UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quarta-feira, 17 de setembro de 2025
Início Site Página 757

Verdades inconvenientes sobre a termelétrica Suape III

0
Heitor Scalambrini Costa

Com o anúncio e a repercussão da instalação da usina termelétrica mais suja do mundo no Cabo de Santo Agostinho, a 10 km do balneário de Porto de Galinhas, vários posicionamentos prós e contras foram apresentados. A decisão solitária e incompreensível do governo de Pernambuco de atrair esta usina provocou um debate indesejável para aqueles que não querem discutir os rumos do desenvolvimento sustentável no Estado, e conseqüentemente a qualidade de vida de sua população.

Não se pode continuar fingindo não saber que o uso de combustíveis fósseis na geração elétrica e em outras atividades, da produção ao transporte, é a principal causa do aquecimento global, com conseqüências diretas nas mudanças climáticas e assim na intensificação de fenômenos como inundações, estiagens, extinção de espécies, entre outros.

Verifica-se neste episódio da termelétrica a existência de uma deliberada e provocada ignorância em relação aos ciclos energéticos, pois ao mesmo tempo, que se valorizam os combustíveis fósseis, se deprecia as fontes renováveis de energia: solar, eólica, biomassa, energia das ondas dos mares. O governo estadual, na mídia, tenta confundir a opinião pública com promessas de que está apoiando fontes renováveis de energia, com anúncios pontuais de instalações de empresas e de usinas com aerogeradores, com energia solar fotovoltaica e térmica no interior do Estado. Ao compararmos estes  empreendimentos anunciados, com os subsídios fornecidos, recursos investidos e potências elétricas instaladas, verifica-se que representam valores muito inferiores ao de Suape III, a usina térmica a óleo combustível anunciada. Todavia as iniciativas para beneficiar as fontes limpas devem ser incentivadas, mas com a participação mais efetiva das universidades pernambucanas, praticamente desconsideradas e alijadas do processo.

Ao longo dos últimos anos constata-se que a Matriz Energética Estadual (MEE) tem sofrido modificações. Ao analisar o Balanço Energético de Pernambuco (BENPE), referente aos anos de 1989 até 1998 (último ano disponível do BENPE pela ex-Secretaria de Infra-estrutura), nota-se que apesar das fontes renováveis de energia (hidroeletricidade, carvão vegetal, lenha, álcool e bagaço de cana) ainda contribuírem com a maior parcela na oferta total de energia; estes energéticos vêm, ano a ano, reduzindo sua contribuição. Por sua vez as fontes não renováveis (derivados do petróleo e gás natural), vêm a cada ano aumentando em muito sua participação na matriz, mostrando assim que a prioridade ao longo dos últimos anos, foi e é de apoiar os combustíveis “sujos” para atender a demanda energética do Estado.

O anuncio da maior e mais suja termelétrica do mundo vem ao encontro desta tendência, e atropela simultaneamente a política climática (PNMC – Plano Nacional sobre Mudança do Clima), o Plano Brasil Maior, e o Documento de Contribuição Brasileira à Conferência Rio+20, pois se opõe – em gênero, número e grau a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Estudos mostram que caso as termelétricas previstas no País sejam instaladas (incluindo Suape III), haverá um aumento de 172% nas emissões de GEE em relação ao ano de 2008.

Termelétrica de Suape III

Mesmo (re)conhecendo as conseqüências da instalação de termelétricas a óleo combustível, houve por parte dos gestores públicos uma tentativa de minimizar as críticas feitas contra este empreendimento. Neste sentido ocorreram declarações individuais de agentes do governo estadual, ocorrência de audiência pública (cujo representante do governo estadual não compareceu), entrevistas coletivas de secretários estaduais das áreas envolvidas, nota paga nos jornais de grande circulação, declarações de engenheiros com cargos de direção em companhias elétricas. Todas manifestações admitiram a existência de riscos e perigos para a população, todavia tentaram minimizá-los. Inclusive com argumentos de que esta usina não irá funcionar, pois é de reserva (ou seja, gerarão temporariamente energia quando as hidroelétricas não tiverem capacidade para atender a carga). Também afirmaram que a instalação da usina no Estado é uma decisão do governo federal, e como tal cabe simplesmente acatar, e não dispensar os recursos previstos para sua construção da ordem de 2 bilhões de reais. Outra justificativa foi no sentido de que o parque de tancagem de 200 mil toneladas a ser construído, definido no protocolo de intenção assinado entre o governo estadual e o empreendedor, não só atenderá a termelétrica, como permitirá abastecer navios que circularem por lá, e assim gerando renda adicional ao Porto de Suape. Enfim o que conta é o dinheiro e não a vida das pessoas e a preservação ambiental.

Entende-se, mas não se justificam alguns posicionamentos, que por razões de oficio, são de pessoas que tem o dever de aplaudir e de bajular, senão não estariam nos cargos por indicação política. Houve na realidade, uma movimentação entre políticos e técnicos para justificar o injustificável. No afã, de apoiar a decisão tomada por um pequeno núcleo do executivo estadual, de receber em seu território “a maior termelétrica do mundo”; informações inverídicas, contraditórias, incorretas, dúbias foram divulgadas na tentava confundir e de minimizar o impacto e os riscos ambientais, econômicos, sociais e de saúde pública, que esta usina acarretará, caso seja instalada.

Não podemos repetir erros passados cometidos no Brasil e em outras partes do mundo. Esta lógica em que os problemas são reconhecidos, mas não corrigidos não deve prevalecer. Tenta-se impor em Pernambuco, que a única verdade é a verdade do poder vigente – e ai de quem ousar contrapor às fabricações do oficialismo, baseada em uma visão ultrapassada da realidade, calcada em conceitos pré-estabelecidos do século passado.

A população que vive no entorno da usina, será afetada pelas emissões de gases poluentes, e de particulados. Sem dúvida as atividades turísticas daquela região, as praias do litoral sul, do município do Cabo, e do balneário de Porto de Galinhas serão afetadas; e mais drasticamente, caso ocorram derramamentos e/ou vazamentos de óleo, tão comuns nos dias atuais.

Além do custo da energia produzida pelas termelétricas, ser cara, incidindo assim na fatura elétrica do consumidor; os empregos resultantes da instalação e do funcionamento da usina serão irrisórios comparados com aqueles que são gerados na indústria do turismo.

Em função da polêmica levantada, dos questionamentos e críticas realizadas contra este empreendimento, são apresentados a seguir pontos que merecem destaques e esclarecimentos junto à opinião pública. Assim, espera-se melhor qualificar o debate e contribuir com as escolhas que podem ou não tornar nosso Estado/País/planeta mais solidário, justo, eqüitativo e respeitoso com a natureza.

1. Algumas informações sobre o combustível utilizado na termelétrica: óleo combustível.

O óleo combustível tem enormes restrições ao seu uso nos países desenvolvidos

O óleo combustível utilizado em Suape II (pronta para entrar em operação desde janeiro de 2012) e Suape III (lançamento do empreendimento em setembro/2011 e previsão de conclusão 2013)  é o marítimo bunker C, descrito na Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico – FISPQ da BR distribuidora (subsidiária da Petrobras), como sendo causador de efeitos nocivos a saúde humana. “um produto cujos perigos mais importantes estão no líquido e seus vapores ser inflamável, causar irritação moderada à pele, suspeito de causar câncer, causar irritação respiratória, causar sonolência e vertigem (efeitos narcóticos). Também é nocivo em caso de ingestão e por penetração das vias respiratórias. Este produto contém gás sulfídrico, extremamente inflamável e tóxico”. Os efeitos ambientais também são destacados “podendo apresentar perigo para o meio ambiente em casos de grandes derramamentos, de emissões de gases como o CO2 e óxidos de enxofre e nitrosos”. Aqui merece destaque o fato conhecido que quando estes óxidos expelidos pela combustão do óleo, reagem com o vapor de água existente na atmosfera é produzido ácido sulfúrico e acido nítrico, que se precipitam produzindo a chuva ácida, de grande impacto ambiental.

O óleo combustível tem enormes restrições ao seu uso nos países desenvolvidos, em várias partes do mundo e também no sul, sudeste do País. Neste caso os órgãos ambientais e a sociedade civil são implacáveis tornando muito difícil à concessão de licenças ambientais para termelétricas a óleo nestes locais.

0 enxofre é um constituinte natural de todos os combustíveis fósseis. Durante a combustão, a maior parte dele é convertida em compostos sulfurosos gasosos. Praticamente 99% do enxofre presente nos combustíveis líquidos são convertidos em compostos gasosos e lançados na atmosfera, se não houver equipamento de controle de emissões.

Ao ser queimado, o enxofre forma uma série de óxidos (SO, S02, S203, S03, S207, S04), mas apenas o dióxido (S02), o trióxido de enxofre (S03) e o íon sulfato têm importância como poluentes.

O S03 se combina rapidamente com água, formando ácido sulfúrico. Devido ao seu baixo ponto de orvalho, esta mistura ácida produz sérios danos em chaminés não tratadas convenientemente. Na presença de metais ou amônia, o ácido reage formando sulfatos metálicos, de amônia ou mistos.

Os sulfatos têm dimensões de alguns mícrons (0,001 mm), podendo ser captados em grande parte por precipitadores eletrostáticos. Sua origem é a oxidação catalítica do SO2 na superfície do material particulado (MP) volante. Este MP contém na sua superfície metais que produzem o S03, o qual reage com metal formando o sulfato metálico.

