Mobilização das famílias sem-teto no dia 7 de setembro conquistou 13.500 cestas básicas para enfrentar a insegurança alimentar que assola o povo brasileiro. Jornada “Pátria Sem Fome” do MLB mostrou que só a luta vai construir um país independente da pobreza e da miséria
Coordenação Nacional do MLB
Neste ano, o Dia da Independência do Brasil (07 de setembro) foi marcado pela jornada de lutas “Pátria Sem Fome”, organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Diante do cenário de desigualdade social que se aprofunda no nosso país, com 64 milhões de pessoas passando fome numa das terras mais férteis do mundo.
“Nós demonstramos o verdadeiro amor pela pátria, mas uma pátria que seja realmente justa, democrática, que seja sem fome e sem miséria, essa a gente precisa lutar ainda pra conquistar, temos uma falsa independência, veja o que é essa dependência as grandes redes de supermercado”, afirmou Poliana Souza, da Coordenação Nacional do MLB.
Como parte dessa Jornada, as famílias do MLB já construíram, em todo o país, as ações “Natal Sem Fome”, “Mulheres Contra a Fome” e “Trabalhadores Contra a Fome”.
Desta vez, ocorreram ações em 38 lojas da rede de supermercados Carrefour, em 35 cidades, de 19 estados. Mais de 2.500 famílias do MLB foram cobrar o acordo que a rede fez com o movimento e não cumpriu. Em dezembro de 2023, as famílias do MLB ocuparam a esta rede em mais um “Natal Sem Fome” e conquistaram 6 mil cestas básicas, que deveriam ser entregues até janeiro de 2024. Porém, esse acordo não foi cumprido e a resposta do MLB foi novamente ir à luta para exigir o que ficou combinado.
Além disso, a rede Carrefour, como publicou A Verdade na edição nº 298, possui, sozinha, quase 30% do lucro do ramo alimentício no Brasil, tendo faturado mais de R$ 115 bilhões em 2023.
Luta conquista 13.500 cestas básicas
Fruto dessa luta incansável, as famílias combativas do MLB, certas de que só sairiam do supermercado depois de conquistar suas cestas básicas, organizaram lanches coletivos, plenárias para leitura do jornal A Verdade, grandes agitações de denúncia com megafones e caixas de som contra a lógica do lucro e ainda aguentaram firmes as ameaças de policiais em algumas lojas, que queriam desmobilizar e criminalizar a ação. Sobre essa proteção à propriedade privada, Rose, da Coordenação Estadual do MLB em Sergipe, afirma: “A gente fica meio apreensiva com a polícia ali, não sabemos como eles vão reagir… mas o que a gente sabe é que só se conquista lutando, mesmo nas dificuldades”.
No total, foram dez horas consecutivas de ação nas unidades do Carrefour e, como resultado dessa força coletiva, tivemos um resultado histórico nessa batalha: 13.500 cestas básicas para todas as famílias que fizeram parte do ato “Pátria Sem Fome”. Ao meio-dia, em todo o país, num dos momentos mais emocionantes desta luta, as famílias e os militantes se reuniram para cantar A Internacional, hino mundial da classe trabalhadora. Os primeiros versos da canção não poderiam ser mais apropriados: “De pé, ó vítimas da fome. De pé, famélicos da terra”.
Se, no início do ano, a rede Carrefour não cumpriu com as 6 mil cestas acordadas, novamente o trabalho nacional, organizado e a convicção de que a luta contra a fome é uma luta justa e urgente, arrancou na marra mais que o dobro de cestas básicas.
E isso é, mais uma vez, o nosso povo reafirmando, na prática, que a luta coletiva é a saída para todos os problemas, pois eles também são coletivos, apesar de o sistema capitalista tentar passar a ideia de que são individuais. Para Kaise, do núcleo do MLB na Maré, Rio de Janeiro, o que fez essa conquista ser possível foi a união, a força e esperança na luta. “Nesse ato teve muita união. Não deixamos perder a força e a esperança nem por um minuto. E isso foi emocionante!”. Sua mãe, Denise, também do núcleo na Maré, apontou que o futuro guarda novas vitórias para os combatentes do MLB. “Lutamos, ficamos lá até o final e saímos vitoriosos com as nossas cestas porque somos fortes e organizados. E continuo dizendo, vamos manter a garra para as próximas batalhas”.
Pátria livre é uma pátria sem fome e sem miséria
Como achar que é independente um país onde ainda se encontram trabalhadores sendo escravizados como há 500 anos ou um país que ainda ocupa o 5º lugar no ranking dos países que mais matam mulheres? Como achar que é independente um país em que sua população vive na miséria, escravos do aluguel e da especulação imobiliária, vivendo em situação de risco, enquanto há mais prédios e terrenos vazios do que gente sem teto?
Para as famílias do MLB, essa independência nunca aconteceu e não acontecerá enquanto não construirmos o poder popular. Nossas batalhas do presente são necessárias e lutaremos até conquistar a verdadeira independência do Brasil. A independência desse sistema que funciona somente para saciar um punhado de ricaços enquanto a fome atinge milhões de pessoas.
Dia 07 de setembro de 2024 foi, de fato, um dia de comemorações, mas, dessa vez, de comemoração popular, daqueles que constroem a nação e foram à luta buscar o que é nosso.
Matéria publicada na edição nº 299 do jornal A Verdade
O dia 28 de setembro deste ano foi marcado pela luta contra o PL 1904. Daqui em diante, é preciso organizar cada vez mais mulheres para conquistar a legalização do aborto no país
Catarina Matos | Fortaleza (CE)
O dia 28 de setembro marca o Dia de Luta pela Descriminalização e Legalização do Aborto na América Latina e no Caribe. No Brasil, desde junho, mulheres e pessoas que gestam estão em luta contra o PL 1904 de 2024, conhecido como “PL do Estupro”, que pretende equiparar o aborto ao crime de homicídio. Na prática, trata-se de uma lei que pune vítimas de estupro, entre elas, inúmeras meninas que sofrem abuso sexual.
Com o anúncio desse terrível ataque aos direitos humanos e às nossas vidas, imediatamente, as brasileiras foram às ruas e realizaram importantes protestos em todo o país. Em enquete feita pela Câmara dos Deputados, 88% dos brasileiros votaram que “discordam totalmente” da proposta. A rejeição popular, impulsionada pelas manifestações, fez o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira anunciar o adiamento do PL para este segundo semestre do ano.
Desde 1940, o aborto é proibido no Brasil, exceto em três casos: gravidez com risco de vida à gestante; feto anencéfalo; gravidez decorrente de estupro. Contudo, o fascista Projeto de Lei, considerado “inconstitucional, inconvencional e ilegal” pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, representa um profundo retrocesso na luta pelos direitos reprodutivos em nosso país. Nessa pauta, nosso país anda na contramão de vários outros, que garantem dignidade e autonomia das mulheres sobre seus corpos e suas vidas, como Cuba, Uruguai e Argentina. Em todos eles, a organização popular foi decisiva para essas conquistas.
O direito ao aborto ainda é tratado como um tema de ordem moral e vinculado a interpretações daqueles que nada sabem sobre o assunto.
A verdade é que o aborto é uma realidade na vida das mulheres no Brasil: uma a cada sete mulheres com até 40 anos já abortaram. A Pesquisa Nacional de Aborto (2021) constatou que o perfil geral é de mulheres que “fizeram aborto muito jovens, têm filhos, professam alguma religião e estão em todas as classes sociais”, desmascarando, assim, os estereótipos de que quem aborta é uma mulher sem religião e sem filhos.
Também é realidade que aquelas que mais morrem, vítimas de abortos clandestinos, são as mulheres negras. Por serem mais pobres, elas têm menos condições de acessar procedimentos de abortamento seguro e são criminalizadas quando buscam ajuda nos serviços de saúde. Mais uma face perversa do racismo na vida das mulheres negras.
Ao ser descriminalizado, o aborto deixa de ser crime, e as mulheres que o realizam não são presas ou consideradas criminosas pela lei. Já a legalização pressupõe ações governamentais de enfrentamento à gravidez indesejada, como maior divulgação da temática, distribuição de métodos contraceptivos e um serviço de abortamento voluntário oferecido de forma segura e gratuita pelo Sistema Único de Saúde.
