UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 18 de setembro de 2025
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Sepé Tiaraju, líder da República Comunista Guarani

Sepé Tiarajú, líder da República Comunista Guarani

A cruz e a espada

Quando os invasores portugueses resolveram ocupar a terra brasileira para plantar cana-de-açúcar e explorar minérios, procuraram resolver o problema dela já ter dono de duas maneiras. Uma, tentando o apoio dos indígenas, e a outra, eliminando ou escravizando aqueles que não quisessem se submeter. Para o meio pacífico foi utilizada a Igreja Católica, através dos seus padres, denominados missionários, especialmente os jesuítas. Os missionários eram sutis: aprendiam as línguas dos índios, seus costumes, e aí introduziam os cânticos da Igreja, suas pregações na língua indígena e ganhavam sua confiança. A seguir, tiravam os indígenas dos seus lugares de moradia, queimavam suas roças e casas , separavam homens e mulheres e os levavam para viver junto dos brancos a quem passavam a servir como escravos ou semi-escravos.

Mas não eram muitos os indígenas que se deixavam levar pela conversa mansa dos missionários, quando então eram dominados pela força das armas. Os índios lutavam – há muitas histórias de bravura, há registros de vitórias significativas, mas como o armamento era muito inferior ao dos brancos, acabavam sendo vencidos, mortos impiedosamente – especialmente os velhos e as crianças e os sobreviventes escravizados.

Nas Missões os índios eram proibidos de praticar seus costumes e tinham de seguir a religião católica. Os padres não tinham nenhum respeito pela cultura indígena, pois consideravam os índios seres inferiores. Até o famoso José de Anchieta, festejado pela História Oficial como amigo dos índios, disse certa vez que para eles “ não há melhor pregação do que espada e ferro”.

Uma missão especial

Na fronteira com o Paraguai, numa região hoje situada no Estado do Rio Grande do Sul, viviam índios da nação Guarani . Eles também receberam um grupo de jesuítas. Esses missionários, entretanto, pensavam diferente da Igreja oficial e da maioria dos seus colegas. Eles respeitavam a cultura indígena e defendiam que a terra era dos nativos, não podendo ser tomada por ninguém. Queriam que os índios se convertessem ao cristianismo, mas a partir da identificação da vida comunitária e solidária que levavam, com os princípios cristãos do amor ao próximo e do desapego às riquezas. Esses padres achavam que os guaranis reproduziam a vida dos primeiros cristãos contada nos Atos dos Apóstolos, onde todos colocavam o que tinham à disposição dos outros e não havia necessitados entre eles.

Uma república comunista

A Sociedade que empolgou o grupo de jesuítas tinha as seguintes características:

1. Davam ou trocavam entre si as coisas de que precisavam;
2. As terras e os bens de produção eram coletivos;
3. A sociedade era comunitária, o trabalho coletivo, havia ajuda mútua e solidariedade.

Os missionários integraram-se na vida dos guaranis e contribuíram com seu senso de organização. Assim, os povos foram organizados em sete aldeias que organizavam sua vida através de assembléias específicas na qual escolhiam uma coordenação. Discutiam também questões relativas ao conjunto e levavam suas propostas à Assembléia Geral dos Sete Povos, onde era eleita uma coordenação central. Funcionava de fato o poder popular. Naturalmente a síntese cultural não se deu de forma linear entre os indios e os jesuítas. Houve um momento, por exemplo, em que os padres cederam às pressões dos superiores e tentaram introduzir a propriedade privada, estabelecendo o trabalho em roças individuais durante alguns dias da semana. Os guaranis reagiram da seguinte forma: nos dias do trabalho individual, todos ficavam em casa deitados, conversando ou brincando pelas aldeias. Nos dias do trabalho coletivo, iam todos juntos para as roças, cantando alegremente. Construíram uma vida harmoniosa, solidária, sem exploração, onde o homem era irmão do homem e não o lobo. Por isso, a experiência ficou conhecida como República Comunista Guarani, pois tudo era comum e não havia superiores e subordinados entre eles.

Sepé Tiarajú– Quem conhece a liberdade não aceita a escravidão

A região dos Sete Povos das Missões estava no domínio do invasor espanhol que não tinha interesse nela, pois estava muito ocupado com o ouro e a prata do México e de outras nações que conquistara. Mas para resolver conflitos com os portugueses, os reis das duas nações invasoras fizeram nova divisão da América do Sul – O Tratado de Madri – que, assinado em janeiro de 1750, passava para o domínio português a região das missões. Os portugueses , a essa altura, não deixavam escapar o menor pedaço de terra sob o seu poder, querendo assim aumentar o poderio perante os outros países europeus.

Assim, acabou-se a paz dos guaranis que não aceitaram se retirar dos seus territórios. “Essa terra já tem dono”, diziam eles e passaram a organizar a resistência. Os padres ainda tentaram a interferência dos seus superiores da Igreja Católica para evitar a invasão, mas estes não lhes deram a menor atenção. Foi aí que se destacou a capacidade de liderança e de estrategista de um jovem de 27 anos, Sepé Tiaraju. Portugueses e espanhóis montaram um exército comum que foi derrotado em duas ocasiões pelo povo guarani, embora com armamento inferior .

Certa vez, caindo numa cilada, Sepé entrou num quartel português, de onde saiu ileso, apesar de receber uma saraivada de balas de todos os lados. A partir de então passou a ser ainda mais admirado pelo seu povo e temido pelos invasores que consideravam ser ele um ser sobrenatural. Na batalha final, travada em 7 de fevereiro de 1756, Sepé acabou cercado sozinho por mais de mil homens e ainda lutou muito tempo até tombar bravamente, aos 33 anos, depois de ferir o soldado que o acertou.

Sepé não era sobrenatural, como pensavam os invasores. Sua energia, sua bravura e as vitórias que obtinha eram inteiramente naturais, vinham do seu povo: Do amor à liberdade , do horror à escravidão, da defesa de sua terra.

Foram seis anos de resistência. Sepé tombou em combate. Seu povo foi vencido, escravizado e disperso. Alguns ainda lutaram em guerrilhas contra o invasor por vários anos. Jamais morrerá, entretanto, o seu exemplo,

O modelo econômico que o capitalismo invasor implantou no Brasil está esgotado. As classes dominantes (a burguesia e os latifundiários) não tem mais sequer a escravidão assalariada para o povo que, em sua maioria, sobrevive de biscates, de esmolas e de forma marginal.

