Aconteceu, no dia 22 de julho, na sede do sindicato dos jornalistas de São Paulo o debate Turquia e Brasil:Nas ruas os povos encontram o caminho.
Organizado pelo Jornal A Verdade e pela UJR (União Juventude Rebelião) o evento teve como principal objetivo a troca de experiências sobre as mobilizações populares ocorridas nos últimos tempos nos dois países.
A discussão contou a participação de duas representações de cada país. Representando a Turquia estvam Elif Görgü, do jornal Evrensel e Nray Sancar, do Partido do Trabalho da Turquia (EMEP). Por parte do Brasil estavam Marcelo Buzetto, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e Sandino Patriota, do Partido Comunista Revolucionário (PCR). A intermediação foi Aline Bailo, da UJR.
Cada um destacou em suas exposições detalhes e análises destes processos de mobilizações, que em pouco tempo mudaram os rumos históricos destes países.
“Mesmo com tal distância e com culturas tão diferentes, podemos perceber que a luta e as mobilizações nesses países tem grandes semelhanças”, afirmou Marcelo Buzetto.
Em seu relato, Nray Sancar enfatizou a importância da luta contra o capitalismo nesse processo de mobilizações e destacou este, como m problema internacional, e por isso tão importante a solidariedade internacionalista.
O debate se encerrou com todos os participantes puxando a palavra de ordem que expressa o espírito que permeou toda essa noite. “Brasil, Turquia, América Central, a luta por justiça é internacional”.
Stalin costumava perguntar, durante as sangrentas batalhas em Stalingrado e nos arredores de Moscou, capital que ele nunca pensou abandonar, os invasores nazistas já enfraquecidos, e seus aliados fascistas, as tropas italianas, já derrotados, o seguinte: “Quantas divisões tem o papa Pio 12?”, o grande admirador de Hitler.
No dia 7 de março último, a Folha de S. Paulo, na seção Mundo, publicou as duas fotos acima, uma delas de duas venezuelanas da classe alta, sem dúvida carregadas de joias e com roupas caríssimas, recebendo abrigo na Flórida, festejando histericamente a morte de Hugo Chávez. Tive vontade de perguntar: “Quantas divisões elas têm?” Centenas de divisões made in USA. E quantas divisões tem a mulher venezuelana da outra foto, vestida humildemente, chorando de todo coração a morte do Comandante? Resposta: milhões de patriotas que são a maioria absoluta da Venezuela.
Também vi a publicação Aventuras na História, da Editora Abril, que na sua capa escreve: “Stalin contra-ataca: o ditador nunca foi tão adorado. Por que o homem que exterminou 20 milhões de soviéticos volta a ser venerado sessenta anos depois de sua morte?”. E, se isso não bastasse, diz Patrícia Hargreaves, diretora da redação: “Poucos personagens da história foram mais perversos que o georgiano Josef Stalin, líder da União Soviética por trinta anos, de 1992 até sua morte em 1953. Ele sempre aparece em companhia de gente como Mao Tsé-Tung, Gêngis Khan, Átila, o Huno, e assemelhados. Não por acaso, um de seus ídolos era Ivan, o Terrível, um czar que fez valer o epíteto.
Nem menciona Hitler, que cometeu o maior genocídio da história, ampliado com a invasão da União Soviética em 1941, na chamada Operação Barbarossa. Os milhões de vítimas civis, entre eles poloneses, judeus, ciganos, iugoslavos. Os nazistas entraram nos colcozes, as fazendas coletivas soviéticas, enchendo os gigantescos celeiros de madeira com centenas de camponeses, homens, mulheres, velhos, crianças, cercando os celeiros com os Eisensatzgruppe, os Grupos Especiais, pondo fogo por dentro, atrás das portas fechadas, sem deixar ninguém sair e, se alguém tentava escapar, era metralhado no ato.
Será que a Patrícia Hargreaves esqueceu que os nazistas germânicos causaram todo esse inferno da Segunda Guerra Mundial? Será que ela achou que Hitler não deveria ser incluído na lista de, segundo ela, os maiores montros da humanidade?
Quanto à Grande Fome a que ela se refere, o historiador britânico Anthony Beevor, autor do famoso livro Stalingrado, baseado nos documentos liberados recentemente, dos arquivos do Exército Vermelho e do Exército do Reich alemão, mostra claramente que, se Stálin não tivesse conseguido derrotar nos anos de 1930 os grandes donos de terras ucranianos, e não tivesse transferido esses grandes proprietários para a Sibéria, se Stalin não tivesse feito a coletivização agrária, esses grandes donos de terra, se tivessem ficado na Ucrânia, eles se teriam aliado aos alemães – e o destino da guerra teria sido o triunfo arrasador dos nazistas. Será que Patrícia Hargreaves preferiria que o resultado final tivesse sido a vitória esmagadora dos autores do holocausto?
Ela critica Stalin, dizendo que nenhum país teve mais vítimas na Segunda Guerra do que a URSS, com 24 milhões de pessoas. Pergunto: pessoas ou soldados? As vítimas britânicas foram 450 mil, as vítimas americanas, 300 mil. Patrícia Hargreaves observa espantosamente que Stalin usou esses 24 milhões de soviéticos como… “bucha de canhão”!
Assim ela ignora os fatos de que nenhuma força aliada conseguiu frear a invasão sangrenta e bárbara e de que nem a França, com a famosa Linha Maginot, não levou nem dez dias para ser derrotada, e de que a Polônia caiu em seis dias, de que os austríacos e tchecoslovacos foram engolidos, de que a Iugoslávia se tornou uma resistência clandestina permanente, com seus famosos partisans não tendo parado de lutar nas florestas – mas apesar disso o caminho foi aberto para as tropas nazistas entrarem em 1941 na União Soviética. Pela tática de terra arrasada usada pelo Exército Vermelho em sua retirada, os soldados nazistas não puderam aproveitar os frutos da terra por eles recém-ocupada, enquanto aguardavam reforços de Berlim. Foi isso que causou a Grande Fome.
Baseado nos documentos soviéticos e nazistas, o historiador Beevor fez uma grande descoberta: não foi o “General Inverno” que venceu os alemães. O fator decisivo que ele menciona é que, bem escondidas nos confins do leste da Sibéria, foram instaladas centenas de colcozes, que produziram três mil tanques do famoso modelo T-50, com aço de espessura de 5 centímetros, o dobro da espessura do aço dos tanques alemães, britânicos e americanos.
Nem os agentes de espionagem, nem nazistas, nem britânicos, nem americanos, conseguiram descobrir essas colcozes. Nem previram a surpresa que o marechal Jukov preparou com esses três mil tanques, cercando as tropas de Von Paulus dentro de Stalingrado. Os sitiantes foram sitiados.
Imaginem se Stalin não tivesse conseguido fazer essa coletivização! De onde chegariam os tanques salvadores não só da União Soviética como do Ocidente? Do céu?
Essa grande vitória em Stalingrado enfraqueceu todos os frontes de batalha alemães, em Moscou, na África do Norte e impediu o cumprimento da estratégia de pinças dos nazistas, com as tropas de Von Paulus vindo de Baku (onde ele não conseguiu chegar, por causa da derrota em Stalingrado) e as tropas de Rommel vindo do Egito. O plano era que Von Paulus e Rommel iriam se encontrar na Jordânia. Rommel foi derrotado e restou o perigo da bomba atômica em preparação pelos os alemães de Von Braun (que com a derrota da Alemanha foi trabalhar para os Estados Unidos).
