Um acidente mudou a vida do gari Hamilton, 26 anos, em Caucaia, e deixou chocados os colegas diante da atitude da prefeitura da cidade. Ele trabalhava na coleta de lixo no bairro da cidade quando sofreu uma fatura no braço pelo arremesso de entulho no caminhão. Além da fratura, o acidente provocou um corte profundo afetando os três tendões de imediato e ocasionando hemorragia.
Na ocasião, o motorista ligou para emergência do município. Depois de esperar durante 40 minutos pela ambulância, agonizando de dor, o trabalhador foi levado a um posto de saúde e de lá encaminharam-no para o hospital municipal da região. Nesse hospital, apenas foi estancado o sangue, tendo sido transferido hospital de Fortaleza. Na capital cearense, ficou na fila de espera, onde outro paciente faleceu em sua frente esperando para ser atendido. Sem direito a maca, horas depois é que foi atendido e passou por uma dolorosa cirurgia.
Hamilton denuncia que os garis da cidade de Caucaia são vítimas constantes de acidentes, estão submetidos a graves riscos. Ele relatou o caso de um companheiro que teve a perna esmagada pelo próprio caminhão em 27de Janeiro; deu entrada no hospital e morreu minutos depois vitimado por uma parada cardíaca.
Os trabalhadores na limpeza urbana de Caucaia são submetidos a jornadas exaustivas, não contam sequer com equipamentos de proteção, sendo extremamente vulneráveis a infecções, viroses e outras doenças transmissíveis.
Os garis são ainda suscetíveis a problemas psicológicos relacionados à auto-estima já que sua atividade não é valorizada pela maioria das pessoas, vivem numa situação de permanente insegurança, falta de perspectiva, um ritmo diário de trabalho desgastante, sobre condições de trabalho precárias.
O Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região decidiu nesta terça-feira que os trabalhadores rodoviários são obrigados a se submeterem aos baixos salários, à exploração e às péssimas condições de trabalho que lhes são impostas pelos patrões.
Segundo o desembargador Marcus Moura Ferreira, os rodoviários devem garantir que 70% da frota esteja em funcionamento nos horários de pico, entre 6hs e 9hs e entre 17hs e 20hs. Nos outros horários, 50% da frota é obrigada a circular. Isso é, os trabalhadores não são livres para decidir sobre os rumos da própria greve.
O descumprimento da ordem acarretará em multa diária de R$30.000,00 ao sindicato dos trabalhadores, o STTRBH – Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Belo Horizonte. O desembargador determinou ainda que as empresas devem ajudar a alertar os motoristas e cobradores para o cumprimento da ordem judicial, ligando para os empregados e convocando-os para retornarem ao trabalho.
O Jornal A Verdade já havia denunciado que existe em curso no Brasil um [intlink id=”722″ type=”post” target=”_blank”]ataque ao direito de greve[/intlink]. E este é mais um exemplo de que a justiça no capitalismo não é neutra e nem está acima das classes.
Dando provas mais uma vez da combatividade da categoria e do grau insustentável de precarização a que vem sendo submetidos ano após ano, os rodoviários de Belo Horizonte e região entraram em greve nesta segunda-feira em resposta à postura intransigente do patronato na negociação da data-base.
As reivindicações da categoria são de reajuste salarial de 49% (índice referente ao PIB e a defasagem salarial dos últimos anos), tíquete no valor de R$450,00, jornada de 6 horas, fim da dupla função, fim da compensação de horas, adicional a periculosidade, penosidade e insalubridade e pagamento de PLR (Participação nos Lucros e Resultados), entre outras.
Na última assembleia a categoria repudiou a contraproposta patronal de apenas 13% de aumento salarial e a ousadia de, ao invés de diminuir, propor aumentar a jornada de trabalho de 6 horas e 40 minutos para 7 horas, iniciando então uma campanha unificada em Belo Horizonte, Sete Lagoas, Itaúna, Betim e Contagem.
Devido à sua postura irresponsável na negociação com os trabalhadores, os donos das empresas de transporte podem prejudicar até 1,6 milhão de passageiros ao longo de cada dia de paralisação.
Em resposta, a BHTrans – Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte – notificou as empresas concessionárias sobre suas responsabilidades diante da paralisação, e que sua persistência pode resultar em descumprimento de obrigações contratuais com relação à prestação do serviço de transporte público por ônibus.
Leia também:
[intlink id=”3007″ type=”post” target=”_blank”]Prefeitura e empresários aumentam passagem em Belo Horizonte[/intlink]
Ainda segundo a empresa municipal, é obrigação de cada concessionária manter reserva técnica suficiente para atender os níveis de serviços e elaborar e implementar esquemas de atendimento emergencial à população. Belo Horizonte tem hoje 296 linhas de ônibus, com uma frota de 3.010 veículos, fazendo 27.567 viagens por dia com aproximadamente 1,6 milhão de passageiros.
A adesão da categoria vem sendo bem-sucedida em diversas estações, sendo as mais representativas as do Vilarinho, com adesão de 100% da categoria, a do Barreiro, com 99% dos trabalhadores cruzando os braços, e a Diamante, com 95% dos veículos com motores desligados.
A esperança dos patrões é de serem socorridos pela justiça. Após se dizerem “surpresos” com a greve, declararam que esta é irregular e que pedirão o dissídio de greve no Tribunal Regional do Trabalho. Sua intenção é pedir à justiça para suspender a paralisação.
O trânsito ficou impraticável em diversos pontos da cidade. Vários trabalhadores tentaram se deslocar em carros particulares, mas tiveram que voltar para casa. Outros conseguiram chegar ao local de trabalho, mas gastando pelo menos o dobro do tempo que levam em dias normais.
Glauber Ataide, Movimento Luta de Classes, Belo Horizonte
A União Soviética não foi responsável por enviar apenas o primeiro homem ao espaço. Os comunistas superaram o mundo capitalista e enviaram também a primeira mulher, Valentina Tereshkova, que completou 75 anos nesta semana.
Nascida em 6 de março de 1937, Valentina Vladimirovna Tereshkova nasceu no vilarejo de Maslennikovo, Yaroslavl Oblast, na Rússia. Seu pai era motorista de trator e sua mãe trabalhava numa fábrica têxtil. Valentina iniciou seus estudos em 1945, aos 8 anos de idade, mas deixou a escola em 1953 e continuou seus estudos através de ensino a distância. Ainda jovem se interessou por paraquedismo, fazendo seu primeiro pulo com a idade de 22 anos. Na época ela era operária numa fábrica têxtil, a exemplo da mãe. No ano de 1961 se tornou secretária do Komsomol (Juventude Comunista) e mais tarde se tornou membro do Partido Comunista da União Soviética.
