Em sua primeira eleição, a Unidade Popular terá 69,9% de seus candidatos e candidatas negros. Num país marcado pelo racismo e a exclusão do povo negro dos espaços de poder, esse dado não é qualquer coisa.
Brenner Oliveira
RIO DE JANEIRO (RJ) – A Unidade Popular pelo Socialismo (UP) é o partido com maior número de candidaturas negras que disputarão as eleições municipais este ano, segundo levantamento divulgado hoje (28) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao todo, 69,9% dos candidatos e candidatas lançados pelo partido são autodeclarados negros ou negras.
“Essa será a primeira eleição disputada pela UP, um partido construído nas ruas, praças, bairros, ocupações, fábricas, universidades e trens, e nascido da luta da classe trabalhadora e do povo pobre contra a exploração capitalista, que se manifesta, entre outras formas, pelo racismo existente em nossa sociedade”, afirma Leonardo Péricles, presidente nacional da Unidade Popular.
Para ele, a UP leva para a disputa eleitoral as lutas populares e a disposição de uma militância que não vacilou quando foi necessário ir às ruas impedir o avanço do fascismo. “A UP foi um dos poucos partidos que participou ativamente dos atos antirracistas e antifascistas durante a pandemia, pois somos o partido daqueles que não têm o direito à quarentena, dos entregadores de aplicativo, das diaristas, dos sem-teto, dos camelôs, de quem vive na periferia, nas favelas e quebradas, e isso se reflete na composição social de nossa militância”.
Por outro lado, os partidos com a menor proporção de candidaturas negras são o PCO (15,9%) e o NOVO (18,5%), ou seja, mais de 80% de seus candidatos são brancos.
Essa será a primeira vez que a maioria dos candidatos inscritos para a disputa eleitoral não será composta por brancos. Segundo o TSE, 49,9% dos candidatos são negros, contra 47,8% autodeclarados brancos. Para termos de comparação, nas últimas eleições municipais, em 2016, 52,4% dos candidatos eram brancos e 47,8% eram negros.
Não há Capitalismo sem Racismo
Não há dúvidas que a forte presença de negros e negras entre os candidatos da Unidade Popular é um fato de grande importância, pois revela um despertar de consciência revolucionária e classista do povo negro, especialmente das mulheres e jovens, principais alvos do genocídio do qual nosso povo vem sendo vítima há 520 anos. Esse mesmo povo, que no passado se rebelou contra a escravidão, hoje vai percebendo aos poucos que é preciso não baixar a cabeça e seguir o caminho de Zumbi, Dandara, Luisa Mahin, João Cândido, Maria Felipa, Marighella, Manoel Aleixo e tantos outros heróis e heroínas negras de nossa história.
Por isso, a UP se apresenta como o partido da maioria dos trabalhadores negros, dos herdeiros da luta dos quilombos, da luta radical contra o racismo e contra a exploração. Nossa luta é pela completa abolição da exploração, e só poderá triunfar quando derrotarmos o sistema capitalista que mantém intactas as bases do racismo brasileiro e construirmos o socialismo como a única alternativa possível de libertação do nosso povo.