Um povo que luta um dia vencerá

Mas este povo luta, de todas as formas possíveis, por emprego, por salário, por terra, por teto, por uma vida digna, enfim.

Chegará o dia em que os oprimidos não suportarão mais tanta exploração e seguindo, em todo o país, o caminho apontado pelos guaranis, pelos quilombos, por Canudos e por tantos outros, serão invencíveis. Aí a vida comum e solidária será retomada e algum historiador escreverá uma obra registrando a caminhada do nosso povo desde a República Comunista Guarani até a República Comunista de todo o Povo Brasileiro.

Luiz Alves

(Publicado no Jornal A Verdade nº 5)

Mais de 11 milhões de brasileiros vivem em moradias irregulares

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Mais de 11 milhões brasileiros vivem em moradias irregularesO Brasil tinha 11,42 milhões de pessoas morando em favelas, palafitas ou outros assentamentos irregulares em 2010. O número corresponde a 6% da população do País e consta do estudo Aglomerados Subnormais, realizado com dados do último Censo e divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A comparação com levantamento realizado há 20 anos indica que quase dobrou, no período, a proporção de brasileiros que moram nessas áreas, em condições precárias. Em 1991, 4,48 milhões de pessoas (3,1% da população) viviam em assentamentos irregulares, número que aumentou para 6,53 milhões (3,9%) no Censo de 2000.

O IBGE ressalva que, apesar de o conceito de aglomerado subnormal ter permanecido o mesmo desde 1991, foram adotadas inovações metodológicas e operacionais no Censo 2010 e que, por isso, a comparação dos dados “não é recomendada”. O objetivo da mudança, segundo o instituto, foi aprimorar a identificação de favelas. Entre as inovações adotadas em 2010, houve o uso de imagens de satélite de alta resolução e a realização de uma pesquisa específica para melhorar a informação territorial.

Ao todo, foram identificados 6.329 aglomerados subnormais em 323 municípios do País. Trata-se de um fenômeno majoritariamente metropolitano – 88,2% dos domicílios em favelas estavam concentrados em regiões com mais de 1 milhão de habitantes. As regiões metropolitanas de São Paulo, Rio e Belém, somadas, concentravam quase a metade (43,7%) do total de domicílios em assentamentos irregulares do País. Mapas preparados pelo IBGE mostram grande diferença na distribuição desse tipo de moradia. Em São Paulo, por exemplo, predominam áreas de pequeno porte e concentradas na periferia, ao contrário do Rio, onde há um espalhamento maior pelo território.

Em Belém, mais da metade da população (54,5%) vivia em assentamentos irregulares em 2010. É a maior proporção do País. No município do Rio, eram 22%. Em São Paulo, 11%. Campo Grande foi a capital com menor proporção de população em moradias desse tipo – 0,2% dos habitantes.

A região Sudeste concentrava metade (49,8%) dos domicílios ocupados em aglomerados subnormais do País, com destaque para os Estados de São Paulo (23%) e Rio de Janeiro (19%). A região Nordeste tinha 28,7% do total, a Norte 14,4%, a Sul 5,3% e a Centro Oeste 1,8%.

O perfil do morador de favelas apurado pelo IBGE mostra que a idade média nessas áreas era de 27,9 anos em 2010, ante 32,7 anos nas áreas regulares dos municípios. A população na faixa de 0 a 14 anos correspondia a 28,3% do total nas favelas, enquanto nas áreas urbanas regulares essa proporção era de 21,5%. Já na faixa de 60 anos ou mais, era de 6,1% nos aglomerados e de 11,1% nas urbanizadas regulares.

A densidade média de moradores é mais alta nos domicílios em favelas do que nas áreas urbanas regulares dos municípios. Essa diferença é mais acentuada nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, mas a região Norte apresentou as maiores médias de moradores por domicílio em assentamentos irregulares: no Amapá, chegou a 4,5. A média nas favelas do Estado de São Paulo foi de 3,6 moradores por domicílio. Já nas áreas urbanas regulares, a média ficou em 3,2.

Além da população mais jovem, as favelas também concentravam um número maior de pessoas que se declararam pretas ou pardas do que áreas urbanas regulares dos municípios. O percentual de pretos e pardos nas favelas chegou a 68,4%, ante 46,7%.

O IBGE destaca, na publicação, que os investimentos em habitação e saneamento “não foram suficientes para atender à forte e crescente demanda” de pessoas que sucessivamente se deslocaram para cidades em busca de oferta de trabalho.

Fonte: Agência Estado

I Encontro do Movimento de Mulheres Olga Benário na PB

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Matéria realizada pela TV Clube sobre o Primeiro Encontro Estadual do Movimento de Mulheres Olga Benário na Paraíba, que teve sua abertura realizada no auditório do Hospital Universitário Lauro Wanderley.

Estudantes entram em greve no Canadá contra aumento das mensalidades

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Greve de estudantes em Quebec, Canadá, contra aumento das mensalidadesCerca de 36 mil estudantes na província de Quebec, Canadá, deixaram suas salas de aula logo no retorno das férias para uma greve tática contra uma tentativa de aumento das mensalidades por parte do governo.

Inicialmente com a participação de apenas 10% do total de estudantes, a greve, uma vez iniciada, teve uma adesão vertiginosa nos dias seguintes.

O governo pretende praticamente dobrar o valor das mensalidades, que iria de $2.200 para $3.800 num prazo de cinco anos, o que foi entendido pelos estudantes como uma declaração de guerra. Os alunos dizem que a educação é um direito fundamental e que o aumento irá tirar várias pessoas das escolas.

“Do nosso ponto de vista não se trata de fazer a educação menos e menos acessível, como é a proposta do governo liberal”, diz o estudante Gabriel Nadeau-Dubois. “Precisamos fazer um debate sobre a educação pública, que é uma escolha já feita por vários países e algo plenamente possível em Quebec.”

Um representante dos estudantes afirmou que o governo de Quebec pode investir mais no ensino sem espremer os estudantes. De fato, ele diz, o governo poderia até tornar o ensino gratuito impondo novos impostos sobre os bancos e as mineradoras.