Stalin e seu Comitê Central conseguiram conduzir os milhões de soldados, chamados por Patrícia Hargreaves de “bucha de canhão”, que perseguiram os alemães em fuga, atravessando a Polônia, liberando os poucos sobreviventes dos campos de extermínio Auschwitz, Treblinka, Maidanek, virando a Blitzkrieg (“guerra-relâmpago”) contra os seus inventores alemães. Conquistaram o famoso bunker de Hitler, encontrando na entrada os esqueletos do Fuehrer e sua mulher recém-casada Eva Braun e os cadáveres do casal Goebbels.
Vou mencionar os motivos pelos quais, apesar do 20° Congresso do PCUS, nunca abandonei minha admiração por esse ser fenomenal que, apesar dos erros cometidos ao longo dos trinta anos em que encabeçou a União Soviética, conseguiu manter esse continente-colosso formado pela União Soviética e a China, enfrentando tantas intervenções durante décadas, e transformar um país atrasado em um país industrializado, que foi o único a conseguir enfrentar e derrotar esse perigo que nem foi mencionado por Patrícia Hargreaves.
Minhas visão pessoal
Milhões de judeus buscando abrigo, fugindo dos carrascos, das câmaras de gás, encontraram só portas fechadas em todos os países e continentes. Foram forçados a voltar para as câmaras de gás. Os únicos que abriam as portas, as fronteiras, para esses fugitivos, foram os membros do Comitê Central presidido por Stalin. Os soviéticos salvaram 3 milhões de judeus que procuravam escapar das tropas nazistas as quais estavam em progressão, até o ponto de a URSS fundar em seu território o Estado judaico de Birobidjan, longe do perigo, na protegida Sibéria.
Se Stalin tivesse cometido esses “crimes” mencionados por Patrícia Hargreaves, seriam contados, ao invés de 6 milhões de judeus assassinados, 9 milhões de judeus assassinados.
Em 1942 eu tinha dez anos e morava em Haifa, na Palestina. Já nos preparávamos para enfrentar o perigo bem real do cerco de Von Paulus pelo norte e Rommel pelo sul. Fui um dos milhares de jovens voluntários encarregados de limpar as enormes cavernas do vale de Roshmia, no monte Carmelo, para preparar os esconderijos em que se abrigariam os que iriam enfrentar as tropas nazistas dos Einsatzgruppen. Durante semanas, depois das aulas na escola, eu ajudava a transformar as cavernas em moradias. Depois da vitória do Exército Vermelho em Stalingrado esse plano alternativo de resgate foi cancelado. Podíamos respirar livremente.
Passaram-se seis anos. Em 1948, fui recrutado para participar do início da defesa das fronteiras marcadas pela ONU para o Estado judeu, contra a invasão armada dos países vizinhos, colonizados pelos ingleses. Não havia armas suficientes. O mundo ocidental declarou um embargo. Estávamos quase em colapso. Com surpresa chegou a ajuda da Tchecoslováquia, por ordem do Comitê Central presidido por Stalin. Os tchecos mandaram milhares de fuzis, centenas de metralhadoras, que nos ajudaram, a nós jovens, a frear os invasores. Nosso destino de conseguir a libertação do Mandato britânico estava de acordo com o que preconizava a ideologia soviética. Viramos, por curto prazo, parceiros dos soviéticos. Graças ao Comitê Central da União Soviética de Stalin, foi possível estabelecer o Estado judeu no Oriente Médio.
O prestígio de Stalin
Dá para entender o fato de que, sessenta anos depois de sua morte, a popularidade de Stalin volta a ser venerada na Rússia. Não é difícil de entender: a maioria dos habitantes da ex-União Soviética tornaram-se de novo uma maioria de classe baixa, de falta de liberdades econômicas, das desigualdades crescentes, do desamparo com a falta de planos de saúde, enquanto a educação e a moradia comem quase tudo do salário, e o desemprego está crescendo enormemente. Só uma minoria pequena dos 200 milhões de russos gozam de um nível de vida bem alto. O maior número de donos de carros Jaguar, Bentley e Rolls-Royce, em todo o mundo, são integrantes da Máfia russa, que domina o país. Por que estranhar o fato de que a maioria da população está coletando dinheiro, como foi mencionado no arquivo de Patrícia Hargreaves, para reconstruir as estátuas de Stalin que foram destruídas, e exigindo do nome de Staligrado para a cidade hoje chamada de Volgogrado?
Raras vezes se encontra um povo nessa situação de revolta geral, numa situação tão dura, tão trágica, de se jogar de peito aberto contra as metralhadoras dos nazistas. Não são “bucha de canhão”. Sua luta foi igual à nossa para nos libertar dos colonialistas ingleses, com nossos peitos expostos às metralhadoras britânicas. E agora nos encontramos com os venezuelanos na mesma situação em que a grande maioria pega nas mãos o seu destino. Será isso que, sessenta depois da morte, leva à veneração de Stalin? Exatamente sessenta anos depois da morte de Stalin morreu Chávez.
Gershon Knispel, artista plástico Fonte: Caros Amigos
Estamos numa época em que o futebol, esporte tão amado pelo povo, foi transformado em mercadoria.Em que o povo brasileiro vai às ruas, em plena Copa das Confederações, protestar pela redução das passagens de ônibus, contra os superfaturados gastos bilionários com os estádios, contra a interferência da Fifa na soberania nacional, contra as remoções dos pobres que moravam nas áreas onde os estádios foram construídos.Numa época em que o futebol tem sido instrumento de corrupção, lavagem de dinheiro, enriquecimento de uma minoria, refúgio para agentes da Ditadura Militar.
Pois bem, nada mais oportuno então do que resgatar o nome de um cidadão consciente, engajado, militante, amante do futebol e profissional bem sucedido como técnico e comentarista esportivo. É preciso que a juventude rebelde conheça e se mire no exemplo de João Saldanha.
João Alves Jobim Saldanha já nasceu lutando, no dia 3 de julho de 1917, ano abençoado, em que os bolcheviques tomavam o poder na Rússia, instalando o primeiro governo popular da História, que construiria a primeira experiência de socialismo científico na vida humana. Não. Não quero dizer que o menino já nasceu comunista. É que o casal que o gerou – Gaspar Saldanha e Jenny Jobim Saldanha –estava refugiado no Uruguai por conta de sua participação no enfrentamento dos maragatos contra os chimangos, no Rio Grande do Sul. Voltou pouco tempo depois às terras gaúchas, e, aos seis anos de idade, ajudava os irmãos mais velhos – Aristides e Maria – a carregar armas e munições por baixo da roupa.
Maragatos x Chimangos
Um breve intervalo para compreendermos melhor essa luta. Começou em 1893, com os maragatos defendendo uma Federação com maior autonomia para os Estados, considerando que o governo central exercia um controle quase absoluto, negando, na prática, a República Federativa proclamada em 1889. O apelido tem origem no fato de que os líderes da Revolução Federalista estiveram exilados no Uruguai, numa região chamada de Maragateria. Defendendo o Governo Central, estavam os Pica-Paus, assim denominados por conta de um chapéu branco que deixava suas cabeças parecidas com a do pássaro. O conflito terminou em 1895 com a derrota dos maragatos. Mas estes não desapareceram. Retomaram o combate em 1923, contra o governo de Borges de Medeiros. Este era acusado de fraude eleitoral, corrupção e repressão, agindo como verdadeiro ditador. A luta durou 11 meses, terminando em dezembro com uma negociação intermediada pelo Governo Federal. Borges permaneceu no Governo, mas foram abolidas a reeleição e a indicação de intendentes prefeitos. Os defensores do Governo do Estado foram denominados chimangos, uma ave de rapina parecida com o carcará.
