UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 7 de novembro de 2025
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Gratificação dos professores do Rio ameaçada

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Neste mês de agosto o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ) tem uma nova diretoria, eleita nos dias 26, 27 e 28 de junho, em todo o Estado. Mais de 16 mil filiados votaram e elegeram a direção central e os núcleos regionais do Sepe. A Chapa 1, “Sepe na Escola” venceu com 40% dos votos, composta por militantes do PCR, PSOL e PCB, além de outros profissionais da categoria. Na cidade de Caxias, a chapa 1 obteve 74% dos votos. O processo de composição da diretoria do sindicato é proporcional.

O Sepe representa os professores e funcionários das redes estadual e municipal de todo o Estado do Rio de Janeiro e esta foi a primeira vez que o Movimento Luta de Classes compôs sua direção, integrando a diretoria central e os núcleos de Duque de Caxias e Macaé.

Esta nova gestão tem o compromisso de levar à frente a luta da categoria, já que os ataques do governo estadual são muitos.

O ano letivo iniciou-se com o fechamento de escolas, o que impossibilitou o acesso dos estudantes à educação e deixou muitos professores sem escola para trabalhar. No mês de maio, o governador entrou na justiça para retirar nosso triênio (gratificação de adicional por tempo de  serviço). E, além disso, o assédio moral tem sido uma constante por parte da Secretaria de Educação. O governo ainda organizou uma manobra para anunciar que deu reajuste salarial, quando apenas antecipou parcelas do acordo anterior, o que fez, na prática, que os professores tivessem este ano reajuste zero.

Por tudo isso, é fundamental que o sindicato se aproxime cada vez mais da categoria, promovendo as lutas necessárias para conquistarmos uma educação emancipadora, que possa desenvolver de fato o ser humano.

Gabriela Gonçalves, diretora do Sepe-RJ e do MLC

Petroleiros se solidarizam com terceirizados

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Mesmo com a comprovação dos elevados índices de acidentes fatais e com milhares de ações judiciais contra empresas, há várias tentativas de ampliar a legitimidade do processo de terceirização, como o Projeto de Lei n° 4.330/2004, do deputado Sandro Mabel.

No sistema Petrobras essa modalidade de contrato faz parte da realidade de muitos dos seus trabalhadores, verdadeiros responsáveis pelo crescimento da empresa. É comum, no dia a dia, ouvir dos empregados dessas “prestadoras de serviço” sobre práticas de descumprimento da legislação, que vão desde o não pagamento de horas extras até as questões rescisórias. Na Transpetro (empresa integrante do sistema Petrobras), são vários os exemplos de empresas terceirizadas que negligenciam direitos trabalhistas. São os casos da Steel Serviços Auxiliares Ltda. e da Nova Locadora de Veículos e Equipamentos Ltda.

Em 2011, os técnicos administrativos da Steel descobriram que não havia o repasse ao INSS por parte da empresa e ameaçaram paralisar as atividades, caso não houvesse a regularização junto à Previdência. No caso da empresa Nova Locadora, que disponibiliza veículos e motoristas para a Transpetro, os empregados são obrigados a pagar por qualquer avaria, inclusive as decorrentes de acidentes ou imperícia, conforme consta no contrato individual de trabalho.

Dessa forma, os motoristas sofrem com os descontos salariais, como pagamento por pneus desgastados ou para-brisas trincados, danos resultantes das condições de trânsito precárias das rodovias, no exercício normal da profissão. Não bastasse essa falta de respeito, a empresa ainda se negava a pagar o valor referente à cesta básica, descumprindo a Convenção Coletiva.

Diante dessa situação, os empregados primeirizados da Transpetro (Malha Nordeste Setentrional do Gasoduto Gasfor-Fortaleza/CE), em solidariedade aos colegas terceirizados paralisaram, nos meses de junho e julho, suas atividades por duas horas e meia, exigindo o pagamento das cestas básicas devidas pela empresa aos motoristas e o ressarcimento dos descontos por avarias nos veículos.

Após a comunicação da paralisação, a comissão de negociação estabeleceu prazos para o cumprimento dos itens de pauta, em mesa de negociação. O resultado foi o pagamento dos 24 meses de atraso das cestas (equivalente a R$ 1.080), comprovando a força da união dos trabalhadores.

Porém a empresa Nova Locadora se mantém resistente à devolução do valor das avarias. Além disso, a Petrobras descontou as duas horas e meia do salário dos seus empregados que participaram da mobilização. O Sindipetro-CE já iniciou as devidas ações judiciais contra esse abuso dos patrões.

