UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 8 de maio de 2025
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Marcha pelo fim da Violência Contra as Mulheres

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A 25 de Novembro, no Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, várias organizações promoveram uma marcha nas ruas de Lisboa para reclamar o fim da impunidade dos agressores.

Egito: sete mortos nos confrontos do fim-de-semana

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Depois de derrubarem o regime do ditador Hosni Mubarak, o povo egípcio se revolta, desta vez, contra as forças militares que governam o país desde então. Enganados por promessas que não foram cumpridas, levantam-se mais uma vez e, se antes tinham a passividade das forças militares, hoje recebem repressão, balas e tortura por parte do exército.

Novo livro sobre as FARC-EP desfaz mitos sobre a guerrilha

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O livro Revolutionary social change in Colombia – The origin and direction of the FARC-EP (Pluto Press, EUA, 2010), do sociólogo canadense James J. Brittain, foi considerado pelo também sociólogo James Petras como o “estudo definitivo das FARC-EP, o qual será uma referência básica” pelos próximos anos.

Ainda sem previsão de lançamento para o português, o prefácio da obra, de autoria de James Petras, foi traduzido com exclusividade para o Jornal A Verdade. Além de fornecer uma visão geral da obra, este trecho desfaz alguns mitos sobre as FARC-EP, esclarecendo um pouco de sua história e de sua atual situação.

Prefácio de “Revolutionary social change in Colombia – The origem and direction of the FARC-EP”

James Petras

A prática política da demonização, na qual políticos, jornalistas, autoridades midiáticas e acadêmicos atribuem rótulos depreciativos e comportamentos abomináveis a regimes políticos, líderes e movimentos, baseados em alegações inconsistentes, tem se tornado prática comum. O que é pior, a prática de demonizar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) se espalhou de cima para baixo, da direita para a centro-esquerda, da grande mídia para os sites progressistas.

Em anos recentes, nenhum outro movimento sócio-político de massas na América Latina tem sido mais demonizado que as FARC-EP. Talvez esta seja a recompensa do vício à virtude – pois as FARC-EP, como Brittain documenta largamente em seu livro, é o maior, mais duradouro e mais efetivo movimento de insurgência popular no último quarto de século. Em contraste com as críticas raivosas, altamente caricaturais, pobremente informativas e ideologicamente direcionadas emananando da grande mídia, Brittain apresenta uma detalhada pesquisa histórica baseada em fatos empíricos sobre as origens das FARC-EP, sua trajetória organizacional e politica, assim como um rigoroso relato da matriz socioeconômica da qual ela cresce e prospera. Brittain escreveu o estudo definitivo das FARC, o qual será uma referência básica nos anos que estão por vir.

As acusações mais recorrentes e mais sérias vem de Washington e do atual presidente da Colômbia, que denunciou as FARC-EP como organização “criminal terrorista” e “narcoterrorista”. Washington colocou as FARC-EP em sua lista de “organizações terroristas”, uma política que foi subsequentemente seguida pela União Européia – mas não pela maioria dos governos latino-americanos.

O estudo histórico de Brittain desafia essas afirmações demonstrando que as FARC se originaram no início dos anos 1960 como um movimento camponês de rebelião, que expandiu seu apoio territorial e social pelos 40 anos seguintes – particularmente no interior do país – defendendo os interesses dos camponeses das pilhagens dos esquadrões da morte e da repressão militar financiadas pelos senhores de terras.

A propagação do rótulo de “terrorista” aconteceu depois de 11 de setembro de 2001, como parte da ofensiva global militar-ideológica do presidente Bush, apelidada de “Guerra ao terrorismo”. A base ilusória dessa campanha é evidente no período anterior (1999-2001) quando as FARC-EP foram reconhecidas por todos os grandes países da Europa e da América Latina como uma força beligerante, um interlocutor legítimo nas negociações de paz. Durante este período as FARC-EP foram convidadas à França, Espanha, Escandinávia, Países Baixos, México e vários outros países para discutir o processo de paz. Durante o mesmo período os maiores líderes do governo estadunidense e homens de negócios, junto com dezenas de sindicalistas e políticos engajados no assunto alocaram as FARC-EP em uma zona desmilitarizada na Colômbia, onde as Nações Unidas mediavam negociações de paz entre as FARC e o presidente Pastrana. Enquanto Washington se opunha a todo o processo de paz e o presidente Bill Clinton fazia aprovar um pacote multi-bilionário (Plano Colômbia), os EUA não foram capazes de impedir o processo, ou de imputar o rótulo de narcoterrorista às FARC-EP.

Foi apenas depois que Washington declarou guerra ao Iraque e ao Afeganistão, e a grande mídia dominada pelos EUA lançou uma massiva guerra relâmpago de propaganda rotulando todos os críticos e adversários do militarismo global estadunidense, que o rótulo de “terrorista” foi fixado sobre as FARC-EP. Sob intensa pressão da elite midiática e sob o escrutínio do aparato de segurança dos EUA, muitos intelectuais e escritores outrora progressistas submeteram-se e se juntaram ao coro dos que rotulavam as FARC-EP de “terrorista”. O que é surpreendente nas opiniões precipitadas que caluniam as FARC é a absoluta e total ignorância de qualquer faceta de sua história, prática social, apoio político e seus esforços fracassados de assegurar um estabelecimento político. Entre 1984 e 1988, as FARC concordaram em cessar fogo com o regime de Betancur e muitos de seus militantes optaram pela política eleitoral formando um partido político de massas, a União Patriótica. Antes, durante e depois de obter substanciais vitórias nas eleições locais, estaduais e nacionais, os esquadrões da morte assassinaram três dos candidatos presidenciais da União Patriótica. Mais de 5000 ativistas eleitorais foram mortos. As FARC-EP foram forçadas a retornar à oposição armada por causa do terrorismo de massa patrocinado pelos regimes dos EUA e da Colômbia. Entre 1985 e 2008, dezenas de milhares de líderes camponeses, sindicalistas, ativistas de direitos humanos e líderes comunitários, assim como jornalistas, advogados e congressistas foram mortos, presos ou exilados.

Como Brittain demonstra, a campanha do regime apoiado pelos EUA de terror rural e desapropriação de 3 milhões de camponeses é a principal força responsável pelo crescimento das FARC-EP, e não o “recrutamento forçado” e o “narcotráfico”.

