“O trabalho da Polícia Militar é garantir a paz de uma classe enquanto extermina a outra”

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GENOCÍDIO – Polícia militar promove verdadeiro genocídio contra a população negra, jovem e trabalhadora de São Paulo. (Foto: Reprodução/Jornal A Verdade)
Foram 435 pessoas mortas pela Polícia Militar em serviço neste ano contra 358 do ano passado. Também cresceu o número de vítimas de policiais militares de folga. Em 2019, foram 56 e agora são 63.
Victor de Brito

SÃO PAULO (SP) – O número de pessoas mortas por policiais militares no estado de São Paulo cresceu 21% no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2019, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP).

Uma pandemia assola o Brasil e o mundo, enquanto mais descasos são relatados nas periferias da cidade. Com esses números e crescimentos da violência, vemos qual a prioridade policial: “garantir a paz de uma classe enquanto se extermina a outra.”

O Jornal A Verdade entrevistou Renato, estudante na zona leste, filho de um trabalhador assassinado que nos contou o caso de seu pai, que provavelmente pode ter sido morto por um tenente reformado da Polícia Militar.

Conte-nos um pouco sobre como tudo aconteceu

“Em 04 de Junho deste ano, por volta das 17h00 recebi uma ligação do 62º Distrito da região de Ermelino Matarazzo. Na linha estava um dos policiais responsáveis pelo plantão, ele me questionou se eu ‘era filho do Sr. Jaime Fiuza da Silva’. Na hora soube que algo havia acontecido, porém, como filho me reservei e tentei acreditar que podia ser engano, mas não era, ele me informou que meu pai foi vítima de uma bala perdida resultante de um assalto na feira próximo de sua casa.

Na ligação, disse que meu pai ainda estava vivo, porém, em estado grave no Hospital Santa Marcelina. Ele solicitou que eu fosse até a delegacia levar um documento do meu pai, pois, no momento em que ele levou o tiro ele estava somente com a cópia do seu RG.

Quando encerrei a ligação, entrei em contato com meus irmãos e tios para informar o que tinha acontecido. Depois, liguei no celular do meu pai e uma das assistentes sociais do hospital atendeu, ela falou que meu pai estava em estado grave na UTI.

Sai de casa e fui até o hospital, durante o trajeto a mesma assistente social com a qual tinha falado me deu a notícia que meu pai havia falecido.

Quando cheguei ao hospital resolvi os tramites necessários, sem ter ainda informações sobre o que de fato tinha acontecido. Acredito que por volta da meia-noite, fui até a delegacia e falei com o policial que tinha me ligado. Ele me informou que aconteceu um assalto na feira e neste momento havia um policial à paisana que fazia a segurança do local. Na tentativa do assalto houve uma troca de tiros e meu pai foi alvejado, mas não podia me informar quem foi o autor da bala fatal: se os bandidos ou o policial.

Após alguns dias da morte do meu pai, me dirigi a delegacia para procurar entender o processo investigativo. Fui recebido por um delegado que me informou que a investigação já tinha sido aberta.

Passaram-se mais alguns dias, voltei novamente até a delegacia com minha irmã e algumas coisas já estavam andando: foram ouvidas algumas testemunhas e os policiais haviam ido até o local para fazer um levantamento de informações. Foi passado a nós que seria necessário um exame de balística para comparação, pois tinha sido retirado um projétil da cabeça do meu pai, e através desta comparação é possível saber se o disparo fatal saiu da arma dos bandidos ou do policial. Fui informado que haverá uma reconstituição do ocorrido, porém sem data marcada.”

ALVOS MARCADOS – Assim como o pai de Renato, os principais alvos da Polícia Militar são negros, trabalhadores e moradores de bairros populares. (Foto: Reprodução/Márcia Foletto)

Até o momento, o Jornal A Verdade foi informado apenas sobre três fatos: foram feitos três disparos da arma do policial, algumas testemunhas disseram que foram disparados cerca de seis tiros e, para finalizar, o policial em questão é um tenente reformado.

Qual foi a maior dificuldade depois do ocorrido?

“A grande dificuldade é falta de informações, quando fui ao necrotério fui informado que o laudo demora de seis meses, ou até um ano inteiro para ficar pronto. Não há fila de espera, qualquer outro caso pode passar na frente. Acredito que este caso tem uma grande chance de passar impune…”