao jornal inglês The Guardian revelou que estão sendo enviadas aos órgãos do Department for Work and Pensions (DWP), equivalente ao INSS no Brasil, instruções sobre como lidar com trabalhadores que ameaçam se matar.
O documento, de circulação interna, foi enviado ao jornal por um funcionário com mais de 20 anos de casa, que preferiu permanecer no anonimato. Foi acompanhado de uma carta em que dizia: “Ninguém nunca viu estas diretrizes antes, o que levou nossa equipe a acreditar que isso é devido aos cortes anunciados para as pensões. Ficamos chocados. O fato de termos lidado com o público por tantos anos sem essas orientações fez as pessoas ficarem com medo do que está por vir.”
“De repente nosso trabalho ganhou um novo aspecto. As pessoas aqui estão se perguntando a que ponto esses cortes serão selvagens. E somos nós, que estamos na linha de frente, que teremos que lidar com essas mudanças.”
O número de desempregados na Grã-Bretanha chegou a 2,48 milhões. Os jovens são uma grande parte desse total, com 963 mil deles com menos de 25 anos de idade. Quase um em cada quatro jovens está desempregado por mais de 12 meses. Entre as pessoas acima de 50 anos, 46% também estão sem trabalho por mais de um ano.
O aumento no desemprego acontece ao mesmo tempo em que direitos sociais básicos estão sendo cortados. Centenas de milhares de beneficiários dos programas de habitação ficarão sem suas casas devido a cortes do governo, o que terá um grande impacto em Londres, onde mais de 250 mil pessoas poderão ser expulsas de seus lares.
Julie Tipping, que trabalha no Departamento de Deficientes Físicos de um jobcentre (órgão do DWP), contou que no ano passado dois trabalhadores fizeram tentativas de suicídio assim que foram informados que seu benefício foi negado. Ambos foram hospitalizados.
“Essas pessoas não estão fingindo. Tem gente que pensa que elas estão exagerando só para conseguir o benefício, mas não é esse o caso. Elas estão sofrendo por problemas reais e não podem mais enfrentá-los.”
Em março do ano anterior, uma jovem chamada Vicky Harrison, então com 21 anos de idade, tirou sua própria vida com uma overdose de medicamentos. Ela já havia tentado mais de 200 vagas de emprego, e no dia anterior ao seu suicídio havia recebido mais uma carta de rejeição para uma vaga que estava tentando em um jardim de infância.
Vicky tinha boa qualificação e um impecável histórico escolar. Era viva, e muito alegre. Depois de não ter conseguido nem mesmo vagas que exigiam qualificação inferior à que possuía, ela se sentiu extremamente humilhada, tendo sido encontrada morta com três bilhetes ao lado do corpo – dois para seus pais e um para seu namorado. No dia seguinte, se estivesse viva, ela assinaria seu pedido de auxílio-desemprego, uma esmola de 51 libras semanais.
No mês anterior à denúncia desta “cartilha” para lidar com o suicídio, o mesmo jornal já havia noticiado que alguns jobcentres estavam sob pressão para cumprir metas de redução do número de beneficiários de pensões. Depois que a informação veio a público, as metas foram retiradas, mas vários trabalhadores estão sendo constantemente reavaliados para assegurar se realmente precisam do benefício.
A expectativa do DWP é que pelo menos 50% das pessoas que procuram o órgão tenham o pedido de pensão negado. Assim, essas pessoas seriam transferidas para o auxílio-desemprego, um benefício concedido sob a condição de que o trabalhador desempregado esteja procurando trabalho e que aceite qualquer um que lhe seja oferecido.
Elieanor Lisney, do movimento Disabled People Against Cuts (Deficientes contra os Cortes), afirma que a possibilidade do auxílio para deficientes ser substituído pelo auxílio-desemprego pende como uma espada sobre a cabeça dos deficientes, e que ela teme um aumento no número de suicídios.
Desde o início da década de 1990 o número de desempregados em todas as camadas da população, principalmente entre os jovens, vem chamando atenção para o risco do que poderia ser uma “geração perdida”. E o aumento do número de suicídios de membros da classe trabalhadora é sintomático de que, desesperados, sem trabalho e sem perspectivas, os trabalhadores não veem esperanças dentro dos marcos do capitalismo – alguns têm preferido a morte. Com esta “cartilha” o capitalismo atesta – se alguém ainda tinha dúvida – que é incapaz de resolver os grandes problemas criados por ele próprio e que estão colocados na ordem do dia.
