UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 4 de setembro de 2025
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Professor Pantaleão enfrenta milionários, fascistas e corruptos em Goiânia

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Nas eleições para a prefeitura de Goiânia, candidatos da burguesia são um espelho dessa classe: um leque de milionários machistas e corruptos. Candidatura de Professor Pantaleão, da Unidade Popular, se propõe a enfrentar os projetos da elite e construir uma Goiânia para o povo

Bluma | Goiânia (GO)


BRASIL – Para as elites do nosso país, as eleições burguesas são um período fundamental para tentar encenar um teatro democrático que justifica sua manutenção de poder. Nos pleitos municipais, como o deste ano, os revolucionários têm espaço para denunciar para a população que as cidades são controladas pelos empresários, latifundiários e banqueiros que lucram com nosso suor e derramam nosso sangue diariamente, como fez a matéria de capa da edição nº 298 do jornal A Verdade.

Em Goiânia, há exemplos claros de burgueses e fascistas que participam dessa dança das cadeiras, prometendo tudo que não cumpriram nos mandatos passados para o povo e mentindo descaradamente com discursos de “crescimento social e econômico”. A seguir, o jornal A Verdade apresenta a ficha dos principais candidatos da direita na cidade e a alternativa apresentada pela Unidade Popular (UP): a candidatura socialista e antifascista do Professor Pantaleão.

Um fazendeiro milionário condenado pela Justiça

Declarando R$26 milhões em posses para a Justiça Eleitoral, Vanderlan Cardoso (PSD) tem participação significativa em uma fazenda e três empresas, além de ser dono de um helicóptero. O burguês foi prefeito de Senador Canedo e é senador pelo estado de Goiás desde 2018, além de ter tentado uma vez ser governador do Estado e três vezes ser prefeito da capital.

O que Cardoso não diz a seus eleitores é que em 2016, durante a eleição municipal, ele e sua esposa foram condenados na Justiça por improbidade administrativa. O casal foi sancionado por se aproveitar ilicitamente de um escritório de advocacia contratado para prestar serviços públicos durante sua gestão em Senador Canedo de 2005 a 2010. Vanderlan e a mulher tinham suas “demandas particulares” defendidas pelo escritório, contratado pelo Poder Público para regulamentar questões fundiárias.

Uma das punições previstas para o caso era a suspensão de direitos políticos por 5 anos. Contudo, passado algum tempo e uma quantidade interminável de recursos, o milionário foi absolvido pela Justiça burguesa.

Um político profissional e fraudador de certificados do Ibama

Declarando R$313 milhões, a maior parte em aplicações, apólices da dívida pública e participação em capital de empresas, Sandro Mabel (União Brasil) é um dos candidatos mais ricos das eleições de 2024 e participa da política desde 1990, quando foi eleito deputado estadual. Foi candidato à prefeitura de Goiânia em 1992 e teve cinco mandatos de deputado federal, entre 1995 e 2015.

O burguês e político profissional atualmente está no União Brasil, partido do governador fascista e latifundiário, o oligarca Ronaldo Caiado, mas já foi do PMDB (hoje MDB), PFL (que se tornaria o DEM e depois UB), Republicanos e PL. Bastante experiente nas políticas golpistas, foi assessor especial de Michel Temer.

Mabel, presidente da Federação das Indústrias de Goiás, foi autor do PL 4330/2004, um verdadeiro ataque aos trabalhadores que visava aprofundar a terceirização e desresponsabilizar as empresas contratantes, assim aumentando a exploração e cortando direitos. Em 2017, seu nome figurou na lista de beneficiários de propinas das empresas Odebrecht (hoje Novonor) e Andrade Gutierrez, que buscavam liberar a construção de uma usina hidrelétrica em Santo Antônio.

Em 2020, Sandro Mabel também foi alvo de operação da Polícia Federal que envolveu fraudes em certificados digitais do Ibama. O esquema beneficiava donos de terras embargadas da Amazônia Legal, que eram griladas digitalmente e entregues aos fazendeiros criminosos no Pará e Mato Grosso, onde Mabel possui terras em Canabrava do Norte. O prejuízo para a União foi estimado em R$150 milhões.

Um fascista contra o aborto legal

Representante do genocida inelegível Jair Bolsonaro, Frederico Rodrigues da Cunha (DC) teve seu mandato de deputado estadual cassado em 2023 por pendências na prestação de contas das eleições de 2020. Foi autor de projeto ilegal que fere os direitos humanos das mulheres grávidas ao obrigar gestantes que solicitam a realização de aborto legal (ou seja, mesmo em caso de estupro) a ouvirem os batimentos cardíacos do feto, sancionado pelo governador Caiado no início de 2024.

Tal lei também institui a “Campanha de Conscientização Contra o Aborto para as Mulheres do Estado de Goiás”, uma verdadeira campanha de ódio e propaganda reacionária do patriarcado goiano.

Unidade Popular apresenta suas candidaturas combativas

Para lutar contra todos os crimes da burguesia e contra o crescimento do fascismo, a Unidade Popular (UP) lançou uma chapa classista e feminista para a prefeitura de Goiânia, que conta com Professor Pantaleão e sua vice Luciana Amorim. O partido luta em defesa da vida das mulheres, dos direitos trabalhistas e propõe medidas para a melhoria efetiva da vida da classe trabalhadora, como a estatização do transporte público, a desmilitarização da Guarda Civil Municipal (GCM) e a extinção da Ronda Ostensiva Municipal (ROMU). O plano de governo da UP está disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral.

Em constante contato com o povo, a Unidade Popular se apresenta como uma real alternativa para a construção do socialismo, e propõe ser uma ferramenta do povo brasileiro contra a burguesia parasita que o explora, oprime e mata. Tanto no período eleitoral, como em qualquer outra época do ano, a UP e seus representantes, como o Professor Pantaleão em Goiânia, levam seu programa para as lutas nas ruas, fortalecendo a organização popular e os movimentos sociais que lutam por moradia digna, contra a fome, pelo livre acesso à educação de qualidade e para colocar o destino do Brasil nas mãos de quem constrói a riqueza desse país: o povo pobre e trabalhador.