Este livro é baseado em extensas entrevistas de apoiadores das FARC, líderes e camponeses locais cobrindo vários anos, e fornece um relato preciso da relação entre a produção de coca, o comércio de drogas, lavagem de dinheiro, o exército, o sistema político e as FARC. O que suas descobertas revelam é que 95% dos ganhos da cadeia narcótica provem dos partidos políticos, dos oficiais do exército e dos membros do congresso colombiano, todos esses apoiados pelos EUA, além dos bancos estadunidenses e europeus. As FARC cobram uma taxa de tranporte e de carregamento dos compradores da folha de coca em troca de passagem segura pelos territórios controlados por ela.

O livro de Brittain coloca uma questão fundamental para todos os escritores e praticantes da democracia: como alguém pode buscar políticas sociais equitativas e a defesa dos direitos humanos sob um estado terrorista alinhado com esquadrões da morte e financiado e aconselhado por um poder estrangeiro, o qual tem uma política pública de eliminar fisicamente seus adversários? Mesmo atuando como sindicatos legalizados, movimentos camponeses e indígenas e oposição política, eles sofrem altas taxas de atrito; não se passa uma semana sem que sejam relatados assassinatos, desaparecimentos e vôos forçados para o exterior. Corajosos juízes e promotores públicos recebem diariamente ameaças de morte e tem segurança pessoal 24 horas; alguns raramente dormem em suas próprias casas. A política parlamentar, sob ameaças amplamente difundidas, não reforma e nem pode reformar o aparato terrorista, menos ainda fazer justiça aos 4 milhões de camponses deslocados à força de suas comunidades. Sem recurso institucional e enfrentando uma injustiça de longo prazo e em larga escala, a tese de Brittain, de que as FARC-EP representam uma força legítima pela democracia política e pela mudança social é não apenas plausível, mas também altamente convincente.

Tradução de Glauber Ataide para o Jornal A Verdade

Clique aqui e leia a entrevista exclusiva de James J. Brittain ao Jornal A Verdade – “As FARC não serão e não podem ser derrotadas”

 

Artistas contra a Usina de Belo Monte

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Vários artistas participam de campanha contra a Usina de Belo Monte, que além de custar milhões de reais, não irá corresponder com o esperado de geração de energia e ainda devastará uma imensa área verde nacional.

Comunicado das FARC-EP: A luta continua

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A morte em combate do camarada e comandante Alfonso Cano deixa de luto o conjunto do movimento antiimperialista mundial, todas as vítimas da exploração capitalista, o movimento universal pelo socialismo, cada um dos povos que alçam as bandeiras da soberania, dignidade e da democracia, particularmente na América Latina, no Caribe e na Colômbia.

Também lacera as fibras mais nobres dos seus entes queridos. Para eles, nosso abraço solidário. Compartimos intensamente seu sofrimento, sabemos melhor que ninguém o que significa essa perda. Igual carinho doloroso estendemos às famílias dos demais combatentes que pereceram nos mesmos feitos. Seu sangue e suas vidas nos inspiram desde já a futuras vitórias.

As lágrimas de felicidade do Presidente Santos revelam que por obra sua caiu realmente um grande, um admirável homem, um revolucionário de altura histórica. Um formidável interlocutor daqueles que havia que desconstruir-se antes de qualquer tentativa de aproximação. Como Manuel e Jacobo, Alfonso sempre soube ser um grande professor. E aprendemos com ele.

Suas idéias e sua genial condução são parte do arsenal ideológico, político e militar das FARC – Exército do Povo. Ninguém poderá jamais nos tirar isso. Seu talento e atividade revolucionária cresceram e maduraram junto com nossa história. Nos dias de Marquetália militava já nas filas da juventude comunista. Até sua morte em combate, nada pôde distrai-lo da luta.

Completou cinqüenta anos contínuos de combate contra o regime, escritos por uma capacidade de análise e uma invejável coerência ideológica e política. Nascido em Bogotá, homem simples e de humor fino, dirigente estudantil e comunitário, antropólogo dos tempos duros da Universidade Nacional, audaz militante clandestino, será eterno exemplo do intelectual comprometido até a morte.

Seus inimigos do império e da oligarquia jamais se cansarão de tentar apagar sua obra. Ao lado de seu perfil político, o camarada Alfonso Cano demonstrou possuir uma elevada capacidade militar. Soube conduzir primeiro os comandos conjuntos Central e Ocidental e logo todas as FARC, até o nível que hoje em dia aterroriza o militarismo fascista da Colômbia.

Eles sabem muito bem o que representamos as FARC. A expressão real da organização e a luta indomável contra a globalização capitalista. Somos um povo armado que denuncia e combate o caráter terrorista da democracia de mercado. Milhares e milhares de mulheres e homens que marchamos compactos no caminho da construção de uma nação e um mundo sem opressores.

As reservas petroleiras da Colômbia, ao ritmo que pensam extrai-las, estarão esgotadas por completo nos próximos quatro anos. Pretendem nos enganar com a idéia de que para esse momento se haverá encontrado suficiente petróleo para outros tantos anos. Nosso destino é permitir que o império economize seu próprio petróleo, e pagar com esse dinheiro os créditos para a infra-estrutura funcional a esse roubo. Obviamente os créditos serão dados pelos bancos internacionais. E para consegui-los o país deverá comprometer-se a realizar grandes e crescentes cortes nos direitos sociais dos colombianos. Reformas tributárias, reformas previdenciárias, trabalhistas, na saúde e na educação. Semelhante agressão avança agora à toda força no Congresso da República.

O TLC e a abertura indecente para o investimento estrangeiro ameaçam colocar-se na frente dos mais valiosos patrimônios humanos, ambientais e econômicos do país. Gigantescos projetos auríferos, carboníferos, turísticos, agroindustriais, bioenergéticos e agropecuários, entre outros, além de espoliar nossas riquezas, espremerão impunemente a mão de obra em graus intoleráveis.

Pretendem avançar de forma acelerada na execução de um modelo de desenvolvimento inequitativo e antipatriótico, produto das manipulações forjadas no palácio presidencial e nos distintos ministérios, aprovado pelo poder legislativo e declarado exeqüível pela justiça, que não toma em conta minimamente a opinião do povo colombiano, cujos direitos são afetados.

