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sábado, 12 de abril de 2025
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A Revolução Mexicana de 1910

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“Ao contemplar os alegres, amáveis e humildes homens que tanto se prodigalizaram em suas vidas e comodidades à heroica luta, não pude deixar de pensar: É uma terra digna de amor – esse México –  uma terra pela qual dá vontade de lutar”. São palavras do jornalista norte-americano John Reed (famoso internacionalmente por sua obra Os Dez Dias que Abalaram o Mundo). Quando expressou este pensamento de amor ao México, Reed, no fervor dos 20 anos, estava no olho do furacão, acompanhando tropas rebeldes por montanhas e desertos, vendo a morte nos olhos por di-versas ocasiões.

Esse México!

Era habitado por povos indígenas, especialmente os maias e os astecas, estes a grande maioria. Civilizações avançadas, com obras de irrigação, arquitetura, astronomia, entre outras, muito ouro e prata, usados para fabricar objetos artísticos para uso e admiração, pois eles desconheciam o comércio, o lucro, a ambição. Viviam nos ejidos, fazendas comunitárias, visto que a terra era pro-priedade coletiva.

No início do século XVI, eles chegaram. Os invasores espanhóis foram destruindo tudo o que encontravam pela frente, exterminando ou escravizando os nativos. A ponto de um sacerdote sensível que os acompanhava para abençoar a carnificina e fora nomeado bispo de Chiapas, ter rompido com seus compatriotas. Frei Bartolomeu de Las Casas indignou-se com tanta crueldade e lançou um anátema: “Com que direito ou justiça mantendes estes índios em servidão tão cruel e horrível? Com que autoridade travastes uma guerra detestável contra estas pessoas, que habitam com quietude e paz na sua própria terra?… Por que com o trabalho excessivo que exigis deles, adoecem e morrem, ou, na realidade, vós os matais com vosso desejo de extrair e adquirir ouro todos os dias?”

Desnecessário dizer que as bestas não lhe deram ouvido e o frade é que foi destituído da diocese; passou o resto da vida escrevendo sobre a experiência vivida, deixando seu testemunho para a eterni-dade.

Que independência?

Depois de anos de luta, aconteceu em 1821, mas não foi uma verdadeira independência, assim como aconteceu nos demais países latino-americanos. A economia continuou dependente e associada ao capital estrangeiro. No período da ditadura de Porfírio Diaz (1876-1911), a aliança burguesia nacional-latifúndio-capital estrangeiro, com apoio do Estado, da Igreja Católica e do Exército, investe contra as terras comunais em que viviam os camponeses pobres, mantendo a tradição que aprenderam com os indígenas. O capital estrangeiro já controlava a exploração de minérios, do petróleo, os bancos, a produção e distribuição de energia elétrica, as principais indústrias e o grande comércio.

Eis que ocorre uma cisão nas classes dominantes. Francisco Madero, filho de latifundiário, se rebela contra a ditadura de Porfírio Diaz, lidera um Movimento Constitucionalista e se candidata a presidente nas eleições de 1909, mas é preso e deportado para os Estados Unidos.

A guerra camponesa

Eclode a Revolução Mexicana, com a rebelião armada dos camponeses. Ao Norte, liderada por Pancho Villa e ao Sul por Emiliano Zapata. Embora com objetivos comuns – a defesa dos ejidos e a reforma agrária – os dois grupos não tinham articulação entre si. Somente em 1914, formalizaram uma frente comum (Pacto de Xoximilco, lago situado nas proximidades da capital mexicana), mas nem chegaram a desenvolver uma ação conjunta coordenada.

Zapata tinha uma visão política mais avançada. Sob o lema Terra e Liberdade, onde seu exército passava, ia organizando os ejidos, criando escolas técnicas, e instalando governos populares com base num regime de democracia participativa. Zapata chegou a governar o Estado de Morelos, situ-ado na região central do país.

Com tropas compostas por camponeses pobres, mal-armados e sem experiência militar, os exer-citos populares de Zapata e Villa impuseram derrotas memoráveis aos federais e colocaram Madero no governo em 1911.

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Imediatamente, Zapata apresenta ao novo governo o Plano Ayala (Ayala era a capital do Estado de Morelos), que prevê o reconhecimento dos ejidos (propriedade comunitária), expropriação dos latifúndios e nacionalização dos bens dos inimigos da Revolução.  Madero vacila. Tanto Zapata como Villa retomam a luta armada, e Madero é deposto em 1913.

Assume o general Vitoriano Huerta, apoiado pelor porfiristas (forças conservadoras). A luta camponesa cresce e ressurge o Movimento Constitucionalista nas cidades, com forte adesão dos setores médios. A classe operária é ainda incipiente, e seus dirigentes conciliadores e corporativistas.

Huerta cai em 1914, sendo sucedido por Venustiano Carranza, originário de uma família de médios proprietários de terra.  Carranza participara da luta constitucionalista ao lado de Madero e fora seu secretário. Assumindo, tratou de isolar o Movimento Camponês. Ordenou ao Exército fede-ral que continuasse o combate contra os exércitos camponeses e convocou uma assembléia consti-tuinte que excluía o campesinato. Adotou medidas nacionalistas, a exemplo da estatização do petró-leo, mas fez concessões a empresas petrolíferas estadunidenses.

Mesmo assim, o movimento constitucionalista urbano resolveu participar da Constituinte. A no-va Constituição aprovou medidas progressistas, como direitos e garantias individuais, leis trabalhis-tas, reconhecimento da propriedade comunitária (ejido) e propriedade do Estado sobre terras devo-lutas, águas e riquezas do subsolo. A Constituição Mexicana de 1917 é considerada pelos analistas como a mais avançada do mundo naquele momento, considerando seus aspectos econômicos e so-ciais.
Zapata e Villa não acreditaram numa Constituição na qual o campesinato não teve a menor participação. Parte dos camponeses, entretanto, se afastou da luta. Queriam esperar um pouco para ver se as medidas seriam concretizadas.

O enfraquecimento do Movimento deu causa, certamente, a que Zapata aceitasse um encontro com um general do exército federal, que fingiu simpatizar com a causa camponesa. Não tomando as medidas de segurança necessárias para um encontro desse tipo, o grande combatente, que disse certa vez “é melhor morrer de pé do que viver de joelhos”, foi abatido covardemente no dia 9 de abril de 1919. Após sua morte, o Exército Popular do Sul se desintegrou. Ao Norte, Pancho Villa fez acordo com o governo em 1920, depôs as armas e acabou assassinado em 20 de julho de 1923.

Álvaro Obregon, que depôs Carranza, governando de 1920 a 1924 e seu sucessor, Plutarco Elias Calles (1924-1928), ampliaram a reforma agrária, reconhecendo os ejidos e estendendo-os a 53% do território, e estabeleceram uma política agrícola que criou uma classe média rural, enfraquecendo o latifúndio. Por outro lado, mantiveram o modelo econômico dependente e associado ao capital estrangeiro.

Lázaro Cárdenas, que participara do Movimento Revolucionário, governou o México de 1934 a 1940. Ampliou e fortaleceu a reforma agrária, incentivando a formação de cooperativas comunitá-rias, aos moldes do programa zapatista, nacionalizou a indústria petrolífera e incentivou a organiza-ção dos camponeses e dos indígenas. Cárdenas apoiou o movimento republicano espanhol e deu gua-rida a centenas de exilados após sua derrota para os fascistas.

Em 1940, a direita vence o pleito eleitoral, estreita os vínculos com a política estadunidense e vai eliminando as conquistas da Revolução Mexicana. Simplesmente, retira o apoio estatal aos ejidos e fortalece a grande agricultura exportadora. Os ejidos, os pequenos e até os médios proprietários foram perdendo suas terras para os grandes grupos privados. O Movimento camponês renasce em 1960, liderado por Rubén Jaramillo, que havia combatido nas fileiras zapatistas. Encaminha as reivindicações pelas vias institucionais, mas vê que os caminhos estão barrados. Apela então para a luta armada até ser assassinado no Estado de Morelos em 1962.

Nos anos 60, aconteceu o chamado “Milagre Mexicano”, que forma uma numerosa classe média consumista, mas a maioria da população só pôde apreciar os bens de consumo modernos pelas vitrines das lojas. Aparentemente, entretanto, tudo era paz, a ser coroada pelas Olimpíadas de 1968.

Mas nesse ano, irrompe no mundo inteiro a rebelião da Juventude, e o México não fica de fora. Os estudantes foram às ruas reivindicando não apenas reformas estudantis, mas mudanças em todo o sistema econômico-político-social. Tudo terminou na Praça das Três Culturas (Cidade do México), onde uma quarta cultura se impôs – a da “ponta do sabre e bala de metralhadora”, varrendo a praça, deixando abatidos trezentos jovens. Foi o fatídico dia 2 de outubro de 1968.

Fechados os canais pacíficos, parte das lideranças do movimento partiu para a guerrilha urbana. Um grupo foi tentar a guerrilha rural junto aos indígenas maias de Chiapas. Os maias, que já haviam convertido frei Bartolomeu de Las Casas, convenceram também os garotos rebeldes a terem calma. No tempo certo, eles saberiam pegar nas armas. Os garotos, por sua vez, ensinaram os indígenas a verem além de suas comunidades, a compreenderem o que estava acontecendo no país e no mundo e o que isso tinha a ver com eles. Os guerrilheiros urbanos foram vitimados pela guerra suja que se abateu sobre toda a América Latina e também tiveram seus mortos, torturados e desaparecidos.

Uma crise econômica que se anunciava nos anos 70 foi contida pela abundância do petróleo mexicano. Aconteceu a “petrolização” do país. A economia (75% das exportações) e as finanças públicas passaram a depender completamente do petróleo, explorado (alguém tinha dúvidas?) pelas empresas texanas.