População de Natal exige melhorias no transporte público

Trabalhadores relatam ao jornal A Verdade que o transporte público de Natal e região metropolitana, atualmente sob gestão privada, é completamente sucateado. Tarifa zero, contratos transparentes e gestão pública das linhas de ônibus foram algumas das demandas apresentadas

Redação RN


Não é de hoje que o transporte público de Natal (RN) e sua região metropolitana está em decadência, com sua infraestrutura cada vez mais sucateada. Desde a pandemia de COVID-19, a situação piorou, já que linhas importantes para os trabalhadores da capital potiguar foram descontinuadas. Além disso, os contratos de concessão seguem escondidos, não sendo disponibilizados para a população. Para completar, o preço da passagem é de R$4,50, alto se comparado com o de outras capitais brasileiras.

Por isso, o jornal A Verdade entrevistou seis trabalhadores e estudantes natalenses e da região metropolitana para ouvir suas opiniões sobre as atuais condições dos ônibus da cidade, recebendo seus testemunhos sobre o tempo que gastam no transporte público e como gostariam que fosse a política de mobilidade urbana da capital potiguar.

Situação de descaso e precarização

Os entrevistados, que utilizam o transporte público de Natal para ir ao trabalho e à faculdade, são unânimes em relatar um cenário de completo sucateamento. Raniele, que tem 20 anos e mora no bairro de Parnamirim (RN) conhecido como Liberdade, afirma que os veículos da linha que utiliza constantemente quebram no caminho, o que sugere que a manutenção dos carros é baixa ou inexistente. Já Leonardo, de 19 anos e morador do bairro natalense Cidade Esperança, complementa que além de não receberem manutenção, esses ônibus não são modernizados, já que não possuem ar condicionado e Internet como os ônibus de outras capitais.

Por isso, palavras como “horrível”, “ruim”, “decadente” e “não é dos melhores” foram utilizadas para descrever o sistema de transporte. Alvo de reclamações, o tempo médio de espera é próximo de 30 minutos, enquanto o tempo gasto nas viagens é de cerca de 1 hora. É o caso de Raimunda, senhora de 50 anos do bairro Guarapes, que afirma gastar cinco horas por dia entre espera nas paradas e em pé dentro dos carros.

Quando perguntadas sobre o modelo de governança do transporte público de Natal, a maioria das pessoas ouvidas pelo jornal A Verdade defendeu que um sistema estatal de gestão seria melhor para a qualidade do serviço.

Trabalhadores querem transporte estatal e gratuito

Por fim, todos afirmaram que o transporte público precisa mudar radicalmente. Mais linhas, veículos mais confortáveis, ar condicionado e Wi-Fi foram algumas das melhorias sugeridas pelos trabalhadores e estudantes. Para Gabriela, 20 anos, moradora de Parnamirim, os ônibus deveriam inclusive ser gratuitos para a população. Hoje, pagar a passagem consome uma parte importante do orçamento daqueles que usam o transporte público para trabalhar ou estudar e não recebem vale-transporte, pesando sobre o bolso de quem precisa fazer suas obrigações.

Das conversas com o jornal A Verdade, ficou clara a insatisfação de trabalhadores e estudantes com a mobilidade urbana de Natal. A população da cidade precisa ter acesso aos atuais contratos com as empresas privadas que operam as linhas de ônibus para cobrar melhorias, licitações mais transparentes ou até mesmo a estatização dos transportes, para que ele seja público e gratuito.

A opinião dos natalenses é clara: transportar-se não pode ser um privilégio! O transporte público é uma necessidade não só para que se possa trabalhar e estudar, e também para acessar a cultura, o esporte, o lazer e a praia, enfim, usufruir do direito à cidade. Como defende o programa da Unidade Popular em seu 8º ponto, é urgente a “estatização de todos os meios de transporte coletivos”, para que os trabalhadores e estudantes de Natal e de todas as cidades do Brasil tenham direito a um transporte público de qualidade.

Manifestações e greves em Israel escancaram crise do regime sionista

A despeito da grande violência que promove em Gaza, na Cisjordânia e no Líbano, Israel não tem uma situação segura. Greve geral do dia 2 de setembro e manifestações semanais de centenas de milhares de pessoas contra o governo Netanyahu demonstram fragilidade das posições do sionismo

Redação


Após o Exército israelense encontrar mortos seis prisioneiros israelenses capturados no ataque do Hamas de 07 de outubro do ano passado, a população de Israel iniciou uma onda de greves e manifestações. Os corpos foram encontrados no início do mês, em Gaza, e, após o anúncio pelo governo, uma manifestação com 500 mil pessoas tomou as ruas de Tel Aviv, capital de Israel, no dia 1º de setembro. No dia seguinte, uma greve geral paralisou aeroportos, transportes e outros serviços públicos.

Nas manifestações, as pessoas pediam o retorno vivo dos prisioneiros civis israelenses que estão sob custódia dos grupos da resistência palestina na Faixa de Gaza. Mas a principal questão levantada pelos atos é a crise de legitimidade do governo do fascista Benjamin Netanyahu.

Ao contrário do que aconteceu no início do conflito, há um ano, os partidos e organizações sionistas (que apoiam o regime colonial de Israel na Palestina) estão divididos quanto à continuidade do massacre em Gaza. A manutenção de prisioneiros pelas forças da resistência palestina aumenta ainda mais essa divisão. Nos protestos deste mês, os israelenses passaram a defender, inclusive, o cessar-fogo.

Para ampliar esse cenário de tensão dentro do regime sionista, Israel está cada vez mais isolado no mundo. Durante as Olimpíadas e Paralimpíadas de Paris, a delegação israelense foi alvo de vaias, enquanto a delegação palestina foi uma das mais ovacionadas pelo público.

Essas demonstrações de apoio internacional continuam ocorrendo todas as semanas nos EUA, Europa, Japão e diversos do Oriente Médio e Ásia. Mesmo com todo o genocídio, que já matou ou feriu mais de 100 mil palestinos em Gaza (sem contar as vítimas das doenças e fome causadas pelo cerco militar), os povos do mundo continuam a lutar do lado palestino.

Luta palestina pode derrotar o sionismo

O fato é que os crimes de guerra cometidos pelo Estado de Israel não são uma demonstração de força, mas sim da crise profunda pela qual o regime sionista passa neste momento.