Futebol e Militância
A família mudou-se para o Paraná, onde morou em várias cidades do interior, fixando-se finalmente em Curitiba, a dois quarteirões do Atlético Paranaense. O gosto pelo futebol começou ali, jogando com os meninos da vizinhança e assistindo aos treinos atleticanos. Uma curiosidade: no curso primário, teve como colega de escola um garoto que se tornaria personagem marcante na História do Brasil: Jânio da Silva Quadros.Nova mudança, agorapara o Rio de Janeiro, em 1931;João Saldanha tinha 14 anos. Aos 18, conseguiu mudar seu registro de nascimento,oficializando-se como natural de Alegrete (RS), onde a família vivia antes de deixar os pampas. No Rio, continuou seus estudos, cursou a Faculdade de Direito, ingressou no PCB, então denominado Partido Comunista do Brasil, e jogou profissionalmente pelo Botafogo, pouco tempo, parando após fraturar uma perna.
O cronista Rubem Braga assim o descrevia: “Um cara que não perdeu aquele topete gaúcho e incorporou muito da malícia carioca”. E Nelson Rodrigues, escritor e teatrólogo, deu-lhe uma alcunha: João Sem Medo.
Na fase mais dedicada à militância política no PCB, João Saldanha foi assistente político do grupo que conduziu a guerrilha camponesa do Porecatu, no Paraná (1947-1951); ele era o “Professor Siqueira”, lembra JeaneteGouvea, que o conheceu na época e escreveu sobre esta revolta para o jornal A Verdade,nº 67.
Com larga experiência na redação dos jornais e boletins clandestinos do PCB, Saldanha estreou como comentarista esportivo no Rádio Nacional, tendo se tornado muito popular e festejado pelo modo enfático e simples de comentar e pela criação de frases inesquecíveis, que se tornaram bordões populares, a exemplo de “Se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária seria campeão” e “Se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria empatado”.Em 1957, o Botafogo o convidou para técnico. Ele não tinha experiência, mas o clube ganhou o campeonato estadual. Mais um êxito profissional.
Na Copa do Mundo de 1966, o Brasil teve um fraco desempenho. A imprensa, o povo todo, criticava. Era geral o descrédito para a Copa de 1970. João Saldanha também criticava, mas de forma construtiva, dava sugestões. A direção da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) pensou uma cartada. Ele era super-respeitado como comentarista, tinha levado o Botafogo à vitória como técnico. Então, que venha comandar a Seleção Brasileira.
João Sem Medo aceitou o desafio. E disse: “Só vou convocar feras”. Por isso, a imprensa batizou a seleção como “As Feras do Saldanha”. E eram. Pelé, Tostão, Gérson, Rivelino, Carlos Alberto Torres, Jairzinho… “Tive a sorte de contar com um celeiro de craques; lamentei não convocar Ademir da Guia, por exemplo…”1 (Ademir era um grande jogador, ídolo da torcida palmeirense).
“Na seleção, mando eu”
O Brasil vivia sob ditadura militar. Quando Saldanha foi convocado, o ditador de plantão era o general Artur da Costa e Silva, que mantinha uma fachada “democrática”. Mas 1968 foi um ano de grandes mobilizações de massa, especialmente do movimento estudantil, e, em dezembro, veio o AI-5, o golpe dentro do golpe.A dita, que alguns consideravam branda, endurece de vez.Uma polêmica, aliás, inócua, porque como bem definiu o poeta “dita é sempre dita, tanto faz dita mole ou dita dura, tanto faz”, pois, “cala a voz, mata a canção, joga o direito no chão…”2
Em agosto de 1969, Costa e Silva, considerado da ala moderada das Forças Armadas, adoece. Assume uma Junta Militar e, a seguir, é nomeado para a chefia da Ditadura o general Emílio Garrastazu Médici. Este não simpatizava com um comunista dirigindo a Seleção,especialmente quando convocou a CBD para uma reunião, e João Saldanha não compareceu. Ele justificou: “…Eu não teria prazer em apertar a mão de um homem que tinha matado vários amigos meus. Não sei se foi ele quem mandou ou deixou. O caso é que, coincidentemente, trezentos e tantos morreram naquele Governo, o mais assassino da História do Brasil”.
As eliminatórias foram um sucesso, mas, uma semana antes da Copa de 1970, João Saldanha é demitido. A versão corrente, assumida pelo próprio Saldanha, é que Médici queria mandar em tudo e começou a pressionar em favor da convocação de jogadores de sua preferência, especialmente Dario Maravilha (Atlético Mineiro), pois queria agradar Minas Gerais. Segundo Saldanha, Dario era “…um bom jogador. Era de alto nível, mas não de tão alto nível como os jogadores de que a Seleção Brasileira precisava”.
Médici pressionava a diretoria da CBD, e esta transmitia a pressão para João Saldanha, até chegar ao ponto de João Havelange dizer: “João, não podemos aguentar mais. Pelo amor de Deus, convoque Dario”. “Se convoco Dario, eu ia me avacalhar. Não me avacalhei”.
Há um boato, não comprovado, de que a cúpula do regime se reunira para debater o tema João Saldanha. Houvera uma divisão. Parte considerava que não ficava bem a taça ser levantada por um comunista. Outra parte afirmava que o Partido teria decidido que a Seleção não poderia ser vitoriosa, pois isto serviria de propaganda para o Governo. A minoria confiava em Saldanha e acreditava que ele não se submeteria a pressão de ninguém. Por via das dúvidas, foi decidido demiti-lo. A ordem de convocar Dario teria sido apenas um pretexto.
O fato é que veio a demissão. Assume Zagallo às vésperas da Copa. Manteve o mesmo time. Só teve o trabalho de levantar a taça. Um desempenho fenomenal “As Feras de Saldanha” tiveram no México, levando o Brasil ao tricampeonato mundial.
João Saldanha voltou à sua função de comentarista renomado e continuou militando no PCB até o fim da vida, que aconteceu em 12 de julho de 1990, em Roma, onde fora cobrir a Copa do Mundo, por conta de um enfisema pulmonar. O Brasil caiu nas oitavas de final.
José Levino,
historiador
Notas:
As citações de João Saldanha foram extraídas da entrevista concedida a Geneton Moraes Neto, em Globo.com.
Trecho da canção VIOLA, VIOLAÇÃO, letra de Joaquim Alencar e Camilo de Lélis, que driblou a censura e foi campeã, aplaudida de pé, no Festival de Música de Cajazeiras (PB), ano de 1973.
Fontes de Consulta:
Crônica de Gustavo Grohmann em terceiro tempo.bol.com.br e wikipedia.org.
Em suas andanças culturais, o jornal A Verdade conheceu no Dia Nacional do Choro, 23 de abril, numa atividade do Grupo 100% Suburbano, no bairro de Olaria, a flautista Joana Saraiva. Joana nos deu o prazer de conversar durante algumas horas sobre a importância da música para a vida e para a transformação do ser humano. A seguir esse nosso bate-papo.
