No dia 15 de agosto, os trabalhadores da Indústria Têxtil de Ipojuca-PE realizaram uma assembléia na frente da CITEPE (Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco), empresa que faz parte do complexo industrial Químico/Têxtil – Petroquímica Suape (complexo portuário de Suape – PE), para dar início à campanha salarial 2014/2015. Com a participação de dezenas de trabalhadores nas entradas e saídas dos turnos, a assembléia aprovou a pauta de reivindicação da categoria para a Convenção Coletiva do Trabalho – CCT (campanha salarial) e também a pauta do Acordo Coletivo do Trabalho (ACT), que será entregue ao sindicato patronal e à empresa.
Segundo o SINDTÊXTIL-Ipojuca (Sindicato dos Trabalhadores de Indústrias Têxteis de Ipojuca e Região), a campanha salarial acontece em um momento em que a CITEPE vem ampliando sua conquista no mercado. “Hoje o projeto nem chegou a 70% de toda obra e os investimentos duplicaram, e nada dessa estrondosa quantia ser revertida para melhoria da qualidade de vida e dos salários dos trabalhadores dessa companhia” afirmou o presidente do sindicato, Rodrigo Rafael. O destaque vai para os investimentos no complexo portuário, que já passam de R$ 8 bilhões, quando a previsão inicial era de R$ 4 bilhões.
“Nesta Campanha Salarial a empresa não poderá argumentar que está em crise e que não tem como atender nossas reivindicações. O setor têxtil recebeu incentivo do governo federal sobre os tributos na folha de pagamento; o setor está isento da cobrança de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para importação de maquinário pelos portos e aeroportos; sem falar que hoje a empresa é subsidiária da Petrobrás. Por tudo, os trabalhadores têm de receber sua parte”, afirma a tesoureira do sindicato, Alais Santos.
Neste ano, o sindicato reivindica uma equiparação salarial com os trabalhadores do mesmo ramo, com um piso salarial de R$ 862,13 e salário de operador I de R$ 1.200,00 reais. Também está em pauta a redução da jornada de trabalho, equiparação no ticket alimentação praticado pelas empresas do complexo de Suape (R$ 350,00), além de ampliação e renovação das cláusulas sociais, entre outras reivindicações.
“A Campanha Salarial é o momento em que os trabalhadores e sindicato, em conjunto, discutem e estabelecem as principais reivindicações da classe”, afirma o presidente. “Esse ano, o sentimento dos trabalhadores é equiparável ao sentimento da histórica greve de 2011, que garantiram várias conquistas econômicas e sociais para a categoria. É com esse espírito de luta e união da categoria que garantiremos uma campanha salarial vitoriosa! Somente com a participação e mobilização de todos é que poderemos barrar a intransigência dos patrões”, afirmou Rodrigo Rafael.
A greve dos rodoviários da Região Metropolitana do Recife, entre eles motoristas, cobradores e fiscais dos ônibus que circulam na capital, deram um grande exemplo de luta e de força da classe trabalhadora unida. Eles são responsáveis por transportar dois milhões de pessoas por dia. No dia 30 de julho, fruto de uma greve que durou três dias e parou a Região Metropolitana do Recife, a categoria conquistou 10% de aumento salarial, 75,43% de aumento no vale-refeição e 6,06% de aumento no auxílio funeral. Mesmo com a decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região obrigando os grevistas a manterem 100% da frota operando em horários de pico, e 50% no restante do dia, os trabalhadores não se intimidaram e pararam os serviços. Ônibus foram queimados, as avenidas ficaram bloqueadas por manifestantes, as garagens amanheceram cheias de ônibus e os terminais integrados ficaram quase todos vazios. Outra conquista da categoria foi que os desembargadores não decretaram abusiva a mobilização, como da última vez.
Mas a justiça e os patrões costumam andar juntos, assim no dia 21 de agosto, uma quinta-feira, o ministro Barros Levenhagen, do Tribunal Superior do Trabalho, revogou todas as conquistas da greve, favorecendo e acatando o recurso do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco, ou seja, os patrões. A resposta da categoria foi imediata. Na sexta-feira dia 22 de agosto e na segunda-feira seguinte, os rodoviários pararam os serviços e novamente a cidade teve seu cotidiano completamente transformado. Um ônibus foi queimado no Terminal Integrado da Macaxeira interditando a BR-101, o portão do Terminal Integrado do Xambá foi derrubado e a Avenida Presidente Kennedy, em Olinda, foi bloqueada com pneus queimados. Quase todos os 18 Terminais Integrados estiveram fechados e a categoria demonstrou que não iria aceitar tamanha injustiça cometida pelos próprios órgãos que são responsáveis por fazer justiça, nesse caso o Tribunal Superior do Trabalho.
O resultado é que o TST foi vencido e voltou atrás, mantendo o aumento de 10% nos salários dos rodoviários, mas não reverteu sua decisão em relação ao vale-refeição, liberando apenas 6% de aumento. Com tudo isso, os rodoviários deram uma lição aos patrões e a justiça: a classe trabalhadora tem força e é essencial para a vida em sociedade. E a luta continua para garantir todos os direitos conquistados e acordados.
Mais de 400 mulheres entre 50 e 70 anos de idade circulam diariamente no parque Jongmyo, no coração de Seul, capital da Coreia do Sul, vendendo o corpo para sobreviver. Muitas não conseguem e, sem outra opção, cometem suicídio. Os dados e relatos deste texto foram extraídos do jornal New York Times e da BBC News, em Seul.
O parque Jongmyo foi construído em torno de um templo que homenageia o filósofo chinês Confúcio, cujas ideias sobre a veneração aos idosos foram centrais à cultura oriental durante séculos. Os coreanos viviam na certeza de que, um dia, quando chegassem à velhice, seriam cuidados por seus filhos.
Hoje, os tempos são outros. As novas gerações não têm condições de cuidar dos seus idosos, e o Governo não atende às necessidades mínimas da população. Não existe seguro-desemprego ou previdenciário e nem de saúde. Então, os homens e mulheres se veem sem poupança, sem uma aposentadoria que garanta o básico e sem uma família em que se apoiar. A taxa de pobreza na terceira idade, na Coreia do Sul, é de quase 50%, já que 70% dos aposentados recebem apenas 5% do salário médio.
Kim Eun-ja é uma entre as várias idosas coreanas que ganham a vida vendendo pequenas garrafas que contêm uma bebida chamada Bacchus, um energético muito comum entre os coreanos. Ela, aos 71 anos, usa batom vermelho e casaco da mesma cor. Segura uma sacola grande com a bebida que vende, além de se prostituir. Com frequência, essas senhoras também oferecem aos fregueses uma injeção especial que, supostamente, ajuda os clientes a conseguirem uma ereção. As agulhas usadas para essas injeções chegam a ser reutilizadas até 20 vezes. Como resultado, 40% dos homens que frequentam o parque estão infectados por várias doenças.
