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domingo, 24 de novembro de 2024

Generais fascistas transformam o Exército em fiscal da campanha de Bolsonaro

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Da Redação


EDITORIAL – Há muito que os trabalhadores e as trabalhadoras se perguntam o que as Forças Armadas fazem com os imensos recursos públicos que recebem da Nação. Nem poderia ser diferente, afinal, entre 2019 e 2022, as Forças Armadas gastaram R$ 33,5 milhões em recursos públicos com a compra de 11,2 milhões de comprimidos de Viagra. Porém, mais do que os gastos das Forças Armadas, as ações políticas dos generais, brigadeiros e almirantes ajudam a esclarecer a questão. Vamos a algumas delas.  

Não é segredo para ninguém que os partidos do Centrão queriam indicar o vice na chapa do capitão da reserva Jair Bolsonaro. Mas o Alto Comando do Exército bateu o pé e indicou o então ministro da Defesa, general Braga Netto para o cargo. Tal posição deixou claro que o Alto Comando do Exército tomou partido nas eleições em favor do candidato da extrema direita, apesar de diariamente este candidato pregar o desrespeito à Constituição e às decisões soberanas da Justiça, além de convocar e participar de atos políticos que defendem o fechamento do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e uma intervenção militar, com ele, claro, no cargo de presidente.

Além de deixar explícita seu apoio a um determinado partido e indicar o candidato a vice-presdiente, as Forças Armadas permitiu que o desfile militar de 7 de Setembro fosse utilizado de forma oportunista pelo candidato da extrema direita. De fato, no Rio de Janeiro, as Forças Armadas cancelaram o tradicional desfile na Av. Presidente Vargas para realizá-lo em hora e lugar (Copacabana) que Bolsonaro marcou seu comício eleitoral.

Também na capital da República o desfile foi transformado em evento de apoio a Bolsonaro, o que levou os presidentes do Congresso Nacional e do STF a recusarem o convite para resguardar as instituições que presidem. A transformação do desfile militar em ato de apoio dos militares ao candidato da extrema direita foi tão explícito que o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teve que proibir o uso das imagens do desfile de 7 de Setembro na propaganda eleitoral do candidato do Centrão.

Um dia antes do desfile, em 6 de setembro, o ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira , compareceu com Jair Bolsonaro a uma missa numa igreja católica situada num bairro nobre de Brasília. O objetivo não foi confessar os pecados, mas utilizar da missa para atacar os “efeminados” e “insolentes”. Na ocasião, o general leu a seguinte parte da primeira carta de São Paulo aos Corintios: “Não vos iludais: nem imorais, nem idólatras, nem efeminados, nem pederastas, nem ladrões, nem avarentos, nem beberrões, nem insolentes, nem salteadores terão parte do reino de Deus”.

Penso eu que, ao ler a passagem, o sr. ministro da Defesa não se referia a nenhum membro da família do presidente. Mas o que levou  ao sub-chefe das Forças Armadas, o ministro da Defesa, a ler esse trecho da bíblia?  

A pergunta é inteiramente pertinente, afinal, nesta mesma bíblia, encontramos em Matheus 19: 23-30 a seguinte mensagem de Jesus aos discípulos: “Em verdade vos digo, dificilmente um rico entrará no reino dos Céus. E digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino de Deus”. 

O general, portanto, desprezou as palavras de Jesus e ficou com as de Paulo. Por quê? 

A explicação é simples: a ideologia do general Paulo Nogueira Batista é de extrema direita, ou seja, ele é contra a que sejam os explorados e oprimidos que decidam os rumos do país, acredita piamente que somente uma minoria, a elite, tem capacidade para escolher quem é o melhor candidato para presidir o país. Nem sequer aceita que cada ser humano tenha o direito de decidir sua orientação sexual. Essa ideologia não é nova no nosso país nem no mundo, é a mesma que Mussolini e Hitler defenderam e que justifica até hoje o golpe militar fascista de 1964, que, depôs pelas armas um presidente eleito pelo voto popular, João Goulart. É a ideologia da censura à imprensa, do “prendo e arrebento”, da repressão às greves dos trabalhadores e do desrespeito aos direitos humanos. 

Tem mais: diversas matérias na grande imprensa nos últimos dias revelaram o plano dos militares para realizar uma apuração paralela das eleições. Pasmem, mas é isso mesmo, as Forças Armadas se autoproclamaram poder fiscalizador da Justiça Eleitoral. De acordo com o editorial da Folha de São Paulo, de 13 de setembro, o plano do Ministério da Defesa é destacar centenas de oficiais afinados com o pensamento do Alto Comando para fotografar os boletins impressos pelas urnas de várias seções eleitorais no dia da votação e compará-los com os documentos que serão disponibilizados pelo TSE no mesmo dia. Após essa verificação, as Forças Armadas dirão se houve fraude ou não. Além de se constituir num ato de desrespeito ao TSE e aos seus funcionários e técnicos, é uma atitude bastante suspeita, uma vez que o Alto Comando do Exército decidiu não só apoiar o aloprado como indicar um general para ser o vice da chapa da extrema direita.  

Lembremos o que ocorreu na Bolívia, em outubro de 2019:  o candidato do Movimento para o Socialismo (MAS), Evo Morales, venceu com folga as eleições presidenciais. Os partidos da extrema direita e as Forças Armadas se recusaram a aceitar o voto do povo boliviano e espalharam fake news dizendo que houve fraude nas eleições. Nenhuma prova foi exibida, mas o ministro da Defesa e os comandantes militares promoveram um golpe militar e afastaram Evo Morales da Presidência. Milhares de pessoas foram presas, dezenas assassinadas e as casas de Evo Morales, de sua irmã e de vários membros do MAS foram incendiadas. Após dois anos de muita luta, greves e vigorosas manifestações, os militares golpistas, que receberam apoio da CIA, foram derrotados e uma nova eleição foi realizada. O MAS venceu novamente as eleições e a extrema direita e seu candidato foram repudiadas nas ruas e nas urnas. O comandante das Forças Armadas durante o golpe, Williams Kaliman fugiu para os Estados Unidos e o ex-ministro da Defesa, Fernando López, acredita-se que esteja clandestino no Brasil.

Fica a pergunta: As Forças Armadas esperam repetir no Brasil o que os mandos militares fascistas bolivianos realizaram naquele país?

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