É necessário que todos os trabalhadores da Petrobras unam forças contra os descasos decorrentes da terceirização e contra as medidas de represália que têm sido adotadas contra os que resolvem ir à luta. Somente através da solidariedade entre os trabalhadores é que serão derrotadas as tentativas cada vez mais intensas por parte da burguesia de destruir os direitos conquistados, com muita luta, pela classe operária.

Emanuel Menezes, diretor do Sindipetro-CE e do Movimento Luta de Classes

Os bebês sequestrados pela Ditadura argentina

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Entre os anos de 1976 e 1983, o sangrento Regime Militar que se instalou na Argentina sequestrou 500 bebês, e cerca de nove mil pessoas desapareceram ou foram assassinadas. Entretanto, segundo organismos de direitos humanos, este número supera a casa dos 30 mil.

Vários meios foram utilizados pelos militares para reprimir o movimento popular e deter a ação revolucionária dos militantes contrários à Ditadura, e um deles eram os “voos da morte”, durante os quais os presos políticos, depois de torturados, eram lançados ao mar. No caso dos bebês, as crianças sequestradas eram entregues a famílias de militares ou de apoiadores do Regime.

Uma dessas crianças foi Hilda Victoria Montenegro, nascida em 13 de janeiro de 1976 e hoje com 36 anos. Seu pai, Roque Orlando Montenegro, era um guerrilheiro do Exército Revolucionário do Povo (ERP). Assassinado aos 20 anos num daqueles voos da morte, seu corpo arremessado sobre o Rio da Prata. Sua mãe, Hilda Romana Torres, continua desaparecida até hoje.

Em uma entrevista recente, Victoria contou que foi presa com os pais, aos 13 dias de vida, quando eles moravam em Buenos Aires. Ela foi roubada pelo tenente-coronel Hernán Antonio Tezlaff, um dos responsáveis pela morte de seu pai e de muitos outros pais de bebês sequestrados.

“Me deram o nome de María Sol Tetzlaff Eduartes, nascida em 28 de maio de 1976, em Boulogne, San Isidro, como filha de Herman Antonio Tetzlaff e sua esposa María del Carmen Eduartes. Eu nunca tive dúvidas de que não era María Sol, mas eles me diziam que eu era filha deles. Em 1989, as Avós da Praça de Maio começaram a desconfiar do meu caso e a pedir os exames de DNA”, relata Victoria.

Ela diz que viveu sem saber o que acontecia e que sempre foi tratada como uma filha pelos apropriadores: “Era uma relação de pai e filha. Durante minha infância, não desconfiava de nada. Cresci num entorno militar, os amigos da família, os encontros, as festas, eram as típicas desse meio”. Em 2000, Victoria realizou um exame de DNA e descobriu a verdade.

Esta história se assemelha à de tantas outras famílias argentinas, e todas elas só querem uma coisa: justiça!

Hoje, mais de 30 anos depois, Victoria está perto de conseguir seu mais forte desejo: no dia 5 de julho deste ano, a Justiça argentina condenou nove responsáveis por esses crimes, entre eles o ditador Jorge Rafael Videla, que recebeu a pena de 50 anos de prisão pelo sequestro de bebês. O ex-ditador Reynaldo Bignone foi sentenciado a 15 anos, no mesmo julgamento. Vale lembrar que Videla já havia recebido, em 2010, sua segunda condenação à prisão perpétua por crimes contra a Humanidade. Seu “pai-sequestrador”, o tenente-coronel Tezlaff, já havia sido condenado a oito anos de prisão pelo crime de rapto de menores, em agosto de 2001, mas faleceu ainda em meados de 2003.

Conforme a associação Avós da Praça de Maio, formada por mães de militantes de esquerda, já foram localizados 105 bebês. Até o momento, segundo a imprensa argentina, outros julgamentos para casos pontuais de roubo de bebês foram realizados, com condenações de até 16 anos para os acusados.

Lene Correia e Ludmila Outtes, Recife

Trabalhadores lutam por serviço público de qualidade

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Os servidores públicos federais, indignados com a política de arrocho salarial e com a estratégia de enrolação do Governo Dilma, estão em greve geral em todo o país. Estima-se cerca de 300 mil trabalhadores paralisados. O Brasil não vê um movimento sindical com esta força desde a luta contra a Reforma da Previdência em 2003.

A primeira categoria a entrar em greve foram os professores universitários, no dia 17 de maio. Antes mesmo de ser deflagrado, o movimento já arrancara uma vitória: a incorporação de gratificações e o reajuste de 4% nos salários, que estava previsto para março de 2012, mas que fora descumprido.

