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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Golpe fascista era para beneficiar minoria que explora os trabalhadores

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Apesar dos fatos, alguns partidos da esquerda seguem dizendo que é possível a democracia no regime capitalista. Desconhecem que o princípio da burguesia não é a democracia, mas o lucro, e que, para os capitalistas, o melhor tipo de governo é aquele que garante o aumento de suas riquezas e a maior exploração da classe dos trabalhadores.

Luiz Falcão | Comitê Central do PCR e Diretor de Redação do JAV

 


EDITORIAL – Por 21 anos (1964-1985), o Brasil viveu debaixo do terrorismo da extrema-direita. Nesse período, nenhum cidadão ou cidadã tinha direito de votar para presidente da República, governador ou prefeito; os partidos políticos foram proibidos; interventores foram nomeados para os sindicatos e lideranças estudantis foram presas e torturadas. O Alto Comando das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) decidia qual general seria o presidente da República. Artistas eram presos, torturados e exilados, a polícia invadia teatros e residências, livros e músicas eram censuradas. Até padres e bispos que defendiam os direitos do povo eram perseguidos e assassinados, como o Padre Henrique, em 1969, na cidade do Recife. 

Em 1985, após diversas manifestações, greves operárias e passeatas, o governo militar foi derrubado. Porém, os responsáveis pelos crimes da ditadura militar ficaram impunes e continuaram conspirando nos quartéis. 

Pois bem, o jornal A Verdade denunciou repetidas vezes que o ex-capitão Jair Bolsonaro, os partidos do Centrão e os generais planejavam um golpe para implantar uma ditadura militar no país. De fato, no computador encontrado pela Polícia Federal na casa do tenente-coronel Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro) estava o vídeo de uma reunião realizada no Palácio do Planalto três meses antes das eleições presidenciais.

A cronologia do plano fascista

No dia 05 de julho de 2022, Bolsonaro convoca os ministros do governo para uma reunião no Palácio do Planalto e afirma que tem informações seguras de que perderá as eleições e que Lula seria eleito.  Palavras do ex-capitão na reunião: “Alguém tem dúvida do que vai ocorrer no dia 02 de outubro? Qual o retrato que vai estar lá às 22h na televisão? Aí a gente vai ter que entrar com um recurso no Supremo. Vai pra puta que pariu, porra! Vamos esperar o que? Todo mundo vai se foder”.

Em seguida, falou o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência): “É hora de virar a mesa e tem que ser antes das eleições, senão vai ser tarde demais”. 

O general afirmou também que estava infiltrando agentes nas campanhas eleitorais e partidos políticos. Dados obtidos nos computadores da Abin comprovaram que um total de 30 mil pessoas, entre elas, parlamentares, lideranças populares, governadores, ministros do Supremo foram espionados. As informações eram coletadas por meio do software FirstMile e os dados armazenados em Israel, país governado pelo ditador Benjamin Netanyahu. Na reunião, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, também manifestou apoio a Bolsonaro e declarou que estava se reunindo com os comandantes militares para debater o que deve ser feito em relação às eleições. De acordo com o relatório da Polícia Federal, os golpistas criaram seis núcleos com o objetivo de “empregar de violência para abolir o Estado Democrático de Direito”.

E segue:

 18 de julho de 2022

 Bolsonaro reúne embaixadores de 40 países no Palácio do Planalto, ataca as eleições e pede apoio internacional ao golpe.

24 de julho de 2022 

O general Braga Netto, escolhido para ser o candidato a vice-presidente, participa de reunião com empresários na sede da Firjan, Rio de Janeiro, e declara: “Não tem eleição no Brasil se os votos não forem auditados”.

07 de setembro de 2022

Os fascistas esperavam que, nesse dia, milhões de pessoas iriam às ruas exigir intervenção militar.  Mas o descontentamento do povo com o governo do ex-capitão já era enorme: mais de 700 mil pessoas tinham morrido porque Bolsonaro e o general Pazuello não compraram a vacina contra a Covid-19. Não bastasse, 30 milhões de brasileiros passavam fome e 13 milhões de trabalhadores estavam desempregados. Somente uma meia de dúzia de bilionários, banqueiros e grandes proprietários de terras e de gado estavam satisfeitos com o governo. Não conseguiram, portanto, realizar o golpe antes das eleições.

