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quinta-feira, 28 de março de 2024

Movimentos sociais se levantam contra fraude eleitoral no Equador

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OUTUBRO – O espírito das lutas de outubro se manifestaram no cenário eleitoral no Equador. (Foto: Reprodução/Reuters)
Atas de contagem fraudadas, principalmente na região de Guayaquil, retiraram o candidato Yaku Perez e colocaram o banqueiro Guillermo Lasso no segundo turno. Partidários de Rafael Correa e da direita respaldam a fraude eleitoral.
Sandino Patriota

SÃO PAULO (SP) – Logo após o dia 7 de fevereiro, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador anunciou, como resultado da contagem rápida, a presença de Yaku Perez, do partido Pachakutik, e Andrés Arauz, do partido Centro Democrático apoiado por Rafael Correa, no segundo turno eleitoral a se realizar no mês de abril. A contagem de votos realizada pelo mesmo CNE, no entanto, virou a mesa e retirou Yaku do segundo turno, beneficiando o banqueiro Guillermo Lasso, do partido Creo.

O Conselho Nacional Eleitoral do Equador não é um órgão independente, mas controlado politicamente por funcionários partidários em cada região. Este controle político é uma das heranças dos 10 anos de correísmo. No caso de Guayaquil, epicentro da fraude, o CNE é controlado por funcionários ligados ao Partido Social Cristão. Foi nesta região que a tendência da contagem foi invertida a partir do momento em que 90% dos votos foram computados. Em Guayas, mais de 60 atas foram computadas com 0 votos para Yaku, enquanto havia votos para todos os outros 15 candidatos.

Também é preciso destacar que em muitos locais de votação a ata original de contagem rápida, que permite a comparação com a ata final, foi extraviada exatamente após a suspensão da contagem em Guayas. Também os fiscais ligados à campanha de Yaku foram impedidos de acompanhar a recontagem das atas nesta região.

A verdade é que se conformou um acordo entre Rafael Correa, Guillermo Lasso e o prefeito de Guayaquil, Jaime Nebot, para impedir a ida de Yaku ao segundo turno. Neste acordo, coube a Nebot operar a Fraude, e aos correístas e Lasso respaldá-la.

A pressão popular que ocupou as ruas frente aos locais de contagem dos votos, inicialmente, fez o CNE recuar e anunciar, em uma reunião pública com a presença de Lasso e Yaku, a recontagem dos votos em Guayaquil e mais 16 províncias, todos locais onde foram apresentadas comprovações de fraude. Mas em uma reunião com todos os 16 candidatos a presidente, a maioria se absteve ou se posicionou contra a recontagem, dando o argumento para o CNE colocar Guillermo Lasso no segundo turno, por uma diferença de pouco mais de 30 mil votos.

O repúdio à fraude eleitoral é crescente entre o povo do Equador. Qualquer um que assuma o governo a partir de abril estará à frente de um governo fraco e ilegítimo. A participação das forças revolucionárias no processo eleitoral permitiu desmascarar a fraude e preparar as forças populares para um novo processo de mobilizações, em uma qualidade superior.

CHAMADO ÀS RUAS – Movimentos populares de esquerda chamam o povo equatoriano às ruas para combater o correísmo. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

A liderança de Yaku Perez e a construção de um campo da esquerda revolucionária

Logo após ao anúncio do grande desempenho eleitoral do campo da esquerda revolucionária no Equador, e da candidatura de Yaku Perez em particular, uma campanha internacional de ataques e difamações foi impulsionada pelos meios ligados às chamadas forças ‘progressistas’ no continente. No interior do Equador, é uma campanha com fortes características racistas, que questiona a liderança e a própria origem de Yaku no meio indígena. Fora do Equador, trata-se de fazer colar em Yaku a pecha de golpista e aliado aos EUA, em função do não alinhamento às políticas reacionárias que foram realizadas pelos chamados governos progressistas da região. Chega-se ao ponto de ridicularizar as propostas de unificação dos princípios de defesa do meio ambiente e do socialismo, constante no programa de Minga por la vida, apresentado por Yaku. Ficaram marcados os tweets de Rafael Correa que, desde a Bélgica, advogou pela passagem de Lasso ao segundo turno.

No Brasil, esta campanha teve uma ressonância importante, promovendo a reunião inusitada de setores do PT, PCB e PCO. Esses mesmos setores, no entanto, calaram-se frente às denúncias de fraude eleitoral e apoiaram, alguns abertamente, o candidato correísta Andrés Arauz.

A verdade é que os ditos setores ‘progressistas’, que na verdade são social-democratas não assumidos, partidários da manutenção da situação de dependência, sob outros termos, dos países da região, se desesperam frente ao rompimento da situação polarização com a direita tradicional. No Equador, a luta popular foi capaz de construir uma alternativa viável de poder, verdadeiramente antiimperialista e capaz de apontar, ainda com vários limites, para a construção de uma alternativa à dominação capitalista.

Como declarou Francisco Guevara, do Partido Comunista Marxista-leninista do Equador (PCMLE): “os resultados das eleições de fevereiro de 2021 determinam uma nova correlação de forças. O povo votou pela mudança para superar a fictícia contradição entre correistas e lassistas. Mesmo estando no  segundo turno, o correísmo colheu os piores números de sua história eleitoral. O povo repudiou a prepotência e a corrupção. É evidente o pacto das elites. Correa, Nebot e Lasso querem manter a situação atual e a fraude é a terapia respiratória do sistema decadente que garante os interesses dos monopólios. Yaku ameaça o poder dos proprietários do Estado, tornando vigente as reivindicações do levantamento de outubro de 2019”.

As centenas de organizações populares que apoiam a candidatura de Yaku decidiram responder nas ruas à fraude eleitoral, organizando um processo de levantamento popular. A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) convocou uma marcha que percorre todo país, e que culminará em Quito no próximo dia 23 de fevereiro. Vão exigir a recontagem dos votos em todas as províncias com denúncias de fraude, especialmente em Guayaquil.

Estas mesmas organizações, juntamente com o partido Unidade Popular e Pachakutik, decidiram denunciar o processo eleitoral e não apoiar nem Lasso nem Arauz em um segundo turno. É uma decisão fundamental, que marca a independência do campo da esquerda revolucionária, preparando ações de luta popular ainda mais fortes no futuro.

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