UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 8 de maio de 2025
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“A arte não é neutra, nem apartidária”

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A Companhia do Latão é um grupo de teatro que baseia seu trabalho na reflexão crítica da sociedade. Fundado em 1996, a partir da produção do espetáculo Ensaio para Danton, uma livre adaptação do texto A morte de Danton, de Georg Büchner, durante esses 15 anos o grupo tem realizado uma reflexão sobre as formas ideológicas presentes no sistema capitalista. O trabalho atual a Ópera dos Vivos percorre o imaginário político e cultural brasileiro e traz uma reflexão sobre a questão da mercantilização do trabalho artístico nos dias atuais e sua relação com as ideologias.

Todas as peças do Latão são textos autorais fruto de trabalho coletivo de todos seus integrantes. O grupo utiliza o teatro épico e o teatro desenvolvido por Bertolt Brecht. Além das experiências cênicas, desenvolve produções audiovisuais, publicações e produz e estimula a elaboração teórica do mundo das artes.

Sérgio de Carvalho, diretor da Companhia do Latão e professor do curso de Artes Cênicas da ECA-USP, conversou com A Verdade e falou da relação entre arte e política e de como o teatro pode ser um elemento crítico das atuais estruturas do capitalismo.

A Verdade – Para a Companhia do Latão, qual a função social da arte?

Sérgio de Carvalho São muitas as funções sociais da arte. A primeira é assumir que a arte tem função, que ela não é neutra, apartidária. Ela é uma construção social, coletiva, especialmente o teatro, e, portanto, política, porque envolve tomada de posição de um grupo de pessoas que está trabalhando. Ao mesmo tempo, essa necessidade de reflexão sobre a própria função te obriga a criticar a própria estrutura da arte, ter que pensar o que a arte contém de ideologia. A ideia de arte não é ingênua, ela é socialmente construída. Faz parte da função da arte, também, criticar o próprio teatro, o aparelho teatral – principalmente no capitalismo, em que ele está extremamente mercantilizado. Uma outra função possível é tentar mostrar a possibilidade da ação coletiva. Isso o teatro tem como  característica da sua estrutura. Ninguém faz teatro sozinho. Precisa-se de um público, de um outro ator; precisa-se de uma equipe de trabalho… O teatro ativa o sentido de uma ação coletiva, potencialmente diferente dos padrões dominantes da cultura que está aí.

Você considera Brecht atual, como autor e teatrólogo?

Totalmente. Ele é tão atual quanto se faz necessário atualizá-lo. Brecht não inventou nada, trabalhou o marxismo dentro do campo da estética e descobriu coisas novas. Ele é radicalmente marxista, na medida em que implementa o marxismo dentro do campo dele, o que até então não tinha sido formulado. Ninguém pensou para a dramaturgia uma perspectiva materialista tão radical quanto Brecht; uma aplicação da dialética tão radical quanto ele fez. Nisso, ele é notável. E, como dialético que é, exige que você repense o trabalho dele, à luz da atualidade. Essa é a exigência da obra brechtiana: não atualizá-la, mudando o conteúdo para os dias de hoje, mas  pensar operações dialéticas dentro da situação do capital e da ideologia agora, dentro dos estragos atuais e da situação política atual também.

E a teoria marxista? Como o Latão se relaciona com ela?

O Latão é o grupo mais radicalmente marxista que há no teatro brasileiro, na medida em que este marxismo está aplicado na construção da dialética, na radicalidade dialética como método. Pode haver alguém, tanto quanto nós, interessado no marxismo, mas eu acho que a experiência de 15 anos do Latão foi de radicalização do uso da dialética o tempo todo, da dialética marxista, porque me parece a ferramenta crítica mais poderosa, viva e capaz de fazer com que você perceba os movimentos históricos da atualidade. Marx teorizou sobre movimentos muito amplos do trabalho, do capital, da luta de classes, do mundo da mercadoria, e no teatro você não lida só com movimentos de massa e de classe, você lida também com indivíduos, com subjetividade dentro do capitalismo, com situações humanas íntimas também. Isso exige outras ferramentas. Foi isso que Brecht procurou trabalhar nas obras dele. Ele estava interessado em descobrir em que medida certas ações individuais têm a ver com situações de classe ou estão em contradição com situações de classe. No trabalho do Latão, a subjetividade aparece pensada em contradição com a perspectiva de classe, o que é uma exigência do marxismo.

A Companhia lançou um manifesto pelo teatro materialista que diz que um dos interesses artísticos do Latão é a reativação da luta de classes. Comente.

Falar isso para o teatro tem algo de simbólico, não é real. No entanto, contribui politicamente. É uma ação política. Uma ação teatral, mesmo que pequena, pode influenciar outras pessoas que estão interessadas em outras imagens do mundo e que podem atuar em escala de massa também. A luta de classes é uma categoria que foi posta fora do debate, uma categoria desprestigiada no senso comum. Ela existe, continua sendo uma realidade, mas as formas dela são de difícil descrição hoje. Qualquer sociólogo tem dificuldade de lidar com o próprio conceito de classe hoje. Então, foi importante para nós, no meio teatral, dizer que se tem que olhar para as classes, que as personagens que estamos colocando no teatro pertencem ao mundo de classes, têm determinações ligadas a trabalho, a dinheiro, à necessidade de vender o próprio corpo no mercado. Teatro que não olha para isso vai ser um teatro idealista. Ele tem que olhar para as relações de trabalho. Não adianta fazer crítica antiburguesa só; tem que fazer crítica anticapitalista, a partir de relações materiais de trabalho, e compreender a dialética disso.

