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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

USP negligencia a moradia universitária (CRUSP) para estudantes pobres

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A falta de políticas de permanência estudantil na USP é um problema, principalmente para moradores do Conjunto Residencial (CRUSP), que sofrem com abandono e negligência.

Maria Fernanda Machado | São Paulo


JUVENTUDE – A região do Butantã, onde se localiza o campus central da Universidade de São Paulo (USP), tem um dos metros quadrados mais caros do Brasil (cerca de 9 mil reais segundo a Imóvel Guide).

Em grupos de repúblicas no Whatsapp, estudantes relatam que é raro um quarto por menos de mil reais. Mesmo assim, todos os anos a USP recebe milhares de estudantes de baixo nível socioeconômico e de regiões longínquas – dentro e fora de São Paulo.

Para esses estudantes são dadas duas opções: uma bolsa, inferior a média de aluguel da região equivalente a 800 reais, ou o direito de procurar uma vaga no Conjunto Residencial da USP (CRUSP).

É importante destacar que, em 2022, a universidade informou ao Diário Oficial que fechou o ano com quase R$6 bilhões na conta. Logo, é possível afirmar que a universidade não possui problemas relativos à falta de verba, então não há desculpa para promover uma série de melhorias nas bolsas de permanência estudantil e melhorias na moradia universitária.

Entretanto, o descaso com o CRUSP por parte da PRIP (Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento da USP) da reitoria da Universidade de São Paulo não é de hoje. Em 2019 o jornal Brasil de Fato publicou uma matéria que falava do risco diário de incêndios e explosões na moradia universitária.

Outro caso que foi denunciado mais recentemente é que, principalmente durante a pandemia do coronavírus, o Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo sofreu repetidamente com falta de água, o que alterou a rotina dos moradores que precisaram utilizar os banheiros do CEPEUSP (Centro de práticas esportivas da USP) para tomar banho.

Esses são apenas alguns dos inúmeros casos que deixam claro o abandono e a precariedade da moradia estudantil da USP.

Luta e organização fazem parte da história do CRUSP

O CRUSP possui um grande histórico de luta e organização estudantil, como a luta contra a ditadura militar, sendo a moradia da universidade e os alunos alvos da repressão. Outros exemplos são a Greve do Fogão de 1965, a ocupação do bloco G e F, entre outras mobilizações.

Esse histórico de luta se faz presente ainda nos dias atuais como em março de 2010, quando os alunos do CRUSP ocuparam a sede de Assistência Social (Corseas) reivindicando diversas pautas como: melhores condições na moradia e o término das obras do novo bloco de moradias, com atraso no prazo de entrega desde o início de 2009.

Essas ocupações resultaram na construção de um novo prédio (Bloco A1), o que demonstra o quão poderosa e necessária é a organização do movimento estudantil. Atualmente o Movimento Correnteza está organizando os estudantes que moram no CRUSP, para realizar uma cozinha solidária, que tem como intuito principal denunciar o descaso da USP com a alimentação dos “cruspianos” e lutar em defesa da janta nos finais de semana.

Porém, apesar dessas grandes mobilizações e muitas conquistas ainda existem inúmeras lutas a serem tocadas que estão relacionadas com a permanência estudantil e a moradia universitária que são extremamente negligenciadas ainda nos dias de hoje.

Os alojamentos que servem como uma moradia emergencial para o estudante que ainda não conseguiu um quarto em um apartamento no CRUSP são, muitas vezes, sujos e com diversos problemas estruturais como pias e vasos entupidos ou quebrados, superlotação e falta de colchões para todos os estudantes moradores do alojamento.

Alunos mais pobres são os mais atingidos

Quando o estudante atinge a pontuação ideal para conseguir um quarto na moradia não é direcionado para sua respectiva “casa”, é preciso que ele bata de porta em porta nos blocos do CRUSP perguntando se o apartamento possui todos os quartos ocupados.

O estudante precisa fazer um trabalho que deveria estar sendo feito pelas assistentes sociais e a reitoria. Depois disso, a pessoa que já reside no quarto deve marcar uma entrevista com o estudante caso escolha atendê-lo, sendo extremamente humilhante e constrangedor na maior parte dos casos.

Caso o estudante consiga um quarto, é importante ressaltar que assim como os alojamentos, muitos apartamentos possuem problemas estruturais, sendo a falta de mobílias necessárias, como geladeira, e problemas nas torneiras e privadas, problemas recorrentes entre diversos outros.

Esses fatores só comprovam ainda mais a negligência da universidade com os alunos mais pobres.

Embora a precariedade da moradia estudantil esteja presente na USP e em diversas outras universidades brasileiras, o papel da permanência estudantil e da moradia é de grande importância, sendo parte de uma política de reivindicação pelo direito de habitação e residência para estudantes, devendo não só abrigar os alunos, mas também fornecer uma qualidade de vida, que é essencial na formação acadêmica e na formação pessoal do/da estudante.

Logo, é necessário que haja uma transformação radical no CRUSP e tal transformação só irá ocorrer com uma intensa jornada de ações e lutas dos estudantes, que deve acontecer de forma organizada e consequente para solucionarmos os diversos problemas relacionados à permanência e à moradia estudantil na USP.

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