UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

terça-feira, 29 de julho de 2025
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Campanha Natal Sem Fome

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NENHUMA SÓ PESSOA COM FOME NESTA NATAL!

O preço dos alimentos, do transporte, dos remédios, do aluguel, não para de subir.

O governo fala que a inflação está controlada, mas as suas contas nunca batem com as nossas. A verdade é que entra governo, sai governo, quem continuam rindo à toa e lucrando milhões são os ricos empresários capitalistas, que repassam todos os impostos que deveriam pagar para os preços das mercadorias que a população paga.

De fato, no Brasil, os pobres pagam mais imposto que os ricos. Entre os anos 2000 e 2006, os bancos recolheram somente R$ 51,9 bilhões de Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica, enquanto os trabalhadores pagaram R$ 233,8 bilhões.

Até quando vamos viver assim? Por mais que o trabalhador se mate trabalhando, nunca consegue melhorar de vida. Ao contrário; a vida está ficando cada vez mais difícil.

É por tudo isso que o povo não tem outra saída: ele tem que se organizar e lutar pelo fim de tantas injustiças e desigualdades.

Para denunciar as altas nos preços dos alimentos e exigir a abertura de postos de trabalho em todos as comunidades pobres do país, o MLB organizará em dezembro mais uma jornada do Natal sem fome e exploração, ocupando supermercados nas principais cidades brasileiras.

O Natal sem fome e exploração já faz parte da agenda de luta do MLB há vários anos, sempre chamando a atenção da sociedade para as contradições do sistema capitalista, numa época do ano onde se fala bastante de solidariedade e paz, mas se esquece que não pode haver paz enquanto pessoas morrem de fome nas ruas e não têm sequer os mínimos direitos sociais previstos na Lei garantidos. Participe!

Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB

Crise econômica leva estudantes inglesas à prostituição

Desde 2008, a economia capitalista mundial vive uma crise de trágicas consequências para os trabalhadores e a juventude. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), atualmente o número de desempregados no mundo ultrapassa 200 milhões de pessoas e mais de um bilhão de seres humanos vivem em situação de completa miséria.

Nem mesmo países ricos como a Inglaterra, que já ocupou o lugar de principal potência econômica do mundo e que há pouco tempo atrás era tida como exemplo de sociedade harmônica e de elevado bem-estar social, escapam da degeneração social fruto da crise capitalista.

Exemplo disso é o fato de que tem crescido o número de estudantes inglesas que, por não conseguirem se manter e tocar seus estudos por conta das medidas de austeridade do governo, estão recorrendo à prostituição, aos jogos de azar e a outras atividades “perigosas” para financiar a universidade, como atesta a Cooperativa Inglesa de Prostitutas (ECP, na sigla em inglês).

De acordo com a cooperativa, o número de pessoas que procurou a entidade em busca de ajuda dobrou no último ano. “O governo conhece os cortes e os programas de austeridade e a remoção dos empréstimos, ele sabe que quando remove esses recursos empurra as mulheres para a pobreza”, disse Sarah Walker, da ECP. “O modo como as mulheres sobrevivem à pobreza geralmente é a prostituição. O governo sabe disso e, francamente, não parece se importar”, completou.

No Reino Unido a juventude foi a mais atingida pela crise econômica, com o desemprego entre os jovens chegando a 1,03 milhão dos 2,64 milhões de desempregados do país, o maior índice desde 1992. Hoje, quase um em cada quatro jovens está desempregado por mais de 12 meses.

No ano passado, o governo inglês anunciou o fim da Pensão para a Educação, uma espécie de bolsa para estudantes permanecerem na escola, e aumentou as mensalidades nas universidades para 9.000 libras por ano (cerca de R$ 26 mil reais) a partir de 2012. Em consequência, estudo feito por uma universidade de Londres e publicado no ano passado mostrou que 16% dos estudantes estavam dispostos a se prostituir para pagar sua mensalidade e 11% trabalharia para agências de acompanhamento.

“’Eu não poderia ir para a universidade sem a ajuda de custo. Eu gasto com transporte um total de 70 libras por mês (cerca de R$ 200). Não tinha a quem recorrer na universidade e não queria ter de contar com a minha família. Comecei a procurar empregos, mas os horários eram incompatíveis. Muitas amigas começaram a procurar empregos e acabaram largando os estudos. Eu não queria fazer o mesmo”, afirmou uma estudante inglesa. “’Eu tinha um amigo que vinha tentando me convencer a entrar para uma agência de garotas de programa desde que eu tinha 16 anos. Ele me contava histórias sobre o quanto eu poderia ganhar, como os horários seriam flexíveis, que eu poderia escolher quem eu gostaria de encontrar, assim que os visse e com que frequência. Parecia uma opção melhor. Eu não conseguia ver nenhuma outra. Fiz isso para poder ir para a universidade, mas sou uma pessoa diferente de quando eu comecei. Perdi muito da minha auto-estima e a confiança em muitas pessoas”, completou.

De acordo com a União Nacional dos Estudantes do Reino Unido, com empregos cada vez mais escassos e o custo de vida entre os mais altos do mundo, não têm restado muitas alternativas de sobrevivência para a juventude inglesa. “Em alguns casos é a prostituição, mas também escutamos histórias de testes como cobaia em clínicas, jogos de azar… atividades perigosas, em que praticamente não há nenhum tipo de direito trabalhista”, disse Estelle Hart, da dirigente da União. “Em um ambiente econômico em que há poucos empregos, onde políticas de apoio a estudantes sofreram cortes profundos, as pessoas estão cada vez mais buscando trabalho junto à economia informal, como a indústria do sexo. São todos trabalhos perigosos e sem regulamentação, mas que permitem que elas permaneçam estudando”, afirmou Hart.