E como é a relação com o mercado?

O Latão trabalha marcando posições do ponto de vista teórico, do ponto de vista estético-político. Não temos ilusões de que parte de sua atuação importante se dá dentro do chamado mercado de arte. A gente tenta atuar também fora do mercado de arte. E uma parte complementa a outra.  Fora do mercado de arte, a gente procura ter vínculos com alguns movimentos sociais, procura ações amadoras ou pedagógicas que não estejam pautadas pela lógica do produto cultural ou por expectativa de troca. O Latão é um grupo em que, por exemplo, numa temporada da Ópera dos vivos, a gente promove um círculo de debates e você tem um grande intelectual ali debatendo a peça com alguém que vem de um bairro de periferia da cidade. Tem oficinas do Latão que são muito diferentes e que não poderiam acontecer numa instituição cultural dessas que estão aí. Uma vez o Latão fez uma oficina em que o pré-requisito para você entrar seria ter lido o Manifesto Comunista. Provavelmente, nenhuma instituição cultural iria aceitar a divulgação de um pré-requisito desses.

Arte a serviço da conscientização e diversão como prazer da compreensão: essas duas ideias fazem parte da relação com o público?

O melhor do trabalho do Latão é a ideia de demolição ideológica; não exatamente desconstruir, mas no sentido de negação, como movimento crítico, e de partilhar ferramentas com os espectadores, para pensar problemas. É um trabalho de estímulo à dialética, no movimento negativo dela, sem nenhum negativismo ou sensação de que o jogo está ganho para o capital; mas tentamos ver, examinar os estragos de uma maneira inteligente, divertida, animada, lúdica, mas uma reflexão sobre estragos. Ao mesmo tempo, fala-se das dificuldades da política, mas pensando estratégias de superação dessas dificuldades. A Comédia do trabalho é uma peça sobre estrago, mas ela fala também de que quando se juntam pessoas em torno de alguma coisa, você consegue um movimento.

Como a mercantilização da arte influencia a consciência política da população?

Influencia totalmente, porque a mercantilização não é um problema moral, é um problema prático. Ninguém cultua mercadoria porque é idiota ou porque tem um senso religioso do capital, cultua porque está obrigado a ser mercadoria. A questão é que esse processo faz abstração da vida pessoal, uma abstração preparada para a troca; você passa a agir com esses padrões ideológicos do mundo da troca mercantil. Eu sinto que a influência cultural do capitalismo é secundária diante da prática concorrencial do trabalho precarizado. Apesar de secundária, ela é muito forte, tem falsos envolvimentos de desejo, vontade, decisão humana. Cria ilusões de livre arbítrio dentro do mundo da mercadoria. Na experiência do Latão, em determinadas situações em que a pessoa tem condições de olhar para aquilo isso pode ser transformador da experiência pessoal dela, ter contato com ações de outro tipo. Aí eu vou de novo com Marx. De fato, a crítica das armas é mais poderosa do que a arma da crítica. No entanto, a crítica pode se converter em ação material em determinado momento. Quando se dá essa passagem para uma práxis material, coletiva, você vê que isso tem conexões com um aprendizado e um olhar diferentes. Ela tem aí uma ferramenta de trabalho importante num mundo em que o capitalismo se culturalizou muito, sintetizou muito, trouxe isso como arremedo de subjetividade. Passa a ser importante uma realização cultural de contramão, de enfrentamento. Por isso, o Latão sempre procura marcar posições, enfrentar.

Vocês estão acompanhando atualmente as revoltas populares em vários países do mundo contra o capitalismo. Como observam isso?

Um professor amigo meu disse que a crise vai trazer o marxismo para a pauta dos debates europeus, e precisamos ver como esse movimento rebate aqui, no meio cultural. Está um tempo interessante, de aguçamento de percepção histórica. Talvez estimule as pessoas a pensarem sobre o campo onde o estrago acontece, que é nas relações de trabalho. Já está havendo um retorno de reflexão política que andou neutralizada, no campo artístico, porque houve uma espécie de acordo com o estado de bem-estar social projetado na era Lula, em que parte do movimento teatral freou o seu impulso crítico, porque passou a orientar a vontade política ou a vontade de reflexão para pegar verba pública. A partir da ocupação da Funarte, parece que vai mudar esse quadro, porque a partir dessa ocupação houve uma ação de alguns grupos de periferia que têm mais lucidez sobre isso que estava em curso há cinco ou dez anos atrás. Foi o mais parecido com o início do Arte contra a barbárie, que já tem quase 15 anos, o que está acontecendo com esses grupos que estão atuando na periferia de São Paulo. Então, dali, talvez saia alguma coisa. As pessoas têm que voltar a ter um horizonte mais radical. Aí, a palavra revolução volta à tona como referência para isso, um horizonte menos reformista.