Um porta-voz da polícia de Montreal afirmou que 37 estudantes foram presos na última semana após a ocupação da faculdade da cidade, e que todos responderão a processo. Os estudantes haviam erguido barricadas na faculdade mas foram cercados e presos pouco após a meia noite da última sexta.

Juventude e trabalhadores nas ruas contra a crise na Espanha

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O último dia 19 foi de intensas mobilizações na Espanha, e, mesmo durante o período do Carnaval, milhares de manifestantes realizaram protestos nas principais cidades do país, contrários às novas medidas de “austeridade” apresentadas pelo Governo.

Acontece que os efeitos da crise têm se tornado cada vez mais graves contra as economias dos países europeus, e, para manter os privilégios dos bancos e grandes companhias, novos cortes são orquestrados pela União Europeia (UE). Com isso, os trabalhadores e a juventude veem diminuir seus direitos, e a consciência de que só através da luta é possível vencer a política da UE ganha força entre os espanhóis.

Ao todo foram 57 cidades, reunindo cerca de 500 mil pessoas, com a presença massiva dos sindicatos e dos jovens, voltando às ruas e a Praça do Sol em Madrid, palco das manifestações no ano passado.

 Mas quais são essas medidas?

Desde que assumiu o Governo, em dezembro, o Partido Popular aumentou os impostos e impôs um corte nos investimentos de 15 bilhões de euros (cerca de 34,5 bilhões de reais).  Para a UE, no entanto, ainda é pouco, e, de acordo com as metas de déficit, é preciso cortar mais 40 bilhões de euros (cerca de 92 bilhões de reais).

No início do mês, uma nova reforma trabalhista foi aprovada pelo Governo, retirando mais direitos e dando mais autonomia às empresas “em crise”. Isso acontece num país com 22,85% de desempregados, sendo que esse número é ainda mais grave entre os jovens, aproximando-se da marca de 50%.

Estudantes vãos às ruas em Valência

No dia 20, estudantes se confrontaram com a Polícia em diversos pontos de Valência, terceira maior cidade do país. Ao todo, foram 43 estudantes presos, segundo o jornal El País. Armados de livros, eles enfrentaram a força policial, que tentava impedir a manifestação contra os cortes no orçamento da educação.

A política de cortes levou à suspensão do sistema de calefação nas salas de aula, o que tem impedido a continuidade das aulas no rigoroso inverno europeu. Essa situação serviu de estopim para as manifestações, que se somam às manifestações contra a política de austeridade do Governo espanhol.

Fica cada vez mais claro que a luta contra o desemprego e por uma educação de qualidade passa por uma profunda transformação, seja na Espanha ou em toda a União Europeia. Mesmo sendo a quarta maior economia do continente, o país é um dos mais afetados pela crise, que é fruto não de uma má gestão governamental de um ou outro partido, mas sim dos desdobramentos da maior crise do capitalismo desde a Segunda Guerra Mundial.

Os jovens espanhóis que deram grandes provas de luta e disposição para defender seus direitos ao longo de 2011 não se calarão. Nesse ano, novas manifestações, com certeza, tomarão conta do país, denunciando o caráter dos “planos de austeridade” e preparando os trabalhadores e todo o povo para resistir contra os efeitos da crise.

Rafael Pires, São Paulo

Moçambique e a luta pela independência e por uma sociedade socialista

Desde que o português Diogo Cão (nome sugestivo) chegou à África em 1482, o Continente vem sendo saqueado pelos países imperialistas. A África foi retalhada pelos europeus: França, Inglaterra, Alemanha, Portugal, Bélgica, Itália e Espanha. A Moçambique, Vasco da Gama chegou em 1498. Em 1505, os portugueses já haviam dominado toda a região costeira.

Os movimentos nacionalistas africanos surgiram na década de 50. Em Moçambique, um passo fundamental se deu em 1962, no dia 25 de junho, com a criação da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), união de vários grupos nacionalistas articulados pelo doutor em Literatura, Eduardo Mondlaine, que foi o seu primeiro dirigente. Mondlaine foi assassinado em 1969, num atentado preparado pela repressão portuguesa com o apoio de traidores, que lhe enviaram um livro dentro do qual se encontrava um artefato com alto teor explosivo.

Escolhido para dirigir a Frelimo foi Samora Moisés Machel, um enfermeiro, poeta e lutador incansável, que gozava de intensa simpatia entre todos com os quais se relacionava.

Em que cenário se desenvolvia essa luta?

Um povo escravizado

Durante muitos anos, a principal atividade econômica desenvolvida pelos colonizadores foi o tráfico de escravos. Moçambique forneceu os bantos para as plantações de cana-de-açúcar do Brasil. Com a nossa independência, proclamada em 1822, Portugal passou a priorizar suas colônias africanas implantando uma estrutura econômica voltada, naturalmente, para atender aos interesses da metrópole.

Sob o domínio português, o povo moçambicano vivia sob a mais extrema opressão. O colonialismo provocava e incentivava os conflitos entre etnias e grupos. Na capital, Lourenço Marques (Maputo, depois da libertação), havia o bairro dos índios, o dos pretos, o dos portugueses pobres, o dos portugueses médios, o dos portugueses ricos. Essa divisão se espalhava por todo o país, entre camponeses e indígenas, entre nortistas e sulistas.

“Conduziam jovens do interior, como gado, nos caminhões e colocavam-nos para servir os colonizadores em regime de trabalho escravo. Lourenço Marques virou cidade da marginalidade, da mendicância, da prostituição oficializada. De um lado, o cimento, a opulência, o brilho. Do outro lado, a insegurança, a injustiça social, a discriminação, a pobreza, a escuridão da miséria”

“Toda a indústria concentrada nas mãos dos colonos. O moçambicano era empregado subalterno, simples executor, produtor desprezado, servente servil e sem dignidade, motorista sem categoria, operário anônimo, construtor da riqueza”.

Estabelecer o poder Popular e servir às massas

Em 1964, teve início a luta armada e no ano seguinte a Frelimo já controlava o Norte do país. Além das próprias forças, contava com o apoio da União Soviética e de outros países do bloco socialista.

