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quarta-feira, 7 de maio de 2025
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Barulho de Cabral é pra proteger cartel do petróleo

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Governador do Rio defende cartel

A crise econômica mundial vem demonstrando de modo enfático os métodos a cada dia mais avassaladores, e menos dissimulados, de apropriação de riquezas por parte dos mais poderosos, sejam eles pessoas, grupos ou países. E os casos exemplares não estão tão longe quanto imaginamos, nas ‘longínquas’ guerras promovidas pelos EUA no Iraque, Irã e Afeganistão… Estão bem debaixo do nosso nariz

A recente e acalorada discussão sobre a distribuição de royalties no país é um caso notório. Ao olhar mais distraído, pode parecer uma mera discussão burocrática patrocinada pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, e seguida por outros estados, em sua briga pra ver quem fica com a maior parte do quinhão do petróleo. Mas, por trás dessa que tem ares de ser mais uma prosaica querela nacional, estão poderosas aves de rapina atrás de um recurso que se torna a cada dia mais raro mundialmente.

“O barulho do Sergio Cabral era para dificultar a aprovação do contrato de partilha. Como ele já foi votado e aprovado, Cabral agora quer evitar a supressão da emenda entreguista. Assim, o barulho serve de biombo para esconder o segredo mais bem guardado desta República: a emenda que devolve, em petróleo, às empresas, os royalties pagos em dinheiro”. É o que afirma com sua costumeira contundência e sagacidade o presidente da AEPET (Associação de Engenheiros da Petrobrás), Fernando Siqueira.

E não fica por aí: Cabral estaria também interessado em esconder os benefícios da Lei Kandir, uma lei antiqüíssima, mas que atua ainda hoje, e com vigor, em favor do cartel internacional e em detrimento do povo brasileiro, segundo avalia Siqueira.

Leia a seguir entrevista exclusiva.

Correio da Cidadania: Como o senhor tem analisado as polêmicas em torno da distribuição dos royalties do petróleo, opondo estados produtores e não produtores em exaustivas discussões parlamentares?

Fernando Siqueira: A lei 9478/97, elaborada pelo Fernando Henrique era péssima para o país, pois os produtores ficavam com 100% do petróleo produzido e só pagavam, em dinheiro, os royalties além de uma participação especial quando a produção fosse maior do que 94.000 barris por dia, por campo. Como só a Petrobrás tem uma produção maior do que este valor, só ela paga essa participação, mas apenas uma média de 11%. No mundo, os países produtores ficam com mais de 70% do petróleo produzido. Assim, quando o Pré-Sal foi descoberto, o presidente Lula enviou o projeto que muda o contrato de concessão (a propriedade do petróleo é do produtor) para partilha, em que a propriedade volta para a União.

A Petrobrás é a operadora de todos os campos, ou seja, propôs avanços consideráveis em favor da União. O cartel do petróleo não gostou. E foi pra cima dos parlamentares, apresentando 15 emendas. Uma delas colou: é aquela em que o produtor paga o royalty em reais, mas o recebe de volta em petróleo.  Esse cartel tem um time de lobistas, inclusive citados nos telegramas do Wikileaks: O Instituto Brasileiro do Petróleo, a ONIP e a FIESP. Tem ainda o governador Sergio Cabral, seus secretários, o senador Dornelles, a Agência Nacional do Petróleo e Paulo Hartung (ES). Conta ainda com a grande mídia nacional. Cabral e Hartung provocaram a discussão dos royalties para dificultar a mudança, pois Lula não os incluíra na proposta. “Primeiro vamos retomar a propriedade do Petróleo, para depois distribuí-lo”, dizia Lula.

Denunciamos essa emenda/contrabando no Senado e a repercussão negativa foi grande. O relator Romero Jucá retirou-a, mas, sob a pressão do lobby, sub-repticiamente, a colocou de volta em quatro artigos: 2º, 10º, 15º e 29. Onde o Projeto de Lei falava em ressarcimento dos custos de produção (é normal, pois o produtor gasta dólares e recebe esses custos em petróleo), Jucá acrescentou: “e do volume da produção correspondente aos royalties pagos” (safadeza, pois o consórcio não paga nada). Assim, ele dificultou a supressão, pois era preciso um partido para cada artigo a suprimir. A nosso pedido, o senador Pedro Simon apresentou uma emenda (art. 64§ 3º) que impedia essa apropriação constante  dos quatro artigos. Mas como ele também incluiu a distribuição equânime dos royalties, o lobby aproveitou e fez um grande barulho na mídia.

Resultado, Lula, assustado, vetou o antídoto e deixou o veneno. Como era certa a derrubada do veto e a base governista a considerava um desgaste, buscou-se uma saída. Assim, alguns parlamentares elaboraram um Projeto de Lei do Senado com as mesmas premissas de Simon – só que preservando os ganhos dos estados produtores em valor absoluto -, para evitar a derrubada do veto. Mas a grita/biombo continua para esconder o ressarcimento dos royalties.

Correio da Cidadania: O que pensa em particular do ‘barulho’ que faz o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, em tais discussões, inclusive convocando manifestações populares para defender uma renda que pertenceria por direito aos cariocas?