E esse modelo, que começou a ser construído a décadas atrás com a violenta estratégia paramilitar, se apresenta como a salvação econômica do país, as locomotivas que nos levarão adiante. Nele se fundem o capital transnacional e a corrupta classe dirigente colombiana, que ganha com somas fabulosas em cada acordo e contrato celebrados.

Não existem na Colômbia espaços de discussão que tenham a capacidade de influenciar ou determinar de algum modo as decisões ligadas ao modelo de desenvolvimento. Como ficou demonstrado nas recentes eleições locais, os partidos políticos foram diluídos a mesquinhas lideranças corruptas e carentes de princípios. As forças políticas que podiam discutir o modelo estão minadas.

Somente duas formas de luta se opõem de modo corajoso e pertinaz. A luta de rua nas marchas e protestos, e a luta guerrilheira nas montanhas. As recentes disposições sobre a Segurança Cidadã aproximam a primeira à delinqüência e atribui a ela penas de prisão. Ao mesmo tempo nos exigem a desmobilização sob a ameaça de aniquilação total.

Esse é o marco em que toma corpo o desesperado desejo de fazer render as FARC-EP. Sabemos muito bem quais são os propósitos do presidente Santos, enriquecer ainda mais os mais ricos e levar ainda mais miséria aos mais pobres. Resulta, como conseqüência, de cardial importância construir pontes necessárias para fortalecer, unificar e defender as duas formas de luta vigentes.

Mobilização de massas e luta guerrilheira estão chamadas a convergir em um eixo estratégico, a solução política ao conflito que se realiza na Colômbia. A guerra não é mais que a determinação do império e da oligarquia de fechar todos os caminhos da oposição aos seus planos de despojamento, o martelo com que as classes dominantes esperam esmagar a inconformidade.

A resistência heróica da insurgência colombiana, igual que a voz alta do povo mobilizado em protestos, não pode cessar com um falso chamado à negociação e ao consenso. Qualquer tentativa de desmobilizar a luta popular sem que soluções que erradiquem suas causas estará condenada ao fracasso. Não pode haver paz com repressão e fome.

As FARC-EP rendemos homenagem à memória do nosso Comandante Alfonso Cano. Por nosso povo e por ele, nos comprometemos a persistir na busca da solução política até alcançar uma paz democrática com dignidade e justiça social. A voz dos estudantes, trabalhadores, camponeses, comunidades indígenas e negras, desempregados, aposentados, mulheres e classes médias angustiadas tem que ser escutada e atendida na Colômbia.

Com o camarada Alfonso recordamos aos iludidos:

“Desmobilizar-se é sinônimo de inércia, é entrega covarde, é rendição e traição à causa popular e ao ideário revolucionário que cultivamos e lutamos por transformações sociais, é uma indignidade que leva implícita uma mensagem de desesperança ao povo que confia em nosso compromisso”.

Comandante Alfonso Cano!!!

Morrer pela Pátria é viver para sempre!!!

Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP

Novembro de 2011

A crise na Itália e a reorganização dos trabalhadores

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O governo de Berlusconi faliu. Continuemos unidos na luta contra a ofensiva capitalista para defender nossos interesses políticos e econômicos!

A quebra do governo Berlusconi ocorreu em meio ao tumulto na economia italiana. Ele perdeu a maioria que possuía principalmente por dois fatores:

a) Pelas manobras da oligarquia financeira internacional e do grupo dirigente da Itália, os quais precisavam evitar ser atingidos pela crise da dívida adotando medidas antipopulares mais rápida e profundamente; assim eles tiveram que remover Berlusconi, que agora era considerado não-confiável e muito fraco.

b) A capacidade de resistência da classe trabalhadora e das massas populares, em lutas desenvolvidas nos últimos dois anos, evitaram a consolidação do regime reacionário, rachou o bloco social em volta de Berlusconi e fez com que o consenso da maioria do governo fosse reduzido ao mínimo.

O movimento dos trabalhadores e suas lutas deram uma importante contribuição à queda de Berlusconi, mas que não foram decisivas, confirmando o famoso slogan de Marx: “Ou o proletariado é revolucionário ou não.”

Isso é devido à sua fraqueza e às suas limitações políticas, ideológicas e organizacionais, assim como também à grande responsabilidade dos reformistas que, preocupados com as conseqüências, se utilizaram de todos os meios para impedir o golpe decisivo da classe trabalhadora. O último presente dado a Berlusconi foi ter limpado o caminho para o pacote de medidas econômicas urgentes, outro capítulo do saque dos cofres públicos.

O fim do governo de Berlusconi é um importante passo político, ao qual damos as boas-vindas com satisfação, mas não é o fim do Berlusconismo, isso é, da predominância de políticas neoliberais.

Não devemos ter ilusões, e menos ainda parar as mobilizações, pois o quadro que temos diante de nossos olhos é preocupante.

Primeiro, devemos observar que, enquanto o país está sob o comissariado do EU-ECB-IMF, o governo e o parlamento estão sob comissariados do “Rei George” Napolitano que, se fazendo intérprete da ditadura da oligarquia financeira, impôs o momento e os meios para a solução da crise governamental e da discussão parlamentar para aprovar as medidas econômicas.

Apesar da situação de emergência, ela preanuncia a passagem para uma república presidencial, um sintoma de involução autoritária do sistema burguês.

Com a esperada indicação de Monti, a Itália está se aproximando da formação de um governo de quase todos os partidos burgueses da direita e da “esquerda”, que formarão um único partido do capital quando se fizer necessário salvar a classe dominante do perigo mortal ou defender seus interesses fundamentais.

O governo de “emergência” que está sendo formado sob pressão dos “mercados financeiros” será tão antipopular, senão mais, do que o de Berlusconi. Ele nasce sob o signo da clara hegemonia da burguesia imperialista.

pedigree do neoliberal Monti está claro: por anos ele foi Comissário da ONU (indicado por Berlusconi e D’Alema), Presidente Europeu da Comissão Trilateral, membro do Grupo Bilderberg e consultor do Banco de Investimento Goldman Sachs, centros do poder imperialista.