Ao final do século XIX, os operários do mundo inteiro viviam uma situação de miséria e brutal exploração. Jornadas de trabalho de 12, 13 e até de 16 horas diárias eram impostas aos trabalhadores, principalmente nas fábricas. Licença maternidade, férias, seguridade social, nada disso existia. Essa situação que perdurava desde o aparecimento das primeiras grandes fábricas, com a revolução industrial, acabava com a saúde dos operários. E como entravam cada vez mais cedo nas fábricas (12, 13 anos de idade), a maioria não sabia ler, nem escrever.
Em alguns países, como a Inglaterra, a classe operária começava a se organizar para lutar pelos seus direitos. OCartismo, movimento surgido a partir de uma Carta do povo, enviada ao parlamento inglês pela Associação Geral dos Operários de Londres, atacava as fábricas e quebrava as máquinas em protesto contra o desemprego, a enorme jornada de trabalho, além de reivindicar o sufrágio universal para as eleições parlamentares e o direito de participação dos operários no parlamento. Logo a classe operária, percebeu que o problema não estava exatamente nas máquinas, mas estava na forma como a burguesia organizava a produção e na propriedade dos meios de produção por esta mesma burguesia.
Em outros países europeus, as grandes fábricas começavam a surgir e com elas a concentração de uma classe operária cada vez mais numerosa nas grandes capitais. Porém, a organização sindical e política ainda não havia chegado com força até o início do século XX. O início da organização da classe operária na Itália é o que nos mostra o filme Os companheiros (1963), de Mário Monicelli (mesmo diretor de O incrível exército de Brancaleone).
A história se passa em Turim, grande centro industrial da Europa (é cidade sede da montadora de automóveis Fiat), e nos conta a vida de centenas de operários de uma fábrica têxtil. Submetidos a uma extenuante jornada de trabalho de 14 horas, os operários saíam de casa “com os filhos dormindo e voltavam quando eles já estavam dormindo de novo”. Era comuns acidentes devido à falta de atenção provocada pela fadiga.
A saga começa, quando um operário, cansado, se descuida na operação da máquina e perde a mão. Seus colegas operários vão ao hospital se solidarizar e lá mesmo decidem ir “falar com o patrão” sobre a diminuição do tempo de trabalho diário.
À noite, vários deles freqüentavam uma escola improvisada na casa de um professor do Liceu da cidade, para aprender a ler e escrever, pois só assim poderiam votar nas eleições distritais segundo as leis da época. Porém, a maioria dormia durante as aulas. Surge entre os operários, uma incipiente organização chamada “comitê” para os representar ante os patrões.
É então que chega a cidade um “professor” chamado Sinigaglia (Marcelo Mastroiani, famoso por 8 e meio eDivórcio à italiana). Participa por acaso de uma das assembléias do “Comitê” e já então se destaca por suas boas idéias e espírito de organização acima da média entre os operários, e é eleito conselheiro do “comitê”.
Quadro vivo do início das organizações sindicais, Os companheiros, nos mostra que a classe trabalhadora vai aprendendo com a sua própria experiência. São reprimidos pela polícia e pelo exército, sofrem tentativas de suborno e de divisão do movimento. Fazem quotizações para poder sobreviver à fome imposta pelas duras condições da greve. O professor do Liceu recolhe ajuda entre os estudantes e é repreendido pelo diretor do Liceu “por estar ensinando subversão” as crianças. Ao mesmo tempo, o dono da fábrica orienta os seus funcionários a prender Sinigaglia, pois “sem liderança, eles não agüentam um dia sequer”.
A polícia dos patrões assassina um operário, prende o Sinigaglia e encerra a greve de forma truculenta. Porém, exatamente o operário que mais questionava o professor, passa a ser procurado pela polícia e passa a fazer a função que fazia Sinigaglia, indo para outra cidade se encontrar com um “contato”. Enquanto isso, o comitê planeja eleger o Professor Sinigaglia nas próximas eleições parlamentares e com isso libertá-lo da cadeia.
Mário Monicelli é o diretor desse filme que emociona pela simplicidade com que mostra a vida dos operários em luta por uma vida digna e por uma sociedade justa.
Marx e Engels, no Manifesto do Partido Comunista, já diziam que a cultura no capitalismo, para a imensa maioria das pessoas, não passa de um adestramento que transforma os homens em máquinas. E é em períodos de crise que vemos mais claramente essa verdade sobre o capital.
Em Londres, a Universidade Metropolitana (conhecida como MET) quer acabar com 70% de seus cursos, começando pelos cursos de História, Filosofia, Letras, Belas Artes, Pedagogia e relacionados.
Para conter essa barbárie, aproximadamente 60 estudantes iniciaram uma ocupação, tomando o Centro de Graduação da universidade. Demonstrando o seu apoio aos ocupantes, mais de 100 estudantes e trabalhadores fizeram no dia seguinte uma manifestação do lado de fora do centro ocupado.