O início da década de 80 é marcado pela queda vertiginosa nos preços do petróleo. A economia mexicana entra em bancarrota. Em 1982, o governo de López Portillo decreta moratória e nacionaliza os bancos. Mas nos anos seguintes, o governo apela para o Fundo Monetário Internacional (FMI), que cede empréstimo de 9 bilhões de dólares e instala seus funcionários nos ministérios da área econômica do México.

É aplicada a velha receita: arrocho salarial, redução dos gastos públicos e entrega do patrimônio nacional ao capital estrangeiro e a seus sócios nacionais. Crescem o desemprego, a exclusão social, a marginalidade. Milhares tentam passar para seu vizinho dominador, os Estados Unidos, e grande parte encontra a prisão ou a morte na fronteira do falso “paraíso”.

A revolução camponesa retoma seu curso    

A adesão plena ao neoliberalismo (imperialismo) se formaliza em 1º de janeiro de 1994, com a assinatura do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), firmado pelos EUA, México e Panamá. O presidente do México, Carlos Salinas de Gortari, ainda comemorava a celebração do malfadado acordo, quando se revela ao mundo o bendito fruto de um casamento que acontecera nos idos de 1968.

O Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), formado por indígenas maias de diversas comunidades e por remanescentes do movimento de 1968 (representados pelo subcomandante Marcos), na madrugada de 1º de Janeiro de 1994, com cerca de três mil insurgentes armados tomou o controle de quatro municípios do Estado de Chiapas: San Cristóbal de las Casas, Ocosingo, Altamirano e Margaritas. Tomou uma estação de rádio, atacou um quartel do Exército e divulgou a “1ª Declaração da Selva Lacandona”, da qual transcrevo o seguinte trecho: “Povo do México: Nós, homens e mulheres, íntegros e livres, estamos conscientes de que a guerra que declaramos é uma medida extrema, porém justa. Os ditadores estão aplicando uma guerra genocida não declarada contra nossos povos desde muitos anos; por isso, pedimos sua participação decidida, apoiando este plano do povo mexicano que luta por trabalho, terra, alimentação, saúde, educação, independência, líberdade, democracia, justiça e paz. Declaramos que não deixaremos de lutar até conseguirmos o atendimento das demandas básicas de nosso povo formando um governo de nosso país livre e democrático.”

O Zapatismo vive. Viva Zapata!

José Levino, historiador

Che e Fidel: uma amizade revolucionária

Dois homens especiais cuja contribuição à Humanidade ficará para sempre na História. Duas personalidades com pontos em comum e também com diferenças, mas que se completaram para constituir uma luz para os povos oprimidos do Caribe, da América Latina e de todo o mundo. Fidel Castro Ruz, cubano, nasceu em 1926, filho de Ángel Castro e Lina Ruz, ele um imigrante galego, pobre, que fez fortuna em Cuba, acumulando terras, madeira e gado. Fidel cursou direito na Universidade de Havana, onde começou sua intensa militância política, com uma visão profundamente anti-imperialista, evoluindo para o socialismo e o comunismo. Ernesto Guevara de La Serna, argentino, nasceu em 1928, filho de Ernesto Guevara Lynch e Célia de La Serna, um casal de classe média alta, embora em crise financeira, e progressista. Ernesto (Teté, Chancho) não participou ativamente do movimento estudantil, desde cedo estudou a filosofia marxista, mas não simpatizava com o Partido Comunista Argentino.

Dois caminhos se encontram

Fidel criou um Movimento Revolucionário, que se chamaria 26 de Julho, em memória à data do assalto ao Quartel Moncada para distribuir armas com o povo e incitá-lo a derrubar a ditadura de Fulgencio Batista; foi preso, solto e saiu para o México, onde iria se encontrar com outros companheiros exilados a fim de organizar uma expedição para desencadear uma guerra de guerrilhas contra a ditadura a partir da Sierra Maestra.

Ernesto Guevara buscava um caminho, tinha uma consciência profundamente anti-imperialista e socialista. Não se contentava com o conhecimento baseado na leitura. Queria ver, contatar os oprimidos de perto. Fez sua primeira viagem junto com Alberto Granado, por grande parte da América do Sul (ver filme Diários de Motocicleta). No retorno, disse “Não sou o mesmo de antes”. A segunda viagem foi de engajamento. Na procura de um movimento para lutar pela libertação dos oprimidos, chegou à Guatemala, onde o povo se mobilizava para defender o governo Árbenz (democrático e nacionalista) de uma invasão de reacionários apoiados pelos Estados Unidos (CIA).

Derrotada a revolução guatemalteca, Ernesto segue para o México, onde foi apresentado aos cubanos, em cuja missão se integrou e por eles foi rebatizado como “Che”, devido a Ernesto dirigir-se às pessoas como tchê (costume dos Pampas).  Com eles, encontrou seu “norte”. Che ficou tão impressionado com Fidel, que escreveu um poema para ele: “Vamos, ardoroso profeta da madrugada/por caminhos longínquos e desconhecidos/liberar o grande caimão que você tanto ama/quando soar o primeiro tiro e na virginal surpresa toda a mata despertar/lá ao seu lado, serenos combatentes/você nos terá…

Fidel também se impressionou com aquele argentino cheio de entusiasmo e fé, absolutamente decidido a dedicar sua vida ao povo, que considerava a luta em Cuba a primeira grande oportunidade de pôr em prática seu inquestionável objetivo. Aceitou-o como médico da expedição, mas, logo nos primeiros treinamentos militares, sua firmeza, sua capacidade de aprender as técnicas da guerrilha, sua capacidade de liderança e a magnética personalidade deixaram claro que ali se encontrava um guerrilheiro de primeira hora.

Companheiros de comando, amigos e confidentes

Já no Natal de 1956, após os primeiros meses de luta na Sierra, Che integrava o Estado-Maior do Exército Rebelde, depois foi nomeado Comandante da Segunda Coluna. No dia de sua nomeação por Fidel, Che escreveu no Diário: “Isso me fez sentir como o homem mais orgulhoso da Terra neste dia”. A partir daquele momento, ele era o Comandante Che Guevara.

A bravura e dedicação do Che tornaram-no um símbolo do guerrilheiro heroico, braço direito de Fidel e seu principal confidente.  Mesmo quando suas colunas estavam distantes, constantemente trocavam bilhetes. Fidel falava para ele dos planos militares, debates políticos, assuntos financeiros, e relatava experiências com novas armas que iam inventando no decorrer da luta.

Em entrevista ao jornalista argentino Jorge Masetti, ainda na Sierra, Che disse: “Fidel me impressionou como um homem extraordinário. Ele enfrentou e superou as coisas mais impossíveis. Ele tinha uma fé excepcional de que, uma vez que partisse para Cuba, chegaria. Que uma vez que tivesse chegado, lutaria. E que, lutando, venceria. Eu compartilhei desse entusiasmo…

Após a tomada do poder, em janeiro de 1959, Che assumiu diversas funções no governo, buscando pôr em prática sua ideia de construção do homem novo. Para ele, o socialismo só seria possível com o ser humano superando o individualismo e colocando a coletividade em primeiro plano. Para isso, dizia Che, incentivos materiais não servem e sim a emulação proporcionada pelo trabalho voluntário, no qual ele era o primeiro a dar exemplo. Uma vida simples. Uso de carro oficial apenas a serviço, recusa de levar a mulher em viagens ao exterior, em dar presente aos filhos que o homem do povo não pudesse dar também, e assim por diante.  Che sempre recebeu o apoio e o incentivo de Fidel.

Che sempre teve claro que Cuba não seria seu porto final. Que era preciso continuar a luta pela libertação da humanidade. E que Cuba não poderia avançar sozinha na construção do socialismo, dependendo apenas do apoio da União Soviética, onde a política dos governantes já sinalizava um recuo, em vez de avançar para o comunismo.

De Che para Fidel

Mas Che compreendia a posição do governo cubano e de Fidel, só que não via sentido em permanecer mais em Cuba enquanto outros povos precisavam de sua “modesta” contribuição. A carta de despedida que fez para Fidel antes de partir para o Congo, de onde sairia para a Bolívia, é um testemunho emocionante da admiração e amizade que mantinha pelo Comandante Fidel: “…Vivi dias magníficos ao seu lado, senti o orgulho de pertencer ao nosso povo nos dias brilhantes, embora tristes, da crise caribenha. Raramente um diplomata foi mais brilhante que você naqueles dias…Carrego para novas frentes de batalha a fé que você me ensinou, o espírito revolucionário do meu povo. Se minha hora final me encontrar debaixo de outros céus, meu pensamento será para o povo e especialmente para você…

Bem, infelizmente, a hora final chegou debaixo dos céus da pátria-mãe latino-americana, mais precisamente da Bolívia, quando, ferido em combate em 8 de outubro de 1967, no dia seguinte, o eterno Che Guevara foi assassinado, fria e covardemente, por um esbirro do exército boliviano, assessorado pelos boinas-verdes dos EUA.

De Fidel para Che

Ao anunciar ao povo cubano a morte do Comandante Che Guevara, Fidel manifestou publicamente – e visivelmente emocionado – toda a admiração e amizade que também mantinha pelo herói, dizendo, entre outras palavras ardorosas:
…Che possuía, como revolucionário, as virtudes que podem ser definidas como a mais cabal expressão das virtudes de um revolucionário: homem íntegro, homem de honradez suprema, de sinceridade absoluta, homem de vida estoica e espartana, homem em quem, praticamente, em sua conduta, não se encontra uma só mancha. Constituiu, por suas virtudes, o que se pode chamar de verdadeiro modelo de revolucionário. Um verdadeiro exemplo de virtudes revolucionárias! Mas, além disso, tinha outra qualidade, uma qualidade do coração, porque era um homem extraordinariamente humano, extraordinariamente sensível! Homem de ação, mas também homem de pensamento,  homem de imaculadas virtudes revolucionárias e de extraordinária sensibilidade humana, unidas a um caráter de ferro, a uma vontade de aço, a uma tenacidade indomável.