Para o Latão, a revolução é uma palavra viva…

Sim, porque é uma palavra que traz a ideia, traz a necessidade de projetar algo além desse horizonte que temos, que é o horizonte do mundo do capital. Isso não é vida. Não é uma ideia só, é uma noção que envolve movimento. Não é um estado idealizado, mas um horizonte que você tem que ter de um outro lugar, e um outro lugar que não está pronto, que vai ser sempre construído. Marx tem uma frase que eu gosto e que diz: “Comunismo não é um estado, é um movimento”.

Ana Rosa Carrara, São Paulo

 

No tempo das borboletas

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Baseado no livro escrito em 1994 por Julia Álvarez, o filme No tempo das borboletas retrata o período de ditadura militar (1930-1961) na República Dominicana, onde por 31 anos o povo esteve refém das atrocidades cometidas pelo general Rafael Leónidas Trujillo. Sob seu lema ou estás comigo ou contra mim, e com o beneplácito da Igreja, Trujillo mandava matar todos os que se opunham ao seu regime. Foi responsável direto pelo assassinato de mais de 30 mil pessoas.

O filme conta a saga das irmãs Mirabal, Minerva, Patria, María Teresa e Dede Mirabal, filhas de um pequeno proprietário de terras que vivia na cidade de Ojo de Agua, don Enrique Mirabal, e da dona de casa Mercedes Mirabal, que desafiaram a sangrenta ditadura do general Trujillo.

Desde cedo Minerva quis estudar, pois sonhava em ser  advogada, mesmo sabendo que as  mulheres não podiam frequentar as faculdades de Direito no seu país. Convenceu seus pais a deixar que ela e suas irmãs fossem estudar em Santo Domingo, a capital da República Dominicana.

Ao regressar do colégio de freiras, conhece um membro do Partido Socialista Popular e professor universitário e com ele tem o primeiro contato sobre as lutas que se desenvolviam contra a ditadura.

Em 1949, ela e sua família são convidadas de “El Jefe”, como Trujillo gostava de ser chamado, para um baile. Minerva é assediada pelo ditador e revida com uma tapa na cara; a  partir daí, inicia sua luta contra o ele e, posteriormente, suas irmãs María Teresa e Patria também ingressam na luta.

Por ordem de Trujillo, as irmãs Minerva, Patria e María Tereza Mirabal foram covardemente assassinadas em 25 de novembro de 1960. Em homenagem à luta das irmãs Mirabal, o 1º Encontro de Mulheres da América Latina e Caribe, realizado em 1981, em Bogotá, decidiu criar o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher na data de 25 de novembro de cada ano.

Com direção de Mariano Barroso e as atrizes Salma Hayek, Mía Maestro, Pilar Padilla, Lumi Cavazos e Ana Martín, o filme é uma contundente denúncia da violência do sistema contra a mulher, e sua exibição nas escolas e bairros possibilita um importante debate sobre a luta da mulher por uma nova sociedade e por sua emancipação.

Indira Xavier, Maceió

Neusa Alves: “Que todos e todas venham para a luta”

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Neusa Santana Alves é a presidenta do Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paulo Sousa do Estado de São Paulo (Sinteps).  Em junho deste ano, Neusa e a diretoria do Sinteps dirigiram  uma greve de 30 dias por melhores salários e melhores condições de ensino.

O Sinteps representa aproximadamente 17 mil trabalhadores e trabalhadoras das escolas técnicas do Estado de São Paulo e tem combatido firmemente a truculência do Governo do Estado de São Paulo e a crescente precarização do ensino profissional no estado. A seguir, entrevista de Neuza Alves ao jornal A Verdade.

A Verdade – Qual a situação das escolas técnicas, as Etecs, no Estado de São Paulo?

Neusa Santana Alvess – A situação das Etecs infelizmente não é boa. Os problemas vão desde a falta de infraestrutura, passando pela própria realidade dos cursos. Estes, muitas vezes, não têm relação com a região na qual estão, oferecendo uma formação desvinculada da realidade local, fazendo com que, depois de formado, o jovem tenha que se mudar ou trabalhar em outra cidade. Falta também a participação política dos estudantes na maioria das unidades. Falta ainda bandejão, e isso é uma necessidade, porque pela manhã, na maioria das unidades, existe o ensino médio e, à tarde, o profissional, e não há uma estrutura básica para o estudante permanecer na escola.

E as condições de trabalho?

Não são boas. Temos um sério problema de infraestrutura. Por exemplo: não temos, praticamente, laboratórios. Durante a greve alguns professores tomaram coragem em fazer denúncias, de que, por exemplo, eles trazem o material para poder trabalhar, para a aula na oficina ou no laboratório funcionarem. Tem professor que coloca até parte do que ganha para fazer determinada aula andar. Isso mostra que falta, para esses trabalhadores, condições de trabalho. Já tivemos melhores dias. Com a realidade dos cursos mudando para cursos de serviços, isso piorou. A tecnologia tão sonhada e o conhecimento tecnológico passam longe daqui e do Governo do Estado.

Para os professores e funcionários não existe um plano de carreira que atenda às nossas necessidades Tivemos um reajuste muito baixo, um valor da hora-aula pequeno: 12 reais (antes do reajuste eram 10). Nossa realidade é diferente daquela da rede básica. Nós não somos contratados por jornada de trabalho, e sim por hora-aula. Então, para ter um salário digno, conseguir manter sua vida, o professor tem que compor sua jornada em várias unidades, se desgastando com o transporte e a locomoção entre um local e outro.

E a jornada de trabalho? É possível viver apenas com o salário pago pelo governo?