Fernando Siqueira: O barulho do Sergio Cabral, como dito acima, era para dificultar a aprovação do contrato de partilha. Como ele já foi votado e aprovado, Cabral agora quer evitar a supressão da emenda entreguista. Assim, o barulho serve de biombo para esconder o segredo mais bem guardado desta República: a emenda que devolve, em petróleo, os royalties pagos em dinheiro. Se Cabral estivesse interessado em defender o Rio de Janeiro, a atitude tinha que ser de negociação, não de confronto com os estados não produtores. Todos eles querem preservar o Rio. Para ilustrar essas informações, vejamos alguns dados:

I) Na Constituição de 88, o José Serra conseguiu mudar a incidência do ICMS do produtor para o consumidor. O Rio perdeu muito. E, para compensar, ganhou um percentual alto dos royalties. Só que, na época que os royalties começaram a ser cobrados, o montante anual era de R$ 1 bilhão. Hoje são cerca de 10 bilhões. Em 2020 pode ser o triplo. Não dá para o Rio virar um Abu Dhabi e os demais estados continuarem na miséria;

II) O Rio Perde por ano cerca de R$ 7 bilhões com a isenção de ICMS devido à Lei Kandir aplicada no petróleo, incorretamente, pois o bem mais cobiçado do planeta não precisa de incentivo para ser exportado. Em 2020 essa perda subirá para R$ 34 bilhões. É o Brasil subsidiando o cartel, os EUA e os demais países desenvolvidos. Não se tem buscado corrigir essa excrescência;

III) O Rio, hoje, perde cerca de R$ 8 bilhões por ano com a cobrança errada do ICMS. Pode ser um argumento forte para negociação, mas não está sendo usado. Ou seja, o Cabral e sua turma querem é esconder o benefício da devolução de royalties e da Lei Kandir em favor do cartel internacional e em detrimento do povo brasileiro.

Correio da Cidadania: A verdade é que o senhor vem denunciando há tempos estas emendas inseridas no projeto de lei sobre os Royalties elaborado pelo governo Lula, as quais, em um revés para tal projeto original, determinam, como dito, a devolução, em petróleo, dos royalties pagos pelas empresas exploradoras.

Fernando Siqueira: Esse ressarcimento é uma excrescência entreguista. É como se a Ford pagasse o IPI e o recebesse de volta em automóveis. O senador Jucá retirou-a em função da repercussão negativa após nossa denúncia através do senador Simon. Só que, sob pressão do lobby, a colocou de volta nos quatro artigos mencionados, para garantir a apropriação indébita do petróleo correspondente aos royalties pelo Consórcio Produtor, em detrimento do país. Seria um volume maior do que as atuais reservas brasileiras, descobertas pela Petrobrás. No mês de junho deste ano, a revista Época fez uma matéria onde diz que Jucá gastou R$ 15 milhões na sua campanha para a reeleição e declarou só R$ 1,5 milhão. Diz ainda que os US$ 13,5 milhões restantes foram pagos em dólar vivo. Mera coincidência? ”É, pode ser, com todo o respeito”, diria o Ancelmo Gois.

Correio da Cidadania: Estão sendo agora tentados vários arranjos para a distribuição dos royalties, após este revés no projeto original de Lula. Diante das atuais circunstâncias, qual seria o arranjo ideal, a seu ver?

Fernando Siqueira: O arranjo ideal tem que ser o fruto de uma boa negociação. O Rio tem trunfos bons como os citados acima e pode conseguir se sair bem, sem perdas, mas mantendo um ganho coerente. Como a produção de petróleo vai crescer muito e o preço do barril também, não dá para o Rio receber o percentual atual. O ideal é manter o valor absoluto do ganho atual com a devida correção monetária para que o Rio tenha supridos os seus compromissos a serem pagos com a renda dos royalties. O Rio ganha, hoje, cerca de R$ 7 bilhões entre royalties e participação especial, por ano. Pode manter esse ganho com juros e correção monetária.

Lembremos que o petróleo do Pré-Sal está a cerca de 300 km da costa. Pelo artigo 20 da Constituição ele é da União. Mas os estados, DF e municípios têm direito a participar dos royalties “de acordo com a Lei”, que pode ser negociada. Quem provê as facilidades de produção são as empresas produtoras e, se houver acidente, elas se encarregam de eliminar os seus efeitos. Há benefícios para os estados confrontantes como geração de empregos, desenvolvimento tecnológico e a instalação de empresas fornecedoras de bens e de prestadoras de serviços. Assim, os estados confrontantes podem se contentar em manter os ganhos atuais, enquanto os demais saem do zero até chegar a um montante próximo ao desses estados confrontantes, em médio e longo prazos.

Correio da Cidadania: Em entrevista ao Correio, no final de 2009, o senhor ressaltou que continuamos sem garantias de que “empresas asiáticas, européias, norte-americanas e o cartel internacional, por precisarem de petróleo para sobreviver, venham para cá ávidas para produzir o mais rápido possível para resolverem os problemas dos seus países”. Realmente, há um foco demasiado nessas discussões sobre os Royalties no atual momento, ao lado de um quase abandono das discussões essenciais sobre, por exemplo, esta questão dos leilões, tanto os que foram feitos antes do Pré-Sal como os que devem certamente prosseguir pela frente. 