Com a entrada de outras categorias no movimento a greve se converteu em greve geral da educação federal. Em 11 de junho, foram os servidores técnico-administrativos das universidades federais representados pela Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação das Universidades Brasileiras (Fasubra). Dois dias depois, foi deflagrada a greve nos Institutos Federais de Educação, base representada principalmente pelo Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe).

Os estudantes universitários, revoltados com a intransigência do Governo Dilma – que provocou a greve – e com a realidade de sucateamento da educação, também se mobilizaram em apoio à greve, levantando também suas pautas específicas.

Até o final de julho, mais de 26 categorias em todo o Brasil estavam em greve, a maioria da base da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), além dos servidores das Agências Reguladoras e Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

Com o objetivo de mostrar nas ruas a força do movimento, foi convocado para Brasília-DF um acampamento unificado de cinco dias, entre 16 e 20 de julho. O auge do movimento foi a Marcha Unificada, no dia 18, que interditou completamente a Esplanada dos Ministérios no trecho entre a Catedral e o Congresso Nacional. As seis faixas da via, no sentido Congresso, foram bloqueadas pelos mais de vinte mil servidores que participaram do protesto.

No dia 19, o movimento bloqueou a entrada do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), impedindo a entrada de servidores para trabalhar. Apesar da repressão policial, que utilizou spray de pimenta e cassetetes contra os estudantes e servidores, o ato foi vitorioso, obrigando a Secretaria de Relações do Trabalho a receber os comandos de greve. Maria de Lourdes Neta, servidora da UFPB e militante do Movimento Luta de Classes (MLC), presente no ato, se disse revoltada diante da postura do Governo: “Somos trabalhadores e não marginais. Queremos negociação e não repressão”.

Há anos que a postura do Governo Federal tem sido de dividir as categorias com negociações específicas, que geralmente resultam em acordos rebaixados ou mesmo sem nenhum resultado concreto.

O Movimento Luta de Classes defendeu desde o início a greve geral dos servidores federais e tem atuado firmemente para sua ampliação. O MLC atuou com destaque no Comando Nacional de Greve da Fasubra e nos Comandos Locais da UFPB e da UFAL. Apoiou a greve do Sinasefe e deflagrou a greve do Ministério da Cultura, no Rio de Janeiro, e paralisou o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).

A greve geral conseguiu parcialmente quebrar a intransigência do Governo, que foi obrigado a editar a Medida Provisória 568/2012 para cumprir os acordos firmados com Andes, Sinasefe e Condsef em 2011.

Mesmo assim, o Governo ainda tentou passar na Medida Provisória dois artigos que retiravam direitos dos servidores: reduzia o salário dos médicos federais pela metade e congelava o valor dos adicionais dos servidores que trabalham em áreas insalubres ou perigosas. A reação a este ataque foi grande, o que forçou o Congresso Nacional a derrubar os artigos danosos da Medida Provisória.

Mas os servidores não querem apenas manter direitos. Querem a valorização do seu trabalho e dos serviços prestados. O Governo não pode mais sustentar o discurso autoritário, de que não negociava com grevistas, e manter negociações efetivas com os seus funcionários, seja qual for seu setor.

Agora é fortalecer a luta rumo à vitória!

Clodoaldo Oliveira,
servidor da UFPB e membro da Coordenação do MLC

“Nossa greve quer dignidade para os professores”

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Para explicar as razões da greve nacional da educação federal, A Verdade entrevistou Aroldo Félix, professor de Engenharia do Petróleo da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), que possui campus em Mossoró, Rio Grande do Norte. Aroldo foi presidente do DCE da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, é mestre em Engenharia Química, membro do Comando de Greve da Ufersa e militante do Movimento Luta de Classes (MLC).

A Verdade – Quais as principais reivindicações da greve dos servidores federais da educação, em especial dos professores?