Não é possível. A maioria trabalha em mais de um local. Entre aqueles que dão aula à noite, grande parte tem emprego na indústria. Os que dão aula pela manhã ou à tarde não conseguem e acabam compondo o seu salário indo para várias unidades escolares. Esse professor não tem uma carga total de horas-aula em uma única unidade, já que geralmente a carga total é de 37 horas. Ninguém consegue mais isso, por conta da pulverização de cursos; são vários cursos com poucas disciplinas; então você tem que se dividir e ir para várias unidades todas as semanas para completar a jornada de trabalho. O professor fica nos turnos da manhã, tarde e noite girando nas regiões para dar aula. A nossa luta quanto à carreira era pela jornada de 40 horas, dividindo essas horas entre sala de aula, planejamento, trabalho na comunidade, enfim, onde você pudesse de fato ser professor, ser educador, se dedicar a isso, ter contato com os estudantes, ter contato com a instituição, coisa que hoje não tem.

Como é a situação nas Etecs da cidade de Mauá?

Mauá é o 10º município  no ranking dos mais pobres do Estado. É um município com 50% de jovens, na faixa etária de 12 a 16 anos e com uma carência absurda na educação.  Nós estamos com uma campanha de abaixo-assinado, porque a Etec na verdade praticamente não existe. Essa Etec foi a primeira extensão que aconteceu na região do ABC: a extensão da Etec Júlio de Mesquita em Mauá. Era um curso de química, um curso bom, justamente pelo fato de aquela região ter um polo petroquímico muito grande. Começou bem. Mas por questões políticas fecharam a extensão. Com muita luta do município, veio a Etec de Mauá; um prédio da educação especial foi desalojado para abrigá-la. Essa Etec não tem ensino médio, não tem mais o curso de química; começou com um curso de informática e abriram mais um de administração. Depois veio a Fatec, no mesmo prédio; logo constataram que não cabiam os dois. Optaram então por espremer um para manter o outro. A Etec tem apenas dois cursos até hoje – isso já dura uns quatro anos. Pressionamos para que a Etec seja ampliada, mas, por questões políticas entre os governos do município e do Estado, isso ainda não ocorreu. Existe uma extensão da Etec de Mauá em Santo André, num bairro afastado, que impossibilita que os estudantes de Mauá cheguem. Com tantas escolas em Mauá, por que esse governo não fez uma na própria cidade?

Recentemente, os trabalhadores realizaram uma greve por melhores condições de trabalho e de ensino; o governo atendeu às reivindicações?

Tivemos uma greve de 30 dias muito qualificada, na qual os trabalhadores participaram mesmo. Mas o próprio governo fez a quebra da isonomia, dando um reajuste para 53% que eram os chamados “progressão automática”, e o restante vai  ter que amargar aguardando alguns critérios que nem o próprio governo consegue entender. Por enquanto, ninguém conseguiu passar. Ele tentou resolver os problemas de quem estava entrando na instituição, porque 10 reais por hora-aula não estavam atrativos para esses profissionais, que muitas vezes acabavam por optar pela indústria. Estava acontecendo uma grande evasão e, então, o governo propôs um reajuste de 10% e, depois, de 12%, mas apenas para estes profissionais, cerca de 50% da categoria. Fizemos a luta para que fosse para todos, sem discriminação. Estamos processando o governo, para que todos os trabalhadores sejam atendidos, mas infelizmente esse é um governo truculento. A greve saiu justamente porque não havia acordo de reajuste, não havia nenhuma possibilidade de se fazer a discussão de plano de carreira, nem nada. Com a greve é que conseguimos abrir um canal de negociação para discutir a carreira, para discutir o reajuste, enfim, os direitos dos trabalhadores. Mas nossa luta continua, e já temos uma nova greve para o início do próximo ano, praticamente anunciada. Só tivemos os reajustes que tivemos em greve. Tem que ser assim. Para negociarmos as perdas salariais, só com greve e com luta dos trabalhadores. Para o ano que vem, além dessa luta, temos a democratização do Centro Paula Souza para construir, porque temos uma superintendência colocada pelo governo. Queremos de fato alguém que represente os trabalhadores. No ano que vem a luta será pela carreira, tentando que estas perdas salariais entrem no nosso plano de carreira, por uma carreira decente, pela democratização do Centro e pela manutenção do vínculo com a Unesp.

Ao contrário do que ocorre na maior parte dos sindicatos, as figuras principais do Sinteps são mulheres. Como você avalia este fato?

É isso mesmo. Vemos que os bancários, depois de 100 anos, colocam uma mulher na sua presidência. Nosso caso é incrível, porque nossa categoria é predominantemente masculina. Sempre foi assim na educação profissional. Procuramos mesclar nossa diretoria, compor os cargos com homens e mulheres. Entendemos que o trabalho deve ser realizado por todos, independentemente do sexo. Em conjunto. Acredito que é uma forma de as mulheres perceberem que possuem essa possibilidade em qualquer outra categoria. Engraçado é que, na educação básica estadual, há essa dificuldade de colocar mulheres na sua diretoria. Tem uma mulher como presidente, mas a maioria de sua direção é de homens. Precisamos continuar lutando, mostrando para as mulheres que elas também têm esse poder, que precisam ocupar o espaço político, o espaço público. É difícil, porque sabemos que muitos homens se colocam para nos intimidar. Mas estamos mudando isso; nós mulheres precisamos continuar lutando, para que tenhamos de fato igualdade de direitos. Nós, no sindicato, procuramos sempre trazer as mulheres, levantar essa discussão com elas, estimulando-as a que se inscrevam para as instâncias de representação. Nossa proposta é que todos e todas venham para a luta, porque somos trabalhadores.