“Tenho 60 anos e não tenho dinheiro. Não posso contar com meus filhos. Eles também estão em apuros. Praticamente todas as pessoas idosas aqui neste parque estão na mesma situação”, afirma Kim. Outra senhora sentada no parque se desespera: “Estou com fome; não preciso de respeito, não preciso de honra, só quero fazer três refeições ao dia”.
Muitas idosas que não admitem vender o corpo para sobreviver comentem suicídio. Foi o caso de uma viúva, de 78 anos, que chocou a população: em vez de tirar a própria vida em casa, silenciosamente, como muitos sul-coreanos o fazem, a mulher fez de sua morte um ato final de protesto público contra uma sociedade que a abandonou. Ela bebeu pesticida durante a noite em frente à Prefeitura de Seul, após ter suspensos seus benefícios de assistência social, afirmando que não precisavam mais sustentá-la, agora que seu genro havia encontrado emprego. “Como podem fazer isso comigo?”, perguntava no bilhete de suicídio encontrado pela Polícia. “Uma lei deveria servir ao povo, mas ela não me protegeu”, dizia o bilhete.
As taxas de suicídio entre pessoas com mais de 65 anos subiram para 4.378, em 2010, contra 1.161 em 2000.
Mais uma cruel consequência do capitalismo
A situação da população da Coreia do Sul se agravou a partir de 1997 com a grave crise do capitalismo que abalou o Leste da Ásia, atingindo principalmente Coreia do Sul, Tailândia, Malásia e Indonésia.
Porém, o período crucial foi depois do programa de ajustamento imposto pelo FMI em troca de um financiamento de 54 bilhões de dólares. O país, então, empreendeu um conjunto de reformas. A maioria das empresas públicas foi privatizada, e as empresas privadas foram liberadas para despedir os trabalhadores em função da conjuntura de crise. Milhares de trabalhadores ficaram desempregados, o que levou a não poderem mais arcar com o sustento de seus pais.
Então, num parque onde essas senhoras deveriam passear, sentar nos bancos rodeados de árvores para ler um livro, conversar com as amigas, ou simplesmente sentir o calor do sol no corpo ou o pinicar da neve no rosto, elas são obrigadas a se despir da sua dignidade, do acalento espiritual que a idade propicia, para uma realidade que as leva a viver uma vida desregrada, agressiva, devastadora, um estupro físico e social na dura escolha entre a prostituição ou a morte.
A terceirização é um fenômeno típico do estágio monopolista do sistema capitalista de produção, em que o capital alcançou altíssimo grau de concentração nas mãos de grupos econômicos cada vez mais reduzidos. Os monopólios dominam toda a produção fundamental de bens de consumo e necessitam, por vezes, de uma grande variedade de empresas auxiliares ou filiais, prolongamentos da matriz, para desenvolver determinadas funções.
A indústria automobilística, símbolo do “progresso capitalista”, representa bem este perfil. Hoje, as marcas se identificam como montadoras (Ford, Fiat, GM, Volkswagen, Toyota etc.), já que, por exemplo, não fabricam um carro do começo ao fim. Recebem os pneus já prontos de outra indústria, os vidros de uma terceira, o estofado de uma quarta, os itens eletrônicos de uma quinta empresa e assim por diante.
Do ponto de vista da administração capitalista, este é um fator importante para reduzir os custos da matriz, já que a desobriga do controle dos recursos humanos do conjunto dos operários envolvidos no processo de produção. Vale ressaltar também que a fábrica que produz o pneu ou o componente eletrônico geralmente está situada numa região ou país diferente do da montagem, sempre na perspectiva da facilidade de acesso das matérias-primas e da busca por mão de obra barata.
A terceirização brota, portanto, da produção industrial e se reflete em todos os setores da economia. No setor de serviços isto já se encontra plenamente instituído, como também no setor de pesquisa científica e de produção tecnológica.
Neste último, vemos as universidades públicas e os institutos estatais abrirem suas portas e se renderem à “iniciativa privada”. No discurso oficial dos governos isso se chama captação de recursos, modernização, dinamismo, inovação, desburocratização, sempre sob o pretexto de mais investimentos, haja vista o descaso do Estado com o financiamento da educação e o desenvolvimento tecnológico do país.
É cada vez mais forte a influência de empresas capitalistas e “fundações de apoio” nos rumos das pesquisas desenvolvidas por organismos públicos. Empresas de celulares como a Nokia, recentemente comprada pela Microsoft, do bilionário Bill Gates, equipam laboratórios, fornecem bolsas de estudos, pagam passagens e hospedagens a professores e estudantes para participar de cursos e congressos, a fim de que estes desenvolvam novos programas, aplicativos, designs, para serem implantados em seus aparelhos. A patente destas inovações, logicamente, fica com a Nokia, que vai lucrar milhares de vezes mais com a comercialização de seus produtos em relação ao valor inicial que usou para financiar as pesquisas e justificar este tipo de pirataria.
No setor de serviços, os exemplos são inúmeros, tanto entre empresas privadas quanto na administração pública, especialmente em áreas que deveriam ser exclusivas e prioritárias do Estado, como saúde, segurança, abastecimento de água e saneamento. Aqui, toda terceirização é sinônimo de privatização e, em geral, acontece de forma premeditada, a partir da falta de investimentos e do crescente sucateamento de um determinado ente público, a ponto de “justificar” sua entrega a uma empresa capitalista.
O Governo da Paraíba, por exemplo, terceirizou, desde 2011, toda a gestão e a execução de serviços do Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa por meio da “organização social” gaúcha Cruz Vermelha. Segundo o Tribunal de Contas do Estado, só em 2013 foram mais de R$ 8 milhões desviados no superfaturamento ou fraude em compras, prestação de serviços e pagamento de pessoal, num grande esquema que envolve empresas de fachada e relações familiares.
Para o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho, Eduardo Varandas, “a terceirização da saúde aplicada no Hospital gerou uma série de irregularidades administrativas e trabalhistas que levaram o MPT a pedir a condenação do Estado, da Cruz Vermelha, do secretário de Saúde e da secretária de Administração ao pagamento de R$ 20 milhões, por danos à população”.
Consequências diretas para os trabalhadores
Uma massa imensa de trabalhadores sofre diretamente as consequências da terceirização. Eles ganham menos, trabalham, adoecem e morrem mais e pulam de emprego em emprego, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A terceirização é, portanto, uma tática dos capitalistas para explorar mais a classe trabalhadora, extrair dela uma maior taxa de mais-valia e, consequentemente, aumentar seus lucros.