Nas regiões liberadas, os revolucionários procuravam pôr em prática o seu lema “Estabelecer o poder popular e servir às massas”. No campo econômico, o poder popular criou a produção coletiva a serviço do povo e da revolução; transformou os produtores individualistas em produtores integrados na coletividade.

Sob o funcionamento do Governo Popular: “Os que exercem o poder, discutem continuamente com as massas. As novas orientações, as novas diretrizes vêm das discussões e da experiência (prática) das massas e são assumidas por elas mesmas para serem aplicadas. Nossas decisões devem ser sempre democráticas no conteúdo e na forma. No conteúdo, por corresponderem aos interesses reais das massas; na forma, porque as amplas massas devem participar da elaboração da decisão, senti-la como sua e não imposta de cima para baixo. A decisão burocrática, isto é, tomada pura e simplesmente pela direção, sem que haja debate com as massas, embora possa ter um conteúdo excelente, não mobiliza as massas, arrisca-se a não corresponder ao seu nível de compreensão. Ao trabalharmos, devemos ter sempre em mente que o poder pertence ao povo. Os dirigentes devem ser exemplo de dedicação, honestidade, disciplina, e nunca pregar uma coisa e fazer o contrário…Um dirigente que recusa ter calo nas mãos, pode fazer centenas de reuniões sobre a produção e isto não levará ninguém a produzir e não organizará uma única cooperativa”. (S. Machel)

As dificuldades para aplicação da linha são imensas porque há tradições arcaicas características do sistema de castas e falsos valores do colonialismo, do capitalismo; mulheres com sua iniciativa tolhida por milênios de opressão; bancários, comerciários, advogados, economistas e outros profissionais de nível médio, bem como funcionários públicos eivados de mentalidade pequeno-burguesa; operários com fraca consciência de classe e ainda incapazes em assumir seu papel dirigente no processo de transformação da sociedade.

Mas todos procuram a Frelimo porque não suportam mais a opressão e acreditam que a organização é capaz de transformar a sociedade moçambicana e proporcionar-lhes uma vida nova. A Frelimo decide aceitar todos que a procuram, “transformar a massa enorme, diversa e rica, a todos integrar e transformar em servidores do povo”.

Para promover a reeducação dessa massa que se incorpora à luta revolucionária, criam-se centros educacionais, aplicando uma metodologia baseada na reflexão da ação e no estudo da realidade do país e do mundo. A quarta sessão do Comitê Central define como objetivos “popularizar a linha para que seja assumida e vivida pelas amplas massas, democratizar os métodos de trabalho e implantar o sistema de direção coletiva”. Para isso, além da reeducação, a Frelimo organiza a massa em setores, com ênfase para as mulheres. Em 1973, realiza-se a Conferência das Mulheres Moçambicanas com a finalidade de engajá-las nos mais diferentes níveis de luta. Em seu pronunciamento durante a conferência, após saudar as companheiras e fazer um resgate histórico da opressão das mulheres como parte da sociedade de classes, declara Samora Machel: “…Homens e mulheres são produtos e vítimas da sociedade exploradora que os criou e educou. A nossa experiência tem provado que os progressos obtidos na libertação da mulher resultam dos sucessos obtidos no combate comum contra o colonialismo e o imperialismo, contra a exploração do homem pelo homem, pela construção da nova sociedade”.

O papel da juventude moçambicana na luta foi de fundamental importância, até porque 70% do povo moçambicano eram formados por jovens de idade inferior a 25 anos. Desde a luta política até a luta armada, foi decisiva a participação juvenil. É Samora Machel quem relata: “Nós vimos jovens no trabalho clandestino de mobilização do nosso povo, distribuindo panfletos, organizando grupos de estudo, participando de todas as formas possíveis. Entre os inumeráveis mártires, foram muitos os jovens vidas em defesa dos interesses do povo”.

Entretanto, só depois do triunfo da revolução é que a Frelimo criou o Secretariado Nacional da Juventude com a tarefa de organizar os jovens em nível nacional e com a certeza de que só organizando a juventude seria possível vencer a batalha da edificação da nova sociedade, consolidar a independência nacional, construir o socialismo.

“Longe de ser um passo definitivo, a tomada do poder é apenas o início do processo de transformação da sociedade.” (Lênin)

Samora Machel tinha plena consciência dessa realidade afirmada por Lênin. Em 1974, o colonialismo desmorona. O seu exército já estava praticamente derrotado, quando a Revolução dos Cravos, em Portugal (A Verdade, n.º 60), dá-lhe o golpe final.

Em 25 de junho de 1975, é reconhecida oficialmente a independência de Moçambique. Agora, a Frelimo está com o poder nas mãos.  O que fazer?  Pouco antes da vitória final sobre o império, uma conferência tinha revelado a existência de duas linhas. Uma, que defendia uma primeira etapa de consolidação da independência e desenvolvimento econômico capitalista, para que o povo pudesse viver a luta de classes da burguesia contra o proletariado e, assim, se conscientizar da necessidade de construir o socialismo, vez que até agora, por mais que se debatesse o assunto, o móvel da luta tinha sido a libertação nacional. A outra linha, na qual se inseria Samora Machel, entendia que era preciso se lançar desde já na construção do socialismo, realizando as transformações democráticas de forma revolucionária.

Esta foi a linha vitoriosa. A primeira Constituição da República não deixa dúvidas: “Na República Popular de Moçambique, o poder pertence aos operários e camponeses unidos e dirigidos pela Frelimo” (art. 2º). E no artigo 4º, entre os objetivos da República, define: “Edificação da democracia popular e a construção das bases materiais e ideológicas da sociedade socialista”

O desafio é grande para colocar em funcionamento a economia e a máquina administrativa numa perspectiva socialista. Os colonizadores fugiram, levando os técnicos, inclusive os moçambicanos cooptados. O Estado, só aos poucos foi adquirindo a técnica para fazer funcionar a produção agrícola capaz de abastecer as cidades. Para se ter uma ideia, em 1980, a produção de algodão alcançou apenas 1/3 do que era produzido no período colonial. O poder popular realizou a reforma agrária, priorizando a instalação de grandes fazendas coletivas e apoiando a pequena produção, a agricultura familiar de subsistência.