O SO2 é um gás incolor com cheiro irritante. É altamente solúvel em água: 11,3 g/100 ml comparado com 0,169g/100 ml para o C02. Em contato com a água ele forma o ácido sulfuroso (H2S03). No ar limpo, o SO2 se oxida lentamente para SO3. Esta oxidação é mais rápida na presença de aerossóis aquosos na atmosfera. Íons de metais pesados em solução catalisam a reação, que cessa quando o aerossol torna-se ácido. A amônia presente na atmosfera neutraliza o ácido, formando bissulfito que rapidamente se oxida para sulfato. Se a quantidade de amônia na atmosfera for suficiente, teremos a total neutralização do ácido, caso contrário haverá um resíduo ácido que aparecerá na próxima chuva. A concentração do SO2 é dada em ppm (partes por milhão) ou μg/m3 (micro-gramas/m3 de ar), sendo 1 ppm = 2620 μg/m3.

É importante notar que o impacto ambiental das emissões aéreas de poluentes ocorre em duas escalas bem distintas. O impacto local depende tanto das emissões próximas quanto da altura da chaminé. Uma fábrica com pequena emissão mas com uma chaminé baixa pode causar um impacto local mais forte do que uma termelétrica com chaminé mais elevada. A fábrica produz uma alta concentração de poluentes aéreos no nível do solo enquanto que as emissões da usina sofrem uma grande dispersão e diluição antes de atingir o ambiente da superfície.

O impacto em escala estadual não depende das características das chaminés mas somente das emissões globais na região. É o caso das emissões no nordeste dos EUA que causam chuva ácida no Canadá. A chuva ácida afeta a germinação de sementes, afeta a disponibilidade de nitrogênio no solo, faz diminuir a respiração do solo e aumenta a lixiviação de nutrientes presentes no solo original.

Este é o  combustível (veneno) que se pretende utilizar nas termelétricas  projetadas para serem instaladas no município do Cabo de Santo Agostinho, em particular por Suape III.

2. Argumenta-se que o Complexo Portuário Industrial de Suape necessita de energia frente ao crescimento econômico e a instalação de novas indústrias e empreendimentos em Pernambuco.

EPE usada como argumento?

A resposta a esta afirmativa vem de setores da própria área energética do governo federal. Segundo informações divulgadas pela imprensa, o presidente da Empresa de Planejamento Energético – EPE, afirmou que o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) estava avaliando se os projetos termelétricos da empresa Bertin Energia (empreendedora de Suape II e III) terão ou não condições de entrar em operação. O que não afetaria o fornecimento elétrico, pois existe atualmente uma sobra, de energia no sistema da ordem de 5.000 a 6.000 MW médios. Portanto usar o argumento que estas usinas são importantes para atender ao consumo de energia do Estado não é verdade, pois não existe falta de energia que afetaria nem o Complexo Industrial e Portuário de Suape e nem Pernambuco.

A linhas de transmissão poderiam transportar energia de outras partes do Brasil caso fosse necessário atender a demanda em Pernambuco. Além da possibilidade de incrementar a utilização dos recursos solar e eólico tão abundantes em Pernambuco, mas muito pouco aproveitados. Hoje somente existem 25 MW de potência eólica, e aproximadamente 50 kWp de potência fotovoltaica (em sua maioria dispersa em comunidades rurais) instalados no Estado. Além das medidas de eficiência energética que poderiam ser adotadas, e que postergariam a construção de novas usinas geradoras. Lamentavelmente tais medidas passam ao largo das decisões do governo pernambucano, onde para ele ofertar energia significa apenas construir usinas.

3. Defesa do empreendimento sob a justificativa de que a emissão de poluentes será pequena, pois a usina só será acionada em situações de emergência. No atual modelo de oferta de energia elétrica a usina está sendo construída para não operar, o que a diferencia de qualquer outro empreendimento, pois é uma térmica que produzirá energia de reserva.

Termelétrica em funcionamento

A Energia de Reserva foi inicialmente prevista na Lei nº 10.848/2004, e regulamentado posteriormente por meio do Decreto nº 6.353/2008. A Energia de Reserva contratada deverá ser proveniente de novos empreendimentos ou empreendimentos existentes. Conforme previsto neste Decreto, a finalidade da realização do Leilão de Energia de Reserva – LER foi a de contratar uma oferta adicional destinada a aumentar a segurança no fornecimento de energia elétrica ao Sistema Interligado Nacional – SIN. Também foi estabelecido que o valor necessário para o pagamento desta contratação fosse arcado pelos consumidores finais do SIN, cujo valor foi fixado de R$ 149,00/MWh que remuneraria os investimentos na geração de energia de reserva para as condições encontradas no primeiro Leilão de Energia de Reserva de 2008. Ou seja, mesmo sem funcionar o empreendedor estaria recebendo, o que mostra o excelente negócio de um capitalismo sem risco.

O caso de Suape III se enquadra na tentativa do empreendedor (Grupo Bertin,) vencedor do leilão de 2008, em reunir em uma só usina 5 empreendimentos previstos inicialmente para serem implantados em 4 estados nordestinos. Portanto a maior termelétrica a óleo do mundo é o resultado da combinação de 5 usinas em uma única. Para isto acontecer necessita do acordo da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o que vem sendo negociado.

A afirmativa do governo estadual de que ela não funcionará, enseja questões que merecem explicações mais claras, pois existe uma enorme contradição entre o que diz o governo e o empreendedor. Este afirma que a termelétrica vai gerar energia durante 25% do ano, ou seja, haverá um consumo diário de 8.000 toneladas de óleo, despejando assim 24.000 toneladas/dia de CO2 na atmosfera. Logo, ao longo de um ano, funcionando 25% do tempo, estima-se  algo em torno de 2 milhões de toneladas emitidas. E caso funcione o ano todo serão 8 milhões de toneladas. Já o governo afirma que a termoelétrica não funcionará, e portanto não poluirá.

A preocupação quanto a emissões de gases e particulados (concentração de metais pesados, como o mercúrio) não vem somente de Suape III, mas com a instalação de outras termelétricas na região. Suape II já pronta para funcionar, também com óleo combustível, localizada no município do Cabo de Santo Agostinho, com uma potência instalada de 380 MW. Emitirá diariamente em torno de 6.000 toneladas de CO2, além de gases a base de enxofre, óxidos nitrosos, dióxido de carbono, entre outros. Sem esquecer da termelétrica TermoPE já instalada, com uma potencia de 520 MW, e que a plena carga consome 2 milhões de m3 por dia de gás natural, e emite em torno de 5.000 toneladas diárias de CO2. Além da instalação prevista da termelétrica com óleo combustível, que ira atender as necessidades elétricas da Refinaria Abreu e Lima, com uma potencia prevista de 200 MW. Logo se estará  concentrando 4 termelétricas de médio e grande porte em um único território, causando uma grande preocupação.

Para amenizar a critica sobre o uso do óleo combustível, hoje se fala em converter Suape III  para funcionar a gás natural. O que é uma falácia, visto não haver disponibilidade de gás natural na região para atender as necessidades desta usina, que seria algo em torno de 5 milhões de m3/dia. É uma resposta falsa, para um problema cuja única solução consiste em não construir a usina. A proposta que parte agora da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMAS de reconversão para uma outra fonte energética (também um combustível de origem fóssil) é uma tentativa de  iludir a opinião pública, diante do absurdo da opção de fazer em Suape um pólo de termelétricas a combustível fóssil.

4. E o papel da Agencia Estadual do Meio Ambiente-CPRH, órgão subordinado a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade?

Em Pernambuco, em nome de um crescimento econômico predatório, está sendo permitido que se acabe com os recursos naturais em virtude da realização das obras de Suape, cujas dragagens e outras intervenções têm modificado as condições do bioma, expulsado as populações nativas e impedido a pesca na região em completo desrespeito aos direitos fundamentais e à proteção estabelecida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, além de passar por cima de outras convenções internacionais. Predomina neste território o desmatamento autorizado e não autorizado do pouco que resta da Mata Atlântica e de manguezais, a implantação de indústrias nocivas à saúde publica e ao meio ambiente, e a contaminação de rios e do Oceano Atlântico. E tudo isto ocorre sem o mínimo de discussão com a sociedade. As chamadas audiências públicas que teriam o objetivo de discutir com os envolvidos destes empreendimentos, tem um formato que na verdade é uma mera encenação, simples formalismo para atender a legislação vigente, sem efeitos concretos.

Já a recente Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade –SEMAS, a quem está vinculado o órgão ambiental, a Agência Estadual de Meio Ambiente-CPRH, é quem tem a responsabilidade pela “execução da política estadual de meio ambiente e de recursos hídricos, com atuação na proteção, conservação e pesquisa aplicada às atividades do controle ambiental, para o aproveitamento dos recursos naturais do Estado”. Esta Secretaria tem a função de analisar os Estudos de Impacto Ambiental – EIA e os Relatórios de Impacto Ambiental – Rima, a elas encaminhadas, concedendo as licenças ambientais para os empreendimentos se instalarem, serem construídos e funcionarem. Além de ter a responsabilidade de fiscalizar as compensações sócio- ambientais quando exigidas do empreendedor.

É aqui que repousa a critica mais veemente para o não cumprimento da lei que deu origem a sua criação em janeiro de 2003. O (não) papel que o CPRH tem cumprindo no chamado processo de crescimento econômico de Pernambuco é lamentável sobre todos os ângulos da questão. O que ocorre é uma relação promiscua entre SEMAS/CPRH com aqueles que não respeitam o meio ambiente e que só enxergam os aspectos econômicos envolvidos. Esta afirmativa é corroborada pelos inúmeros termos de compromissos assinados entre Suape e CPRH, para garantir a compensação ambiental, em decorrência das autorizações para supressão da vegetação nativa e de infrações pelo desmatamento não autorizado, que foram desrespeitados.