Enterrar o PL 1904
Por isso, nós, militantes do Movimento de Mulheres Olga Benario, devemos organizar uma ampla luta em torno do dia 28 de setembro, indo às ruas e defendendo em todos os estados manifestações massivas, que agreguem mais pessoas, movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos, para defendermos a luta contra o PL 1904 e por direitos reprodutivos e a autonomia das mulheres sobre suas vidas.
Devemos reunir nossas militantes em plenárias formativas e elaborarmos um calendário de atividades. Ações como panfletagens, rodas de conversa, cursos, agitações com megafone e caixa de som nas ruas; participar de reuniões dos núcleos das nossas organizações irmãs (Unidade Popular, MLB, UJR, MLC) para dar mais formação à militância; visitas aos bairros populares para conversar com as famílias; palestras em escolas e universidades podem compor essa jornada de lutas. O objetivo é influenciar o conjunto da sociedade, enterrar o “PL do Estupro” e impulsionar a Maré Verde feminista pela legalização do aborto no Brasil, inspirado em nossas aguerridas companheiras argentinas.
Nem presas, nem mortas! Nos queremos vivas e em luta!
Matéria publicada na edição nº 299 do jornal A Verdade
A Unidade Popular (UP) deve ser um instrumento da luta das mulheres trabalhadoras brasileiras, exploradas em empregos precários com salários mais baixos e duplas ou triplas jornadas. Todos os núcleos da UP devem se dedicar à tarefa de convocá-las a se organizar com o partido para lutar pela revolução
Carol Vigliar e Nana Sanches*
As mulheres da classe trabalhadora sentem na pele, de forma mais brutal, a desigualdade social, a precarização do trabalho, a retirada de direitos, o alto preço dos alimentos e do aluguel. Segundo o IBGE, a quantidade de mulheres chefes de família tem aumentado a cada ano. Elas são consideradas chefes de família quando são as principais responsáveis pelo sustento da casa e dos filhos. Entre 2012 e 2023, este número aumentou 82,5%, passando de 22,2 milhões para 40,5 milhões de mulheres, que chefiam metade dos lares brasileiros.
Mesmo assim, as mulheres ainda recebem menores salários que os homens (17% a menos, em média, segundo o IBGE), ocupam os postos de trabalho mais precarizados e são as primeiras a serem demitidas.
Tendo em vista esse cenário de imensa desigualdade, mas também de disposição de luta, o Movimento de Mulheres Olga Benario, junto com outros movimentos, decidiu fundar um partido político para organizar as lutas do povo brasileiro.
Assim, em 2016, surgiu a Unidade Popular (UP). Mas, para garantir que o partido tivesse seu registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), milhares de trabalhadores e trabalhadoras, jovens, famílias sem-teto, coletaram mais de 1 milhão e 200 mil assinaturas de apoio em todo país. Em 10 de dezembro de 2019, o TSE confirmou a vitória deste imenso trabalho.
A UP foi fundada como uma resposta da classe trabalhadora ao avanço do fascismo enquanto ideologia política da burguesia no Brasil e no mundo. No poder no Brasil, os fascistas implementaram medidas econômicas neoliberais, que causaram empobrecimento, desemprego e aumento da violência, sendo a UP uma das principais organizações que deu enfrentamento a isso nas ruas, mesmo durante o período da pandemia de Covid-19.
Segundo Amanda Bispo, mulher jovem e trabalhadora que participou desse processo de fundação e que hoje é candidata a prefeita em Mauá (SP), “nós estávamos cansadas de ver os mesmos homens, os mesmos poderosos serem eleitos para fazerem políticas de extermínio do nosso povo, ou para conciliarem com os mais ricos e virarem as costas pra gente. Por isso, nós mulheres decidimos tomar essa luta como nossa e fundar a UP para mostrar que nosso povo pode e deve construir o poder popular e o socialismo”.
Organizar as mulheres
Durante o período eleitoral, muita gente debate política e está aberta a novas ideias. Nestas eleições municipais, a UP lançou dezenas de companheiras combativas como candidatas, que têm usado essa importante tribuna para falar das questões mais sentidas pelas mulheres. A partir disso, cabe aos núcleos do Movimento Olga e da Unidade Popular aproveitarem essa oportunidade para falar com mais mulheres e organizá-las. Os núcleos podem preparar cursos, plenárias, caminhadas, reuniões abertas e chamar as candidatas da UP para participar. Também podem organizar mutirões de filiação de mulheres.
As mulheres precisam se organizar se quiserem alterar a conjuntura de seus bairros, cidades e do país. Se quiserem fazer frente à tamanha violência a que são submetidas e à gigantesca desigualdade que afeta as cidades.
Para Indira Xavier, da Coordenação Nacional do Olga e candidata a prefeita de Belo Horizonte (MG), “tomar partido é uma necessidade se quisermos resolver a situação de violência de gênero e violência do sistema capitalista. A UP é um partido que proporciona ao conjunto de suas mulheres não só atuar, mas dirigir esse processo, porque entendemos que sem as mulheres participando ativamente da política não será possível uma transformação radical da sociedade”.
*Carol Vigliar e Nana Sanches são da coordenação do Movimento de Mulheres Olga Benário
Matéria publicada na edição nº 299 do jornal A Verdade
A “Independência” de 1822, na verdade, foi um pacto de elites que resultou na manutenção da estrutura econômica do colonialismo, deixando um legado de submissão às potências econômicas internacionais. A verdadeira Independência virá com a conquista do socialismo no Brasil, por meio da luta popular
Natanael Sarmento* | Recife (PE)
Como demonstrado na primeira parte deste artigo, publicada na última edição de A Verdade (nº 298), o Brasil foi palco de inúmeras lutas e revoltas populares antes da dita Independência de 1822. No entanto, as narrativas historiográficas das classes dominantes omitem as questões materiais essenciais e as lutas de classe.
Minimizam o processo de exploração e opressão dos escravizados (indígenas e negros), dos camponeses e dos operários em narrativas legitimadas em artigos, livros e “pesquisas científicas” sobre a Independência do Brasil. Registram causas e consequências com alguma veracidade naquilo que não contraria os interesses centrais das elites. Criam e sedimentam a “cultura hegemônica” difundida pelos aparelhos ideológicos da burguesia: mídias digitais, radiofônicas, televisivas, imprensas, igrejas, escolas, universidades, etc. Ressaltam “causas externas e internas”: mudança da família real para o Brasil (omitem a fuga vergonhosa); progressos econômicos e políticos da Corte no Brasil: abertura dos portos (ocultam a sujeição à Inglaterra); ressaltam a elevação do Brasil ao status de Reino Unido de Portugal. Fazem apologias à criação do Banco do Brasil, escolas, teatros, bibliotecas, à expansão territorial. Ocultam que as classes abastadas foram os maiores beneficiados desse “progresso”. Escondem o sangue derramado de quem pagava a conta: o trabalho escravo nos engenhos de açúcar, fazendas de café e minas. Não enfatizam a natureza exploradora da usurpação das riquezas nacionais apropriadas pelas elites dominantes.
Nessa toada, o episódio de 07 de setembro de 1822 ungiu à condição de herói o príncipe regente D. Pedro I. Nas “margens plácidas do rio Ipiranga”, arrancou as insígnias lusitanas, brandiu a espada sob céu da pátria e gritou: “Independência ou Morte!”. D. Pedro I é aclamado imperador, defensor perpétuo do Brasil, pela Graça de Deus. Seria o fim dos laços coloniais entre Brasil e Portugal? O Brasil passou, de fato, a ser uma nação independente?
Tratado de Panos e Vinhos
As classes dirigentes de Portugal não desenvolvem seu país. Transferiram a maior parte do ouro extraído no Brasil para os ingleses e, deles, se tornam dependentes. Na escala da exploração, a Inglaterra explorava Portugal, que explorava o Brasil.