Dificuldade maior dá-se na indústria, dada a inexperiência dos moçambicanos. Tarefa primeira é vencer a batalha da produção. Samora faz esse apelo aos operários, mas não é fácil, pois isso exige consciência para submeter-se aos sacrifícios da jornada extraordinária sem benefícios materiais em troca. As ideias da classe dominante ainda predominam nas massas urbanas. Trava-se uma intensa batalha ideológica. A ideologia burguesa do colonizador é agora o inimigo principal.

Na comemoração dos cinco anos da Revolução, Samora Machel faz um balanço do que fora construído até então, dos obstáculos a transpor e das tarefas que se colocam na edificação da nova sociedade.

Realizações: “Libertamos a terra; nacionalizamos a educação – a escola deixou de ser privilégio; nacionalizamos a dos; extinguimos a justiça privada – a Justiça deixou de ser uma mercadoria; nacionalizamos os prédios – as cidades passaram a pertencer àqueles que as construíram”.

Dificuldades e obstáculos: “A mentalidade do colonizador instalou-se em nosso seio – indisciplina, roubo, anarquia, preguiça, inércia, imobilismo, desleixo, sabotagem, nepotismo”. E mais: “O que foi herança colonial agora é nosso produto. É ao inimigo interno que declaramos guerra”.

A luta continua para: “Devolver-nos a dignidade, a personalidade e a cultura moçambicana. Construirmos uma nova sociedade, uma nova mentalidade, um homem novo”.

A burguesia não se contentou com a força de sua herança. Armou uma guerrilha de direita, chamada Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), financiada especialmente pelo regime racista da África do Sul.

Samora Machel morreu em 1986, prematuramente. Num desastre aéreo, que nunca foi devidamente apurado. Sob o comando do seu sucessor, Joaquim Chissano, a Frelimo foi se deixando dominar pela mentalidade do colonizador. Primeiro, reintroduziu a agricultura privada, de mercado, e foi cedendo em outros aspectos até abandonar completamente o socialismo em 1990. Em 1992, firmou acordo de paz com a Renamo.

Hoje, Moçambique vive a situação característica dos países dependentes, com sua classe dominante sendo sócia menor do imperialismo, a economia entregue às multinacionais e regida pela batuta do Fundo Monetário internacional (FMI).

Quanto ao povo, a miséria é generalizada. De acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, Moçambique ocupa o quarto pior lugar no mundo. Mais de metade da população sequer dispõe de banheiro em suas casas, sem contar os que não têm casas. Meio milhão de pessoas passam fome. A expectativa de vida caiu de 46 para 27 anos devido à proliferação de epidemias, entre as quais a da AIDS

Mas10 nos de luta armada e 10 anos de luta incessante para construir o socialismo não podem ter sido em vão. Tanto para Moçambique como para todos os explorados do planeta, continua valendo a certeza exposta por Samora Machel no discurso pronunciado em 1980, intitulado Declaramos Guerra ao Inimigo Interno:

A Luta Continua!

A Revolução Vencerá!

O Socialismo Triunfará!

Luiz Alves

Obras Consultadas:

Declaramos Guerra ao Inimigo Interno, Samora Machel, editora Quilombo, São Paulo, 1980
Estabelecer o Poder Popular para Servir às Massas, Samora Machel, edições Frelimo, 1974
Moçambique, reportagem da jornalista Marilene Felinto

Publicado em A Verdade número 62

EUA tem mais de 5.000 faxineiros com doutorado

Para aqueles que acompanhavam as publicações do Bureau of Labor Statistics dos EUA não foi nenhuma surpresa a terra do Tio Sam ser o palco de movimentos como o Occupy Wall Street e das diversas outras expressivas greves e manifestações dos últimos meses. Números publicados pela agência já alertavam sobre a grave situação que assola e precariza a juventude e os trabalhadores americanos.

Segundo o BLS, um total de 17 milhões de adultos com formação universitária no país tem empregos que não requerem seu nível de educação. Há mais de 80.000 motoristas de caminhão com pelo menos uma licenciatura. Cerca de 317.000 camareiros e camareiras já passaram por uma graduação de 4 anos, e mais de 5.000 trabalhadores de limpeza tem doutorado.

Além de mostrarem que os EUA tem os motoristas, camareiras e faxineiros mais bem escolarizados do mundo, estes dados também denunciam o desperdício de potencial humano que o capitalismo é incapaz de aproveitar, já que estes jovens poderiam estar contribuindo com muito mais do que já contribuem em suas atuais ocupações para o benefício de toda a sociedade.

Glauber Ataide, com informações de Liberation News

Em livro, jornalista denuncia privatizações no Brasil

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“É um lixo!”. Assim classificou José Serra o livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior. Serra é o personagem central deste livro-reportagem, que expõe com detalhes e vastas provas o esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e entrega do patrimônio público brasileiro a um seleto grupo de bancos e companhias nacionais e estrangeiras, realizado durante os anos do Governo FHC/PSDB (1995-2002).

Durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República, José Serra foi ministro da Saúde e do Planejamento, condição em que comandou o maior crime cometido contra a soberania nacional, leiloando, ou melhor, entregando dezenas de empresas estatais ao capital privado. E mais. Fez isso não apenas sob uma perspectiva neoliberal da economia, mas também em benefício próprio. Sua família e seus aliados foram os maiores beneficiados desse processo de privatização, que, casado ao termo pirataria, resultou na agora revelada privataria tucana.

Amauri Ribeiro Júnior é um jornalista com passagens por diversas redações do país e com experiência em temas polêmicos, grandes reportagens e maquinações políticas. No dia 19 de setembro de 2007, sofreu um atentado à bala na Cidade Ocidental, em Goiás. Foi baleado rente à artéria femoral e por muito pouco não morreu. Amaury mexera com o tráfico de drogas quando apurava as execuções de duas adolescentes e descobriu que, em apenas seis messes, cerca de 150 jovens haviam sido assassinados nos arredores de Brasília. “Era o saldo da carnificina promovida pelo crime organizado e o narcotráfico em uma região distante apenas algumas dezenas de quilômetros da Esplanada dos Ministérios”, afirma no primeiro capítulo do livro (pág.16).