Muito se esperou e pouco aconteceu com a indicação do ex-ambientalista Sergio Xavier para o cargo de secretário da SEMAS. No discurso de posse era dito, que buscaria imprimir uma visão transversal no governo , trazendo para as discussões sobre o desenvolvimento do Estado, as questões ambientais. Nada disso ocorreu.

Mesmo admitido por todas as partes que o uso do óleo combustível causará  a emissão de gases impróprios à saúde publica e ao meio ambiente, afirma-se erroneamente que com as tecnologias modernas e com o “rigor” das leis ambientais e sua “fiscalização”, que praticamente seriam evitadas tais emissões com a colocação de filtros, implicando assim em um impacto relativamente pequeno. Sabe-se que os filtros podem diminuir a emissão para a atmosfera de gases, mas não impedi-la completamente. No caso do dióxido de carbono não é possível utilizar filtros para impedir que chegue a atmosfera.

5. O Governo comemorou a instalação da termelétrica Suape III  afirmando que vão ser investidos R$ 2 bilhões no Estado e assim serão gerados 500 empregos diretos e alguns milhares indiretos.

“Não é o combustível dos sonhos de ninguém, mas é um investimento de R$ 2 bilhões”. Esta foi a declaração do ex-Secretário de Recursos Hídricos do Estado de Pernambuco (atual presidente da CHESF), publicada no Jornal do Comércio, de 17 de setembro de 2011, em resposta aos argumentos dos ativistas, ambientalistas e engenheiros do setor elétrico sobre os impactos poluentes da usina termelétrica Suape III.

O que chama a atenção nesta declaração é como persiste nos membros do governo estadual (do Partido Socialista do Brasil) a cultura de que o dinheiro resolve tudo. Ou seja,  uma visão arcaica frente aos grandes desafios do século XXI, sendo o principal deles o aquecimento global. A frase atribuída pelo grande pernambucano, economista ecólogo, professor e pesquisador Clovis Cavalcanti, mostra bem este sentimento “é evidente que, em Suape, ama-se o dinheiro e odeia-se a vida”.

Ao mesmo tempo ressalta-se o aspecto contraditório deste argumento, pois o investimento da ordem de 2 bilhões de reais, terá 20% de recursos próprios  do empreendedor, e o restante captado junto ao BNDES, para um empreendimento que não irá funcionar, ficando na reserva.

Fazendo a analogia com o futebol, seria a mesma coisa que contratar o atacante Neymar (mais caro jogador do Brasil) e deixá-lo na reserva, impedi-lo de participar do jogo. Isto seria um contra-senso pois seria muito dinheiro investido para que não atuasse. O mesmo se pode dizer da termelétrica Suape III. Muito dinheiro investido para não funcionar.

A questão dos empregos gerados devido à construção e operação de Suape III é falsamente apresentada. Como exemplo de outra opção de geração de empregos é a industria do turismo, que na região pode ofertar muito mais empregos, com a construção e operação de hotéis de médio porte.

6. O governo estadual se apressou a anunciar a construção de usinas térmicas, sobretudo movidas a óleo combustível altamente poluente, sem uma análise mais profunda e um debate mais democrático com a sociedade.

Uma das marcas registradas do crescimento econômico predatório que ocorre em Pernambuco é o uso intensivo do marketing, da propaganda e da mídia, e ao mesmo tempo uma ausência total de democracia e participação da sociedade nas decisões tomadas.

Alegar  que o programa Todos por Pernambuco, as Plenárias Regionais, o Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico (CEDES) e os Conselhos Regionais constituem instrumentos de uma gestão democrática, e que são inovações modernas de uma gestão modelo (?) para aumentar a participação popular é falácia. Só quem já participou destas plenárias e reuniões sabem como são conduzidas. E do CEDES nem se fala, pois as reuniões são escassas (uma única reunião em 2011).

Os recursos alocados nas obras de infra-estrutura energética são gigantescos, e em grande parte alocados pelo tesouro nacional, através do BNDES; e sua aplicação deve ser responsável, olhando para o futuro. Assegurando benefícios e melhor qualidade de vida para a sociedade, e principalmente, consultando-a para a tomada de decisão. Se forem mal gastos ou desperdiçados, estaremos expostos a riscos, principalmente aqueles causados a natureza e a saúde das pessoas. Não se pode dar um passo atrás, em um momento no qual a chamada economia do carbono esta em cheque frente às exigências da sustentabilidade.

Se as usinas termelétricas previstas (e algumas já instaladas) a combustíveis fósseis, vierem a serem construídas, teremos ai um parque de geração da ordem de 2.600 MW em um território de 13500 ha (Suape), abrangendo os municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, tornando esta região muito poluente.

7. O discurso da compensação ambiental por conta deste projeto, e outros que estão diretamente impactando a região e os municípios estratégicos do Complexo Portuário-Industrial de Suape. E que a Semas – Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Sustentabilidade, por meio do órgão de licenciamento, CPRH, seguirá todas as determinações legais com respeito ao processo de instalação desta usina em Pernambuco.

Para amenizar os danos causados ao meio ambiente, já que todos concordam que é uma instalação com alto potencial de risco e agressão ambiental, e conseqüentemente a saúde das pessoas; é alegado que a planta industrial de Suape III será construída atendendo aos parâmetros mais modernos no mundo.

O vazamento de petróleo ou de derivados, como o óleo combustível, no complexo portuário industrial de Suape e algo possível e provável de acontecer em vista das inúmeras indústrias instaladas que necessitam do petróleo (derivados) como matéria prima. Mesmo não sendo uma atividade de exploração e extração de petróleo, o manuseio e a manipulação poderá provocar danos e desastres ambientais de graves proporções. Não é isto que se espera que ocorra, todavia em engenharia não existe risco zero para a ocorrência de incidentes. Desastres ambientais com morte de aves e animais marinhos, afetando populações costeiras e atividades econômicas de uma região, têm ocorrido com uma freqüência assustadora, causando graves prejuízos, sociais e econômicos.

Um exemplo ocorrido nos dias de hoje, foram os vazamentos de petróleo, na Bacia de Campos, em  poços explorados pela empresa norte-americana Chevron. Verificou-se nesses episódios à total negligência, ausência de empenho e de usos de meios preventivos para a atividade que ali estava sendo desenvolvida. Além da omissão governamental em admitir a participação de uma empresa na exploração do petróleo em território brasileiro que não goza de nenhuma credibilidade, pois detêm má reputação, e um passado repleto de acidentes e problemas, que mais se aproximam de uma folha corrida. Este acidente é um alerta, para o Complexo de Suape, onde serão instaladas indústrias como refinaria, petroquímica, estaleiros e termelétricas envolvidas com a descarga, transporte, manuseio, e estocagem do petróleo e de seus derivados.

Nestes desastres ambientais com vazamento de petróleo no Rio de Janeiro e São Paulo  revelam que as informações são confusas, mentirosas, e as empresas envolvidas (muito poderosas) e o governo brasileiro, lidam com estas situações com muita falta de transparência e arrogância, sem o mínimo de respeito à população.

Com relação ao licenciamento ambiental, as compensações ambientais e as exigências para diminuir a poluição na geração de energia, são asseguradas pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Os gestores prometem que estes preceitos serão rigorosos e obedecerão as regras vigentes no País e estabelecidas pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Essas regras determinam, por exemplo, que as compensações devem representar 0,5% do total do investimento. No caso da Suape III, seriam R$ 10 milhões arrecadados, e que se prestaria para as compensações ambientais devido à supressão da vegetação. Apesar da garantia de que estes recursos estão sendo aplicados, muitas dúvidas permanecem.

Garantir que as normas técnicas de proteção ao meio ambiente e à saúde pública sejam cumpridas pelo empreendedor e pelo órgão licenciador, não é uma certeza de que vá ocorrer se analisarmos acontecimentos recentes.

Segundo relatório da Agência Pernambucana de Meio Ambiente (CPRH) apresentado por exigência do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), o próprio Porto de Suape não tem honrado termos de compromisso ambiental. Nos últimos 10 anos, dez grandes empreendimentos provocaram a supressão de 365,36 hectares de mangue, restinga e mata atlântica. De todos esses, apenas um realizou as contrapartidas acordadas Foi necessária à intervenção dos ministérios públicos, federal e estadual para que a empresa Suape apresentasse um plano para zerar o passivo, estimado hoje em 210 hectares de área desmatada no complexo. Mesmo a propaganda intensa com matérias pagas em jornais pernambucanos de que este passivo foi zerado não há provas de que isto realmente aconteceu, pois não se conhecem em detalhes os lugares de tal reflorestamento.

Apesar da possibilidade da compensação ambiental por conta dos grandes projetos, e daí dos recursos originados, o que se constata no Complexo de Suape é o descumprimento reincidente dos acordos nesta área.

Todavia a população deve ser alertada, em particular a de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, que mesmo que as compensações que vierem ser oferecidas pelo governo e pelo empreendedor (construtor da usina) serão insuficientes para repor a vegetação natural (mangues em particular) suprimida e manter a qualidade de vida das  pessoas.

8- E para dizer que não falei sobre o empreendedor das termelétricas Suape II e Suape III, o Grupo Bertin.