Os fascistas, entretanto, prosseguiram com seu plano, fazendo ataques às eleições e divulgando mentiras (fake news) sobre a urna eletrônica. Um hacker, Walter Delgatti, foi contratado a peso de ouro por membros do Partido Liberal, partido de Waldemar da Costa Neto e de Bolsonaro, para invadir os computadores do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Este mesmo hacker teve inúmeras reuniões com o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira. 

A derrota dos golpistas nas eleições 

Realizado no dia 02 de outubro, o 1º turno das eleições presidenciais terminou com a vitória de Lula, candidato do PT, com uma diferença de mais de 6 milhões de votos. 

No segundo turno, nova derrota de Bolsonaro, apesar de várias ações executadas para evitar a vitória da oposição. Uma delas foi a operação chefiada pelo diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, que ordenou a realização de várias blitzen nas estradas de vários estados do Nordeste para impedir que os eleitores votassem. Pelo crime, Vasques encontra-se preso desde agosto do ano passado.

As barracas nos quartéis

Desesperados, os derrotados organizaram bloqueios de rodovias, tocaram fogo em pneus e atravessaram caminhões nas estradas com o objetivo de criar um ambiente de caos e justificar a intervenção do Exército. 

No dia 15 de novembro de 2022, os fascistas mudaram de tática.  Montaram barracas e se postaram em frente aos quartéis do Exército. Os comandantes das Forças Armadas divulgaram nota pública saudando as manifestações antidemocráticas. 

19 de novembro de 2022

O Brasil já tinha novo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e o TSE marcara a diplomação para o dia 12 de dezembro. Os fascistas começaram a elaborar um decreto para anular as eleições, prender o presidente do TSE e implantar a ditadura. 

07 de dezembro de 2022

Bolsonaro apresenta aos militares o decreto golpista para anular as eleições. Participam da reunião o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, o comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes e o comandante da Marinha, Almir Garnier.

Dois dias depois, o ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, enviou a seguinte mensagem ao comandante do Exército, general Freire Gomes: “E hoje, o que é que ele (Bolsonaro) fez hoje de manhã? Ele enxugou o decreto, né? Aqueles considerados que o senhor viu… E enxugou o decreto, fez um decreto muito mais resumido, né?”.

09 de dezembro de 2022 

21 dias antes da posse do presidente eleito, com o decreto nas mãos, Bolsonaro se reuniu no Palácio do Planalto com o general Estevan Theophilo Gaspar de Oliveira, chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, o Coter. O general Estevan Theophilo foi o escolhido para comandar as operações militares, inclusive as prisões que estavam definidas. Essa reunião foi assim relatada pelo tenente-coronel Mauro Cid ao coronel Romão: “Ele (o general Theophilo) quer fazer… Desde que o PR (presidente da República) assine”. 

08 de janeiro de 2023 e a fuga para os EUA

Para evitar ser responsabilizado pelos atentados do dia 08 de janeiro, Bolsonaro fugiu para os EUA e levou com ele joias pertencentes ao país. No dia 27 de dezembro, o ex-capitão enviou R$ 800 mil para uma conta que tinha aberto nos Estados Unidos, como mostra relatório da Polícia Federal: “Alguns investigados se evadiram do país (Bolsonaro e família), retirando praticamente seus recursos aplicados em instituições financeiras nacionais, transferindo-os para os EUA, para se resguardarem de eventual persecução penal instaurada para apurar os ilícitos”.

A invasão ao Palácio do Planalto, ao Congresso e ao STF, em 08 de janeiro, também era parte do plano golpista. O major das Forças Especiais do Exército Rafael Martins de Oliveira negociou com o coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens do ex-capitão, o pagamento para custear a ida de militares para Brasília. Mauro Cid pergunta: “R$ 100 mil é suficiente?”. O major Rafael diz que sim. No dia 15 de novembro, nova mensagem do major para o coronel Cid perguntando para onde os manifestantes deveriam ir ao chegar a Brasília e se as FFAA vão garantir a permanência lá. O coronel e ajudante de ordens de Bolsonaro responde: “Cn (Congressso) e stf. Vão”.

No dia 22 de fevereiro de 2024, o ex-capitão compareceu à sede da Polícia Federal, em Brasília, para prestar depoimento. O idealizador e maior beneficiário do golpe¹, não respondeu nenhuma das perguntas. Na certa, lembrou de suas palavras no ato de 7 de setembro: “Acabou, porra!” Também ficaram mudos na Polícia Federal os generais Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, além do almirante Almir Garnier.