“O Tratado Methuen” do comércio bilateral anglo-luso foi popularizado com o nome de “Panos e Vinhos”. Assinado em 1703, vigorou até o segundo quarto do século XIX, extremamente prejudicial para Portugal. Na prática, Portugal perdia a soberania e se tornava colônia Inglesa. A economia portuguesa se afundava: os lusos exportavam produtos primários, açúcar, fumo e depois, o vinho, para a Inglaterra. Os britânicos exportavam manufaturas, tecidos e produtos industrializados. A balança comercial nessa troca de valores desiguais não se equilibrava. Sem desenvolver a própria indústria, Portugal consumia quase todos os produtos da Inglaterra. Restava aumentar a produção e a exportação de vinhos. Os portugueses ocupam a maioria das suas terras agrícolas com vinhedos. Reduzem a produção local de grãos e cereais, sendo obrigados a importar tais produtos para o abastecimento interno.
A dívida lusa só aumentava e disparou com os gastos relativos ao aparato da proteção da armada inglesa na fuga de D. João VI e sua Corte para o Brasil, em 1808, na invasão napoleônica. Cada vez mais dependente da Inglaterra, Portugal usava o ouro do Brasil para amortecer a dívida com os ingleses. A maior parte do ouro brasileiro vai parar nos bancos da Inglaterra.
A escolta da família real (1808) e a expulsão das tropas napoleônicas de Portugal (1810) elevam enormemente a dívida lusitana com a Inglaterra, “nação amiga”. A crise econômica e política dos lusos endividados pela guerra, enfrentando a crise de produção e escassez de alimentos, alta dos preços, agitava o país. Ademais, os “amigos ingleses” apresentavam a fatura da amizade imperialista. Para “proteção” dos portugueses, deixam as tropas militares estacionadas no país e nomeiam como chefe militar e governante em Portugal o general inglês William Carr Beresford. O exército lusitano ficou subordinado ao comando dos ingleses.
Revolução do Porto
As elites prejudicadas – burguesia, clero, militares e nobreza não exilada no Brasil perdia poder, dinheiro e prestígio. A relação mercantil direta entre Brasil-Inglaterra afundava a economia portuguesa. Com o “patriotismo” abalado, essa elite lusitana esboça reações para a “regeneração lusitana”. Usam a retórica da nação ocupada por estrangeiros e sob a regência de monarca absolutista exilado no Brasil.
Os movimentos conspiratórios das elites portuguesas têm natureza liberal, no sentido de mais poder para a burguesia e limitação de poderes do rei, e restauradora de privilégios perdidos. Pretendiam: afastamento do inglês Will Carr Beresford; fixação da sede da monarquia no país; constituição para limitar os poderes absolutos do rei; manutenção do sistema colonial, inclusive no Brasil, que perderia o status de Reino Unido e voltaria a ser colônia da Metrópole Portuguesa.
Em 1817, ocorreu o ensaio geral da rebelião, a “Conspiração de Lisboa”. O Quartel de Artilharia é sublevado sob o comando do general português Gomes Freire de Andrade. Mas o motim deu com os burros n’água. Os ingleses que controlavam Lisboa reprimiram violentamente o levante. O general lusitano foi fuzilado, aumentando a revolta e as articulações.
Em 24 de agosto de 1820, os militares dão início à revolução, na cidade do Porto. Tomam a Câmara Municipal e formam a Junta Provisória do Governo Supremo do Reino. No Manifesto da Nação aos Povos Soberanos da Europa, proclamam os objetivos da revolução de regeneração econômica e independência de Portugal; de instituição de governo monarquista-constitucional. Convocam as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa visando à elaboração da Constituição. A historiografia registra como revolução liberal, mas Estado burguês permaneceu absolutista e repressor contra a maioria dos portugueses pobres, dos escravos e libertos pobres das suas colônias. No rol das resoluções da Revolução do Porto, constava a exigência de restabelecimento da sede da administração do reino em Lisboa e a volta imediata do rei D. João VI para jurar a nova Constituição.
As notícias da Revolução do Porto demoram mais de um mês para chegar ao Brasil. Com a corda no pescoço – permanecer rei dos portugueses com poderes limitados, ou ser deposto pelas Cortes – não restava outra alternativa a D. João VI, senão voltar a Portugal.
Deixa no trono brasileiro o filho D. Pedro I, português de nascimento, então com 22 anos. Consta que D. João VI, na partida para Lisboa, antevia a possibilidade de movimento de independência das classes dirigentes do Brasil. E aconselhou ao seu herdeiro sucessor: “põe essa Coroa na tua cabeça antes que algum aventureiro lance mão!”. Peculiar independência. Proclamada pelo monarca da mesma dinastia que reinava na Metrópole com a qual rompia.
Independência para quem?
O “grito do Ipiranga” foi melodia para as classes dominantes do Brasil: burguesia, oligarquias escravistas. Não soou nas senzalas, nos rincões dos nativos caçados e usurpados de suas terras. Nem pelos pobres libertos, brancos, negros ou mestiços. Escravos, camponeses, trabalhadores pobres permaneceram como antes. A “independência” manteve os privilégios das classes abastadas do Brasil.
O Brasil “independente” manteve velhas estruturas econômicas e políticas. Permaneceu agrário, latifundiário, exportador primário, escravista, colonial e monarquista. Endividado e obrigado a pagar a dívida externa para obras estruturais do desenvolvimento nacional. Importador de produtos industrializados e técnicos e exportar de produtos primários. O tratado anglo-brasileiro de “Aliança, Comércio e Amizade” estabelecia cláusulas de sangria e monopólio no comércio das manufaturas inglesas e sobretaxação dos produtos de outros países, aprofundando a dependência econômica e técnica.
O que mudava com a chamada “Independência” em 07 de setembro de 1822? O Brasil retirava a corda do pescoço da forca lusitana e colocava a da forca “neocolonial dos banqueiros” ingleses. Na condição de devedor dos credores ingleses, o Império do Brasil foi coparticipante do genocídio no Paraguai. Guerra de rapina imperialista, ordenada pelos ingleses e executada pelas novas colônias “independentes formalmente” (Brasil, Argentina e Uruguai).
Além disso, o custo do reconhecimento da independência do Brasil pela Inglaterra foi o pagamento da dívida astronômica contraída por Portugal, no valor de 3,1 milhões de libras, além de montanhas de ouro e metais preciosos, toneladas de café, açúcar.
Duzentos e dois anos depois da “Independência”, nossa nação permanece enforcada pelos banqueiros donos do mundo. Saqueiam quase metade do Orçamento da União no pagamento dos juros e “serviços” da dívida pública. Soberania alienada a credores que ditam os rumos da economia e submetem o país à cartilha dos países imperialistas. Aumentamos também a dependência econômica, científica e tecnológica. Ampliamos as desigualdades sociais e regionais. Aumentamos a distância entre pobres e ricos.
Degradam as empresas estatais para desvalorizar e pavimentar privatizações do patrimônio público, na pilhagem burguesa das privatizações. A Fazenda Pública Nacional financia as operações para salvar capitalistas falidos. A burguesia defende o Banco Central independente do Estado e dependente deles, dos banqueiros, que visam a lucros fabulosos com juros escorchantes para o povo, também endividado.
A alternativa do poder popular e socialista é única saída para a nação. Imediata suspensão do pagamento dessa dívida não contraída pelo povo, com auditoria revolucionária, capaz de expropriar os expropriadores e reverter em benefício da maioria pobre todas riquezas produzidas pela classe trabalhadora.
*Natanael Sarmento é do diretório nacional da Unidade Popular
Matéria publicada na edição nº 299 do jornal A Verdade
Chuvas e tempestades que persistem desde o início da semana já deixam centenas de pessoas sem casa e trazem transtorno ao cotidiano de outras milhões no sul gaúcho. Deslizamentos, quedas de árvore, destelhamentos, descargas elétricas, enchentes e alagamentos são generalizados pelo estado.
Guilherme Brasil | Pelotas (RS)
O Rio Grande do Sul passa por mais um evento climático agressivo nessa semana e gaúchos revivem medo da água invadir seus lares. Já são 560 desabrigados e 299 desalojados até a noite de quarta-feira (25), segundo a Defesa Civil. A cidade mais atingida é Camaquã: até quarta-feira acumulou 250mm de chuva, registrou ventos de 100km/h e possui 500 desalojados e 200 desabrigados.