Carol Vigliar, São Paulo

A maneira de trabalhar entre as mulheres

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“De nossas concepções ideológicas se desprendem pôr conseqüência medidas de organização. Nada de organizações especiais de mulheres comunistas! A comunista é tão militante do Partido como é o comunista, com as mesmas obrigações e direitos. Nisto não pode haver nenhuma divergência. Entretanto não devemos fechar os olhos perante os fatos. O Partido deve contar com os órgãos – grupos de trabalho, comissões, seções, ou como se decida denominá-los -cuja tarefa principal consista em despertar as amplas massas femininas, vinculadas ao Partido, sobre a sua influência. Para isto é necessário, sem dúvida, que desenvolvamos plenamente, um trabalho sistemático entre essas massas femininas. Devemos educar as mulheres que tenhamos conseguido tirar da passividade, devemos recrutá-las e armá-las para a luta de classes proletária sob a direção do Partido Comunista. Não só me refiro às proletárias que trabalham na fábrica ou se afanam no lar, como também às camponesas e às mulheres das distintas camadas da pequena burguesia. Elas também são vítimas do capitalismo e desde a guerra são mais que nunca. Psicologia apolítica não social, atrasada dessas massas femininas; estreiteza de seu campo de atividade, todo seu modo de vida: estes são os fatos. Não prestar atenção a isto seria inconcebível, completamente inconcebível. Necessitamos métodos especiais de agitação e formas especiais de organização. Não se trata de uma defesa burguesa dos “direitos da mulher”, e sim, dos interesses práticos da revolução”.

Disse a Lênin que suas reflexões constituíam para mim um apoio valioso. Muitos camaradas, muitos bons camaradas se opunham de maneira mais decidida a que o Partido criasse órgãos especiais para um trabalho metódico entre as amplas massas femininas. Chamavam a isto retorno às tradições social-democratas, à célebre “emancipação da mulher”. Tratavam de demonstrar que os Partidos Comunistas ao reconhecer pôr princípio e plenamente a igualdade de direitos da mulher, devem desenvolver seu trabalho entre as massas de trabalhadores sem diferença de qualquer espécie. A maneira de trabalhar entre as mulheres deve ser a mesma que entre os homens. Todo intento de considerar na agitação e na organização as circunstâncias indicadas pôr Lênin é considerada pêlos defensores da opinião oposta oportunismo, traição e uma renúncia aos princípios.”

Do livro Recordações de Lênin de Clara Zetkin

 

A luta do Gayones na Venezuela

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O Movimento Gayones surgiu na Venezuela em 1991. Ao longo desses 20 anos, consolidou-se como um dos principais movimento de massa organizando operário, camponeses e indígenas. A Verdade entrevistou José Pinto, membro da direção da corrente sindical do Movimento  Gayones e um dos fundadores do movimento.

A Verdade – Fale um pouco da história do movimento Gayones. Quanto tempo tem de existência, como surgiu e porque Gayones?

José Pinto – O movimento Gayones surgiu há 20 anos, com o motivo da crise da esquerda no mundo com a queda das URSS, o Partido Comunista de Venezuela (PCV) fez uma profunda revisão em sua teoria e muitos comunistas não se sentiam representados pelo PCV e alguns companheiros se reuniram para discutir política, baseado nos clássicos do marxismo e na luta de classes, também atuava nas atividades práticas dos trabalhadores.

A ação revolucionária nos levou a fazer uma luta pela preservação de um cemitério indígena da etnia aborígenes Gayon em uma zona chamada Algarí. Isto fez com que os companheiros estudassem a história dos Gayones e lograram a luta dos Gayones contra a colonização espanhola, onde eles utilizavam táticas de guerra de guerrilha, como atacar e dispersar, não ficar em um só lugar e outras. Também se conheceu o sadismo com que atuava os colonizadores espanhóis de baixo da política da coroa espanhola da espada e da cruz. Entre os atos más abomináveis estava o empalamento em praça pública para intimidar os Gayones, para servir de exemplo para quem se levantava contra os espanhóis.

O estudo serviu para conhecer os atos de heroísmo dos Gayones. Com a morte do cacique, a cacica (mulher do cacique) Ana Soli (que é conhecida hoje como Ana Soto) liderou a tribo chegando a dirigir mais de 2.000 guerreiros que fizeram férrea resistência à colonização espanhola a ponto que os extinguiram (toda a etnia). Resistiram até a morte.

Conhecido tudo isto se mudou o nome de um jornal artesanal, rudimentar que o grupo de companheiros o tirava, para GAYONES, com a simbologia de cacto. Depois da mudança do nome do jornal (em 1991) as pessoas começaram a chamá-lo de Gayones.

Quais foram as principais lutas e conquistas do Movimento Gayones?

A principal foi a luta para não colocar o incinerador de lixo no cemitério Gayon e que se repartisse a terra para os que lutavam, para um projeto agropecuário, terra que se transformou em um assentamento campesino chamado San José de los Camaguos.