Mais de 25% dos contratos com carteira assinada no Brasil (cerca de 13 milhões) são terceirizados. Só no setor de telemarketing e teleatendimento, são estimados 1,5 milhão de trabalhadores, quase todos terceirizados, que prestam serviços a monopólios nacionais e estrangeiros de áreas como telefonia, TV por assinatura e bancos. Estes trabalhadores recebem, em média, salários 27% menores que os contratados diretamente, quase todos no patamar do piso salarial.
No caso do serviço público, esta distância entre os salários é ainda maior. Os diversos governos, ao invés de seguir o que determina a Constituição, contratando servidores efetivos via concurso, empregam milhares de pessoas em todo o país na condição de prestadoras de serviços, precarizando ainda mais o atendimento à população e rebaixando o valor da força de trabalho de diversas categorias profissionais.
A média da jornada de trabalho dos terceirizados ultrapassa as 44 horas semanais, com tempo de permanência no emprego estimado em dois anos e meio, enquanto a jornada dos contratados diretamente é de cerca de 40 horas semanais, com aproximadamente seis anos no mesmo posto de trabalho.
Assim, trabalhadores de uma mesma categoria ou até de uma mesma empresa possuem direitos trabalhistas diferentes. Por tudo isso e pela alta rotatividade nos postos de trabalho, os terceirizados têm também muita dificuldade de se reconhecerem como categoria e de se organizarem politicamente, dificultando a ação dos sindicatos representativos.
Há ainda o fenômeno da “pejotização”, em que o contratante obriga o trabalhador a se constituir como pessoa jurídica, ou seja, como microempresa, e, em vez de assinar sua carteira, pagar um salário determinado e arcar com todos os direitos trabalhistas, faz-lhe um pagamento por serviço prestado, desobrigando-se com o recolhimento do FGTS e do INSS, com o pagamento do 13º salário, da licença-maternidade, da multa rescisória, das férias etc.
Mas o dado mais alarmente diz respeito aos acidentes de trabalho. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil é o quarto país do mundo em número de acidentes e mortes, com mais de 1,3 milhão e 2,5 mil, por ano, respectivamente. Cerca de 70% dos acidentes acontecem com terceirizados e, entre os acidentes que levam à morte, 80% das vítimas são trabalhadores subcontratados. Setores fundamentais da nossa economia, como construção civil, energia e petróleo, lideram as estatísticas.
Todos esses homens e mulheres incapacitados para o trabalho, mutilados, mortos, são o resultado das extenuantes jornadas de trabalho (sempre prolongadas pelas horas extras), dos salários achatados e da falta de treinamento e de equipamentos de proteção individual.
Trabalho escravo no setor têxtil
Como a ânsia de mais lucros não tem limites para os capitalistas, até trabalho escravo é usado por grandes marcas de roupas e lojas varejistas, por meio de empresas terceirizadas de produção têxtil. Está em curso na Assembleia Legislativa de São Paulo uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga empresas como Marisa, Pernambucanas, C&A, Zara, Collins, Gregory e M.Officer, acusadas de promover tal prática em sua cadeia produtiva.
No caso da espanhola Zara, que possui lojas em mais de 80 países, um de seus executivos já admitiu na CPI saber que a empresa terceirizada Aha (de quem a Zara Brasil compra 90% das roupas que revende) mantinha, em pequenas oficinas subcontratadas, trabalhadores em situação análoga à escravidão.
O Ministério Público do Trabalho em São Paulo (MPT-SP) também pediu à Justiça o banimento do mercado brasileiro da empresa M5 Indústria e Comércio, detentora de filiais da marca M.Officer em todo o País. Em duas fiscalizações recentes, foram encontrados trabalhadores (na maioria, imigrantes) submetidos a condições desumanas em pequenas oficinas clandestinas, sem qualquer direito trabalhista.
Os locais eram insalubres, com fiação exposta das máquinas, botijões de gás, banheiros coletivos com forte odor de urina, excesso de poeira, iluminação precária, ausência de equipamento de proteção individual e de extintores de incêndio. Além disso, os operários moravam no próprio local e recebiam de R$ 3 a R$ 6 por peça produzida, cumprindo jornadas médias de 14 horas diárias.
PL nº 4.330 visa aprofundar a terceirização
Para aprofundar este cenário de superexploração e desrespeito à legislação trabalhista, os empresários brasileiros estão unidos em torno de um de seus representantes no Congresso Nacional, o deputado federal Sandro Mabel (PMDB-GO), dono da indústria de alimentos Mabel. Para defender os interesses de sua classe, ele propôs o Projeto de Lei nº 4.330, que legaliza a prática das terceirizações em todas as atividades econômicas, de todos os setores, sejam públicos ou privados, seja na atividade-fim ou na atividade-meio.
Atualmente, uma súmula do Tribunal Superior do Trabalho (TST) proíbe a terceirização da atividade-fim, que é aquela que define, por exemplo, se uma indústria fabrica alimentos ou bicicletas. Mas isto já é largamente desrespeitado hoje. Segundo a resolução do TST, no caso do Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa, exposto no início deste texto, seria legal terceirizar os serviços administrativos, de limpeza, cozinha e segurança (atividades-meio), mas não seria permitido terceirizar o atendimento de saúde (atividade-fim), como os serviços executados por médicos, enfermeiros, dentistas, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas e técnicos de enfermagem.
Muitas lutas já foram desenvolvidas pelas entidades sindicais para combater a terceirização no seio das categorias, como também contra a aprovação do PL nº 4.330.
Contudo, por ser um processo característico da dinâmica capitalista, a terceirização deve ser atacada da maneira mais global possível, avançando para reestatizar antigas empresas públicas privatizadas; para proibir a contratação de prestadores de serviços e realizar concursos; para parar de pagar as dívidas públicas e reverter ao povo todo o montante de recursos que hoje vai para as contas dos especuladores financeiros; para enterrar de vez o PL nº 4.330 e proibir também a terceirização nas atividades-meio; para reduzir a jornada de trabalho e acabar com a farra das horas extras; para assegurar o pagamento do salário mínimo estipulado pelo Dieese; para garantir um fiel cumprimento das normas de segurança no trabalho; para expropriar todas as empresas que mutilam, assassinam ou escravizam operários.
Esta é uma tarefa para o conjunto da classe trabalhadora e que só poderá ser alcançada com uma grande dos trabalhadores e de seus sindicatos, de todos os setores revolucionários e progressistas do País.
Rafael Freire, presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba
O jornal A Verdade é bem lido e aceito em toda a nação brasileira. Temos o jornal, mas ainda não acabamos com as desigualdades sociais. Queremos saúde, educação e moradia digna! E também remédio nos postos de saúde!