Da Redação

Fortaleza registra 42 casos de agressão à mulher por dia

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Uma mulher vivia com o marido há 22 anos. Ela é mãe, batalhadora, universitária, queria um futuro melhor para ela e para os filhos. Mas o crescimento profissional da esposa despertou o ciúme do homem. Ele começou com agressões verbais e, da última vez, passou de qualquer limite. Desferiu 22 golpes de faca pelo corpo inteiro da mulher.
Mulher agredida e morta pelo marido

Após 5 anos da aprovação da Lei Maria da Penha, as mulheres continuam sendo agredidas diariamente. Somente em Fortaleza, capital do Ceará, de janeiro de 2009 a outubro de 2011 foram registrados 20.728 casos de agressões. Em 2011, a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) já registrou 8.909 boletins de ocorrência. Em apenas um dia do mês de novembro, foram registrados 42 casos. Do total de mulheres agredidas em Fortaleza, 23%, isto é, 1.451 mulheres são de uma mesma região (Regional V). E os municípios onde houveram os maiores números de mulheres agredidas no estado são: Itapajé, Assaré e Barbalha. Em conseqüência, o Ceará é o terceiro estado do Nordeste em registros de homicídios de mulheres.

Vale ressaltar que em 94,44% dos casos o agressor é um homem, o que demonstra o sentimento de posse existente nas maiorias das relações, onde a mulher é vista como propriedade privada, lembrando muitas vezes a mesma relação de opressão existente na época da escravidão, onde o senhor de escravos podia espancar, torturar ou até mesmo matar.

Outro dado alarmante é o numero de mulheres que solicitaram abrigo na Delegacia de Defesa da Mulher: 3.115 medidas foram requeridas somente este ano. Em Fortaleza, atualmente, só existe um abrigo para mulheres agredidas, o que acaba se tornando outro problema, isto é, a falta de políticas públicas específicas para o apoio e o combate à violência contra as mulheres.

O dia 25 de novembro ficou conhecido como o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher em homenagem às irmãs Mirabal (Minerva, Patria, Maria Teresa e Dede Mirabal) assassinadas de forma brutal por lutarem contra a ditadura em seu país (República Dominicana) contra o machismo e pelo socialismo. Dessa forma, cabe ao movimento de mulheres  seguir o exemplo de luta das irmãs Mirabal por uma sociedade sem qualquer tipo de opressão ou violência, bem como a realização de lutas e mobilizações não só em novembro, mas até a conquista dessa sociedade tão sonhada, a sociedade socialista.

Paula Colares, Movimento de Mulheres Olga Benário do Ceará

Shostakovich, Prokofiev e a música erudita na União Soviética

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ShostakovichDois dos maiores nomes da música erudita mundial do século XX tiveram sua projeção na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e mais especificamente, na URSS do período de Stalin: Dmitri Shostakovich e Serguei Prokofiev.

Dmitri Dmitriyevich Shostakovich (25/09/1906 – 09/08/1975), de nacionalidade russa, é responsável por uma das mais belas sinfonias de todos os tempos: a Sinfonia Nº 7, também chamada Leningrado. Esta sinfonia começou a ser composta em julho de 1941, quando a cidade de Leningrado era cercada pelos nazistas. Ele e sua família foram evacuados a tempo pelo Exército Vermelho, permitindo assim que ele finalizasse sua grandiosa obra ainda em dezembro daquele ano. Richard Whitehouse, crítico de música e autor de vários libretos para a gravadora Naxos, afirmou que poucas sinfonias desde a 5ª Sinfonia de Beethoven tem atraído tanta especulação extramusical como a 7ª Sinfonia de Shostakovich.

No momento da estreia da obra, que foi transmitida ao vivo por toda a URSS em março de 1942, Shostakovich se dirigiu ao público com as seguintes palavras: “…o artista soviético nunca ficará à margem do confronto histórico que ocorre neste momento entre a razão e o obscurantismo, entre a cultura e a barbárie, entre a luz e as trevas… Eu dedico minha Sétima Sinfonia à nossa luta contra o fascismo, à nossa iminente vitória sobre o inimigo, à minha cidade nativa, Leningrado.”

Destacam-se também na obra de Shostakovich sua terceira sinfonia, chamada O Primeiro de Maio, a 5ª Sinfonia, que em sua estreia foi ovacionada por mais de meia hora, e a trilha sonora do grande épico A queda de Berlim* (1949), do diretor Mikhail Chiaureli.

Cartaz anuncia a 7ª Sinfonia de Shostakovich na URSS
Cartaz anuncia a 7ª Sinfonia de Shostakovich na URSS

Serguei Sergueievitch Prokofiev (23/04/1891 – 05/03/1953), nascido na Ucrânia, tentou carreira em alguns países da Europa e nos EUA antes de se consagrar definitivamente na URSS. Ao deixar o país, em 1918, afirmou que os motivos eram estritamente musicais, não políticos. Lunacharsky, na época Comissário do Povo para a Educação, lhe disse: “Você é um revolucionário na música, nós somos revolucionários na vida. Temos que trabalhar juntos. Mas se você quer ir para a América não ficarei em seu caminho.”

Mas as coisas não correram bem na terra do Tio Sam. Diversos problemas dificultaram a estreia de sua ópera O Amor das Três Laranjas, para a qual havia conseguido um financiamento. Em dificuldades financeiras, deixou os EUA e foi para a França, retomando alguns projetos inacabados. Aos poucos conseguiu se estabelecer e fez algumas turnês pela Europa. Em 1927, a convite do governo soviético, fez uma bem-sucedida turnê também pela URSS.

