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sábado, 2 de novembro de 2024

“Mauá se importa com a cultura, mas a cultura de fora da cidade”

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“A luta invisível das Oficinas Culturais. A cidade de Mauá é rica em cultura e isso é um fato, mas o que a prefeitura faz? Desde o ano passado tentam destruir o resto de cultura da cidade, e o intuito dessa gestão é que os alunos desistam para haver motivo de extinção do projeto.”

Carta Anônima


Foto: Reprodução

CARTA – Mauá, agosto de 2018: Volta às aulas das turmas das oficinas culturais, proporcionadas pela prefeitura de Mauá, uma cidade que valoriza a cultura e se empenha para levá-la à população através do projeto das Oficinas Culturais. Seria esse o discurso em uma realidade alternativa. Mauá se importa com a cultura, mas a cultura de fora da cidade. O projeto das oficinas nasceu há muito tempo em outra gestão da prefeitura e a cada eleição ele é usado como fator para a autopromoção do Prefeito e Secretário de Cultura que rege o cargo no momento.  

As oficinas culturais têm a mesma rotina: que é apresentar uma mostra do quê foi trabalhado no começo do ano, e no fim do ano haver um espetáculo de encerramento. Com as turmas de 2018 não foi diferente, porém, entre a mostra de teatro e o espetáculo ocorreu uma série de descasos para com os alunos de arte. O antigo prédio das oficinas culturais, localizado na Rua dos Bandeirantes, era alugado pela prefeitura, mas o que não se sabia era que, a prefeitura não pagava o aluguel. Os alunos voltaram às oficinas, mas as oficinas voltaram? Além de não estar sendo pago, o prédio das oficinas estava todo depravado, sem água, com rachaduras nas paredes e com risco do teto cair. Diversos professores desistiram do projeto e com isso, muitos alunos saíram das oficinas, mas uma arte ainda resistia, a teatral. As turmas de teatro lutaram para fazer o espetáculo de fim de ano. A turma de teatro de segunda-feira das oficinas culturais foi um exemplo de persistência, as aulas ocorriam no prédio das oficinas, entretanto com o prédio sendo devolvido, as aulas foram acontecer no saguão do Teatro Municipal, sim, no saguão, não tiveram acesso nem ao próprio palco do teatro. Como não daria para utilizar o saguão toda segunda-feira devido aos eventos que ocorriam no teatro, a turma ficou sem lugar pra dar aula, mas eles tinham um professor que amava os alunos, um dramaturgo que não desiste fácil! De espetáculo de final de ano, surgiu o “Brasil Babilônia”, em plena eleição para presidente, as turmas de teatro de todos os dias da semana se uniram para criar algo que criticasse o governo e então elas se encontravam na Casa do Hip-Hop, um local que até hoje é utilizado por essas turmas. 

Haviam 40 alunos em cena no Brasil-Babilônia, todos com sede de teatro e sede de vingança. Na penúltima cena da peça, ocorria um caso que era: vários artistas eram retirados de cena por pessoas vestidas com camisas do Brasil, e enquanto isso, tocava a música “Roda Viva” de Chico Buarque, uma grande canção de protesto.

O espetáculo enfim foi apresentado, toda aquela luta valeu a pena e as turma agora estavam de férias. No ano seguinte, em fevereiro de 2019, as aulas retornaram, porém com metade dos alunos que participavam das aulas de teatro, devido à falta de divulgação por parte da prefeitura, muitos alunos nem sequer sabiam se as Oficinas ainda existiam. Então em Maio anunciaram a suposta volta das oficinas, como se ainda não estivessem ocorrendo aulas por lá, colocaram alunos no meio de projetos de professores sem terem avisado nada. Um desses projetos foi o “Brasil: Distopias Poéticas” que foi uma espécie de Sarau com monólogos na  Casa do Hip-Hop. Essa mostra não foi divulgada, pois a gestão de cultura não tinha informação dele, afinal eles não apareciam nas oficinas para ver o projeto. Houve duas sessões e contando as duas, apenas 35 pessoas compareceram.

Foto: Reprodução

Novembro de 2019, alguns meses após o Sarau os alunos já tinham noção de que, esse poderia ser o último ano deles no teatro, a turma estava ameaçada de extinção, todas reuniões que aconteciam para falar a respeito das Oficinas ocorriam sem os professores opositores. Certa vez o Secretário de Cultura, Caio Evangelista, organizou uma reunião para falar a respeito do espetáculo de fim de ano, nesta mesma reunião ele apresentou o projeto no qual eu chamo de “Rock in Rio Mauaense”, o projeto é basicamente um palco de show com microfones para as turmas de teatro, isso é bom, não? Não, as peças teatrais que estavam sendo desenvolvidas não foram feitas para aquela estrutura que foi criada para a autopromoção da gestão, as peças eram mais íntimas e eles queriam que apresentássemos como um show, com plateia, nos tratando como um produto. E o teatro? Bom, o teatro foi negado para nós, da turma de teatro. Todas as datas que haviam disponíveis para as apresentações foram ocupadas por eventos do “Expresso Cultural”, um projeto que leva cultura à cidade mas ignora a cultura da cidade, bem, há uma data para as oficinas nesse “expresso”, e é o famoso show. Enquanto isso, na Casa do Hip-Hop há a falta de água, existem 3 banheiros e 2 bebedouros, nos banheiros não há água e nos bebedouros também não, mas lá você encontra panfletos de eventos culturais da cidade. Sem apoio algum da prefeitura, todo trabalho realizado pelas turmas são feitos com dinheiro do bolso dos professores e até mesmo dos alunos, a iluminação, cenário e som são coisas que os integrantes têm que resolver por si só. 

Se passou um ano desde a entrega do prédio das oficinas para os proprietários, há uma pizzaria no que antes era um centro de reunião para pessoas que tinham a mesma paixão no coração. Nos eventos culturais você ouve do secretário de cultura o mesmo discurso rotineiro “Mauá é uma cidade rica em cultura e que se empenha para levar cultura ao povo através das oficinas”. A cidade de Mauá é rica em cultura e isso é um fato, mas o que a prefeitura faz? Desde o ano passado tentam destruir o resto de cultura da cidade, e o intuito dessa gestão é que os alunos desistam para haver motivo de extinção do projeto. Vários cursos dentro do projeto já foram extintos, professores foram despedidos e as oficinas de teatro praticamente estão independentes, a prefeitura te arranca duas pernas e te dá uma muleta, mas a muleta é velha e quebrada. Mauá é uma cidade que valoriza a cultura, mas a cultura que vem de fora! Trazem inúmeros artistas para o teatro mas negam o básico aos artistas locais, não há água na Casa do Hip-Hop, não há apoio da prefeitura para os espetáculos, os professores trabalham muitas vezes de graça para concluir projetos e o secretario de cultura ainda tem o cinismo de discursar sobre as oficinas sem nunca ter aparecido nos locais em que elas funcionam! As aulas não são recreativas, são aulas sérias, muita coisa boa já nasceu das oficinas, o espetáculo “Una – Dedicado a Todas as Outras” é uma delas, encenada pelo “Coletivo Rubra” a peça teatral nasceu nas oficinas, já foi apresentada em festivais, e até trouxe a escritora britânica do livro que deu origem à peça, para Mauá, e essa escritora realizou oficinas de desenho, rodas de conversa e palestras gratuitas para os mauaenses!

Se você entrar em qualquer página da cultura de Mauá, certamente encontrará boas publicidades das Oficinas, mas não se engane, o governo também tem publicidades boas de vez em quando.

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