A Verdade – Como começou sua paixão pela música?
Joana Saraiva – Paixão? Está sendo uma paixão. Mas no começo sempre é difícil identificar esse sentimento. Quando era criança, tinha vontade de tocar violão, mas não foi para frente essa história. Por morar em Arraial do Cabo, uma cidade pequena do Estado do Rio de Janeiro, não havia escola de música. Mas sentia vontade de escutar música, não necessariamente de tocar. Fui morar no Rio de Janeiro com 15 anos e, andando pelo Centro do Rio, vi alguém tocando flauta e me apaixonei.
Comprei uma flauta e entrei para a Escola de Música Villa-Lobos, e esse primeiro contato não foi muito musical. As aulas eram muito técnicas, era para aprender a ler e executar partitura, muito intelectual. Num ensino tradicional de conservatório você não trabalha a sua musicalidade, não toca em conjunto. Só tem que fazer aqueles recitais em auditórios, tudo meio dramático, um repertório que não está muito próximo de você, da sua realidade. Aprendi a ler e a tocar. Não descobri a música em mim. Fui fazer outra coisa. Estudei e me formei em Ciências Sociais. Trabalhei nessa área algum tempo e o retorno para a música foi muito tempo depois, em 2004, quando fui fazer uma oficina de música com Itiberê Zwarg, baixista da banda de Hermeto Pascoal, que tinha outra proposta didática, totalmente diferente, que se chama Corpo Presente: você vai para a sala com vários estudantes de música e instrumentistas em diferentes níveis. Trabalha com a prática de compor e arranjar música com os outros, sem estar mediado pela partitura. A ideia é você fazer música com criatividade. A partitura é importante, mas ela é só um suporte de registro. Nós temos uma herança colonialista de que tudo que é oral é ruim, para você se gabar de uma alta cultura tem que saber ler e escrever, para o mundo musical não é isso. O que importa é saber escutar.
O chorinho é um ritmo brasileiro. Mas é pouco conhecido, principalmente fora do Rio de Janeiro. Por quê?
Em meados do século 19, como qualquer país latino americano, as músicas que se ouvia eram trazidas do Império, das danças que estavam na moda, como a Polca. A melodia e harmonia eram base europeia.
O choro hoje tem 150 anos de história advinda de várias influências, mas com características que os músicos brasileiros introduziram no decorrer do tempo. Hoje o choro é um ritmo brasileiro. A identidade cultural se faz pela apropriação, influência musical, o seu desenvolvimento histórico que resulta na transformação de algo novo. Quando você consegue se comunicar através desse ritmo. Nesse sentido, o choro é bem brasileiro, bastante carioca. O Choro consegue despertar interesse de diversos músicos ao redor do mundo e em diversas cidades do Brasil. Existe o Festival do Choro, que acontece no Brasil em seus diversos estados. Tem o Clube do Choro aqui e em outras partes do mundo, e esses músicos vêm ao Brasil tocar o nosso repertório. Entre os músicos e instrumentistas está havendo uma febre em relação ao choro.
A gente toca na rua porque tem uma resposta popular. A música instrumental, como o choro, toca o público, mesmo que ele ainda seja restrito.
O que a levou a aprender o choro? O que a encanta nessa música?
A vontade de tocar. Para você aprender a tocar choro você tem que estar tocando com outros músicos. Existe essa tradição. Você tem que estar numa roda, estar com outras pessoas. É uma tradição oral de aprendizado. Você assiste, e os músicos mais experientes ensinam como tocar. Quando comecei a tocar, o que me atraiu foi essa possibilidade de trocar experiências com os outros músicos e ter uma interação com o público. No cenário da Cidade do Rio de Janeiro o choro é uma música popular.
A presença feminina numa roda de samba, de choro, não é muito comum. Como você se sente?
Nunca senti constrangimento de às vezes ser a única mulher numa roda de choro. Sempre fui muito bem acolhida. Esses espaços são mais masculinos, assim como outros ritmos, como o samba. Essa questão de numa roda de choro só ter homem tocando reflete uma extensão de um cenário da nossa sociedade machista.
O choro sempre foi tocado no subúrbio, na Zona Oeste. Ele sempre foi tocado numa outra geografia, num outro território, num outro círculo social que não aparece.
Espero que a presença da mulher seja ampliada porque o choro está deixando de ser visto como uma música menor. Está havendo uma valorização até acadêmica sobre a música popular em geral. Uma abertura do ponto de vista da cultura formal sobre essas expressões populares. Hoje as pessoas não abrem as suas casas para tocar esses ritmos, os restaurantes e bares passaram a ocupar esse lugar. Nós tentamos manter a postura de quem está numa roda de choro, não é um show.
Como vê o fato de os governos gastarem tanto dinheiro para financiar um Rock in Rio ou uma Copa do Mundo, e investir quase nada na música popular brasileira?
Essa é uma pergunta bastante complexa. É uma questão equivocada de orientações culturais e políticas. Uma herança de não saber e querer valorizar e enxergar a cultura popular. De não valorizar pessoas, artistas como Mestre Caçula e colocá-lo numa escola para ensinar. Tornar invisível essas pessoas que fazem cultura popular realmente. Essa questão do Rock in Rio é uma extensão de uma política equivocada, de uma visão cultural que somos herdeiros até hoje. Uma sociedade arcaica, colonizada, totalmente equivocada.
Você comentou: “Quem gosta de tocar só música clássica, toca em casa”. O que isso significa?
Para quem estuda música erudita infelizmente o circuito é muito restrito. Ou você está numa orquestra ou não está. Não existem políticas culturais para ter uma porção de orquestras, conjuntos de câmara. Existe um preconceito de achar que o público não é capaz de entender essas músicas. Música de qualidade, qualquer uma que seja, todo mundo entende. As pessoas se reconhecem nela. A música tem uma vantagem diante de todas as outras linguagens artísticas de ser mais diretas, você toca e a pessoa se toca, não há intermediário, ela não se sente constrangida, não tem mediação.
O problema é que não existe uma política de educação musical. Não tive contato nenhum com a música quando era criança. Esse decreto de 2008 (Lei nº 11.769), que regula o ensino de música nas escolas, é de extrema importância. Existe uma discussão no meio artístico sobre a regulamentação dessa lei, da possibilidade real, concreta, de cumpri-la, por ser uma questão de educação.
Qual a importância da música no desenvolvimento social do ser humano?
A importância é total. Se você pensa de uma forma mais humanista, na concepção homem, mulher, a música está totalmente dentro, como qualquer outra linguagem. E ela tem uma potência muito grande de transformação individual, social, porque ela afeta muito diretamente as pessoas.
A música tem um grande potencial de mobilização social, porque não se faz música sozinho. Primeiro você precisa de alguém para tocar e de alguém para ouvir. Você precisa de gente. O que me encanta mais na musica é essa necessidade intrínseca de comunicação. A característica fundamental de um bom músico é quando ele consegue escutar e se colocar a partir do que se escuta no sentido de escutar o outro. Saber dialogar, não se impor, conquistar o espaço de outra maneira. Várias percepções que passei a ter sobre a vida social, sobre o mundo vêm de situações quando estou tocando. Quando se está tocando a sua personalidade fica mais exposta. Você não está fazendo terapia, discutindo política, mas está fazendo tudo isso numa outra linguagem. Essa é a potência de tocar, se fizer um direcionamento legal, você pode usar isso para uma mobilização coletiva, para um sentido de uma identidade de grupo, para um engajamento político, porque a música é uma linguagem muito potente. Todo mundo tem a música 24 horas na vida sendo ou não músico.