O novo Senador Vitalício é um representante da oligarquia financeira, responsável pela crise e ao mesmo tempo beneficiário dela. Ao contrário de Berlusconi, ele apóia a estratégia global, abrangente e de longo prazo dos interesses do capital financeiro.

Seu programa é a carta de Trichet e Draghi, o aumento da competitividade a todo custo (isso é, o aumento da exploração dos trabalhadores), o ataque aos direitos e interesses das massas trabalhadoras, o aumento da idade para aposentadoria, cortes às pensões, privatizações e demissões.

A liquidação gradual de liberdades democráticas, assim como a redução da soberania nacional e a colonização econômica continuarão. Tudo isso em nome do “governo de globalização e da crise”, e por trás do discurso da “economia de mercado social”.

Internacionalmente, os executivos em preparação continuarão a aceitar a liderança do imperialismo dos EUA, a gerenciar sua relação com outras potências européias, perpetuando assim o papel da Itália de trampolim e país vassalo para a agressão da zona da crise que vai do norte da África ao Golfo Pérsico e o Afeganistão.

O governo que a burguesia imperialista quer impor terá o apoio dos reformistas, dos partidos centristas ligados ao Vaticano e da maioria dos reacionários do PdL (a queda do seu “cavaleiro” acelera sua discordâncias internas). Mas não terá apoio entre as massas trabalhadoras, e este será seu ponto fraco.

Nesta situação, os líderes reformistas e social-democratas se confirmam em seu papel de adereços do capitalismo, os quais durante a crise estão se movendo cada vez mais para a direita. Eles escondem das massas o caráter de classe do governo chamando-lhe de “governo técnico”. O papel da regulação e do controle das lutas que o PD e os grandes da CGIL desempenharão (eles falam em favor do governo de emergência de Monti) será crucial. Entretanto, isso abrirá as maiores contradições em suas fileiras e também na central sindical (CGIL).

A troca de cavalos não resolverá a crise, a qual é do capitalismo mundial e de toda sua classe dominante. Nenhum dos problemas econômicos, políticos, sociais, ambientais ou culturais que afetam as massas trabalhadoras e a juventude serão resolvidos. Pelo contrário, as condições de vida e de trabalho da maioria da sociedade se tornarão piores.

Por trás do declínio do capitalismo italiano, por trás dos problemas estruturais, que vem de longe e afetam as massas trabalhadoras, há todo o esforço da burguesia para defender seus privilégios e sua ineptidão rumo à sua própria ruína.

Nesta situação reafirmamos a necessidade de uma política de um fronte proletário unido. Precisamos de unidade, mas não unidade com colaboradores e oportunistas. A única política válida para colocar em ordem e preparar a contra-ofensiva é promover a união e reorganização das forças da classe em um único fronte anticapitalista, o qual expresse um programa de defesa dos interesses dos explorados e apóie suas organizações, como os Comitês do Povo e dos Trabalhadores.

Sobre esta base será construída uma ampla frente popular, a fim de unir em torno do proletariado as classes sociais e os estratos oprimidos pela oligarquia financeira.

Precisamos desenvolver e avançar uma política de um fronte unido contra o neoliberalismo e o social-liberalismo, para não termos que pagar pela dívida e pela crise, contra os gastos militares e as políticas de guerra, pela retirada dos EUA e da OTAN.

A construção deste fronte é primariamente um processo de unidade política da classe trabalhadora e das massas populares, forjado na luta contra a política reacionária da burguesia, para colocar a crise de volta sobre as cabeças dos capitalistas, dos ricos, dos parasitas.

A luta por unidade política deve ser conduzida em reuniões, em discussões com diferentes forças da esquerda e do sindicalismo classista, mas especialmente em lutas conjuntas contra qualquer governo burguês, sobre a base das necessidades políticas que compartilhamos.

Isso confirma a necessidade vital de trabalhar por uma política alternativa de ruptura revolucionária com esta política burguesa e o sistema que a produz.

O governo pelo qual precisamos combater é um governo dos trabalhadores e de todas as outras massas trabalhadoras exploradas. Um governo que exproprie os monopólios capitalistas, que tome o dinheiro dos parasitas, socialize os meios de produção e de troca, auxilie o controle e a fiscalização pela classe trabalhadora, que destrua a opressiva máquina burguesa e dê aos trabalhadores os direitos e as liberdades que lhes são devidas. Um governo que sirva à luta do proletariado para destruir a burguesia, para lhe infligir a derrota final.

Os interesses da classe trabalhadora são de uma saída revolucionária da crise. Apenas com o socialismo a Itália renascerá, será um país livre e próspero, respeitado e admirado e dará sua contribuição à reconstrução econômica e social do mundo.

Mas sem o Partido Comunista não se pode transformar os trabalhadores e todos os outros explorados em revolucionários; sem ele não se pode dirigir a luta rumo a uma nova sociedade.

Olhar para o futuro significa, portanto, focar nossa atenção na função do Partido Comunista, ferramenta indispensável para guiar o processo de emancipação e libertação das massas exploradas e oprimidas.

A reconstrução de uma organização política de vanguarda da classe trabalhadora exige um comprometimento ativo e direto hoje de todos os sinceros comunistas e dos melhores elementos do proletariado.

Vamos trabalhar juntos para avançar neste processo, rompendo de uma vez por todas com o oportunismo e nos unindo sobre as bases dos princípios Marxistas-Leninistas e do internacionalismo proletário!

11 de novembro de 2011

Plataforma Comunista, Itália

Democracia made in USA

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A polícia de Nova York agiu com grande violência para retirar os militantes do movimento Occupy Wall Street. A ordem foi dada pelo prefeito de Nova Iorque, Michael Bloomberg. Vários ativistas denunciaram a repressão policial, acusando os agentes de envergarem equipamento antimotim e de bloquearem as ruas adjacentes, impedindo a população de se manifestar.

Trecho perdido da entevista de Stalin a Emil Ludwig

Reproduzimos abaixo um trecho até recentemente perdido de uma famosa estrevista de Stalin. A tradução do russo para o inglês foi feita pelo professor Grover Furr.