Nosso estado do Ceará pede socorro: as obras estão em atraso, os pacientes estão morrendo nas filas dos hospitais para fazerem simples consultas, e isso para nós, população cearense, é uma tortura. Para reformar os estádios foram gastos 28 bilhões de reais; isso não é brincadeira!
São nossos impostos que vão para essas construções; os trabalhadores sofrem e, enquanto isso, escolas não são entregues.
O Governo quer acabar com uma das maiores conquistas que os movimentos de luta das mulheres conseguiram com muita garra: o Hospital da Mulher. Não podemos deixar isso acontecer!
Presidenta Dilma, faça uma visita ao hospital e comprove a verdade, e a ignorância do atual prefeito. Ele não se incomoda com a população feminina de Fortaleza, mas nós, movimentos de mulheres, não vamos deixar isso acontecer!
Lutar e organizar as mulheres para defender o Hospital Especializado das Mulheres é a nossa tarefa!
Dois anos depois da realização da Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro de 13 a 22 de junho de 2012, da qual participaram líderes dos 193 países que fazem parte da ONU), o mundo ainda sofre com os graves problemas ambientais oriundos da ganância dos capitalistas por mais lucros. À época, a grande imprensa burguesa utilizou seus jornais, rádios, TVs e internet para passar a falsa ideia de que a conferência da ONU resolveria o problema ambiental e os Estados chegariam a um consenso sobre a importância e os processos da Economia Verde, garantiriam o desenvolvimento sustentável do planeta e buscariam formas de eliminar a pobreza, entre outros pontos.
Mais uma vez, como de esperar, a Conferência não chegou a um consenso, e um dos motivos para tal situação foi o boicote realizado pelas grandes potências capitalistas (Estados Unidos, China e Alemanha). De fato, a Rio+20 ocorreu num período de forte crise econômica na Europa, e os capitalistas não desejavam frear suas metas de exploração da natureza em prol do bem-estar da humanidade. Como muito bem disse Frei Betto, ao avaliar o encontro, “A Rio +20 propôs aos governos, via G-77 [grupo dos países menos desenvolvidos], criarem um fundo de US$ 30 bilhões para financiar iniciativas de sustentabilidade em seus países. A proposta não foi aprovada. Ninguém mexeu no bolso. Isso uma semana depois de o G-20, no México, destinar US$ 456 bilhões para tentar sanar a crise na Zona do Euro. Não falta dinheiro para salvar bancos. Para salvar a humanidade e a natureza, nem um tostão”.
Agora, no primeiro semestre de 2014, mais um dado veio comprovar que a humanidade caminha a passos largos para um situação de barbárie. A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que cerca de sete milhões de pessoas morrem por ano, no mundo, em virtude da poluição. Conforme essas estatísticas, uma em cada oito mortes ao redor do planeta está relacionada à contaminação do ar, seja dentro ou fora de casa.
Segundo a agência sanitária da ONU, a poluição do ar tornou-se agora o maior risco para a saúde dos seres humanos, causado por pequenas partículas que se infiltram nos pulmões, resultando em irritações, doenças cardiovasculares, problemas crônicos e câncer. Em 2008, o mesmo estudo da OMS apontava 3,5 milhões de mortes, o que significa que, em seis anos, o número de mortes dobrou.
Os estudos revelaram que dos sete milhões de mortes, 3,7 milhões são resultantes da poluição externa, causadas principalmente por ataques cardíacos (40%) e derrames (40%). Mais uma vez, os pobres são as vítimas. Mesmo com muitos ecologistas não querendo enxergar o problema pela sua raiz, ou seja, pela grande concentração da riqueza gerada por uma classe, a burguesia, em detrimento classe trabalhadora, gerando uma profunda desigualdade social, os números são factuais. Desses óbitos, 88% ocorreram em países de baixa e média renda, que representam 82% da população mundial.
Já nos lares, a poluição interna é oriunda principalmente da combustão na hora de cozinhar com lenha e carvão. Na África Subsaariana, uma das regiões mais pobres do mundo, entre 70% e 90% da energia provém da lenha. Na Ásia, esse número está na faixa de 80% para as populações rurais e 20% em áreas urbanas. No mundo, cerca de 2,4 bilhões de pessoas utilizam a biomassa (energia extraída da lenha). Neste caso, as principais complicações de saúde oriundas dessa poluição são os derrames, que representam 34% das mortes, e os ataques cardíacos (26%).
Até mesmo a Nasa (a Agência Nacional do Espaço e da Aeronáutica, dos EUA), que responde pela pesquisa, desenvolvimento de tecnologias e programas de exploração espacial, apontou, em estudo publicado em março de 2014 no jornal científico norte-americano Elsevier Ecological Economics, que as civilizações, tais como as conhecemos hoje, poderiam desaparecer nas próximas décadas em virtude da má gestão de recursos naturais e de uma má repartição das riquezas, isto é, do alto índice de desigualdade econômica mundial.
Segundo os pesquisadores, há uma necessidade urgente de “reduzir as desigualdades econômicas a fim de garantir uma distribuição mais justa dos recursos, apoiando-se sobre fontes renováveis menos agressivas e diminuindo o crescimento populacional”.
O debate sobre a degradação ambiental promovida pelo sistema capitalista ganha cada vez mais espaço na sociedade. Em setembro de 2013, o filme Elysium, escrito e dirigido por Neill Blomkamp, retratou o mundo no ano de 2159, quando os pobres habitavam a Terra, vivendo em condições desumanas e cercados de doenças, e os ricos morariam em Elysium, desfrutando de uma vida luxuosa, com inúmeras tecnologias ao seu alcance, inclusive para prevenir-se e curar-se de enfermidades.
Esse mundo fictício criado no filme para o ano de 2159, infelizmente já existe. Os ricos vivem em verdadeiros castelos, numa vida confortável, tendo os melhores médicos, hospitais e cientistas à sua disposição, enquanto os pobres morrem nas filas dos hospitais à espera de consultas médicas, sem remédios, vivendo na miséria e reprimidos pelo Estado quando buscam os seus direitos.
Logo, diante dos fatos expostos, a classe operária, os jovens, camponeses e todos aqueles que estão sob o jugo da exploração capitalista têm uma tarefa histórica: salvar o mundo da barbárie e da destruição. Para isso, nosso dever é a defesa do meio ambiente e da natureza, proibindo a destruição de florestas e ecossistemas e estabelecendo o controle e apropriação popular dos meios de produção (terras, máquinas, ferramentas, transportes etc.). Esta é a via revolucionária, da verdadeira transformação.