Como você se define politicamente?
Sou um ser político em todos os momentos. Você conseguir afetar, incomodar, questionar uma pessoa do seu lado é uma ação política.
Política se faz na esquina. É um trabalho de formiguinha. Não é uma política de cima para baixo. É uma ação cotidiana. Toda ação tem uma consequência porque você é um agente social. Você não está sozinho no mundo. Não acredito na política dos grandes sistemas.
Você leu o jornal A Verdade. O que achou?
Achei bem contundente. Bem corajoso. Achei que fosse um jornal regional, mas é amplíssimo e isso realmente é fantástico. Deve ser muito difícil selecionar as matérias que vão sair. Porque o Brasil é enorme. A mensagem que deixo para o jornal é de continuar acreditando que a mudança é possível, é real e cotidiana, e que se faz no passo de formiguinha mesmo. Desde que se acorda até a hora de dormir. Porque você pensa, anda, fala, ouve, sonha e, por conta disso, podemos realizar todos os nossos horizontes possíveis e imaginários, conseguir libertar a imaginação nisso tudo, e acreditar sim que a realidade agora que a gente vive é um constrangimento, é uma pressão momentânea, mas você tem que ter força política para imaginar e realizar essas mudanças sociais e trazer isso para sua existência cotidiana, para sua realidade cotidiana. A sua responsabilidade cotidiana.
Com o poder da mídia alternativa, cada vez mais a Polícia Militar é desmoralizada. Uma pessoa idêntica a que jogou o Molotov em um policial militar supostamente aparece amparada pela PM, no meio do tumulto da manifestação.
Policiais infiltrados sempre foram usados pela polícia para desviar movimentos e deter lideranças. Tire suas próprias conclusões.
Somos dessa geração de jovens da Revolta da Tarifa. Nascidos nos anos 1980, adolescentes nos anos 1990, jovens nos primeiros anos deste século. Crescemos todos debaixo da pressão ideológica das batalhas vividas pela geração anterior. Quando ruiu a União Soviética, a classe capitalista massacrou nossa geração com o discurso do fim da história, apoiada, com muito ou pouco entusiasmo, por ideólogos, professores e líderes ditos de esquerda.
Era preciso resistir. Vencida a Ditadura, realizado o Fora Collor, passamos pelos anos ultraimperialistas (neoliberais) com várias baixas. O que sempre incomodou em todos esses anos foi o discurso quase unânime da centro-esquerda institucional de que os tempos eram muito difíceis, que era preciso abrir mão de certos princípios e de que não era possível realizar greves nem manifestações de maior envergadura. Defendiam ontem o que a direita defende hoje: baixemos as bandeiras.
Nesse período, as universidades foram o espaço mais privilegiado para a propagação do discurso reacionário, travestido de pós-moderno. Falaram e repetiram que as ideologias estavam com prazo de validade vencido, que a classe trabalhadora não podia mais ser senhora da história e que, portanto, trabalhar por uma mudança profunda, revolucionária, no Brasil e no mundo já não era mais possível.
Seguiram esse caminho os que foram fazendo mais e mais concessões para vencer eleições de cartas marcadas no campo institucional. Pagaram demasiado caro. Ingênuos e infantis, fortaleceram e renovaram uma direita fisiológica, enquanto pensavam que fortaleciam a si próprios. Dentro de diferentes níveis de governos, chocaram o ovo da serpente.
A Revolta da Tarifa teve seu salto de qualidade com duas grandes marcas inquestionáveis. A primeira é a marca da indignação em virtude das profundas injustiças vividas pela maior parte do povo. Essa indignação se manifesta em temas como a Copa, os serviços públicos, os direitos individuais e a corrupção. Todos que vão para a rua estão indignados.
A segunda marca é a da decepção, e é aqui a direita encontrou a chave para crescer. Depositário da esperança popular durante a última década, o Partido dos Trabalhadores decepcionou e perdeu a confiança dos setores populares. Pior. No Governo Dilma ficou surdo e avesso às críticas, fazendo propaganda triunfalista através da Copa e de obras faraônicas, enquanto a gigantesca desigualdade social permanece.
Desiludidos com o PT, uma parte considerável da juventude passa a negar o conjunto dos partidos e a fazer uma negação da política que é um prato cheio para os fascistas que permanecem impunes e ativos desde o fim da Ditadura. A covardia de não punir os torturadores e assassinos do regime militar dá aqui os seus frutos.
A revolta da tarifa é produto de uma série de manifestações da juventude e dos trabalhadores que desembocaram no que hoje está acontecendo. Citarei algumas, provavelmente esquecendo outras: Revolta do Buzu (Salvador, 2003), Amanhã vai ser maior (Florianópolis, 2005), Rebelião contra o aumento (Recife, 2005), além da revogação do aumento em Porto Alegre e Goiânia neste ano. É também acumulo da retomada das greves, em 2012, da luta dos índios e dos camponeses.
É, portanto, um momento fundamental na história do Brasil, onde não cabe lugar para o medo, a paralisia e a confusão. Chegou a hora de a classe trabalhadora e da periferia falarem. Se o Governo Dilma não guinar à esquerda, será cúmplice, por omissão, dos fascistas que, com financiamento estrangeiro, trabalham para criar as condições para um golpe no povo brasileiro.
O povo brasileiro já mostrou que tem consciência política e disposição de luta, tanto os jovens quantos os adultos. É momento de ocupar as ruas defendendo nossas bandeiras de reestatização das estatais privatizadas, terra para quem nela trabalha, casa para quem está sem casa, emprego digno, mais verbas na educação e saúde, punição para os torturadores e corruptos de ontem e de hoje. Que ninguém mais use como desculpa a falta de consciência do povo para não trabalhar por mudanças profundas neste País!
Sandino Patriota,
ex-vice presidente da UNE e militante do PCR
A Comissão da Verdade da União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (Uespe), instalada em 28 de maio de 2013 para apurar os crimes cometidos pela Ditadura Militar contra os estudantes secundaristas, entrevistou o Dr. Oswaldo de Oliveira Coelho Filho, advogado e presidente da Caixa de Assistência dos Advogados da OAB-PA.
Oswaldo esteve presente na manifestação estudantil realizada em 1º de abril de 1964, no Recife, contra o golpe que implantou a Ditadura. Naquela ocasião, os estudantes seguiram em passeata rumo ao palácio do Campo das Princesas, sede do Governo do Estado, para defenderem a validade do mandato do governador Miguel Arraes contra os golpistas.
Segundo Dr. Oswaldo, “o Exército começou com disparos para o alto, em seguida baixou o alvo. Nisso, atingiu Jonas no rosto. Os estilhaços dos ossos caíram sobre mim e muito sangue, muito sangue, ao ponto de minha roupa ficar toda molhada do sangue de Jonas. Jonas morreu nos meus braços”.