A presença do Grupo Bertin no setor elétrico começou a ser fortalecida em 2008, durante uma das maiores crises financeiras e econômicas do mundo. Naquele segundo semestre de 2008, a empresa (em alguns casos, em parceria com a Equipav) criou a CIBE que foi grande vencedora dos leilões promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O grupo empreendeu uma corrida desenfreada no setor elétrico, vencendo leilões para a construção de 42 usinas geradoras pelo Brasil afora, capazes de gerar 6,7 GigaWatts, quase metade da potência instalada de Itaipu, o que exigiria um desembolso de R$ 10 bilhões.

Enfrentando problemas financeiros em 2009, foi levada a vender 80% da sua divisão de frigoríficos para a concorrente JBS-Friboi. Aventurou-se no consórcio montado pelo governo para disputar o bilionário e polêmico projeto da Hidrelétrica de Belo Monte, e no início de 2010, desistiu dessa participação. Recentemente controladores do grupo passaram por dificuldades financeiras junto a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Pendências estas com a CHESF, referente a dívidas relacionadas às usinas termelétricas de Borborema (PB) e Maracanaú (CE).

Pelo histórico do grupo empreendedor constata-se que a necessidade de captação de capital, é desproporcional a sua capacidade financeira, agora sem a Equipav que saiu da parceria (junho de 2010) que mantinha com o Gupo Bertin no negócio de geração termoelétrica, no grupo CIBE. Neste ponto permanece a dúvida sobre a capacidade da empresa em levar a frente estes empreendimentos. De fato, o governo permitiu o ingresso nos leilões de empresas sem experiência prévia na área, além de não ter exigido garantias financeiras mais consistentes.

Ao concentrar seus investimentos na conclusão das térmicas ganhas no leilão A3/2008, o Grupo Bertin através de sua subsidiária a Star Energy (que teve como diretor presidente o Sr. Evandro Miessi MENTE), solicitou autorização a Aneel para transferir a localização das usinas, inicialmente definidas para outros estados nordestinos, para Suape justificando  este pedido baseado em questões de sinergia e economia de escala, além de ter a garantia do governo estadual que não teria problemas nas concessões das licenças ambientais. Portanto, Suape III, seria o resultado da fusão de 5 usinas com um montante anunciado pela Star Energy a ser investido de 2 bilhões de reais, sendo 20% de recursos próprios e o restante captado junto ao BNDES.

Para a construção de SUAPE III, considerada a maior termelétrica a óleo combustível do mundo, o governo de Pernambuco, concedeu isenção do ICMS para os próximos 20 anos, e ainda doou ao empreendedor um terreno de 80 ha no município do Cabo de Santo Agostinho com valor estimado de mercado da ordem de R$ 40 milhões, além de outro de 14 ha no município de Ipojuca, para a construção do parque de tancagem de 200.000 toneladas de óleo combustível, com valor aproximado de mercado de R$ 7 milhões.

Enfim, a falta de transparência é outra marca registrada do “governo da poluição” que em Pernambuco, tem usado a mídia, e a mídia usado o governo, numa simbiose que tem calado e anestesiado o espírito de contestação de todo um povo.

Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Feder
al de Pernambuco

Repressão: carta aberta de três presas políticas no Equador

0

Carta aos Povos do Equador

Perseguidas políticas no cárcere

Hoje, 8 de março de 2012, nós, que nos encontramos presas em uma penitenciária feminina do setor Inca simplesmente por pensar diferente do critério oficial do regime, estendemos nossas fraternas saudações a todas as mulheres que lutam cotidianamente por um país diferente e mantemos nosso compromisso de continuar firmes em nossas posições críticas.

Ao mesmo tempo denunciamos a demagogia, a prepotência e o autoritarismo de um governo que enquanto diz respeitar os direitos da mulher, na prática demonstra o contrário quando persegue, molesta, insulta, denigre e inclusive prende quem de maneira legítima diverge dele e se preocupa com as condições em que vivem as maiorias populares.

Somos mulheres que nos perguntamos: do que nos acusam?

Talvez por me chamar Cristina Campaña, de ter estudado incansavelmente, tendo méritos que me permitiram viajar a diferentes países por meus estudos ou ao encontro de mulheres de base para discutir os direitos da mulher, ou talvez por ter sido eleita para diferentes cargos como dirigente estudantil na Faculdade de Ciências Administrativas e ter participado das eleições da Federação dos Estudantes Universitários do Equador contra todos os candidatos governistas e ter denunciado como se violam os direitos estudantis ou como se elevam os deveres, ou será que agora também é um delito trabalhar durante anos para manter meus estudos por pertencer a uma família humilde?

Pode-se também, talvez, acusar alguém por ter 18 anos, estar grávida e se chamar Fadua Tapia e ter concluído meu bacharelado em Ciências e o bacharelado Internacional no Colégio Banalcázar, ou por ter participado em grupos de dança e ter realizado ações comunitárias como ter construído com meus companheiros um berçário em Chamal, província de Orellana, ou posso ser acusada talvez de ser uma estudante universitária que participou do Acampamento Internacional Antifascista e Antiimperialista da Juventude, na Turquia, no qual me destaquei entre a delegação equatoriana.

Ou talvez também seja um delito ser uma advogada de 28 anos de idade e se chamar Abigail Eras e morar em Cuena, onde me graduei no Bacharelado em Ciências Sociais e estudei Teatro na Casa da Cultura, Núcleo de Azuay, ou por ter sido integrante do grupo de teatro “Sonrisas” e ter realizado obras sociais, como “Clown”, em SOLCA, na área de crianças e no Hospital Vicente Corral Moscoso, da cidade de Cuenca, ou também por ter dado assistência no consultório jurídico gratuito da Universidade de Cuenca ou ser parte da Associação Feminina Universitária, ou por acaso seria agora também proibido ter um filho de três anos de idade, que se encontra sem sua mãe?

Sem dúvida está claro que somos mais que perseguidas políticas a quem nos querem rotular de maneira grosseira com a intenção de nos desprestigiar diante dos setores progressistas e da esquerda que se encontram lutando em defesa da vida, da água, da liberdade e da dignidade.

Por isso pedimos a solidariedade das organizações sociais e populares e dos homens e mulheres progressistas e democráticos e que mostrem que isso é parte do autoritarismo e das intenções de impor o medo e criminalizar os protestos sociais.

Também exigimos nossa imediata liberdade pois somos vítimas da prepotência e também somos mães, filhas e irmãs que estão tendo seus direitos violados.

Ana Cristina Campaña
Fadua Tapia
Abigail Eras

Greve dos vigilantes de Minas Gerais chega ao fim

Greve dos vigilantes em MG -2012Após dez dias de paralisação, a categoria dos vigilantes de Minas Gerais encerrou sua greve com um acordo na justiça. Reivindicando inicialmente aumento de 16,8% no salário e adicional de risco de morte de 30%, a categoria conseguiu um reajuste de 8% e o adicional pelo risco de morte subiu de 6% para 9%.

A greve dos vigilantes, que coincidiu com a greve dos rodoviários na cidade de Belo Horizonte, se espalhou por várias cidades do estado. Os trabalhadores se fizeram presentes principalmente nas ruas da capital mineira e com muita disposição, fazendo várias passeatas, interrompendo o trânsito, agitando e ganhando o apoio da população. Os trabalhadores passavam em frente aos bancos e incentivavam seus colegas ainda em serviço a se integrarem ao movimento. O resultado foi mais de 40 agências bancárias totalmente paralisadas só na capital, além da interrupção das atividades do Fórum da cidade.

Leia também
[intlink id=”3566″ type=”post” target=”_blank”]Greve dos rodoviários em Belo Horizonte se inicia com grande adesão da categoria[/intlink]
[intlink id=”3708″ type=”post” target=”_blank”]Rodoviários aceitam proposta, mas “estado de greve” continua[/intlink]

A greve chegou ao fim em reunião entre os sindicato dos trabalhadores e o sindicato patronal na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE). No encontro, que durou cerca de seis horas, ficaram acertados, além do reajuste de 8% no salário, o aumento do vale-alimentação, que foi para R$ 8,33, e o acréscimo de 9% no salário pelo risco de morte. O piso anterior da categoria era de R$1.026,86, tendo subido agora para R$1.109,00. O novo valor da cesta básica foi para R$78,20.

Romualdo Ribeiro, presidente do Sindicato dos Vigilantes, afirmou que o resultado não foi o que a categoria queria no início da greve, mas que se não tivessem paralisado, “o valor nunca seria esse”.

Redação MG

Comércio mundial de armas cresceu 24 % entre 2007 e 2011

Caça F-15SGO comércio mundial de armas convencionais cresceu 24 por cento entre 2007 e 2011 em relação ao quinquênio anterior (2002-2006), de acordo com um relatório divulgado em Estocolmo pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz (Stockholm International Peace Research Institute – SIPRI). Os Estados Unidos continuam a ser os maiores vendedores, e à grande distância da concorrência, a Índia passou a ser o maior comprador e a China tornou-se mais exportador do que comprador. O maior negócio das últimas duas décadas foi o fornecimento de caças F-15SG pelos Estados Unidos à Arábia Saudita em 2011.

De acordo com o relatório, os cinco maiores exportadores mundiais de armamento – Estados Unidos, Rússia, Alemanha, França e Reino Unido – concentraram 75 por cento das vendas durante o período em análise . A quota dos Estados Unidos é de cerca de um terço do total (30 por cento) e subiu 24 por cento entre 2007 e 2011 em comparação com o período anterior.