O sionismo é a ideologia racista que rege as leis e o sistema político de Israel. Essa ideologia defende que os judeus têm direito a um Estado próprio à custa da expulsão dos palestinos de suas terras. Além disso, o sionismo é responsável por aplicar um sistema de segregação racial entre judeus e árabes dentro de Israel, considerando os árabes cidadãos de segunda classe, com a maioria sem direito a sair de suas cidades ou mesmo de votar nas eleições.

Esse sistema que Israel vive é a raiz do conflito pela libertação da Palestina, que já dura oito décadas. Tantos anos de guerra e de massacres contra os palestinos envenenou a sociedade israelense ao ponto de hoje todos os partidos sionistas de Israel defenderem abertamente, sem reservas, o massacre em Gaza. Por outro lado, há milhares de judeus e árabes cidadãos de Israel que lutam contra esta ideologia.

Apesar do forte caráter nacionalista dos atos organizados no início de setembro, o fato de eles pedirem o cessar-fogo e a queda do governo Netanyahu mostra uma crise política que se aprofunda no seio do regime israelense. Tudo isso prova, mais uma vez, que a luta justa dos palestinos pela sua libertação e a construção do seu Estado nacional poderá levar também à libertação do povo de Israel do domínio da ideologia racista do sionismo.

Servidores convivem com contratos precários e salários atrasados em Petrópolis, RJ

Servidores contratados de Petrópolis convivem com salários atrasados e população sofre com problemas na educação pública da cidade.

Lavínia Scalia e Christian Nunes | Petrópolis, RJ


TRABALHADORES – Trabalhadores contratados da educação e de outras áreas do serviço público de Petrópolis convivem com salários atrasados e falta de condições de trabalho. Os servidores contratados pela prefeitura da cidade da Região Serrana do Rio reclamam da falta de pagamento ou do atraso de vários dias nos vencimentos, levando a uma piora nas suas condições de vida.

Para piorar, os Centros de Educação Infantil (CEI’s) e Escolas Municipais, continuam com insegurança alimentar, onde as crianças têm pouco acesso às frutas e verduras, e falta proteína, em muitas ocasiões sendo servido apenas ovo ou sopa. Em muitos casos, os alunos não podem repetir sua refeição.

O que ficou evidente, ao longo do último mês, é que a prefeitura deixou de realizar a licitação para a merenda escolar, deixando as crianças mal alimentadas, com a falta gradativa de alimentos devido ao fim do último contrato. Essa situação contradiz o panfleto do candidato a reeleição, que fala de crianças bem alimentadas nas escolas em seu governo.

Para piorar o caos na educação, a prefeitura de Petrópolis, dirigida por Rubens Bomtempo (PSB), deixou os salários dos estagiários e servidores temporários atrasados por mais de 10 dias. A prefeitura alega que o governo do estado de Cláudio Castro (PL) não repassou o dinheiro do estado do ICMS esperado, e que por conta disso, falta dinheiro para pagar os salários.

O argumento da prefeitura faria sentido se a realidade não mostrasse o oposto. A atual gestão usou os recursos da prefeitura para instalar novas lâmpadas de LED pela cidade e fazer quilômetros de asfaltamento em ano de eleição, conforme afirma na propaganda, mas não conseguiu ter dinheiro para pagar os funcionários.

Se o governador do Rio, conhecido pela sua incompetência, atrasa no repasse de verbas a Prefeitura, por que o prefeito não priorizou o pagamento dos trabalhadores. O sustento de centenas de trabalhadores que garantem a educação das crianças petropolitanas não é uma prioridade?

Após um dia de paralisação na terça-feira, dia 17 de setembro, que contou com o apoio de movimentos sociais e correntes sindicais, como o Movimento Luta de Classes, a prefeitura iniciou o repasse dos salários às escolas, que pouco a pouco nos dias seguintes, conseguiram gradativamente pagar os estagiários e temporários.

Contratos precarizados são regra nos serviços públicos de Petrópolis

Dentro desse contexto ainda, a atual prefeitura de Petrópolis, assim como as anteriores, mantém grande quadro de servidores temporários contratados por meio de RPAs. RPA é o Recibo de Pagamento Autônomo. Neste modelo de contratação a prefeitura não contrata os trabalhadores nem através da CLT nem por meio de concursos públicos. 

Na prática esses trabalhadores perdem todos os direitos, como as férias ou 13º salário e no geral são demitidos e recontratados de acordo com a boa vontade da prefeitura. Logo, possuem muita instabilidade no emprego, sendo sujeitos ao assédio moral e aos salários atrasados, enquanto na realidade, estes mesmos RPAs poderiam estar empregados como servidores públicos efetivos.

Mesmo com o último concurso tendo sido feito em 2022, a prefeitura ainda não chamou todos os aprovados, mesmo com uma lei de autoria também da vereadora Júlia Casamasso (PSOL) aprovada na câmara prorrogando até o final de 2024 a validade do concurso.

O quadro de concursados é reduzido, e ao invés de contratar novos, a prefeitura incentiva os atuais a fazerem o regime REHT (Regime Especial de Horas Temporárias), dobrando seus turnos em troca de algumas bonificações. Mas, ai invés de lidar com a falta de servidores chamando os concursados aprovados ou realizando novos concursos, a prefeitura ainda prefere fazer os contratos RPAs. 

Essa situação demonstra como que não só em Petrópolis, mas em cidades por todo o Brasil, nosso povo sofre na mão dos políticos tentando se eleger, com promessas todos os anos e mentiras nas propagandas eleitorais.

Falta de merenda nas escolas, cargos temporários instáveis onde os servidores ficam sujeitos ao assédio moral, salários atrasados, falta de orçamento nas escolas e outros problemas pioram as condições de vida do povo e o acesso à educação, forçando as pessoas a procurarem o ensino privado como referência de educação de qualidade e enriquecendo os donos das redes privadas de ensino. Apenas com luta, o povo nas cidades conseguirá seus direitos, como a educação de qualidade e salários mais justos. Sem lutas, bastará contarmos com a boa vontade dos políticos deste sistema capitalista caduco. 