Após o vôo de Yuri Gagarin, em 1961, o engenheiro espacial Sergey Korolyov propôs enviar também uma mulher ao espaço. Em 16 de fevereiro de 1962 Tereshkova foi selecionada para compor o grupo de cosmonautas e foi escolhida dentre 400 candidatas, sendo considerada uma candidata especial devido à sua origem proletária e também pelo fato de seu pai, Vladimir Tereshkov, mais tarde sargento e líder de tanque, ser um herói de guerra.
Foram vários meses de preparo, até que na manhã de 16 de junho de 1963, a nave Vostok 6, após contagem regressiva de 2 horas, foi lançada com absoluto sucesso. Tereshkova se tornou, aos 26 anos de idade, a primeira mulher no espaço. Apesar de sentir náuseas e um pouco de desconforto físico, Tereshkova orbitou a terra 48 vezes e passou quase três dias no espaço. Com um único vôo ela bateu o recorde de todos os astronautas americanos juntos que voaram antes dela.
[intlink id=”649″ type=”post” target=”_blank”]Leia também: 50 anos da primeira viagem do homem ao espaço[/intlink]
Depois de seu histórico vôo Tereshkova foi estudar na Academia de Força Aérea Zhukovsky e se graduou com louvor como engenheira cosmonauta. Em 1977 se doutorou em engenharia, além de ter ocupado depois disso vários cargos políticos devido à sua figura proeminente.
Em 1963 se casou com Andrian Nikolayev (1929-2004), o único cosmonauta bacharelado a ir ao espaço. Em 1968 tiveram uma filha, Elena Andrianovna Nikolaeva-Tereshkova, que agora é médica e a primeira pessoa a ter tanto um pai quanto uma mãe que já viajaram ao espaço. Tereshkova e Nikolayev se divorciaram em 1982. Seu segundo marido, Yuli Shaposhnikov, faleceu em 1999.
Tereshkova recebeu diversos prêmios soviéticos e internacionais, dentre os quais citamos alguns: Herói da União Soviética (1963), Ordem de Lênin (1963 e 1981), Ordem da Revolução de Outubro (1971), Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho (1987), Ordem de Karl Marx (1963, na Alemanha Socialista), Ordem da Baía dos Porcos (1974, Cuba), Medalha de Ouro da Sociedade Britânica de Comunicação Interplanetária e muitos outros.
As investigações de Bachofen, Morgan e outros parecem provar que a repressão social das mulheres coincide com a criação da propriedade privada. O contraste na família entre o marido como proprietário e a mulher como não proprietária se tornou a base da dependência econômica e da ilegalidade social do sexo feminino. Essa ilegalidade social representa, de acordo com Engels, uma das primeiras e mais antigas formas da exploração de classes. Ele afirma:
“Na família, o marido representa a burguesia e a esposa o proletariado”.
No entanto, a questão das mulheres não era questionada neste sentido específico do mundo moderno. Somente o modo de produção capitalista, o modo de produção que criou a transformação social, que levantou a questão feminina destruindo o antigo sistema econômico e familiar, trazendo substância e sentido de vida para a grande massa de mulheres, durante o período pré-capitalista. Nós não devemos, entretanto, transferir para as atividades econômicas femininas antigas aqueles conceitos (como futilidade e mesquinhez) que são ligados às atividades femininas de nosso tempo. Desde que o antigo tipo de família existia, a mulher encontrará nas atividades produtivas, um sentido de vida, mesmo que ela não tenha consciência de sua ilegalidade social e de que seu desenvolvimento de seus potenciais enquanto indivíduo é limitado.
O período do Renascimento é tempestuoso e estressante, no sentido de despertar da individualidade moderna que era capaz de se desenvolver completamente em diversas direções. Encontramos indivíduos que eram gigantes bons e maus que rejeitam os mandamentos das religiões, das concepções morais e desprezam igualmente céu e inferno. Nós descobrimos as mulheres como centro da vida social, artística e política. E, ainda, não existe um traço de movimento feminino. Esta é a maior razão para o antigo sistema começar a ruir sob o impacto da divisão do trabalho. Milhares e milhares de mulheres não mais encontravam sentido na vida no interior da família, mas essa questão, de acordo com o que podemos analisar, foi resolvida na época com conventos, instituições de caridade e ordens religiosas.
As máquinas, o modo moderno de produção, lentamente acabaram com a produção doméstica e não apenas para milhares, mas para milhões de mulheres a pergunta era: Onde encontraremos nosso meio de vida? Onde nós encontraremos um sentido de vida assim como um trabalho que nos dê satisfação mental? Milhões estavam agora forçadas a encontrar seu meio e sentido de vida fora de suas famílias, na sociedade como um todo. Nesse momento, elas se tornaram conscientes do fato de que sua ilegalidade social esteve em oposição com a maioria de seus interesses básicos. A partir deste momento surgiram as modernas questões das mulheres. Aqui estão algumas estatísticas que mostram como o modo de produção moderno funciona para as questões das mulheres, mesmo as mais agudas. Durante 1882, 5,5 milhões das 23 milhões de mulheres e meninas na Alemanha estavam totalmente desempregadas, um quarto da população feminina não encontrava mais seu meio de vida na família. De acordo com o Censo de 1895, o número de mulheres empregadas na agricultura, no sentido mais amplo desse termo, havia crescido desde 1882 mais de 8% e no sentido estrito cerca de 6%, enquanto o número de homens empregados na agricultura decrescia cerca de 3% a 11%, por ano. Na área das indústrias e das minas, o número de empregadas cresceu cerca de 35% e o de homens cerca de 28%. No mercado de tecelagem, o número de mulheres empregadas cresceu mais de 94% e o de homens apenas 38%. Apenas esses números mostram muito mais a urgência em se resolver as questões das mulheres do que uma declamação inflamada.
O problema das mulheres, entretanto, está presente apenas entre aquelas classes da sociedade nas quais elas mesmas se tornaram produtos do modo capitalista de produção. Então, não encontraremos tais questões nos círculos camponeses, onde existe a economia natural (embora reduzida e puncionada). Mas, nós certamente encontraremos esses problemas naquelas classes da sociedade em que todas as crianças participam do modo moderno de produção. Existe um problema feminino para cada mulher do proletariado, da burguesia, da intelectualidade, etc. Assume uma forma diferente de acordo com a situação de classe de cada uma.