Todos os principais importadores são agora países asiáticos: Índia (10 por cento), Coreia do Sul (seis por cento), Paquistão (cinco por cento), China (cinco por cento) e a minúscula Singapura (quatro por cento). De 2002 a 2011 a China passou de maior importador para quarto e tornou-se o sexto maior exportador, com um aumento de 95 por cento, situando-se agora a curta distância do Reino Unido. Pequim tem como principal cliente o Paquistão.

Por regiões, a Ásia e Oceania importaram 44 por cento do total, a Europa 19 por cento, o Médio Oriente 17 por cento, a América 11 por cento e a África nove por cento.

O maior negócio dos últimos 20 anos foi a compra pela Arábia Saudita aos Estados Unidos de 84 caças F-15SG, que incluiu a modernização de 70 comprados anteriormente. O valor envolvido foi calculado na altura em 60 mil milões de dólares.

As “Primaveras Árabes” não alteraram o fato de os Estados Unidos serem os maiores fornecedores do Egito e da Tunísia e a Rússia o da Síria – que se reforçou em 580 por cento.

A Rússia está com uma quota de mercado de 12 por cento e tem a Índia como melhor cliente, sendo também o principal fornecedor da Síria. A Alemanha subiu à terceira posição, ultrapassando a França, e tem a Grécia como principal destino das suas exportações. Atenas caiu do quarto posto como comprador em 2002-2006 para o 10º mundial em 2007-2001; no entanto, e apesar da crise, fez dois contratos de compra à Alemanha em 2011.

As importações de armas no continente americano cresceram 61 por cento no quinquênio em análise, com os Estados Unidos à cabeça, oitavo importador mundial. Na América do Sul os maiores importadores são o Chile e a Venezuela, mas o Brasil tem contratos em execução com a França e a Itália que o incluirão entre os maiores compradores. As despesas da Venezuela com armas convencionais cresceram 555 por cento, tornando o país o 15º importador mundial quando era o 46º entre 2002 e 2006.

O relatório do SIPRI considera que se registaram “aumentos significativos” de compra de armamento em regiões como o Norte de África, Sudeste Asiático e o Sul do Cáucaso.

O continente africano gastou mais 110 por cento em armas do que no quinquênio anterior, em especial devido à subida da quota do Norte do continente de 33 para 59 por cento, com um aumento de despesas de 273 por cento. Argélia, África do Sul e Marrocos são os maiores compradores; os gastos deste país aumentaram 443 por cento no último quinquénio analisado.

Fonte: Be Internacional

Hoje, sorteio do livro “O que é o marxismo”, de V. I. Lênin

0

O Jornal A Verdade, dando prosseguimento a sua cultura de valorização e aproximação com seus leitores, sorteará um livro das Edições Manoel Lisboa. O livro será O que é o marxismo, de V. I. Lênin. O sorteio será pela conta do Twitter (@averdade_jornal). Para participar é necessário seguir a conta de A Verdade e retweetar a mensagem promocional.

OBS: Sorteio já realizado. O ganhador foi @DiegoViktor

A mensagem a ser retweetada pode ser acessada diretamente pelo link:

https://twitter.com/#!/averdade_jornal/status/182440586186465281

O que é o Marxismo

Sobre o livro

O que é o marxismo? Perguntam milhões de trabalhadores e jovens que não encontram a resposta do porquê são tão explorados e somente uma reduzida minoria de  pessoas pode usufruir das  riquezas produzidas pela sociedade, ao mesmo tempo que veem aumentar os ataques dos patrões capitalistas e de seus meios de comunicação ao socialismo científico.

Para responder a essa indagação, as Edições Manoel Lisboa reuniram três importantes artigos de V.I. Lênin, líder da revolução socialista russa e fundador da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. São eles: Karl Marx, uma exposição sobre o marxismo; Friedrich Engels e As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo.

Lendo-os, os leitores poderão verificar o quanto continua verdadeira e atual a ciência fundada por Marx e Engels e por que o marxismo-leninismo é a única concepção que pode conduzir ao fim da miséria, da fome e da exploração do homem pelo homem no mundo e à construção de uma sociedade fraterna, na qual as pessoas vivam com fartura e em liberdade.  Saberão, ainda, por que o socialismo desperta tanto o ódio da burguesia e de seus escritores e por que a doutrina de Marx é justa, harmoniosa e inconciliável com toda a superstição, com toda a reação e com toda a defesa da opressão burguesa.

Manoel Lisboa, herói da luta pela libertação dos trabalhadores

Manoel Lisboa de Moura, dirigente do Partido Comunista Revolucionário assassinado pela ditadura militarManoel Lisboa de Moura nasceu em 21 de fevereiro de 1944 em Maceió, Alagoas. Preocupado com os problemas sociais iniciou, ainda adolescente, suas atividades políticas organizando o grêmio do seu colégio, o antigo Liceu Alagoano, hoje Colégio Estadual. Foi diretor da União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas (UESA) e aos 16 anos ingressou na juventude comunista. Já em 1964, com apenas 20 anos, foi impedido de continuar seu curso de medicina na Universidade Federal de Alagoas e teve seus direitos políticos cassados pelo governo militar. Em 1965, Manoel foi arbitrariamente preso, e solto após 16 dias de interrogatórios e torturas. A partir de então, passou a viver na clandestinidade. Em fevereiro de 1966, juntamente com Amaro Luís Carvalho (Capivara), Selma Bandeira e outros comunistas, fundou o Partido Comunista Revolucionário (PCR). Por sua firme atuação em defesa dos trabalhadores e da revolução, foi preso no dia 16 de agosto de 1973, numa praça pública situada no bairro do Rosarinho, no Recife, numa ação conjunta das polícias políticas de Pernambuco e São Paulo, comandadas pelos policiais torturadores Luís Miranda e Sérgio Paranhos Fleury.

Dez dias após sua prisão, Manoel foi visto ainda com vida por outros militantes, com o corpo cheio de queimaduras e semi-paralítico. No dia 5 de setembro é publicada nos jornais da burguesia uma nota oficial e mentirosa do governo da ditadura militar fascista, dizendo que ele havia sido morto em tiroteio com a polícia de São Paulo, juntamente com dois outros dirigentes do PCR, Emanuel Bezerra e Manoel Aleixo.

Desde então, Manoel tem sido reverenciado pelos seus companheiros do PCR por seu exemplo de bravura, firmeza, coragem e honestidade. No próximo dia 21 de fevereiro de 2000, o Centro Cultural Manoel Lisboa estará realizando em sua sede, no Recife, o lançamento do livro de depoimentos sobre a vida e a luta revolucionária de Manoel Lisboa. O livro tem dezenas de depoimentos de militantes comunistas que conviveram e trabalharam com Manoel Lisboa pela libertação dos trabalhadores brasileiros do jugo do capitalismo. A VERDADE publica, com exclusividade, um desses depoimentos, o de Maria do Carmo Tomáz, a última companheira do PCR a falar com Manoel, poucas horas antes de seu assassinato.


Manoel: Como é difícil falar sobre você, companheiro! As palavras para traduzir o Celso, o revolucionário que tivemos fisicamente por tão pouco tempo entre nós, parecem tão fracas diante do potencial que esse revolucionário representou e representa na memória de quem o conheceu e participou de sua prática revolucionária. Falar de você é falar de um mundo melhor, é sonhar com uma sociedade sem políticos corruptos e, conseqüentemente, de uma sociedade melhor: sem desemprego, sem fome, sem miséria…Foi exatamente em 1971 que conheci Manoel Lisboa com o codinome de Celso. Não consigo até hoje compreender como uma pessoa que esperava a qualquer momento ser presa e morta, como realmente foi, podia ter tanta tranqüilidade, tanta alegria. Mesmo nos momentos em que falava dos riscos que corria pela sua prática revolucionária, a num momento em que era procurado pela polícia dos órgãos repressivos, ele muitas vezes comentava com humor.

A única coisa que o tirava do sério era irresponsabilidade de companheiros; irresponsabilidade deixava-o nervoso e muito irritado. Certo dia, ele chegou a me dizer: “Se só minha vida fosse suficiente para fazer a revolução, eu a daria, não pediria a ninguém para lutar”. Manoel tinha certeza de que, ao cair nas mãos da repressão, estaria morto, mas falava de tudo isso com muita firmeza e determinação.Foi exatamente no dia 15 de agosto, às 17 horas, numa quinta-feira, no bairro do Rosarinho, que a polícia política colocava a mão naquele revolucionário cujo único “crime” foi ter uma ideologia e lutar por ela: querer uma sociedade sem fome, sem desemprego, sem menor abandonado, sem opressores, sem oprimidos. Esse foi seu único “crime”, que lhe custou torturas físicas, as mais cruéis que se possa imaginar: pau-de-arara, choques por todo o corpo, cabo de vassoura introduzido no reto, queimaduras por todo o corpo e, finalmente, a morte, exceto a última não fui testemunha ocular. É muito difícil falar de tudo isso, mas para que fique registrado nas páginas da história, alguém tem que escrever, colocar fatos, e eu não posso fugir dessa responsabilidade: colocar no papel essa parte da história que vivemos na ditadura militar.

No dia 16 de agosto de 1973, às 06hs50, um dia depois ou uma noite depois da prisão de Manoel, estava eu também sendo presa ao entrar para trabalhar na Fábrica da Torre. Não entendia exatamente o que estava acontecendo. Como a polícia tinha me descoberto? Falava de Manoel: Manoel te entregou! Aquele safado! Eu não sabia quem era Manoel, o conhecia por Celso.