Fernando Siqueira: Como eu disse acima, os royalties são o biombo para esconder a discussão essencial. Quando o Pré-Sal foi descoberto, o presidente Bush reativou a quarta frota naval, argumentando que era para proteger o Atlântico Sul. Ora, no Atlântico Sul, só estão Brasil e Argentina e esta já entregou o seu petróleo para o cartel. Então, a quarta frota é para “proteger” o Pré-Sal. As invasões do Iraque, da Líbia, do Afeganistão e a atual pressão sobre o Irã nos dão uma pista, uma mensagem muito forte de que precisamos nos preparar para defender o Pré-Sal, que é uma reserva equivalente à do Iraque, só que na América Latina. O cartel internacional e os países desenvolvidos precisam de petróleo para sobreviver. Estamos entrando no pico de produção mundial e a oferta vai cair fortemente. Os países desenvolvidos da Europa, da Ásia e os EUA estão numa insegurança energética brutal. Querem petróleo a qualquer custo e o mais rapidamente possível. Como impedir a produção veloz e predatória? Portanto, as premissas que nortearam a sua pergunta continuam válidas.

Correio da Cidadania: Setores progressistas defendem a volta do monopólio estatal do petróleo, no lugar do modelo de exploração em que serão combinados concessão e partilha . Acredita que esta discussão ainda esteja ou possa voltar à pauta da nossa nação? Qual seria a importância da retomada deste debate para o nosso país?

Fernando Siqueira: Esta discussão está mais atual do que nunca. A Petrobrás, durante 40 anos, acreditou e pesquisou o Pré-Sal. Quando a tecnologia permitiu, ela perfurou e achou, correndo todos os riscos. Lembro que durante 13 anos a área do Pré-Sal esteve entregue às empresas estrangeiras detentoras dos contratos de risco. E elas não arriscaram nada. A Petrobrás é a empresa que mais conhece a tecnologia de águas profundas, visto que foi a primeira a acreditar na existência de reservas nessa profundidade. Portanto, fazer leilão não tem qualquer justificativa ou vantagem para o país.

Imaginemos que essa emenda da devolução dos royalties passe.  Pela simulação que fizemos, com o petróleo a US$ 100 por barril e os custos de produção previstos em US$ 45 por barril, teríamos o seguinte absurdo: A União ficaria com 28% do petróleo produzido, a Petrobrás, como operadora, ficaria com 21,6% e o líder do Consórcio Produtor ficaria com 50,4%, sem fazer nada (a Petrobrás é quem opera, produz e corre todos os riscos) e sem correr qualquer risco. Por outro lado, se o royalty previsto de 15% for pago em petróleo, sem essa devolução, o Brasil ficará com 43%, livres, a Petrobras, com 17,1%, e o líder do consórcio, com 39,9%. Sendo que ele despendeu dólares com os custos de produção.

Dá para aceitar, a pior situação? Leilão é sinônimo de desnacionalização do petróleo, inclusive com elevada velocidade de extração, em detrimento dos  interesses nacionais, como está ocorrendo em todos os países que privatizaram suas reservas. E o caso Chevron reforça bem essa tese.

Correio da Cidadania: O que tem ocorrido de relevante no setor, que não costuma ser noticiado na mídia, especialmente no que se refere aos leilões favoráveis às empresas, nacionais ou multinacionais, e lesivos à sociedade? Quem têm sido os maiores beneficiários desse atual estado de coisas?

Fernando Siqueira: Certamente o cartel internacional do Petróleo é sempre o beneficiado. Foi ele que induziu o presidente FHC a fazer a absurda lei 9478/97 que dá 100% do petróleo a quem produz e o direito de pagar somente os royalties e a participação especial, em dinheiro, numa média de 21% no total. No mundo, os países exportadores ficam com uma média superior a 70%, em petróleo, do volume produzido, que é a riqueza real que move as grandes economias e a produção de novas riquezas. O valor pago em dólar é irrelevante para quem imprime dólar sem qualquer lastro.

Vou relatar um episódio recente que ilustra bem a ação dos lobbies, e que só sai no Wikileaks: Uma semana antes de o senador Vital do Rego apresentar o PLS 448 (alternativa à derrubada do veto de Lula), no Senado, eu estava em reunião na AEPET quando recebi uma ligação de um dos parlamentares da comissão que elaborou o projeto. Ele me perguntou a situação dos artigos e como teria que fazer para suprimir esses contrabandos. Quando eu comecei a responder, ele passou o telefone para o assessor legislativo que iria ajudá-los a elaborar o projeto. Ele foi dizendo: “engenheiro, quem pediu essa emenda de devolução dos royalties foi a Petrobrás”. Respondi, irritado: “Isto é conversa dos lobistas do IBP. Eu conversei com os diretores da Petrobrás e eles jamais discutiram esse assunto”. Ele insistiu: “não, foi o representante da empresa aqui em Brasília”. “Outra mentira. O representante em Brasília nunca faria isto sem autorização da Petrobrás. Conheço-o bem”, eu retruquei.  Então ele passou o fone para o deputado, a quem eu adverti sobre a conversa.