Trabalhador infatigável, nos anos que esteve a serviço de nossa pátria não conheceu um só dia de descanso. Sua inteligência multifacetada era capaz de empreender, com o máximo de segurança, qualquer tarefa, de qualquer ordem, em qualquer sentido.

Nos dias regulamentares de descanso, empenhava-se no trabalho voluntário. Foi o inspirador e o máximo impulsionador desse trabalho que hoje é atividade de centenas de milhares de pessoas em todo o país, o impulsor dessa atividade que cada dia ganha mais força nas massas de nosso povo.

E como revolucionário, como revolucionário comunista, verdadeiramente comunista, tinha uma infinita fé nos valores morais, tinha uma infinita fé na consciência aos homens. E devemos dizer que, em sua concepção, viu com absoluta clareza nos recursos morais a alavanca fundamental da construção do comunismo na sociedade humana.

Em uma palavra, deixou-nos seu exemplo! E o exemplo de Che deve ser um modelo para nosso povo, o exemplo de Che deve ser o modelo ideal para nosso povo!

Se queremos expressar como aspiramos a que sejam nossos combatentes revolucionários, nossos militantes, nossos homens, devemos dizer sem vacilação de nenhuma índole: que sejam como Che! Se queremos expressar como aspiramos a que sejam os homens das futuras gerações, devemos dizer: que sejam como Che! Se queremos dizer como desejamos que nossos filhos sejam educados, devemos dizer sem vacilação: queremos que se eduquem no espírito de Che! Se queremos um modelo de homem, um modelo de homem que não pertence a este tempo, um modelo de homem que pertence ao futuro, de coração digo que esse modelo, sem uma só mancha em sua conduta, sem uma só mancha em suas atitudes, sem uma só mancha em sua atuação, esse modelo é Che! Se queremos expressar como desejamos que sejam nossos filhos, devemos dizer com todo o coração de veementes revolucionários: queremos que sejam como Che!

Leia também: Como a CIA matou Che Guevara

José Levino, historiador

Exército Vermelho salva a humanidade do monstro nazifascista

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No capitalismo, as guerras são fruto da concorrência entre as classes dominantes de diferentes nações pelo domínio do planeta. Na primeira guerra mundial, formaram-se dois blocos imperialistas opostos: Alemanha, Itália e Japão, vencidos, de um lado; Grã-Bretanha, França e EUA, vencedores, do outro.

O sol nasce vermelho

Algo novo, entretanto, surgiu durante a 1ª guerra mundial: a revolução socialista de outubro de 1917, na Rússia; nova cisão ocorria no mundo, agora dividido em dois sistemas adversos: o capitalismo e o socialismo.

Os dois blocos capitalistas passaram a ter um objetivo comum: a destruição do primeiro estado operário-camponês da história, em vista da restauração do capitalismo em escala global.  Esse fim é que levou o bloco vencedor, especialmente os EUA, a investir na economia alemã 15 bilhões de marcos em seis anos (1924-1929).

Quando o hitlerismo se firma na Alemanha e explicita seu intento de domínio mundial, as potências capitalistas dominantes não tratam de combatê-lo. Ao contrário, fecham os olhos às suas agressões e até incentivam o monstro nazista a direcionar seu ataque para a União Soviética (URSS).

Em 1939, a URSS propôs a Inglaterra e França um pacto para ações militares conjuntas se os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), bloco nazifascista, iniciassem a guerra na Europa. Não houve rejeição formal, mas nenhum passo foi dado por parte dos países capitalistas para concretizar o pacto. Ao contrário, França e Inglaterra firmaram com Alemanha e Japão acordos de não-agressão. Deixada sozinha, em agosto de 1939, a URSS assinou com a Alemanha um tratado de não-agressão. Os dirigentes sabiam que mais cedo ou mais tarde Hitler romperia o acordo, mas conseguiram ganhar algum tempo para reforçar melhor sua capacidade de defesa.

De 1938 a 1941, Hitler ocupou  Áustria,  Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Grécia, Iugoslávia e finalmente a própria França.   Na Europa central e oriental, a Alemanha fascista adquiriu imensa quantidade de material de combate, freios de transporte, matéria- prima e materiais estratégicos, tornando-se forte o suficiente para atacar a URSS.

Hitler, no livro Mein Kampf proclamara: ”…tratando-se de obter novos territórios na Europa,deve-se adquiri-los principalmente á custa da Rússia”.

A invasão hitlerista foi impiedosa. ’’Fuzilavam em massa as pessoas (mulheres, crianças, idosos, montavam campos de morte, deportavam para trabalho forçado na Alemanha. Por onde passavam, não deixavam pedra sobre pedra’’. Era a política do extermínio. “Eu tenho o direito de destruir milhões de homens de raça inferior que se multiplicam como vermes’’ (Hitler).

Em resposta, o governo, o PCUS, o povo soviético lançou a palavra de ordem: ’’Morte aos invasores fascistas, tudo para a frente! Tudo para a vitória!“  Às fileiras do Exército Vermelho se integraram milhões de homens. Criaram-se também inúmeros regimentos de milícia popular contando 2 milhões de combatentes.

Formou-se, ainda na retaguarda uma força guerrilheira massiva. A dedicação e bravura do povo soviético comoveram o mundo e foram decisivas para quebrar a resistência capitalista (EUA,Inglaterra,França). Formou-se finalmente o bloco aliado, antifascista, a frente única dos povos pela democracia.

Caíra por terra a idéia de Hitler de que a ocupação da URSS seria um passeio uma ‘’guerra relâmpago’’ Os nazis não imaginavam a resistência que encontrariam nas principais cidades: Leningrado, Stalingrado, Kiev e Moscou, entre tantas.  Homens, mulheres, idosos e crianças ergueram-se como muralha inexpugnável.

Os feitos do povo soviético repercutiram no mundo inteiro, levando um jornal burguês como o STAR, de Washington, a publicar: ”Os sucessos da Rússia na luta contra a Alemanha hitleriana revestem-se de grande importância não só para Moscou e o povo russo, como também para Washington, para o futuro dos Estados Unidos. A história renderá homenagens aos russos por terem suspendido a guerra relâmpago, pondo em fuga o adversário”.

Em junho de 1942, os invasores avançam,  mas encontram uma barreira instransponível em  Stalingrado. Durante quatro meses de combate, os invasores perderam 700.000 soldados e oficiais, mais de mil tanques, 2 mil canhões e morteiros, 1.400 aviões. Os invasores eram tecnicamente superiores, mas em novembro de 1942, os números já se invertiam em favor dos soviéticos. Os alemães estavam com 6.200.000 soldados, os soviéticos com 6.600.000; 5.000 tanques invasores contra 7.000 soviéticos; 51.000 peças e morteiros contra 77.000.

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Na derrota do Stalingrado, os nazis perderam 1,5 milhões de soldados e oficiais. ’’… Do ponto de vista moral, a catástrofe que o exército alemão sofreu nos acessos de Stalingrado teve um efeito sob o peso do qual ele não pôde mais reerguer-se’’ (A segunda guerra mundial, B.Lideel Hart).

Depois, ocorreu a vitória do Cáucaso e se iniciou processo de expulsão em massa dos ocupantes nazistas. ’’A União Soviética pode orgulhar-se das suas heróicas vitórias”, escreveu o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, acrescentando: “…os russos matam mais soldados inimigos e destroem mais armamentos do que os outros 25 estados das Nações Unidas no conjunto”.

O final de 1943 marca a virada na frente soviética e na Segunda Guerra em geral. O movimento contra o nazifascismo consolidou-se e ampliou-se em todo o planeta. A guerra estava decidida, embora os hitleristas ainda tenham resistido um ano e meio.

Em junho de 1944, com o exército nazi batido em todas as regiões da URSS, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte da França, dando início à 2ª frente proposta pelo governo soviético desde o início da invasão.

Pode-se dizer que a essa altura a guerra estava decidida, diante da derrota alemã na Rússia. O próprio Winston Churchil, primeiro-ministro britânico, reconhece o papel fundamental dos soviéticos, no discurso pronunciado na Câmara dos Comuns em julho de 1944: ’’… Considero meu dever reconhecer que a Rússia mobiliza e bate  forças muitíssimas maiores que as enfrentadas pelos aliados no Ocidente, que há longos anos, ao preço de imensas perdas ela suporta o principal fardo da luta em terra’’.

Um Exército Libertador

Apesar de imensas perdas, o Exército Vermelho avançou no encalço dos alemães pela Europa Oriental a dentro, fustigando os nazistas e auxiliando as forças populares da resistência a derrotarem os ocupantes e seus colaboradores internos. Repúblicas democrático-populares foram instaladas com os partidos comunistas à frente na Polônia, Hungria, Iugoslávia, Checoslováquia, Romênia, Bulgária.

Para Berlim’’! Era a palavra de ordem do exército libertador. Não foi um passeio. A resistência nazista, embora enfraquecida, produzia encarniçados e sangrentos combates.

Os russos vitoriosos, não mataram, não pilharam, não se vingaram dos crimes cometidos pelo exército alemão no solo soviético. Ao contrário, alimentaram os famintos, organizaram a assistência médica, o funcionamento dos transportes, a distribuição de água e de energia elétrica. A 2 de maio de 1945, o Comando Supremo alemão assinou o ato de capitulação incondicional das forças armadas.

Sob novos céus

Terminada a guerra na Europa, era preciso voltar-se para a Ásia. O Japão, aliado dos nazistas dominavam milhões de pessoas na China, na Coréia, nas Filipinas. Apesar de as forças armadas dos EUA e da Inglaterra vir imprimindo sucessivas derrotas, as forças japonesas ainda eram numerosas e fortes. De vez em quando, elas atacavam as fronteiras da URSS e torpedeavam navios soviéticos em alto-mar.