Diferentes entidades de defesa do meio ambiente da capital e interior, JPIC, MST, IBASE, MLB, professores participaram no dia 23 de agosto da assembleia que criou a Frente em defesa dos territórios contra a mineração.
Durante o encontro foram analisados os impactos econômicos, sociais, ambientais ocultos no projeto de lei 5807/2013 que segundo a representante do IBASE, Moema Miranda, aprofunda a política predatória do setor.
Outra preocupação do grupo refere-se a criação dos minerodutos responsáveis pela transferência de água entre bacias diferentes ameaçando o abastecimento de diversas regiões do estado. Neste sentido, durante o encontro, foi aprovada a proposta do MOC-ECO de recolhimento de assinaturas para a criação de uma lei que proíba o funcionamento destes dutos. “O povo mineiro não deseja estes minerodutos que colocam em risco o abastecimento de água” afirmou o médico Marco Antônio Zocratto.
Os movimentos sociais também apresentaram relatos do abuso de poder das empresas de mineração que expulsam agricultores de suas terras, poluem os rios e submetem os governos aos seus interesses. Foi denunciado ainda que em uma ocupação em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte, oficiais de justiça foram transportados em veículos de mineradoras revelando o controle que estas exercem junto ao setor público.
O projeto de lei 5807/2013 também foi considerado lesivo aos interesses nacionais por direcionar a política econômica mineral à exportação mantendo a prática colonial predatória iniciada em 1500. O professor Wladmir Coelho – MOC –ECO – denunciou o caráter privativista do projeto apontando as semelhanças com a lei do pré-sal que permitiu a entrega do petróleo aos oligopólios.
A Frente em defesa dos territórios contra a mineração pretende mobilizar a população de Minas Gerais mostrando a necessidade de alteração na política mineraria e preservação dos recursos naturais.
Terminou nesse domingo (24/08) o 4º Congresso Nacional do Movimento de Luta nos bairros, Vilas e Favelas. Durante 3 dias delegados de onze estados do país discutiram as propostas do MLB para a reforma urbana e os desafios do movimento na luta pelo direito à moradia digna.
O último dia do congresso teve início com um debate sobre as experiências do MLB na organização de ocupações urbanas e a aprovação de uma jornada nacional de luta por moradia, com a realização de ocupações em todo país ainda esse ano.
Em seguida, foram aprovadas as propostas elaboradas pelos grupos de debate e eleita a nova coordenação nacional do movimento, que terá importante tarefa de consolidar o crescimento do MLB e ampliar o movimento para mais cidades.
Em seu discurso de encerramento, Wellington Bernardo, coordenador nacional do movimento, disse que “o 4º Congresso Nacional do MLB é um marco na história da luta do povo pobre no Brasil. Aqui reafirmamos nosso compromisso com a luta pela reforma urbana e pelo socialismo e renovamos nossas energias para as grandes batalhas que se aproximam”.
“Cada companheiro e companheira aqui presente tem a responsabilidade de levar a nossa palavra a cada família sem-teto desse país, afim de fazer um grande movimento em defesa do direito humano de morar dignamente”, completou Wellington.
Num clima de alegria e combatividade, começou ontem (22/08) o 4º Congresso Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que reúne em São Bernardo do Campo (SP) cerca de 350 delegados vindos de onze estados do país.
A mesa de abertura contou com a presença de representantes da Central de Movimentos Populares (CMP), do Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU), do MST, da Pastoral Operária de São Paulo, da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), da Caixa Econômica Federal e da Prefeitura de São Bernardo, entre outros.
Em sua saudação, Marcelo Buzetto, do MST, lembrou a resistência do povo palestino e afirmou que “a união dos trabalhadores do campo e da cidade é muito importante. Quando o MST derruba uma cerca no campo é a mesma coisa de uma ocupação em um latifúndio urbano”.
Marcelo Edmundo, do FNRU, lembrou a luta das famílias do Isidoro e Wanderson Pinheiro, da UP, afirmou que “o MLB é o germe da construção do poder popular concretizado nas ocupações e na luta de cada dia”.
Já Eleonora Lisboa, da Caixa Econômica Federal, disse que “a Caixa acredita na luta por uma vida justa e sabe que para isso é preciso estar ao lado de quem luta”.
Marco Arroyo, da prefeitura de São Bernardo, que recebe o congresso, deu as boas-vindas aos presentes e relembrou a importância da cidade nas lutas do povo brasileiro.
No sábado (23/08), representantes do MLB, MTST, UP e FNRU debateram os desafios da luta pela reforma urbana e pelo direito humano de morar dignamente, sendo seguidos por diversos delegados presentes, que falaram de sua relação com o MLB e reafirmaram a luta e a unidade do povo pobre como caminho para se derrotar a especulação imobiliária e conquistar a cidade que queremos.
O 4º Congresso Nacional do MLB termina nesse domingo (24/08) com a aprovação de um plano de lutas para o movimento e a eleição da nova coordenação nacional.
Adriano Diogo era militante estudantil na resistência à Ditadura Militar. Fez movimento secundarista e universitário. Estudava Geologia na USP quando foi preso e torturado, em 1973, no DOI-Codi de São Paulo, comandado, na época, por Carlos Alberto Brilhante Ustra, hoje coronel reformado do Exército. Foi no dia de sua prisão que testemunhou o assassinato de Alexandre Vannuchi Leme, seu companheiro de militância e amigo de turma da universidade.
Desde então, sempre se dedicou às causas ligadas à justiça social e desenvolveu uma longa luta por moradia, saúde, direitos humanos e meio ambiente. Atualmente é deputado estadual na Assembleia Legislativa de São Paulo e presidente da Comissão de Direitos Humanos e da Comissão Estadual da Verdade, que investiga as mortes e torturas durante a Ditadura.
Recentemente, Adriano combateu as prisões de militantes nas manifestações contra o aumento das tarifas na Capital paulista. É um importante lutador contra a violência policial na periferia e um grande apoiador da luta dos petroleiros em defesa da Petrobrás e do petróleo brasileiro.
A Verdade – A Comissão da Verdade de São Paulo termina seus trabalhos em dezembro deste ano. Já é possível fazer um balanço do trabalho realizado até aqui?
Adriano Diogo – Eu acho que a comissão cumpriu um papel importantíssimo, que foi, primeiro, de emular a Comissão Nacional e incentivar a criação de outras comissões estaduais, municipais, universitárias e outras.
Depois, a nossa comissão é uma comissão militante. E eu acho que nós fomos bem porque admitimos isso e depois porque nós não ficamos atrás do “sucesso”, “das luzes”, o que eu considero um verdadeiro câncer da política.