Após se recuperar do atentado, Amaury foi descobrir que era justamente nos Ministérios de Brasília onde funcionava o quartel general de outro setor do crime organizado. Sob o comando de José Serra (que já foi deputado federal, senador e governador do Estado de São Paulo, além de candidato à Presidência da República pelo PSDB), o martelo da privatização foi batido para várias estatais, como as companhias de eletricidade do Espírito Santo e Rio de Janeiro (Excelsa e Light, respectivamente), para a companhia de mineração Vale do Rio Doce, para a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e ainda Embraer (aviões), Usiminas (hidrelétrica), Copesul (petroquímica), diversas ferrovias, bancos e todo o Sistema Telebrás (telecomunicações).

“O resultado de tudo isso é que […], enquanto o Governo FHC afirmava ter arrecadado R$ 85,2 bilhões no processo, o jornalista econômico Aloysio Biondi publicava no seu best-seller Brasil Privatizado que o país pagara para vender suas estatais. Este pagamento atingira R$ 87,6 bilhões, portanto, R$ 2,4 bilhões a mais do que recebera”. (pág. 40) Tal fenômeno foi possível porque, antes de leiloar as estatais, elas eram recapitalizadas pelo BNDES e fundos de pensões de estatais; suas dívidas eram absorvidas pelo Governo Federal; seus compradores recebiam empréstimos do próprio Governo para comprá-las; ou simplesmente eram “vendidas” com altas cifras em seus caixas, e tudo ficava para o novo dono.

Lavagem de dinheiro

Mas não foi só isso. O grande mérito da investigação de Amaury Jr. foi ter descoberto o caminho percorrido pelos recursos obtidos com as privatizações até chegar nos bolsos de Serra e Cia.

Nos paraísos fiscais das Ilhas Virgens Britânicas, locais que a burguesia mundial conserva propositalmente sem nenhum tipo de controle público e em absoluto sigilo de quanto e de quem investe, estão instaladas as chamadas offshores ou empresas de fachada. Dentre as pessoas de confiança de José Serra apontadas no livro como proprietárias dessas empresas, estão Ricardo Sérgio de Oliveiro, seu tesoureiro de campanha eleitoral, e Verônica Serra, sua filha. Outros nomes conhecidos de todos nós também figuram aqui compartilhando da mesma prática: o traficante Fernandinho Beira-Mar, o “rouba-mas-faz” Paulo Maluf, o “dono” da CBF Ricardo Teixeira, o banqueiro Daniel Dantas e o operador do “Mensalão” Marcos Valério.

O livro nos explica sucintamente como funciona o esquema (pág. 55): “A lavagem de dinheiro tem três fases: colocação, cobertura e integração. Na primeira, é preciso reduzir a visibilidade do dinheiro do crime, fracionando-o e convertendo-o em outros valores por meio do sistema financeiro, bancos, bolsas de valores e casas de câmbio. É remetido para fora do país, transformando-se em cheques administrativos, mercadorias e empresas. Em um segundo momento, pratica-se uma cascata de operações financeiras intensas, complexas e rápidas, da qual participam pessoas físicas e jurídicas e paraísos fiscais. O propósito é afastar o máximo o dinheiro de sua procedência real. Tudo culmina, na terceira etapa, com o retorno do dinheiro ao circuito financeiro normal. Removido de suas impurezas, ganha status de capital lícito, servindo para compra de bens e constituição de empresas. As offshores servem de ferramenta nos três estágios. Permitem as remessas ilegais ao exterior por meio de uma rede de doleiros e depois atuam na camuflagem e na limpeza por intermédio de operações de repatriamento de dinheiro”.

Há muito mais coisas em A Privataria Tucana. No campo da política o tucano José Serra também cometeu vários crimes, incluindo os já comprovados de sonegação de informação à Justiça Eleitoral e o de espionagem contra seus cupinchas de PSDB.

O PT também é citado na obra. A narrativa finda com a sequência de bombardeios, via Veja e congêneres, lançados por Antônio Palocci (ex-ministro de Lula e Dilma) e Rui Falcão (atual presidente do PT), sobre o “colega” Fernando Pimentel, do PT de Minas Gerais, então coordenador da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República para deslocá-lo do posto.

Amaury Ribeiro Júnior encerra o livro com um recado aos leitores: “Varrer a sujeira para debaixo do tapete, como se fez tantas vezes, não é mais possível. Não há tapete suficiente para acobertar tanto lixo. O Brasil, que escondeu a escravidão e ainda oculta a barbárie de suas ditaduras, não pode negar aos brasileiros a evisceração da privataria. Quem for inocente que seja inocentado, quem for culpado que expie sua culpa” (pág. 339).

 Rafael Freire,  presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba

Falta verba e democracia na universidade

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Apesar de ser a sexta economia do mundo, o Brasil ocupa a 88ª posição em termos de educação. Para entender essa dicotomia basta analisar o orçamento do governo federal em 2012 (http://migre.me/7A0wG), no qual 47,19% serão destinados ao pagamento dos juros e amortizações da dívida pública e 3,18% será destinado à educação.

O reflexo desse pequeno investimento na educação pode ser sentido tão logo o estudante ingresse na universidade. Várias universidades sofrem com a precariedade de suas estruturas físicas. Na Universidade Estadual do Piauí (Uespi), por exemplo, a precariedade chega a tal ponto que, no dia 5 de janeiro de 2012, o telhado da biblioteca desabou durante a madrugada. “A biblioteca passou cerca de dois anos parada, pois a obra foi embargada por falta de segurança (…) Quando nós começamos a campanha S.O.S Uespi para denunciar isto, a reitoria reiniciou a obra e abriu a biblioteca sem condições”, denuncia o estudante Fábio Nogueira (http://migre.me/7A0w2).

Infelizmente, essa não é uma realidade apenas da Uespi. As estruturas antigas das universidades públicas brasileiras não recebem reparos e reformas há décadas, por causa da ausência de investimento, e por isso vemos turmas de vários cursos assistindo às aulas juntas, em auditórios, por falta de salas de aula para todos, como é o caso da Unidade Acadêmica de Garanhuns (UAG) e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). “Há quase dois anos e meio esperamos o bloco de salas de aula ficar pronto. Enquanto isso, ficamos impossibilitados de realizar atividades no auditório e na sala de estudo da biblioteca, pois se tornaram salas de aula”, diz a A Verdade o estudante de zootecnia José Claudenildo.