No dia 8 de maio de 1945, a União Soviética declarou guerra ao Japão e começou a ofensiva  de 8 para 9 de agosto. Nesse mesmo dia, o primeiro-ministro japonês, Teiichi Suzuki afirmou: “…A entrada da URSS na guerra hoje de manhã põe-nos definitivamente numa situação sem saída e torna impossível continuar a guerra”. Estava certo. No final do mês, o Exército nipônico havia perdido 677 mil soldados e oficiais: 84 mil mortos e 593 mil prisioneiros.

Ao contrário do que muitos pensam, e a historiografia burguesa busca difundir, não foram as bombas estadunidenses lançadas no início de agosto contra Hiroshima e Nagasaki que provocou a capitulação japonesa. A guerra continuou normalmente depois do ataque bárbaro e covarde. A rendição resultou do destroçamento do exército nipônico pelas tropas soviéticas.

Se alguém duvida, leia o testemunho do general Chenault, que chefiou as forças dos EUA na China: “…A entrada da URSS na guerra contra o Japão foi o fator decisivo para o fim da guerra no Pacífico, o que sucederia mesmo sem o emprego de bombas atômicas. O rápido golpe desferido pelo Exército Vermelho sobre o Japão fechou o cerco que pôs finalmente o Japão de joelhos”.

O Exército Vermelho contribuiu ainda para a expulsão dos nazistas da China e da Coréia. O sacrifício do povo soviético foi inestimável. Mas valeu a pena porque livrou a Humanidade da besta nazista. Foi também a vitória do socialismo que saiu da Segunda Guerra triunfante em toda a Europa Oriental e na China.

Por todos, valeu a carta de agradecimento enviada pelo povo coreano a José Stalin, comandante supremo das forças soviéticas: “…Os combatentes soviéticos chegaram não como conquistadores, mas como libertadores. Emancipada da escravidão, a nossa pátria respirou livremente. O céu apareceu-nos radioso. A nossa terra floresceu. Jorraram canções de liberdade e felicidade…

José Levino, historiador

A vida das mulheres na sociedade socialista

“A mulher e o trabalhador têm algo em comum: são ambos oprimidos. Essa opressão sofreu modificações na forma, segundo o tempo e o país, mas subsistiu..” (Auguste Bebel). Desde que a humanidade passou a viver num sistema de exploração do homem pelo homem, com a dissolução das comunas primitivas, é assim. Na escravidão e no feudalismo, ela era  mera propriedade do seu marido. Podia até ser vendida, morta, enfim…

No capitalismo, o Estado burguês proclamou a liberdade das mulheres, mas apenas para liberar mão-de-obra barata para o sistema fabril. Mas manteve pais e maridos como proprietários dos seus sentimentos, de sua virgindade, fidelidade e assim por diante.

Os socialistas utópicos lançaram um brado de guerra contra a opressão da mulher. Charles Fourier, diz Engels, faz uma crítica magistral da moral sexual burguesa e anuncia que “a evolução de uma época histórica é determinada pela relação entre o progresso da mulher e o da liberdade, pois o grau de emancipação feminina determina naturalmente a emancipação geral”.

Certo, diz Marx, só que esta emancipação não surge por milagre ou por um simples ato de boa-vontade. A opressão da mulher é fruto da divisão da sociedade em classes sociais antagônicas, da dominação de uma classe sobre as outras. Sendo assim, só terminará com o fim da exploração do homem pelo homem, ou seja, no socialismo.

A burguesia reprimiu duramente a luta dos operários pelo reconhecimento dos seus direitos, mas quando as mulheres trabalhadoras estiveram à frente dessa luta, suprema ofensa, a repressão foi mais intensa, cruel.  Símbolo dessa perseguição foi o massacre das operárias têxteis em Nova Iorque no ano de 1857, tragédia que deu origem ao Dia Internacional da Mulher, o 8 de março. A criação desse dia, por sinal, foi proposta por uma militante comunista, Clara Zetkin, no II Congresso Internacional das Mulheres Socialistas realizado em 1910 na Dinamarca.

Sob o capitalismo, as mulheres têm se engajado nas lutas gerais e específicas e com isso, uma série de conquistas foi alcançada: direito a votar e ser votada, divórcio, igualdade perante a lei. Na prática, entretanto, permanece a discriminação no mercado de trabalho e na vida social, a escravidão doméstica, o salário inferior ao do homem, embora exercendo a mesma função, a dupla jornada, etc.  Na maior parte, dos casos, diz Lênin, “o divórcio não se realiza porque o sexo oprimido é economicamente esmagado, a mulher permanece escrava da casa, aprisionada no quarto de dormir, no quarto da criança, na cozinha..”.  A análise do grande líder comunista permanece atualíssima porque o capitalismo, em qualquer etapa, se caracteriza por proclamar todas as liberdades e direitos, mas sua realização se dá de forma ínfima. Não poderia ser diferente, porque está provado historicamente, que as relações sociais, as relações humanas resultam das relações de produção e do sistema de propriedade.

O Socialismo realizou a emancipação da mulher?

Desse modo, a Revolução Bolchevique de 1917, na Rússia, tendo eliminado a propriedade privada dos meios de produção e proclamado o seu caráter socialista, teria procedido à libertação integral da mulher? O que aconteceu de fato na Rússia e posteriormente em toda a União Soviética?

Como vimos, as relações sociais e humanas derivam das relações de produção e do sistema de propriedade. Mas é claro que se transformam em costumes, em cultura. Então, mesmo retirada a base que lhes deu origem, não mudam automaticamente. É preciso criar as condições materiais e desenvolver a consciência, mudar as idéias, o que não ocorre do dia para a noite, especialmente num país como a Rússia, onde, no campo o sistema econômico-social ainda era semifeudal.

No campo jurídico, o poder dos sovietes foi ágil. Em 1917 decretou o divórcio, em 1918 o novo Código Civil suprimiu todos os direitos dos homens sobre as mulheres, a exemplo da imposição do nome da família, domicílio e nacionalidade do marido. A primeira Constituição da República Soviética (1918) deu à mulher o direito de votar e ser votada para cargos públicos, o que só veio a acontecer no Brasil, por exemplo, em 1930. Em 1920 foi promulgada lei garantindo o aborto gratuito em todos os hospitais do Estado. Deve-se ressaltar que o aborto não era incentivado e quem cobrasse para fazê-lo era severamente punido.

Mas, mesmo no socialismo, o fato de ser aprovada uma lei não significa que as mudanças ocorram imediatamente.  “Esta será uma luta longa. Exige uma transformação completa da técnica social e dos costumes”, diz Lênin em artigo publicado no Pravda em 1920. Nessa época, o divórcio já era lei, mas só vigorava efetivamente nas cidades. No campo, era letra morta, por conta da influência dos padres, dos preconceitos religiosos.  Nesse ponto, é preciso agir com cuidado, chamava a atenção Lênin, porque não se pode ferir o sentimento das pessoas. Explicava: “Só chegaremos à libertação da mulher camponesa no momento em que passarmos da pequena propriedade individual para a propriedade coletiva da terra. E para isso estamos organizando os comitês de camponeses pobres” (Lenin, 1920).

E nas cidades, afirmava o grande dirigente bolchevique, “para a verdadeira libertação das mulheres, é preciso superarmos a economia doméstica. Ainda não estamos cuidando dos ramos novos da economia comunista: os restaurantes coletivos, as lavanderias coletivas, as creches, os jardins de infância. São ramos simples, não têm nada de pomposo, mas são capazes de promover a libertação da mulher”. Falando na IV Conferência das Operárias sem partido de Moscou, em 23/09/1919, Lênin fez estas afirmações e declarou que nada disso se concretizará “sem o concurso de mulheres de toda a Rússia, não centenas, mas milhões e milhões de mulheres”.

As mulheres bolcheviques, as sem-partido, os operários, os dirigentes ouviram seu dirigente máximo e se lançaram na ação.   Lênin faleceu em 1924, mas apesar de sua perda ter sido lamentada, o processo revolucionário não teve solução de continuidade, graças ao seu sucessor, que se denominava simplesmente um “seguidor de Lenin”: José Stalin.

Em 1927, um balanço de dez anos de revolução demonstrava que em uma dezena de anos, as mulheres russas haviam dado mais passos rumo à sua completa emancipação do que as mulheres de todo o mundo em dois séculos.  Isso foi possível exatamente por se ter realizado o que pedia Lênin: implantação de um programa de obras públicas com a construção de moradias, escolas, hospitais, restaurantes coletivos e lavanderias públicas em todos os bairros.

Na indústria, o salário feminino passou a ser igual ao masculino na mesma função, proibida qualquer discriminação no trabalho e na vida social. Um programa especial de qualificação da mão-de-obra feminina foi realizado.

No campo, onde a dificuldade era maior, como exposto por Lênin, mudanças significativas vinham acontecendo, graças ao avanço na formação de cooperativas agrícolas, os kolkhozes, instrumento fundamental na criação de uma consciência coletiva entre os camponeses.

No ano de 1933, falando no congresso dos kolkozianos, Stalin mostrou os avanços ocorridos desde 1917. Diz:“Considerai este congresso e vereis que as mulheres, tão atrasadas, passaram há muito a figurar na vanguarda. Alguns dados: 6 mil mulheres integrando a direção das cooperativas, 28 mil chefes de equipe, 100 mil organizadas em grupos de trabalho, 7 mil dirigindo tratores…” Agora, ressalta Stalin, “Nem o pai nem o marido podem dizer que sustentam a mulher. Hoje,  graças ao trabalho, a mulher é dona dela mesma. Assim é a libertação da mulher”.

Daí para frente, as mulheres foram sempre conquistando novas posições, avanços só interrompidos pela invasão nazista-imperialista. De 1939 a 1945, todo o esforço das mulheres, dos homens, das crianças, dos idosos foi para a guerra de defesa de sua pátria e do socialismo.

Testemunha Stalin:  “As mulheres soviéticas prestaram serviços inapreciáveis  à defesa nacional. Elas trabalham com abnegação para a frente de batalha; suportam corajosamente todas as dificuldades do tempo de guerra; inflamam por ações entusiásticas os combatentes do Exército Vermelho, os libertadores da Pátria..” (Relatório apresentado à sessão dos deputados dos trabalhadores de Moscou no XXIV aniversário da grande Revolução Socialista).