São Lourenço do Sul acumulou 182mm de chuva em um único dia, segundo o Climatempo Meteorologia, e a média para todo o mês de setembro é de 145mm. Em Piratini, houve registros de pedras de granizo de 7cm de diâmetro. Ao total, no mínimo 26 municípios já foram atingidos. Entre as instituições de ensino que tiveram aulas canceladas, estão várias escolas municipais, o IFRS (campi Rio Grande, Porto Alegre e Restinga), FURG (campi Carreiros, Saúde, Santa Vitória do Palmar e São Lourenço do Sul), UFPel e UCPel.
Rio Grande, no sul do estado, foi a primeira cidade a deslocar pessoas em razão das chuvas e soma 18 fora de casa. O Arroio das Cabeças transbordou na terça-feira (24), obrigando famílias a saírem da Vila da Quinta. O serviço de balsa foi suspenso. Os ônibus que atendem a Vila da Quinta, Taim, FURG/IFRS, Cassino e a Ilha da Torotama tiveram seus itinerários afetados.
Em Pelotas a água fica acumulada nas ruas, deixando a população ilhada e invadindo várias casas. Além disso, duas barragens correm risco de rompimento e a prefeitura declarou emergência. Enquanto isso, o candidato fascista à prefeitura Marciano Perondi (PL) tem a cara de pau de dizer que Pelotas não alaga e o governador Eduardo Leite (PSDB) nem está no RS e fala em campanha de turismo, como se as enchentes de maio tivessem ficado no passado.
O que está acontecendo agora nem de longe é a mesma catástrofe de maio, mas repetidas vezes se escancara que as mudanças climáticas são um fato. O Rio Grande do Sul tem um problema muito sério com a urbanização não planejada e com uma arquitetura europeia em um bioma de campos, banhados e diversos cursos d’água.
Esse sistema capitalista não respeita nem a realidade e impõe um só modo de vida. Está na hora de dar basta à anarquia das nossas cidades e à exploração desenfreada dos recursos naturais.
As queimadas que assolam o país estão longe de serem espontâneas: o agronegócio e os políticos a seu serviço têm responsabilidade por estes crimes. Desrespeito do Governo com servidores do ICMBio e Ibama e cortes nas verbas dos órgãos ambientais deixam a situação ainda mais crítica
Fernando Alves | Redação
No dia 10 de agosto de 2019, aconteceu, no Pará, o chamado “Dia do Fogo”, uma ação combinada por grileiros e fazendeiros que incendiou vastas porções de floresta nas regiões de Novo Progresso e Altamira. Tudo sob a conivência do governo fascista e negacionista de Jair Bolsonaro. Agora, no Brasil, todo dia é “Dia do Fogo”.
Dados do Monitor do Fogo de 12 de setembro (levantamento feito mensalmente pelo MapBiomas), apontam que, de janeiro a agosto de 2024, as queimadas aumentaram 116% em relação ao mesmo período do ano passado. A situação é mais grave na Amazônia, que concentra 48% de toda a área queimada no país nos últimos oito meses. O Cerrado é o segundo bioma que mais queima no país: a área destruída representa 36% de todo território queimado no Brasil. Destaque para a disparada nas Florestas Públicas Não Destinadas (FPNDs), principal alvo da grilagem na Amazônia. Nessas áreas, o salto das queimadas foi de 175% em relação aos mesmos oito meses de 2023.
Um alerta da Met Sul, uma consultoria de tempo e clima, apontou que, devido às queimadas que atingem o Brasil e a América do Sul nos últimos dias, os níveis de monóxido de carbono na atmosfera, neste momento, são altíssimos em parte do território brasileiro e em países vizinhos, como a Bolívia e o Paraguai. Incolor e inodoro, este gás é muito perigoso e até fatal em ambientes fechados.
A fumaça das queimadas já se espalha por quase todo o território nacional, deixando o ar seco. A baixa umidade relativa do ar apresenta índices alarmantes. Milhares de cidades estão cobertas de fumaça há semanas e os incêndios se proliferam em todas as partes do Brasil.
No último dia 16, o incêndio que atinge o Parque Nacional de Brasília tomou proporções incontroláveis. Segundo estimativas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), até o fechamento desta edição, o fogo havia tomado 700 hectares do parque. Em poucas horas, no início da tarde, a área cresceu mais de três vezes, chegando a cerca de 3.000 hectares. Com várias mudanças na direção do vento, as chamas cruzaram o Rio Bananal e se dividiram em diferentes frentes de queimadas, dificultando muito a ação de controle, colocando em risco a bacia hidrográfica da região.
Estiagem prolongada, secas intensas nos rios, queimadas, fumaça e poluição nas grandes cidades e nas florestas. Esse clima sufocante acontece como resultado de um “modelo de desenvolvimento” insustentável, mortal, predatório e ultrapassado.
Amazônia
Os maiores impactos acontecem na Floresta Amazônica, a maior do mundo. No Rio Madeira, a seca causada pela estiagem no Rio Madeira levou a lâmina d’água a apenas 41 centímetros, o menor nível da História. No Rio Amazonas, na região da fronteira entre o Brasil e o Peru, a seca atinge o Rio Solimões. Em Manaus, capital do Estado do Amazonas, a seca do Rio Negro atinge mais de 1,5 milhão de pessoas. Situação que também ocorre no Acre.
Áreas de Proteção Ambiental e terras indígenas não escapam da sanha e da cobiça dos exploradores da natureza. No Pará, grileiros provocam incêndios nos territórios Apyterewa e Trincheira Bacajá. Cerca de 2.000 hectares já foram devastados, de acordo com denúncias de organizações socioambientais. O fogo é usado para preparar o terreno para criação ilegal de gado – e afeta gravemente os povos indígenas locais. Há casos de crianças levadas ao hospital devido à inalação de fumaça.
Incêndios florestais criminosos
Grandes metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília vivem os reflexos das queimadas. Nas grandes e médias cidades também se apresentam os interesses da especulação imobiliária, que querem as regiões nobres das cidades e defendem até mesmo a privatização das praias.
Em São Paulo, no Rio Pinheiros, a proliferação de algas deixa suas águas esverdeadas. Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a estiagem diminuiu o volume de águas dos afluentes, deixando a vazão baixa e favorecendo essa proliferação em decorrência da poluição.
Em Ribeirão Preto, após sucessivos incêndios nas plantações, a cidade foi atingida, levando fogo para as áreas urbanas, ameaçando as casas e condomínios. O mesmo vem ocorrendo em Sorocaba, Marília, Orlândia, Dumont e outras cidades próximas à divisa com o Mato Grosso do Sul.
No Rio de Janeiro, as cenas se repetem, os principais locais atingidos estão no sul do estado, em especial na Serra da Beleza e na Serra da Concórdia. Como em outros estados, os parques têm sido alvos dos ataques criminosos. O aparato para combater as queimadas ainda é insuficiente. Foram disponibilizados três helicópteros, 60 viaturas e 300 brigadistas para enfrentar os mais de 60 casos. O Governo do Estado determinou o fechamento dos parques, num total de 40 unidades de conservação ambiental. A umidade relativa do ar nunca esteve tão baixa, chegando a menos de 30%.
No Maranhão, mais de 600 ocorrências atingem várias cidades ao sul do estado. Em Goiás, a área de proteção ambiental de Pouso Alto, no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Colinas do Sul, também sofre com os focos de incêndios.
A situação é extremamente crítica no Norte do Mato Grosso e Sul do Pará, que aparecem como as regiões mais afetadas pelas queimadas. As chamas consumiram áreas do Parque Nacional do Xingu e várias aldeias e povoados indígenas, a exemplo dos Kayapó. Somente nessa região, 100 mil hectares de florestas foram queimados. É um cenário de devastação provocado por criminosos que cobiçam as riquezas da floresta.
O cacique Megaron Txucarramãe, da etnia Kayapó, denuncia os interesses que estão por trás desses incêndios. Segundo o ICMBio, 96% das queimadas são causadas por ações criminosas e enfatiza não existir surgimento de focos de incêndio espontaneamente. Os indígenas cobram o envio de sementes para replantarem seus cultivos, pois essa medida vai garantir a alimentação nos meses de muitas chuvas na região, que compreendem os primeiros meses do ano.
Também é preciso falar dos animais, encurralados pelos incêndios, não têm abrigo e lutam para fugir do calor, do fogo e da escassez de água, muitos morrem ou ficam mutilados. Essa é uma realidade difícil e afeta a sobrevivência de várias espécies, como é o caso das araras azuis, que tem seu principal santuário e concentra o maior número de espécies no norte do Mato Grosso.