Leia também: Encontrada ópera inédita de Shostakovich

Alguns anos mais tarde, em 1935, Prokofiev volta de forma definitiva para a URSS. Entre outras grandes composições deste novo período podemos citar a Sinfonia Nº 5 (composta ainda durante a guerra, em 1944), as trilhas para os filmes Alexander Nevsky e Ivan, o Terrível (ambos de Eisenstein), os balés Romeu e Julieta e Cinderela, a ópera Guerra e Paz e o conto Pedro e o Lobo, uma composição para ensinar as crianças soviéticas sobre os instrumentos da orquestra.

Pedro e o lobo

Esta última, a propósito, foi uma obra de grande reconhecimento mundial. A própria Walt Disney lançou uma versão desta obra em desenho animado, sendo seguida por diversas outras produtoras no decorrer do século XX e início do século XXI. Mais recentemente, no ano de 2008, o vocalista da banda U2, Bono Vox, lançou um livro chamado Pedro e o lobo, baseado na obra homônima de Prokofiev, contendo ilustrações da história feitas por ele mesmo e por suas duas filhas. No Brasil esta obra já foi gravada com as narrações de Rita Lee e Roberto Carlos, além de até hoje ser apresentada em eventos que vão desde festivais em jardins de infância até produções profissionais com orquestra, como a que aconteceu em 2008, em São Paulo, com a participação da atriz Giulia Gam.

Serguei ProkofievUma curiosidade sobre Prokofiev é que ele morreu exatamente no mesmo dia que Stalin: em 05 de março de 1953, aproximadamente uma hora antes do grande líder bolchevique. Conta-se que como ele morava próximo à Praça Vermelha foi muito difícil conseguir remover seu corpo de sua casa, devido ao grande afluxo de pessoas no local por conta da morte do fiel discípulo de Lenin.

Não podendo negar que dois dos maiores gênios da música erudita do século XX são soviéticos, e que produziram belíssimas obras justamente no período de Stalin, a crítica anticomunista espalhou muitos mitos sobre uma suposta relação conflituosa entre os compositores e o governo. Tentam, dessa forma, efetuar uma leitura desses grandes compositores à sua própria imagem e semelhança reacionária.

Mas contra fatos não há argumentos: se é verdade que algumas de suas obras não foram bem recebidas pela crítica especializada da época – o que é muito natural e acontece, num momento ou outro, com qualquer artista em qualquer parte do mundo -, basta mencionar alguns dos vários prêmios que estes receberam no período de Stalin a fim de mostrar que, na prática, o que realmente havia era uma grande abertura às suas composições, muitas das quais receberam o reconhecimento máximo então existente na URSS.

Shostakovic recebeu o prestigioso Prêmio Stalin por diversas vezes: 1941, 1942, 1946, 1948, 1949 (3 vezes neste ano), 1950 e 1952. Em 1940 ele recebeu o Prêmio da Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho, e em 1946 o Prêmio da Ordem de Lenin. Recebeu ainda o prêmio de Artista do Povo da URSS, em 1948.

Prokofiev foi reconhecido com o Prêmio Stalin nos anos 1943, 1946 (3 prêmios neste ano), 1947 e 1951. Recebeu também o Prêmio de Artista do Povo da URSS, em 1947, e o Prêmio da Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho em 1943.

A obra destes compositores continua sendo apreciada em todo o mundo. A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, por exemplo, executou a Sinfonia nº 6 de Prokofiev no último dia 22 de novembro, juntamente com outras peças de Mozart. Para o ano de 2012 já estão programadas execuções de obras de Prokofiev para os dias 01 de março (Concerto para piano nº 1) e 24 de maio (Sinfonia nº 5). De Shostakovich a orquestra interpretará a dramática Sinfonia nº 7, Leningrado, no dia 26 de julho, e a pujante Sinfonia nº 6, no dia 29 de novembro. As trilhas para filmes, sinfonias e óperas desses gigantes da música erudita continuam recebendo novas gravações e relançamentos por respeitados selos da música clássica.

NOTAS

* Este filme, de 1949, foi censurado por Kruschev após a morte de Stalin, sob acusação de “culto à personalidade”, e só recentemente foi recuperado por um instituto de filmes históricos nos EUA. A obra recebeu legendas em português pelo Centro Cultural Manoel Lisboa.

Glauber Ataide

 

Shostakovich – Sinfonia Noº 7 – Leningrado

 

Prokofiev – Sinfonia Nº 5

 

Prokofiev – Pedro e o lobo (versão Walt Disney)

A “Viena Vermelha” – Exemplo histórico de habitação social

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Conjunto habitacional „Karl-Marx-Hof“, construído 1927-1930 (imagem atual)
Conjunto habitacional Karl-Marx-Hof, construído 1927-1930

Depois da Primeira Guerra Mundial o partido socialdemocrata (na época um partido combativo e de inspiração marxista) chegou ao governo de Viena e iniciou um programa de habitação social progressista que possui caráter de exemplo até hoje. A época dos anos vinte e do inicio dos anos trinta do século passado ficou conhecida como “Viena Vermelha” e fez pela primeira vez moradia de qualidade acessível para muitos trabalhadores da cidade.