Terminada a guerra, com entusiasmo maior ainda, o povo soviético dedicou tempo integral à recuperação da sua economia, da sua vida, com resultados surpreendentes e admirados em todo o mundo.

Em 1953, morre Stalin. Infelizmente a sua sucessão não foi como a de Lênin. Sabemos que a luta de classes continua no socialismo. A burguesia não se conforma em ter perdido poder econômico, político, social. Primeiro se lançou no enfrentamento direto (guerra interna, invasão imperialista). Mas ao mesmo tempo, busca solapar por dentro o poder soviético. E o que os poderosos tanques alemães não conseguiram, a infiltração diária, sorrateira, dissimulada, conseguiu. A direção gestada no XX Congresso do PCUS conduziu a grande pátria socialista pelo caminho de volta ao sistema de exclusão e opressão.  De Nikita Kruschev a Gorbachev, foi só retrocesso, que se completou em 1991, quando um grupo  de gangsters tomou o poder e detonou a União Soviética, implantando um sistema capitalista predador.

Hoje, as mulheres soviéticas retomam a luta por direitos que, bem ensina a sua história, só serão alcançados plenamente no socialismo.

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José Levino, historiador

Sônia Angel – Coragem e alegria dedicadas à causa revolucionária

Combatente e revolucionária, alegre e destemida, Sônia Angel dedicou sua juventude à luta pela Revolução Socialista, à causa de libertação do povo brasileiro e da humanidade, da opressão capitalista. De 1968 a 1973, foram oito anos de muitas atividades políticas, quase todos vividos na clan-destinidade e dedicados à luta armada contra a tirania da ditadura militar.

Assim foi a breve, mas intensa vida da guerrilheira Sônia Angel. Infelizmente, pouco restou de documentos que pudessem contar às novas gerações seu legado e sua história. O terror e a repressão obrigaram parentes e amigos a queimar os escritos e as cartas que continham suas reflexões, porém seu exemplo continua vivo no coração e na consciência dos que lutam contra as injustiças do capitalismo.

Sônia nasceu no dia 9 de novembro de 1946, em Santiago do Boqueirão, no Rio Grande do Sul. Seus pais, João Luiz de Moraes, militar que chegou a tenente-coronel, e Clea Moraes, sempre descrita como uma pessoa extraor-dinária. Ambos dedicaram suas vidas à preparação educacional de jovens à universidade.

Desperta a militância heróica de Sônia

O contato de Sônia com as idéias revolucionárias começou no ano de 1966, quando ingressou no curso de economia da Universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ). Já em seu primeiro dia de aula, foi eleita representante de turma. Sua liderança despontava naturalmente, pois era uma jovem que nunca escondeu seu amor à vida, transmitindo muita alegria com o carisma de sua personalidade divertida e espontânea. Gostava de viajar, namorar e ir a festas, vivendo sua juventude com plenitude e vigor.

Foi, também, na Faculdade de Economia que Sônia conheceu o jovem Stuart Angel Jones, com quem se casou em outubro de 1968. Stuart era um destacado militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), uma das mais importantes organizações revolucionárias surgidas durante o regime militar, implantado no Brasil com o golpe de 1964.

Na prisão enfrenta a arrogância da ditadura

Sônia conheceu cedo os impactos da ação repressiva em sua vida e na de seus companheiros. Em 1969, um grupo de estudantes, entre eles Sônia, com apenas 22 anos, preparava-se para realizar panfletagem em portas de fábricas durante atividades de convocação do 1º de Maio, quando foi preso por agentes do famigerado Departamento de Ordem Política Social (Dops).

O argumento usado para justificar a prisão dos jovens foi o Decreto 477, criado pelo então Ministro da Educação, coronel Jarbas Passarinho, para reprimir as atividades das lideranças estudantis nas escolas e universidades. Com isso, Sônia foi sumariamente expulsa da Faculdade Nacional de Economia da UFRJ, onde já cursava o último ano.

Presa por mais de três meses no prédio do Dops, localizado na Rua da Relação, Sônia protagonizou um dos episódios mais ousados dos anos de chumbo, mostrando sua firmeza de jovem militante. Havia sido agendada uma visita de inspeção do então Secretário de Segurança, o general Luiz de França Oliveira. Ordenaram que todas as “detentas” ficassem sentadas em círculo e, a partir do apito do carcereiro, levantassem e se colocassem em posição de sentido diante do general. Todas obedeceram às instruções, menos Sônia, que permaneceu no seu lugar. O general entrou na cela e  dirigiu-se a ela, exigindo que cumprisse as determinações:

– Levante-se, minha senhora. A senhora está diante de uma autoridade, o Excelentíssimo Senhor general Luiz de França, Secretário do Estado, e deve reverenciá-lo.
Sônia manteve-se sentada e respondeu com firmeza:
– Não me levanto pra policial nenhum!

Diante do clima de constrangimento e do receio por parte dos repressores de que aquela atitude contagiasse as demais prisioneiras, os carrascos recuaram e ordenaram que as outras presas sentassem.

Sônia foi julgada e absolvida duas vezes, por unanimidade, pelo Tribunal Superior Militar. No entanto, sua absolvição não significaria liberdade e segurança.

Sensibilidade e consciência temperadas para enfrentar a dura realidade

Tanto Sônia quanto Stuart estavam lúcidos da realidade cruel que tomava conta do Brasil naqueles anos de escuridão da ditadura militar. O aparta-mento do casal, localizado na rua Pinto de Figueiredo, na Tijuca, tradicional bairro de classe média carioca, fora invadido, revirado, saqueado e destruído pelas forças da repressão e estava sob vigilância constante. Tal situação levou Sônia a tomar todos os cuidados logo após sua saída da prisão no Dops, pois estava ciente de que iriam fazer de tudo para capturá-la novamente.

Alguns dias após sua absolvição pelas cortes da Justiça Militar, um representante do então I Exército (atual Comando Militar do Leste) foi à casa de seus pais, levando uma intimação para que Sônia  se apresentasse para prestar depoimento. A intimação não passava de uma manobra dos militares para prendê-la, enquadrá-la em novo processo e, com isso, mantê-la encarcerada.

Como Sônia já havia se juntado a Stuart em lugar ignorado, seu pai, João de Moraes, se prontificou a dar os esclarecimentos em seu lugar. Na saída do quartel, um companheiro de João que estudara com ele na Escola Militar lhe alertou: “Moraes, não deixe sua filha aparecer nunca mais, porque vão matá-la”.

Exílio amadurece a opção pela luta armada

Já eram crescentes as ações armadas em todo o país. Diante da situação, os pais de Sônia e os dirigentes do MR-8 concordaram que seria melhor o exílio voluntário do casal. Mas Stuart, peça-chave da organização, não admitiu deixar seus companheiros e decidiu ficar, não havendo nada que o demovesse de sua posição. Ficou acertado que Sônia seria re-tirada estrategicamente do Brasil, uma tarefa cada vez mais difícil, devido ao aprofundamento da perseguição política. Coube então à família tratar dos procedimentos para sua retirada.

Havendo nada que o demovesse de sua posição. Ficou acertado que Sônia seria re-tirada estrategicamente do Brasil, uma tarefa cada vez mais difícil, devido ao aprofundamento da perseguição política. Coube então à família tratar dos procedimentos para sua retirada.

A saída de Sônia do Brasil foi marcada por muitas dificuldades. Até a chegada na fronteira, a fuga clandestina ocorreu com “relativa normalidade”, apesar de duas revistas minuciosas por patrulhas do Exército, espalhadas pelas estradas na busca desenfreada ao Capitão Carlos Lamarca, embrenhado com seus guerrilheiros nas matas do Vale do Ribeira. No Paraguai, um acidente com o carro deixou-os muito feridos, quase comprometendo a ação, mas a viagem prosseguiu e o embarque para a França aconteceu.

No exílio em Paris, Sônia continuou sua militância. Dedicou-se com afinco à causa revolucionária, não descuidando de ler e estudar a teoria marxista-leninista. Couberam-lhe as tarefas (exercidas por ela com grande desprendimento),  de micro-filmar os materiais enviados pelo MR-8 e dar assistência política e ideológica aos companheiros enviados para fora do Brasil, confortando e apoiando, material e psicologicamente, os que estavam traumatizados pela violência da tortura, da distância do país e da família.

O árduo caminho de volta

A necessidade de organizar seus companheiros fez com que Sônia se transferisse para Santiago, no Chile. Foi na capital chilena que soube da morte de Stuart e das bárbaras circunstâncias do seu assassinato, cometido pela ditadura militar. A notícia deixou-a completamente arrasada. Esse episódio cristalizou ainda mais sua aspiração de retornar ao Brasil.

O amadurecimento ideológico se materializava e consolidava seu posicionamento diante da luta armada. Para Sônia,  a luta armada deveria ser decorrente de um intenso trabalho de base, de uma forte ligação com o movimento de massa. Ela entendia que as organizações revolucionárias deveriam criar vínculos consistentes com o povo, especialmente, os operários na cidade e os camponeses no meio rural. Observando que o MR-8 não caminhava nessa direção e, inclusive, suas lideranças estavam desistindo dessa forma de luta, Sônia desligou-se da organização.

Para sobreviver, passou a trabalhar como fotógrafa profissional, mantendo, porém, sua opção pela guerrilha, o que a levou ao ingresso na Ação Libertadora Nacional (ALN);  defendeu que se preparasse a volta dos exilados ao Brasil e a reestruturação da organização guerrilheira, com ações voltadas para o povo. Logo se destacou em seu novo grupo.

Apesar da enorme adversidade que o movimento revolucionário estava vivendo no Brasil, o fim de 1972  marcou a decisão da ALN favorável ao re-torno de Sônia. As condições para o retorno de qualquer exilado eram de ex-trema dificuldade, mas sua partida foi confirmada. Chegando ao Brasil em maio de 1973, ela encontrou um novo companheiro, o extraordinário guerrilheiro Antônio Carlos Bicalho Lana.