Causas da destruição ambiental
A realidade brasileira é a prova de que decisões políticas podem ter consequências muito graves para o mundo. Com o Governo Bolsonaro, o negacionismo se tornou o principal discurso e prática desse governo fascista para aplicar cortes de recursos para a preservação e proteção da natureza, sucateando e retirando poderes dos órgãos públicos na fiscalização, controle e proteção das florestas, parques nacionais, áreas de proteção ambiental, terras indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Uma política expressa pelas palavras de seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que era momento de “deixar a boiada passar”, numa referência direta aos interesses do agronegócio.
Com isso, organismos como Ibama, ICMBio e todos os órgãos institucionais e governamentais ficaram sem recursos e estrutura necessária para aplicar uma política ambiental séria. Foram quatro anos em que prevaleceu uma política fascista e reacionária de negação à ciência. Essa política deliberada fortaleceu a criação de grupos e milícias armadas que agiram livremente com ações organizadas sobre as florestas. Com o crime organizado à solta e atuando com o apoio do governo, madeireiras, o garimpo ilegal, grileiros de terras, contrabandistas de ouro e pedras preciosas, mafiosos que lavam dinheiro do contrabando de armas e drogas agiram abertamente. Mesmo com a derrota desse governo, esses grupos seguem avançando sobre as florestas e as terras da União.
Porém, existem interesses ainda maiores em jogo. É o caso do agronegócio, das mineradoras e dos latifundiários, que vêm promovendo uma política predatória que destrói as terras e a natureza para manter seus lucros bilionários.
Ao mesmo tempo, com uma política de amplas alianças com esses setores, o Governo Lula é dominado por esses grandes monopólios econômicos e mantém a mesma política de produção e exportação de matérias-primas.
Somente neste ano, o agronegócio recebeu, através do Plano Safra, mais de R$ 500 milhões em subsídios do Estado brasileiro, ou seja, dinheiro do orçamento público, além de linhas de créditos do Banco do Brasil, aquisição de equipamentos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sementes para plantio, aquisição de agrotóxicos para envenenar as plantações de alimentos consumidos em larga escala pela população, tudo isso livre de impostos.
Entre 2019 e 2023, as mineradoras lucraram R$ 1,2 trilhão explorando as riquezas do Brasil, mas seus superlucros são privados, vão parar nas contas bancárias de seus acionistas e não pagam nada os prejuízos deixados pela retirada de minérios e riquezas do subsolo brasileiro. Para nós ficam as crateras e um rastro de destruição, em especial no Estado de Minas Gerais, onde cometeram crimes ambientais em Mariana e Brumadinho e sequer fizeram a reparação das vidas humanas perdidas, dos animais, das terras e dos rios contaminados. Também no Pará e na Bahia a ação das mineradoras é destruidora.
Governo Federal não prioriza defesa da natureza
No âmbito político, o Congresso Nacional é composto por uma grande bancada de parlamentares latifundiários e negacionistas, sendo vários da extrema-direita. Eles usam seus mandatos para barganhar milhões do orçamento público para emendas próprias e votam, portanto, de acordo com quem libera essas emendas.
Por outro lado, as ações do Governo Lula são muito tímidas. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse defender um marco regulatório para o clima e condenou as queimadas como uma ação de criminosos. Mas, neste ano, os servidores do ICMBio realizaram uma corajosa greve nacional e não foram atendidos pelo Governo. Pelo contrário. Tiveram vários dias de salário cortados. Ressaltando que, durante o movimento, esses servidores, que são as pessoas que executam na ponta a política nacional para o meio ambiente, alertaram sobre os riscos de agravamento da crise socioambiental no Brasil.
É com um país sufocado pelas políticas neoliberais, por ataques constantes à natureza, por um ajuste fiscal perverso (que retira as verbas de setores importantes, como os investimentos em pesquisas, educação pública e meio ambiente), que o Brasil vai sediar, em novembro de 2025, em Belém do Pará, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30).
Para barrarmos, de fato, os crimes contra a natureza no Brasil e no mundo é preciso uma transformação radical da sociedade, um novo modo de produção, que seja coletivo, socialista. As guerras e a destruição ambiental são provas do esgotamento do sistema capitalista. Esses fenômenos climáticos extremos, causados pela ação das grandes corporações econômicas, que visam somente ao lucro, à custa da vida do planeta, só reforçam o caráter de morte que tem o capitalismo. Somente com o socialismo a humanidade vencerá a barbárie que nos consome hoje como o fogo que toma conta do nosso país.
A Verdade finaliza a rodada de entrevistas com candidatos e candidatos da Unidade Popular (UP) nas eleições de 2024 apresentando os posicionamentos de Juliete Pantoja (35 anos), candidata a prefeita do Rio de Janeiro (RJ); Eslane Paixão (31 anos); candidata a prefeita de Salvador (BA); Yuri Ezequiel (30 anos), candidato em João Pessoa (PB); Amanda Bispo (28 anos), candidata em Mauá (ABC Paulista).
Rafael Freire | Redação
A Verdade – O povo pobre deste país, especialmente quem vive nas periferias, é vítima diariamente da violência do Estado, que não garante segurança pública e ainda mata pessoas com as operações policiais. Como a UP avalia esta situação e o que propõe para resolver?
Amanda Bispo – Aqui no Estado de São Paulo, essa violência policial está presente no quotidiano da população e nós entendemos que ela é fruto do avanço do projeto fascista em nosso país. O fascismo é o lado mais perverso do capitalismo, que usa dessa violência para oprimir cada vez mais o povo pobre trabalhador, enquanto os ricos ficam cada vez mais ricos em cima da exploração.
Neste ano, tivemos como exemplo a Operação Escudo e a Operação Verão, que aconteceram no início do ano, na Baixada Santista, e mataram cerca de 85 trabalhadores. Inclusive, um dos vídeos mostra um trabalhador, entregador de colchões, sendo assassinado pela Polícia. Isso é um projeto de extermínio da classe trabalhadora, da população negra, para que a gente só assista aos nossos direitos serem retirados.
Outra expressão do fascismo é o projeto de militarização das escolas, que foi aprovado na Assembleia Legislativa do Estado, mas que foi barrado pela mobilização dos estudantes e da comunidade escolar. As pessoas sabem que colocar a Polícia dentro da escola não fará a educação melhor. Pelo contrário. Seria uma escola mais repressiva, com mais dificuldades para a organização estudantil.
A UP entende que só no socialismo vamos superar essa situação, pois, numa sociedade em que os trabalhadores constroem o poder popular, não haverá essa violência do Estado contra o povo. Para agora, defendemos a desmilitarização das PMs e que as Guardas Municipais devem atuar de forma comunitária, que conheçam os trabalhadores do bairro e que atuem na proteção às mulheres contra a violência doméstica.
Juliete Pantoja – Além desse agravamento fruto do fascismo, é preciso colocar que os problemas na segurança pública nas cidades não são de hoje. O Rio de Janeiro tem um dos maiores índices de letalidade policial e, há 50 anos, é a mesma política. E agora estamos numa luta grande contra o armamento da Guarda Municipal, até porque, mesmo desarmada, essa Guarda é ordenada pelos prefeitos para reprimir os trabalhadores, tanto os camelôs quanto os trabalhadores e a juventude que se organizam para fazer greves e manifestações.
De fato, não dá para pensar na segurança pública, sem pensar no todo. O Estado só entra nas comunidades através do seu braço armado, e nós defendemos que tem que ter política pública de educação de qualidade com escola em tempo integral e creche para todas as crianças; cultura, lazer e profissionalização para a juventude; saneamento e saúde. Mas, no capitalismo, a gente só efetiva esses direitos básicos com muita luta.
Yuri Ezequiel – Em 2023, o Brasil registrou quase 6.400 mortes por ação das Polícias Militares. Nos últimos dez anos, vimos um aumento de 188% no número de assassinatos, e isso são os dados oficiais, sem contar os casos que não foram solucionados. É a prova do papel que cumpre a Polícia Militar, matando a juventude e o povo preto. Precisamos ter um grau de organização popular para dar enfrentamento à militarização da sociedade e à lógica de preservação da propriedade privada acima da vida das pessoas.