Como se entende um questionamento feminino na alta sociedade? As mulheres desta classe graças as suas propriedades, podem desenvolver sua individualidade e viver como desejam. Em toda sua vida, entretanto, ela ainda depende de seu marido. A guarda sobre o sexo mais frágil sobrevive na lei da família que afirma: “Ele deverá ser seu mestre”. E qual é a constituição da alta sociedade para que a mulher seja legalmente subjugada pelo marido? Em seus primórdios, essas famílias não seguiam pré-requisitos morais. Não era a individualidade, mas o dinheiro que decidia sobre o matrimonio. Seu mote é: No que o capital participa, moralidade sentimental não deve participar. Então, nessa forma de casamento, duas prostituições são tomadas como uma virtude. A eventual vida em família se desenvolve de acordo com os mesmos termos. Onde quer que a mulher não seja mais forçada a realizar seus deveres, ela transfere seus deveres de mulher, mãe e dona de casa para serviçais pagos. Se as mulheres destes círculos tem o desejo de dar a suas vidas um propósito sério, elas devem, primeiramente, aumentar a possibilidade de dispor de suas propriedades de forma independente e livre. Esta demanda representa o centro das demandas apresentadas pelo movimento feminino da alta sociedade. Estas mulheres, em sua luta pela realização de suas demandas contra o mundo masculino de suas classes, lutam exatamente a mesma batalha que a burguesia lutou contra as classes privilegiadas, ou seja, a batalha para remover todas as diferenças baseadas nas posses das propriedades.
O fato de que esta demanda não lida com os direitos dos indivíduos está provado pela defesa de Herr Von Stumm no Reichstag. Mas quando ele defendeu os direitos de uma pessoa? Este homem, na Alemanha, significa mais do que uma personalidade, ele é o dinheiro em carne e osso e se este homem se apresenta com uma mascara barata pelos direitos das mulheres, então isso só aconteceu porque ele foi forçado a dançar diante da “Arca da Aliança do Capitalismo”. Este é o Herr Von Stumm que sempre está pronto para colocar um basta para seus trabalhadores se eles não dançarem conforme sua música e ele certamente receberia com um sorriso satisfeito se o Estado, enquanto empregador colocasse os professores e intelectuais que insistem em discutir políticas públicas sob suas rédeas também. Os esforços de Herr Von Stumm não almejam nada além do que instituir a posse dos bens móveis no caso da herança feminina, uma vez que existem pais que adquiriram posses, mas não tem como escolher seus filhos, deixando apenas as filhas como herdeiras. Assim, o capitalismo honra a poucas mulheres, permitindo que elas dispusessem de suas fortunas. Esta é a fase final da emancipação da propriedade privada.
Como se apresentam os problemas femininos nos círculos da pequena burguesia, da classe media e da burguesia intelectual? Nesse caso, não é a propriedade que dissolve a família, mas principalmente os sintomas concomitantes da produção capitalista. Neste grau, a produção completa sua marcha triunfal, a classe media e a pequena burguesia estão cada vez mais próximas de sua destruição. Entre a burguesia intelectual, outra circunstância leva à piora das condições de vida: o capitalismo precisa de força de trabalho inteligente e treinada cientificamente. Isso então favoreceu uma super produção de trabalhadores cientificamente qualificados e contribuiu para o fenômeno de que as posições de respeito entre essas classes de profissionais estão se erodindo.
No mesmo nível, entretanto, o número de casamentos está caindo; mesmo com bases materias piores, o aumento da expectativa de vida dos indivíduos, faz com que os homens pensem duas ou três vezes antes de entrar em um casamento. A idade limite para se formar uma família aumentou e o homem não sofre pressão para se casar, pois em nosso tempo existem bastantes instituições sociais que oferecem uma vida confortável a um velho bacharel sem uma esposa legítima. A exploração capitalista da força dos proletários até os níveis mais exaustivos, está ai um grande suprimento de prostitutas que correspondem às demandas desses homens. Então, dentro dos círculos da burguesia o número de mulheres solteiras sempre cresce.
As mulheres e filhas destes círculos são empurradas para dentro da sociedade, elas próprias precisam se estabelecer em suas vidas nas quais não se espera apenas que elas tenham seu sustento, mas também saúde mental. Nestes círculos, as mulheres não são iguais aos homens na forma de donas das propriedades privadas, como elas são nos altos círculos. As mulheres nestes círculos ainda precisam garantir sua igualdade econômica com os homens e elas podem fazer isso a partir de duas demandas: A demanda por treinamento profissional igualitário e a demanda por oportunidades iguais de trabalho para ambos os sexos. Em termos econômicos, isto significa nada menos do que a realização do livre acesso a todos os empregos e competição igualitária entre homens e mulheres. A realização disso desencadeia um conflito entre homens e mulheres da burguesia e da intelectualidade. A competição das mulheres dentro do mercado de trabalho é a força que move a resistência dos homens contra as demandas daqueles que advogam pelos direitos das mulheres burguesas. Pura e simplesmente, medo da competição. Todas as outras razões que são listadas contra o trabalho feminino qualificado, como o cérebro feminino ser menor e a tendência natural das mulheres a serem mães são apenas pretextos. Esta batalha coloca as mulheres deste estrato social diante da necessidade de exigir seus direitos políticos, lutando politicamente, derrubando todas as barreiras que foram criadas contra a sua atividade econômica.
Até então, me posicionei apenas diante da estrutura política básica e pura. Nós iremos, entretanto, cometer uma injustiça contra o movimento burguês pelos direitos das mulheres se nós atribuíssemos apenas motivações econômicas. Não, este movimento também contém um aspecto mais profundo. As mulheres da burguesia exigem não só seu sustento, mas também querem poder desenvolver sua individualidade. Exatamente junto a esse segmento encontramos esta trágica, porém psicologicamente interessante figura “Nora”, mulheres que estão cansadas de viver como bonecas, em casas de bonecas e que querem compartilhar do desenvolvimento da cultura moderna. A economia, bem como a intelectualidade empreendida pelos defensores dos direitos das mulheres da burguesia são completamente justificáveis.