O covarde assassinato de Sônia Angel pela ditadura militar

Logo ficou evidente que havia “infiltração” de agentes da ditadura, espionando e delatando suas atividades Não demorou muito e a repressão armou uma emboscada para prender Lana e Sônia. Os dois revolucionários ainda estavam presos quando a ditadura militar se encarregou de divulgar nos principais órgãos de imprensa que ambos haviam morrido numa troca de tiros em São Paulo. A família de Sônia só pôde descobrir o fato porque sua mãe havia exigido que  ela lhe contasse seu nome clandestino: Esmeralda.

O empenho da família, que se dirigiu às pressas até a cidade litorânea de São Vicente, onde residiam Lana e Sônia, na tentativa de resgatar o corpo das vítimas, foi frustrado. O clima de enfrentamento da família Moraes com os militares chegou ao absurdo das ameaças de morte e ao constrangimento da prisão de seu pai. Posteriormente, após um exaustivo processo de investigação, ficou claro que enquanto João Moraes estava preso, Sônia foi seqüestrada e conduzida para o Rio de Janeiro, onde padeceu monstruosas torturas. Levada de volta a São Paulo, sofreu novas torturas, estupro e seviciamento. Por fim, recebeu um tiro de misericórdia na nuca. Foi no dia 30 de novembro de 1973. Ela tinha 27 anos.

A morte de Sônia Angel representa mais um crime hediondo da burguesia. Mas deixou seu exemplo e sua força como jovem guerrilheira, defensora dos interesses dos oprimidos, da liberdade e da vida plena, como aspiração para todos aqueles que lutam por um mundo livre da exploração do homem pelo homem. Em cada batalha do povo brasileiro pela sua libertação e pelo socialismo, Sônia estará presente.

Bibliografia:
“O Calvário de Sônia Angel – Uma história de terror nos porões da ditadura”
Autor: João Luiz de Moraes

Como a CIA matou Che Guevara

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Quando decidiu partir de Cuba, renunciando a todos os cargos e à convivência com seus “entes mais queridos” (mulher, filhos, amigos), Che Guevara sabia que poderia não voltar mais. Na carta a Fidel, afirmou: “…Se minha hora final me encontrar debaixo de outros céus, meu último pensamento será para o povo, especialmente para você…” . Para seus pais “queridos viejos”:  “…Muitos me chamam de aventureiro, e o sou, mas de um tipo diferente, sou daqueles que colocam a vida em jogo para demonstrar as suas verdades. É possível que esta seja a definitiva. Se tiver que ser, então este é meu último abraço…”.  Para Aleida March, sua última esposa, deixou uma fita em que recita  poemas de amor, vários de Pablo Neruda, seu poeta favorito.  Para os filhos, uma carta: “…Seu pai foi um homem que agiu de acordo com suas próprias crenças e sem dúvida foi fiel às suas convicções… Cresçam como bons revolucionários. Estudem muito…Acima de tudo, procurem sentir profundamente qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo…..Até sempre, filhinhos. Ainda espero vê-los de novo. Um beijo grande de verdade e um abraço apertado do seu papa…”  
“…Deixo-lhe um olhar que sempre traz (como passarinho ferido) ternura e a memória indelével (sempre latente e profunda) das crianças, que um dia você e eu concebemos, e o pedaço de vida que resta em mim, isso eu dou (convicto e feliz) à revolução…” (De Che para Aleida, escrito às vésperas de sua morte).

As primeiras batalhas

As primeiras batalhas sob outros céus se deram no Congo, África, no ano de 1965. Não deu certo. Então voltou para nuestra América Latina e escolheu a Bolívia como ponto de partida para a libertação do Continente. Chegou a Nancahuazú, interior boliviano, no final do ano de 1966. Em março de 1967, a guerra começou.

A Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, a famigerada CIA, acompanhava os passos de Che. Ela participou direta ou indiretamente de todos os golpes de Estado ocorridos na América Latina, para garantir a continuidade do domínio imperialista dos EUA.

Mas a CIA não é onipresente. Seus dirigentes acreditavam que Che tinha morrido no Congo. Eles só desconfiaram que o comandante Ramon era o Che, com a prisão de dois desertores da guerrilha, fato que ocorreu logo após as primeiras escaramuças. E tiveram a confirmação com a captura de Régis Debray, escritor francês, e Ciro Bustos, enviado por Che para abrir uma frente guerrilheira na Argentina. Debray não suportou a tortura e revelou que “Ramon” era, na verdade, Ernesto Guevara, el Che.

Desde então, o governo dos EUA agiu rápido, pois não acreditava na capacidade das Forças Armadas Bolivianas, que, aliás, até o momento sofrera apenas derrotas. É o que afirma o principal agente enviado pela CIA para orientar e acompanhar a operação, Félix Rodriguez Lopez, o capitão Ramos. Ele era cubano de origem, se naturalizara norte-americano e combatia a Revolução desde o início. Afirma Lopez: “…O Exército boliviano estava totalmente despreparado para enfrentar uma guerrilha. A maior parte dos soldados trabalhava na construção de estradas e provavelmente jamais dera um tiro de fuzil. Nos primeiros embates, os guerrilheiros aprisionavam os soldados, tiravam suas roupas e os soltavam..”.

A Intervenção da CIA

Imediatamente, um grupo de “boinas verdes”, tropa especializada no combate a insurreições foi enviada para treinar o Exército da Bolívia, tendo formado o corpo de RANGERS, que recebeu a missão de desbaratar o grupo guerrilheiro e caçar o Che. Félix Rodriguez chegou à Bolívia no dia 1º de agosto.

Sem o apoio do Partido Comunista Boliviano, que fez exigências impossíveis de serem aceitas por Che, como a de ficar com o controle total da guerrilha (Che concordava em ceder apenas o comando político, ficando com o militar), sem o apoio dos camponeses, uma vez que na área escolhida não havia nenhum trabalho político prévio, o grupo ficou isolado.

Che dividira sua pequena tropa em duas colunas, uma comandada por ele e a outra por Juan Joaquin Vitalio Acuna. Joaquin participou da coluna de Che durante todo o período da guerra revolucionária em Cuba, assumindo função de comando nos últimos dias antes da tomada do poder. Era o mais velho do grupo, com 41 anos.

Em agosto, os dois grupos tinham perdido o contato e estavam à procura um do outro. A coluna de Joaquin, entretanto, traída por Honorato Rojas, o único camponês da região que estava apoiando a guerrilha, sofreu uma emboscada. Todos foram exterminados, inclusive a lendária Tania, a militante comunista alemã Tamara Bunke.

No início de outubro, foram cercados os vinte homens que restavam.  Apenas cinco combatentes escaparam: três cubanos (Harry Pombo Villegas, Dariel Alarcón Ramirez –Benigno e Leonardo Urbano Tamayo) e dois bolivianos (Inti Peredo e David Adriazola –Dario).

Che atirava por trás de um rochedo, quando um tiro inimigo inutilizou sua carabina M-2.  Sem a arma e ferido por uma bala na perna esquerda, o Comandante foi capturado e aprisionado numa escola do povoado de La Higuera. Era 8 de outubro de 1967.

Assassinato a sangue frio!

No dia seguinte, o grande revolucionário foi assassinado friamente. O executor foi o sargento Mario Terán, que pediu para fazê-lo porque queria se vingar de três colegas mortos no combate do dia anterior.

E quem deu a ordem de execução? Segundo Félix Rodriguez, foram as autoridades bolivianas, pois a CIA queria que Che fosse levado para a base militar estadunidense no Panamá, onde seria interrogado. A ordem teria partido do próprio presidente, o ditador-general Renê Barrientos.  Mas Félix Rodriguez reconhece que poderia desobedecer Zenteno Anaya, chefe militar que recebera as ordens de matar Che, retirá-lo dali e levá-lo para o Panamá, pois havia aviões norte-americanos esperando para transportá-lo, mas preferiu não fazê-lo.  E ainda colaborou com a farsa de que Che havia sido morto em combate, ao orientar o sargento Terán a atirar do pescoço para baixo, para passar a impressão de que não houvera a execução de um prisioneiro sem o devido processo legal, contrariando as regras internacionais de tratamento dos presos em combate. Não apenas Che, mas todos os outros prisioneiros foram assassinados friamente.

Félix Rodrigues acompanhou o corpo de Che no helicóptero que o conduziu para a cidade de Vallegrande, onde ficou exposto ao público e depois foi sepultado clandestinamente, com as mãos decepadas. Os restos mortais só viriam a ser encontrados 30 anos depois, graças às revelações do general Vargas Salinas e do major Andrès Selich, que comandaram a operação de execução e ocultação do cadáver.

Che vive, já os seus algozes….

Quase todos os que participaram do assassinato de Che Guevara tiveram fim trágico e estão lançados na lata de lixo da história. Alguns exemplos:

  • General René Barrientos Antuño, presidente da Bolívia na época e um dos que decidiram pela execução de Guevara: morreu carbonizado num acidente de helicóptero em abril de 1969. As circunstâncias do ocorrido nunca foram completamente esclarecidas
  • Major Andrés Selich, chefe dos rangers que capturaram Che e um dos últimos a falar com ele em La Higuera: morreu sob tortura em 1973, durante a ditadura do general boliviano Carlos Hugo Bánzer
  • General Juan José Torres, chefe do Estado-Maior do Exército e um dos que decidiram a morte de Che: foi assassinado na Argentina em fevereiro de 1976, durante a “guerra suja”
  • Coronel Joaquín Zenteno Anaya, comandante da zona militar onde ocorreu o assassinato de Che: morreu vítima de um atentado fatal em Paris. Quem assumiu o assassinato foi a desconhecida “Brigada Internacional Che Guevara”
  • Coronel Toto Quintanilla, um dos principais chefes da polícia política na Bolívia durante o governo Barrientos: após a execução de Guevara, preocupado com possíveis atentados, pediu para ir para a Alemanha, onde trabalhou como cônsul em Hamburgo. Foi assassinado em novembro de 1970, num atentado assumido pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), grupo peruano revolucionário criado e dirigido por Hector Bejar e Juan Pablo Chang, este morto com Che na guerrilha
  • General Gary Prado, prendeu Che Guevara: em 1981, foi baleado numa reunião de militares e ficou paraplégico.
  • Honorato Rojas, o agricultor que havia delatado o grupo de Joaquin e preparado a emboscada em 31 de agosto (que acabou com a morte de nove guerrilheiros): foi encontrado e executado em 14 de julho de 1969, pelo ELN.

