“Stálin enxergava o movimento Stakhanovista como uma importante etapa desse processo pois se tratava de operários na base da produção plenamente conscientes de seu papel histórico, dotados da expertise para o manejo da tecnologia e devotados a construção do socialismo.”
Douglas Oliveira
SÃO JOÃO DE MERITI (RJ) – O êxito do Primeiro Plano Quinquenal soviético (1928-1932) foi concomitante com uma grande crise das economias capitalistas que foi chamada de Grande Depressão (1929-1939). A sociedade soviética passou por grandes transformações que foram necessárias para o sucesso da industrialização; a eletricidade, indústrias e as máquinas varreram rapidamente o bucolismo rural do cotidiano e o país tornou-se urbano e industrial.
Alexei Stakhanov nesse momento tinha 26 anos e estava imerso neste contexto político de um trabalho que primava pelo conhecimento racional do processo produtivo com uso e domínio de máquinas. Sabia que os modelos primitivos que ainda prevaleciam nas minas de carvão não eram as adequadas ao socialismo e, inspirado pelo avanço da industrialização percebia que com o domínio da técnica moderna poderia se alavancar a produção de forma extraordinária. Foi assim que no 30 de agosto de 1935 em um turno de 6 horas ele extraiu um recorde de 102 toneladas de carvão, quase 15 vezes a cota padrão de 7 toneladas por turno. Isso foi possível por que Stakhanov estava munido de conhecimentos adquiridos em um curso técnico e conseguiu substituir o seu instrumento de trabalho. Era um operador, usava britadeira em detrimento da tradicional picareta. Isso requeria muita expertise e força física do trabalhador tendo em vista que o instrumento pesava em média 15 quilos. O exemplo do camarada Stakhanov foi publicado no Pravda e inspirou todos os trabalhadores. Um mês depois ele quebrou o próprio recorde, produzindo 227 toneladas em um turno e foi homenageado com a capa da revista americana Time.
O então simples minerador de carvão tornou-se conhecido no mundo inteiro. Na União Soviética em particular os trabalhadores se mobilizavam em torno de seu exemplo e nascia o movimento stakhanovista. Os operários inspiravam-se no esforço pessoal e comprometimento do camarada Stakhanov e os stakhanovistas emergiam em todos os setores da indústria, por toda União Soviética. Cada dia o movimento crescia mais e moldava um novo tipo de trabalhador, o operário stakhanovista que dominava a tecnologia e se empenhava para não só cumprir a meta como superá-la em muito.
O crescimento desse movimento culminou no Primeira Conferência de Stakhanovistas em 17 de novembro de 1935 que foi encerrada com um discurso do camarada Stálin que estava lá para prestigiar os heroicos trabalhadores stakhanovistas.
O camarada Stálin em seu discurso fez uma apreciação do significado daquele movimento não só para o desenvolvimento do socialismo, como para a história em geral. Apesar de admitir que o movimento stakhanovista seria inconcebível sem o avanço da industrialização e da técnica moderna, o camarada Stálin explica que isso não encerra as suas particularidades. A base mesma para o movimento Stakhanov foi a melhoria radical do bem estar dos trabalhadores. Enquanto nos países capitalistas predominavam o desemprego, a miséria e a falência com a crise de superprodução, na União Soviética o governo do proletariado criava as condições materiais para o desenvolvimento de uma vida próspera para o povo. Segundo o camarada Stálin se houvesse desemprego e classe trabalhadora vivesse mal, sem alegria, não haveria o movimento stakhanovista.
Em segundo lugar, o movimento stakhanovista foi possível devido a abolição da exploração dos trabalhadores. Os turnos eram menores e não se trabalhava para enriquecer um pequeno grupo de parasitas burgueses, mas para fortalecer a sua classe, para a sociedade soviética. O trabalhador não é valorizado no capitalismo, enquanto que no socialismo ele é estimado como um herói.
Somente como terceira fonte o camarada Stálin coloca o domínio da tecnologia. Isso porque sem a técnica moderna, a eletricidade, os moinhos e fábricas, as máquinas, ferrovias e ferramentas não seria possível o movimento stakhanovista. Isso porque somente com a britadeira, que necessita de um trabalho especializado para ser manejada, foi possível superar a meta produtiva em 14 vezes, depois em 25 vezes, e aí por diante. O stakhanovista guarda uma relação orgânica com a técnica e simboliza a relação homem-máquina (a relação entre o trabalhador e o instrumento de produção) idealizada pelo partido. Mas é possível haver tecnologia de primeira linha e não ter os quadros especializados para manejá-la? Para o camarada Stálin esses quadros técnicos especializados, os novos homens e mulheres trabalhadores do socialismo que dominaram a tecnologia constituem a força que moldou e avançou o movimento stakhanovista. Com essas novas pessoas, emerge um novo padrão técnico e produtivo.
O camarada Stálin também elogia nos operários vanguardistas do movimento stakhanovista a ousadia e coragem para enfrentar os administradores e engenheiros apegados às antigas formas de trabalhar. Para Stálin esse movimento constituiu um avanço qualitativo, uma explosão e faz analogia com uma barragem que se rompe. A barragem que impedia o movimento de crescer eram esses padrões arcaicos de produção e as pessoas que o defendiam. Os trabalhadores stakhanovistas, para prevalecer, tiveram que lutar contra o conservadorismo de alguns gerentes de fábricas que não conheciam outros meios de produzir que não os do passado. Essa característica em particular do movimento encantava bastante o camarada Stálin que enxergava aí um grande avanço para liquidar a contradição entre trabalho intelectual e manual, aumentar a produtividade do trabalho, o que é uma etapa importante para a construção do comunismo. O comunismo para o camarada só é alcançável quando o nível cultural e técnico da classe trabalhadora é alto o suficiente para liquidar a distinção entre trabalho intelectual e mecânico, e a produtividade do trabalho é capaz de fornecer uma abundância absoluta de artigos para produção e consumo. Stálin enxergava o movimento Stakhanovista como uma importante etapa desse processo pois se tratava de operários na base da produção plenamente conscientes de seu papel histórico, dotados da expertise para o manejo da tecnologia e devotados a construção do socialismo. O fim da contradição entre trabalho intelectual e manual então viria elevando o nível cultural e técnico desses trabalhadores ao nível dos engenheiros, administradores e gerentes. E o camarada Stálin estava completamente convicto dessa possibilidade pois os trabalhadores stakhanovistas continham em si os indícios dessa elevação cultural e técnica.
O exemplo dos heroicos trabalhadores stakhanovistas serve ainda hoje de inspiração não só para os operários revolucionários e comunistas, mas ironicamente também para os gerentes de recursos humanos e administradores. Sedentos por inovações produtivas os capitalistas projetam em Stakhanov o modelo de trabalhador – abstraído de todo contexto que o formou. A verborragia dos gerentes ocidentais é repleta de “paixão”, “inovação”, criatividade”, chamam coachs e promovem palestras e dinâmicas motivacionais que falham no objetivo de engajar os trabalhadores. Isso por que apesar de todo discurso os trabalhadores continuam submetidos a rotinas de trabalho estafante, além do que seu trabalho será para enriquecer o seu patrão e nada mais. No mundo capitalista os preços aumentam a cada plano econômico reduzindo a qualidade de vida dos trabalhadores que sabem que a cada crise o seu emprego está ameaçado. O fenômeno do movimento stakhanovista está plenamente assentado sobre o conjunto de fatores que o camarada Stálin definiu e não pode ser reproduzido sob as condições do capitalismo.