Justiça por Lichita, menina sequestrada pelo Estado do Paraguai

Lichita Villalba, filha de dirigentes da resistência camponesa no Paraguai, foi sequestrada por homens do Estado paraguaio em represália à luta de seus pais pela reforma agrária. Por todo o mundo, inclusive no Brasil, movimentos populares promovem abaixo-assinado pela aparição com vida de Lichita

Isis Mustafá* | São Paulo


Veias Abertas (Mercedes Sosa)

E quando vier os dias

Que nós esperamos

Com todas as melodias

Faremos um só canto

O céu será celeste

Os ventos mudarão

E nascerá um novo tempo

Latino-americano

Em 02 de setembro de 2020, o Estado do Paraguai cometeu mais um crime bárbaro contra o povo e segue impune até os dias atuais: um destacamento de operações especiais das Forças Armadas, a Força Tarefa Conjunta (FTC), atacou um acampamento guerrilheiro do Exército do Povo Paraguaio (EPP) e torturou, assassinou e enterrou em vala comum María Carmen Villalba e Lilian Mariana Villalba, duas crianças argentinas de 11 anos. No dia 30 de novembro, em um novo ataque à família Villalba, foi presa Laura, mãe de uma das meninas. Duas primas adolescentes, Tamara, 14 anos, e Tania, 19 anos, conseguiram fugir e cruzaram a fronteira para Argentina no dia 23 de dezembro. Já Carmen Elizabeth Oviedo Villalba, “Lichita”, irmã gêmea de Tamara, foi sequestrada e está desaparecida até o momento.

Essa ação criminosa das Forças Armadas é uma retaliação pelo fato de que as crianças são parentes de líderes do Exército do Povo Paraguaio (EPP). Lichita e sua Tamara nasceram na prisão e são filhas de Carmen Villalba e Alcides Oviedo, presos políticos no Paraguai por serem dirigentes da guerrilha.

Resistência armada no campo pela reforma agrária

O Exército do Povo Paraguaio é uma guerrilha de camponeses pobres criada em 2008 para lutar pela distribuição de terras e pela realização de uma ampla reforma agrária na região Norte do país. Os departamentos de Concepción, San Pedro e Amambay correspondem a 32% do território ocidental, com aproximadamente 700 mil habitantes, profundamente marcados pela concentração de terras e cabeças de gado nas mãos de poucas centenas de estrangeiros, ao passo que a imensa maioria do povo não tem nada.

Em pronunciamento de 2016, o EPP denunciou que cerca de 60% das terras da região são controladas pelo agronegócio estrangeiro, enquanto apenas 4% atendem às demandas dos camponeses paraguaios.

A atuação do EPP remete à história dos agrupamentos de resistência camponesa ligados à Igreja Católica, que lutaram na década de 1960, durante a ditadura do presidente Alfredo Stroessner. Hoje, a guerrilha reivindica ter identidade com o marxismo-leninismo e atua com ações armadas. Além das bandeiras da reforma agrária, fim do uso de agrotóxicos e controle popular da terra, a organização exige recompensas como a distribuição de alimentos aos pobres, camponeses e indígenas.

Estado paraguaio tortura e assassina

O Paraguai viveu uma ditadura militar que durou 35 anos, com o sanguinário Stroessner. As bárbaras violações de direitos humanos foram documentadas pela Comissão da Verdade e Justiça. Ao menos 450 pessoas foram executadas, 20 mil foram presas, torturadas ou submetidas ao exílio forçado, além da vasta colaboração do Estado com a Operação Condor, que atuou como rede de repressão em todo o Cone Sul do continente. Contudo, os chamados “Arquivos do Terror”, documentos oficiais que comprovam os crimes cometidos pelo Estado paraguaio, ficaram na gaveta e não houve reparação e justiça. Os militares e empresários beneficiados pela ditadura seguem impunes. Não ironicamente, o atual presidente do Paraguai é membro do Partido Colorado, mesmo partido de Stroessner.

Não é de se estranhar, portanto, que a prática das Forças Armadas seja a mesma da ditadura. A FTC foi criada em 2013, após um golpe, com o objetivo de destruir a guerrilha, sob o argumento do combate ao terrorismo na região. Suas tropas atuam com violência, sequestros, assassinatos e torturas contra os militantes e todo o povo do campo.

Justiça pelas crianças Villalba

Após manifestações populares, o Exército foi obrigado a exumar os corpos das crianças Villalba assassinadas em 2020 e entregá-las à família. Hoje ecoa por toda a América Latina um grito por justiça: “¿Dónde está Lichita?”. O povo quer respostas sobre o sequestro de Lichita e exige que o Estado paraguaio seja responsabilizado.

Com muita solidariedade e internacionalismo proletário, nos somamos a esse grito. Organizações em defesa dos direitos humanos, partidos e movimentos sociais realizam uma ampla campanha contra os crimes do Estado paraguaio e pelo fim da exploração da terra e dos camponeses. A campanha “Um milhão por Lichita” está mobilizando um abaixo-assinado internacional pela sua vida e pretende recolher um milhão de assinaturas em diversos países e pressionar as embaixadas paraguaias. As assinaturas devem ser entregues em 30 de novembro, data que marca os quatro anos do desaparecimento de Lichita. Cada escola, bairro, universidade e posto de trabalho deve conhecer a história das crianças Villalba e fazer parte desta campanha por justiça.

*Isis Mustafá é da União da Juventude Rebelião (UJR)

Matéria publicada na edição nº 299 do jornal A Verdade

Comunidades Quilombolas impedem ação de mineradoras em Minas Gerais

Formadas pelos quilombos de Sapé, Marinhos, Rodrigues e Ribeirão, as comunidades quilombolas de Brumadinho lutam para preservar sua cultura. Após o crime da Vale em 2019, continuam lutando pela preservação de suas terras, como a comunidade de Tejuco, afetada principalmente pela escassez de água.

Coletivo Cacique Merong | Minas Gerais (MG)


LUTA POPULAR – Há muito tempo, as comunidades quilombolas de Brumadinho, em Minas Gerais, são exemplos de luta e de resistência contra a opressão. No passado, o povo negro resistiu à escravidão imposta pelo sistema capitalista-colonial. Ao longo dos séculos, muitos foram os desafios, os enfrentamentos e as conquistas, e ainda hoje as comunidades vivem ameaçadas pela mineração predatória e resistem. 