Já o Che, continua mais vivo do que nunca nas mentes e nos corações de milhões de pessoas em todo o mundo. Desde o povoado de La Higuera, onde foi morto, até as selvas mexicanas (zapatistas), os movimentos populares latino-americanos,  Europa, Ásia, África e o próprio coração do Imperialismo, os EUA.  Para o povo de La Higuera, ele é um santo a quem recorrem em suas necessidades; para os demais, é exemplo do Homem Novo, coerente, íntegro, pleno de profundo sentimento de amor, capaz de renunciar a tudo e doar a vida pela causa da libertação dos oprimidos. Assim falava, assim o fez. Hasta La Victoria, Siempre, Comandante!”

Nota: por proposta do presidente Fidel Castro, a celebração a Che Guevara ocorre mundialmente no dia 8 de outubro, data do seu último combate, e não no dia de sua morte.

José Levino é historiador

Celia Sánchez: a flor mais autóctone da revolução

Seu nome está nas ruas, nas praças, escolas e, principalmente em inúmeras meninas que, em todo o país, levam seu nome, numa homenagem das suas mães à heroína do povo cubano.

Ela, que amava a natureza, cultivava belos jardins floridos, foi denominada por Fidel como “A flor mais autóctone da revolução”.

Celia Sánchez Manduley, fundadora e dirigente do Movimento 26 de Julho na Província do Oriente, nasceu no dia 9 de maio de 1920, na localidade de Media Luna, Província Oriental de Cuba. Foi uma dos(as) nove filhos (as) de doutor Manuel Sánchez e Acácia Manduley. Seu pai era médico e atendia os camponeses com muita eficiência e solicitude; era muito querido na região. Pertencia ao Partido do Povo Cubano, mais conhecido como Partido Ortodoxo. Ainda adolescente, Célia ingressou no setor jovem do Partido ao qual pertencia Fidel Castro, então estudante de Direito em Havana.

Como o Partido era de tipo populista, combatia a corrupção e as multinacionais, mas era limitado pela ideologia pequeno-burguesa, Fidel procurou organizar à parte a Juventude, em defesa de uma linha revolucionária, voltada para os interesses dos camponeses e dos pobres, guiado pelo marxismo e pela pensamento de José Marti.

Organizando o Movimento 26 de Julho 

Célia integrou-se ao grupo, que congregava cerca de 1.500 pessoas. Quando o ditador Fulgêncio Batista implantou uma ditadura, impossibilitando a ação oposicionista por meios institucionais, Fidel traçou uma estratégia de tomada do poder por meio das armas. Considerava que as condições objetivas estavam dadas em Cuba; faltava apenas uma vanguarda reconhecida pelas massas. Dizia “É preciso movimentar a roda menor para a roda maior entrar em ação”. A ação concebida para pôr a roda menor em movimento foi o ataque ao quartel Moncada. O objetivo era distribuir armas com o povo, que seria convocado pelas emissoras de rádio. 150 jovens participaram do assalto ao Moncada (não havia armas para número maior) no dia 26 de Julho de 1953, razão pela qual a organização recebeu o nome de Movimento 26 de Julho (M-26/7).   Os revolucionários não conseguiram o objetivo imediato. Houve poucos sobreviventes, entre os quais Fidel, mas o Movimento ganhou a credibilidade e a confiança do povo e tornou-se realmente a sua vanguarda na luta pela libertação, que aconteceria apenas seis anos depois de Moncada.

1953 foi o ano do centenário de nascimento de José Marti, poeta, filósofo e símbolo da luta pela Independência de Cuba. Meses antes do ataque a Moncada, Celia Sánchez, juntamente com seu pai e vários companheiros do Movimento  fizeram homenagem a Marti, colocando um busto dele no ponto mais alto do monte Turquino. A quem afirmava que isso era loucura, ela respondia: “Nada disso, é para quando as pessoas passarem por aqui lembrarem que falta concluir a obra que Marti começou”.  Ela não participou do assalto a Moncada, mas logo depois do massacre, engajou-se ativamente na campanha financeira para ajudar os prisioneiros e suas famílias.

Com sua simpatia, dedicação, conhecimento da região e do seu povo, Célia organizou o movimento na região oriental, juntamente com Frank País e criou uma rede humana para apoiar a guerrilha libertadora. É esse trabalho de mobilização, organização e conscientização popular, que explica a proeza de doze homens, sobreviventes do desembarque do Granma, terem, em pouco tempo, se tornado um invencível Exército Rebelde, que tomou o poder apenas 25 meses após o episódio sobre o qual Che Guevara costumava dizer: “Não foi um desembarque, foi um naufrágio”. Se tivessem desembarcado no local combinado, teriam encontrado dezenas de homens liderados por Celia, com caminhões, caminhonetes, toda a infraestrutura necessária para conduzi-los a Sierra Maestra.

Quando espalharam o boato da morte de Fidel nos primeiros ataques após o desembarque (70 expedicionários mortos), a angústia foi generalizada. Celia, entretanto, embora extremamente abalada, manteve o ânimo e levantou o moral dos companheiros, afirmando: “É mentira de Batista, Fidel Vive”! Estava certa. “Foi Norma quem nos deu o alento necessário, quem nos ajudou a manter viva a esperança”, relata Julio M. Llanes em Celia, nossa e das flores.

Da base de apoio ao combate na serra

Norma ou Aly (codinomes de Celia) foi o elo entra a montanha e a planície, organizando o fornecimento de remédios, alimentos, roupas e a condução de novos combatentes que foram se incorporando à guerrilha. O Exército sabia disso e a procurava com ordens de assassiná-la, mas nunca o conseguiu. Ela sabia se disfarçar muito bem e, segundo o povo, passava sob as narinas dos soldados e eles nem desconfiavam.
Ela queria combater. Insistiu em ir para o México e ajudar nos preparativos da expedição, mas Frank País a convenceu de que sua atuação era mais necessária na base de apoio. Deixando a base organizada, Celia subiu a serra em maio de 1957 e se incorporou ao Exército Rebelde, tendo se transformado em brava guerrilheira. Desde então, tornou-se auxiliar direta de Fidel, até sua morte. Mais que auxiliar, amiga íntima, responsável pela organização da vida pessoal do Comandante, a única pessoa que criticava erros de Fidel, sem rodeios, embora diante de outras pessoas garantisse que ele sempre tomava as decisões certas.

Foi a primeira guerrilheira da Sierra. Depois, outras mulheres seguiram o caminho aberto por ela, que demonstrou ser a mulher capaz de assumir as mesmas tarefas dos homens. Prova disso foi sua participação em pé de igualdade no ataque ao Quartel Uvero, a primeira grande vitória da guerrilha sobre o Exército de Batista.

Em Sierra Maestra, além de combater, Célia atuou como secretária e memória viva da guerrilha, pois guardava todos os documentos, papéis, anotações, palavras e discursos de Fidel, até as piadas que o Comandante contava em momentos de descontração. A quem considerava um exagero guardar tudo, ela afirmava: “Há muitos papéis sem importância hoje, mas para o futuro e para a história, serão de grande valor”. Todos os detalhes e o dia-a-dia da guerra são conhecidos graças ao Diário de Che Guevara e à documentação de Célia.

Secretária, conselheira, defensora da cultura e das flores

Célia integrava o Comitê Central do Partido Comunista Cubano, fundado em 1965, que unificou o Movimento 26 de Julho e o Partido Socialista Popular. No Governo, foi secretária do Conselho de Estado e destacou-se como defensora e difusora da história, das artes, da moda, da comida e de todas as formas de manifestação da nacionalidade cubana, assistiu o Comandante como amiga e conselheira, além de defender a natureza e cuidar das flores. Morreu, vitimada por um câncer, no dia 11 de janeiro de 1980.

A casa em que nasceu foi transformada no Museu da Casa Natal de Celia, repleto de documentos e objetos pessoais relacionados com a grande revolucionária, incluindo álbuns fotográficos de sua família.

O monumento erguido em sua homenagem no Parque Lênin, projetado por ela no subúrbio de Havana, um dos lugares que mais admirava, está sempre coberto por centenas das flores que ela tanto amava.
Seu nome está nas ruas, nas praças, escolas e, principalmente em inúmeras meninas que, em todo o país, levam seu nome, numa homenagem das suas mães à heroína do povo cubano.

Nada melhor para concluir estas linhas sobre Celia Sánchez que as palavras pronunciadas por Armando Hart, presidente do Centro de Estudos Martianos: “Para medir quem foi esta nossa irmã, basta sublinhar que é impossível escrever a história de Fidel Castro sem relacioná-la à vida de Célia Sánchez Manduley”.

José Levino, historiador

Trabalhadores de Suape fazem nova greve

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As instalações da Refinaria de Suape, das três fábricas da Petroquímica Abreu e Lima e do Estaleiro Atlântico Sul somam um investimento de cerca de R$ 6 bilhões. Aproximadamente 100 empresas privadas participam da estruturação do complexo. Esse é um dos maiores investimentos do Brasil. Mas apesar de todo esse investimento, os trabalhadores têm recebido baixos salários e suas condições de trabalho são péssimas.