No dia 25 de fevereiro, em ato na Avenida Paulista financiado pela igreja do pastor do diabo e pelo Governo de São Paulo, o ex-capitão, confessou: “O que é golpe? É tanque na rua, é arma, conspiração. É uma minuta do decreto de Estado de defesa? Golpe usando a Constituição?” (FSP,26/02/2024)

PRISÃO PARA OS GOLPISTAS. Ato em São Paulo (abril de 2023), denunciando o golpe fascista. Foto: Larissa Rodrigues

As Forças Armadas não podem calar o povo 

Há muitos analistas, entretanto, que insistem que o fator decisivo para barrar o golpe foi o Governo dos Estados Unidos. Para eles, as gigantescas manifestações pedindo o impeachment de Bolsonaro; os atos e passeatas da juventude contra o fascismo; as greves realizadas pelos trabalhadores e trabalhadoras tiveram pouca importância. O que foi definitivo, como afirmou o ICL, foi o secretário de Defesa dos EUA, o general Lloyd Austin III, ter afirmado na 15ª Conferência de Ministros da Defesa das Américas, realizada em 27 de julho de 2022, em Brasília, que “as Forças Armadas dos países da América devem estar sob firme controle civil”. 

Não, esses senhores não desconhecem que, após essa Conferência, o ministro de Defesa do Brasil e os comandantes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica continuaram com os preparativos para o golpe de Estado. Eles só não querem reconhecer a força e a luta do povo brasileiro, pois, assim, podem continuar dizendo que uma revolução no Brasil não é possível. Mas, ao subestimarem o papel do povo, exaltam os responsáveis pelas sanguinárias ditaduras militares da América Latina: o Governo dos EUA.

Eis a verdade. Apesar de as Forças Armadas terem armas, tanques, aviões de combate, drones, navios, sofisticados meios de espionagem, mais de 900 mil homens armados, centenas de instalações militares, elas não podem acorrentar o povo brasileiro, como afirmou em 25 de março de 2021, um ano e quatro meses antes da reunião golpista de 07 de julho, o manifesto do Partido Comunista Revolucionário (PCR):  

“Após 36 anos do fim do arbítrio, os fascistas, com novos rostos e nomes, tramam para novamente implantar um regime militar no Brasil. De fato, o ex-capitão Bolsonaro, eleito presidente da República contra a vontade de 89 milhões de eleitores e após se beneficiar do cancelamento do candidato que liderava as pesquisas, quer restabelecer o terrorismo fascista no Brasil. Seu plano autoritário é apoiado por uma rede de empresários corruptos e uma dúzia de generais que desfrutam de polpudos salários públicos e das mordomias dos cargos de ministros e de presidentes de estatais. Pasmem: este tirano quer que o Exército, que ele considera sua propriedade privada, promova um golpe militar e implante um regime fascista. Acha que suas milícias e uma dúzia de generais podem mais que todo um povo unido, que milhões de trabalhadores e trabalhadoras decididos a construírem uma pátria soberana, independente e livre.  Ledo engano! Serão outra vez derrotados.” (Manifesto do PCR, 25 de março de 2021)

Com os golpistas desmoralizados, o Alto Comando das Forças Armadas passou a afirmar que os miliares que participaram da tentativa de golpe são de baixa patente e que agiram “por conta própria”. Com todo o respeito, essa instituição é realmente uma zona. O Brasil gasta, por ano, R$ 126 bilhões para manter as Forças Armadas e cada oficial age como quiser, não há um só general para dar ordem aos coronéis, e o Alto Comando, apesar do pomposo nome, não consegue explicar os deveres constitucionais aos oficiais. Só faltam dizer que estudam as obras de Bakunin na Escola Militar das Agulhas Negras e na Escola Superior de Guerra (ESG).

O envolvimento de vários membros da cúpula das Forças Armadas na tentativa de golpe de Estado é fato tão incontestável que o atual comandante do Exército, general Tomas Paiva declarou à imprensa: “Quem fez vai ser responsabilizado, mas é preciso separar indivíduos da instituição”. (G1, 14/02/2024)

Ah, sim! É preciso separar os indivíduos da instituição. Mas porque não pensaram nisso quando declararam apoio irrestrito a Bolsonaro e o levaram para fazer campanha nos quartéis? Quando indicaram mais de 6.000 oficiais para participar do governo, dez ministros e a presidência da Petrobras e dos Correios?