Jonas José de Albuquerque, era estudante secundarista do Ginásio Pernambucano, integrava a célula do Partido Comunista daquele ginásio. Fundou a Associação Literária Machado de Assis (Alma) e, no momento de seu assassinato, segurava a bandeira do Brasil ao lado de Ivan da Rocha Aguiar, recém aprovado para a Escola de Engenharia, também atingido naquela ocasião, vindo a falecer enquanto era socorrido.
O depoimento foi acompanhado por representantes dos grêmios e entidades estudantis, além de ex-presidentes da Uespe e da Ares. Estiveram presentes ainda o vereador de Olinda pelo Partido dos Trabalhadores Marcelo Santa Cruz, irmão do desaparecido político Fernando Santa Cruz; Adelson Borba, ex-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), gestão 1978; Jucemário Dantas, ex-presidente do Diretório Acadêmico de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Pernambuco, gestão 1976; Augusto de Albuquerque, irmão de Jonas José de Albuquerque; e Amparo Araújo, do Movimento Tortura Nunca Mais de Pernmabuco.
Augusto de Albuquerque relatou emocionado os fatos que decorreram do assassinato de seu irmão. “Meu pai foi para o quintal com um revolver. Colocou a arma na cabeça, mas, felizmente, estava sem balas. Ele tentou se matar porque não suportava o que aconteceu com Jonas. Ele ficou muito abalado”, declarou.
Na mesa, Edival Cajá, presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa e membro do Partido Comunista Revolucionário, saudou a iniciativa da Uespe pela criação da sua comissão da verdade; e, Marcus Vinícius, presidente do DCE da Unicap e secretário Geral da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP) ajudou na coordenação do evento.
“A comissão irá ouvir outras testemunhas e vítimas. Ao final dos trabalhos, irá apresentar relatório e petição para que as comissões da Verdade Nacional e Estadual apurem os crimes investigados”, declarou o presidente da Uespe, Davi Lira, encerrando as atividades do dia.União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco Criou no dia 21 de junho de 2013, a comissão da Verdade para apurar os assassinatos dos estudantes Jonas José e Ivan Aguiar pela ditadura militar. O objetivo é reunir dados para auxiliar a comissão estadual. O evento contou com dezenas de jovens, ex presidentes da UESPE do vereador Marcelo Santa Cruz, Movimento Tortura Nunca Mais e do Irmão de Jonas.
Centenas de milhares de brasileiros, em sua grande maioria jovens, estão nas ruas para exigir a redução das absurdas tarifas do transporte público e o passe-livre. O transporte público em nosso País é de péssima qualidade, embora seja um dos mais caros do mundo. O resultado é que 37 milhões de brasileiros são obrigados a andar a pé por não ter dinheiro para pagar uma passagem.
Mas isso não ocorre à toa.
O transporte público foi privatizado. Em todas as grandes cidades um reduzido número de ricas famílias são donas das empresas de ônibus. Os governantes recebem propinas desses empresários e, em troca, aumentam as passagens, abandonando a população à ganancia desses tubarões. Essa minoria, além de ter superlucros com as passagens caras, recebem subsídios das prefeituras e governos. Por isso, a solução é a estatização do transporte público.
Mas o povo também sofre com o desmantelamento do Serviço Público de Saúde (SUS), com a máfia dos planos de saúde, com os professores recebendo baixos salários e com a educação sendo transformada em mercadoria.
No campo, monopólios roubam as terras dos povos indígenas e dos camponeses para exportar soja, enquanto faltam alimentos na mesa dos trabalhadores. Não bastasse, nosso petróleo está sendo leiloado para multinacionais em troca de migalhas.
Quando o povo vai às ruas exigir seus direitos, os governos dizem que não há verbas. Mas, para atender aos interesses da Fifa, o Governo Federal gastou bilhões para construir estádios. O Governo também usa o dinheiro público para pagar os juros da dívida e enriquecer os especuladores, bem como para dar subsídios às montadoras de automóveis e socorrer bancos falidos, como o Pan-Americano, do milionário Silvio Santos, ou a empresa OGX, do playboy Eike Batista.
Para os trabalhadores sobram migalhas. O Brasil tem um dos menores salários mínimos da América Latina, enquanto os patrões capitalistas ganham fortunas.
Os grandes meios de comunicação da burguesia, tendo à frente a Rede Globo, também são responsáveis por essa situação, pois apoiaram a Ditadura Militar que torturou e matou centenas de revolucionários brasileiros e espalhou a corrupção por todo o Brasil. A Globo também apoiou Collor,o golpe militar em Honduras, as guerras imperialistas contra o Iraque e o Afeganistão, quer que o Brasil se torne um quintal dos EUA e defende a repressão contra o movimento popular. Aliás, ao lado da Fifa, é quem mais lucra com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Por isso, é urgente acabar com a propriedade privada dos meios de comunicação.
O fato é que a burguesia, a classe capitalista, se apodera de todas as riquezas que são produzidas pela sociedade, enquanto a maioria vive com quase nada, mora em favelas ou de aluguel e, quando chove,ainda perde o pouco que tinham; muitos a própria vida.
Também por causa desse falido sistema existemmais de 200 milhões de trabalhadores desempregados no mundo, sendo 75 milhões de jovens.
A verdade é que ninguém libertará o povo, se ele próprio não lutar. Como prova a redução do preço das passagens em diversas cidades, para mudar essa situação, a solução é a luta; é não baixar a cabeça para os poderosos. Sem luta não há revolução, e sem revolução não há transformação!
O PCR luta por uma revolução popular e pelo socialismo! Basta de exploração dos patrões e de abusos contra o povo! Estatização do transporte público já! Exigimos nossos direitos! Fora Fifa e Rede Globo! Pelo poder popular e o socialismo!
Há 500 anos, desde o começo do mercantilismo até os dias de hoje, passando pela primeira revolução industrial que deu início ao sistema capitalista, muitos recursos do meio ambiente foram extraídos e biomas foram poluídos ou destruídos apenas para garantir o lucro de poucos. Após a Segunda Guerra Mundial, houve um gradativo crescimento da sociedade de consumo na América do Norte e na Europa, espalhando-se depois para diversas regiões do mundo, fazendo com que aumentasse a pressão sobre os recursos naturais do planeta. Atualmente, estamos enfrentando uma crise ambiental, que é mascarada pela falsa ideia de “desenvolvimento sustentável”, na qual uma sociedade ecologicamente correta e uma economia autossustentável não prejudicaria o meio ambiente.
A destruição das matas começou com a espoliação das colônias durante o século 16, como podemos ver nos casos do Brasil e da América Latina, onde os colonizadores portugueses, na ganância de extrair o Pau Brasil a qualquer custo, acabaram com mais de 80% da Mata Atlântica. O roubo do minério em Minas Gerais, onde quantidades absurdas de mercúrio foram jogadas nos rios para melhor extração do ouro também é outro exemplo desse processo de degradação. Querendo mais dinheiro, os ricos e poderosos não mediram esforços para transformar regiões inteiras de florestas ricas em biodiversidade em áreas de cultivo de eucalipto ou terras inférteis; em poluir os cursos d’água; em lançar cada vez mais monóxido de carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera por meio de suas indústrias e da queima de combustíveis dos veículos. Resultado disso é que milhões de homens, mulheres e crianças passam fome nas frequentes crises de superprodução capitalista, enfrentam guerras pelo acesso à água e as “catástrofes naturais” acontecem com maior frequência e intensidade.