Na semana seguinte, preocupado, fui para Brasília. No gabinete do senador Pedro Simon, vimos a leitura da proposta pelo senador Vital do Rego e consegui uma cópia do projeto. Passei a noite lendo o calhamaço do projeto. E descobri duas cascas de banana: o assessor incluíra um artigo que quebrava a espinha dorsal da Lei de partilha. O artigo dizia: “A União poderá fazer ‘joint ventures’ com empresas mediante licitação”. Ora, na nova Lei o ponto alto era a Petrobrás ser a operadora de todos os campos e a nova proposta derrubava isto. Outra safadeza era mudar a configuração do IBGE fazendo com que o Rio deixasse de ser o estado confrontante no Pré-Sal. A maioria desses assessores tem casa no Lago Sul, não por coincidência.

Correio da Cidadania: Como enxerga, finalmente, o último vazamento de petróleo na Bacia de Campos, envolvendo a empresa Chevron, à luz de toda esta discussão?

Fernando Siqueira: Como uma rotina da atuação dessas empresas. Elas produzem devastação no mundo todo. A Shell fez um estrago na Nigéria. A Chevron está num processo no Equador com multa da ordem de US$ 20 bilhões. É comum ocorrerem estas coisas. Agora, em Frade, ocorreu uma série de erros da Chevron.

Primeiro, ela alugou uma plataforma improvisada. Segundo o Wall Street Journal, essa plataforma, obsoleta, funcionava como hotel flutuante no Mar do Norte. Foi adaptada para esse trabalho e cobra uma diária de US$ 315mil, contra cerca de US$ 700 mil das plataformas tecnicamente preparadas para esse trabalho. Segundo, há algum tempo tendo alguns poços produtores, ela tinha condições de conhecer a pressão do reservatório. Mesmo assim seus engenheiros erraram no cálculo da densidade da lama de perfuração, onde uma das suas funções é equilibrar a pressão do reservatório. Com uma lama mais leve, quando atingiram o reservatório, um “Kick” de pressão ameaçou a perda de controle do poço. Afobados, os técnicos injetaram lama mais pesada, mas com uma pressão acima da tolerada pelo reservatório. Assim fraturaram o invólucro selador do reservatório.

Depois foi uma sucessão de desinformações, mentiras, falácias, uma saraivada de inverdades, que a grande mídia brasileira recebeu passivamente, sem questionamentos e verificações. Imagina se uma ocorrência desse tipo fosse com a PETROBRAS! Qual seria o tratamento?

Portanto, essa ocorrência em frade reforça a nossa tese do FIM dos leilões. O país nada ganha com eles.

Fonte: Valéria Nader, economista, editora do Correio da Cidadania; colaborou Gabriel Brito. www.apn.org.br

Professsores e estudantes protestam na Argentina

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Professores e estudantes argentinos saem às ruas em manifestação e são recebidos pela polícia de choque. Dezenas de professores e estudantes ficaram feridos.

Adeus, Sócrates

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“Quanto ao Fidel Castro, símbolo da Revolução Cubana, como Che Guevara, as pessoas estão mal informadas. No nosso país se conhece muito pouco o que acontece fora daqui e mesmo aqui dentro. A estrutura política cubana é extremamente democrática. Eu queria que meu filho nascesse lá, eu queria ser um cubano. Nós estivemos lá agora, nós fomos passear! Peguei minha mulher e fui lá, passear, curtir lampejos de humanidade. Um povo como aquele, numa ilhota, que há mais de 60 anos briga contra um império, só pode ser muito forte, e ditadura alguma faz um povo tão forte. Ditadura não é tempo de serviço, necessariamente é qualidade de serviço. Em Cuba, o povo participa de tudo, em cada quarteirão. E aqui? Pra quem você reclama? Você vota e não tem pra quem reclamar.”

Doutor Sócrates, 57 anos, médico, ex-jogador da seleção brasileira e líder da democracia corintiana na Folha de S. Paulo em 27/08/2011.

Egípcios exigem queda de junta militar

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Passados dez meses desde a revolução que derrubou o ditador Hosni Mubarak do poder, em 25 de janeiro deste ano, a junta militar que assumiu o controle do Egito, composta por generais aliados do antigo regime, instaurou uma ditadura militar e um férreo controle sobre a vida do país, frustrando as expectativas dos trabalhadores e da juventude, que foram afastados e isolados do processo de construção do novo governo.

Em dez meses, os generais submeteram pelo menos 12 mil civis a julgamento em tribunais militares e ordenaram a tortura de milhares de opositores; também implementaram as odiadas leis de emergência impostas por Mubarak, não desativaram a famigerada Agência de Segurança do Estado, responsável por milhares de prisões, torturas e assassinatos cometidos nos 30 anos de ditadura, e permitiram o acesso a cargos públicos de antigos membros do governo, além de não resolverem os graves problemas econômicos e sociais vividos pelo país, como o desemprego, a pobreza e a falta de democracia.

A frustração pelo não cumprimento das reivindicações da revolução de 25 de janeiro levou milhares de pessoas de volta às ruas no último dia 18 de novembro, quando mais uma vez ocuparam a famosa praça Tahrir, no centro da capital Cairo, agora mais conscientes de suas exigências e dispostos a irem até o fim por elas. “O povo quer derrubar o regime!,” gritavam orgulhosos milhares de jovens, mulheres e trabalhadores.

