Redação Piauí e Isabella Alho
Jornal A Verdade
A programação da formação de quarentena do Jornal A Verdade debate nesta semana o “Marxismo e as Cidades”. Estudo fundamental para uma leitura materialista do desenvolvimento das cidades capitalistas, das consequências para os trabalhadores e das propostas para a superação destes espaços.
Habitações sem saneamento básico, famílias morando nas ruas, alto preço dos aluguéis, transportes em péssimas condições, violência urbana, são, dentre outros, problemas de diversas cidades do mundo. Essas questões urbanas enfrentadas pelos trabalhadores foram e tem sido motivo de diversas grandes manifestações e protestos Brasil afora. À exemplo das jornadas de junho de 2013 pelo passe livre no Brasil e da luta contra a violência policial mais recentemente nos Estados Unidos.
Neste sentido indicamos o livro de Friedrich Engels, “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra” e citamos uma breve passagem:
“A situação da classe operária é a base real e o ponto de partida de todos os movimentos sociais de nosso tempo porque ela é, simultaneamente, a expressão máxima e a mais visível manifestação de nossa miséria social.”
As cidades são os grandes palcos onde acontece a luta entre uma classe rica e uma classe empobrecida. É andando pela cidade que enxergamos mais nitidamente o grande abismo que existe entre a maioria trabalhadora e uma minoria rica. Entre os 4 milhões de brasileiros que não tem banheiro em sua residência e os militares que ocupam cargos no Governo Bolsonaro e realizam imensos banquetes.
Mesmo sendo essa imensa maioria de trabalhadores que produz tudo o que existe nas cidades, é somente essa minoria rica que consegue acessar moradia digna, água potável, segurança, transporte de qualidade, etc.
Com o objetivo entender essa sociedade desigual, Marx e Engels dedicaram suas vidas a descrever o funcionamento do sistema capitalista baseado na propriedade privada dos meios de produção bem como de propor a construção material de uma saída.
De acordo com a teoria marxista do espaço urbano, os problemas das cidades são reflexo de um problema maior, a crise do sistema capitalista. Isso significa que para superarmos os problemas urbanos será necessário superarmos o sistema de produção baseado na propriedade privada. Não será através da lógica de mercado que os trabalhadores atingirão universalmente o direito humano de morar dignamente. É o que Engels trata bastante profundamente em seu livro “Sobre a Questão da Moradia”, escrito em 1872, onde diz:
“Para pôr um fim a essa escassez de moradia só existe um meio: eliminar totalmente a espoliação e a opressão da classe trabalhadora pela classe dominante.”
É necessário, portanto, que os trabalhadores caminhem no sentido de construir novas sociedades que produzem novas cidades. Cidades mais justas, onde todas as casas vazias poderão abrigar famílias que passam frio e fome nas ruas, como propões Engels também nos livros já citados, “Sobre a Questão da Moradia”:
“Naturalmente, isso só poderá ser feito mediante dos atuais possuidores, ou então mediante a acomodação, nessas casas, de trabalhadores sem teto ou trabalhadores aglomerados nas moradias atuais; assim que o proletariado tiver conquistado o poder político, essa medida exigida pelo bem-estar público terá sua execução tão facilitada quanto outras expropriações e acomodações feitas pelo Estado atual.”
É com esse objetivo que diversos movimentos sociais realizam ocupações em espaços ociosos. À exemplo do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) que, há 20 anos, faz de terrenos e prédios vazios moradia digna para trabalhadoras e trabalhadores e polos de resistência para enfrentar o fascismo e, através do poder popular, construir o socialismo como apresentado no livro do MLB, “Morar Dignamente é um Direito Humano: Propostas do MLB para a Reforma Urbana”, um documento atualizado, onde apresenta as graves contradições da realidade brasileira, explicando toda a origem do processo de urbanização, a necessidade de uma reforma urbana e quais devam ser as características de uma reforma que passam realmente produzir mudanças importantes para a classe trabalhadora. Segue um relato do livro:
“As cidades brasileiras são profundamente marcadas pelas desigualdades sociais entre ricos e pobres, refletindo, assim, a divisão da sociedade em classes. A luta entre essas classes ‒ a burguesia e o proletariado ‒ é o que define a construção do espaço urbano em nosso País. Dessa forma, o debate sobre reforma urbana e direito à cidade não pode ser desligado da luta contra o atual sistema capitalista e pela construção de uma nova sociedade, o socialismo.”
Dito isso, esperamos que o programa de formação dessa semana incentive todos os companheiros leitores a enxergarem o espaço urbano de maneira diferente, a atentarem-se no potencial revolucionário das periferias do país e a inspirar-se na luta pelo socialismo do povo sem-teto do MLB.
Desde já convidamos nossos leitores para participar do próximo “Marxismo em Debate”, com este tema na próxima segunda (21) às 19h, no canal do Jornal A Verdade no Youtube.