No que diz respeito ao proletariado feminino, foi a necessidade do capitalismo de explorar e buscar incessantemente por uma força de trabalho barata que criou questão das mulheres. Essa também é a razão pela qual o proletariado feminino se tornou parte do mecanismo da vida econômica de nosso período e foi para as oficinas e para as máquinas. Elas saíram para a vida econômica para ajudar seus maridos na subsistência, mas o sistema capitalista as transformou em competidoras desleais. Elas queriam trazer prosperidade para a família, entretanto, a miséria se estabeleceu. As mulheres proletárias se empregaram porque queriam construir uma vida feliz e prazerosa para seus filhos, entretanto, elas ficaram totalmente separadas deles. Elas se tornaram iguais aos homens como trabalhadores; as máquinas davam as forças necessárias e em qualquer lugar o trabalho das mulheres gerava o mesmo resultado que o dos homens. E como as mulheres constituem uma força de trabalho barata e acima de tudo submissas, tanto que apenas raros casos se colocam contra a exploração do capitalismo, os capitalistas aumentaram as possibilidades de trabalho das mulheres na indústria. Como resultado, as mulheres proletárias alcançaram sua independência. Mas, verdadeiramente, o preço para isso foi muito alto e para o momento elas ganharam muito pouco. Se durante a Era da Família, o homem tinha o direito (pense na lei eleitoral da Bavária!) de domar sua mulher com um chicote, o capitalismo está, agora, domando-a ainda mais. Antigamente, o governo de um homem sobre sua mulher era amenizado por sua relação pessoal. Entre um empregador e um empregado, entretanto, existe apenas o vínculo financeiro. O proletariado feminino ganhou sua independência, mas nem como ser humano, nem como mulheres ou esposas elas tem a possibilidade de desenvolver sua individualidade. Para suas tarefas como esposa e mãe, restam apenas as migalhas que a produção capitalista deixa cair da mesa.
Então as lutas pela libertação das mulheres proletárias não podem ser comparadas às lutas que as mulheres da burguesia enfrentam contra os homens de sua classe. Ao contrário, elas devem empreender uma luta unitária com os homens de sua classe contra toda a classe capitalista. Elas não precisam lutar contra os homens de sua classe para derrubar as barreiras que foram erguidas contra sua participação no mercado da livre competição. A necessidade do capitalismo de explorar e desenvolver o modo moderno de produção as libera totalmente de travarem tal briga. Ao contrário, novas barreiras precisam ser erguidas contra a exploração do proletariado feminino. Seus direitos como esposa e mãe precisam ser restaurados e garantidos permanentemente. Seu clamor final não é a livre competição com os homens, mas o poder político nas mãos do proletariado. As mulheres operárias lutam lado a lado com os homens de sua classe contra a sociedade capitalista. Para se ter certeza, elas também concordam com as demandas do movimento feminino burguês, mas elas sabem que a simples realização dessas demandas é uma forma de impedir que o movimento entre na batalha, equipado com as mesmas armas, ao lado de todo o proletariado.
A sociedade burguesa não é fundamentalmente contra o movimento feminino burguês, o que pode ser provado pelo fato de que em vários estados foram iniciadas reformas das leis, em âmbito público e privado. Existem duas razões pelas quais a implementação dessas reformas parece demorar excepcionalmente na Alemanha: primeiramente, os homens temem a competição nas profissões liberais e precisa-se levar em consideração que o desenvolvimento da democracia burguesa é bastante lento e fraco na Alemanha, que não acompanha sua tarefa histórica porque sua classe dominante teme o proletariado. Temem que estas reformas só trarão vantagens para os social-democratas. Quanto menos a democracia burguesa se deixar levar pelo medo, mais estará preparada para realizar tais reformas. A Inglaterra é um bom exemplo. A Inglaterra é o único país que ainda tem uma burguesia verdadeiramente poderosa, enquanto a burguesia alemã, tremendo de medo do proletariado, se intimida em realizar reformas políticas e sociais. Assim como está a Alemanha, existe o fator adicional de visão Filistina ampla. A noção Filistina de prejuízo atinge profundamente a burguesia alemã. Para se ter certeza, este medo da burguesia alemã é muito raso. Garantir igualdade política para homens e mulheres não muda o atual balanço de forças. As mulheres proletárias acabam no proletariado e as da burguesia acabam no campo da burguesia. Não podemos nos deixar enganar pelas tendências socialistas no movimento de mulheres burguês, que só persistirá enquanto a burguesia feminina se sentir oprimida.
Quanto menos a democracia burguesa entende seu papel, mais importante é para a Social Democracia defender a igualdade política das mulheres. Não queremos parecer melhores do que somos. Não estamos reivindicando por um princípio, mas interessados na classe operária. Quanto mais o detrimento do trabalho feminino influenciar na vida dos homens, mais urgente se tornará a necessidade de incluí-las na batalha econômica. Quanto mais a batalha política afetar a existência de cada indivíduo, mais urgente será a participação das mulheres nessa luta. Foi a lei anti-socialista que deixou claro para as mulheres o que significava justiça de classe, Estado de classe e leis de classe. Foi esta lei que ensinou às mulheres a necessidade de aprender sobre a força que intervém tão brutalmente em suas famílias. A lei Anti-Socialista cumpriu com sucesso seu trabalho que não teria sido realizado por uma centena de agitadoras e, portanto, somos profundamente gratas a essa lei que como todos os órgãos do governo (desde o ministério até a polícia local) que participaram e contribuíram maravilhosamente com esses serviços involuntários de propaganda. Então, como podem acusar a nós, social democratas de ingratidão? (Risos) – sic.
Ainda existe outro evento que deve ser levado em consideração. Estou me referindo à publicação de Augusto Bebel, o livro “Mulheres e o Socialismo”. Este livro não deve ser julgado de acordo com seus aspectos positivos ou pelos seus atalhos. Deve ser julgado pelo contexto de quando foi escrito. Foi mais do que um livro, foi um evento – um maravilhoso tratado. (Bastante preciso). O livro apontou pela primeira vez a conexão entre a questão feminina e o desenvolvimento histórico. Pela primeira vez, deste livro soou um apelo: Nós apenas conquistaremos o futuro se persuadirmos as mulheres a se tornarem co-batalhadoras. Reconhecendo isso, não estou falando apenas como mulher, mas como uma camarada do partido.
Quais conclusões práticas nós podemos esboçar para nossa propaganda junto as mulheres? A tarefa que deste congresso do Partido não deve ser resumida a sugestões de detalhes práticos, mas desenhar diretrizes gerais para o movimento de mulheres.
Nossa linha de pensamento deve ser: não devemos conduzir propaganda especial para as mulheres, mas fazer agitação socialista entre as mulheres. Os interesses mesquinhos e momentâneos interesses do mundo feminino não podem ser permitidos nesse estágio. Nossa tarefa deve ser incorporar as trabalhadoras modernas na nossa luta de classes! Não temos tarefas especiais para a agitação junto às mulheres. Essas reformas para as mulheres que devem ser realizadas no âmbito da sociedade de hoje já são exigidas dentro do programa mínimo de nosso partido.