A nossa estrutura é mínima, nós não fomos aprovados nem na forma da lei, foi um projeto de resolução que não tem status nem de CPI, é quase uma comissão de estudos, e na Assembleia Legislativa de São Paulo, que é um lugar de direita, é difícil. Então eu acho que nós, e não sou eu, somos nós mesmo, fizemos uma coisa importante. Eu acho que é um balanço extremamente favorável.
Que questões você destacaria como sendo as mais importantes do trabalho da Comissão?
Nossa grande contribuição é que um capítulo que era banido – dos mortos e desaparecidos, que eram tidos como “terroristas” –, será bem tratado. E se nós não fizermos os casos de todos os mortos e desaparecidos brasileiros, a Comissão Nacional não fará. Outra coisa que temos a condição de contribuir mais é na relação dos americanos e dos franceses com a repressão, que era um outro assunto quase que proibido.
Eu me transformei nesse processo, e olha que eu sou um cara velho politicamente falando. Isso me deu dignidade e a possibilidade de conviver tanto com a geração que viveu, quanto com as novas gerações que encararam bem o trabalho.
Outra coisa é que o assunto tomou outra proporção. Eu concordo com uma coisa que o Paulo Vanucchi diz que é que, quando começou a Comissão da Verdade, não havia mais de três mil pessoas no Brasil falando sobre isso, agora somos mais de 30 milhões [pesquisa recente do Datafolha afirma que a maioria da população defende, hoje, a punição aos torturadores, diferente de 2010]. Eu acho que o que é importante é que as novas gerações se empolgaram, assimilaram e assumiram essa bandeira, talvez não da melhor forma, mas eu acho que valeu.
Eu acho que está caindo a ficha da Ditadura em tempo real, que não é só aquela do passado, é essa que dita a ideologia da direita hoje, está viva, os caras continuam mandando. O presidente da Petrobras de 1984, quando aconteceu o incêndio da Vila Socó, em Cubatão, que matou mais de 500 pessoas, e que os dados oficiais dão conta de apenas 93, continua na ativa, organizando o leilão do pré-sal. Igual quando o Paulo Malhães foi depor na Comissão Nacional, e os caras o mataram no outro dia, Ditadura em tempo real.
Eu acho que essa Comissão da Verdade do passado deve servir de espelho para uma comissão do presente, porque as estruturas da Ditadura estão aí. Agora está aparecendo a repressão política, mas a repressão social é livre e maior.
Você acha que a discussão que as comissões trouxeram ajudou o debate político da sociedade de forma geral?
Olha, eu sou um cara do ramo da política, mas eu também estava perdido, porque fica essa despolitização de PT versus PSDB, vira competição: “eu vou fazer 5 km de asfalto” e o outro “eu vou fazer 10”, e aí? Você não muda nada! Vai fazer com que conceito, qual visão? Eu não vou ficar criticando o PT como se eu não fizesse parte, mas essa cultura nós tínhamos perdido. Esse nexo do fim da Ditadura com a redemocratização se perdeu. O conceito de esquerda voltou e voltou bem. Não acho que é impossível que implementem um plano neoliberal superagressivo no próximo período, mas acho que nós estamos vivos.
A Comissão não é, claro, a única responsável por isso, mas acho que ajudou. Eu acho que a rua é muito importante. Um exemplo é o genocídio que está acontecendo contra os palestinos, em Gaza, ninguém podia falar disso, mas a rua entrou em cena, e a presidente foi e falou do massacre, se posicionou. Eu acho que a rua sempre ensina e ensina coisa boa, coisa progressista. Eu acho que o Brasil voltou a ter uma cara de esquerda, pode estar batendo um pouco de cabeça, mas tem um discurso de esquerda no Brasil, e eu acho que a Comissão da Verdade ajudou a colocar uma pimenta nisso.
Por mais polêmico que seja a questão da Copa, apareceu uma realidade impossível de esconder, apareceu o papel do José Maria Marin, da CBF, da Fifa.
Claro que também apareceu uma nova direita, ou melhor, uma direita que ninguém sabia que existia, que estava no armário, mas é um país mais bem definido, rompendo com a hipocrisia de que convivemos todos juntos, torturados e torturadores, eu acho que isso está se dirimindo e eu acho importante isso pro Brasil.
O que eu não me conformo é que isso não vira agenda política no país, repercute na sociedade, principalmente entre as pessoas que não aceitam o atual sistema político, no campo da cultura, da arte, gente que tem uma sensibilidade grande para esse tema, mas não entra na agenda política, no dia a dia dos grandes partidos políticos.
Esse ano eleitoral mexe com nosso trabalho, porque se eu não for eleito, por exemplo, nossa tese será derrotada, vai reforçar a ideia de que, quem trata de Comissão da Verdade, Ditadura, direitos humanos, tem que ir pro gueto, pro limbo, então imagina a responsabilidade.
Existe um grande debate sobre a revisão da Lei da Anistia e a punição dos agentes do Estado responsáveis pelas torturas e assassinatos. Como você analisa essa questão?
A punição está na agenda, a possibilidade existe e, com ela, aparece também a reação, os caras também estão se armando, vindo pra cima. Antes ninguém tocava no assunto, agora a gente diz que tem que ter, eles dizem que não tem.
Eu acho que vamos chegar numa hora no Brasil em que a punição será algo natural, o problema é que o lapso temporal é tão grande que a gente corre o risco de não ter ninguém pra punir. Mas a revisão do período histórico, nisso a gente avança, esse discurso de que a Ditadura foi uma revolução acabou, torturador virou facínora. Há uma politização gradativa, mas é lenta. Como houve 400 anos de tortura dos escravos no país, existe uma permissividade muito grande, mas estamos encarando isso.
Em dezembro, a Comissão Nacional da Verdade apresentará o relatório final de suas atividades. Quais os desafios que estão colocados para a luta por memória, verdade e justiça hoje no Brasil?
Eu acho que a primeira coisa é que temos que influenciar esse relatório, porque ele está em disputa.
Depois eu penso que nós temos que produzir o nosso próprio relatório, com um conteúdo político sólido.
Agora essa luta pela memória, verdade e justiça não é uma luta isolada, essa é uma luta da humanidade, a luta contra a repressão, contra a tortura, contra o extermínio. A tortura é encarada no país como um instrumento normal.
Eu vejo o golpe militar como uma exacerbação da luta de classes, do domínio, do lucro, do uso da força. A Comissão da Verdade tem que servir pra enfrentar a face bárbara do capital, que é o fascismo, o golpe, a repressão, o assassinato, que eles consideram uma coisa normal, como conquista de território e tal.
Esse processo “civilizatório” no Brasil é recente, aconteceu nos últimos 20 anos, mais ou menos, o que, comparado com os 400 anos de escravidão, é muito pouco.
