Desastre no Rio Grande do Sul que já causou a morte de 107 pessoas poderia ser prevenido. Porém, governos neoliberais do Estado e da capital gaúcha cortaram recursos da prevenção a catástrofes climáticas e atacaram leis ambientais
Redação RS
São 437 municípios atingidos pelas enchentes, dos 497 do Estado do Rio Grande do Sul. Cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre, como Eldorado e Canoas, ainda estão submersas. De acordo com a Defesa Civil, atualmente (09/05), somam-se 107 mortes, 136 desaparecidos e 374 feridos. Mais de 1,5 milhão de pessoas foram afetadas pelos temporais, sendo que 232 mil pessoas ainda estão fora de casa. Desse total, são 67.542 em abrigos e 164.583 desalojados (pessoas que estão nas casas de familiares ou amigos).
Casas, prédios, supermercados, postos de gasolina, hospitais, escolas e empresas estão alagadas. Em cidades que são banhadas pelo Rio dos Sinos e pelo Rio Jacuí, como Canoas, a Prefeitura determinou a evacuação de 11 bairros, mas centenas de pessoas ainda esperam por resgate; são mais de 50 mil pessoas vivendo em área de risco. Eldorado do Sul, com 38 mil habitantes, está inundada pelo Rio Jacuí, com registro de 600 solicitações de resgate.
São seis barragens no estado em situação de risco e 18 em estado de alerta. Nas principais rodovias, como a BR-290, em Charqueadas, o asfaltou desmoronou. Diversos diques também transbordaram. No bairro Sarandi, na zona norte da capital gaúcha, mais de 90 mil moradores foram orientados evacuar suas casas desde o dia 05.
Os verdadeiros culpados
A situação é grave, mas é, de fato, uma tragédia anunciada. Há pelo menos dez anos, um amplo estudo da Presidência da República já apontava chuvas acentuadas no Sul do Brasil em decorrência das mudanças climáticas. O projeto “Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima”, encomendado em 2014, composto por vários relatórios, apresentava resultados dramáticos. Elevação do nível do mar, mortes por onda de calor, falta d’água no Sudeste, piora das secas no Nordeste e o aumento das chuvas no Sul. Além disso, chama atenção para a necessidade de sistemas de alerta e de planos de contingência.
Mesmo assim, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), não investiu um centavo sequer na preservação de enchentes em 2023, mesmo após a cidade sofrer com as enchentes duas vezes no segundo semestre e com um caixa de R$ 428 milhões no Departamento Municipal de Águas e Esgotos.
Outro que sabia dessa informação foi o governador Eduardo Leite (PSDB), que negligenciou todas as recomendações dos técnicos, cientistas e da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan). Em 2020, o mesmo governador e sua maioria de parlamentares na Assembleia Legislativa aprovaram a Lei 15.434, flexibilizando 500 artigos do Código Estadual de Meio Ambiente a respeito da proteção dos biomas Pampa e Mata Atlântica.
Os governos de Eduardo Leite e de Sebastião Melo são os principais culpados pela destruição que eles chamam de “desastre natural”. Eles têm reforçado diariamente seu compromisso com os grandes empresários para garantir as privatizações em prol do agronegócio e quem paga por toda essa tragédia social é o povo gaúcho, que sofre a cada enchente, perde o pouco que tem e se vê abandonado pelo estado.
Somente com apoio do povo, centenas de milhares de pessoas estão sendo atendidas nos abrigos e casas de parentes, garantindo que chegue água e comida à população que está sem acesso ao mínimo de condições básicas para viver.
Esse cenário crítico do desastre no Rio Grande do Sul é resultado de vivermos no sistema de produção capitalista, que, pela sua desenfreada busca por mais lucros, destrói a natureza e gera a chamada “crise climática”. É contra o sistema e seus representantes que temos que lutar.