A propaganda das mulheres deve tocar naquelas questões que são de grande importância para todo o movimento operário. A principal tarefa, portanto, de acordar a consciência de classe das mulheres e incorporá-las à luta de classes vigente. A sindicalização das trabalhadoras é extremamente difícil. Durante os anos de 1892 a 1895, o número de trabalhadoras organizadas em centrais sindicais cresceu para cerca de 7000. Se adicionarmos a esse número as trabalhadoras organizadas em sindicatos locais e enxergarmos que ao menos 700.000 mulheres estão envolvidas ativamente nas grandes indústrias, então começaremos a entender o tamanho do trabalho de organização que ainda está a nossa frente. Nosso trabalho se torna mais difícil pelo fato de que muitas mulheres estão ativas na indústria caseira e podem, portanto, ser organizadas apenas com grande dificuldade. Também temos que lidar com a difundida crença entre as garotas jovens que seu trabalho industrial é apenas transitório e que terminará quando se casarem. Para muitas mulheres existe a dupla obrigação de ser ativa tanto na fábrica quanto em casa. O que é mais necessário para as trabalhadoras é obter uma jornada de trabalho legalmente fixada. Enquanto na Inglaterra todos concordam que a eliminação da indústria caseira, o estabelecimento de uma jornada de trabalho legal e o pagamento de salários mais altos são importantes requisitos para a sindicalização das trabalhadoras – na Alemanha, além desses obstáculos, enfrentamos também a obrigação da sindicalização e das assembléias. A completa liberdade de formar coalizões, que era garantida pela lei do Império, foi ilusoriamente retida pelas leis de cada estado federativo. Não quero discutir a forma como tal direito de formar um sindicato é tratado na Saxônia (mesmo que alguém possa falar de um direito lá). Mas em dois dos maiores estados federativos, a Bavária e a Prússia, as leis sindicais são tratadas de tal forma que a participação feminina nos sindicatos tem se tornado cada vez mais impossível. Mais recentemente na Prússia, o distrito do “liberal”, o eterno candidato a ministro, Herr Von Bennigsen tem feito o humanamente possível na interpretação da Lei da Sindicalização e das Assembléias. Na Bavária todas as mulheres são excluídas de reuniões públicas. Na Câmara de lá, Herr Von Freilitzsch declarou muito abertamente que ao lidar com a lei da sindicalização, não apenas o texto, mas também a intenção do legislador deve ser levada em consideração. Herr Von Freilitzsch está na melhor posição para saber exatamente as intenções dos legisladores, todos eles acabaram de morrer, antes deixando a Bavária com mais sorte do que qualquer um pudesse imaginar nos seus melhores sonhos, apontando Herr Von Freilitzsch como seu ministro da polícia. Isso não me surpreende por quem quer que receba um ofício de Deus também recebe a inteligência concomitante, e em nossa Era do Espiritualismo, Herr Von Freilitzsch obteve tanto sua inteligência oficial, como por meio da quarta dimensão, descobriu as intenções dos falecidos legisladores. (Risos.)
Esta situação, portanto, não dá possibilidade para que as trabalhadoras se organizem junto aos homens. Até agora, elas enfrentaram uma luta contra o poder policial e estratagemas jurídicos e, superficialmente, parecem ter sido derrotadas. Na realidade, entretanto, elas se tornaram vitoriosas porque todas as medidas usadas para esmagar a organização das trabalhadoras só serviram para despertar sua consciência de classe. Se quisermos ter uma poderosa organização de mulheres, tanto no aspecto econômico como político, devemos então, primeiramente, cuidar da possibilidade para um movimento feminino livre, lutando contra a indústria caseira, por jornadas de trabalho menores e, acima de tudo, contra o conceito de organização da classe dominante.
Não podemos determinar, neste congresso do Partido, qual forma nossa propaganda entre as mulheres deve tomar. Devemos, primeiramente, aprender como faremos nosso trabalho junto às mulheres. Na resolução que vos foi apresentada, propõe-se para eleger delegadas sindicais, cuja tarefa será a de estimular a união e organização econômica das mulheres e para consolidá-la de maneira uniforme e planejado. Esta proposta não é nova; foi adotada em princípio pelo Congresso do Partido de Frankfurt, e em algumas regiões foi implanado com sucesso. O tempo irá dizer se essa proposta, quando aplicada em maior escala, é adequada para colocar as mulheres em maior medida no movimento proletário.
Nossa propaganda não deve ser realizada apenas de maneira falada. Um grande número de pessoas passivas não estão em nossas reuniões e incontáveis esposas e mães não podem vir. Na verdade, não deve ser tarefa da propaganda socialista alienar a mulher trabalhadora de seus deveres como mãe e esposa. Ao contrário, ela deve ser encorajada a realizar essas tarefas melhor do que nunca. Quanto melhor suas condições em sua família, quanto mais eficiente for em casa, maior será sua capacidade de lutar. Quanto mais ela for modelo e educadora de seus filhos, mais hábil ela será para faze-los continuar na luta com o mesmo entusiasmo e sacrifício que tivemos para a libertação do proletariado. Quando um trabalhador disser: “Minha esposa!” ela pensará “camarada de meus ideais, companheira em minhas batalhas e mãe dos meus filhos, para as futuras batalhas.” Muitas mães e esposas que despertam a consciência de classe em seus maridos e filhos fazem tanto quanto as camaradas que nós vemos em nossas reuniões.
Se a montanha não vai a Maomé, Maomé deve ir à montanha: Nós devemos levar o Socialismo para as mulheres através de uma propaganda escrita planejada. Para tal campanha, eu sugiro a distribuição de panfletos e eu não quero dizer do tradicional panfleto no qual todo o programa socialista e todo o conhecimento científico do século estão condensados em um quarto de página. Não, nós devemos usar pequenos panfletos nos quais se discuta um problema prático de um ponto de vista, principalmente aquele da luta de classes, que é a tarefa principal. E não devemos assumir uma atitude indiferente para a produção técnica de panfletos. Não devemos usar, como é nossa tradição, o pior papel e o pior tipo de impressão. Tal panfleto miserável será amassado e jogado fora pelas trabalhadoras que não tem o mesmo respeito pela palavra impressa do que os trabalhadores. Devemos imitar os norte americanos e ingleses que faziam pequenos livretos de quatro a seis páginas. Pois mesmo uma trabalhadora é mulher suficiente para dizer para si mesma: “Isso é mesmo encantador. Terei que pegá-lo e mante-lo.” As frases que realmente importam devem ser impressas em letras grandes. Então as trabalhadoras não ficarão com medo de ler e sua atenção será estimulada.
Por causa de minhas experiências pessoais, não posso defender a fundação de um jornal especial para as mulheres. Minha experiência não é baseada na minha posição como editora do “Gleichheit” (que não é destinado à massa feminina, mas à sua vanguarda progressista), mas como distribuidora de literatura entre as trabalhadoras. Estimulada pelas ações de Frau Gnauck-Kuhne, eu distribui jornais por semanas em certa fábrica. Eu me convenci que as mulheres lá não só não aprenderam com aquele jornal o que era esclarecedor, mas o que era engraçado e de entretenimento. Dessa forma, os sacrifícios de se publicar um jornal barato não valeriam a pena.