Além das precárias instalações, a maioria das universidades não possui políticas eficientes de assistência estudantil, o que faz com que menos da metade dos universitários concluam seus cursos no período certo e que mais de 20% abandonem os cursos (http://migre.me/7A3BA). Onde há restaurante universitário (chamados em alguns lugares de bandejão), são caros e não atendem a todos os estudantes que deles precisam para se manter na universidade. Em cursos como agronomia, veterinária, medicina, enfermagem e odontologia – entre outros que requerem dos estudantes, necessariamente, presença em dois turnos – sem um restaurante universitário com preços acessíveis fica quase impossível um estudante de origem popular se formar. Isso porque, além da alimentação, ele tem que arcar com transporte (que nas capitais varia de R$ 2 a R$ 3), comprar livros e fotocópias, fazer excursões etc.

Há também os estudantes oriundos de outras localidades que necessitam de auxílio para morar no local onde estudam. Nas universidades federais, é enorme a dificuldade de se conseguir uma vaga numa residência universitária. Menos de 17 mil estudantes residem nessas residências, o que representa 2,5% dos mais de 650 mil regularmente matriculados no ensino superior federal. Mesmo em universidades estaduais, o problema é o mesmo; a maioria delas não dispõe de residências universitárias, e as que dispõem não atendem a todos os que dela necessitam para estudar.

Segundo o presidente da Associação de Moradores do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Amorcrusp), o estudante de física Rivaldo Xavier Jr., “o último processo seletivo que ocorreu deixou de fora do Crusp 1.450 estudantes. Em nosso ver, isso não é por falta de verbas, pois a USP tem um orçamento de R$ 3 bilhões por ano, mas a reitoria e o governo de São Paulo têm uma visão extremamente elitista da universidade e não dão prioridade à manutenção dos estudantes pobres”.

Para quem estuda em universidade privada a vida não é diferente. Além de todas as dificuldades que enfrenta um estudante de instituição pública, ele tem de enfrentar mensalidades que aumentam desproporcionalmente todos os anos. A Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), por exemplo, cobra só de taxas diversas, somadas, R$ 1.247,50 por ano, o que daria para comprar um bom notebook. Só pelo diploma a Unicap cobra R$ 132, como se já não fosse o suficiente todo o absurdo pago ao longo dos anos. Não é à toa que o índice de evasão nas instituições particulares de ensino superior cresceu em todo o país, e, só em São Paulo, representa 27% dos ingressantes, ou seja, um em cada quatro estudantes abandonam seus cursos, segundo dados do próprio sindicato dos empresários donos de faculdades particulares.

Democratização

Um tema que é comum a universidades públicas e particulares é a ausência de democracia interna das instituições. Nas eleições para reitor das universidades federais existe a famigerada lista tríplice, com a qual, independentemente do resultado eleitoral, a decisão final cabe ao ministro da Educação, que escolhe seu preferido entre os três mais votados. Nas universidades estaduais o caso é mais complicado. Na USP existe uma lista sêxtupla e o governador de São Paulo escolhe qualquer um dos integrantes dessa lista para reitor. Nas instituições particulares, a situação é ainda pior, pois inexistem eleições para reitor e o dono da instituição é quem define tudo. Além disso, há os conselhos universitários, que têm grande parte de seus membros indicados pelo próprio reitor.

Por causa dessas insuficiências da educação superior no Brasil, têm aumentado a luta e a organização dos estudantes. Na Universidade Federal de Rondônia (Unir), os estudantes passaram mais de dois meses em greve, de setembro a dezembro de 2011, derrubando o reitor e conquistando, entre outras coisas, mais de R$ 4,5 milhões para a construção do bandejão da instituição, com capacidade para mais de mil estudantes. Também os alunos da Universidade de São Paulo (USP), em greve contra o autoritarismo do reitor João Grandino Rodas e pela libertação dos estudantes presos pela polícia, assumiram destaque nacional e protagonizaram uma das principais lutas estudantis de 2011.

Este ano, infelizmente, a situação tende a se agravar. O governo anuncia cortes no orçamento dos investimentos sociais de cerca de R$ 60 bilhões, o que significa que a educação será atingida. Isso mostra aos estudantes que há uma necessidade maior de se organizarem em suas entidades representativas, nos diretórios e centros acadêmicos, nos diretórios centrais dos estudantes e nas associações estudantis em geral. É preciso que os eles assumam o protagonismo que sempre tiveram em defesa de uma educação para todos e em todos os níveis.

Yuri Pires, 1º vice-presidente da UNE e militante da UJR

Povo de Salvador espera por metrô há 12 anos

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Terceira maior cidade do país em população, atualmente com cerca de 3 milhões de habitantes, Salvador tem o transporte como um de seus principais problemas. São 600 mil veículos‚ ônibus lotados, excesso de semáforos e grandes engarrafamentos.

Uma das soluções para esse drama seria o metrô. Mas, iniciada há doze anos‚ as obras de construção da linha 1 ainda não terminaram, apesar de já terem sido gasto um total de R$ 1 bilhão; trata-se do metrô fantasma mais caro do mundo. Por isso, com apenas6,5 quilômetrosde extensão, a obra ganhou dos baianos o singelo apelido de “autorama”.

O projeto inicial previa41 quilômetros. Só que o investimento foi todo  consumido no primeiro trecho, que deveria ter12 quilômetros, mas acabou reduzido à metade. Para agravar, um estudo de viabilidade econômica do projeto mostrou que, para cobrir os custos de operação, o bilhete do metrô poderá custar R$ 15,seis vezes o preço cobrado em São Paulo.

As obras, iniciadas em 1997, foram paralisadas e retomadas em abril de 2000 com a construção da  linha 1, primeira etapa do projeto. A abertura desse primeiro trecho foi programada inicialmente para meados de 2003, depois foi prorrogada para dezembro de 2008 e até hoje não há previsão de quando o metrô entrará em funcionamento.

O governo estadual adquiriu os trens para o metrô, mas como a obra não terminou, eles foram guardados em galpões alugados pela prefeitura. Com chuvas e o desgaste do tempo, corre-se o risco de ficarem imprestáveis antes mesmo de realizarem uma só viagem. O aluguel dos galpões custa à prefeitura (do PMDB) cerca de R$ 180.000 (cento e oitenta mil reais) por mês.