Até 1918 havia um grande déficit habitacional em Viena. A imigração dos países da Monarquia Austro-Húngara levou a um forte crescimento populacional e o número de habitantes subiu para mais que dois milhões de pessoas em poucas décadas. Para abrigar os trabalhadores imigrantes e suas famílias um grande número de cortiços privados foi construído. Mas neles, 92% dos apartamentos estavam sem banheiro próprio, 95% sem água, 86% sem gás e 93% sem eletricidade. Devido à especulação imobiliária, os alugueis, portanto, eram altos e a maioria dos apartamentos superlotados. Cerca de 300.000 pessoas não possuíam uma moradia própria e quase 90.000 de pessoas conseguiram apenas alugar uma cama para dormir por algumas horas cada dia.

Depois do fim da Primeira Guerra Mundial surgiu um movimento de moradia que começou a erguer construções ilegais nos arredores da cidade. Várias cooperativas e mutirões foram organizados e exigiram da prefeitura de Viena um apoio financeiro e a aprovação da urbanização de terrenos. Com as eleições municipais depois da guerra, Viena obteve pela primeira vez uma administração socialdemocrata e esta começou a subsidiar o movimento pela moradia. Geralmente os futuros moradores participavam ativamente no processo de construção das casas e da infra-estrutura comunitária. Em poucos anos cerca de 15.000 unidades habitacionais foram construídas em 50 conjuntos que eram administrados pelos moradores de forma participativa.

Em 1922 Viena ganhou status de governo estadual, deixando de ser apenas um município e podendo a partir de então introduzir novos impostos como os incidentes sobre imóveis, restaurantes luxuosos, empregados domésticos e automóveis. Estes novos recursos foram usados para financiar um próprio programa de habitação social para melhorar as condições de moradia para os trabalhadores. A maioria dos apartamentos construídos nesse programa do governo era pequena, mas equipada com um banheiro, água e energia. Várias unidades tinham também uma varanda e acesso a pátios verdes e bem iluminados. As mais importantes características dos conjuntos eram a densidade construtiva baixa e a infra-estrutura coletiva com lavanderias, piscinas, creches, instituições de saúde, bibliotecas, áreas verdes e de lazer. A distribuição dos apartamentos ocorria de acordo com um sistema de pontuação e o aluguel era de cerca de 4% (!) da renda de um trabalhador da época. Até 1934 foram construídos 66.402 apartamentos em 390 conjuntos habitacionais – entre eles os grandes conjuntos “Reumannhof”, “Karl-Marx-Hof”, “Friedrich-Engels-Platz” e “Karl-Seitz-Hof. Na época, aproximadamente um décimo da população Vienense já morava nestes apartamentos
estatais.

Com o início do fascismo o programa habitacional foi interrompido e pôde ser retomado somente depois da Segunda Guerra Mundial. Um crescente déficit habitacional levou à implantação de um programa de construção em grande escala a partir de 1950. Nos anos 60 e 70 foram construídos vários conjuntos novos na periferia de Viena que atenderam as necessidades de 9.000 famílias cada ano, mas possuíam cada vez menos infra-estrutura comunitária, instituições coletivas e espaços de lazer.

Desde os anos 90 a construção de apartamentos estatais ficou suspendida quase completamente, no lugar disso a prefeitura de Viena subsidia agora financeiramente a construção de conjuntos habitacionais por construtoras. Mesmo assim ainda hoje cerca de 25% das moradias em Viena pertencem à prefeitura. Mas, a administração desses conjuntos, com cerca de 220.000 apartamentos e 6.000 escritórios e lojas, se tornou um empreendimento desincorporado da prefeitura. Em 2000 foi retirado do controle da câmara municipal para trabalhar de forma “moderna, eficaz e econômica”. Sendo assim, a submissão de diversos setores da sociedade às leis de mercado alcançou também a administração dos apartamentos estatais. Como conseqüência, a distribuição e o valor dos alugueis para os apartamentos lamentavelmente já não são mais tão acessíveis como na época da “Viena Vermelha”.

Mas é um fato que especialmente os habitantes mais pobres da cidade ainda necessitariam de moradia mais acessível. Isso é comprovado pela grande demanda como também pelo tempo longo de espera de vários anos para poder morar nos conjuntos da prefeitura. Dados atuais mostram que famílias com despesas mensais de até 1.634 Euros gastam em média 42,9% – quer dizer quase a metade das despesas totais – para moradia e energia. Especialmente imigrantes são particularmente atingidos por condições de habitação precárias. Por isso, diversos grupos e organizações – como a iniciativa “Construir juntos, morar juntos“ – lutam ativamente por formas alternativas de realizar a moradia própria e construir o ambiente em que vivem. Nos últimos meses, estudantes e jovens passaram também a ocupar vários prédios na cidade para mostrar o seu descontentamento com o acesso a imóveis, meramente definido pelo mercado imobiliário capitalista, e iniciar projetos de moradia e cultura desenvolvidos e promovidos pelos moradores de forma coletiva.

Sob condições capitalistas a comercialização de apartamentos segundo interesses de lucro nunca poderá ser eliminada totalmente. Mas, a volta para um programa de habitação social de qualidade e financeiramente acessível com recursos públicos através do próprio estado – com o controle democrático e a participação ativa dos moradores – poderia significar uma vida mais digna para muitos que hoje precisam. As influências dominantes do capital, dos bancos e da especulação imobiliária precisam ser combatidas. Ao mesmo tempo, devem ser promovidas discussões e ações na sociedade referentes a questões como: De que forma deveria se organizar na atualidade um modelo de habitação social de verdade? Quais grupos sociais deveriam ser atendidos? Como a moradia pode se tornar financeiramente mais acessível? Enfim, como seria possível garantir moradia de qualidade
também às amplas massas trabalhadoras?