Quatro comunidades quilombolas que formam uma só família num grande território, como afirmam os povos dos quilombos de Sapé, Marinhos, Rodrigues e Ribeirão. Uma trajetória marcada por diversas formas de resistência, manifestações culturais e históricas, e autonomia para decidir sobre processos que tocam diretamente as comunidades. Cada uma dessas comunidades possui características próprias e podem ser vistas e ouvidas de acordo com sua realidade.

Neste território, as primeiras construções foram feitas de pau a pique pelos negros escravizados que fugiram das fazendas dos Martins. Com o passar dos tempos, essa grande comunidade se fortaleceu, assim como os vínculos com a terra e os modos de vida ali presentes. Os povos quilombolas dessas quatro comunidades se organizaram, utilizando de sua força e de seu conhecimento ancestral, defendendo seu território e obtendo muitas conquistas. A partir do ano de 2006, deu-se seguimento às conquistas de certificação enquanto Comunidades Quilombolas. Houve também a suspensão do licenciamento de uma mineradora que, em verdade, os expulsariam de suas terras. Evitaram, assim, que um crime como o da Vale ocorresse primeiro naquela região.

Capital é barrado pelas comunidades

Durante mais de um século, apesar do fim do regime de escravidão, o povo negro da região enfrentou diversas tentativas de encurralamento. Ausência de políticas públicas, negação da tão importante reparação histórica ou, ainda, um cenário de violências e de exclusão causado pela atuação racista dos governos.

Segundo os moradores, funcionários da mineradora Ferrous, adquirida mais tarde pela criminosa Vale S.A, com o apoio de funcionários do Município de Brumadinho e do Estado de Minas Gerais, assediaram as comunidades prometendo-lhes “progresso e desenvolvimento”. Contam os moradores que ficaram com receio de serem expulsos do território que tradicionalmente ocupam. A linha férrea que atravessa o território quilombola de Brumadinho, a existência de outras barragens próximas ao Rio Paraopeba, em Congonhas e em Belo Vale, e um programa de Regularização Fundiária executado pela própria Vale, ameaçam ainda a vida das famílias quilombolas da região. Com o crime da Vale, em 2019, centenas de pessoas ficaram ilhadas e membros das comunidades tradicionais tiveram suas vidas terminadas devido ao crime em Brumadinho. 

Resistindo, o povo quilombola de Brumadinho conseguiu garantir a preservação de modo de vida tradicional e fez de seu território um território livre da mineração, preservando serras, matas e nascentes. Desta maneira, são um exemplo de resistência em Minas Gerais. E, assim, a luta continua.

Comunidade de Tejuco

A comunidade tradicional de Tejuco, também em Brumadinho, existe há 300 anos, mantendo uma relação de harmonia com as nascentes do local. Com a mineração, num processo que se intensificou com a chegada da Vale nos anos 2000, e se tornou algo absurdo depois do crime de Brumadinho, em 2019, a relação mudou, e a água – um bem precioso e abundante no território – se tornou escassa para a própria comunidade. “As caixas d’água das pessoas passaram a receber apenas lama”, afirma o morador da comunidade Marco Antônio. 

As mineradoras dividem a água entre elas. Ao andar pela comunidade, é possível perceber, até hoje, mais de cinco anos depois do crime, engradados de água nas residências das pessoas, que são obrigadas a consumir essa água (deixada pela empresa criminosa), que fica num plástico, muitas vezes expostas ao sol. Um impacto imenso na comunidade e uma sucessão de violações que indignam.

Atualmente, existe uma mineração à seco, muito próxima das casas da comunidade de Tejuco. Essas constatações colocam em evidencia todas as falácias contidas no discurso da “reparação”, e que é necessário dar fim a essa cadeia de exploração! Nossa luta é longa e não começa agora. Nosso povo luta há séculos. Devemos aprender com os que vieram antes de nós e prosseguir no caminho da luta pela liberdade do nosso povo.

Brasil ocupa 2ª posição entre os países que mais matam ambientalistas e indígenas

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O Brasil registrou 2.203 conflitos agrários, mesmo após o governo Bolsonaro. A expectativa de mudança com o novo governo é limitada por um Congresso dominado por ruralistas.

Mariana Belfort | Redação


LUTA POPULAR – A disputa por terras, a grilagem e a violência no campo são algumas das causas que vitimaram um ativista ambiental a cada dois dias no ano de 2023. Brasil e Colômbia são os países que mais concentram assassinatos de defensores ambientais no mundo, de acordo com relatório da ONG Global Witness, divulgado em 09 de setembro. 

O relatório mostra que a América Latina foi a região com mais mortes, com 166, representando 85% do total. Contudo, destaca-se que há uma grande subnotificação, visto que muitos homicídios não são relatados e contabilizados, especialmente nas áreas remotas dos países. 

Dentre as principais vítimas, estão os povos indígenas e a população afrodescendente, que representaram 49% do total de homicídios do mundo. Essa parcela da população é historicamente perseguida, tendo muitas vezes seu direito à terra negado e sua vida ceifada ao defender a ocupação originária e tradicional do território. 

Entre os assassinatos registrados no Brasil, o ataque de fazendeiros, organizados pelo movimento de extrema direita, Invasão Zero, em área de retomada do povo Pataxó Hã Hã Hãe, no sul da Bahia, resultou no assassinato de Nega Pataxó. Em Minas Gerais, foi encontrado morto o líder indígena Merong Kamakã, que sempre esteve na linha de frente da luta pela retomada do território do povo Kamakã Mongoió, em Brumadinho. A área indígena fica numa região de interesse da mineradora Vale e a comunidade sofria constantes ameaças por parte de seguranças privados e policiais militares antes da morte de Merong Kamakã.

Além da organização dos ruralistas, as pressões institucionais e a lei do marco temporal são estímulos para acentuar os conflitos nos territórios.

Segundo dados disponibilizados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), houve um recorde no Brasil em 2023, com 2.203 ocorrências. Destas, 1.724 foram causadas por invasões, expulsões, despejos, ameaças, destruição de bens ou pistolagem sofridas por pequenos agricultores, comunidades tradicionais e populações indígenas. 