Ao mesmo tempo, vemos as milícias e o crime organizado se espalhar por todo o país como uma política de Estado, da burguesia. É o desenvolvimento do fascismo colocado em prática. Em toda a Região Metropolitana de João Pessoa essa é a realidade atualmente. Foram dezenas de mortes violentas neste ano, coisa de que nunca tínhamos presenciado antes. Portanto, sem fazer um debate sobre o papel do Estado, é impossível fazer um debate sério sobre a violência policial.
Foto: Eslane Paixão é candidata à prefeitura de Salvador (BA).
Eslane Paixão – A Bahia é hoje o estado brasileiro com maiores números de violência estatal contra o povo, especialmente negros e negras. E isso é um resquício da ditadura militar. É preciso entender esse ponto para falarmos sobre uma Justiça de Transição e sobre democracia. Os mandantes e os executores dos mais bárbaros crimes de tortura e execução na ditadura não foram punidos.
Em Salvador, também estamos passando por esse processo de militarização da Guarda Municipal, perseguindo trabalhadores ambulantes, pessoas desempregadas em situação de rua. No início do ano, quando os ambulantes foram se cadastrar na Prefeitura para trabalharem no Carnaval, sofreram agressões devido à desorganização da própria gestão. Nós que somos da periferia e somos pretos sofremos ainda mais essa violência.
Os níveis de emprego no Brasil sobem e descem o tempo inteiro, mas o fato é que hoje existem mais trabalhadores na informalidade do que trabalhando com direitos trabalhistas. Como o partido organiza a classe para lutar contra isso?
Foto: Yuri Ezequiel é candidato à prefeitura de João Pessoa.
Yuri Ezequiel – A organização da classe trabalhadora é fundamental. Aqui na Paraíba, temos o exemplo do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Limpeza Urbana, dirigido pelo Movimento Luta de Classes, o MLC. Após muitas lutas e greves, a categoria conquistou vários direitos e aumentos salariais, de modo que hoje um funcionário de empresa terceirizada recebe mais do que um funcionário efetivo da Prefeitura.
Mas o fundamental nesses processos de luta é aumentar a organização da classe trabalhadora para enfrentar o capital, que hoje joga os trabalhadores na informalidade para explorar mais os operários das grandes empresas, rebaixando seus salários e aumentando seus lucros. Ainda falam em empreendedorismo, mas a realidade é que o trabalhador sem carteira assinada está precarizado, sem relação trabalhista que lhe garante os direitos mínimos (13º, férias, seguridade social). Precisamos avançar no debate de como organizar os trabalhadores informais em cooperativas e frentes de trabalho emergencial para construção de moradia popular para eles mesmos, por exemplo.
Juliete Pantoja – Nós vivemos numa sociedade dividida em classes sociais. De um lado, as classes dos ricos, dos patrões e, do outro, as classes trabalhadoras. Por isso, não usufruímos dos frutos do nosso trabalho. E os patrões, que também governam através de políticos marionetes, implementam novas formas de aprofundar nossa exploração. Foi assim com a aprovação das Reformas da Previdência e Trabalhista, feitas por Temer e Bolsonaro. Ficou ainda mais distante para a nova geração de trabalhadores a possibilidade de se aposentar, e agora também sem os direitos históricos, conquistados com muita luta, após a destruição da CLT. Está provado que essas reformas só serviram para tirar direitos dos trabalhadores e aumentar os lucros dos patrões.
Essa precarização, aliada à profunda crise do sistema capitalista, faz com que os trabalhadores vivam numa situação cada vez pior, com o alto preço dos alimentos, dos alugueis e dos transportes. Nosso partido se coloca nessa trincheira de luta, fortalecendo a organização da classe trabalhadora. Acreditamos que cada greve e manifestação é importante para garantir uma vida melhor e, principalmente, para avançar para uma consciência de que é preciso construir uma transformação radical da sociedade, construir a sociedade socialista.
Amanda Bispo – As cidades podem fazer frentes emergenciais de trabalho, apoiar os pequenos produtores rurais e urbanos, fortalecer a economia solidária, entre outras medidas. Mas a principal ação que realizamos foi justamente, enquanto classe trabalhadora, organizar este novo partido, a Unidade Popular. Assim, nós construímos essa consciência de classe mais avançada, como a companheira falou e os sindicatos combativos junto com o MLC. Por isso, quero fazer um chamado para que você, trabalhador, tome partido. Os ricos já têm seus partidos. Nós precisamos ter o nosso, batalhar de cabeça erguida e organizados.
Eslane Paixão – Saiu recentemente no Mapa das Desigualdades que Salvador é a capital do desemprego no Brasil. Isso faz com que não tenhamos, muitas vezes, o básico para procurar emprego. Quem mora nos subúrbios e está desempregado nem sequer consegue pagar a passagem de ônibus – que é a mais cara do Nordeste (R$ 5,20) – para procurar emprego.
As privatizações e terceirizações também são parte desse processo, pois, se houvesse concursos públicos, os serviços seriam feitos por servidores com melhores condições de trabalho e de salário, e a população seria bem atendida. Teríamos mais creches, e as mães poderiam estudar e trabalhar. Então a questão do emprego envolve várias áreas.
Como diz o Manifesto do Partido Comunista, “o Estado burguês é o comitê gestor de negócios da burguesia”. Amanda, em Mauá há fortes denúncias de corrupção por parte de gestores. Como você realizado esta denúncia em sua campanha?
Amanda Bispo – Na opinião da Unidade Popular, os principais problemas de Mauá são fruto de que ela é uma cidade governada para os ricos. Isso acontece há anos, inclusive na atual gestão. Na gestão anterior, foi pior ainda porque o ex-prefeito Átila Jacomussi, do União Brasil, teve suas contas reprovadas na gestão de 2016 a 2020. Ele não sabe dizer para onde foram 100 milhões de reais da Prefeitura. O que daria para fazer com esses 100 milhões? Quantas casas poderiam ser construídas? Quantos prédios poderiam ser reformados? Quantas salas de creches? Quanto de aumento para os servidores públicos? As nossas cidades não podem mais ser governadas por corruptos!
As nossas cidades não podem mais ser governadas para os ricos! O atual prefeito senta para conversar com os grandes empresários e pouquíssimo senta para conversar com os movimentos sociais de luta. Mauá tem vários problemas sociais que são enfrentamos diariamente, como a humilhação no transporte coletivo, em que a gente paga 5 reais numa passagem para ficar pouco tempo dentro do ônibus, enlatado. Quem trabalha no Centro de São Paulo ainda tem que pegar um trem e ser humilhado de novo.
Outro dilema nos bairros é a falta de creche. São cerca de 1.500 crianças em Mauá sem este direito. Falta de remédios e de médicos. Tivemos um bairro que agora passou 15 dias sem água. Tudo isso poderia ser resolvido se o dinheiro público fosse destinado aos trabalhadores e trabalhadoras, e não aos ricos da cidade.
Em Salvador, quase metade da população vive em áreas de risco. Ao mesmo tempo, as gestões da Prefeitura têm realizado operações de desafetação, vendendo, a preços baixíssimos, terrenos em áreas nobres para a construção de edifícios de luxo. Eslane, como você vê essa contradição?
Eslane Paixão – Essa uma grande injustiça. Existe uma Salvador dos ricos e outra Salvador nossa, dos pobres, vivendo em condições extremamente precárias, sem estrutura, sem equipamentos públicos que atendam a toda a demanda. Hoje, existem bairros que não têm nem posto de saúde. Enquanto boa parte da população não tem o direito de morar dignamente, a Prefeitura vende terrenos públicos a preço de banana.
O prefeito Bruno Reis vendeu terrenos aos seus amigos, inclusive em áreas de preservação ambiental. Um desses amigo é o ex-prefeito ACM Neto, que é o chefe do grupo político do qual faz parte o atual prefeito. O lema deles é privilégios para os ricos e descaso para os pobres.
Foram realizados estudos que apontam que, se caíssem em Salvador chuvas como as que atingiram o Rio Grande do Sul, mais de um milhão de pessoas correriam o risco de perderem tudo, até suas vidas, por morarem em locais de risco nas favelas, morros e palafitas. Então entendemos que é urgente combater a especulação imobiliária na nossa cidade para que as famílias pobres tenham acesso à moradia digna
Juliete, todos os anos ocorrem dezenas de feminicídios no Rio. Só em 2022, foram 39 mulheres assassinadas na cidade. Para piorar, o Governo do Estado pretende despejar a única casa de referência da mulher na capital. Como enfrentar essa realidade imposta pelo machismo na segunda maior cidade do país?