Temos lutado pelos direitos políticos, pela participação popular, e fizemos nos bairros e nos sindicatos, entretanto, nos sindicatos em princípio era muito pouco e eleitoralmente não participavam do governo. Houve um momento em que decidimos abordar a luta sindical com força e temos desenvolvido um movimento sindical majoritariamente em Lara.

Temos desenvolvido nos estados de Carabobo, Portuguesa, Yaracuy, Caracas, Cojedes Barrinas, Falcón, Miranda, Aragua entre outros com mais ou menos desenvolvimento do movimento e da corrente sindical.

Em 1997 participamos da primeira greve que foi na CANTV em Lara que durou 22 dias, em 2001 fizemos uma greve em uma empresa chamada de Embutidos Arichura que durou 45 dias, depois realizamos várias greves entre elas fizemos duas greves na Universidade Fermi Toro em Lara, na empresa Taelinca de tabuleiros elétricos que dorou más de 100 dias, na Snack  em 160 dias, na Alentuy de bases de alumínio que durou 45 dias e na General Motors de Venezuela (GMV) que durou 48 dias.

Fernanda Lopes, Belém

 

Wikileaks denuncia que William Waack é informante da CIA

Mais uma vez fica clara a ligação da Rede Globo com a CIA, a agência de inteligência norte-americana. O blog Brasil citou documentos trazidos a público pelo site Wikileaks há pouco mais de dois meses indicando que William Waack, repórter e apresentador do Jornal da Globo, foi indicado por membros do governo dos EUA como alguém próximo capaz de  “sustentar posições na mídia brasileira afinadas com as grandes linhas da política externa americana”. O site também informa que as severas críticas feitas por ele ao governos brasileiro, boliviano e venezuelano indicam que existem razões claras para essa afirmação.

O blog informa também que a política externa brasileira tem “novas orientações” que “não mais se coadunam nem com os interesses americanos, nem com os do Estado de Israel, influente no establishment norte-americano”. Por isso, o Departamento de Estado dos EUA “buscou fincar estacas nos meios de comunicação especializados em política internacional do Brasil” – no que seria um caso de “infiltração da CIA [a agência norte-americana de inteligência] nas instituições do país”.

São citados ainda documentos divulgados pelo Wikileaks de encontros regulares de Waack com o embaixador do EUA no Brasil e com autoridades do Departamento de Estado e da Embaixada de Israel.

Infelizmente, por perseguição do governo dos EUA e outros países, as empresas Visanet e Citibank suspenderam a forma de depósitos online, meio utilizado pelo site Wikileaks para arrecadar contribuições de ativistas políticos e outras pessoas para manter as atividades. Há algumas semanas o organizador do site Julian Assange afirmou que encerrará as atividades do site.

Serley Leal, Fortaleza

Argentina pune militares por crimes durante ditadura

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No dia 27 de outubro, em Buenos Aires, Argentina, doze ex-oficiais da Marinha foram condenados à prisão perpétua por crimes cometidos durante a ditadura, entre eles Alfredo Astiz, um dos símbolos da repressão militar, que se fez passar por militante de esquerda para sequestrar, torturar e assassinar. Em sua lista de acusações estão os assassinatos de Azucena Villaflor, fundadora das Mães da Praça de Maio, e das monjas francesas Alice Domon e Leonie Duquet, torturadas na Esma e jogadas no mar. A sentença de Astiz foi a mais aplaudida e comemorada pelos familiares dos mortos e desaparecidos políticos.

Também receberam a mesma pena Julio César Coronel, Jorge Rádice, Adolfo Donda, Antonio Pernías, Raúl Scheller, Alberto González, Ernesto Weber, Jorge Tigre Acosta, Ricardo Miguel Cavallo, Néstor Savio e Antonio Montes. Manuel García Tallada e Juan Carlos Fotea receberam uma pena de 25 anos; Carlos Octavio Capdevila, 20 anos, e Juan Antonio Azic, 18 anos.

Durante todo o julgamento, familiares de mortos e desaparecidos políticos gritavam os nomes de vítimas da ditadura argentina como forma de fazê-los presentes num momento histórico para a luta pela verdade e a justiça no país. A Praça dos Tribunais, no centro de Buenos Aires, ficou lotada de pessoas que acompanharam atentas a leitura das sentenças. A cada condenação, uma onda de aplausos tomava conta da praça. A justiça estava sendo feita. Os crimes cometidos até então impunemente por agentes da ditadura militar mais sanguinária da América Latina.

Argumentando que crimes contra a humanidade não podem ser prescritos, o Congresso do Uruguai aprovou no dia 27 de outubro a lei que vai permitir o julgamento de militares pelos crimes contra os direitos humanos cometidos durante a ditadura. Estima que aproximadamente duzentas pessoas morreram e milhares foram torturadas entre os anos de 1973 e 1985. A aprovação tornou sem efeito a Lei da Caducidade, que garantia a anistia aos militares e, na prática, a medida autoriza a abertura de processos contra militares que estão na reserva.

Com a aprovação da lei, o Estado uruguaio poderá punir os crimes cometidos pela ditadura, eliminar a prescrição para os processos referentes ao período e declarar os crimes cometidos no período da ditatura como crimes contra a humanidade.