Também criamos uma série de brochuras que traziam o Socialismo mais próximo das mulheres como trabalhadoras, esposas e mães. Exceto pela poderosa brochura de Frau Popp, não tivemos uma só que chegou ao número de requerimentos que precisávamos. Nossa imprensa diária, também, precisa realizar mais do que fez até então. Alguns jornais diários tiveram a intenção de esclarecer as mulheres adicionando o suplemento especial para mulheres. O “Magdeburger Volkstimme” é um exemplo e o camarada Goldstein no Zwickau tem estimulado habilidosamente e com sucesso. Mas até agora a imprensa diária manteve a trabalhadora como assinante, enaltecendo sua ignorância, seu gosto ruim e informe, no lugar de esclarecê-las.
Repito que estou apenas colocando sugestões para vossa consideração. Propaganda entre as mulheres é difícil e onerosa e requer grande devoção e sacrifício, mas este será recompensado e deve ser trazido à luz. O proletariado poderá se libertar apenas se lutar unido, sem diferenciar-se por nacionalidade ou profissão. No mesmo sentido, só se libertará sem a distinção por sexo. A incorporação de grandes massas de trabalhadoras na luta pela libertação do proletariado é um pré-requisito para a vitória do ideal socialista e para a construção da sociedade socialista.
Apenas a sociedade socialista irá resolver o conflito que hoje é gerado pela atividade profissional das mulheres. Uma vez que a família como uma unidade econômica irá desaparecer e seu lugar será tomado pela família como uma unidade moral, as mulheres terão igualdade em direitos, igual em criatividade, será companheira de frente de seu marido; sua individualidade poderá crescer no mesmo tempo e ela cumprirá suas tarefas de esposa e mãe da melhor forma possível.
16 de Outubro de 1896
Tradução de Mayra Garcia da Silva
Movimento de Mulheres Olga Benário, Belo Horizonte
Enquanto atualmente no mundo inteiro apenas 40% das mulheres estão no mercado de trabalho, ganhando até 28% a menos que os homens (no caso do Brasil) para as mesmas funções e sendo responsáveis por apenas 10% da renda mundial, numa sociedade socialista sua situação é bem outra.
Reproduzimos abaixo trechos do livro Berlim: muro da vergonha ou muro da paz?, de Antônio Pinheiro Machado Netto, que viajou à RDA – República Democrática Alemã, ou Alemanha Socialista, na década de 1980, e registrou em forma de livro seu depoimento de tudo que foi possível observar naquele país. Fizemos um recorte dos trechos que dizem respeito especificamente à situação da mulher trabalhadora, mãe e estudante na Alemanha Oriental.
A mulher na RDA na década de 1980
“… 90% de todas as mulheres entre 15 e 60 anos de idade trabalham ou estão a qualificar-se profissionalmente.
“Aliás, as mulheres – porque discriminadas no regime capitalista – merecem uma referência especial neste depoimento.
“Registra-se que – nos serviços de saúde e assistência social – 80% dos empregados são mulheres. Em cada duas mulheres, uma é médica, dentista ou farmacêutica. Na economia, uma em cada quatro mulheres exerce função destacada. Também nas cooperativas de produção agrícola é expressiva a participação feminina: em cada três presidentes, um é mulher, o mesmo ocorrendo entre juízes – em três, um é mulher.
“As mães de dois filhos tem jornada de trabalho reduzida, até que os filhos completem 16 anos, lembrando-se, ainda, que a mulher tem participação especial em alguns tipos de trabalho, em razão de sua natureza física.
“A licença de gravidez é de 6 semanas antes e 20 semanas depois do parto.
Leia também: [intlink id=”3499″ type=”post” target=”_blank”]Tereshkova, primeira mulher no espaço, completa 75 anos[/intlink]
[intlink id=”791″ type=”post”]A vida das mulheres na sociedade socialista[/intlink]
[intlink id=”3740″ type=”post” target=”_blank”]Cuba é o melhor país da América Latina e do Caribe para ser mulher[/intlink]
“Na RDA, hoje, se as mães desejarem, 657 crianças, em 1.000, de zero a um ano, podem frequentar creches, onde recebem toda a assistência material, social e médica de pessoal especializado, gratuitamente. Todas as crianças de um a quatro anos – se os pais quiserem – frequentarão creches especiais, o mesmo em relação às crianças (todas) de três anos de idade até o início da escolaridade, que tem acesso aos jardins de infância na RDA, tudo gratuitamente. Melhor dito. Nessas creches especiais e nos jardins de infância não há restrições quanto a vagas. As crianças da RDA, hoje, tem assegurada essa possibilidade. Tem vaga para todas.”
[…]
“Cerca de 13% das estudantes são mães, número com tendência a crescer. Elas, assim como os casais de estudantes com filhos, são especialmente assistidas pelas universidades, escolas superiores e pelo Estado. Vivem sobretudo nos internatos e recebem preferencialmente lugares nas creches e jardins de infância (a assistência às crianças é gratuita na RDA, os pais participam apenas com 85 ou 55 pfennigs por dia nas despesas para comida e leite). Para cada filho é pago, além da bolsa mensal de estudo básica, um subsídio de 50 marcos.
“As estudantes se beneficiam com todas as outras regalias sociais proporcionadas pelo Estado, como licença paga de gravidez e maternidade de 26 semanas, o subsídio estatal mensal de 20 marcos para o primeiro e o segundo filhos, e de 1.000 marcos a partir do terceiro.
“Para o equipamento de casa, jovens casais podem recorrer a um crédito estatal, sem juros, de 5.000 marcos cujo prazo de reembolso é de oito anos. Se nesse período nascem filhos, o reembolso é diminuído de 1.000 marcos em caso do primeiro, 1.500 em caso do segundo e quitados os restantes 2.500 marcos na eventualidade de um terceiro filho.
“A fim de ajudar as estudantes grávidas e estudantes-mães a concluírem seus estudos, as faculdades oferecem alternativas especiais com vistas à recuperação das ausências a aulas e exames, o que se processa através de atendimento individual, planificando cada caso, sem qualquer prejuízo.
“A pedido da estudante, pode até ser cumprido um plano especial de estudo que resulte em acrescentar mais um ou dois anos ao período normal do curso.
“Mas a bolsa de estudo continua a ser paga plenamente. Assim, nesses casos as universidades e escolas superiores são obrigadas a garantir a continuação do estudo depois da licença.
“Os regulamentos são válidos independentemente de a jovem mulher ser casada ou não, referindo-se também a pais que estão sozinhos com a criança, o que também acontece.”