Katharina Kirsch-Soriano da Silva, de Viena

Conjunto habitacional „Karl-Marx-Hof“, construído 1927-1930 (imagem histórico)
Conjunto habitacional Karl-Marx-Hof, construído 1927-1930
Conjunto habitacional „Karl-Seitz-Hof“, construído 1926-1931
Conjunto habitacional Karl-Seitz-Hof, construído 1926-1931
Conjunto habitacional „Reumannhof“, construído 1924-1926
Conjunto habitacional Reumannhof, construído 1924-1926

CUT-DF realiza ato pela libertação de cubanos presos nos EUA

Ato da CUT-DF pelos cinco presos cubanosDurante ato político-cultural realizado nessa terça-feira (6), a CUT-DF pediu a libertação de cinco patriotas cubanos presos nos Estados Unidos. “A simbologia do ato significa a perspectiva da libertação dos povos oprimidos. A postura dos EUA é um contínuo ataque à Revolução Cubana”, explica o secretário de Política Social da CUT-DF, Ismael José Cesar.

A manifestação, que contou com a participação de mais de 100 pessoas, resultou na constituição do Comitê regional pela libertação dos cubanos. A instalação oficial do grupo está agendada para quarta-feira, dia 14, às 18h, no auditório da CUT-DF.

Para mobilizar a sociedade brasileira e pedir ao presidente dos EUA, Barack Obama, a libertação dos cubanos, estão sendo montados em dez estados brasileiros comitês de divulgação e esclarecimento sobre o caso. “A intenção é reunir assinaturas que serão enviadas ao governo americano. Queremos dar visibilidade à luta no Brasil, que pode se posicionar na Organização das Nações Unidas (ONU) e pedir a libertação desses heróis anti-terroristas”, explica Ismael José Cesar.
Segundo o ex-presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e membro honorário vitalício da entidade, Cezar Britto, juristas do mundo inteiro analisaram o processo dos cinco cubanos e é de entendimento geral que não existe relação deste com justiça. “O que temos neste caso é a condenação de cinco pessoas apenas para afrontar a resistência cubana. Qualquer decisão contra Cuba é benéfica aos EUA e, nessa situação, a decisão é política, e não jurídica. Todos os povos têm direito a resistir quando seu território está em perigo e foi isso o que essas pessoas fizeram. Não podem ser condenadas por isso”, destacou Cezar.

Entenda o caso
Os cidadãos cubanos Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hermández, Ramón Labañino e René González foram presos nos Estados Unidos sob a acusação de espionagem quando cumpriam missão de colher informações que pudessem evitar ataques terroristas frequentemente realizados por grupos anticubanos. As prisões foram realizadas em 1998.

A instalação dos comitês é uma ação internacional e já somou a constituição de mais de 300 grupos como este em todo o mundo. No Brasil, a ação é encampada pela CUT, junto com a Coordenação de Movimentos Sociais. A intenção é de que exista um Comitê pela libertação dos cinco cubanos em cada estado.

Da CUT-DF, com Sindicato dos Bancários de Brasília

Aprovado: militares estão a um passo de ter poder “supremo” nos EUA

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A Lei Nacional de Autorização de Defesa S. 1867 foi aprovada pelo Senado norte-americano e pela Câmara dos Deputados, com direito a emenda. Pela lei, qualquer cidadão norte-americano, sobre o pretexto institucional de “guerra ao terror”, pode ser preso pelas Forças Armadas por tempo indeterminado, com total independência ao judiciário. E isto inclui, claro, em próprio solo americano.

Passando pelo senado norte-americano por uma votação esmagadora de 93 votos a favor e 7 contrários, também aprovada pelos deputados, está a um passo de ser promulgada a lei que dá total poder às Forças Armadas. Com esta lei, estas terão total autonomia, a controle de Washington, para prender por tempo indeterminado qualquer cidadão norte-americano que se enquadre na “guerra ao terror”, enquanto esta estiver ativa.

“Guerra ao terror” é uma série de medidas declaradas por Washington para defender a paz e a democracia onde permanece a nação em estado de guerra e pode passar por cima das próprias leis, quando estas tornarem-se obstáculos para as metas estabelecidas de segurança nacional. A aprovação da Lei 1867 é um reflexo de tentar legitimar esta política, tanto questionada.

A lei foi pouco a pouco aprovada, sem maiores alardes e sem acompanhamento da mídia nacional e internacional, em meio às organizações dos festejos de Natal. Para próximo, vêm os feriados e a população dos EUA estará entretida com os festejos natalinos, enquanto Obama provavelmente assinará a lei.

Uma lei contra a lei

A Lei aprovada afronta várias das leis de referência aos americanos. A citar a Constituição Americana, a Carta de Direitos Civis e a lei conhecida como Posse Comitatus, que limita as ações dos militares em solo civil americano. Muitos têm lembrado a guerra civil de 1755, onde a população se rebelou contra o governo autoritário do período e alicerçou seu estado e suas leis, acabando por declararem independência.

Um problema que os EUA terão que enfrentar é que é signatário da Convenção de Genebra. Então, terão que admitir o Estado de Guerra, o que é totalmente insano.

Um passo para lei marcial institucionalizada

Há poucos dias os advogados de Obama já haviam declarado favoráveis à execução sumária de cidadãos que se enquadrarem também na guerra ao terror. Isso abre o caminho para incluir qualquer cidadão que não se sinta representado pela guerra em escala mundial que os EUA vêm montando sobre a desculpa de terrorismo. Qualquer cidadão que questionar o governo americano pode ser enquadrado e executado sem ação judicial, ou mesmo que tenha sido declarado inocente ao final de algum processo.