“Não deveríamos ter saído das ruas. Entregamos o poder de bandeja aos militares. Esse foi nosso maior erro”, disse Ahmed Imam, de 33 anos. “Voltamos para casa antes da hora. Pegamos o espólio de guerra e partimos antes de a batalha ter chegado ao fim”, completou.

A nova revolta, ou “segunda revolução”, como está sendo chamada pelos manifestantes, foi motivada pela proposta de Constituição que o vice-premiê, Ali al-Silmi, apresentou no começo do mês que daria ao Exército autoridade exclusiva sobre suas questões internas e seu orçamento, além de negar a supervisão parlamentar sobre as Forças Armadas, que ainda teriam poder de veto sobre a redação da nova carta.

Durante dez dias milhares de egípcios compareceram à praça Tahrir para repudiar a proposta de Constituição e exigir que o marechal Hussein Tantawi e seu conselho de generais renunciem e deem lugar a um governo composto por civis. Ao todo, os confrontos entre a polícia e os manifestantes deixaram 41 mortos e mais de 3.500 feridos, mas conseguiram derrubar o governo de transição nomeado pela junta militar que, entretanto, se mantém no poder.

Apesar disso, e da promessa do governo de antecipar a eleição presidencial para o primeiro semestre de 2012 e realizar um referendo sobre a transferência imediata do poder provisório para os civis, os manifestantes declararam não mais acreditar nas palavras do marechal Tantawi, que foi ministro durante o antigo regime e que agora é comparado ao ex-ditador. “Nós já vimos isso com Mubarak. Foi um discurso terrível e não significa nada. Nós não vamos sair da praça até que a junta militar renuncie”, disse o manifestante Nevine Abu Gheit, 29. “Tantawi é uma cópia de Mubarak. É Mubarak com roupa militar”, completou.

A retomada das grandes manifestações por mudanças democráticas no Egito revela, além da disposição de luta deste povo, uma tomada de consciência por parte da juventude e dos trabalhadores do país, cansados de serem enganados e de verem seus direitos pisados. Iniciaram um processo de construção de uma nova história e, agora, querem chegar até o fim, pois aprenderam que não há no mundo força maior que um povo em luta. Como disse um dos manifestantes, “se conseguimos derrubar Mubarak também faremos isso com o Conselho Supremo das Forças Armadas, que são a mesma coisa. Para fazer com que os militares deixem o poder é preciso estar em Tahrir e não sair”.

Heron Barroso

Países imperialistas impõem novas sanções ao Irã

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O governo dos Estados Unidos impôs novas sanções comerciais ao Irã com o objetivo de impedir que pessoas e empresas estrangeiras negociem com a indústria petroquímica do país ameaçando-as de banimento dos mercados norte-americanos.

De acordo com o governo estadunidense, as medidas anunciadas pretendem enfraquecer o setor nuclear iraniano, fazendo o país retroceder na decisão de possuir o domínio da tecnologia e a consequente soberania nuclear.

Além dos EUA, Reino Unido e Canadá também adotaram medidas punitivas, e a União Europeia anunciou que deve se reunir em meados de dezembro para impor outras punições. De antemão, o Reino Unido rompeu todas as ligações com os bancos iranianos e a França propôs que diversos países congelem os ativos das instituições financeiras do Irã e interrompam a compra de petróleo do país para convencê-lo a desistir de seu programa nuclear militar.

Apesar das inúmeras “provas” apresentadas pelos países e agências imperialistas de que o programa nuclear iraniano tem objetivos militares, não há nenhuma evidência concreta disso. Ao contrário, de acordo com o governo do Irã o único fim de seu programa nuclear é a produção de energia para o país, o que é perfeitamente legítimo.

O anúncio das sanções aconteceu alguns dias depois da reunião da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) que adotou uma resolução contra o Irã por suspeitas de estar desenvolvendo armas nucleares. O documento “expressa uma profunda e crescente preocupação no que diz respeito aos temas não resolvidos do programa nuclear iraniano, incluindo aqueles que precisam ser esclarecidos para excluir a existência de uma possível dimensão militar” e pede que o Irã permita que uma equipe da ONU visite as instalações nucleares do país.

Os governos dos Estados Unidos e de outros países imperialistas voltaram a acusar o governo iraniano de tentar enganar o mundo sobre suas intenções e disseram que não poderiam mais ignorar as evidências de que o país desenvolve armamentos nucleares. Omitem, entretanto, que não é o Irã, mas sim os países imperialistas, os detentores dos maiores arsenais nucleares do mundo. De fato, somente os Estados Unidos possuem 5.113 bombas atômicas, e Israel, outro país dono de um amplo conjunto de armas nucleares, há anos se recusa a informar exatamente quantas armas deste tipo possui.

Em tom de ameaça, o presidente Barack Obama afirmou que “disse claramente que os Estados Unidos estavam prontos para iniciar um novo capítulo com a República Islâmica do Irã, oferecendo ao governo iraniano uma oportunidade clara: eles poderiam cumprir com suas obrigações internacionais (…) ou ignorá-las, mas o Irã escolheu o caminho do isolamento internacional”.