As decisões do parlamento uruguaio e da justiça argentina são um marco na luta pela verdade, pela justiça e pela punição dos autores dos crimes cometidos durante as ditaduras que assolaram o continente entre as décadas de 1960 e 1980, e esperamos que se tornem uma referência do que a Comissão da Verdade, aprovada recentemente pelo Congresso brasileiro, deva fazer também aqui no Brasil. Para que não se esqueça, para que não mais aconteça.

Heron Barroso

Lições de Che Guevara

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“Eu acho que a primeira coisa que deve caracterizar um jovem comunista é a honra que sente por ser jovem comunista. Esta honra que o leva a mostrar para todo o mundo sua condição de jovem comunista, que não se submete à clandestinidade, que não o reduz a fórmulas, mas que ele manifesta a cada momento, que lhe sai do espírito, que tem interesse em demonstrar porque é o seu símbolo de orgulho.

Junto com isso, um grande sentido do dever para com a sociedade que estamos construindo, com nossos semelhantes como seres humanos e com todos os homens do mundo.

Isso é algo que deve caracterizar o jovem comunista. Ao lado disso, uma grande sensibilidade para com todos os problemas, grande sensibilidade diante da injustiça; espírito inconformado sempre que surja algo que esteja errado seja quem for que o tenha dito. Colocar tudo o que não se compreender; discutir e pedir que deixem claro o que não estiver; declarar guerra ao formalismo, a todos tipos de formalismo. Estar sempre aberto para receber as novas experiências, para se ajustar à grande experiência da humanidade, que leva muitos anos avançando pela senda do socialismo, às condições concretas de nosso país, as realidades que existem em Cuba: e pensar – todos e cada um – como ir mudando a realidade, como torná-la melhor.

O jovem comunista deve propor-se a ser sempre o primeiro em tudo, lutar para ser o primeiro e sentir-se incomodado quando em alguma coisa ocupa outro lugar. Lutar para melhorar, para ser o primeiro. Claro que nem todos podem ser o primeiro, mas podem estar entre os primeiros, no grupo de vanguarda. Ser um exemplo vivo, ser o espelho onde mirem seus companheiros que não pertençam às juventudes comunistas, ser o exemplo onde possam mirar-se os homens e as mulheres de idade mais avançada que perderam certo entusiasmo juvenil, que perderam a fé na vida e que diante do estímulo do exemplo sempre reagem bem. Essa é outra tarefa dos jovens comunistas.

Junto com isso, um grande espírito de sacrifício, um espírito de sacrifício não somente para as jornadas heróicas, mas para todo o momento. Sacrificar-se para ajudar os companheiros nas pequenas tarefas, para que possa assim cumprir seu trabalho, para que possa cumprir com seu dever no colégio, no estudo, para que, de qualquer maneira, possa melhorar. Estar sempre atento a toda a massa humana que o rodeia.

Ou seja: o que se propõe a todo o jovem comunista é que seja essencialmente humano, ser tão humano que se aproxime daquilo que há de melhor no ser humano, que purifique o melhor do homem por meio do trabalho, do estudo, do exercício da solidariedade permanente com o povo e com todos os povos do mundo, desenvolver ao máximo a sensibilidade até se sentir angustiado quando se assassina um homem em qualquer lugar do mundo e se sentir entusiasmado quando em algum lugar do mundo se levanta uma nova bandeira de liberdade (aplausos).

O jovem comunista não pode estar limitado pelas fronteiras de um território; o jovem comunista deve praticar o intercionacionalismo proletário e senti-lo como coisa própria. Aperceber-se, como devemos nos aperceber todos nós, aspirantes a comunistas aqui em Cuba, que somos um exemplo real e palpável para toda a nossa América e mais que isto, para outros países do mundo que lutam também em outros continentes por sua liberdade, contra o colonialismo, contra o neoliberalismo, contra o imperialismo, contra todas as formas de opressão dos sistemas injustos; aperceber-se sempre que somos uma tocha acesa, que somos o mesmo espelho que cada um de nós é individualmente para o povo de Cuba, e somos esse espelho para que se olhem os povos da América, os povos do mundo oprimido que lutam por sua liberdade. E devemos ser dignos desse exemplo. A todo o momento e a toda hora devemos ser dignos deste exemplo.”

(Extraído do texto O que deve ser um jovem comunista, Ernesto Che Guevara, Edições Manoel Lisboa)

Estudantes lutam contra transferência de curso na UNA

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No dia 13 de outubro, os estudantes de uma das maiores universidades privadas de Belo Horizonte foram surpreendidos com a decisão da direção do Centro Universitário UNA em transferir os cursos de Serviço Social e Pedagogia do câmpus localizado na Unidade Aimorés para a Unidade Barro Preto. A decisão autoritária foi informada aos estudantes apenas através de carta e colada nos murais de sala. A situação revoltou os estudantes que, organizados pelo DCE e pelos DAs, convocaram uma  assembleia-geral para discutir o problema.

Os estudantes argumentam que uma transferência vai alterar a rotina e prejudicar a qualidade dos cursos, que na unidade atual têm infraestrutura melhor, diferente da “nova” unidade, nas quais inexistem condições adequadas para uma formação acadêmica digna. Há o problema do custo de transporte que todos terão, o fato de a Unidade Barro Preto ficar em uma região que  à noite é mais sujeita a assaltos, com pouca movimentação de pessoas e iluminação precária, fora outras inconveniências como elevadores que não suportam a quantidade de alunos e a falta de estacionamento.