Aroldo Félix – Esta é uma greve em defesa da Educação Pública, Gratuita e de Qualidade. Estamos questionando a forma como está sendo realizado o Projeto de Expansão das Universidades e Institutos Federais em nosso país e que é tão propagandeado pelo Governo Federal. O que conseguimos observar é uma Expansão que não prioriza a qualidade do ensino. Universidades com estrutura precária; salas de aulas superlotadas, algumas com mais de 100 alunos; disciplinas sem professor. Por isso, reivindicamos 10% do PIB para a educação. Mas não é possível melhorá-la sem valorizar seus profissionais (professores e técnico-administrativos). Daí a reivindicação dos docentes por melhores condições de trabalho e pela reestruturação da carreira. A nossa proposta de reestruturação da carreira passa por garantir no início da tabela, como primeira faixa do piso salarial, o salário mínimo nacional proposto pelo Dieese, que é de R$ 2.329,35. Este valor seria pago ao professor graduado com regime de trabalho de 20 horas, seguindo uma escala crescente até o último nível da carreira, quando o professor se aposenta. Também reivindicamos incorporação das gratificações ao vencimento básico; carreira única; progressão em treze níveis com percentuais constantes na passagem de um nível para o outro; percentuais fixos por titulação; paridade de reajustes entre ativos e aposentados. Em contrapartida, o Governo Federal apresentou nos últimos dias uma proposta que não valoriza o professor e que desestrutura nossa carreira, ao contrário do que está sendo amplamente divulgado na mídia, com o objetivo de colocar a opinião pública contra nossa categoria. O Governo propõe reajuste diferenciado para as classes (auxiliar, assistente, adjunto, associado e titular) e em três parcelas, sendo a primeira para 2013 e a última para 2015. Quando contabilizamos a inflação prevista até lá, vamos ter, na verdade, perda salarial ao receber a última parcela. A proposta também não contempla nenhum ponto da reestruturação da carreira. Por isso que a proposta do Governo foi rejeitada pelas assembleias de professores em todo o país.

Como você avalia a construção desta greve nacional?

São 58 das 59 universidades federais em greve. Apenas a UFRN não parou, mas já existe um grupo de professores se organizando para reverter este quadro isolado. Isto mostra o tamanho da indignação dos professores com as atuais condições de trabalho e com a desvalorização da carreira. Até fevereiro deste ano, o piso do professor universitário na tabela da carreira era de R$ 557,00, menor que um salário mínimo! Se compararmos o salário dos professores universitários com doutorado ao dos demais servidores públicos federais que possuem apenas a graduação, vamos observar que o primeiro está bastante abaixo. Este conjunto de situações, somado ao descumprimento, por parte do Governo, do acordo assinado no ano passado (apresentar em março deste ano uma proposta para a reestruturação da carreira), levou à deflagração da greve desde o dia 17 de maio. É visível a quantidade de professores jovens participando ativamente das assembleias, dos atos e dos comandos de greve, mostrando muita disposição de luta e abrindo novas perspectivas para que os sindicatos renovem suas diretorias num futuro próximo, fortalecendo ainda uma linha combativa dentro do Andes, o sindicato nacional dos docentes universitários.

Você é professor da Ufersa. Quais as principais atividades desenvolvidas pela greve na universidade?

O movimento grevista na Ufersa está muito dinâmico. As assembleias têm ocorrido semanalmente, onde fazemos uma avaliação da greve e planejamos várias atividades. São atos públicos pelas ruas da cidade, em sua maioria em conjunto com os técnico-administrativos em greve; panfletagens em frente à universidade; piquetes dentro do campus, como no dia em impedimos, junto com os técnico-administrativos, a realização das matrículas no SISU, o que causou uma grande repercussão no estado. Também já realizamos atividades culturais e esportivas, com o objetivo de construir um momento de integração entre os professores. Nos últimos dias, fizemos uma carreata nas ruas de Mossoró, circulando com um carro de som e dialogando com a sociedade para desmascarar a proposta mentirosa que o Governo Federal está anunciando na mídia e mostrar o porquê de estarmos em greve. Os estudantes da Ufersa, assim como em várias outras universidades, deliberaram em assembleia geral o apoio à greve.

Qual sua expectativa para o movimento docente universitário e para a universidade brasileira?

O Governo Federal conseguiu, com seu descaso e intransigência, colocar em movimento uma categoria que há alguns anos não fazia greve. Porém, acredito que o próprio Governo não esperava tanta força. Esta greve fortaleceu bastante a categoria, elevando seu nível de consciência política, uma vez que estamos discutindo não apenas salários, mas melhorias na qualidade da educação nas universidades brasileiras. Com certeza, o movimento docente terá uma dinâmica mais ativa do que vinha apresentando. E isto será extremamente necessário para garantirmos uma Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade em nosso país. O que estamos observando hoje é uma total falta de compromisso com o setor. O país que é a sexta maior economia do mundo, possui uma das maiores arrecadações tributárias e diz que 10% do PIB para educação é muito, que valorizar o professor causará um grande impacto financeiro. Contraditoriamente, entrega de mão beijada quase metade de todas as riquezas do país para os banqueiros e agiotas nacionais e internacionais através do pagamento dos juros da dívida. Enquanto isso, vemos a universidade pública sucateada.  A luta por uma educação de qualidade exigirá uma grande força do movimento docente, do movimento estudantil e dos técnico-administrativos, mas não só destes setores, e sim de toda a sociedade.