Diante das acusações e daquela turbulência, me deu um clique de repente e lembrei que no dia anterior tinha mandado a companheira Fortunata ir ao encontro de Celso, pois eu tinha outro compromisso e não podia faltar. Foi nesse momento que comecei a entender o que realmente tinha acontecido: Manoel, o Celso, estava preso junto com Fortunata, e Fortunata, coitada! Não tinha condições de agüentar tanta selvageria e me entregou. Era uma pessoa sem experiência, uma operária simples, boa, maravilhosa. Apavorou-se com a monstruosidade como foi preso Manoel, ficou em estado de loucura e não hesitou diante do medo em dizer que eu trabalhava também na Torre. Pobre Fortunata! Ainda dentro do DOI-CODI, tive a oportunidade de ganhar um abraço dela em prantos, me pedindo perdão. Não precisas me pedir perdão, companheira!

Fortunata contou que na hora da prisão de Manoel foi uma verdadeira operação de guerra. Não o colocaram no mesmo carro em que a colocaram. Porém, na praça ainda, começaram a bater nele como se fosse um bicho e o jogaram dentro de um carro, já desmaiado. Na hora em que se aproximou, na praça, um homem o interrogando, ele fez menção de pegar a Lili, apelido que ele dava à arma que conduzia. Foi inútil, de todos os lados da praça surgiam homens, eram muitos, ela não sabe exatamente quantos! Carros e carros surgiam naquele local, estava preso o Manoel que a repressão tanto procurava.No dia em que fui presa, me colocaram frente a frente com ele (acareação – termo usado por eles). Estava totalmente nu, com bastantes hematomas.

Ele fixou os olhos em mim e nada falou. Arrasei-me quando o vi, depois fiquei numa cela vizinha ouvindo os seus gritos. Durante muito tempo pensei que ia enlouquecer, não conseguia me libertar daqueles gritos de dor. Tinha pesadelos horríveis! O seu comportamento causou admiração até mesmo aos torturadores.

Num certo dia do mês de setembro eu não estava mais sofrendo tortura física me levaram a uma câmara de tortura e me deram a triste notícia de que Manoel estava morto. É um momento que me dói muito lembrar, eu disparei num choro, para mim o mundo havia acabado, a esperança estava apagada, me senti num túnel sem luz, estava tudo escuro, foi uma dor muito grande.

Ficaram me olhando e disseram: “Um igual aquele vocês não vão encontrar”. Senti vontade de cuspir na cara de cada um, me deu um ódio! Manoel Lisboa, você foi um exemplo de um HOMEM sério, responsável, de um revolucionário de fibra, de coragem, de um amigo das horas difíceis e de todas as horas, de um revolucionário íntegro , respeitado, de um filho carinhoso. Isso se explica pela mecha do cabelo de sua mãe que carregava de lembrança em sua carteira, já que a ida clandestina não o deixava viver ao lado dela. PARABÉNS, MANOEL! O nosso país precisa de gente como você.

Maria do Carmo Tomáz Natal, 13 de abril de 1999

Admirador da obra do poeta e dramaturgo comunista Bertolt Brecht, Manoel sempre incentivava os militantes do PCR a conhecer os poemas e os trabalhos de Brecht. Um de seus poemas preferidos era Decisão, que publicamos aqui.

A Decisão
Bertolt Brecht

Cada companheiro tem dois olhos;
O Partido tem mil.
O Partido conhece três continentes;
Cada companheiro conhece uma cidade.
Cada companheiro tem sua hora;
O partido tem mil vezes sua hora.
Cada companheiro pode ser destruído
mas o Partido não pode ser destruído.
Porque é a vanguarda das massas e dirige seu combate
Segundo os métodos clássicos, forjados
no conhecimento da realidade.

(Publicado no Jornal A Verdade, nº 3)

La Pasionaria: “Os fascistas não passarão!

1
Dolores

La Pasionaria. Apaixonada. A flor da paixão. Assim se sentia e assim era Dolores. Sensível às dores dos sofridos, repleta de amor. Um Amor de Humanidade. “Fogo que acende/fogo que alimenta/fogo que cresce, queima e apaixona”1.

Nasceu Isidora Dolores Ibárruri Gómez, Dolores, filha de trabalhador mineiro, no dia 9 de dezembro de 1895, na aldeia de Gallarta, na província basca de Biscaia. Foi uma criança altiva, inteligente. Ela mesma relata: “Sempre fui muito rebelde, desde pequenina. Diante da injustiça, sempre reagi violentamente. Se a minha mãe me castigasse sem um motivo, eu armava logo uma grande confusão”. Teve uma passagem brilhante pela escola, mas precisou se afastar para trabalhar em serviços domésticos e de costura, a fim de ajudar a família.

Seu pai, conservador, era carlista, movimento de apoio aos descendentes de Carlos de Borbón na disputa pela sucessão ao trono, travada com os descendentes do rei Fernando VII.  Cansado, o pai mandava a garota para as reuniões, a fim de lhe transmitir as informações, os debates, e dessa forma Dolores começou sua atividade política.

Inclinou-se para a esquerda. Em 1916, casou com o operário mineiro socialista Julián Ruiz e ingressou na Frente Socialista, participou da greve geral de 1917, ano em que festejou a Revolução Bolchevique. Junto com o marido, rompeu com a Frente, que não aceitou se unir à Internacional Comunista criada por Lênin e participou, em 1920, da fundação do Partido Comunista Espanhol (PCE).

Boa escritora e oradora, impressionavam seus textos publicados nos panfletos e boletins do Partido. Os operários chamavam-na de mulher abençoada. Quando se mudou para Madri, em 1930, passou a escrever no jornal do PCE Mundo Obrero, com o pseudônimo Pasionaria, e agitar grandes massas com sua emocionante e vibrante oratória. O mito está se construindo. “Por tua voz, fala a Espanha das cordilheiras/dos braços pobres e explorados/crescem os heróis cheios de palmeiras/morrem saudando-te pilotos e soldados”2.

Dolores teve seis filhos (as), dos (as) quais quatro morreram ainda crianças e Rubén, nascido em 1921, piloto de combate das Forças Armadas Soviéticas, caiu em combate na Batalha de Stalingrado. Ela costumava andar sempre com roupas de cor preta, num luto permanente pela morte das pessoas queridas. Quando seu casamento terminou, ela se mudou para a capital espanhola.

No Pasarán!

Em 1931, cai a Monarquia. Espanha Republicana. Dolores vai para a Constituinte, eleita pelo Partido Comunista nas Astúrias. Em 1934, visita Moscou, conhece Stálin e preside o I Congresso das Mulheres Comunistas da Espanha. Espanha no coração/No coração de Neruda,/No vosso e em meu coração./Espanha da liberdade,/Não a Espanha da opressão./Espanha republicana:/ A Espanha de Franco, não!”3

A Frente Popular de Esquerda vence as eleições, mas a Direita não aceita a perda de poder e se lança à guerra para restaurar a Monarquia. O verão de 1936 marca o início da guerra (Leia Guernica, em A Verdade, nº 90). São três anos de luta com mais de 400 mil mortes. Dolores escreve, discursa, anima os combatentes nas frentes de batalha. Comunista, ela defende conventos de freiras e religiosos da sanha anticlerical de setores anarquistas da Frente. Amada e admirada, ela é a heroína da República e todos (as) vibram ao ouvir seus slogans: “Antes morrer de pé que viver de joelhos!”, “Os fascistas não passarão!”, “É melhor ser a viúva de um herói, que a mulher de um covarde!”.

A Divisão interna da Frente Popular Republicana (Comunistas x trotskistas x anarquistas) facilita a vitória das forças franquistas, que contam com apoio total dos nazistas alemães. No ano de 1939, Dolores, como tantos outros comunistas partem para Moscou.

Foram 38 anos de exílio, durante os quais, a revolucionária não descansou. Atuou com Dimitrov na Internacional Comunista (III Internacional), visitou países socialistas, foi eleita, em 1942, secretária-geral do PCE e, em 1960, sua presidenta.

Si! Si! Si! Dolores a Madrid

Com este grito, a multidão emocionada e entusiástica, recebeu Dolores de volta à pátria, em 1977, um ano após a morte de Franco, num momento de transição democrática. A velha revolucionária se aproximava dos 82 anos, mas não se aposentou. Foi novamente eleita para a Assembleia Constituinte, participou de vários eventos, escreveu suas memórias “O único Caminho”.  “Quem não a segue?/Nunca ao vento deu uma bandeira mais paixão/ não ardeu mais intensamente um coração”4.

Morreu no dia 12 de novembro de 1989, aos 94 anos. No seu enterro, diante da multidão chorosa, Julio Anguita, falou para ela: “…Dizem, Dolores, que morreste! Que asneira! Vives em cada um dos que te amam, e são tantos! Comunista exemplar, és de todos: de todos que levantam o punho, de todo o povo; tu ensinaste que o Partido não se organiza para si próprio, mas para todos os oprimidos. Que exemplo para mulheres e homens, mulher cheia de ternura e de firmeza. Fecha os olhos e sonha com o teu povo! Dorme, companheira Ibárruri! Repousa, camarada Pasionaria.”.

E assim, Dolores “morreu como um pássaro: cantando.5

1Miguel Hernández, poeta espanhol, em PASIONARIA.

2Miguel Hernández, poema citado.

3 Manuel Bandeira, poeta brasileiro em No vosso e em meu coração.

4 Rafael Alberti, poeta espanhol, em Uma Pasionaria para Dolores

5 Miguel Hernández, obra citada

José Levino, historiador e membro do Conselho Editorial de A Verdade

O exército burguês deve e pode ser destruído

0

Existe, em muitos companheiros e também no seio do povo, medo do exército burguês.