Após quatro anos de governo do fascista Bolsonaro, quando as políticas de preservação ambiental foram completamente desmanteladas, resultando no avanço da exploração dos recursos naturais e no aumento da invasão de territórios, esperava-se que a troca de governo, em 2023, trouxesse avanços para essa pauta. A expectativa era que o conflito agrário voltasse para o centro do debate e que políticas públicas fossem implementadas para atenuar as consequências tanto para o meio ambiente quanto para os ambientalistas e populações originárias. Contudo, mesmo com a queda de 26% no registro de assassinatos no Brasil, o país continuou ocupando o segundo lugar entre os que mais matam. 

Além disso, “as mudanças de políticas continuam sendo desafiadoras diante de um Congresso conservador dominado por ruralistas, que apoiam os interesses de proprietários de terras privadas em detrimento da reforma agrária pública”, afirma o relatório.

Sobre a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30), a ser realizada em Belém (PA), em 2025, o presidente Lula afirmou que “vamos discutir a questão indígena, vendo os indígenas. Nós vamos discutir a questão dos povos ribeirinhos, vendo os povos ribeirinhos e vendo como eles vivem”. Mas não podemos esperar! Mais do que isso, é preciso implementar com urgência um novo sistema de produção que privilegie o bem-estar das comunidades e sobrevivência do meio ambiente, ao invés dos interesses dos latifundiários e das grandes empresas. 

Matéria publicada na edição impressa nº 299 do jornal A Verdade

Povo Guarani-Kaiowá resiste em Douradina (MS)

Em julho de 2024, o povo Guarani-Kaiowá retomou seu território em MS, enfrentando ataques armados de fazendeiros e milícias rurais. A luta Guarani-Kaiowá faz parte de uma resistência histórica contra o avanço do agronegócio.

Douglas Soares e Rafael Bittencourt | Mato Grosso do Sul (MS)


BRASIL – No dia 13 de julho deste ano, o povo Guarani-Kaiowá decidiu retomar seu território histórico na região de Douradina, Mato Grosso do Sul, após anos de espera pela demarcação da Terra Indígena Panambi Lagoa Rica. Esse é um longo processo de retomada e, desde 2011, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) publicou o Relatório de Identificação e Delimitação, que garantia 12 mil hectares para a demarcação.

No entanto, no dia seguinte à ação de ocupação das terras, ocorreu o primeiro ataque armado de fazendeiros e jagunços. As cenas foram aterrorizantes: veículos em alta velocidade perseguindo homens, mulheres e crianças. Os ataques não cessaram. Após o triste episódio, os ruralistas montaram um acampamento armado em frente à Retomada Yvy Ajere. Essa repressão contou com o apoio dos deputados fascistas Marcos Pollon e Rodolfo Nogueira (PL), além do Sargento Prates (PL), candidato a vereador em Dourados (MS) nestas eleições.

A área onde está localizado o acampamento da milícia rural pertence a Cleto Spessato, um ruralista conhecido pela Justiça sul-mato-grossense. Em 2015, Cleto foi acusado de pulverizar agrotóxicos sobre o Território Indígena Guyra Kambi’y, na região de Dourados. Apesar das imagens gravadas pelos indígenas, Cleto foi inocentado. Sua defesa alegou a pulverização de adubo foliar e não agrotóxico e que a aeronave agrícola aplicou o produto a pelo menos 12 metros de distância do território indígena. O caso demonstra, de forma didática, como o Judiciário opera em favor dos poderosos.  

Aos poucos, o acampamento da milícia rural começou a instituir um regime de terror psicológico. Refletores de alta potência iluminavam os indígenas durante toda a noite, enquanto fogos de artifício e tiros eram disparados. Além disso, várias caminhonetes, postas em linha, faziam acelerações constantes e acendiam os faróis, intensificando o clima de medo e intimidação. Esse cenário de terror se repetiu por dias seguidos. No dia 18 de julho, ocorreu o roubo de vários pertences e ferramentas dos indígenas.

A situação atingiu proporções inéditas em conflitos fundiários na região. Movimentos sociais, partidos e coletivos lançaram uma campanha de solidariedade. A Unidade Popular (UP) participou ativamente, ajudou na arrecadação de mantimentos e ofereceu apoio à resistência Guarani-Kaiowá, que, apesar dos ataques e provocações, demonstraram que a organização e a coragem são fundamentais para a luta.

Após a visita dos movimentos de solidariedade aos Guarani-Kaiowá, a milícia rural intensificou seus ataques. Iniciou-se uma nova fase de violência: no dia 02 de agosto, um ataque particularmente brutal resultou em feridos por balas de borracha e armas letais, com cerca de dez pessoas feridas, seis delas em estado grave.

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), as agressões começaram logo após a saída de agentes da Força Nacional do local, que ameaçaram um dos indígenas antes de deixar a região: “pega teu povo e sai daqui ou vocês vão morrer”.

No dia seguinte, 03 de agosto, ocorreu um novo ataque entre o acampamento ruralista e a retomada Yvy Ajere. Os ruralistas avançaram à noite com caminhonetes, tratores e armas, atacando os indígenas. Este episódio foi ainda mais emblemático pela falta de ação da Força Nacional de Segurança presente no local, que permitiu os ataques livres e interviu apenas quando a violência escalou. Percebe-se, novamente, a quem o Estado burguês e seu aparato servem e obedecem. A ação foi gravada por pessoas presentes no local.

“Vão cavar covas aqui para jogar a gente tudo dentro. Pode fazer isso. Se querem Guarani e Kaiowá fora daqui, matem a gente. Enterrem aqui e aí podem plantar soja por cima. Essa é a vontade do Governo? Isso que quer a Justiça? Então façam isso logo, matem a gente tudo. Jagunçada atira na gente, destrói o pouco que temos e a Força Nacional só olha, Governo vem aqui e não faz nada. Saiam daqui, desgraçados! É a nossa terra e tão caçando a gente feito animal. Só quero fazer saber que vamos morrer aqui”, declarou um indígena.

Além da inação da Força Nacional de Segurança, outro episódio peculiar foi o cerco realizado pelo Departamento de Operações de Fronteira (DOF). Durante a visita dos movimentos sociais, os agentes abordaram os participantes nas estradas vicinais que ligam a região. Eles fotografaram documentos de identificação e placas de veículos, além de questionarem o grau de parentesco dos ocupantes, suas atividades no local, ocupações e organizações. Coletaram informações sobre a retomada, como o número de pessoas presentes, lideranças, e se mais apoiadores ou indígenas pretendem se dirigir ao local.