Vejamos o que escreveu o cientista político Roberto Amaral: “Os militares brasileiros a quem a nação deve outros serviços, jamais se notabilizaram pela defesa da democracia. Na República, golpearam insistentemente, desde as ditaduras militares de Deodoro da Fonseca (1889 – 1891) e Floriano Peixoto (1891 – 1894) até hoje. Vide o golpe de 1937, arquitetado por Góes Monteiro e operado por Eurico Dutra; o golpe de 1954, operado pelas três Forças e que teve no general Juarez Távora seu comandante; a tentativa de golpe contra as eleições de 1955, que teve entre os seus líderes o general Conrobert Pereira da Costa e o brigadeiro Eduardo Gomes; a intentona de 1961, encabeçada pelos três ministros militares e o chefe do Estado-Maior do Exército, general Cordeiro de Farias; o golpe de 1964 que nos legou mais de 20 anos de ditadura” (Roberto Amaral. Os militares e a tentação autoritária, Carta Capital. Republicado por A Verdade, edição nº 238, maio de 2021).

Capa do Jornal A Verdade de julho de 2022 já denunciava plano golpista de atacar as eleições.

O fascismo e a burguesia

Apesar dos fatos, alguns partidos da esquerda seguem dizendo que é possível a democracia no regime capitalista. Desconhecem que o princípio da burguesia não é a democracia, mas o lucro, e que, para os capitalistas, o melhor tipo de governo é aquele que garante o aumento de suas riquezas e a maior exploração da classe dos trabalhadores.

Só que há uma pedra no caminho da classe exploradora. Com efeito, a classe operária passou a lutar de forma mais decidida pela elevação dos salários, menor jornada de trabalho e contra as reformas neoliberais. A grande burguesia quer deter a todo o custo esse avanço e manter o poder em suas mãos, daí sua defesa frequente de um Estado militarizado.

Em síntese, a burguesia sabe que o fascismo fortalece o poder do capital sobre os trabalhadores. Por essa razão, a derrota do fascismo tem muita mais relação com as lutas dos trabalhadores do que com a ilusão de que a burguesia nacional e as Forças Armadas têm compromisso com o Estado Democrático Direito. 

A luta antifascista e a luta pelo socialismo

Graças ao apoio de igrejas controladas por pastores corruptos e às mentiras de que quem paga o dízimo fica rico, o fascismo passou a ter influência sobre várias parcelas da população.  Eis uma outra mentira que espalham: “os comunistas mataram milhões de cristãos ao redor do mundo” (Silas Malafaia, FSP, 21/02/2014). Mas quem, na realidade, matou milhões ao redor do mundo? Os nazistas, os fascistas, os seguidores de Hitler e de Mussolini, financiados pelos monopólios capitalistas e os que promovem as atuais guerras. No entanto, os pastores que adoram o dinheiro escondem os crimes do fascismo para atacar os revolucionários.

É preciso desmascará-los!  Mas essa tarefa só pode ser cumprida se explicarmos aos trabalhadores e trabalhadoras o que é a exploração capitalista e por que há ricos e pobres em nosso país. Esclarecer que nessa sociedade em que vivemos somente um pequeno grupo de pessoas, a classe rica, é dona das indústrias, da terra, dos bancos e aumenta suas riquezas explorando os operários com os baixos salários, com os altos preços dos alimentos e com os juros que são cobrados nos cartões de crédito. De fato, enquanto mais de 70 milhões de brasileiros vivem em insegurança alimentar e 21 milhões passam fome, 25 bilionários têm uma fortuna de R$ 10,7 trilhões. 

Portanto, não será possível acabar com a pobreza e o desemprego no país sem acabar com essa injustiça. Desse modo, nossa agitação política deve buscar explicar o que é o socialismo e mostrar a relação direta entre o fascismo e o capitalismo. Se conseguirmos expor de maneira clara e profunda essas ideias, as ideias do socialismo e o mal que representa o atual regime, até mesmo os que são religiosos e estão vinculados a alguma igreja nos darão razão, pois Jesus Cristo foi um dos primeiros a afirmar que “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mateus 19:24).

¹Nos últimos anos a família Bolsonaro realizou 107 transações imobiliárias e comprou 51 imóveis. (UOL,09/09/2022)

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