A universidade não leva em conta esses argumentos porque coloca acima de tudo a abertura de novas turmas para os cursos de Direito e Administração, que são mais lucrativas para a instituição; ou seja, uma clara mercantilização do ensino. A mobilização foi grande e teve a participação de mais de 400 estudantes, que exigiram a manutenção dos cursos no local onde hoje funcionam. Uma comissão de alunos dos DAs e do DCE foi recebida pelo diretor do câmpus e pelas coordenações dos cursos.

A direção alegou que a transferência foi uma questão administrativa e que, por esse motivo, não havia necessidade de consultar nenhum órgão da universidade. E manteve a posição da direção da unidade e da Reitoria de fazer a mudança dos cursos. O impasse está criado, pois os estudantes não aceitam a decisão; novas assembleias e manifestações estão marcadas e a luta vai continuar para barrar uma medida tão prejudicial.

Douglas Lamounier, coordenador do DCE UNA

Só com organização e luta educação será prioridade

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Basta entrar em uma escola pública, em qualquer parte do país, para perceber que para os governantes a educação está longe de ser uma prioridade. Mesmo assim nos falam da importância da educação e dizem que “a juventude é o futuro do país”, enquanto não temos oportunidades de emprego e a universidade continua sendo um sonho distante para a imensa maioria da juventude brasileira.

A realidade é que nas escolas públicas é recorrente a falta de professores, a estrutura das escolas é precária, e até cadeiras e ventiladores vivem quebrados. Falar de laboratório de ciências, informática, quadra ou de uma boa biblioteca é impensável.

Acontece que a educação, assim como a saúde e a moradia, são tratados como mercadorias. Para os ricos e seus governos, os serviços públicos que deveriam estar a serviço de toda a população, devem estar o mais abandonados possível, para com isso cobrar com escolas particulares, planos de saúde e alugueis cada vez mais caros.

Para entender isso basta reparar quem mais recebe os recursos dos governos, que, por conta do pagamento dos juros da dívida pública (dívida que o Brasil já pagou várias vezes) destinará em 2011 o absurdo de 49% de tudo o que é arrecadado. Enquanto isso a educação corresponde apenas a 2,89% e sofreu esse ano um corte de R$ 3 bilhões, de um total de R$ 50 bilhões retirados das áreas sociais, sob a alegação da crise que foi criada pelos próprios ricos.

Mas não é somente através da dívida pública que o patrimônio do povo brasileiro é roubado. A luta da juventude brasileira foi decisiva para a criação da Petrobras e a conquista do monopólio estatal do petróleo. Hoje, porém, a política de leilões criada ainda no governo FHC é adotada pela ANP (presidida por Haroldo Lima – PCdoB) e tem resultado na entrega do petróleo brasileiro, inclusive o da camada “pré-sal”, para ser explorado pelas multinacionais petrolíferas.

Precisamos mudar essa realidade, e só através da organização e da luta da juventude e do povo brasileiro poderemos dar um basta nessa entrega do patrimônio nacional e nesse abandono com a educação. Cabe à juventude brasileira seguir o exemplo do Chile, Tunísia, Egito, Grécia e tantos outros países onde os jovens têm ido às ruas lutar por um novo país e uma nova educação!

Por uma Ubes rebelde, combativa e ao lado dos estudantes!

União da Juventude Rebelião (UJR)

Protesto contra aumento das passagens para Maceió

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No dia 25 de outubro, mais de 500 estudantes alagoanos – secundaristas e universitários – saíram às ruas de Maceió em passeata. Caminharam 12 quilômetros, do Centro Educacional de Pesquisas Aplicadas (Cepa) à Câmara dos Vereadores, no Centro, para denunciar à sociedade que os empresários estão querendo roubar o povo, aumentando a passagem do transporte coletivo da capital de R$ 2,10 para R$ 2,50, sem justificativa plausível; esse aumento abusivo só beneficia os próprios empresários e explora cada vez mais o povo alagoano.

O DCE-Ufal, gestão Quem espera nunca alcança, com menos de 30 dias de posse, mostrou aos estudantes o espírito de luta e de combatividade que sustentará o ano dessa gestão. Pois foi a entidade, juntamente com a União da Juventude Rebelião (UJR) e o PCR, que organizou e mobilizou todos os estudantes para pressionar o Governo Municipal.

Na Câmara dos Vereadores, os estudantes denunciaram a situação caótica do transporte coletivo; mostraram que o aumento resultaria em menos 30% do suado salário mínimo do trabalhador e que os empresários querem o aumento – pois é a única solução dentro da crise econômica brasileira em que se encontram – para não diminuir seus lucros. Diante disso, cobraram e defenderam: o não aumento da passagem, mesmo depois de sair à licitação; o passe- livre para o estudante e para o desempregado; a melhoria da mobilidade urbana e um transporte coletivo de qualidade.

Essa manifestação foi o início de uma jornada de lutas que nós estudantes, liderados pelas entidades organizadas e de luta DCE-Ufal gestão Correnteza Quem espera nunca alcança, URJ, Usea e PCR, iremos travar contra os empresários que querem explorar o povo alagoano.

Mona Spinassé, Maceió