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terça-feira, 23 de abril de 2024

O Império Britânico e o Genocídio Paraguaio

Jornal A Verdade, edição nº 222, novembro de 2019, Página 11.

Gabriel Borges e Queops Damasceno


Capa: Thales Caramante/Jornal A Verdade

SÃO PAULO – As Edições Manoel Lisboa lançaram recentemente o livro “O Império Britânico e o Genocídio Paraguaio”, de Wanderson Pinheiro, membro do Diretório Nacional da Unidade Popular (UP).

Em um amplo debate sobre a guerra realizada pela Tríplice Aliança – Brasil, Argentina e Uruguai – contra o povo paraguaio, Wanderson traz para o centro do debate a questão do Imperialismo e de como a Inglaterra operou para sair como principal beneficiada com o confronto, mesmo sem ter colocado seus soldados na América.

O livro revela, por exemplo, que, ao passo que internamente os povos iam se organizando para lutar pela libertar seus países das Coroas Espanhola e Portuguesa, a Inglaterra ia agindo para influenciar nas disputas internas, cumprindo papel crucial no processo de independência das antigas colônias. Visando a derrubar as barreiras que as antigas metrópoles impunham aos interesses capitalistas ingleses na região, o Império Britânico apoiou e financiou grupos dominantes regionais, para, enfim, manter dependentes e clientes os países libertos.

O apoio a facções golpistas utilizado pelos ingleses no século XIX nos ensina que é muito antiga a prática da dominação indireta e nos alerta para as intervenções imperialistas ocorridas em nosso continente no século XX e neste início de século XXI. Melhor ilustração não há atualmente do que a tentativa dos EUA de dominar a América Latina através de governos títeres, seja manipulando o voto, como no caso de Bolsonaro no Brasil, seja via golpe, como o que derrubou, há alguns anos, o padre Fernando Lugo da Presidência do Paraguai ou como tentou recentemente o fracassado Juan Guaidó, na Venezuela.

Ao contrário de outros autores, Wanderson combate a ideia de que a Inglaterra se manteve neutra e defendia uma solução pacífica para o conflito no Paraguai. Através da apresentação abundante de documentos, o livro deixa evidentes os intentos dos agentes britânicos que buscavam impedir o povo paraguaio de construir um modelo soberano e independente na região.

Contudo, a despeito do imperialismo da época, os paraguaios seguiram seu caminho. Desde sua independência, rebelaram-se contra os argentinos que queriam transformar o país numa província sua. E foram longe nisso: expropriaram a burguesia agrária de Buenos Aires vinculada ao capital financeiro.

Privado de acesso aos portos, o Paraguai investiu firme na agricultura e o Estado monopolizou as terras dos antigos latifundiários argentinos, arrendando-as a baixo preço. O comércio exterior era de hegemonia estatal, a produção de algodão e de erva-mate era crescente, as importações eram pagas sem contração de dívidas e até mesmo uma grande estrada de ferro estava sendo construída pelo Estado apenas com recursos internos. 

Em comparação, naquele mesmo momento no Brasil e na Argentina, as companhias ferroviárias britânicas eram quem financiavam os transportes a preços superfaturados e recebiam a posse das terras ao redor dos trilhos.

Wanderson mostra que, na sua forma neocolonial, o imperialismo exerce a agência nos assuntos da nação dependente por meios indiretos, que o modelo independente liderado por Solano López era uma “pedra a ser removida”, e que não seria a Inglaterra que ocuparia diretamente aquele território. Ao final do massacre, as classes dominantes brasileira e argentina tomaram parte no espólio de guerra e na partilha do território à custa de muito sangue do seu povo e do povo vizinho. Ainda assim, quem mais saiu ganhando foi a própria Inglaterra, que financiou o conflito e contribuiu para aumentar estratosfericamente a dívida externa de Brasil, Argentina, Uruguai e do próprio Paraguai – agora destruído. Tanto hoje quanto ontem, na guerra que os imperialistas empurram países dependentes contra seus vizinhos, nada se tem a ganhar a não ser o aprofundamento da dependência.

Os resultados da agressão contra o Paraguai são muito significativos: 80% da população adulta masculina do Paraguai foi morta; as terras do Estado foram privatizadas; a estrada de ferro que estava sendo construída foi entregue aos estrangeiros; o Paraguai perdeu territórios e seguiu estrangulado sem acesso ao mar; foi imposto um novo governo títere dos estrangeiros após o covarde assassinato de Solano López. 

O livro “O Império Britânico e o Genocídio Paraguaio”, sem dúvidas, é leitura obrigatória para todos os revolucionários que buscam entender a história da dominação imperialista em nosso continente.

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