Muitos acham impossível vencê-lo e veem o exército exatamente como a ditadura quer: como uma coisa que está acima de nós.

Companheiros, antes de tudo, devemos pensar direitinho no que é o exército burguês. Esse exército (da burguesia) defende os interesses dos capitalistas, defende a propriedade privada (dos capitalistas) e oprime o povo contra qualquer revolta, pois nada temos para ser defendido pelo exército (da burguesia); apesar de a gente sempre ouvir dizer que o exército é o defensor da nação, O QUE VEMOS DE VERDADE É O EXÉRCITO DEFENDER OS INTERESSES DOS RICOS PARASITAS CONTRA O POVO TRABALHADOR.

Os capitalistas usam os órgãos de propaganda (rádio, jornal, televisão) e empregam a educação (o ensino) para fazer o povo acreditar que o exército defende os interesses da nação e não dos capitalistas. Querem convencer o povo de que o exército é honesto e defensor da nação, e fazer todos respeitá-lo, senão quem iria morrer nas guerras pela burguesia? Por isto, desde criança aprendemos a respeitar o exército, a propriedade dos ricos, o presidente da República e demais autoridades burguesas.

O exército da burguesia está realmente forte no momento, mas isto não significa que ele nunca será derrubado. Pensar assim é não conhecer a força da nossa própria classe; é não entender que a nossa união é uma grande força para destruir a força repressiva da burguesia. Com a nossa união e organização, podemos colocar no lugar deste exército burguês, antipopular, antinacionalista e lacaio dos interesses estrangeiros, isto é, devemos colocar no lugar desta corja um exército formado pelos melhores companheiros das classes trabalhadoras. Este, sim, será um exército realmente popular porque formado por pessoas do povo, por pedreiros, carpinteiros, torneiros, soldadores, serventes, tecelões, estudantes, sapateiros, camponeses, comer-ciários, etc. Será um exército popular e revolucionário porque defenderá os verdadeiros interesses do povo e lutará por uma sociedade melhor, uma sociedade mais perfeita e mais justa, luta por uma sociedade socialista.

O mais importante para um exército vencer e dominar é contar com o apoio do povo. A propaganda não pode ocultar a verdade nua e crua das desigualdades sociais, o desemprego, os salários baixos, a injustiça e todos os males do capitalismo. Eis a principal questão: eles têm armas, dinheiro, soldados, MAS NÃO TÊM O POVO. E como este exército da burguesia não é amado pelo povo brasileiro, nós devemos formar nosso exército. Para destruirmos este exército, que é da burguesia, temos que formar o nosso próprio exército, o exército do proletariado.

E como formar o nosso exército?

Ora, já vimos que quando estamos fracos temos que usar formas de luta mais simples para nos fortalecer. É justamente isto que falta cada companheiro compreender para colocar em prática estas questões. Já temos os exemplos do povo russo, do povo chinês, do povo cubano e exemplos de muitos outros povos, que organizados derrubaram os exércitos burgueses que ós oprimiam. No Vietnã está o mais belo exemplo de como um povo atrasado (economicamente) derrotou o exército francês e está derrotando o exército mais poderoso do mundo capitalista, as forças armadas america-nas. E o que fizeram os vietnamitas?  Lutaram, se organizaram e incenti-varam os outros a se organizar como nós, do Conselho de Luta, estamos fazendo. Saíram, de boca em boca, ensinando a verdade sob uma ditadura pior e mais sangrenta do que a nossa. Com grandes dificuldades (para aprender mais), publicavam jornais debaixo do pano, explicando, incentivando e ensinando o povo a se organizar.

O que devemos fazer?

Para formar nosso exército, dependemos unicamente do nosso esforço. Do esforço de cada um que já tem consciência, em ir organizando as massas (o povo desorganizado) e ir dando consciência aos que quase nada sabem a respeito da luta de classes, da nossa luta, e ir aumentando o número de pessoas para nossa organização, e assim iremos formando nosso Partido e daí iremos criando o nosso exército, com as pessoas conscientes de todos os setores da população, desde os companheiros operários, que serão os dirigentes da nossa luta, até os camponeses, os estudantes, funcionários públicos, pessoas politicamente boas que existam dentro das próprias forças armadas do inimigo, enfim de todas as camadas exploradas da população e que apoiam de verdade as nossas ideias e nossos métodos de luta. Temos que conscientizar as pessoas e trazê-las para nós; assim teremos condições de criar nosso exército.

Bom, companheiros, existem muitas formas de luta; o que estamos precisando é a decisão e firmeza dos companheiros para continuar os trabalhos de panfletagem que temos feito dentro das fábricas e nos bairros, desenvolver o trabalho político com outros companheiros e participar do trabalho teórico, que é escrever para os nosso jornais. Todas estas formas de luta têm a finalidade de esclarecer e organizar o povo para que ele pegue em armas de maneira consciente.

Só na luta aprendemos a confiar em nós mesmos, em nossa força, porque defendemos os verdadeiros interesses do povo e lutamos pela justiça. É isto que nos dá certeza da vitória da LUTA OPERÁRIA por meio do exército revolucionário do povo, contra o exército mercenário (vendido) da burguesia.

Todo esforço no trabalho de conscientizar o povo, todo esforço no trabalho de educar para a luta os melhores elementos das classes traba-lhadoras e trazê-los para o Conselho de Luta Operária. Todo esforço nos trabalhos que levam a formar um Partido Operário, pois o exercito revolucionário do povo, só obedecerá a um único comando que será o Partido Operário.

Só com coragem, decisão e firmeza é que se luta.

Só na luta é que se forma o Partido Comunista Revolucionário.

Só na luta se constrói o exército revolucionário do povo.

* Escrito por Manoel Lisboa em agosto de 1973, um mês antes de ser assassinado pela Ditadura Militar, e publicado na revista do PCR Luta Operária, nº 10

Steve Jobs: o falso mito, o explorador

Steve Jobs, tudo pelo dinheiroEm 5 de outubro de 2011 morria Steve Jobs, dono da Apple. Os panegíricos e as hagiografias à sua pessoa pululavam até o aborrecimento em todos os mass media, como se fosse um santo, um gênio e um grande homem. Uma semana depois falecia Dennis MacAlistair Ritchie, cientista da computação estadunidense, e ninguém ficou sabendo. Enquanto do primeiro se falava em todos os meios de comunicação, o segundo apareceu apenas em alguns e como notícia secundária.

Dennis Ritchie é considerado um dos pais da computação moderna. Sua contribuição foi imensa: colaborou com a arquitetura e o desenvolvimento dos sistemas operacionais Multics e Unix, assim como com o desenvolvimento de várias linguagens de programação, como a C, tema sobre o qual escreveu um célebre clássico das ciências da computação junto com Brian Wilson Kernighan: A linguagem de programação C. Recebeu o Prêmio Turing de 1983 pelo desenvolvimento da teoria dos sistemas operacionais genéricos e sua implementação na forma do sistema Unix. Em 1998 lhe foi concedida a Medalha Nacional de Tecnologia dos EUA. No ano de 2007 se aposentou, sendo o chefe do Departamento de Pesquisa em Software da Alcatel-Lucent. Jobs, ao contrário, não foi “o maior contribuinte do mundo da informática”, como alguns o qualificaram. As contribuições de Jobs na área propriamente dita são simplesmente nulas.

A imprensa ianque ressaltava que Jobs teve “uma vida exemplar e extraordinária”; e a de outros países, não ficando para trás, lhe renderam cumprimentos como “um homem que quis dar seu amor e dedicação para satisfazer as massas”, “pioneiro”, “um grande criador de postos de trabalho” e “revolucionário”, entre outros alardes de servilismo e ignorância.

Jobs fez uma enorme fortuna (estimada em 8,5 bilhões de dólares) à base da utilização e exploração em benefício próprio de bens comuns sem os quais não alcançaria seus êxitos e, claro, da exploração de outros seres humanos (especificamente em Shenzen, na China, onde se exploram brutalmente os trabalhadores que têm jornadas de seis dias por semana, 16 horas por dia, e em condições militares em suas linhas de produção; onde se produzem suicídios e se assinam contratos nos quais se renuncia aos direitos trabalhistas e até penais, segundo publicou o jornal inglês Daily Mail). Existe um ambiente de terror bem-documentado na obra de Mike Daisey A agonia e o êxtase de Steve Jobs. A hostilidade de Jobs às classes trabalhadoras já era há muito conhecida, como expressa seu conselho a Obama para imitar a China, o que permitiria às empresas estadunidenses, na China e nos EUA, que “fizessem o que quisessem” [sic], sem nenhum tipo de proteção aos trabalhadores nem ao meio ambiente.

Também quiseram nos apresentar Jobs como um gênio que trouxe grandes avanços à tecnologia e ao design. Como já dissemos, não apenas não fez absolutamente nada como também se utilizou em benefício próprio de bens comuns, sendo que seus designs sempre foram questionados por serem plágios ou cópias descaradas do que outros criavam. (Algumas manchetes: O design do novo iMac… plagiado?, O Navegante, janeiro de 2002; Samsung acusa Apple de copiar design do Ipad, VidaDigitalRadio.com; Apple copia design de Kubrick…, Apple copia Android em seu iO5, etc., etc.).

Seu objetivo sempre foi acumular dinheiro – e, quanto mais, melhor. Para as corporações ianques e “empreendedores” do mundo capitalista ele era e ainda é o exemplo perfeito do que se deve ser; para as classes populares, para o proletariado mundial, é o paradigma do que devemos combater.