     Em resposta, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou que “não retrocederá nem um pingo” em seu programa nuclear e disse serem “absurdas” as acusações contidas no relatório da Agência. “Votam resoluções, impõem sanções, utilizam todas as ferramentas contra nós e querem que negociemos. Sempre dissemos que estamos dispostos a negociar e a cooperar. As negociações valem mais que a confrontação, mas parece que não têm a menor ideia e retornam sempre para a confrontação”, disse Ahmadinejad.

Já para o ministro das Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast, “estas ações seguem no sentido da hostilidade destes países contra nosso povo. São condenáveis e sem efeito. A ação de certos países ocidentais contra nosso povo, em particular as dos Estados Unidos e Reino Unido, não têm efeito. Todos sabem que o nível de nosso comércio com Reino Unido e Estados Unidos está em um nível baixo. Durante os últimos anos, decidimos reduzir nosso comércio com estes dois países e aumentar com os demais”, disse.

Outras sanções também vêm da Assembleia Geral da ONU, que aprovou no dia 21 de novembro uma nova resolução que condena as violações dos direitos humanos no Irã com 86 votos a favor, 32 contra e 59 abstenções, entre elas a do Brasil. A Assembleia Geral também aprovou uma condenação da situação dos direitos humanos na Coreia do Norte e em Mianmar, mas nada disse sobre violações dos direitos humanos praticadas pelas tropas da OTAN na Líbia ou por Israel na Palestina.

Para o embaixador iraniano na ONU, Mohammad Javad Larijani, “o conteúdo dessa resolução é absolutamente infundado e uma fabricação vergonhosa. O documento é um ataque à consciência da comunidade internacional, e um insulto imperdoável à ONU como instituição”. Larijani também atacou o Canadá, os EUA e a Europa por cometerem “graves violações contra direitos humanos”, como “discriminação contra imigrantes, estrangeiros e muçulmanos”.

De fato, é no mínimo estranho a ONU calar sobre violações dos direitos humanos e crimes cometidos impunemente pelos países imperialistas. O tratamento dados a tais casos é completamente distinto.

Exemplo disso aconteceu no final de novembro. Depois de a Unesco aceitar a Palestina como membro no mês passado, Israel reteve os pagamentos do Imposto sobre Valor Agregado e receitas alfandegárias arrecadadas em nome da Autoridade Palestina estimados em mais de 100 milhões de dólares. Achando pouco, Israel também aprovou a construção de novos assentamentos nos territórios palestinos.

O que fez, então, a ONU? Sanções, punições, expedições militares contra Israel? Nada disso. O máximo feito foi um telefonema do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, pedindo que ele devolvesse ao governo da Palestina o dinheiro referente a pagamentos de impostos retidos por Israel e que interrompesse os assentamentos israelenses nos territórios palestinos ocupados. Ou seja, Israel se apropria indebitamente de dinheiro palestino e ocupa territórios que não são seus e nenhuma sanção ou medida punitiva é adotada pela ONU, apenas um simples telefonema é feito sem maiores consequências.

O fato é que a crise econômica mundial impõe aos países imperialistas uma nova corrida pela repartição das esferas de influência e zonas de controle econômico. Tudo fazem para que uma nova correlação de forças se estabeleça, contando com o silêncio criminoso da chamada “comunidade internacional”. Logo, as ameaças contra o Irã nada têm a ver com os “receios de ataques nucleares” ou com “a preocupação com a paz mundial”, mas objetivam garantir o monopólio nuclear para os países imperialistas e, desta maneira, seu controle sobre os povos e nações oprimidas do mundo.

Heron Baroso, militante do PCR

Servidores do Judiciário Gaúcho continuam greve

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No  dia 24 de novembro, reunidos em assembléia-geral, mais de 300 servidores do Poder Judiciário Federal/RS, englobando a Justiça do Trabalho, Eleitoral, Federal e Militar, decidiram, por unanimidade continuar a greve até a conquista do Plano de Cargos e Salários – PCS, que encontra-se atualmente no Congresso Nacional, na Comissão de Finanças, aguardando votação.

Os servidores decidiram que irão permanecer em GREVE até a concretização, isso é, a votação e a respectiva aprovação do PCS, objetivo de uma luta que está sendo realizada há vários anos.

Redação RS

Professores do RS em greve contra o ensino politécnico e pelo piso salarial

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O governo do Rio Grande do Sul apresentou por decreto uma proposta pedagógica de reestruturação do ensino médio nas escolas públicas que visa implantar o ensino politécnico. Esse ato foi o estopim que fez com que a categoria dos professores do estado decretasse greve geral por tempo indeterminado em assembleia geral no dia 18 de novembro no ginásio Gigantinho em Porto Alegre.

Segundo Luís Veronezi, representante da Direção Central do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul (CPERS), em entrevista ao jornal A Verdade declarou que  “Tudo está sendo feito por decreto e sem discussão com a comunidade escolar, isso impossibilita um processo democrático de construção e alteração da proposta do governo. O termo politécnico, por exemplo, é um termo marxista, mas o projeto do governo de marxista não tem nada, apenas visa formar mão de obra barata para as empresas da região, além de dificultar o acesso dos estudantes da escola pública à universidade, visto que diminuirá a carga horária de disciplinas como matemática, português, geografia, história e outras para garantir disciplinas de orientação tecnicista”.