Por que o Congresso Nacional não teve um papel mais destacado na investigação dos crimes da Ditadura Militar?
Por que quem trata desse tema é visto como radical ou problemático, e os que trataram foi de forma precária. Acho que o Congresso precisa de mais gente de esquerda, porque essa é uma pauta de esquerda, e no Brasil esse conceito de esquerda no âmbito parlamentar desapareceu. Hoje, dentro do PT, por exemplo, quem pratica isso tem uma enorme dificuldade de sobrevivência.
Mas eu estou animado. Não acho que todo mundo que está indo pra rua é marxista, ou tem noção de luta de classes, mas acho que está sendo reivindicado que tem que ter pensamentos de esquerda, visão de esquerda, arte, música de esquerda, nunca se discutiu tanto o papel de direita, golpista, dos meios de comunicação, por exemplo.
Eu tenho pensado em Cuba, porque um país que exporta médicos, exporta dignidade. Eles construíram uma sociedade evoluída, socialista. Você vê um país como o nosso, que tem universidades fantásticas, e que grande parte da população não tem acesso a médico nenhum.
O problema que eu acho que tem no Brasil é que ele se mirou num processo civilizatório sem consciência política, sem consciência de classe. As pessoas dizem que é bom que no Brasil, nos últimos anos, milhões de pessoas saíram da miserabilidade, mas eu pergunto: a consciência política, a mobilização, tem o mesmo nível dessa ascensão?
Todo mundo pode ser recrutado pra um outro projeto político sem consciência.
Com consciência a pessoa não precisa concordar com tudo, mas tem noção do monstro da estrutura de classes, porque o desenvolvimento econômico sozinho não garante nada, o que garante é a consciência política.
A escalada terrorista do governo de Israel não tem limite. Nas últimas quatro semanas, centenas de ataques marítimos, terrestres e aéreos com bombas de fósforo e de fragmentação foram realizados na Faixa de Gaza, matando mais de 2.000 palestinos, em sua imensa maioria civis, até porque rigorosamente os palestinos não possuem um Exército. Já o Estado de Israel tem um dos 10 exércitos mais poderosos do mundo, com mais de 160 mil soldados, submarinos, tanques modernos, bombas de todos os tipos e cerca de 400 armas nucleares.
O resultado desses covardes bombardeios israelenses são centenas de crianças mortas e milhares com pernas e braços amputados. Um desses ataques foi à escola Abu Hussein da Organização das Nações Unidas (ONU), na madrugada do dia 30 de julho, quando 21 crianças que estavam dormindo morreram. A escola foi bombardeada mesmo a ONU tendo avisado 17 vezes a Israel que suas 83 escolas na Faixa de Gaza abrigam somente civis. Pierre Krähenbühl, comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), afirmou após as mortes: “”Ontem à noite, crianças foram mortas enquanto dormiam ao lado de seus pais no chão de uma sala de aula em um abrigo da ONU em Gaza. Crianças mortas enquanto dormiam; isso é uma afronta para todos nós, uma fonte de vergonha”. Nesse mesmo dia, novos mísseis israelenses atingiram outra escola da ONU e o mercado público de Shayaia.
Apenas algumas horas depois desse massacre, Os Estados Unidos confirmaram a entrega de artilharia pesada como lança-granadas e peças de morteiro de 120 milímetros para Israel.
Até o inicio de agosto, mais de 400 crianças palestinas foram assassinadas e 9.000 estão gravemente feridas. Mas, a cada dia, novos cadáveres são encontrados em meios aos escombros dos prédios e casas, escolas e hospitais destruídos por Israel.
Mas por que Israel promove esse banho de sangue na estreita Faixa de Gaza, onde vivem 1,6 milhão de palestinos?
Não há dúvida de que o Estado de Israel odeia os povos árabes, e, em particular, os palestinos. Sabe que tem um poder militar infinitamente superior ao dos palestinos e conta com o apoio dos países imperialistas, em particular, dos EUA, que lhe fornecem armas e bilhões de dólares para promover a matança de palestinos no Oriente Médio. De 2009 a 2018, os EUA doarão US$ 30 bilhões de dólares em ajuda militar a Israel.
Israel segue à risca a ideologia nazista de que uma mentira repetida mil vezes torna-se uma “verdade”. Para isso, conta com a cumplicidade dos grandes meios de comunicação da burguesia no mundo, que repetem à exaustão as mentiras israelenses como se fossem fatos.
Quem são os terroristas?
Quem não se lembra de que Israel dizia que enquanto Yasser Arafat fosse vivo não existiria paz entre israelenses e palestinos, pois Arafat era um terrorista? Pois bem, como provou a exumação do seu corpo em 2012, Arafat morreu envenenado. Em janeiro de 2013, Shimon Peres, na época presidente de Israel, confirmou que foram os agentes sionistas que assassinaram o líder palestino.
Hoje, Israel diz que enquanto o Hamas existir e continuar governando a Faixa de Gaza não haverá paz, porque o Hamas é terrorista. Mas quem bombardeia escolas, mercados, e mata crianças enquanto dormem em escolas da ONU é o quê?
Israel também ataca o povo palestino na Cisjordânia, onde o governo é chefiado pelo moderado Mahmoud Abbas, da Autoridade Nacional da Palestina e constrói ali cada vez mais colônias. Como mostram estatísticas do governo de Israel, a construção de colônias israelenses na Cisjordânia cresceu 120% em 2013.
Depois, Israel nunca cumpriu nenhum dos acordos de paz que assinou. Pelo contrário, todos foram rasgados e jogados na lata do lixo por sucessivos governos sionistas. Em 1993, assinou os acordos de Oslo, se comprometendo a retirar suas forças armadas da Faixa de Gaza e da Cisjordânia e respeitar o direito à soberania do povo palestino, mas em vez de se retirar dos territórios palestinos, construiu mais e mais colônias nas terras palestinas e continua a ignorar o Direito Internacional e os pedidos para uma paz permanente na região de dezenas de povos. Apresenta-se como vítima de foguetes do Hamas para, sem nenhuma piedade, promover o genocídio do povo palestino.
A hipocrisia de Israel é tão grande que propõe para pôr fim aos bombardeios, a desmilitarização da Faixa de Gaza, mas quer aumentar seu exército e continuar fabricando e importando armas. Ora, se com os palestinos possuindo apenas foguetes e pedras, Israel faz o que faz, imagine o que faria se a Faixa de Gaza fosse desmilitarizada!