(Extraído do jornal Octubre, do Partido Comunista Espanhol Marxista Leninista)

Uma visita a Clara Zetkin

0
Henri Barbuse

Fui visitar Clara Zetkin no asilo encantador onde ela se encontra de passagem. Escolhi o dia em que ela completava setenta e um anos.

Estamos em Arkhangelskoié, a uns trinta quilômetros de Moscou, numa casa de repouso. Casa de repouso é a casa em que se pode trabalhar em paz. Quanto a repousar, depende do caráter do cliente, e não é pedido razoável, quando se trata de Clara Zetkin.

Ei-la, instalada em pleno ar, diante de uma pequena mesa. Há diante dela papéis, presos sob pedras, para evitar a ação do vento. Ela escreve. Escreve da manhã à noite. Explica-me que o médico lhe proibiu andar mais de um quarto de hora por dia, e por isto, ela escreve durante o resto do tempo, e, à noite dorme, mal, o que lhe permite pensar no que vai escrever no dia seguinte.

Não mudou nestes últimos anos: seu rosto rosado e cheio, a auréola celebre de seus cabelos brancos e sua voz patética. A fisionomia deste grande apóstolo da revolução (pode-se empregar a velha palavra apóstolo, quando se vivifica com um sentido novo) é bastante conhecida da multidão proletária da Europa Central e da URSS, onde, no ano passado, por ocasião das festas do X aniversário, a carreira magnífica da indomável militante foi consagrada pela confirmação solene da condecoração da bandeira vermelha. E é com fraternal veneração que os proletários de todos os países hoje a saúdam calorosamente.

Clara Zetkin cuida neste momento da organização do VI Congresso da Internacional Comunista. Quando terminar este trabalho, irá a Moscou, onde ficará enquanto durar o Congresso.

Clara Zetkin

Depois disto, que irá fazer? Muitos amigos aconselharam-na a escrever as suas memórias. Seria toda a história da onda revolucionária contemporânea, com seus tumultos e redemoinhos, e seus obstáculos destroçados, através de um olhar nobre e uma alma intrépida. Ela sente muita vontade de fazê-lo. Mas, toda vez que se dispõe a este trabalho, uma obrigação peremptória de “diretora de consciência” e de oradora irradiante arranca-a de seus projetos e lança-a na luta imediata. Não somente não se lastima, mas procura mesmo estas ocasiões para exercer uma ação útil pela palavra e outros meios de propaganda direta. É por isto que, depois deste congresso solene, de que ela será alma, ela pensa, quanto lhe permite a saúde, em falar às massas alemãs, que têm confiança nela. “Temos lá o que fazer”, disse-me ela, e isto significa, em sua boca: “É preciso fazê-lo” e “Eu o farei!”

E como seu espírito é vivo e agudo, e como se interessa de um modo intenso por todos os detalhes dos acontecimentos atuais, e pela grande luta mundial entre a reação, ainda tão poderosa e voraz, e a revolução em marcha!

É às vezes uma lembrança que remonta do passado antigo ou recente. Conta-me as peripécias de sua ultima viagem clandestina à França, e como quase por milagre pôde ela comparecer ao Congresso de Tours. Não tomou nenhuma precaução exterior. Desembarcou em Paris na estação de Este, sem prestar atenção nos policiais que estavam lá para espiar, já notificados da sua vinda. “Eu não estava disfarçada: tinha o vestido e o chapéu que me eram habituais e me tornavam reconhecível. Atravessei a plataforma bem tranquilamente, como boa burguesa, e tomei um táxi… Penso que, com sangue frio e calma, se despistam mais os melhores policiais, do que com máscaras.”

Não há figura mais alta entre os dirigentes revolucionários que a desta mulher, cuja vida foi um completo exemplo brilhante e ardoroso, e que parece tirar maravilhosamente novas forças da necessidade que se tem dela, neste período histórico emocionante: a passagem da velha à nova ordem de coisas.

Todos nós, proletários e intelectuais revolucionários, camaradas, irmãos ou simpatizantes, celebramos em nossos corações a gloriosa velhice de Clara Zetkin e sua eterna e preciosa juventude.

Extraído do Livro A Nova Rússia – 1932 de Henri Barbusse

*Nasceu em Asnières, na França, em 17 de maio de 1873, e morreu em Moscou, na URSS, em 30 de agosto de 1935. Foi um dos mais importantes escritores franceses do início do século 20. 

Por que legalizar o aborto

5

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 31% dos casos de gravidez no Brasil terminam em abortamento, ou seja, de cada dez mulheres grávidas três abortam de forma espontânea ou induzida. Segundo o Ministério da Saúde, todos os anos ocorre cerca de 1,4 milhão de abortos espontâneos ou inseguros.

O Código Penal prevê apenas duas exceções para a prática do aborto: risco de morte da gestante e gravidez resultante de estupro. O aborto, porém, envolve questões que se estendem para além de leis e concepções religiosas.

Hoje, em nosso país,  o aborto é seguro apenas para as mulheres ricas que podem pagar por ele, embora ele seja ilegal. Quem tem condições de dispor de mais de R$ 3 mil consegue realizar um aborto com certa segurança.

Para as mulheres pobres, ao contrário, a situação é bastante diferente. Elas recorrem a clínicas clandestinas que não dispõem de condições adequadas de estrutura nem de  pessoas capacitadas a realizar o procedimento. Nessas clínicas, utilizam-se medicamentos abortivos vendidos ilegalmente ou métodos mais arcaicos que ocasionam, recorrentemente, perfurações de útero e infecções.

Tais métodos, em geral, fazem que essas mulheres sejam levadas aos hospitais públicos para tratar as sequelas, situação que se agrava no aspecto legal, pois isso deixa de ser uma ação pessoal, privada, delas, e elas passam a ser passíveis de ser denunciadas e presas.

Não se trata de coincidência que estudos e pesquisas realizados demonstrem que,em alguns Estadosdas regiões Norte e Nordeste, o aborto clandestino é a principal causa de morte materna, enquanto, nas regiões Sul e Sudeste, ele ocupa o terceiro ou o quarto lugar nessa classificação. Nos Estados mais pobres, a possibilidade de acesso  das mulheres a um aborto pago são bem menores.

As motivações para um aborto

Segundo a Pesquisa Nacional do Aborto divulgada em 2010, 15% das mulheres entrevistadas realizaram aborto uma vez na vida e, em 60% desses casos, são mulheres entre 18 e 29 anos.

Uma publicação do Ministério da Saúde intitulada “20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil”, de 2009, sintetiza dados de diversas pesquisas divulgadas sobre o assunto e traz importantes informações. Segundo esta publicação, a maior parte das adolescentes, cerca de 78%, que abortam, têm entre 17 e 19 anos e mais de dois terços dessas mulheres dependem economicamente dos pais ou do companheiro, têm uma relação estável e usam algum tipo de contraceptivo regularmente, ou seja, estão decididas a não terem um filho. A publicação revela também o impacto do nascimento de um filho na vida de mulheres adolescentes: 70% delas abandonaram os estudos até o primeiro ano de vida do filho e todas expressaram julgamento negativo sobre a gravidez ao final deste primeiro ano. Entre as mulheres adultas, este quadro se repete: a maioria mantém relação conjugal estável e é usuária de métodos contraceptivos, além de ter ao menos um filho.

Isso demonstra que a interrupção de uma gravidez indesejada, em geral, não vem de uma aventura sexual irresponsável, como se costuma alardear, mas tem muitas outras motivações, tais como: violência sexual ou mesmo casos de coerção não explícita, falta de apoio emocional e (ou) financeiro do parceiro; dificuldades de acesso a contraceptivos ou desconhecimento adequado para usá-los; falha do medicamento, já que nenhum método é 100% seguro; dificuldades econômicas ou sobrecarga de responsabilidades e tarefas familiares; medo de perder o emprego ou não se sentir apta para ser mãe devido à idade; ou a experiências pessoais.

Por isso, não é fácil, física nem psicologicamente interromper uma gravidez. A mulher que apela para essa ação o faz por entender que não há melhor saída, e as pobres, quando fazem, correm sérios riscos.

Os que defendem a criminalização do aborto falam de uma vida em potencial, que não tem culpa de ter sido gerada. Entretanto, nada dizem da vida da mulher a quem é imposta a maternidade indesejada. Defender uma vida em potencial sob quaisquer circunstâncias, sem a garantia mínima de condições estruturais e psicológicas da família que a deveria acolher é hipocrisia, pois a vida é muito mais que o fato de se estar presente neste mundo; envolve condições de dignidade humana não só para quem é gestado, mas também para quem gesta.

Por isso, a humanidade, independente do que digam as leis, pratica o aborto no mundo todo ainda que, em alguns países, seja ilegal, porém faz isso na clandestinidade e sem as condições adequadas.

Mas lutar pela legalização do aborto não significa, de forma alguma, desejar que ele se transforme em método contraceptivo, mas sim que a maternidade não pode ser uma imposição natural às mulheres. Por isso, defendemos o acesso a contraceptivos e informação adequada para seu uso, autonomia das mulheres para que tenham poder de dizer não ou impor condições aos parceiros em uma relação sexual – exigindo o uso de camisinha, por exemplo – e que, se necessário for, tenham direito de interromper uma gravidez indesejada como último recurso.

Todos nós que lutamos por um mundo melhor defendemos a vida e o direito de toda mulher de poder ser mãe quando quiser, e que tenha direito a um atendimento de saúde adequado para gerar e parir e de condições de criar seus filhos com igualdade de direitos e oportunidades para todos os seres humanos.

Movimento de Mulheres Olga Benário