A greve dos professores foi aprovada colocando três bandeiras: contra a reestruturação apresentada pelo governo do ensino médio; contra a avaliação dos professores, também apresentada pelo governo e pelo pagamento do Piso Salarial Nacional. Para o CPERS “A questão do piso não é só salarial, mas representa uma valorização dos professores. Perdemos muitos professores todos os anos cooptados pelas empresas, para trabalhar em qualquer outra coisa, porque não dá pra viver com o baixo salário de professor.”

Por outro lado, o governo do estado tenta minar a greve com acusações de “greve de final de ano”, colocando que os alunos estariam sendo prejudicados e fazendo entrevista com pais que são contra a greve. Essa campanha já recebeu apoio inclusive de entidades que há muito não representam mais o movimento estudantil real e que estão de braços dados com o governo. É o caso da UGES (União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas), que em congresso aprovou posição contra a greve. Mesmo assim centenas de estudantes têm saído às ruas juntamente com os professores em apoio à greve e contra o Ensino Politécnico.

Quando questionado sobre a “greve de final de ano”, Veronezi explicou que “a culpa é do governo Tarso Genro, pois apresentou no final de ano essa proposta de reestruturação que na verdade desmonta a educação pública e que faz parte de um plano neoliberal para a educação pública brasileira. Nós, professores, não temos como começar 2012 sendo polivalentes e ensinando todas as matérias como quer o governador em seu projeto. A interdisciplinaridade leva tempo, não é assim da noite para o dia. Além do que a greve é um instrumento de pressão mesmo, sabemos que têm greve no restante que dura há mais de 90 dias, e se o governo está pressionado porque está no final do ano, esse é o melhor momento para a greve, não podíamos deixar para o ano que vem com o decreto já implantado.”

Redação RS

Marcha pelo fim da Violência Contra as Mulheres

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A 25 de Novembro, no Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, várias organizações promoveram uma marcha nas ruas de Lisboa para reclamar o fim da impunidade dos agressores.

Egito: sete mortos nos confrontos do fim-de-semana

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Depois de derrubarem o regime do ditador Hosni Mubarak, o povo egípcio se revolta, desta vez, contra as forças militares que governam o país desde então. Enganados por promessas que não foram cumpridas, levantam-se mais uma vez e, se antes tinham a passividade das forças militares, hoje recebem repressão, balas e tortura por parte do exército.

Novo livro sobre as FARC-EP desfaz mitos sobre a guerrilha

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O livro Revolutionary social change in Colombia – The origin and direction of the FARC-EP (Pluto Press, EUA, 2010), do sociólogo canadense James J. Brittain, foi considerado pelo também sociólogo James Petras como o “estudo definitivo das FARC-EP, o qual será uma referência básica” pelos próximos anos.

Ainda sem previsão de lançamento para o português, o prefácio da obra, de autoria de James Petras, foi traduzido com exclusividade para o Jornal A Verdade. Além de fornecer uma visão geral da obra, este trecho desfaz alguns mitos sobre as FARC-EP, esclarecendo um pouco de sua história e de sua atual situação.

Prefácio de “Revolutionary social change in Colombia – The origem and direction of the FARC-EP”

James Petras

A prática política da demonização, na qual políticos, jornalistas, autoridades midiáticas e acadêmicos atribuem rótulos depreciativos e comportamentos abomináveis a regimes políticos, líderes e movimentos, baseados em alegações inconsistentes, tem se tornado prática comum. O que é pior, a prática de demonizar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) se espalhou de cima para baixo, da direita para a centro-esquerda, da grande mídia para os sites progressistas.

Em anos recentes, nenhum outro movimento sócio-político de massas na América Latina tem sido mais demonizado que as FARC-EP. Talvez esta seja a recompensa do vício à virtude – pois as FARC-EP, como Brittain documenta largamente em seu livro, é o maior, mais duradouro e mais efetivo movimento de insurgência popular no último quarto de século. Em contraste com as críticas raivosas, altamente caricaturais, pobremente informativas e ideologicamente direcionadas emananando da grande mídia, Brittain apresenta uma detalhada pesquisa histórica baseada em fatos empíricos sobre as origens das FARC-EP, sua trajetória organizacional e politica, assim como um rigoroso relato da matriz socioeconômica da qual ela cresce e prospera. Brittain escreveu o estudo definitivo das FARC, o qual será uma referência básica nos anos que estão por vir.

As acusações mais recorrentes e mais sérias vem de Washington e do atual presidente da Colômbia, que denunciou as FARC-EP como organização “criminal terrorista” e “narcoterrorista”. Washington colocou as FARC-EP em sua lista de “organizações terroristas”, uma política que foi subsequentemente seguida pela União Européia – mas não pela maioria dos governos latino-americanos.

O estudo histórico de Brittain desafia essas afirmações demonstrando que as FARC se originaram no início dos anos 1960 como um movimento camponês de rebelião, que expandiu seu apoio territorial e social pelos 40 anos seguintes – particularmente no interior do país – defendendo os interesses dos camponeses das pilhagens dos esquadrões da morte e da repressão militar financiadas pelos senhores de terras.