Há décadas que Israel, além de realizar covardes bombardeios e ações militares constantes, impõe um desumano bloqueio aos palestinos, obrigando-os a viver com racionamento de água potável, de energia, de remédios e de alimentos. O objetivo é expulsar o povo palestino de Gaza e de suas terras, é mostrar para os palestinos que ou eles saem da Faixa de Gaza ou vão ser dizimados por suas bombas e tanques, como fica claro nas palavras do líder nazista de Israel Benjamin Netanyahu: “O Estado judeu deve estar preparado para uma longa campanha na faixa de Gaza até concluir a missão.”
E qual é a missão? Expulsar o povo palestino de Gaza ou torná-lo escravo dos sionistas. A substituição de Shimon Peres por Reuven Rivlin na presidência de Israel em 24 de julho é mais uma prova nesse sentido. O sr. Rivlin faz parte da ala mais radical do Likud, rejeita a criação de um Estado palestino e apoia a política de colônias nos territórios palestinos ocupados. Segundo o jornal israelense Haaretz, “Rivlin não será o presidente do Estado de Israel, e sim do ‘Grande Israel’. Aproveitará o cargo de presidente para fazer avançar a colonização na Cisjordânia”.
Israel tortura crianças
Em 2008 e 2009, Israel realizou a operação “Chumbo Fundido”, na qual assassinou mais de 1.300 palestinos e se apossou de novas terras na Cisjordânia e em Gaza. Durante esse massacre, os EUA enviaram 325 conteiners de seis metros cada, com armas para abastecer Israel; a carga saiu do porto grego de Astakos para o porto israelense Ashdod, que fica a 38 km da Faixa de Gaza.
Em maio de 2010, Israel atacou os navios da flotilha da liberdade, que tentavam levar ajuda humanitária ao povo palestino e matou nove pessoas que estavam nas embarcações. Ou seja, enquanto armas dos EUA para Israel navegam livremente nos oceanos, navios com alimentos e remédios para a Faixa de Gaza são atacados.
No ano passado, em junho, o Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança acusou as forças israelenses de maltratarem e torturarem crianças palestinas, além de usá-las como escudo humano. Segundo o órgão da ONU, “Crianças palestinas detidas por militares e policiais são sistematicamente sujeitas a tratamento degradante e muitas vezes a atos de tortura”. O órgão afirmou ainda que em dez anos, cerca de 7.000 crianças palestinas com idade de nove a 17 anos, foram presas, interrogadas e muitas foram levadas para tribunais militares de Israel acorrentadas nos tornozelos e algemadas.
A maioria das crianças presas foi acusada de jogar pedra. De acordo com a legislação israelense, criança palestina que atirar pedra em soldado de Israel, pode ser punida com pena de até 20 anos de prisão.
Objetivo é roubar as terras e o gás dos palestinos
Mas somente o ódio ao povo palestino não justifica tanta crueldade. O Estado sionista de Israel é governado por políticos e partidos que além de defenderem abertamente o sionismo e pregarem o ódio ao povo palestino, representam a grande burguesia do país, isto é, grandes empresas de construção civil com interesse em construir colônias nas terras palestinas, e as indústrias bélicas israelenses e norte-americanas com relações íntimas com o capital financeiro internacional.
Como Israel tem poucos recursos naturais e 85% de suas terras são desérticas, roubar as terras palestinas é essencial para expandir a construção de colônias e aumentar os lucros da indústria da construção e das imobiliárias de Israel.
Também as empresas armamentistas de Israel – Aerospace Industries, Elbit Systems e Elta – que produzem veículos lançadores de satélites, aviões não tripulados, caças, radares avançados etc, e as dos Estados Unidos (Boeing, Lockeed, Northrop, General Dynamics, Raytheon), embora vendam suas armas para outros países (inclusive o Brasil), têm no exército israelense um dos seus maiores compradores. A guerra permanente contra o povo palestino permite lucros gigantescos para os proprietários da indústria armamentista.
Por outro lado, Israel se orgulha de ter uma indústria moderna e uma grande tecnologia, mas é dependente de importação de grãos, carnes e petróleo. Para superar isso, quer ocupar as terras palestinas.
Mas a Faixa de Gaza não só tem crianças palestinas. Tem também importantes reservas de gás natural. Em 2000, foram descobertas extensas reservas de gás nessa região.
Essas reservas foram estimadas pela multinacional Bristish Gás (BG Group) em 40 bilhões de metros cúbicos, mas tudo indica que são muito maiores. A BG tem negociado com o governo Israel a exploração desses recursos e o povo palestino, verdadeiro dono da riqueza, tem sido ignorado. Além da BG, outros monopólios já manifestaram intenção em explorar o gás palestino. Quem ocupar a Faixa de Gaza controlará o gás e poderá ganhar bilhões de dólares. Em 2007, o governo de Israel admitiu pagar pela exploração do gás aos palestinos, mas mudou de ideia e agora quer se apoderar de uma terra e de uma riqueza que não lhe pertencem; por isso, massacra o povo palestino. Conta para esse crime com as armas e o financiamento dos EUA, da União Europeia e o apoio incondicional das televisões e dos grandes jornais do mundo.
Em resumo, Israel não quer conviver pacificamente com o povo palestino; quer roubar suas terras e assassinar aqueles que não aceitam sua dominação; quer se apoderar do gás e superexplorar a mão de obra palestina.
Como uma muralha
Na verdade, para a burguesia que hoje governa Israel e as principais potências imperialistas, o que importa é aumentar suas riquezas; as guerras contra o povo palestino, contra o povo sírio (mais de 179 mil pessoas mortas), contra o Iraque (mais de um milhão de pessoas mortas), contra a Líbia e a Ucrânia, entre outras, são um dos principais meios da classe capitalista elevar seus lucros, principalmente num momento em que o sistema capitalista atravessa uma profunda crise econômica. Não importa, pois, para os senhores da guerra, que são exatamente os donos dos meios de produção e dos bancos, quantas crianças palestinas vão ter que assassinarem dormindo nem quantas guerras terão de realizar.
O governo sionista de Israel e seus cumplices, os países imperialistas, querem impedir a qualquer custo a existência do Estado Palestino para poderem roubar suas riquezas e escravizar os sobreviventes desse genocídio; estes são os verdadeiros motivos para Israel e os EUA promoverem esse banho de sangue e não os túneis ou foguetes do Hamas.
Mas o heróico povo palestino já mostrou que não aceita ser escravizado; prefere a morte a viver sem liberdade. Um povo que luta por sua liberdade pode perder algumas batalhas, mas vencerá a guerra. E, como diz os versos do poeta comunista palestino Tawfiq Az-Zayad, os palestinos não irão embora, lutarão:
“Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
como uma muralha
em vossas goelas …
Quando tivermos sede
espremeremos as pedras
e comeremos terra quando estivermos famintos
Mas não iremos embora
Aqui está nosso futuro”
(Tawfiq Az-Zayad)
Lula Falcão é membro do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário
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