Trecho perdido da entevista de Stalin a Emil Ludwig

Em 13 de dezembro de 1931 aconteceu no Kremlin uma conversa de quase duas horas entre J.V.Stalin e o escritor alemão Emil Ludwig, o biógrafo de vários personagens históricos importantes de toda a Europa. Em abril de 1932 a transcrição dessa conversa foi publicada no jornal Bolshevik. Ela foi publicada em 1932 como um panfleto, e em 1951 foi reimpressa no 13º volume das Obras Escolhidas de Stalin. A Entrevista com o escritor alemão Emil Ludwig é um dos textos mais conhecidos de Stalin. Partes dele já se tornaram antológicas.

Uma busca na coleção dos documentos de Stalin no Centro Russo Para a Preservação e Estudo de Documentos de História Recente (RTsKhIDNI) me permitiu verificar que a versão publicada do texto dessa conversa não é a versão completa. Em 8 de fevereiro de 1932 a cópia datilografada deste documento foi distribuída a pedido de Stalin para os membros e candidatos a membro do Politburo do Comitê Central do Partido Comunista de Toda a União (Bolchevique). Este texto foi editado por Stalin, reimpresso com suas correções e então publicado.

O fragmento do texto original dessa conversa, desconhecido até hoje, não foi apenas editado por Stalin, mas também movido de seu lugar original para o final do transcrito, e então apagado da cópia enviada para impressão. Publicamos abaixo exatamente este fragmento. As frases em itálico no início e no final do texto marcam o local original em que estava.

Preparado para publicação por M.A.Leushin

STALIN: Sim, recentemente os alemães mudaram bastante… Mas agora me permita que eu lhe faça uma pergunta indiscreta. Isso é de fato uma pergunta, não uma proposta. Você pode escolher não responder. Mas se você responder na afirmativa, ninguém, sob nenhuma circunstância, jamais poderá saber que eu lhe perguntei isso.

LUDWIG: Estou de acordo.

STALIN: Espere um momento. Você publicará nossa conversa?

LUDWIG: Não como uma entrevista. Mas eu a utilizarei de alguma forma, quando for escrever sobre você.

STALIN: Você receberá algo por isso?

LUDWIG: Sim.

STALIN: Você doaria uma parte pequena do seu honorário para uma fundação que auxilia os filhos de trabalhadores alemães desempregados? Mas, claro, sem mencionar de maneira nenhuma que eu lhe pedi isso.

LUDWIG: Dentro de algumas semanas o Sr. Umanskii receberá de mim um cheque no valor de mil marcos. Farei isso com prazer. Mas você não gostaria de considerar a possibilidade de contar o que você me disse? Aos olhos de milhares de pessoas, daquelas que não lhe consideram ou um Tsar cruel ou um bandido nobre, isso causaria uma impressão muito positiva sobre você.

STALIN: Eu sei que os senhores no campo inimigo podem pensar de mim do jeito que acharem melhor. Eu considero abaixo de mim tentar mudar as mentes desses senhores. Eles pensariam que eu estou buscando popularidade. Não, eu não quero que essa minha proposta seja publicada. *

LUDWIG: Em todo caso eu agradeço sua proposta. Nada semelhante jamais ocorreu com nenhuma figura política entre as dezenas que eu já encontrei. Eu admiro sua proposta não só porque você tem pensado nas crianças alemãs, mas porque você acabou de provar que é um verdadeiro internacionalista.

Sob quais circustâncias a completa unidade da classe trabalhadora sob a liderança de um único partido é possível?…

NOTAS

* Antes da edição feita por Stalin esta passagem tinha a seguinte redação: “Eu sei que eles podem pensar de mim do jeito que quiserem. Eu considero abaixo de mim tentar mudar as mentes daqueles que me consideram ou um “Tsar cruel” ou um “bandido nobre”. Eles pensarão que estou buscando popularidade. Não, eu não quero que nada disso seja impresso.”

REFERÊNCIA

‘I CONSIDER IT BENEATH ME…’A fragment of a note on the conversation between J.V. Stalin and Emil Ludwig in 1931″. Istoricheskii Arkhiv 3 (1998), 216-218.

Tradução de Glauber Ataide para o Jornal A Verdade


Analfabetismo funcional atinge 14% da população alemã

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Com o objetivo de ludibriar os trabalhadores de todo o mundo quanto às possibilidades de uma sociedade mais justa dentro dos marcos do capitalismo, o grande aparato mafioso midiático global, sob o domínio da burguesia, apresenta os países capitalistas mais desenvolvidos como modelo de uma aplicação ideal do reino da mercadoria, seja em seus aspectos econômicos, políticos, sociais ou culturais.

Não obstante toda sua virtuosidade e excelência nas artes da falsificação e da omissão, as máscaras foram ao chão mais uma vez.

Pesquisa realizada pela Universidade de Hamburgo identificou que há 7,5 milhões de analfabetos funcionais na Alemanha, entre os quais 4,3 milhões com o alemão como língua materna. Isso significa que mais de 14% das pessoas em idade ativa no país são consideradas analfabetas.

Segundo o insuspeito site do DW (Deutsche Welle), “pensar que há analfabetos apenas em países em desenvolvimento é mero clichê. Em nações industrializadas, como a Alemanha, o problema atinge, há muito, um número considerável de pessoas.”

Os analfabetos, para dar conta das atividades cotidianas, desenvolvem inúmeros truques e desculpas para não ter que ler ou escrever. Quando precisam preencher um formulário, por exemplo, dizem que esqueceram os óculos ou que machucaram a mão. Para não serem obrigados a ler, decoram textos relevantes para sua profissão. Dessa forma, com medo da exclusão social, passam anos a fio sem contar o problema a ninguém.

Tim-Thilo Fellmer, um analfabeto funcional ouvido pelo DW, acredita que o problema não está nas pessoas, mas sim no sistema de ensino. Uma feliz observação, considerando que para o individualismo burguês, que bombardeia a consciência das pessoas a todo momento, por todos os meios e de todas as formas, a responsabilidade por todos os problemas – sejam de que tipo forem – deve ser jogada nas costas do indivíduo, o que leva a maioria das pessoas a culpar a si próprias por problemas que na verdade são sociais, como o analfabetismo e o desemprego.