A situação mais grave envolveu integrantes do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST). Os policiais do DOF informaram que todos seriam autuados por invasão de propriedade, além de terem sido submetidos a um interrogatório improvisado na estrada de terra. Não é a primeira vez que o DOF serve como uma milícia aos latifundiários da região.

Poucos dias depois, o acampamento Esperança, do MST, em Dourados, próximo à região de Douradina, onde vivem cerca de 300 famílias acampadas, foi atacado por homens em dez caminhonetes e duas motos, que atearam fogo ao redor do acampamento. O ato criminoso é uma retaliação pela solidariedade aos Guarani-Kaiowá.

Já no início deste mês de setembro, mesmo com a presença de um maior contingente da Força Nacional, os ataques à retomada continuaram de forma “silenciosa”, com ameaças veladas e envenenamento de água.

Histórico

Em 1943, a criação da Colônia Agrícola Federal de Dourados sinalizou a marcha colonial para o oeste e prometeu se estabelecer somente em áreas não habitadas por indígenas. No entanto, essa promessa não foi cumprida e resultou na expulsão dos indígenas. Nas décadas seguintes, as áreas ocupadas pelos colonos passaram por intenso desmatamento. Com a chegada da mecanização da agricultura e o avanço do cultivo de soja na região, a mão de obra indígena também foi dispensada. Jogados à própria sorte, sem suas terras e sem meios de subsistência, os Guarani-Kaiowá resistem há anos a um projeto de genocídio continuado.

Os últimos acontecimentos demonstram o constatado há muitos anos no Mato Grosso do Sul e em todo o Brasil: os aparelhos do Estado servem aos burgueses e latifundiários. Não podemos ter ilusões com o Governo Federal de centro-esquerda, que tem demonstrado, cada vez mais suas limitações e retrocessos. Somente o povo organizado pode salvar o povo. Temos muito a aprender com os Guarani-Kaiowá. Organizar, lutar e avançar!

Matéria publicada na edição impressa nº299 do jornal A Verdade

Marta Almeida, presente!

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No mês de setembro de 2024, completa 1 ano que nos despedimos de Marta Almeida, militante histórica do movimento negro pernambucano. O jornal A Verdade homenageia essa grande companheira.

Clóvis Maia | Redação Pernambuco


Marta Carmelita Bezerra de Almeida, mais conhecida nos movimentos sociais como Martinha, nos deixou há 1 ano. No dia 13 de setembro de 2023, enquanto viajava exercendo sua militância em defesa do povo negro de nosso país. Marta era uma educadora popular, pedagoga de formação e especialista em psicopedagogia e uma defensora das mulheres negras e uma combatente alegre contra todo tipo de opressão.

Martinha era uma força da natureza. Em seus 44 anos de vida dedicou-se desde a juventude à luta. Foi uma das grandes lideranças do Movimento Negro Unificado (MNU) no Brasil, contribuiu com o Comitê de Memória, Verdade e Justiça em Pernambuco, onde sempre trouxe a pauta da repressão do povo negro durante a ditadura militar brasileira, além de ser uma aliada de primeira hora do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) onde militava junto à Central dos Movimentos Populares (CMP).

Era comum ouvir Martinha soltando a voz em suas intervenções cantando “Canto das Três Raças”, de Mauro Duarte e Paul Cesar Pinheiro, hino eternizado na voz de Clara Nunes lançado em 1976. Martinha não gostava de ver ninguém triste. A alegria, o bom humor e a disposição sempre foram suas marcas. Era impossível conversar com a companheira por um minutinho e não se contagiar com tanta energia, tanta força.

O último momento que lembro de Marta foi na abertura do 8° Encontro de Comitês e Comissões Norte e Nordeste por Memória, Verdade e Justiça, em 28 de agosto de 2023, quando diante de um auditório lotado na Universidade Católica (UNICAP), Marta, antes de entoar um trecho do Canto das Três Raças lembrou: “quem não tem exemplo, não tem história”, reforçando a necessidade de lembrar de nomes como Manoel Aleixo da Silva e Amaro Félix Pereira, militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCR) assassinados pela ditadura militar brasileira.

Martinha foi sepultada com honras e homenageada país a fora. Nesse mês em que se completa 1 ano de sua morte queremos lembrar seu exemplo e sua alegria. Pois é exatamente que ela nos deixou: um exemplo de alegria e disposição para a luta e a certeza de nossa vitória. Como sempre dizemos: Martinha, presente!

Greve dos trabalhadores dos Correios arranca conquistas

Os funcionários dos Correios estiveram em greve entre os dias 7 e 22 do último mês de agosto. Sua paralisação conquistou importantes vitórias, como aumentos salariais e reajustes nos vales, e deve dar força à luta contra o projeto de privatização da empresa estatal

Redação


Trabalhadores e trabalhadoras da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo (ECT) saíram vitoriosos da greve nacional realizada no mês de agosto, que teve, no último dia 16 de setembro, a assinatura do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) para o biênio 2024-2025. Os correios são a empresa estatal mais antiga do país, mais interiorizada e com maior quantidade de servidores.

O movimento grevista teve início no dia 07 e durou até o dia 22 de agosto. A categoria reivindicava reajuste salarial imediato, melhorias nos benefícios, reajuste nas funções, redução do custeio do plano de saúde e a realização de concurso público para suprir a falta de pessoal. Todas, pautas históricas da categoria, que já motivaram greves anteriores. O último concurso público, por exemplo, aconteceu em 2011, o que traz consequências para a qualidade do serviço prestado, sobrecarregando os trabalhadores.

Com uma forte mobilização nesta campanha salarial, foram realizadas 16 negociações, diversas assembleias pelo país, reuniões de mediação no Tribunal Superior do Trabalho (TST) e três encontros para a correção das cláusulas do ACT.