“Eu amo meu curso”, disse a estudante de belas artes Roxy Bugler. “Cortar os cursos significa que os estudantes não terão chances de se educar. A universidade terá apenas cursos de negócios (administração de empresas) e contabilidade”. Eles querem cortar tudo, e isso nos leva a questionar a forma como as coisas são organizadas. Isso corta o meu coração”.
Estão também sob ameaça, além da maioria dos cursos de humanidades, os cursos de Estudos Sindicais e Estudos Caribenhos. “Isso é um ataque às artes”, disse o manifestante Alex. “Eles querem manter as artes nas mãos das elites”. Ele cantou uma canção com o refrão “temos que salvar nossos trabalhos e nossa educação”.
Os estudantes estão exigindo que a universidade retire os cortes de todos os cursos, que os ocupantes tenham uma reunião com o vice-reitor Malcolm Gillies e que os estudantes não sejam transferidos para fora da universidade.
Também estão exigindo a não criminalização dos ocupantes e acesso livre para entrar e sair da ocupação, pois a universidade não tem permitido que mais estudantes se juntem à manifestação ou levem alimentos.
O longa-metragem A Onda (Die Welle – Alemanha, 2008), em cartaz nos cinemas, não é exatamente verossímil pelo fato de ser baseado em um acontecimento real. O seu realismo fica por conta do contexto de crise econômica do sistema capitalista, que tem levado as principais potências imperialistas à recessão, punindo os trabalhadores com demissões e com o aumento da repressão política. Também pela descrença de uma grande parcela da juventude num futuro diferente, a falta de um ideal por que lutar, a entrega ao álcool e outras drogas. Cenário ideal para o surgimento de “alternativas de poder” como o fascismo.
O filme é uma adaptação do ensaio The Third Wave (A Terceira Onda), do professor de História Ron Jones, no qual relata sua experiência numa escola da Califórnia (EUA), em 1967, na tentativa de explicar na prática como Hitler e o Partido Nazista chegaram ao poder na Alemanha. Jones criou, em uma semana, um movimento com o lema “força pela disciplina, comunhão, ação e orgulho”, que reproduzia uma estrutura organizacional baseada na autoridade de um indivíduo especial, superior, sobre todos os membros do grupo, e destes sobre todos os demais que os cercavam.
É assim, a partir de um método interativo, que o professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel), um simpatizante do anarquismo na juventude, pretende explicar a seus alunos os conceitos de autocracia durante a semana especial escolar sobre os valores democráticos. E já na primeira aula, surge a pergunta que conduzirá toda a narrativa: há espaço para o ressurgimento de um regime autoritário na Alemanha moderna?
No decorrer de uma semana de aulas sobre o tema, professor e alunos criam o movimento A Onda, suas normas de conduta, um espírito de trabalho coletivo e de disciplina, seu logotipo, seu uniforme e até mesmo um gesto de saudação. Sem perceber que são tutelados pelo professor (agora chamado de Sr. Wenger) e que seguem tudo que ele ordena, o grupo recebe novos adeptos e passa a agir fora da sala de aula com atitudes de violência e propaganda ufanista.
Várias passagens do filme retratam ainda a vida pessoal de alguns personagens, evidenciando uma mudança geral de comportamento que tende à violência, à intolerância e a uma autoconfiança nata. Também o próprio professor se transforma. De um defensor das liberdades e pessoa amorosa com sua esposa, passa a um sujeito arrogante, com o ego inflado pelo sucesso do grupo e pela autoridade incontestável que adquiriu sobre seus alunos.
Após o aparecimento de distorções no comportamento do conjunto da classe, duas jovens rompem com o grupo e buscam alertar ao professor e à escola sobre os desvios dos mais entusiastas. No entanto, já é tarde para parar. Vários aspectos da ideologia fascista haviam penetrado na mente dos jovens, que agora se achavam fortes e imbatíveis. E é durante uma partida de polo aquático, em que uma briga generalizada dentro e fora da piscina quase acaba em tragédia, que o professor Rainer se dá conta de que precisa pôr um fim nisso tudo.
As cenas finais são fortes pelo desfecho da assembleia e pela lição de que, mesmo um discurso de igualdade e coletividade pode esconder um fanatismo político, que em nada lembra a consciência de classe e o papel da autoridade conquistada à base do exemplo e do conhecimento da realidade, da luta entre os contrários.
A Onda é um alerta para toda a juventude que anseia por transformações sociais e por um objetivo de vida, que só fazem sentido sob uma perspectiva de superação da sociedade de exploração e opressão das classes ricas sobre as classes trabalhadoras.