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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Dois filmes para entender a história da América Latina

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Jorge Ferreira | São Paulo (SP)

Milhares de brasileiros foram às ruas nos últimos dias para exigir prisão aos vândalos fascistas que depredaram o patrimônio público no dia 8 de janeiro, em Brasília. Documento apreendido na casa do ex-Ministro da Justiça de Bolsonaro, revelou ainda que o plano dos bolsonaristas era anular as eleições e dar um golpe de estado, substituindo o Tribunal Superior Eleitoral por uma Junta Militar. A verdade é que na América Latina, em vários momentos da história, a burguesia, aliada com o imperialismo estadunidense, usou da violência para implementar ditaduras militares e assim aumentar ainda mais a exploração dos trabalhadores. A Batalha do Chile, documentário produzido em 1975 e Argentina – 1985, filme lançado em 2022, retratam a luta do povo contra esses regimes sanguinários, pela punição dos responsáveis, por memória, verdade e justiça. 

Batalha do Chile, dividido em três partes (A Insurreição da Burguesia; O Golpe Militar; e O Poder Popular), retrata o período em que Salvador Allende, presidente eleito pela frente de organizações de esquerda Unidad Popular (UP), tenta implementar uma série de transformações estruturais na sociedade chilena de modo a diminuir a desigualdade social e melhorar as condições da maioria do povo trabalhador. Super premiado e considerado por muitos o melhor registro latino-americano desse período, escancara o boicote da burguesia sobre a economia do país para tentar derrubar o governo eleito. 

Diante da resistência nas ruas e a organização dos trabalhadores para dar conta de manter a produção nas fábricas e não sucumbir à asfixia promovida pelos ricos, o documentário mostra a violência do exército chileno, com apoio militar dos Estados Unidos, para dar um golpe de estado no país. No último episódio, uma série de entrevistas com trabalhadores nas fábricas, nos bairros populares e nos sindicatos traz à tona a consciência e disposição da maioria dos trabalhadores em lutar contra o golpe e avançar para ampliar a democracia e os direitos sociais no país, exigindo inclusive que o governo desse condições para que o povo esmagasse os golpistas. 

Já em Argentina – 1985, filme também muito premiado no último ano, tem como tema central a punição dos responsáveis pelos crimes cometidos durante a ditadura na argentina, que igualmente às ditaduras militares em outros países da América Latina, utilizou-se de torturas, sequestros, perseguições e assassinatos para submeter os trabalhadores à um regime desumano e cruel. A produção, apesar de se tratar de uma trama de tribunal e ser protagonizada pela equipe de promotores de justiça, consegue trazer à tona também toda a mobilização e anseio popular para que os criminosos generais das forças armadas fossem punidos. 

No banco dos réus, os torturadores justificavam seus crimes como uma “ação de guerra”. O promotor do caso, no histórico pedido pela condenação dos criminosos sintetizou o sentimento de milhares de famílias vítimas da ditadura: “É uma ação de guerra sequestrar indefesos? É um ato de guerra torturar e matar? É um ato de guerra invadir casas? São objetivos de guerra torturar recém-nascidos? Nada pode permitir que sequestro, tortura ou assassinatos se tornem incidentes políticos ou eventualidade de combate. O sadismo não é uma estratégia bélica se não uma perversão moral. A partir deste julgamento e da condenação que proponho, buscamos estabelecer uma paz com base não no esquecimento, mas na memória, não na violência, mas na justiça! Para encerrar, quero usar uma frase que pertence a todo o povo argentino, senhores juízes: nunca mais.”

Matéria publicada na edição nº 264 do Jornal A Verdade

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