A propagação do rótulo de “terrorista” aconteceu depois de 11 de setembro de 2001, como parte da ofensiva global militar-ideológica do presidente Bush, apelidada de “Guerra ao terrorismo”. A base ilusória dessa campanha é evidente no período anterior (1999-2001) quando as FARC-EP foram reconhecidas por todos os grandes países da Europa e da América Latina como uma força beligerante, um interlocutor legítimo nas negociações de paz. Durante este período as FARC-EP foram convidadas à França, Espanha, Escandinávia, Países Baixos, México e vários outros países para discutir o processo de paz. Durante o mesmo período os maiores líderes do governo estadunidense e homens de negócios, junto com dezenas de sindicalistas e políticos engajados no assunto alocaram as FARC-EP em uma zona desmilitarizada na Colômbia, onde as Nações Unidas mediavam negociações de paz entre as FARC e o presidente Pastrana. Enquanto Washington se opunha a todo o processo de paz e o presidente Bill Clinton fazia aprovar um pacote multi-bilionário (Plano Colômbia), os EUA não foram capazes de impedir o processo, ou de imputar o rótulo de narcoterrorista às FARC-EP.

Foi apenas depois que Washington declarou guerra ao Iraque e ao Afeganistão, e a grande mídia dominada pelos EUA lançou uma massiva guerra relâmpago de propaganda rotulando todos os críticos e adversários do militarismo global estadunidense, que o rótulo de “terrorista” foi fixado sobre as FARC-EP. Sob intensa pressão da elite midiática e sob o escrutínio do aparato de segurança dos EUA, muitos intelectuais e escritores outrora progressistas submeteram-se e se juntaram ao coro dos que rotulavam as FARC-EP de “terrorista”. O que é surpreendente nas opiniões precipitadas que caluniam as FARC é a absoluta e total ignorância de qualquer faceta de sua história, prática social, apoio político e seus esforços fracassados de assegurar um estabelecimento político. Entre 1984 e 1988, as FARC concordaram em cessar fogo com o regime de Betancur e muitos de seus militantes optaram pela política eleitoral formando um partido político de massas, a União Patriótica. Antes, durante e depois de obter substanciais vitórias nas eleições locais, estaduais e nacionais, os esquadrões da morte assassinaram três dos candidatos presidenciais da União Patriótica. Mais de 5000 ativistas eleitorais foram mortos. As FARC-EP foram forçadas a retornar à oposição armada por causa do terrorismo de massa patrocinado pelos regimes dos EUA e da Colômbia. Entre 1985 e 2008, dezenas de milhares de líderes camponeses, sindicalistas, ativistas de direitos humanos e líderes comunitários, assim como jornalistas, advogados e congressistas foram mortos, presos ou exilados.

Como Brittain demonstra, a campanha do regime apoiado pelos EUA de terror rural e desapropriação de 3 milhões de camponeses é a principal força responsável pelo crescimento das FARC-EP, e não o “recrutamento forçado” e o “narcotráfico”.

Este livro é baseado em extensas entrevistas de apoiadores das FARC, líderes e camponeses locais cobrindo vários anos, e fornece um relato preciso da relação entre a produção de coca, o comércio de drogas, lavagem de dinheiro, o exército, o sistema político e as FARC. O que suas descobertas revelam é que 95% dos ganhos da cadeia narcótica provem dos partidos políticos, dos oficiais do exército e dos membros do congresso colombiano, todos esses apoiados pelos EUA, além dos bancos estadunidenses e europeus. As FARC cobram uma taxa de tranporte e de carregamento dos compradores da folha de coca em troca de passagem segura pelos territórios controlados por ela.

O livro de Brittain coloca uma questão fundamental para todos os escritores e praticantes da democracia: como alguém pode buscar políticas sociais equitativas e a defesa dos direitos humanos sob um estado terrorista alinhado com esquadrões da morte e financiado e aconselhado por um poder estrangeiro, o qual tem uma política pública de eliminar fisicamente seus adversários? Mesmo atuando como sindicatos legalizados, movimentos camponeses e indígenas e oposição política, eles sofrem altas taxas de atrito; não se passa uma semana sem que sejam relatados assassinatos, desaparecimentos e vôos forçados para o exterior. Corajosos juízes e promotores públicos recebem diariamente ameaças de morte e tem segurança pessoal 24 horas; alguns raramente dormem em suas próprias casas. A política parlamentar, sob ameaças amplamente difundidas, não reforma e nem pode reformar o aparato terrorista, menos ainda fazer justiça aos 4 milhões de camponses deslocados à força de suas comunidades. Sem recurso institucional e enfrentando uma injustiça de longo prazo e em larga escala, a tese de Brittain, de que as FARC-EP representam uma força legítima pela democracia política e pela mudança social é não apenas plausível, mas também altamente convincente.

Tradução de Glauber Ataide para o Jornal A Verdade

Clique aqui e leia a entrevista exclusiva de James J. Brittain ao Jornal A Verdade – “As FARC não serão e não podem ser derrotadas”

 

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