UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Greves indicam desenvolvimento no despertar do movimento operário brasileiro

Correios declaram greve contra privatizações e demais categorias de trabalhadores e trabalhadoras se mobilizam para defender seus empregos e direitos.

Thales Caramante
Giulia Caramante


Foto: Alina Souza

BRASIL – O golpe de Temer e a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 marcam um ponto de virada para o movimento popular e, principalmente, o movimento operário brasileiro. Os diversos decretos provocativos assinados arbitrariamente por Bolsonaro já reportados pelo Jornal A Verdade sumarizam uma política altamente precária no que diz respeito à seguridade dos trabalhadores em relação aos seus empregos e qualidade de vida. Desta forma, as manchetes dos jornais decretam, em oposição à Bolsonaro, uma pobreza e insegurança generalizada em toda sociedade brasileira atual.

Em meio a isso, a classe trabalhadora brasileira dá seus primeiros passos para o seu completo despertar como protagonista política das lutas de rua. Cabe dizer que apesar de despertar enquanto classe, ela ainda não tem sido capaz de superar a hegemonia estudantil nas principais manifestações e lutas atuais, mas está ficando mais claro que a radicalidade estudantil não é capaz de conquistar vitórias ou reestruturação laboral dos trabalhadores, sendo ela uma tarefa sua. O papel da mídia burguesa é esconder ou negligenciar as greves, principalmente as gerais. Porém, quando a participação dos trabalhadores é efetiva, hegemônica e unida, a mídia não consegue negar ou mesmo esconder a força histórica da classe operária. Para o “intelectual” colunista da Folha de S. Paulo, Igor Gielow, em seu artigo de opinião publicado no dia 24 de maio de 2018 em relação a greve dos caminhoneiros: “os caminhoneiros ganharam de novo. Não há categoria com maior poder disruptivo no país. […] Em três dias, desabasteceu o Rio de Janeiro, obrigou a retirada de 40% dos ônibus das ruas de São Paulo, ameaçou parar o aeroporto de Brasília e paralisou nada mais nada menos que 13 unidades da combalida, produtora de alimentos BRF.”

Junto a essa luta que tomou conta dos noticiários nacionais em 2018, podemos dizer que essa consciência alcançada é fruto direto de lutas onde a classe operária tornou-se parcialmente a protagonista da defesa de seus direitos em 2017, como a Greve Geral em abril e a Marcha a Brasília em maio. Dessa forma, lutas locais que se desenvolveram em março, abril e maio do ano seguinte mostram que são filhos diretos do despertar geral da classe trabalhadora. A Greve Unificada dos Servidores de São Paulo contra o Sampaprev, que reuniu por meses mais de cem mil trabalhadores(as) em frente à Câmara Municipal da capital, coincidiu com a Greve dos Rodoviários do Pará. Ambas foram duramente reprimidas pelas forças policiais, principalmente a primeira. Ao mesmo tempo, as forças trabalhadoras foram vitoriosas em suas lutas, atrasando a votação da Reforma da Previdência, a suspensão temporária da votação do Sampaprev e a redução das jornadas de trabalho dos rodoviários. Além disso, houve vitórias parciais para os metroviários de São Paulo que foram reintegrados após as demissões da greve de 2014. Apesar de a classe operária experimentar sua ressurreição e ter vitórias nas lutas nacionais e locais em momentos pontuais, a situação geral permaneceu estagnada.

Foto: Paulo Whitaker/Reuters


Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade

É verdade que a classe trabalhadora sofreu e sofre significativos golpes do governo, porém eles não foram e nem serão capazes de liquidar essa nova maré de greves econômicas que eclodem pelo país por melhores salários, condições de trabalho e, até mesmo, preservação dos empregos de cargos ameaçados. Como acontece com o ascendente sentimento de revolta dos trabalhadores ferroviários e metroviários em todo o país.

Apesar de serem greves econômicas, a radicalização cresce de maneira gradual, o que é importante para a futura transformação política interna dos sindicatos. Os trabalhadores sofrem da sua própria falta de iniciativa e do aparelhamento sindical, o que não os permite ter condições de lutar abertamente, pois a vida sindical se demonstrava mais como uma mesa de negociações entre a diretoria e os patrões amplamente burocratizada. Surgem, assim, operários(as) que muitas vezes não toleram aguardar decisões judiciais como havia antes – sendo os caminhoneiros(as) os pioneiros(as) –, pois isso colocaria em risco direitos importantes de toda a categoria, que antes eram considerados intocáveis nos governos sociais-democratas.