Entre as principais conquistas econômicas da greve, estão:

– Reajuste linear de R$ 260,00, garantindo o mínimo de 4,11%, o que representa para categoria um reajuste entre 10,70% para os salários mais baixos e o mínimo de 4,11% no INPC de 4,06% em janeiro (segue tabela DIEESE);

– 70% de gratificação de férias;

– Reajuste de 4,11% nos Benefícios;

– Vale Extra, em dezembro de 2024, de R$ 1.000,00;

– Vale Extra, em janeiro de 2025, de R$ 1.500,00.

No plano político, esta greve dos Correios fortalece a consciência de classe de que só com luta os trabalhadores podem obter vitórias debaixo do capitalismo e ainda mostra que a empresa estatal deve ser defendida da sanha dos capitalistas. Enquanto o Governo Federal não sepultar a proposta de privatização dos Correios, os trabalhadores seguirão em alerta contra o desmonte da empresa.

Matéria publicada na edição nº 299 do jornal A Verdade

MLB realiza a jornada de lutas “Pátria Sem Fome”

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Mobilização das famílias sem-teto no dia 7 de setembro conquistou 13.500 cestas básicas para enfrentar a insegurança alimentar que assola o povo brasileiro. Jornada “Pátria Sem Fome” do MLB  mostrou que só a luta vai construir um país independente da pobreza e da miséria

Coordenação Nacional do MLB


Neste ano, o Dia da Independência do Brasil (07 de setembro) foi marcado pela jornada de lutas “Pátria Sem Fome”, organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Diante do cenário de desigualdade social que se aprofunda no nosso país, com 64 milhões de pessoas passando fome numa das terras mais férteis do mundo.

“Nós demonstramos o verdadeiro amor pela pátria, mas uma pátria que seja realmente justa, democrática, que seja sem fome e sem miséria, essa a gente precisa lutar ainda pra conquistar, temos uma falsa independência, veja o que é essa dependência as grandes redes de supermercado”, afirmou Poliana Souza, da Coordenação Nacional do MLB.

Como parte dessa Jornada, as famílias do MLB já construíram, em todo o país, as ações “Natal Sem Fome”, “Mulheres Contra a Fome” e “Trabalhadores Contra a Fome”.

Desta vez, ocorreram ações em 38 lojas da rede de supermercados Carrefour, em 35 cidades, de 19 estados. Mais de 2.500 famílias do MLB foram cobrar o acordo que a rede fez com o movimento e não cumpriu. Em dezembro de 2023, as famílias do MLB ocuparam a esta rede em mais um “Natal Sem Fome” e conquistaram 6 mil cestas básicas, que deveriam ser entregues até janeiro de 2024. Porém, esse acordo não foi cumprido e a resposta do MLB foi novamente ir à luta para exigir o que ficou combinado.

Além disso, a rede Carrefour, como publicou A Verdade na edição nº 298, possui, sozinha, quase 30% do lucro do ramo alimentício no Brasil, tendo faturado mais de R$ 115 bilhões em 2023.

Luta conquista 13.500 cestas básicas

Fruto dessa luta incansável, as famílias combativas do MLB, certas de que só sairiam do supermercado depois de conquistar suas cestas básicas, organizaram lanches coletivos, plenárias para leitura do jornal A Verdade, grandes agitações de denúncia com megafones e caixas de som contra a lógica do lucro e ainda aguentaram firmes as ameaças de policiais em algumas lojas, que queriam desmobilizar e criminalizar a ação. Sobre essa proteção à propriedade privada, Rose, da Coordenação Estadual do MLB em Sergipe, afirma: “A gente fica meio apreensiva com a polícia ali, não sabemos como eles vão reagir… mas o que a gente sabe é que só se conquista lutando, mesmo nas dificuldades”.

No total, foram dez horas consecutivas de ação nas unidades do Carrefour e, como resultado dessa força coletiva, tivemos um resultado histórico nessa batalha: 13.500 cestas básicas para todas as famílias que fizeram parte do ato “Pátria Sem Fome”. Ao meio-dia, em todo o país, num dos momentos mais emocionantes desta luta, as famílias e os militantes se reuniram para cantar A Internacional, hino mundial da classe trabalhadora. Os primeiros versos da canção não poderiam ser mais apropriados: “De pé, ó vítimas da fome. De pé, famélicos da terra”.

Se, no início do ano, a rede Carrefour não cumpriu com as 6 mil cestas acordadas, novamente o trabalho nacional, organizado e a convicção de que a luta contra a fome é uma luta justa e urgente, arrancou na marra mais que o dobro de cestas básicas.

E isso é, mais uma vez, o nosso povo reafirmando, na prática, que a luta coletiva é a saída para todos os problemas, pois eles também são coletivos, apesar de o sistema capitalista tentar passar a ideia de que são individuais. Para Kaise, do núcleo do MLB na Maré, Rio de Janeiro, o que fez essa conquista ser possível foi a união, a força e esperança na luta. “Nesse ato teve muita união.       Não deixamos perder a força e a esperança nem por um minuto. E isso foi emocionante!”. Sua mãe, Denise, também do núcleo na Maré, apontou que o futuro guarda novas vitórias para os combatentes do MLB. “Lutamos, ficamos lá até o final e saímos vitoriosos com as nossas cestas porque somos fortes e organizados. E continuo dizendo, vamos manter a garra para as próximas batalhas”.

Pátria livre é uma pátria sem fome e sem miséria

Como achar que é independente um país onde ainda se encontram trabalhadores sendo escravizados como há 500 anos ou um país que ainda ocupa o 5º lugar no ranking dos países que mais matam mulheres? Como achar que é independente um país em que sua população vive na miséria, escravos do aluguel e da especulação imobiliária, vivendo em situação de risco, enquanto há mais prédios e terrenos vazios do que gente sem teto?

Para as famílias do MLB, essa independência nunca aconteceu e não acontecerá enquanto não construirmos o poder popular. Nossas batalhas do presente são necessárias e lutaremos até conquistar a verdadeira independência do Brasil. A independência desse sistema que funciona somente para saciar um punhado de ricaços enquanto a fome atinge milhões de pessoas.

Dia 07 de setembro de 2024 foi, de fato, um dia de comemorações, mas, dessa vez, de comemoração popular, daqueles que constroem a nação e foram à luta buscar o que é nosso.

Matéria publicada na edição nº 299 do jornal A Verdade