A efeito de comparação, nunca é demais lembrar que Cuba praticamente erradicou o analfabetismo do país com apenas dois anos de revolução: em 1961 praticamente já não havia analfabetos no país. O índice de alunos que concluem o primeiro grau na ilha é de 99,6%, e a retenção em sala de aula é de 99,9%. Além disso, Cuba possui uma pessoa com mestrado para cada 42 habitantes e para cada 13,6 alunos. Essas médias, no mundo inteiro, segundo a Unesco, são de 79 e 40, respectivamente.

A Alemanha reconhece seu problema com o analfabetismo desde o final da década de 1970, quando então estabeleceu cursos de alfabetização que, no entanto, foram cortados devido à crise no início dos anos 1990, e retomados só muitos anos depois.

Mas uma outra consequência do medo da exclusão social é afastar dessas escolas os adultos, os quais não querem ser identificados como analfabetos. Por isso, as escolas são atualmente frequentadas por um número ínfimo de 20 mil alunos. Uma outra explicação para seu insucesso, segundo Peter Hubertus, membro fundador e diretor da Confederação Nacional de Alfabetização e Formação Básica, é que elas não possuem um método de ensino apropriado às necessidades dos envolvidos.

Glauber Athayde, Belo Horizonte

Clara Zetkin, lutadora pela libertação da mulher trabalhadora

No aniversário dos 75 anos, Clara Zetkin recebeu um presente singular. Uma saudação do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, que se dirigia “à intrépida porta-voz da revolução proletária, à amiga e companheira das massas trabalhadoras da URSS e lutadora pela libertação da mulher trabalhadora”, dizendo: “Companheira de armas de Engels, lutastes incansavelmente contra o oportunismo na Segunda Internacional e com toda a força da vossa grande inteligência e de vossa paixão revolucionária vós vos erguestes contra as opiniões de Bernstein, contra o revisionismo. Nos dias em que deflagrou a guerra mundial, quando os chefes da Segunda Internacional se deixaram vergonhosamente atrelar ao carro do imperialismo, vós, na companhia de Lênin, na companhia de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, levantastes bem alto a bandeira do internacionalismo proletário. Estivestes conosco também nos dias de Outubro e nos dias da guerra civil quando a contrarrevolução mundial tentava sufocar o primeiro Estado Proletário do Mundo. Abnegada amiga da URSS, encontrai-vos sempre no posto de combate quando o inimigo ameaça o país dos Sovietes. O Comitê Central do Partido Comunista (b) da URSS manifesta os seus votos de felicidade e a firme certeza de que lutareis ainda por muitos anos, nas primeiras fileiras da Internacional Comunista”.

Mestra da Revolução Proletária

A grande revolucionaria se emociona ao receber tamanha homenagem. Sua vida se desenrola como um filme na tela das lembranças. Ela nascera Clara Eissner no dia 5 de julho de 1857, num período de efervescência, na Alemanha. Apenas nove anos haviam se passado das jornadas de 1848.

Aderiu ao marxismo ao terminar o Magistério, quando se integrou a um círculo de estudos organizado por revolucionários russos. Ela se casou com um dos membros desse grupo, Ossip Zetkin, de quem herdou o sobrenome.

Priorizou, no movimento socialista, a organização do Movimento Feminino Internacional. Defendia a igualdade de direitos, mas se diferenciava do feminismo burguês, pois ligava a luta das mulheres com o combate do proletariado ao sistema capitalista.

Na década de 80, para escapar à repressão contra os socialistas, viveu 10 anos no exílio, sendo acolhida na Suiça e na França. Participou ativamente do Congresso da Segunda Internacional, em Paris, no ano de 1889, ocasião em que conheceu Engels (Leia A Verdade, nº). Voltando para a Alemanha após o Congresso, encontra o Partido Socialdemocrata (SPD) em crise, com a formação de três tendências: uma à direita, liderada por dirigentes como Eduardo Bernstein, George Vollmar e Eduardo Davi; uma, ao centro, com August Bebel e Karl Kaustki e a terceira, à esquerda, que tinha à frente Rosa Luxemburgo, Karl Liebchnet e Franz Mehring, aos quais se junta Clara.

Inspiradora do Dia Internacional da Mulher 

Foi Clara Zetkin que propôs a celebração do Dia Internacional da Mulher, no 8 de março, aprovada no II Congresso das Mulheres Socialistas em 1910. No ano seguinte, um milhão de mulheres foram às ruas no seu Dia, na Europa e nos Estados Unidos.

Em 1915, já deflagrada a Primeira Guerra Mundial, organizou em Berna (Suíça), um congresso internacional de mulheres contra a guerra, contrariando o seu próprio partido, que traíra o Movimento Proletário Internacional, aprovando os créditos de guerra no Parlamento. No Congresso, Clara proclamou que “Não se concebe um Movimento de Massas pela Paz sem a participação das mulheres proletárias; a paz só estará assegurada quando uma esmagadora maioria das mulheres trabalhadoras de todo o mundo aderirem à luta pela causa da paz, pela causa da liberdade e da felicidade da Humanidade, sob a palavra de ordem de “Guerra à Guerra”.

Por sua combatividade em favor da paz, Clara foi presa até o término da guerra. Junto com Rosa Luxemburgo, Karl Liebchnet, Franz Mehring e demais companheiros da Esquerda, rompeu com o SPD e fundou a Liga Espartaquista, que depois se tornaria o Partido Comunista Alemão.

Foi eleita para o Parlamento Alemão (Reichstag), pelo PCA, e sua atuação parlamentar foi sempre vibrante, de denúncias da opressão, de apoio ao movimento comunista internacional. Em 1932, fez o discurso de abertura da sessão parlamentar e um veemente pronunciamento contra o nazismo em ascensão. Com a vitória de Hitler, em 1933, mudou-se para a Rússia, onde morreu pouco tempo depois.

Construindo e disseminando o Socialismo

Apoiava incondicionalmente a Revolução Bolchevique de 1917, destacando que “O exemplo da Grande Revolução Socialista de Outubro, a vitória sobre a intervenção estrangeira nos anos da guerra civil e a construção socialista que se desenvolve vitoriosamente, testemunham o fato de que o proletariado já se acha maduro para construir uma sociedade nova, socialista, livre da exploração do homem pelo homem”.