Dentro dos caminhos mais radicais tomados pela classe operária (greves gerais, paralisações massivas, generalização da greve em meio a repressão policial), os obreiros metalúrgicos são uma categoria que ainda sofre com o judicialismo. Ao momento em que as portas da Ford fechavam em São Bernardo do Campo, as greves e paralisações estavam submetidas aos acontecimentos jurídicos, o que impede a classe operária de exercer sua iniciativa política e fortalecer sua combatividade, sua radicalização, em comparação ao seu nível de consciência política. Sendo os metalúrgicos uma categoria altamente consciente, levando 65 mil operários a cessarem o trabalho na greve geral deste ano.

Foto: Lucas Barbosa/Jornal A Verdade

Com a maré estudantil emulando os trabalhadores, a classe operária esse ano vê uma nova fase de seu despertar, em particular em lutas contra as privatizações e contra o desemprego.

Deflagrações de Greve

Logo no início do ano, em janeiro, diversas entidades sindicais lançam a Frente Cearense de Defesa das Estatais, sendo o primeiro foco de resistência política dos trabalhadores contra as prometidas privatizações de Bolsonaro e Guedes. Os responsáveis pela formação da frente foram petroleiros, bancários, portuários, eletricitários, trabalhadores dos correios, representando um importante fenômeno histórico do curso da luta proletária no estado e no país.

Em fevereiro, os trabalhadores da MGS foram capazes de barrar a privatização das Unidades de Atendimento Integradas em Belo Horizonte a partir de sua própria atividade grevista e direção consequente de seus objetivos não apenas no terreno jurídico, mas no político, conquistando consciência de classe. Ao mesmo tempo, cerca de dois mil e duzentos professores de Montes Claros (MG) estavam também em luta exigindo o pagamento de seus salários e décimo terceiro atrasados, impondo uma séria derrota ao recém eleito, Romeu Zema (NOVO).

Foto: Jornal A Verdade

Em abril, os metroviários de São Paulo entraram em campanha salarial, passaram a sentir o ascenso de seu movimento e capacidade grevista, constituíram setoriais e lutaram contra as privatizações e terceirizações. Encararam as direções do Metrô abertamente por meio do uso dos renomados e famosos coletes vermelhos. Arrancaram, assim, vitórias políticas de alto grau contra os patrões – a Justiça determinou que, caso o Metrô aplicasse advertência contra o uso dos coletes, a empresa deveria indenizar os trabalhadores com cerca de R$20.000,00.

Foto: Thales Caramante/Jornal A Verdade

Em junho, os jornalistas de Alagoas, em campanha salarial, deflagraram greve com 90% de adesão dos trabalhadores, exigindo também salários justos e o fim da redução do piso salarial de 40%. A greve tomou proporções enormes, impedindo o funcionamento das redes de televisão, rádio e circulação de jornais impressos de grandes emissoras.

A Luta dos Professores

Armados e estimulados a lutar após as massivas manifestações em maio, as greves recentes dos trabalhadores da educação, entre eles, a combativa categoria dos professores, tem o efeito de encorajar, em conjunto com os estudantes, as demais lutas de outras categorias. Após a aprovação da greve nacional, a categoria passa a estar suficientemente instrumentalizada para organizar e deflagrar novas greves locais em universidades e escolas públicas. Onze dias após a 9º Conferência da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), os professores e demais trabalhadores da Universidade Potiguar em Natal e Mossoró passam para as paralisações e manifestações, contra a política de demissões em massa que favoreceriam apenas as novas empresas privadas de educação, no caso, a Laureate.

Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade

Evidenciando a instabilidade do Ministério da Educação, os editoriais burgueses passam a reconhecer o ascenso de manifestações expressivas contra o governo. A Folha de S. Paulo teve de reconhecer em seu editorial que “com menos de dois meses na pasta, Weintraub já colheu duas expressivas manifestações de rua contra a retenção de verbas para o ensino superior no país.” Novamente, Igor Gielow torna-se o interlocutor do jornal e assume: “O presidente parece ignorar as imagens e o sentido do que está acontecendo ao chamar os manifestantes de imbecis. Se nas redes sociais que lhe são favoráveis, reduto ao qual sua popularidade parece ter se retraído, na vida real algo aconteceu com o espraiamento dos protestos pelo país. […] Isso porque não parecem ser apenas os tradicionais aderentes de sindicatos e partidos de esquerda que se manifestaram.”