Mesmo sendo os trabalhadores os verdadeiros responsáveis pelo levantamento dessa obra, apenas os patrões têm obtido grandes lucros. Diante dessa situação, a categoria, insatisfeita, já tem levantado sua voz contra a exploração e, desde o início novembro de 2010, vem exigindo salários justos e melhores condições de trabalho.

Foram diversas greves, manifestações, enfrentamentos com a Justiça, atos contra os péssimos alojamentos, fechamento de BRs, enfrentamento com a policia e com a própria direção do sindicato. Só este ano já houve duas greves; na primeira, em maio, os trabalhadores passaram uma semana de braços cruzados.

A segunda paralisação começou na manhã do dia 1º de agosto: 35 mil operários realizaram uma grande assembleia na qual decidiram fazer a greve por 15% de aumento no salário; reajuste na cesta básica de R$ 160 para R$ 300; folga de campo de cinco dias a cada 90 dias trabalhados, com pagamento de passagem aérea, pela empresa, para os que residem a mais de 1.000 km de distância; e pagamento de 100% das horas extras aos sábados.

Durante a greve o Governo do Estado e o Ministério Público do Trabalho se apressaram para mediar as negociações e, ao fim de uma semana de greve, os trabalhadores conquistaram um aumento de 11% no salário, elevação do preço da cesta para R$ 200 e folga de campo a cada 90 dias, com passagens pagas pelas empresas, além do pagamento de 100% dos dias parados na greve atual e de 50% na de maio.

Esses operários têm demonstrado bravura em sua luta, em nenhum momento se intimidando diante das ameaças dos patrões nem das dificuldades criadas pelo Sintepav, que tem em sua direção a Força Sindical. O sindicato pelego tentou impedir a greve de várias maneiras, até mesmo agredindo fisicamente quem entregava panfleto na entrada da obra. Ainda na paralisação de maio, na tentativa de intimidar a categoria para pôr fim à greve, um capanga do Sintepav, em plena assembleia, atirou e feriu um trabalhador que defendia a continuação da greve. Mas apesar de todas as manobras os operários continuaram na luta e conseguiram vitórias.

Ainda há muito a conquistar e, por isso, a cada dia continua a luta por um salário melhor e por dignas condições de trabalho, além do pagamento de 100% das horas extras trabalhadas aos sábados.

Movimento Luta de Classes (MLC)

Construção civil para em Belo Horizonte

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Todos sabem que a prioridade no Brasil é a Copa de 2014. Reformas e construções por todo o país, licitações suspeitas e corridas e o descaso pelo trabalhador são características que compõem essa prioridade. Como justificativa, o governo propagandeia noite e dia – é claro – os benefícios que um evento como esse trará ao país, a exemplo de emprego, renda, desenvolvimento econômico e investimentos.

Mas, aqueles que constroem essas obras são superexplorados e mal pagos. Assim, mal termina uma greve e já se inicia outra, entre os operários da construção civil de Belo Horizonte. Os primeiros a demonstrar sua revolta foram os operários da obra do Estádio Governador Magalhães Pinto, conhecido como Mineirão, que receberá os jogos da Copa. No dia 15 de junho (uma quarta-feira) ,mais de 500 operários declararam greve, reivindicando aumento salarial, pagamento de 100% de horas-extras, cesta básica mensal de 30 kg e participação nos lucros, além de melhores refeições e instalação de chuveiros quentes. Segundo o sindicato que representa a categoria, apenas três dos 20 chuveiros funcionavam e a comida, muitas vezes, era servida quase crua. A paralisação durou pouco. Em cinco dias o governo do Estado atendeu a todas as reivindicações dos trabalhadores, claro, antes de o acontecimento tomar projeção e virar exemplo. Mas foi tarde demais.

No dia 3 de julho os trabalhadores das obras da Avenida Antônio Carlos, uma das vias de acesso ao Estádio Mineirão, declararam greve. As reivindicações eram as mesmas que fizeram os trabalhadores do Estádio Mineirão, poucos dias antes. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de BH, a greve teve a participação de 180 operários.

No dia 7 de julho os operários das obras de construção da base aérea de Lagoa Santa (Região Metropolitana de BH), também entraram em greve. Aproximadamente 900 trabalhadores suspenderam o trabalho contra o descaso do governo e a exploração da empresa responsável pela obra. As reivindicações eram praticamente idênticas às dos trabalhadores do Mineirão – aí se vê a força do exemplo. Segundo o sindicato, em muitas refeições era servida comida estragada.

As empresas responsáveis pela obra da Avenida Antônio Carlos são a Cowan e a Delta, que formam o consórcio Integração. Já a reforma do Mineirão é feita pelo Consórcio Minas Arena, formado pelas empresas Construcap S.A. Indústria e Comércio, Egesa Engenharia S.A. e Hap Engenharia Ltda. E a empresa responsável pela construção da base aérea de Lagoa Santa é a Schain Engenharia.

Enquanto esses trabalhadores são explorados e malpagos, as obras para a Copa de 2014 são investigadas pelo Tribunal de Contas do Estado de MG, por superfaturamento e contratação de serviços sem licitação. De acordo com relatório do TCE, foram feitos pagamentos por serviços não executados, contratação de obras, bens e serviços por preços superiores aos praticados pelo mercado e fortes indícios de crime contra a licitação. Este é o preço que os governos e empreiteiras querem que os trabalhadores paguem pela Copa, mas a classe operária mostra que sua organização e sua luta têm força para combater a exploração.

Sabrina Santana e Renato Campos – MG

Trabalhadores reivindicam divisão de lucros da Petrobras

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Em 2010, a Petrobras teve um lucro recorde de R$ 35,2 bilhões, 19,5% maior do que o alcançado em 2009. No entanto, a PLR (isto é, a participação nos lucros e resultados) proposta pela companhia, a ser dividida entre os mais de 70 mil petroleiros, não foi recorde: chegou apenas a 14% do montante distribuído aos acionistas. Além disso, esta quantia não é distribuída de forma homogênea, e o trabalhador de nível mais baixo é o que menos recebe, enquanto somente sete diretores da empresa receberam R$ 2,801 bilhões e os acionistas, R$ 11,718 bilhões. Cabe ressaltar que, entre os acionistas estão Rockefeller, Eike Batista e Jorge Gerdau, entre outros. Para piorar, o governo federal detém apenas 40% de participação do total do lucro destinado aos acionistas.

A proposta do Sindipetro-RJ e dos demais sindicatos é que seja pago aos trabalhadores 25% do que é distribuído aos acionistas, o que daria cerca de R$ 43 mil para cada petroleiro, já que fomos nós, os petroleiros, com o nosso trabalho, os responsáveis pelo lucro recorde que a empresa atingiu. Além disso, houve um crescimento da PLR, em relação a de 2009, de apenas 12,44% para a categoria, enquanto, para os acionistas, a PLR cresceu 40,42% e, para os diretores da empresa, 55,44%.

Para garantir a reivindicação, a categoria, em assembleias convocadas pelos Sindipetros de todo o país, deliberou ir à luta, realizando atrasos nos turnos e expedientes, a não emissão de permissões de trabalho (PTs) nas áreas operacionais – plataformas, refinarias e terminais de oleoduto e gasoduto – e até paralisações em algumas refinarias (Reduc) e terminais (TABG- Ilha do Governador).

Vergonhosamente, a gerência executiva de Recursos Humanos da quarta maior empresa de energia do mundo manteve-se intransigente, concedendo apenas R$ 1 mil a mais em relação à proposta anterior. Essa postura da empresa coloca a necessidade de os petroleiros lutarem pela incorporação dos lucros ao salário, a exemplo dos companheiros bombeiros, pois a PLR é uma forma de precarização do trabalho, visto que não é descontada para o fundo de previdência.

Os trabalhadores da refinaria de Duque de Caxias-RJ, a Reduc, entraram em greve e esperam que isso venha temperar a categoria não apenas para exigir mais ganhos, mas também para realizar greves a fim de conquistarmos, com o apoio do restante do povo, uma Petrobras 100% estatal e pública. Esta luta educará os trabalhadores no combate pela conquista do socialismo, pois só por meio dele garantiremos que a riqueza gerada pela Petrobras seja usada não apenas para a melhoria de nossas condições de vida e trabalho, mas em proveito de todo o povo brasileiro. Não podemos esquecer que foi a luta do povo que criou, na década de 50, a Petrobras.

Dieguito Silva, petroleiro no Rio de Janeiro

Greve vitoriosa na Companhia de Água da Paraíba

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Após três dias de uma combativa greve (de 04 a 06 de julho), os servidores da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) obtiveram diversas vitórias. A principal conquista foi a demissão de mais de 500 apadrinhados que recebiam altos salários como “cargos comissionados”, resultando na convocação de mais de 300 novos funcionários, aprovados no último concurso público. Também foi lançado edital de licitação para aquisição, em grande quantidade, de equipamentos de proteção individual e coletiva, e assegurada a instalação de uma comissão permanente para acompanhar o pagamento das horas-extras, que, em muitos casos, não vinham sendo pagas.

A greve foi organizada pelo Sindicato dos Urbanitários da Paraíba (Stiupb) e pelo Movimento Luta de Classes (MLC), após mais de dez anos sem que algo parecido acontecesse nesta categoria. O eixo principal das reivindicações era a melhoria imediata das condições de trabalho e a defesa de uma Cagepa 100% pública.

Além disso, a unidade dos trabalhadores e trabalhadoras derrotou todas as pressões dos chefes setoriais e a torcida contra de alguns, realizando a grande denúncia nos veículos de comunicação da Paraíba sobre os problemas enfrentados pelos funcionários dentro da empresa.

Para Wilton Maia, presidente do Stiupb e membro da Coordenação Nacional do MLC, “estamos todos de parabéns, pois realizamos uma greve histórica, já que nossos inimigos são fortes, e o nosso Sindicato ainda vive um momento de transição, com pouquíssimos recursos e ainda com uma categoria que só agora aprender a lutar, pois não possuía um sindicato de verdade há mais de vinte anos”.

Redação PB