Na verdade a prisão arbitrária, tortura e desaparecimento de pessoas já é uma realidade e os EUA têm sofrido com isso. A comunidade internacional tem questionado as práticas ditas “democráticas” made in Washington. O caso mais popular é o da prisão de Guantánamo, em Cuba, onde os norte-americanos mantêm dezenas de prisioneiros, sem qualquer controle ou acompanhamento internacional e onde muitos casos de tortura e morte estouraram nos últimos anos, desde a institucionalização da “guerra ao terror”.

Beth Carvalho: “A CIA quer acabar com o samba”

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Cantora lança CD e, em entrevista ao iG, acusa a Agência Central de Inteligência dos EUA.

Ao abrir o elevador, ainda no hall de entrada do apartamento, um quadro com a foto de Che Guevara. Não há dúvidas. Ali é o andar de Beth Carvalho. Ela surge na sala, amparada por duas muletas, que logo deixa de lado para posar para as fotos. “Nunca vi coisa para cair mais do que muletas. Estas meninas caem toda hora”, diz, bem-humorada.

Ainda se recuperando de uma fissura no sacro (osso do final da coluna), aos 65 anos, Beth anda com dificuldades. Ficou dois anos sem pôr os pés no chão. “Estou ótima, salva! Os médicos comentaram com minha filha que eu poderia não andar mais. Mas não me abati. Foi um processo menos doloroso por perceber a prova de amor dos amigos e da família”, relata.

Após quinze anos, a sambista lança o CD de inéditas “Nosso samba tá na rua”, dedicado a dona Ivone Lara, com canções sobre a negritude, o amor e o feminismo. Uma das letras, “Arrasta a sandália”, é de autoria de sua filha, Luana Carvalho. Cercada de quadros de Cartola e Nelson Cavaquinho, entre almofadas verdes e rosas (cores de sua escola de samba Mangueira), perante uma estante com dezenas de troféus e outra com bonecos de Che, Fidel Castro e orixás, Beth concede a entrevista a seguir ao iG.

No fundo da janela, o mar de São Conrado, bairro vizinho à favela da Rocinha. “A CIA quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura”, diz a cantora, presidente de honra do PDT. Entre os fartos risos, também não faltaram palavras ríspidas para defender seu ponto de vista.

iG: Qual foi a sensação ao voltar a andar?

BETH CARVALHO: A pior da minha vida. Quando pus os pés pela primeira vez no chão, achei que nunca ia andar de novo. Parecia que não tinha mais pernas, sem força muscular. Depois, com a fisioterapia, a recuperação foi rápida. Precisei colocar dois parafusos de 15 cm cada um, só isso me fez voltar a andar. Agora sou interplanetária e biônica (risos).

iG: Em seu novo CD, a letra “Chega” é visivelmente feminista. Por que é raro o samba dar voz a mulheres?

BETH CARVALHO: O mundo, não só o samba, é machista. Melhorou bastante devido à luta das mulheres, mas a cada cinco minutos uma mulher apanha no Brasil. É um absurdo. Parece que está tudo bem, mas não é bem assim. Sempre fui ligada a movimentos libertários.

iG: De que forma o samba é machista?

BETH CARVALHO: A maioria dos sambistas é homem. Depois de mim, Clara Nunes e Alcione, as coisas melhoraram. O samba é machista, mas o papel da mulher é forte. O samba é matriarcal, na medida que dona Vicentina, dona Neuma, dona Zica comandam os bastidores da história. Eu, por exemplo, sou madrinha de muitos homens (risos).

“Não desanimo nunca. Minha esperança é a última que morre”

iG: A senhora é vizinha da favela da Rocinha. Como vê o processo de pacificação?

BETH CARVALHO: Faltou, por muitos anos, a força do estado nestas comunidades. Agora estão fazendo isso de maneira brutal e, de certa forma, necessária. Mas se não tiver o lado social junto, dando a posse de terreno para quem mora lá há tanto tempo, as pessoas vão continuar inseguras. E os morros virarão uma especulação imobiliária.

iG: Alguns culpam o governo Leonel Brizola (1983-1987/1991-1994) pelo fortalecimento do tráfico nos morros. A senhora, que era amiga do ex-governador, concorda?

BETH CARVALHO: Isso é muito injusto. É absurdo (diz em tom áspero). Se tivessem respeitado os Cieps, a atual geração não seria de viciados em crack, mas de pessoas bem informadas. Brizola discutia por que não metem o pé na porta nos condomínios da Avenida Viera Souto (em Ipanema) como metem nos barracos. Ele não podia fazer milagre.

iG: Defende a permanência de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho?

BETH CARVALHO: Olha, sou presidente de honra do PDT porque é um título carinhoso que Brizola me deu, mas não sou filiada ao PDT. Não tenho uma opinião formada sobre isso, porque não sei detalhes. Existe uma grande rigidez a partidos de esquerda. Fizeram isso com o PC do B do Orlando Silva, e agora fazem com o PDT. O que conheço do Lupi é uma pessoa muito correta. Eles deveriam ser menos perseguidos pela mídia.

iG: Aqui na sua casa há várias imagens de Che Guevara e de Fidel Castro. Acredita no modelo socialista?

BETH CARVALHO: Eu só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade. Não tem outro (fala de forma enfática). Cuba diz ‘me deixem em paz’. Os Estados Unidos, com o bloqueio econômico, fazem sacanagem com um país pobre que só tem cana de açúcar e tabaco.

iG: Mas e a falta de liberdade de expressão em Cuba?

BETH CARVALHO: Eu não me sinto com liberdade de expressão no Brasil.

iG: Por quê?

BETH CARVALHO: Porque existe uma ditadura civil no Brasil. Você não pode falar mal de muita coisa.

iG: Como quais?