No Brasil, empresas como a TKCSA, mais conhecida como Companhia Siderúrgica do Atlântico, foi proibida de atuar em seu país de origem, a Alemanha, por infringir leis ambientais e por poluir os rios europeus. Entretanto, ela atua livremente no Brasil, poluindo nossas principais bacias e mananciais e devastando florestas.
A partir da década de 1960, ficou cada vez mais perceptível que o problema do meio ambiente estava diretamente ligado à ganância das empresas e dos empresários por ganhar mais dinheiro. Buscando assegurar o seu posto, a burguesia “inova” e apresenta uma nova forma de desenvolver, a chamada “sustentabilidade”. O termo é utilizado para caracterizar uma produção capitalista capaz de não prejudicar o meio ambiente. O resultado disso são propagandas mentirosas e hipócritas, ricos montando partidos que “defendem” a natureza, empresas poluidoras indo à televisão falar sobre preservação ambiental, etc. Mas como pode haver um “desenvolvimento sustentável” se não é o bem-estar da população que determina as necessidades de produção, e sim o capital para gerar lucro e mais lucro àqueles que detêm os meios de produção?
Mudar este sistema, esta forma de enxergar o papel do ser humano no meio em que está inserido, com uma economia planificada, socialista, pautada pelas necessidades humanas, de modo a garantir o desenvolvimento pleno dos indivíduos em suas máximas potencialidades, torna-se urgente e determinante para se ter certeza na existência de um futuro.
Raphael Almeida e Renata Rocha estudam Meio Ambiente e são militantes da UJR
Como podemos interpretar as massivas mobilizações que se espalharam e estão em curso na Turquia? A Primavera Turca? Uma convulsão social? Uma tentativa de golpe iniciada pelos nacionalistas?
Para fazer uma interpretação realista devem-se considerar os incidentes políticos anteriores na Turquia. Definitivamente, o fogo não foi causado por apenas uma fagulha.
O governo do AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento, na sigla em turco) é o aliado mais leal do imperialismo estadunidense e ocidental no Oriente Médio, é um importante ator no “Projeto do Grande Oriente Médio” e o mais devoto executor das políticas neoliberais; essas políticas que são confrontadas extensivamente por protestos ao longo dos anos.
Tais políticas, como a transferência de propriedade pública estatal para empresas multinacionais e magnatas locais, demissões em massa, reorganização da força de trabalho com vistas à terceirização, a repressão contra os sindicatos, a restrição dos direitos sociais, diminuição dos salários e o aumento da exploração em nome de maior rendimento e competitividade, etc., evocaram revoltas diárias em fábricas e empresas.
Ao mesmo tempo, a política de ignorar a questão curda junto às políticas de assimilação nacional-cultural e às detenções massivas de membros do povo curdo provocavam tremendas repercussões.
A burguesia urbana e cosmopolita também está incomodada com o aumento da presença de elementos religiosos nas práticas e pronunciamentos do governo do AKP. Isso se expressa na implantação do ensino religioso compulsório nas escolas secundaristas, o novo arranjo do sistema educacional de acordo com as reivindicações religiosas, o aumento no número de escolas religiosas, a criação do Ministério de Assuntos Religiosos; além da restrição da venda de bebidas alcoólicas e no direito a fumar em espaços determinados, e a troca de quadros burocráticos do Estado por religiosos pró-AKP.
O AKP criou alto interesse internacional ao privatizar empresas estatais para o capital estrangeiro a preços baixíssimos, criando condições para um fluxo de dinheiro fácil e atraindo capital à Turquia, evitando que este fosse investido no Oriente Médio ou em bancos e empresas ocidentais. Assim, o governo do AKP teve mais sucesso até agora que os EUA e a União Europeia em resistir à crise econômica mundial.
Mas ultimamente o fluxo de capital externo tem diminuído. O governo do AKP tenta evitar a desaceleração econômica, implementando uma campanha a que chama de “Transformação Urbana”. As áreas de maior valor das grandes cidades foram expropriadas para a construção de enormes edifícios comerciais que são vendidos a preços extremamente altos. Isso gera um trânsito cada vez mais caótico, que, somado a destruição de espaços naturais e parques e ao enriquecimento de membros do AKP com essas políticas, levou a um descontentamento geral.
A política com relação à Síria também gerou grande insatisfação. O apoio econômico às organizações e grupos islâmicos radicais e a permissão para que estes grupos passem pela fronteira rumo à Síria desencadeou muitos outros problemas. Os radicais islâmicos se tornaram uma ameaça ao poder da maioria Alauita na fronteira turca com a Síria. O apoio aos radicais islâmicos prejudicou o comércio e a economia na região. O número de empresas em falência e o desemprego aumentaram. Assim, aparecem os efeitos negativos dos cinco milhões de dólares concedidos aos opositores da Síria.
Nessas circunstâncias, o primeiro-ministro Tayyip Erdogan anunciou a construção de um centro comercial no local do Parque Taksim. O centro comercial seria construído imitando um quartel de artilharia da Revolução Burguesa de 1908, conhecido como quartel general das forças reacionárias, centro da insurreição. Ao ressuscitar o quartel, o AKP pretende advogar pelo golpe reacionário e torná-lo mais importante no imaginário da população que a Revolução de 1908. Uma grande parte da população assim entendeu o problema, um plano urbanístico com um profundo caráter reacionário. Além disso, os ecologistas denunciaram que não sobraria quase nenhuma área verde onde seria erguido o centro comercial. A intenção de Erdogan de realizar essa mudança na cidade sem o consentimento da maioria abriu caminho para um levante contra suas políticas ditatoriais.
No parque Gezi de Taksim começou a resistência. As máquinas entraram em ação para realizar a demolição, atraindo milhares de pessoas para a defesa do parque. Já durante a madrugada, com a maioria das pessoas tendo ido embora do parque, as forças policiais atacaram um pequeno grupo que se manteve na praça dormindo em barracas. A Polícia queimou as barracas, os ativistas foram espancados e atacados com gás de pimenta.
Há um mês, durante as manifestações do 1º de Maio, em Taksim, o governo proibiu a aproximação da região num raio de 20 milhas e paralisou o serviço de transporte público que dá acesso ao local; cortaram o acesso à parte asiática e europeia da cidade durante todo o dia, e os manifestantes foram submetidos à agressão, ao gás de pimenta e aos canhões de água. As precauções tomadas pelo governo do AKP prejudicaram todas as pessoas de Istambul, além dos turistas.
Agora, utilizam-se novamente dos mesmos métodos para acabar com a luta no Parque Gezi de Taksim. O último ataque chamou atenção de amplos setores da massa e dezenas de milhares de pessoas se dirigiram a Taksim. Ao término do expediente, mais de 100 mil pessoas se reuniam em Taksim. A polícia se utilizou de canhões de gás e água pressurizados. Apesar da censura promovida pelos meios de comunicação burgueses, os esforços por meio órgãos democráticos e revolucionários de imprensa e das redes sociais fizeram as notícias sobre os acontecimentos se espalharem. Assim, as manifestações se espalharam para as regiões de Ankara e Izmir. O povo não deixou as ruas até a noite. Em Izmir, Ankara e Istambul os confrontos foram realmente duros entre a Polícia e os ativistas. Houve mortes de alguns jovens. Dezenas de milhares de pessoas ficaram feridas e/ou presas. O assistente da Juventude de nosso Partido em Ankara foi preso e espancado.