Rafael Freire, Redação

Governo do Rio de Janeiro quer fechar IASERJ

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Na madrugada de Sábado, 14 de julho, policiais fortemente armados da tropa de choque, policiais à paisana e médicos, todos sem identificação, invadiram o hospital IASERJ (Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro) e retiraram cerca de 50 pacientes, muitos deles em estado grave, colocando em risco a vida desses pacientes. Segundo o governo do estado, o IASERJ será demolido para a ampliação do INCA. É importante a expansão do INCA, o investimento no hospital, mas ele pode ser ampliado sem  comprometer uma estrutura da qual dependem centenas de pessoas. Não há justificativa para a demolição do IASERJ. Emocionada, uma paciente que veio da zona oeste e chegou às 5:30 da manhã buscando atendimento, desabafou: “esse é o hospital onde atendem a gente com dignidade, se ele fechar iremos para onde? Os outros não tem capacidade”.

Na manhã de 16 de julho, diversos pacientes foram procurar atendimento no hospital, e seu funcionamento foi normal, devido a dedicação dos profissionais de saúde ali presentes.  Inconformados com a possível demolição, servidores do estado, professores, estudantes e usuários do hospital estão fazendo uma ocupação para garantir o atendimento dos pacientes e garantir que esse importante hospital, que atende a 44 especialidades não seja destruído para enriquecer ainda mais alguns empresários.  Todos os dias têm acontecido panfletagens para alertar a população e atos dentro do pátio para conscientizar os pacientes que essa é uma luta de todos. Os servidores também argumentam o fato do hospital não fazer parte do patrimônio do estado e sim dos servidores estaduais,  que contribuem com 2% para saúde e assistência social. Esse descaso com a saúde pública, com os servidores do estado e com o povo mostra um governo atrelado com a iniciativa privada, sem compromisso com a qualidade de vida da população.

Karen Lemes, Rio de Janeiro

Hospital público pede socorro

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O Hospital da Restauração (HR), em Recife, PE, foi inaugurado em 1967 e abarca um amplo serviço de saúde, sendo referência no atendimento de politraumatismo, neurocirurgia, queimadura e intoxicação no Norte-Nordeste. 100% vinculado ao SUS, apresenta uma grande demanda de atendimentos ambulatoriais e de emergência, além de internamento e cirurgia adulta e pediátrica.

Apesar do elevado número de serviços prestados, o hospital funciona com várias deficiências que comprometem o atendimento prestado à população e dificultam a vida dos diversos profissionais que lá trabalham.

Sem a realização de concursos públicos e processos seletivos para contratação de funcionários, o hospital funciona com diversos trabalhadores temporários, contratados por plantão, que não recebem qualquer direito trabalhista. Ainda assim, faltam profissionais necessários para a manutenção de alguns serviços médicos: mensalmente, vários procedimentos cirúrgicos são cancelados por falta de médico anestesista.

Para piorar, falta estrutura física e material médico-hospitalar. Os poucos leitos disponíveis de UTI não comportam a demanda do hospital, faltam medicamentos, aparelhos de monitoração estão quebrados e, recentemente, começaram a faltar aparelhos de ventilação mecânica, também conhecidos como respiradores artificiais, fundamentais para pacientes graves que não conseguem manter os movimentos respiratórios por si mesmos. Segundo depoimento do próprio diretor do HR, Dr. Miguel Arcanjo, dos 184 respiradores que o hospital dispõe, mais de 80 encontram-se quebrados.

Da Redação

O Banco Mundial e a Saúde no Brasil

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No último mês, várias reportagens foram exibidas na imprensa mostrando a falta de estrutura física dos estabelecimentos de saúde vinculados às universidades públicas, bem como a deficiência de profissionais, que reflete a precariedade do ensino dos futuros profissionais de saúde. Com todas as notícias veiculadas, é impossível não trazer novamente a discussão das organizações sociais de saúde (OSS) e suas implicações na vida dos usuários dos serviços públicos de saúde.