Foto: Juliete Pantoja é candidata à prefeitura do Rio de Janeiro.
Juliete Pantoja – No Rio de Janeiro, a cada hora, uma mulher é vítima de algum tipo de violência. Só nos últimos dias, enfrentamos três casos de feminicídio.
Há dois anos, o Movimento de Mulheres Olga Benario ocupou um imóvel abandonado na Rua da Carioca, Centro do Rio, e estabeleceu o Centro de Referência Almerinda Gama, que já ajudou a salvar a vida de mais de cem mulheres e suas crianças, vítimas de violência doméstica e que encontraram na Casa Almerinda apoio psicológico, jurídico e acolhimento necessário para superar esse momento.
Sabemos que as Prefeituras e o Governo do Estado não garantem uma ampla rede de enfrentamento à violência contra a mulher. Essa rede deveria ter, além dos centros de referência, casas-abrigo, casas de passagem e outras ações para apoiar as mulheres que dependem financeiramente dos seus agressores.
Agora, o Governo do Estado, que já não garante isso ainda quer despejar as mulheres da Casa Almerinda Gama, fazendo com que este importante trabalho do Movimento Olga Benario fique sem um espaço físico para ser realizado. E o projeto para esta área é alocar bares e restaurantes, pois, para esses governantes, o interesse dos empresários vale mais do que a vida das mulheres.
Nesta campanha, estamos denunciando muito isso por entender que é fundamental a Prefeitura expandir sua rede de enfrentamento à violência contra a mulher.
Yuri, a Unidade Popular é, pela segunda eleição, o partido que lança candidaturas com a menor média de idade entre todos os partidos. Isso pode ser visto, inclusive, entre vocês que participaram desta rodada de entrevistas. Como a UP desenvolve seu trabalho entre a juventude?
Yuri Ezequiel– Ser jovem é construir um partido revolucionário, de forma quotidiana, construir uma nova sociedade. Lembro muito quando me organizei na União da Juventude Rebelião, a UJR, na minha escola, lutando contra o aumento das passagens de ônibus em João Pessoa, por reforma nas escolas públicas, organizando o grêmio estudantil. Posteriormente, na universidade, lutando por assistência estudantil, por democracia interno, enfim, pelos direitos da juventude.
Os jovens têm o desejo de transformar a sociedade e o grande desafio de um partido como a UP é organizar essa revolta, pois, a todo momento, a burguesia joga para a juventude sua ideologia individualista. Mas só é possível alcançar, de fato, educação de qualidade e emprego para todos numa nova sociedade. Neste capitalismo apodrecido é um impossível.
Se organizar na UJR, se filiar na Unidade Popular, construir o partido da revolução brasileira, é lutar por uma sociedade sem fome, sem miséria, uma sociedade socialista.
Matéria publicada na edição nº 299 do jornal A Verdade
Alan Matos de Araújo, que havia sido morador da Ocupação Carlos Marighella do MLB, foi morto pela PM quando estava no apartamento de seu tio em Salvador (BA). Vítima da violência policial aos 24 anos, Alan era estudante e segurança de uma banda de música
Redação BA
Ao jornal A Verdade, moradores do Condomínio Nossa Senhora do Pilar, na Av. Jequitaia, em Salvador, denunciaram o assassinato do jovem Alan Matos Araújo, de 24 anos, pela Polícia Militar da Bahia dentro do apartamento do seu tio. Durante a operação em que Alan foi morto, os moradores foram impedidos pela PM de falar com a imprensa.
Segurança de uma banda de música e estudante, Alan é mais um jovem cheio de sonhos que, por ser negro e pobre, se torna alvo da política de segurança do Governo Estadual da Bahia, que levou a PM baiana a se consolidar como a polícia que mais mata no país. Alan havia sido morador da Ocupação Carlos Marighella, do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), e lutava, organizado no movimento, pelo seu direito à moradia digna.
Os familiares, amigos e camaradas de Alan denunciam que essa é mais uma morte de um jovem negro causada por uma política de extermínio da juventude pobre e preta do Brasil, que coloca em xeque o tão proclamado Estado Democrático de Direito.
Frente a esse cenário, o MLB e a Unidade Popular se solidarizam com a família de Alan e os moradores do condomínio, além de reafirmar seu compromisso com a luta contra o genocídio do nosso povo e pelo socialismo.
Governos fascistas de todo o país apresentam as escolas militarizadas como uma solução para a crise da Educação. Nada poderia ser mais falso: elas são mais caras, não apresentam resultados melhores nos vestibulares e ainda negam aos estudantes o direito de desenvolver seu pensamento crítico
Adriane Nunes* | Natal (RN)
As forças fascistas no Brasil e no mundo buscam na juventude um setor de reprodução da sua ideologia por ser uma importante parcela da sociedade.
Na Alemanha, as discussões da volta do alistamento militar obrigatório estão à tona na sociedade, assim como o aumento do número de células neonazistas. Na Turquia, o governo autoritário de Tayyip Erdogan implanta um programa de formação da juventude onde os estudantes passam a semana trabalhando e apenas um dia na escola. O bilionário fascista Elon Musk procura desestabilizar o cenário político brasileiro com a disseminação de fake news em sua rede digital privada “X” (antigo “Twitter”).
Durante o Governo Federal do genocida Jair Bolsonaro, intensificou-se a implementação das políticas fascistas para os jovens, a exemplo do Projeto Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim), em 2019. Como denunciou o jornal A Verdade na sua edição n° 297 na matéria “A militarização das escolas é mais um projeto do fascismo para humilhar a juventude”, esse projeto de Bolsonaro encontrou espaço no governo reacionário de São Paulo, liderado pelo governador Tarcísio de Freitas, que aprovou, na Assembleia Legislativa, a proposta de implantar mais de 100 escolas cívico-militares em todo o estado.
Se o argumento de que as escolas cívico-militares devam ser o novo modelo de educação no Brasil pela pauta da “educação de qualidade”, ela cai por terra ao deparar-se com o modelo de ensino das Escolas Federais de Educação. No Enem 2023, nenhuma escola militar ou cívico-militar registrou nota mil na redação, mas o Instituto Federal do Rio Grande do Norte figurou entre as únicas quatro escolas públicas que alcançaram tal nota. Ainda sobre o Enem de 2023, entre as escolas públicas com as maiores médias, a esmagadora maioria é de escola federal, tendo apenas uma escola militar e nenhuma cívico-militar. O ensino público federal é o que mais aprova para o ensino superior.
As escolas cívico-militares possuem um investimento médio maior que as escolas estaduais: R$ 19 mil por aluno, sendo três vezes mais que a média para um estudante de escola regular. Já nos Institutos Federais, a média de investimento chega a R$ 16 mil por aluno, embora enfrente diversos cortes orçamentários e bloqueios, além de que permanece investindo em pesquisa e extensão para a comunidade local e numa constante política de interiorização da rede, que receberá mais 100 unidades em todo o país.
Porém, o grande investimento nas escolas militarizadas e o baixo desempenho encontram uma explicação: o dinheiro do programa serviu para luxar. No ano de 2023, o Governo Federal suspendeu o Pecim, depois de já ter destinado mais de R$ 98 milhões para o pagamento de bônus aos 898 militares da reserva que estavam atuando nas escolas, em especial para os coronéis, que recebiam bônus mensal de R$ 9 mil, duas vezes mais que o salário dos professores. No entanto, o Ministério da Educação, entre 2020 e 2022, destinou apenas R$ 245 mil para a execução do programa. O Pecim é a prova que militar não entende de educação, mas de “mamata” com recursos públicos.
Ademais, é preciso termos um espaço escolar que garanta inclusão e bem-estar, o que não ocorre nas Escolas Cívico-Militares. Documentos do Andes – Sindicato Nacional dos Docentes apontam diversos casos de assédio sexual nesse modelo de escolas militarizadas, além de armas de fogo esquecidas em banheiros e revista íntima em turmas inteiras. Em outras palavras, além de promoverem luxos com recursos públicos atacam a integridade de jovens e crianças. Não queremos isso para a nossa juventude!