Como podemos ver, apesar do revisionismo, que aos poucos levou à restauração do capitalismo em vários países do leste europeu, as conquistas dessas experiências – que se mostraram superiores ao capitalismo – devem ser relembradas, pois mostram que o caminho da libertação da mulher e do fim da exploração do homem pelo homem passam, necessariamente, pelo socialismo.
Mais uma vez foi constatado que as mulheres trabalhadoras ainda ganham menos que os homens para as mesmas funções desempenhadas. As mulheres ganharam até 28% a menos do que eles em 2011, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME).
A legislação brasileira prevê que não pode existir diferença salarial entre homens e mulheres. Isso fica claro na Constituição e na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). No entanto não é isso que as pesquisas mostram.
Em uma década, as mulheres da Região Metropolitana de São Paulo aumentaram sua participação no mercado de trabalho e melhoraram o grau de instrução em relação aos homens, contudo, continuam recebendo menos do que eles. Entre as mulheres negras a diferença de salário chega a ser de até 172% menos, pois são as mais afetadas com menores salários, precarização do trabalho e informalidade.
Segundo o Dieese, em todas as regiões do país, as mulheres demoram mais que os homens para encontrar emprego, com exceção de São Paulo, onde os tempos de procura se assemelham. Salvador abriga a maior disparidade: elas levam uma média de 13 meses e os homens nove meses para encontrar um emprego.
[intlink id=”3450″ type=”post” target=”_blank”]Leia também: A situação das mulheres na Alemanha Socialista[/intlink]
[intlink id=”3499″ type=”post” target=”_blank”]Leia também: Tereshkova, primeira mulher no espaço, completa 75 anos[/intlink]
As mulheres representam 55% da população mundial, no entanto, apenas 40% delas estão no mercado de trabalho e representam apenas 10% da renda do mundo. A pobreza no mundo tem, portanto, sexo.
Agora em março, mês que marca a luta das mulheres por igualdade de direitos, é mais que necessário que esta questão seja debatida e colocada nas pautas de reivindicações dos movimentos populares, organizações políticas e sindicatos.
As mulheres são parte integrante da classe trabalhadora. Constroem, assim como os homens trabalhadores, toda a riqueza deste país. Não é mais possível tolerar tamanha discrepância de braços cruzados. Essa deve ser uma luta de toda a classe trabalhadora.
Márcio Alves dos Santos, metalúrgico e militante do MLC
No final de 2011, ao se aproximar o aniversário de 20 anos da dissolução da União Soviética, os meios de comunicação burgueses se assanharam em celebrar a data. Afinal, não é todo dia que o capitalismo é restaurado no que havia sido uma grande república dos trabalhadores.
E para tão especial ocasião a BBC convidou ninguém menos que Mikhail Gorbachev, o revisionista, o traidor, que conspirou contra os trabalhadores de sua própria pátria e condenou milhões à fome, ao desemprego, à baixa expectativa de vida e a outras tantas características do capitalismo que podemos observar hoje na Rússia.
Com o título Gorbachev, the great dissident (Gorbachev, o grande dissidente), o documentário se propõe a tentar explicar como o “fenômeno” Gorbachev foi possível. Isso é, como um filho do socialismo foi capaz de acabar com ele. E mostra também como foram os momentos finais da URSS.
Contando sua trajetória intelectual e pessoal dentro e fora do partido, Gorbachev afirma que não foi sempre um dissidente. Nascido em 1931 e filho de camponeses, relembra inclusive que seu trabalho de conclusão de curso na universidade foi sobre Stálin, com o título: “Stálin é nossa glória na batalha, Stálin é as asas da nossa juventude.” E afirma que era mesmo sincero, pois não foi obrigado por ninguém a entrar no partido.
No entanto, após o infame “relatório secreto” de Kruschev (que foi recentemente provado como falso do início ao fim pelo historiador Grover Furr) e a “liberação da atmosfera intelectual” (expressão burguesa que ele adota), passou a ter dúvidas sobre inúmeras questões.
O que o próprio Gorbachev deixa claro é que a partir de então ele sempre teria uma vida dupla: criticava o partido em privado, mas tinha uma vida pública exemplar.
Foi nessa época também que ele conheceu Zdenek Mlynar, o qual foi seu melhor e mais íntimo amigo. Mlynar seria, alguns anos depois, um dos arquitetos da Primavera de Praga de 1967, que foi esmagada pelos tanques soviéticos com o consentimento público (mas não privado) de Gorbachev.
Essa experiência foi decisiva na vida do revisionista. Após a derrota da Primavera de Praga ele compreendeu que qualquer mudança na União Soviética deveria ser lenta e gradual. Essa foi uma das bases da Perestroika.
Sua vida dupla foi eficaz o suficiente para levá-lo aos mais altos coletivos de direção do partido, incluindo o Politburo e o cargo de Secretário Geral do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética. Mas mesmo assim ele sabia, conforme declara sua ex-esposa Raisa Gorbacheva, que qualquer mudança deveria ser feita de cima para baixo (isso é, sem o povo), e que eles não podiam mais continuar vivendo da forma que estavam (se referindo à sua vida dupla).
No início da década de 1990 a insatisfação popular só aumentava, ao mesmo tempo em que sua popularidade não parava de cair. Uma convulsão social se anunciava, e uma suposta oposição surgiu: Boris Yeltsin, o qual faria acordos até com americanos e ingleses.
Vários acontecimentos se sucedem. Com o país à beira de uma guerra civil, a KGB toma o parlamento da Lituânia, e no 1º de maio de 1991 uma manifestação popular gigantesca pressiona Gorbachev, que já é visto como incapaz de governar.
Para tentar contornar a situação Gorbachev traiçoeiramente faz um acordo às escondidas com a falsa oposição (Yeltsin), no qual foram nomeados os “linhas duras” do governo (referência aos comunistas) que deveriam ser destituídos de seus cargos. No entanto, sua conversa foi gravada pela KGB, alertando os comunistas sobre o acordo ilegal que tinha por objetivo destruir a URSS, o que deu início a uma tentativa de abortar o infame golpe.
Tanques tomam Moscou, e é anunciado pelos meios de comunicação que Gorbachev está doente e um comitê provisório assumiu o comando da URSS. Yeltsin, grande amigo dos ingleses, se refugia no parlamento russo para não ser preso e liga para John Major, primeiro ministro da Inglaterra na época, e suplica: “Os comunistas estão vindo para me pegar. Só me restam 20 minutos. Você pode dizer a todos o que está acontecendo?”
Ao mesmo tempo Gorbachev foi colocado em prisão domiciliar, obtendo notícias somente através da BBC, usando um velho aparelho de rádio japonês. Com grande dose de servilismo, imbecilidade ou ambos, ele textualmente afirma no documentário: “Eu sempre acreditei na BBC.”