Paralelamente à discussão sobre a terceirização, aparece uma nova legislação sobre o gerenciamento dos hospitais universitários: em dezembro do ano passado foi sancionada a Lei nº 12.550, que criou a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), entidade de caráter privado responsável pela gerência dos recursos, tanto humanos quanto financeiros, dos hospitais-escola. Trata-se da transferência da responsabilidade de gestão do Estado para entidades privadas, mantendo-se a fonte financiadora governamental. Resumindo, o governo financia os hospitais, mas a administração dos recursos passa para a mão das empresas privadas.

Práticas como essa são cada vez mais frequentes na atual administração pública, retomando as políticas de privatização dos anos 1980 e 90. A terceirização dos serviços é a alternativa dada pelo governo à precarização da gestão pública, primeiro passo rumo à privatização.

Para Nelson de Souza e Silva, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tal atitude é explicada através de fatos de um passado recente, baseados no relatório sobre o desenvolvimento mundial de 1993, do Banco Mundial: “A criação dessas organizações sociais para gerir as unidades públicas de saúde do SUS eram parte de um movimento articulado pelo Banco Mundial que pretendia, através da reforma do Estado, implantar um novo sistema de saúde no Brasil. (…) A criação das OSS, a lei dos planos de saúde, a não orçamentação dos hospitais universitários, deixando-os quase que exclusivamente dependentes dos recursos de prestação de serviços, claramente insuficientes para um hospital de ensino, todas essas ações se articulam dentro dessa proposta de modificação do SUS”. E completa: “O interesse do Banco Mundial em saúde fica claro pelo fato de a saúde se constituir em um importante mercado a ser explorado pelo capital”.

Vinculada ao Ministério da Educação, a Ebserh, do mesmo modo que as demais organizações sociais de saúde, por seu caráter privado não se submete à mesma regulação das empresas públicas, dispensando inclusive o processo de licitação para compra de materiais e serviços, apesar de seus recursos serem provenientes da União e da prestação de serviços. Na prática, isso significa possibilidade de favorecimento de fornecedores, o que pode gerar superfaturamento nas compras de materiais hospitalares. Além disso, por se tratar de uma empresa privada, que visa ao lucro, poderá haver restrição de atendimentos gratuitos e diferenciação entre os pacientes do SUS e dos planos de saúde, com favorecimento dos últimos.

Para os profissionais também há modificações. A contratação de trabalhadores se dá de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), abrindo possibilidade de contratação por favorecimento, de cunho político e campanhista, além da criação de disparidades salariais entre os diferentes profissionais contratados. Outra prática comum nesse tipo de gerência é a terceirização dos profissionais, que gera, como já observamos em outros setores, a precarização das condições de trabalho e a redução dos benefícios trabalhistas.

Para as Universidades, a Ebserh representa a perda da autonomia para gerenciar seus hospitais-escola, além da quebra da tríade ensino-pesquisa-extensão, já que os serviços hospitalares ficarão a cargo de uma empresa externa, que não será obrigada a financiar pesquisas.

A contratação de empresas privadas para gerência de setores e serviços públicos caracteriza nada mais que a privatização desses serviços, tirando do Estado sua responsabilidade constitucional. Retira dos profissionais de saúde vários direitos conquistados, encerrando-se inclusive a abertura de concursos públicos e restringindo os serviços a contratos temporários. Também retira da população sua participação reguladora, instituída pela Constituição Federal e reforçada nas chamadas leis orgânicas da saúde, exercida principalmente através dos Conselhos de Saúde. Em resumo, trata-se de um retrocesso tanto para a saúde, quanto para a educação.

Ludmila Outtes, Recife

Governos gastam bilhões para privatizar a Saúde

 A precariedade da saúde pública no Brasil não é novidade para ninguém. Demora no atendimento, falta de estrutura para os trabalhadores e pacientes, impossibilidade de realizar exames e tratamentos essenciais e muitos outros são os problemas nessa área, principalmente nas cidades mais afastadas das capitais.

O Sistema Único de Saúde, o SUS, após muita luta popular, foi concebido com base nos princípios de universalidade (atendimento para todos), equidade (tratar cada qual conforme sua necessidade) e integralidade (contemplando a saúde preventiva, curativa e coletiva), que são os princípios ideológicos do sistema. Entre os princípios organizacionais temos a participação popular, que é a garantia em lei de que é necessário criar mecanismos de participação na gestão do SUS em todas as esferas: municipal, estadual e federal.

Hoje o SUS está ameaçado por novos e velhos inimigos. Há uma política, que vem sendo implantada nacionalmente, de terceirização do serviço através da contratação de organizações sociais (OSs), o que representa a utilização de recursos públicos sem controle social da população, facilitando desvios de verbas e o não cumprimento dos contratos.