Assim, é preciso uma profunda discussão de qual tipo de educação a juventude e o Brasil precisam: que seja pautada no ensino público, gratuito e de qualidade; que estimule o pensamento crítica nas salas de aula; que produza para a sociedade e fortaleça o desenvolvimento das cidades. Esse ensino existe e são as Escolas Federais.
*Adriane Nunes é diretora da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (FENET)
Matéria publicada na edição nº 299 do jornal A Verdade
Os militantes da União da Juventude Rebelião (UJR) estão se envolvendo profundamente com a campanha da Unidade Popular, que é o partido mais jovem das eleições de 2024. Nesse período, é preciso saber unir as tarefas de propaganda eleitoral com as organizativas, para ampliar cada vez mais as fileiras da luta pelo socialismo
Coordenação Nacional da UJR
Pela segunda vez, a Unidade Popular (UP) será o partido com mais jovens como candidatos nas eleições. A UP também é o partido mais jovem do país no sentido de ter conquistado seu registro eleitoral no final de 2019. Há ainda outro sentido, pois, por defender o poder popular e o socialismo, representa o novo no mundo. Não por acaso, a União da Juventude Rebelião (UJR), é uma das organizações que constroem a UP desde seu processo de legalização.
Sendo assim, a militância da UJR deve ter em seu horizonte algumas questões fundamentais para o êxito das tarefas. O ponto inicial é que a participação nas eleições burguesas deve servir para fortalecer nossa organização em todos os aspectos: políticos, ideológicos, organizativos. Para que isso aconteça, é preciso compreender, cada vez mais, a relação necessária entre o trabalho econômico (as lutas e ações imediatas) e o trabalho político, tendo o jornal A Verdade e a UP como os principais alicerces para isso.
Parece simples e óbvia esta reflexão. Entretanto, ainda persiste uma separação entre essas ações. Frequentemente, fazemos o trabalho com foco apenas nas lutas econômicas do movimento estudantil, e depois, fazemos as atividades políticas com o jornal e a UP. E isso é um entrave ao nosso desenvolvimento. Desta forma, é preciso relacionar o bom trabalho das lutas econômicas com a necessária luta política. Dando um exemplo concreto, isso significa reforçar nossas bases de atuação, durante as eleições, realizando panfletagens, debates e apresentando nossas candidaturas. Relacionar que os movimentos que construímos também têm um partido, a Unidade Popular.
As eleições podem aumentar o nosso trabalho. Em vários estados, temos exemplos de escolas, universidades e bairros em que o primeiro passo se deu a partir de panfletagens, seguindo-se de filiações, e onde atualmente temos núcleos da UP e da UJR. Isso só é possível quando encaramos as atividades como um trabalho vivo, completo, em que distribuímos panfletos, pegamos contatos, envolvemos os recém-ingressos, um trabalho que combina a agitação das denúncias com a propaganda do socialismo.
E as entidades estudantis não podem parar! As entidades estudantis precisam manter seu funcionamento, até porque toda a discussão política e os resultados do processo eleitoral influencia como serão as próximas lutas. Ou seja, as entidades precisam realizar debates com as candidaturas, apresentar suas plataformas eleitorais, dar conhecimento a sua base de atuação sobre quem está atacando ou defendendo seus direitos. E não só isso, as lutas não podem parar, elas podem fortalecer ainda mais nosso partido e, para que elas aconteçam, as diretorias das entidades precisam se reunir e prepará-las.
Agindo assim, seremos capazes de avançar em todos os aspectos. Fortalecer a Unidade Popular, crescer a UJR, aumentar nossa inserção em novos locais, denunciar as mazelas da sociedade capitalistas e propagandear o socialismo como a única alternativa de liberdade para a juventude e a classe trabalhadora.
Matéria publicada na edição nº 299 do jornal A Verdade
Todas as mortes que o estado sionista e fascista de Israel promove, seja na Palestina, no Egito ou no Líbano expressa a política imperialista, que se sustentam como “potências” a partir da exploração e a morte de milhões de pessoas em todo o mundo.
Wildally Souza | São Paulo – SP
INTERNACIONAL – Segundo o Ministério da Saúde do Líbano, o número de mortos nos ataques promovidos por Israel no país, nesta segunda-feira (23), já conta com 550 mortos e 1.835 feridos. Conforme os dados divulgados, 24 crianças e 42 mulheres foram mortas durante o ataque.
De acordo com a agência de notícias oficial do Líbano – NNA, aviões de guerra israelenses realizaram mais de 80 ataques aéreos em 30 minutos de duração nas regiões e vales entre as cidades de Al-Zarrariyah e Ansar e na cidade de An-Nabatiyah, no sul do país. Ao mesmo tempo, Israel realizou ataques aéreos em muitas regiões do leste do país, como Bekaa, Shamstar, Budayi, An-Nabi Sheit e Bealbek. Aviões de guerra israelenses também bombardearam intensamente o leito do rio Litani, nos arredores de Ed-Dalafe, no sul do Líbano, e nas áreas a leste do Sur.
Na quarta-feira (18), o povo do Líbano foi abalado por uma série de explosões de pagers, resultando em dezenas de mortes e centenas de feridos. Esses dispositivos foram detonados em várias localidades, incluindo a capital, Beirute. Desde esse dia, Israel intensifica ataques contra o povo do Líbano e assassina milhares de pessoas, em sua maioria mulheres e crianças.
Os ataques terroristas de Israel foram possibilitados pela infiltração da agência de espionagem sionista Mossad se infiltrar dentro das fábricas que produziam esses meios de comunicação, muito utilizados em hospitais libaneses. As explosões deixaram muitas pessoas com membros amputados ou com perda de visão, o que levou a uma superlotação e paralisação do sistema de saúde libanês.
No último domingo (22), o exército israelense fez mais de 60 ataques aéreos durante a madrugada, enquanto diversas famílias estavam dormindo e outras tentando tirar seus familiares e amigos de escombros de ataques anteriores.
Israel continua seu genocídio em todo o território do Oriente Médio em busca de dominação territorial e econômica. Todas as mortes que o estado sionista e fascista de Israel promove, seja na Palestina, no Egito ou no Líbano, expressa a política imperialista, que se sustentam como “potências” a partir da exploração e a morte de milhões de pessoas em todo o mundo.
É preciso cobrar o Governo Federal e as instituições nacionais pela ruptura total das relações diplomáticas, militares e de inteligência do Brasil com o estado sionista de Israel. Unir os trabalhadores e operários desse país para caminharmos juntos rumo à construção de uma sociedade livre do imperialismo, da fome, das guerras e dos massacres fascistas, a sociedade socialista.
Intensificar a solidariedade internacional que move as lutas no mundo, a fim de lutar pela soberania dos países explorados pelo imperialismo e pelo fim do genocídio promovido por Israel contra o povo palestino.
Para fornecer as melhores experiências, usamos tecnologias como cookies para armazenar e/ou acessar informações do dispositivo. O consentimento para essas tecnologias nos permitirá processar dados como comportamento de navegação ou IDs exclusivos neste site. Não consentir ou retirar o consentimento pode afetar negativamente certos recursos e funções. Nós repeitamos a LGPD.
Funcional
Sempre ativo
O armazenamento ou acesso técnico é estritamente necessário para a finalidade legítima de permitir a utilização de um serviço específico explicitamente solicitado pelo assinante ou utilizador, ou com a finalidade exclusiva de efetuar a transmissão de uma comunicação através de uma rede de comunicações eletrónicas.
Preferências
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para o propósito legítimo de armazenar preferências que não são solicitadas pelo assinante ou usuário.
Estatísticas
O armazenamento ou acesso técnico que é usado exclusivamente para fins estatísticos.O armazenamento técnico ou acesso que é usado exclusivamente para fins estatísticos anônimos. Sem uma intimação, conformidade voluntária por parte de seu provedor de serviços de Internet ou registros adicionais de terceiros, as informações armazenadas ou recuperadas apenas para esse fim geralmente não podem ser usadas para identificá-lo.
Marketing
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para criar perfis de usuário para enviar publicidade ou para rastrear o usuário em um site ou em vários sites para fins de marketing semelhantes.