BETH CARVALHO: Não falo. Tem uma mídia aí que acaba com você. Existe uma censura. Não tem quase nenhum programa de TV ao vivo que nos permita ir lá falar o que pensamos. São todos gravados. Você não sabe que vai sair o que você falou, tudo tem edição. A censura está no ar.

iG: Mas em países como Cuba a censura é institucionalizada, não?

BETH CARVALHO: Não existe isso que você está falando, para começo de conversa. Cuba não precisa ter mais que um partido. É um partido contra todo o imperialismo dos Estados Unidos. Aqui a gente está acostumada a ter vários partidos e acha que isso é democracia.

“Só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade”

iG: Este não seria um pensamento ultrapassado?

BETH CARVALHO: Meu Deus do céu! Estados Unidos têm ódio mortal da derrota para oito homens, incluindo Fidel e Che, que expulsaram os americanos usando apenas o idealismo cubano. Os americanos dormem e acordam pensando o dia inteiro em como acabar com Cuba. É muito difícil ter outro Fidel, outro Brizola, outro Lula. A cada cem anos você tem um Pixinguinha, um Cartola, um Vinicius de Moraes… A mesma coisa na liderança política. Não é questão de ditadura, é dificuldade de encontrar outro melhor para ocupar o cargo. É difícil encontrar outro Hugo Chávez.

iG: Chávez é acusado por muitos de ter acabado com a democracia na Venezuela.

BETH CARVALHO: Acabou com o quê? Com o quê? (indaga com voz alta)

iG: Com a democracia…

BETH CARVALHO: Chávez é um grande líder, é uma maravilha aquele homem. Ele acabou com a exploração dos Estados Unidos. Onde tem petróleo estão os Estados Unidos. Chávez acabou com o analfabetismo na Venezuela, que é o foco dos Estados Unidos porque surgiu um líder eleito pelo povo. Houve uma tentativa de golpe dos americanos apoiada por uma rede de TV.

iG: A emissora que fazia oposição ao governo e que foi tirada do ar por Chávez…

BETH CARVALHO: Não tirou do ar (fala em tom áspero). Não deu mais a concessão. É diferente. Aqui no Brasil o governo pode fazer a mesma coisa, televisão aberta é concessão pública. Por que vou dar concessão a quem deu um golpe sujo em mim? Tem todo direito de não dar.

iG: A senhora defende que o governo brasileiro deveria cassar TV que faz oposição?

BETH CARVALHO: Acho que se estiver devendo, deve cassar sim. Tem que ser o bonzinho eternamente? Isso não é liberdade de expressão, é falta de respeito com o presidente da República. Quem cassava direitos era a ditadura militar, é de direito não dar concessão. Isso eu apoio.

 Che e Fidel enfeitam a estante de Beth Carvalho

iG: Por ser oriundo dos morros, o samba foi conivente com o poder paralelo dos traficantes?

BETH CARVALHO: Não, o samba teve prejuízo enorme. Hoje dificilmente se consegue senhoras para a ala das baianas nas escolas de samba. Elas estão nas igrejas evangélicas, proibidas de sambar. Não se vê mais garoto com tamborim na mão, vê com fuzil. O samba perdeu espaço para o funk.

iG: Quem é o culpado?

BETH CARVALHO: Isso tem tudo a ver com a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), que quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura. Estas armas dos morros vêm de onde? Vem tudo de fora. Os Estados Unidos colocam armas aqui dentro para acabar com a cultura dos morros, nos fazendo achar que é paranoia da esquerda. Mas não é, não.

iG: O samba vai resistir a esta “guerra” que a senhora diz existir?

BETH CARVALHO: Samba é resistência. Meu disco é uma resistência, não deixa de ser uma passeata: “Nosso samba tá na rua”.

Fonte: iG
Fotos: George Magaraia

Sócrates: “Poucos se preocupam com o bem estar coletivo”

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No domingo, 4 de dezembro de 2011, faleceu Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o Dr. Sócrates. Notabilizado pelo excelente domínio de bola e pelo calcanhar mortal para zagueiros despercebidos, quase sempre deixava os companheiros de ataque de frente para o goleiro.

Mais. Notabilizou-se como homem de opinião e personalidade fortes. Foi craque nos gramados em um tempo em que os brasileiros não podiam votar no presidente da república e toda e qualquer opinião dissidente do regime era punida com seqüestro, tortura, sevícias e morte. E nestes mesmos tempos, foi à principal liderança de um time que ficou conhecido como “A Democracia Corintiana”. Nesta democracia, desde o roupeiro até os dirigentes do clube decidiam tudo através do voto e da discussão coletiva, inclusive o treinador, e tinham como palavra de ordem “ganhar ou perder, mas com democracia!”. Era o exemplo que aqueles homens queriam dar para toda a sociedade.

E quando o Corinthians discutia o seu passe com a Fiorentina (Itália), num comício pelas diretas, prometeu: “Se a emenda Dante de Oliveira (previa eleições diretas para presidente) passar na Câmara e no Senado, eu não saio do meu país!”. Infelizmente não passou naquele momento e Sócrates fez uma rápida incursão pelo exterior, sendo ídolo também daquela torcida. Depois voltou, ainda jogou pelo Flamengo, Santos e terminou sua carreira onde tudo começou: Botafogo de Ribeirão Preto.

Aposentado, Sócrates escreveu peças teatrais, crônicas desportivas e artigos sobre os mais variados assuntos. Em várias entrevistas, demonstrou a sua admiração por Cuba, chegando inclusive a colocar o nome de Fidel em seu último filho. Considerava Cuba como exemplo de democracia e se declarava um “Socialista no sentido pleno da palavra”. Numa entrevista histórica que concedeu a revista Caros Amigos, defendeu a revolução como saída para o capitalismo que “só explora a capacidade de consumo da nação” e “está pouco se lixando para se o povo passa fome ou está se matando”.