Com a ascensão completa dos professores e estudantes, as manchetes passam a circundar as polêmicas e instabilidades econômico e sociais do governo Bolsonaro, diversas categorias passam a se sentir mais à vontade e deflagram, corajosamente, novas greves e manifestações exigindo direitos, mas também contra o governo.

Greves e Radicalização Para o Final do Ano

Ao final de julho, os motoristas de ônibus de São Paulo passaram, depois de muitos anos imóveis, a se reunir em assembleias para debater a agenda de ataques de Bruno Covas (PSDB) que liquidaria salários, linhas e o emprego dos cobradores de ônibus, submetendo os motoristas a uma exploração ainda maior da sua força de trabalho. Essas reuniões culminaram na greve que paralisou parcialmente a cidade de São Paulo em setembro. No Pará, os trabalhadores do judiciário também entram em greve exigindo salário justo, com ampla participação da categoria.

Foto: Lucas Nascimento/Jornal A Verdade

Agora, reafirmando o poderoso crescimento de manifestações e greves proletárias, os Correios deflagraram greve no dia 11 em contingentes nacionais também contra as privatizações, com uma participação expressiva, massiva e gigantesca de toda a categoria. Juntam-se em um novo grandioso exército de trabalhadores grevistas em todo o país. Pois com esse novo movimento de greves, os professores e funcionários da educação do Rio Grande do Sul ameaçam “uma greve maciça, talvez a maior e mais importante da história da categoria. As sementes estão plantadas. Há, em todo o Rio Grande, educadores(as) prontos para deflagrar de imediato uma primavera de lutas.”

Ao todo, professores e estudantes estão massivamente se organizando contra o projeto “Future-se”. A correlação de forças nas universidades está se alterando rapidamente ao lado dos(as) proletários(as).

Foto: Jornal A Verdade

Demais categorias também estão dando sinais de lutas grevistas contra privatizações. E a história mostra que para essa lutar ter um amplo efeito, tanto por razões econômicas e políticas, é preciso estabelecer uma política de greves radicais, com ampla participação de todos os(as) trabalhadores(as). Sendo a luta dos correios a principal e mais importante luta de greve proletária atualmente, que precisa da ampla participação dos(as) comunistas ao lado dos trabalhadores.

É necessário estimular mais greves pelo país, principalmente entre as categorias operárias, metalúrgicas, urbanitárias, operários(as) da construção civil e dos transportes públicos. A partir do momento em que a classe operária passa a ser a protagonista das lutas de caráter político nacional que teremos não apenas um desenvolvimento do ascenso de greves econômicas, mas sim um ascenso do movimento revolucionário em geral. Para isso, é preciso que os comunistas sejam capazes de unificar a luta operária geral com o movimento revolucionário pelo socialismo. A porta principal atualmente para adquirir essa unificação (do movimento operário com o movimento revolucionário) é a luta contra a Reforma da Previdência e a luta grevista dos correios, estafetas da revolução.

Conclusão

Algumas lutas acima citadas ainda estão em considerável andamento entre os trabalhadores. As características predominantes em todas essas lutas são ações parcialmente e crescentemente radicais, contagiosas e que se tornam massivamente mais encorajadas em todas as categorias. Além disso, a maioria dessas lutas terminou com relativa vitória, algumas temporárias, outras definitivas, ou seja, a influência das ações proletárias tem atingido os planos dos governos locais ou mesmo nacional. Esse novo processo, um tanto tímido em diversos aspectos, oferece uma série de novas experiencias aos trabalhadores e dão oportunidades futuras para transformar a situação política interna de diversos sindicatos, sendo hoje patronais e, futuramente, ligado aos interesses unicamente das categorias e de toda a classe operária, transformando o sindicalismo burguês em sindicalismo revolucionário.

As investidas de Bolsonaro e seu governo contra os estudantes e jovens trabalhadores abrem as portas para a popularização do Marxismo-Leninismo. Mesmo sendo sempre cedo ou mesmo impossível prever qualquer movimento, a realidade nos diz que o ascenso operário engatinha até dar seus primeiros passos para a futura corrida revolucionária.

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