Clara esteve várias vezes e por longos períodos na União Soviética, onde participava de inúmeras atividades, colaborando com a construção do Estado Soviético, e pesquisava as mudanças no comportamento das mulheres após a Revolução, especialmente no interior, nas áreas de influência muçulmana, festejando a retirada dos véus, testemunhando a alegria das mulheres ao praticarem este ato simbólico de sua libertação.

Amiga de Lênin, tinha com ele longas e frutíferas conversas, que registrou na obra Recordações de Lênin.Nadjeda Krupskaia, militante bolchevique e esposa do líder maior do povo soviético, assim se referiu a Clara: “Uma revolucionária marxista convicta, ativa e inflamada que dedicou toda a sua vida à luta pela causa da classe operária, à luta pela vitória do socialismo em todo o mundo”.

Clara Zetkin faleceu em Moscou, no dia 20 de junho de 1933, perto de completar 76 anos de idade. Foi levada para o túmulo pelos dirigentes soviéticos Stalin, Molotov, Voroshilov e Ordjonikdzik, o que demonstra a importância do seu apoio à consolidação do socialismo na URSS e à sua disseminação por todo o planeta.

A urna com as cinzas desse exemplo de mulher e revolucionária foi colocada no mausoléu de Lênin, no Kremlin, honraria merecida e feita somente a dois estrangeiros: Clara Zetkin e John Reed, o jornalista estadunidense comunista, que fez a cobertura da Revolução Bolchevique para a imprensa ocidental e escreveu a famosa obra “Dez Dias que Abalaram o Mundo”.

José Levino é historiador

“A arte não é neutra, nem apartidária”

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A Companhia do Latão é um grupo de teatro que baseia seu trabalho na reflexão crítica da sociedade. Fundado em 1996, a partir da produção do espetáculo Ensaio para Danton, uma livre adaptação do texto A morte de Danton, de Georg Büchner, durante esses 15 anos o grupo tem realizado uma reflexão sobre as formas ideológicas presentes no sistema capitalista. O trabalho atual a Ópera dos Vivos percorre o imaginário político e cultural brasileiro e traz uma reflexão sobre a questão da mercantilização do trabalho artístico nos dias atuais e sua relação com as ideologias.

Todas as peças do Latão são textos autorais fruto de trabalho coletivo de todos seus integrantes. O grupo utiliza o teatro épico e o teatro desenvolvido por Bertolt Brecht. Além das experiências cênicas, desenvolve produções audiovisuais, publicações e produz e estimula a elaboração teórica do mundo das artes.

Sérgio de Carvalho, diretor da Companhia do Latão e professor do curso de Artes Cênicas da ECA-USP, conversou com A Verdade e falou da relação entre arte e política e de como o teatro pode ser um elemento crítico das atuais estruturas do capitalismo.

A Verdade – Para a Companhia do Latão, qual a função social da arte?

Sérgio de Carvalho São muitas as funções sociais da arte. A primeira é assumir que a arte tem função, que ela não é neutra, apartidária. Ela é uma construção social, coletiva, especialmente o teatro, e, portanto, política, porque envolve tomada de posição de um grupo de pessoas que está trabalhando. Ao mesmo tempo, essa necessidade de reflexão sobre a própria função te obriga a criticar a própria estrutura da arte, ter que pensar o que a arte contém de ideologia. A ideia de arte não é ingênua, ela é socialmente construída. Faz parte da função da arte, também, criticar o próprio teatro, o aparelho teatral – principalmente no capitalismo, em que ele está extremamente mercantilizado. Uma outra função possível é tentar mostrar a possibilidade da ação coletiva. Isso o teatro tem como  característica da sua estrutura. Ninguém faz teatro sozinho. Precisa-se de um público, de um outro ator; precisa-se de uma equipe de trabalho… O teatro ativa o sentido de uma ação coletiva, potencialmente diferente dos padrões dominantes da cultura que está aí.

Você considera Brecht atual, como autor e teatrólogo?

Totalmente. Ele é tão atual quanto se faz necessário atualizá-lo. Brecht não inventou nada, trabalhou o marxismo dentro do campo da estética e descobriu coisas novas. Ele é radicalmente marxista, na medida em que implementa o marxismo dentro do campo dele, o que até então não tinha sido formulado. Ninguém pensou para a dramaturgia uma perspectiva materialista tão radical quanto Brecht; uma aplicação da dialética tão radical quanto ele fez. Nisso, ele é notável. E, como dialético que é, exige que você repense o trabalho dele, à luz da atualidade. Essa é a exigência da obra brechtiana: não atualizá-la, mudando o conteúdo para os dias de hoje, mas  pensar operações dialéticas dentro da situação do capital e da ideologia agora, dentro dos estragos atuais e da situação política atual também.

E a teoria marxista? Como o Latão se relaciona com ela?

O Latão é o grupo mais radicalmente marxista que há no teatro brasileiro, na medida em que este marxismo está aplicado na construção da dialética, na radicalidade dialética como método. Pode haver alguém, tanto quanto nós, interessado no marxismo, mas eu acho que a experiência de 15 anos do Latão foi de radicalização do uso da dialética o tempo todo, da dialética marxista, porque me parece a ferramenta crítica mais poderosa, viva e capaz de fazer com que você perceba os movimentos históricos da atualidade. Marx teorizou sobre movimentos muito amplos do trabalho, do capital, da luta de classes, do mundo da mercadoria, e no teatro você não lida só com movimentos de massa e de classe, você lida também com indivíduos, com subjetividade dentro do capitalismo, com situações humanas íntimas também. Isso exige outras ferramentas. Foi isso que Brecht procurou trabalhar nas obras dele. Ele estava interessado em descobrir em que medida certas ações individuais têm a ver com situações de classe ou estão em contradição com situações de classe. No trabalho do Latão, a subjetividade aparece pensada em contradição com a perspectiva de classe, o que é uma exigência do marxismo.

A Companhia lançou um manifesto pelo teatro materialista que diz que um dos interesses artísticos do Latão é a reativação da luta de classes. Comente.