A política neoliberal que vem sendo implementada pelos governos Alckmin/Kassab tem aumentado ano a ano os repasses de verbas para as OSs, porém o atendimento à população tem diminuído. Em 2009, os gastos com as OSs representavam 30% do orçamento destinado à saúde no município de São Paulo, em 2010 subiram para 38% e, no ano passado, chegaram a 49%, o que representa um total de 2,4 bilhões de reais. Por outro lado, o número de leitos nos cinco hospitais municipais geridos por essas organizações foi reduzido.

Hoje existem na cidade 28 contratos com OSs e o Tribunal de Contas do Município (TCM) aponta que a prefeitura possui apenas 3 técnicos para fiscalizar esses contratos. Em auditoria realizada pelo   TCM foram constatadas grandes irregularidades: além de injustificáveis demora na realização de exames, vários foram os casos em que a OS recebeu pelo valor integral do contrato, porém não ofereceu integralmente o serviço contratado.

Segundo Juliana Cardoso, vereadora pelo PT em São Paulo e membro da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, que ingressou com diversas representações perante o TCM e o Ministério Público, para investigar a relação entre Prefeitura e OSs, “essas graves irregularidades mostram que os serviços de saúde terceirizados não funcionam e ainda são lesivos aos cofres públicos”.

As OSs ainda cumprem um papel de enfraquecimento da organização dos trabalhadores. Diminuição dos concursos públicos e diferenças das condições de trabalho entre concursados e terceirizados.

Problema de gestão ou privatização?

É comum os problemas fundamentais ligados à vida do nosso povo serem tratados como questões de ineficiência administrativa, como problemas de gestão. Este pensamento cumpre o papel ideológico de convencer a população de que a sociedade capitalista pode funcionar bem, só dependendo de bons administradores.

Este, inclusive, é um dos argumentos utilizados para justificar a contratação de OSs em lugar de investir na administração pública, identificando que a instituições privadas têm melhores condições de realizar esta administração de forma satisfatória.

Claro que a forma de gerir o Estado impacta na vida da população e ajuda ou dificulta o acesso das pessoas a direitos fundamentais, mas a questão é muito mais profunda que isso.

A política de desmonte da saúde pública no nosso país é estratégica para aumentar os lucros dos empresários do setor de saúde. Desse modo, os maiores beneficiários da política privatista da saúde são os grandes empresários, donos de planos de saúde, que a vendem como mais uma mercadoria e enriquecem ainda mais, além dos corruptos que lucram diretamente com os desvios dos recursos dos cofres públicos destinados à contratação das OSs. É essa a lógica do sistema: o lucro é muito mais importante do que a vida das pessoas.

Por isso, a luta para que todos tenham direito a uma saúde pública, de qualidade e para todos é hoje uma luta tão ou mais importante do que era quando foi criado o SUS.

Redação São Paulo

 

Famílias lutam por Unidade de Saúde em São Bernardo

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Dia 28 de julho, aconteceu o primeiro ato pela construção da Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Esperança, localizada na periferia de São Bernardo do Campos-SP. O ato foi coordenado Movimento Luta dos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e o Reduto Social.

Atualmente a população da Vila Esperança e adjacências é atendida na UBS da Vila São Pedro, que atende mais 48 mil usuários por mês, sendo que a diretriz do Ministério da Saúde estabelece que uma Unidade deveria receber, no máximo, 24 mil usuários, ou seja, ela esta saturada, gerando graves problemas aos moradores. Chega-se a passar dois meses para retornar nas consultas agendadas.

Enquanto em nosso país a população sofre com o descaso da saúde pública, são gastos milhões com as obras da Copa. Este fato mostra que a prioridade do Governo não é a vida dos trabalhadores, mas sim manter o lucro dos milionários que faturam com essas grandes obras, enquanto nosso povo morre nas filas dos hospitais públicos.

Os moradores da região estão se mobilizando para realizar uma grande passeata no dia 11 de agosto em defesa da construção da UBS na Vila Esperança, dando o exemplo que somente com a luta e com a união conseguiremos conquistar uma vida digna a todos.

João Couto e Geovane Santos, São Paulo

Dívida Pública é crime contra o povo

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Já faz parte da rotina da população dos países chamados periféricos o tema das dívidas públicas e do comprometimento de parcelas significativas dos orçamentos estatais para pagamento de juros e de amortizações. ¹

Atualmente a grande mídia se dedica a esconder os reais motivos da grave crise econômica internacional, porém já é impossível esconder que o processo de endividamento das grandes potências econômicas transformou-se em uma bola de neve, impraticável até mesmo para os ditos países de primeiro mundo.