Yeltsin consegue chegar às ruas, declara o comitê provisório ilegal e conclama o “povo” a se deslocar para o parlamento e a defender a “democracia” russa.
Ele marca então uma reunião na Bielorrúsia, mas sem a presença de Gorbachev. Dela participariam os presidentes da Ucrânia e da Bielorússia, na qual a proposta de dissolução da URSS foi aprovada pelos outros traidores. Ficou acertado que o presidente da Bielorússia, Stanislav Shushkevich, daria a notícia a Gorbachev, enquanto que Yeltsin daria as “boas novas” ao exterior. Foi Yeltsin quem ligou para dar a notícia ao presidente Bush.
Politicamente isolado e culpado pela população russa pela dissolução da URSS, Gorbachev vive hoje em Moscou, onde dirige um instituto político e tenta aprender um pouco sobre a internet com sua neta. Guarda ressentimentos de Yeltsin, afirmando que este não cumpriu o infame acordo que combinaram, e que é um traidor. Acredita que não há democracia na Rússia, e que sua maior preocupação não é a própria reputação, mas o futuro do país.
Há 27 meses o dirigente estudantil e militante do Partido Comunista Marxista-Leninista do Equador (PCMLE), Marcelo Rivera Toro, então presidente da Federação dos Estudantes Universitários do seu país, a FEUE, cumpre uma injusta, arbitrária e inconstitucional detenção em uma penitenciária de segurança máxima localizada próxima à fronteira com a Colômbia e conhecida como a “Guantânamo do Equador”. Acusado pelo governo reacionário de Rafael Correa, de agressão terrorista e destruição de bens em dezembro de 2009, quando a Reitoria da Universidade Central do Equador tentava aprovar a todo custo seu projeto de reforma universitária, Rivera é atualmente o mais conhecido preso político do país e também o primeiro lutador popular equatoriano a ser condenado por tal crime. Sua condenação vem sendo usada pelo governo para amedrontar e perseguir as organizações sociais e populares críticas às medidas adotadas por ele a favor da oligarquia e dos grandes monopólios nacionais e estrangeiros.
Mesmo tendo bom comportamento e cumprido todos os preceitos legais para reduzir sua pena, o Comitê Único de Reabilitação Social, por pressão direta do presidente Correa, negou sua liberdade, exigindo para tanto o pagamento de uma multa de mais de R$ 500 mil. “O Departamento de Avaliação e Controle do Centro de Reabilitação qualifica minha disciplina e conduta como exemplares. Estudo Direito à distância, participo de todos os cursos, dou aulas de alfabetização e computação nas celas, tenho uma nota de 98, numa escala de 100, mas nada disso foi considerado no julgamento do meu pedido”, denuncia Marcelo.
Ao cumprir 27 meses de sua injusta detenção, centenas de entidades e movimentos populares do Brasil e do mundo reafirmam a luta pela imediata liberdade de Marcelo Rivera e pelo fim da perseguição aos lutadores sociais no Equador. O que anima e estimula essa luta é saber que, mesmo preso e sem contato com seus companheiros e familiares, Marcelo continua firme na defesa de suas ideias e do caminho que escolheu.
Terra Fria (North Country)é baseado no livro Class Action: The Story of Lois Jenson and the Landmark Case That Changed Sexual Harassment Law, de Clara Bingham e Laura Gansler, que conta a saga de Josey Aimes (interpretada por Charlize Theron) no Minnesota de 1989, não tão diferente de qualquer outro lugar assolado pelo capitalismo, de onde ela parte sozinha numa jornada pelos direitos da mulher.
Depois de abandonar o marido, cansada de constantes agressões, precisa buscar o sustento de sua família. Até que a necessidade a obriga a trabalhar numa mina de ferro. Então se inicia um duro cotidiano de agressões, não mais físicas, mas não menos dolorosas. Devido à grande concentração de homens – 31 para cada mulher – se instala um grande assédio moral nos locais de trabalho, seja tratando-as como incapazes de executar o serviço, como desnecessárias para o desenvolvimento da produção, e ainda sendo vistas como instrumentos sexuais. Soma-se a isso o fato de Josey Aimes não estar enquadrada na condição que a sociedade atrasada da época determina: pelo contrário, é separada, seus filhos são de pais diferentes, além de desejar trabalhar e viver por conta própria. No limite dessa situação, essa jovem mulher toma uma difícil decisão: processar a empresa pelo descaso, confrontando a todos, pois a pacata população acredita que a mina garante “o pão” das famílias da região.
A luta contra o machismo e sua horrível manifestação, o assédio sexual, tem muita história a contar e, sem dúvida, faz enfrentamento direto ao sistema capitalista, pois é o combate às diversas formas de opressão existentes. Além disso, o “longa” também aborda outros temas paralelamente, a exemplo de gravidez na adolescência, estupro, dominação ideológica, alienação. Ora sutilmente, ora sem máscaras.
A empreitada de Josey Aimes, sem apoio do parceiro, da família, das colegas de trabalho, é uma lição a todas as mulheres que lutam por uma sociedade igualitária, e graças a ela foi engendrada a primeira ação de classe por perseguição sexual nos Estados Unidos, abrindo precedente para várias outras mobilizações na defesa da mulher trabalhadora. Um emocionante filme para ser conferido neste dia 8 de março.
Para fornecer as melhores experiências, usamos tecnologias como cookies para armazenar e/ou acessar informações do dispositivo. O consentimento para essas tecnologias nos permitirá processar dados como comportamento de navegação ou IDs exclusivos neste site. Não consentir ou retirar o consentimento pode afetar negativamente certos recursos e funções. Nós repeitamos a LGPD.
Funcional
Sempre ativo
O armazenamento ou acesso técnico é estritamente necessário para a finalidade legítima de permitir a utilização de um serviço específico explicitamente solicitado pelo assinante ou utilizador, ou com a finalidade exclusiva de efetuar a transmissão de uma comunicação através de uma rede de comunicações eletrónicas.
Preferências
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para o propósito legítimo de armazenar preferências que não são solicitadas pelo assinante ou usuário.
Estatísticas
O armazenamento ou acesso técnico que é usado exclusivamente para fins estatísticos.O armazenamento técnico ou acesso que é usado exclusivamente para fins estatísticos anônimos. Sem uma intimação, conformidade voluntária por parte de seu provedor de serviços de Internet ou registros adicionais de terceiros, as informações armazenadas ou recuperadas apenas para esse fim geralmente não podem ser usadas para identificá-lo.
Marketing
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para criar perfis de usuário para enviar publicidade ou para rastrear o usuário em um site ou em vários sites para fins de marketing semelhantes.