Após 20 anos de ocupação imperialista, EUA perdem guerra mais longa de sua história e fogem do Afeganistão. Milícia reacionária fundamentalista Talibã retoma o poder e reinstitui teocracia ditatorial. Conheça as origens do Talibã e dos motivos da invasão dos EUA e sua derrota.
Davi Dias
CAMPOS DOS GOYTACAZES (RJ) – Ontem (15) chegou ao fim a ocupação imperialista dos EUA no Afeganistão. Após 20 anos de guerras e massacres provocados pelo imperialismo estadunidense e seus aliados, o presidente do Afeganistão abandonou o país perante um avanço fulminante do movimento fundamentalista Talibã.
O Talibã é um movimento fundamentalista e reacionário, que surgiu “oficialmente” em 1994, mas seus antecedentes vem muito antes. Financiados no começo pelos EUA e seus aliados acabaram se voltando contra seus patronos e apoiando grupos terroristas como a Al-Qaeda, também patrocinada pelos EUA na sua fundação.
As origens do Talibã
Em 1978 o Afeganistão passou por um processo revolucionário socialista conhecido como “Revolução de Saur”. O novo governo iniciou uma série de reformas progressistas. Foram feitas a reforma agrária e políticas de emancipação feminina, encorajando mulheres nas universidades e no mercado de trabalho.
Essas reformas enfureceram os setores mais reacionários do Afeganistão, sobretudo os latifundiários, os chefes tribais e o clero islâmico que criaram milícias. Os EUA, de Ronald Reagan, e o Reino Unido, de Margareth Thatcher, passam a apoiar as milícias fundamentalistas. Para isso, eles contaram com seus aliados, como Arábia Saudita e Paquistão, para formar uma ampla rede de apoio aos terroristas. A chamada Operação Cyclone deu mais de 1 bilhão de dólares aos fundamentalistas. O Irã dos Aiatolás também deu apoio material as facções Xiitas dos Mujahideen (como eram chamadas as milícias fundamentalistas).
Os EUA forneceram diretamente aos terroristas armas para enfrentar o governo afegão. Os terroristas ainda lucravam milhões produzindo plantações de papoula para o tráfico internacional de ópio, o que causou uma explosão no uso de heroína e ópio nos anos 80 e 90. Para a causa terrorista, os EUA e seus aliados financiaram e treinaram milhares de voluntários jihadistas de outros países muçulmanos que vieram ajudar na luta – entre eles um rico jovem saudita chamado Osama Bin Laden. A indústria cultural dos EUA ajudou os terroristas em sua causa, com eles sendo tratados como heróis no filme Rambo III.
A guerra se tornou muito custosa para a URSS, que também vivia uma crise imposta pelas orientações revisionistas e pró-capitalistas de Gorbachov. Os soviéticos se retiraram em 1989, deixando o governo socialista afegão resistindo por mais 3 anos antes de cair para os fundamentalistas.
Guerra civil e o governo reacionário do Talibã na década de 1990
As várias facções fundamentalistas passaram a combater entre si para conquistar o poder, gerando uma nova guerra civil. Os vencedores dessa guerra foi a milícia Talibã, formada por estudantes radicalizados das escolas sauditas em território paquistanês (“Talibã” vem da palavra persa Talib, que significa “estudante”). Armados com as armas deixadas pelos EUA, pelos soviéticos e principalmente armados e financiados pelo Paquistão, conquistam a capital Cabul em 1996.
O governo dos Talibãs ficou conhecido pela sua interpretação reacionária da Lei Islâmica. TVs, música, filmes, pipas e esportes foram banidos. Mulheres e meninas foram proibidas de estudar, trabalhar e sair de casa sem um acompanhante homem, minorias religiosas foram perseguidas e os Budas de Bamyan – estátuas milenares de Buda do século 6 – foram explodidas por serem consideradas “idolatria”.
O Talibã ainda permitiu que terroristas que haviam lutado contra os soviéticos no Afeganistão, como o notório Osama Bin Laden e sua recém-formada Al-Qaeda (que havia sido fundada com ele por ex-Mujahideen patrocinados pelos EUA) usassem o Afeganistão como base para ataques terroristas pelo mundo.
A ocupação fracassada do imperialismo estadunidense
Em 11 de Setembro de 2001, os EUA sentiam em seu território o preço de apoiarem terroristas reacionários. O que se seguiu foi uma invasão militar da OTAN, com bombardeio do Imperialismo. 174 mil afegãos morreram nesta invasão, que contou com bombardeios de aviões e drones, além de inúmeros massacres. O povo afegão continuou pobre e miserável, e mesmo sem o Talibã o Afeganistão continuou estando entre os piores países do mundo para ser mulher nas listas da ONU e outras organizações internacionais.
O Talibã, embora fora do poder, continuou sobrevivendo em áreas rurais, onde travou uma luta de guerrilha. Além disso, continuaram sendo financiados por políticos, militares e empresários poderosos do Paquistão, Qatar, Arábia Saudita e Emirados Árabes, assim como pelo narcotráfico de ópio e heroína.
Osama Bin Laden foi morto em 2011 no Paquistão, numa casa distante a apenas alguns metros da principal Academia Militar do país. Os EUA gastaram trilhões de dólares nesta guerra, enquanto o povo do país penava por um sistema de saúde privado absurdamente caro. Destes, 88 bilhões foram gastos para formar e treinar um novo Exército afegão para combater os Talibãs – que os venceram em apenas um mês.
Derrota imperialista no Afeganistão
O imperialismo estadunidense e europeu foi derrotado pelos monstros que criou. O Afeganistão está localizado numa região estratégica da Rota da Seda, e embora não tenha grandes reservas de petróleo, possui reservas de minerais preciosos que chegam a trilhões de dólares. Tudo isso fez do país um objeto de desejo para vários Impérios.
Os imperialistas sempre castigaram os povos afegãos patrocinando o terrorismo e as guerras civis. Graças aos EUA e suas ditaduras aliadas, por 40 anos o povo afegão experimentou a guerra, o sofrimento, a fome, a doença, a corrupção, a opressão, o machismo e a miséria. Para os afegãos, que agora voltará a ser governado pelos Talibãs criados pela CIA, foi um horrível fracasso. Já para os que enriqueceram com a desgraça do país asiático – chefes terroristas, traficantes, empresários, políticos e generais dos países imperialistas e seus aliados – a Operação foi um sucesso.