Falar isso para o teatro tem algo de simbólico, não é real. No entanto, contribui politicamente. É uma ação política. Uma ação teatral, mesmo que pequena, pode influenciar outras pessoas que estão interessadas em outras imagens do mundo e que podem atuar em escala de massa também. A luta de classes é uma categoria que foi posta fora do debate, uma categoria desprestigiada no senso comum. Ela existe, continua sendo uma realidade, mas as formas dela são de difícil descrição hoje. Qualquer sociólogo tem dificuldade de lidar com o próprio conceito de classe hoje. Então, foi importante para nós, no meio teatral, dizer que se tem que olhar para as classes, que as personagens que estamos colocando no teatro pertencem ao mundo de classes, têm determinações ligadas a trabalho, a dinheiro, à necessidade de vender o próprio corpo no mercado. Teatro que não olha para isso vai ser um teatro idealista. Ele tem que olhar para as relações de trabalho. Não adianta fazer crítica antiburguesa só; tem que fazer crítica anticapitalista, a partir de relações materiais de trabalho, e compreender a dialética disso.

E como é a relação com o mercado?

O Latão trabalha marcando posições do ponto de vista teórico, do ponto de vista estético-político. Não temos ilusões de que parte de sua atuação importante se dá dentro do chamado mercado de arte. A gente tenta atuar também fora do mercado de arte. E uma parte complementa a outra.  Fora do mercado de arte, a gente procura ter vínculos com alguns movimentos sociais, procura ações amadoras ou pedagógicas que não estejam pautadas pela lógica do produto cultural ou por expectativa de troca. O Latão é um grupo em que, por exemplo, numa temporada da Ópera dos vivos, a gente promove um círculo de debates e você tem um grande intelectual ali debatendo a peça com alguém que vem de um bairro de periferia da cidade. Tem oficinas do Latão que são muito diferentes e que não poderiam acontecer numa instituição cultural dessas que estão aí. Uma vez o Latão fez uma oficina em que o pré-requisito para você entrar seria ter lido o Manifesto Comunista. Provavelmente, nenhuma instituição cultural iria aceitar a divulgação de um pré-requisito desses.

Arte a serviço da conscientização e diversão como prazer da compreensão: essas duas ideias fazem parte da relação com o público?

O melhor do trabalho do Latão é a ideia de demolição ideológica; não exatamente desconstruir, mas no sentido de negação, como movimento crítico, e de partilhar ferramentas com os espectadores, para pensar problemas. É um trabalho de estímulo à dialética, no movimento negativo dela, sem nenhum negativismo ou sensação de que o jogo está ganho para o capital; mas tentamos ver, examinar os estragos de uma maneira inteligente, divertida, animada, lúdica, mas uma reflexão sobre estragos. Ao mesmo tempo, fala-se das dificuldades da política, mas pensando estratégias de superação dessas dificuldades. A Comédia do trabalho é uma peça sobre estrago, mas ela fala também de que quando se juntam pessoas em torno de alguma coisa, você consegue um movimento.

Como a mercantilização da arte influencia a consciência política da população?

Influencia totalmente, porque a mercantilização não é um problema moral, é um problema prático. Ninguém cultua mercadoria porque é idiota ou porque tem um senso religioso do capital, cultua porque está obrigado a ser mercadoria. A questão é que esse processo faz abstração da vida pessoal, uma abstração preparada para a troca; você passa a agir com esses padrões ideológicos do mundo da troca mercantil. Eu sinto que a influência cultural do capitalismo é secundária diante da prática concorrencial do trabalho precarizado. Apesar de secundária, ela é muito forte, tem falsos envolvimentos de desejo, vontade, decisão humana. Cria ilusões de livre arbítrio dentro do mundo da mercadoria. Na experiência do Latão, em determinadas situações em que a pessoa tem condições de olhar para aquilo isso pode ser transformador da experiência pessoal dela, ter contato com ações de outro tipo. Aí eu vou de novo com Marx. De fato, a crítica das armas é mais poderosa do que a arma da crítica. No entanto, a crítica pode se converter em ação material em determinado momento. Quando se dá essa passagem para uma práxis material, coletiva, você vê que isso tem conexões com um aprendizado e um olhar diferentes. Ela tem aí uma ferramenta de trabalho importante num mundo em que o capitalismo se culturalizou muito, sintetizou muito, trouxe isso como arremedo de subjetividade. Passa a ser importante uma realização cultural de contramão, de enfrentamento. Por isso, o Latão sempre procura marcar posições, enfrentar.

Vocês estão acompanhando atualmente as revoltas populares em vários países do mundo contra o capitalismo. Como observam isso?

Um professor amigo meu disse que a crise vai trazer o marxismo para a pauta dos debates europeus, e precisamos ver como esse movimento rebate aqui, no meio cultural. Está um tempo interessante, de aguçamento de percepção histórica. Talvez estimule as pessoas a pensarem sobre o campo onde o estrago acontece, que é nas relações de trabalho. Já está havendo um retorno de reflexão política que andou neutralizada, no campo artístico, porque houve uma espécie de acordo com o estado de bem-estar social projetado na era Lula, em que parte do movimento teatral freou o seu impulso crítico, porque passou a orientar a vontade política ou a vontade de reflexão para pegar verba pública. A partir da ocupação da Funarte, parece que vai mudar esse quadro, porque a partir dessa ocupação houve uma ação de alguns grupos de periferia que têm mais lucidez sobre isso que estava em curso há cinco ou dez anos atrás. Foi o mais parecido com o início do Arte contra a barbárie, que já tem quase 15 anos, o que está acontecendo com esses grupos que estão atuando na periferia de São Paulo. Então, dali, talvez saia alguma coisa. As pessoas têm que voltar a ter um horizonte mais radical. Aí, a palavra revolução volta à tona como referência para isso, um horizonte menos reformista.

Para o Latão, a revolução é uma palavra viva…

Sim, porque é uma palavra que traz a ideia, traz a necessidade de projetar algo além desse horizonte que temos, que é o horizonte do mundo do capital. Isso não é vida. Não é uma ideia só, é uma noção que envolve movimento. Não é um estado idealizado, mas um horizonte que você tem que ter de um outro lugar, e um outro lugar que não está pronto, que vai ser sempre construído. Marx tem uma frase que eu gosto e que diz: “Comunismo não é um estado, é um movimento”.

Ana Rosa Carrara, São Paulo