Vinha se dedicando ultimamente, a denunciar em sua coluna semanal em Carta Capital, os mandos e desmandos da CBF e das multinacionais que comandam a FIFA, com a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Em seu último artigo denuncia os impactos ambientais que a Copa trará e os poucos retornos sociais advindos dela. Também em sua última entrevista impressa, para o Jornal do Diretório Central dos Estudantes da UFRPE (que segue na íntegra) disse que a Copa de 2014 “passa ao largo da cidadania”.

Assim era o Dr. Sócrates, craque, inteligente, firme em seus princípios e profundamente humano. Lhe cabia melhor o nome de Sócrates Democrático Socialista Brasileiro.

(Yuri Pires Rodrigues é 1° Vice-presidente da União Nacional dos Estudantes e membro da coordenação da UJR)

 

 

Entrevista concedida por Sócrates ao jornal do DCE da Universidade Federal Rural de Pernambuco em 16 de novembro de 2011.

 

Na sua opinião, porque há tanto investimento para a construção de estádios para a Copa 2014, e quase nenhum para o desporto amador no Brasil?

Sócrates – Construir é onde se pode manipular mais recursos. Por isso se levantam tantos equipamentos esportivos. Investir em educação ninguém quer.

Recentemente o Deputado Federal Romário fez um discurso denunciando a questão das desapropriações de famílias pobres para a construção das obras da copa. Qual sua opinião sobre o tema?

Sócrates – Tudo o que está sendo e será feito passa ao largo da cidadania.

Talvez a experiência mais coletiva do futebol brasileiro tenha sido a democracia Corinthiana. O futebol é um esporte coletivo. Porque hoje vivemos um individualismo cada vez maior no futebol, chegando às vezes ao cúmulo de se criarem panelinhas para queimar tal ou qual jogador?

Sócrates – O individualismo está presente em toda a nossa sociedade. Poucos se preocupam com o bem estar coletivo e isso só favorece a manutenção do atual status social.

Sobre a meia entrada nos jogos da Copa do Mundo 2014, a FIFA é contra, mas nos estados onde se realizarão os jogos, existem leis que obrigam os empresários do setor a conceder meia entrada para estudantes. Qual a sua opinião?

Sócrates – Quando assumimos a realização da Copa também assinamos uma série de quesitos que provavelmente não foram lidos. Uma das questões é essa e agora deve ser resolvida sem que percamos nossa autonomia. Não deveríamos estar discutindo isso, mas também sendo um evento privado não deveria utilizar recursos públicos ao contrário do que está acontecendo. Está tudo errado assim como os mais lúcidos esperavam. Só não sabia quem não queria ver o que ocorreria.

Yuri  Pires Rodrigues

Mumia Abu-Jamal não será mais executado

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Dia de comemoração popular nos EUA. Judith Ritter, advogada de Mumia Abu-Jamal, comunicou hoje que ele não será mais executado, como dizia sua condenação, 30 anos atrás.

A advogada do jornalista norte-americano preso nos EUA, disse em comunicado hoje que Mumia não será mais executado, apesar da sua condenação não ter sido revogada. Pelas leis da Pensilvânia, sua condenação será revertida a prisão perpétua.

O Supremo Tribunal dos EUA recusou, em outubro, o pedido dos procuradores da Filadélfia que pretendiam continuar com o processo de execução. Estes acabaram por anunciar que não vão mais recorrer.

Mumia está preso a 30 anos pela acusação de ter assassinato de um policial branco. Num processo cheio de falhas e num julgamento parcial e controlado pelas elites dos EUA, foi condenado pelo júri. Contudo, a própria reversão de sua condenação é o reconhecimento de que o júri foi manipulado e recebeu instruções erradas, em 1982. O processo continua sendo reexaminado.

Mumia era e ainda é um dos principais líderes dos Panteras Negras.

Marighella é anistiado e homenageado no seu 100° aniversário de vida

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No dia em que completaria 100 anos de vida, Carlos Marighella recebeu a anistia “post mortem” e o pedido formal de desculpas do Estado brasileiro pela perseguição política que sofreu ao longo de toda a vida, além da tentativa incessante do governo ditatorial em destruir a imagem desse combatente comunista.

Apresentado no dia 5 de dezembro em Salvador, pela Comissão da Anistia, o pedido de desculpas a Marighella compôs a sessão 53 da Caravana da Anistia, projeto do Ministério da Justiça cujo objetivo é reparar os crimes cometidos pelo último regime militar, entre os anos 1964 e 1985.

Na solenidade exaltou-se o ex-líder da Ação Libertadora Nacional (ALN) como herói do povo brasileiro, retratando-se assim, a forma desqualificadora com que a ditadura militar tratava Marighella. O governo ditatorial chegou a considerá-lo um facínora, um terrorista, um inimigo da pátria. O pedido de desculpas ressaltou, ainda, a responsabilidade dos órgãos de repressão por seu assassinato em uma emboscada no ano de 1969.

A anistia foi recebida pelo filho de Marighella, Carlos Augusto Marighella, e pela viúva, Clara Charf. Os dois se emocionaram muito durante a homenagem feita a Carlos Marighella. O ato mostrou o grande reconhecimento que tem a luta deste grande revolucionário, que defendia não apenas a superação da ditadura, mas também a emancipação da classe trabalhadora.

Ana Rosa Carrara, São Paulo