A maior parte dos manifestantes foram mulheres e jovens. Torcidas organizadas também participaram das manifestações, deixando de lado suas rivalidades. As palavras de ordem mais ouvidas diziam “Governo, renuncie” e “Renuncie, Tayyip”. A maior parte das pessoas que participaram nos protestos não é de nenhum partido ou organização.
Nosso Partido, junto a todos os partidos revolucionários e democráticos, os ecologistas, as associações de médicos, engenheiros e arquitetos, os sindicatos dos trabalhadores do serviço público, os alauítas, os intelectuais e artistas, advogados, grupos nacionalistas, etc., compuseram o setor laico da sociedade, daqueles que concordam que o governo do AKP está de pouco em pouco criando um sistema legal religioso.
Nosso Partido, participando das manifestações com todos os seus quadros e organizações, empenhou-se em atrair os trabalhadores, todos os proletários e sindicatos para a ação. Além de participar na formação dos órgãos de comando das mobilizações e nas discussões para aprofundar a discussão sobre as demandas destas.
Assim, foram convocados protestos pelas seguintes bandeiras: solução democrática e popular da questão curda; fim das restrições à liberdade de imprensa, de expressão e filiação; direitos dos alauítas; volta dos direitos trabalhistas perdidos; fim da cota mínima para representação parlamentar; investigação e punição dos responsáveis de massacres como os de Robonski e Reyhanli; proibição do uso de gás de pimenta pela Polícia em manifestações; proibição da destruição de cidades e de espaços verdes com fins de especulação imobiliária; e fim do desmatamento.
Convocaram-se as pessoas a se organizar e lutar. Hoje, o Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público (KESK, na sigla em turco) e a Confederação dos Sindicatos Revolucionários estão em greve geral. Os acontecimentos na Turquia têm semelhanças e diferenças com os processos ocorridos na Tunísia, Egito e outros países. As semelhanças são as amplas massas a dizer “Já basta” e indo às ruas com gana de lutar. As diferenças são quanto ao nível de organização e às reivindicações. Durante os últimos cinco anos, ações similares ocorreram não só em países árabes ou na Turquia, mas também em países europeus como Grécia, Itália, Portugal, Espanha, França e Inglaterra, e em alguns países da América Latina. Vemos que o ponto de partida para todos estes processos são as massas se rebelando contra a repressão e a exploração no sistema capitalista.
Acreditamos veementemente que o povo em rebelião contra a classe dominante pelos seus direitos e sua liberdade se fortalece em muito com a solidariedade internacional e a unidade.
Durante a realização da Copa das Confederações, vimos uma verdadeira rebelião do povo na luta pelos seus direitos. Sabemos que isso que vem acontecendo é fruto dos enormes problemas sociais que há muito existem e que, apesar das promessas dos diversos governos, jamais foram resolvidos. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, essa situação também é bastante grave, como exemplificamos abaixo.
Centenas de obras estão sendo feitas, mas, boa parte delas, ao invés de resolver realmente os problemas vividos pelo povo belorizontino, serve à especulação imobiliária (bancos, agiotas, imobiliárias, burgueses e similares) e às grandes empreiteiras.
A Prefeitura Municipal, sem consultar a população, tentou vender, em 2011 e 2012, quase cem terrenos que lhe pertencia a preço irrisório para os especuladores de plantão. Após muita pressão dos movimentos sociais populares e de alguns vereadores de oposição, o projeto foi retirado de pauta.
Os especuladores urbanos querem ainda que cerca de 700 famílias das comunidades Eliana Silva, Camilo Torres e Irmã Dorothy, localizadas na região do Barreiro, sejam despejadas, para aumentar os casos de grilagem de terras no Estado.
Por servir a esse setor que quer expulsar os pobres da Capital mineira, a Prefeitura de BH não permite que o programa “Minha Casa, Minha Vida” se desenvolva na cidade, em especial para faixa com renda até R$ 1.600, enquanto o déficit habitacional crescente já passa de 120 mil moradias.
Com fortes indícios de um possível superfaturamento de obras, uma estação do BRT (Transporte Rápido por Ônibus – sigla em inglês) foi demolida na avenida Cristiano Machado, na altura do Bairro Cidade Nova. A empresa responsável pela obra justificou que se tratava de um “protótipo”. Como aceitar esse argumento estapafúrdio, quando nitidamente estamos vendo tanto cimento, aço e mão de obra gastos para uma obra que seria demolida? Uma coisa é certa: essas obras estão rendendo milhões de reais para as empreiteiras e salários de miséria para os operários da construção civil, que tiveram no mês de maio que fazer greve pela melhoria das condições de trabalho.
Essas obras e a alternativa tomada pela Prefeitura de implantar o BRT, com o incentivo à política federal voltada para o transporte individual, segundo diversos especialistas, não vão resolver o problema do trânsito e da mobilidade na cidade e servem apenas aos interesses das grandes empresas de transporte. O Sindicato da Arquitetura e da Engenharia, em Minas Gerais, estima que, nos próximos 25 anos, haverá um crescimento de 70% da frota de 1,5 milhão de automóveis em BH. Enquanto um vagão do metrô cabe em média 250 pessoas, um ônibus BRT cabe apenas 130 pessoas. O resultado são engarrafamentos crescentes, trânsito cada dia mais caótico e sem possibilidade de serem resolvidos.
Além disso, em BH, uma máfia de apenas cinco famílias monopolizam o sistema de transporte, os ônibus circulam superlotados e não cumprem seus horários. Na região metropolitana, os preços em média custam até três vezes o valor da Capital, e os ônibus são muito velhos. Com as manifestações, o valor da passagem foi reduzido em míseros R$ 0,10 (dez centavos). O domínio das grandes empresas é tão grande que sequer o meio-passe para os estudantes, aprovado em lei desde 2010 pela Câmara Municipal de BH, foi efetivado. Segundo dados da Secretaria de Políticas Sociais, são menos de nove mil estudantes que têm acesso a esse direito em um universo de mais de 800 mil estudantes.
Copa agrava a situação
Os moradores das vilas, aglomerados e favelas também vêm sofrendo os terríveis efeitos dessa política nefasta promovida em Belo Horizonte. Cerca de seis mil famílias que moram às margens do Anel Rodoviário (Via Expressa com 27 km de extensão que corta parte da cidade) serão despejadas de suas casas e nem todas terão direito a outra moradia ou indenização justa. Quem é indenizado por desapropriação para abrir espaço para grandes obras na cidade nunca recebe o valor correto.
Segundo dados do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa (Copac), cerca de quatro mil famílias já foram despejadas de suas casas fruto de obras ligadas à Copa e com uso de extrema violência e nenhum diálogo. Milhares de famílias estão abrigadas a partir da bolsa moradia de R$ 500,00. Atualmente é praticamente impossível encontrar casa ou apartamento para uma família nesse valor. Assim, paulatinamente, os pobres estão sendo expulsos de Belo Horizonte para periferias de cidades da região metropolitana.
Para agravar essa situação, cresce a construção de hotéis para Copa, embora sobrem 4.481 vagas nos hotéis. É urgente e necessária uma reforma urbana. Este é o primeiro passo para melhorar a vida das pessoas, mudar a lógica de ver a cidade como uma empresa, onde tudo visa ao lucro, onde se privatizam os espaços públicos e onde o cidadão não tem um mínimo de dignidade.
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