No Brasil, a soma das dívidas interna e externa já chega a R$ 3 trilhões. Diariamente os trabalhadores e trabalhadoras desembolsam cerca de R$ 2 bilhões destinados ao pagamento de juros e amortizações. Fazendo uma análise l dos dados que evidenciam o nível de desigualdade social existente no país, como um déficit habitacional de cerca de 7,2 milhões de unidades, 77 milhões de brasileiros que não têm acesso ao saneamento básico, cerca de 90% dos jovens excluídos da universidade, etc., pode-se chegar a concluir o quanto é criminosa a prática de priorizar o pagamento de juros em detrimento do investimento em infraestrutura e políticas sociais. Ou seja, além de pagar, o povo deixou de receber.

Nos últimos anos os Estados brasileiros, através de seus poderes Executivo e Legislativo, têm feito movimentações no sentido de tentar uma renegociação de suas dívidas com a União, alegando que já há grave comprometimento do poder de investimento em políticas públicas.

É necessário que se faça um retorno às décadas de 1970 e 80, não por coincidência período onde era vigente o regime militar fascista, para que se possa entender melhor a dívida de Estados e municípios. Nesta época a “Grécia” eram os países periféricos, ou seja, a crise econômica batia à porta, os índices de inflação eram exorbitantes e havia alto grau de tomada de empréstimos por parte dos Estados, municípios e União com organismos internacionais, com destinação ainda nebulosa, mas sempre sob o discurso de necessidade de investimentos e de que havia um milagre econômico no Brasil. Há fortes indícios, não só no Brasil, de que os recursos, que acabaram por engrossar o caldo da dívida, foram utilizados para financiar golpes e regimes militares em toda a América Latina.

Bem como ocorre hoje com os países europeus fortemente endividados, foram praticadas medidas de austeridade, ou seja, planos que impuseram medidas de mudanças econômicas foram implementados nos países devedores. No Brasil não foi diferente. Para o Fundo Monetário Internacional, o FMI, e demais credores internacionais e nacionais, era melhor negociar e cobrar diretamente de um devedor do que de vários. Sendo assim, a União assumiu a dívidas dos Estados e passou a ser credora de cada um deles.

Como parte do pagamento e amortização das dívidas dos Estados, várias empresas e bancos estatais foram privatizados. A prática de sanear e privatizar, ou seja, reestruturar e absorver dívidas e privatizar apenas a fatia saudável das empresas, foi prática corrente.  Logo, a população dos Estados pagou pela reestruturação de empresas e bancos e, em seguida, presenciou a venda de tais instituições por valores irrisórios. Ao longo dos anos, a União repassou os valores pagos pelos Estados para o pagamento de sua própria dívida externa, ou seja, há ligação direta entre ambas as dívidas. Este chamado Sistema da Dívida, internacionalmente praticado, compromete a receita dos países, inviabiliza a melhoria das condições de vida da classe trabalhadora e serve apenas para perpetuar esta ciranda financeira.

No ano 2000, aconteceu no Brasil um plebiscito que consultou a população sobre o pagamento da dívida pública. Cerca de 90% dos votantes declarou ser contrário ao pagamento da dívida, o que evidenciou o descontentamento da classe trabalhadora com o fato de ser financiadora direta de bancos e instituições nacionais e internacionais enquanto morre à míngua em filas de postos de saúde e não tem acesso à educação e a salários dignos. Criado pouco depois do plebiscito, o Núcleo de Auditoria Cidadã da Dívida reuniu diversas entidades, organizações de classe e cidadãos com o intuito de questionar o pagamento da dívida, argumentando que o povo paga por uma dívida que não é conhecida, não é clara e é cobrada de maneira ilegal. Assim como foi feito no Equador, o núcleo reivindica que seja feita uma auditoria oficial na dívida pública e que, até lá, o País suspenda os pagamentos.

É necessário que os trabalhadores se organizem para exigir a imediata auditoria da dívida pública e que os Estados e a União suspendam imediatamente o pagamento dos juros. O povo já não suporta mais ser explorado para que sejam garantidos os interesses do grande capital.

Raphaella Mendes, militante do PCR

(Colaboração: Eulália Alvarenga, Coordenadora do Núcleo de Auditoria Cidadã de Minas Gerais)

¹ Processo de extinção de uma dívida mediante pagamentos periódicos, que são realizados em função de um planejamento. Mais informações: www.auditoriacidada.org.br