O metrô, entretanto, não entrou em funcionamento não por falta de dinheiro, mas por roubo. A Justiça Federal da Bahia aceitou denúncia do Ministério Público por suspeita de formação de quadrilha, cartel e fraude na licitação. Foram acusados sete dirigentes das empresas que participaram da concorrência: dois da Camargo Corrêa e dois da Andrade Gutiérrez, integrantes do consórcio Metrosal, além de três dirigentes da construtora italiana Impregilo, do consórcio Cigla. Segundo o Ministério Público Federal, as empresas atuaram em conluio.

Quem sofre com todo esse descaso é a população pobre‚ que diariamente pega ônibus lotados‚ passa horas e mais horas para chegar ao local de trabalho ou à escola, além de pagar uma passagem cara de R$ 2‚50. Sabemos que este é um ano de eleição municipal e, sem dúvida‚ mais uma vez o metrô de Salvador será mais uma promessa. Está na hora de o povo de Salvador se rebelar, pois não dá mais para conviver com tanta enrolação.

Claudiane Lopes, Salvador

EUA e Israel preparam guerra contra o Irã

Numa clara tentativa de minimizar os efeitos da sua grave crise econômica, o imperialismo norte-americano, em aliança com o Estado sionista de Israel, prepara uma nova ofensiva militar. O alvo é o Irã, país que possui um imenso reservatório de petróleo, está em franca expansão da sua produção e exporta para vários países do mundo. Nos últimos anos, como forma de romper o cerco imposto pelos norte-americanos e israelenses, o governo do Irã alargou relações diplomáticas, realizou diversos acordos bilaterais, investiu maciçamente em tecnologia e possui um programa de energia voltado para sua autossuficiência mediante o enriquecimento de urânio.

As sanções econômicas contra o Irã

Os indícios de mais essa covarde e injusta agressão saltam aos olhos.

Foram várias as rodadas de sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU. Embora a máquina de propaganda do imperialismo afirme que tais medidas são destinadas a conter o enriquecimento de urânio do país, impedindo a criação da bomba atômica, na verdade, diferentemente do que afirmam os meios de comunicação, as ações visam enfraquecer a economia iraniana. Com elas se impede a entrada de divisas no país e a impossibilidade de acumulação de estoques militares ou suprimentos, ou seja, enfraquece o adversário para que, em caso de um ataque, tenha dificuldade de recompor suas forças. Outro objetivo: dividir a população. Na medida em que as importações privam de produtos boa parte das pessoas, essas acabam duvidando naturalmente da capacidade do governo de resolver seus problemas. As sanções econômicas não objetivam resolver os conflitos, mas antes preparam as ações militares.

No dia 20 de dezembro passado, o Congresso dos EUA aprovou, praticamente por unanimidade nas duas câmaras, um pacote de sanções contra o governo do Irã. A partir do próximo mês de julho, toda empresa que mantiver relações com o Banco Central do Irã, que centraliza as transações financeiras relacionadas ao petróleo, será impedida de manter negócios nos EUA ou com empresas norte-americanas.

Até mesmo os debates entre os candidatos do Partido Republicano à Presidência da República têm se tornado máquinas contra o Irã. Em vez de debater como os EUA reduzirão seu enorme desemprego, o pré-candidato Mitt Romney (favorito na disputa do PR) acusou o presidente americano, Barack Obama, de ser ingênuo perante o Irã e prometeu que, se for eleito presidente, “preparará a guerra” contra a república islâmica. Em artigo publicado no The Wall Street Journal, Romney diz que apoiaria a diplomacia americana “com uma opção militar muito real e confiável”, mobilizando tropas militares no Golfo e potencializando a ajuda militar a Israel.

Diferentemente das últimas intervenções dos imperialistas, a agressão militar contra o Irã tem tido diversas resistências e contradições. A verdade é que isso ocorre em virtude dos negócios do petróleo e, por esse motivo, há uma divisão entre as multinacionais.

Os norte-americanos veem crescer o comércio por fora do dólar e por isso estão bastante ameaçados. As vendas do petróleo iraniano são feitas em moedas locais e no mercado spot, à vista, fora dos mercados futuros especulativos, apesar de as multinacionais imperialistas incluírem as reservas iranianas na ciranda especulativa por meio de mecanismos indiretos. Da mesma maneira, as transações comerciais entre outros países asiáticos, inclusive entre a China e o Japão, estão sendo realizadas em moedas locais.

Sem falar de que pelo Estreito de Ormuz, controlado pelo Irã, circula 40% do petróleo consumido no mundo produzido pelos países do Oriente Médio. Logo, o controle militar dessa região é fundamental. Como boa parte dos países do Oriente Médio tem se rebelado contra Washington, logo as grandes empresas norte-americanos estão de cabelo em pé.  Somente com essa ameaça, criada pelos próprios norte-americanos, de o Irã fechar o estreito, na medida em que os iranianos não o fariam, pois a maior parte de sua produção passa por lá, o preço do barril de petróleo disparou, levando preocupações às multinacionais petrolíferas e enriquecendo meia dúzia de especuladores que apostam na guerra.

As divisões se acentuaram. Os governos do Japão e da Coreia do Sul pediram exceções para as sanções do governo dos EUA em relação às importações do petróleo iraniano. A Coreia do Sul anunciou que comprará ao Irã 10% das suas necessidades de petróleo em 2012. O Japão, que depende em 10% das suas necessidades de petróleo iraniano, declarou que reduzirá esse volume “assim que seja possível”. As importações da China, Índia, Japão e Coreia do Sul somadas respondem por 62% do total das exportações iranianas.

A China, que importa do Irã em torno de 20% da produção de petróleo total, tem se declarado contrária às sanções imperialistas. O país depende do Irã em 15% das suas necessidades de petróleo e gás. As construtoras chinesas detêm enormes contratos no maior campo petrolífero iraniano, Yadavaran, e na construção do oleoduto do Mar Cáspio até a China Ocidental, através de Cazaquistão. Adicionalmente, empresas chinesas estão expandindo a construção do metrô de Teerã, instalando redes de fibra óptica e produzindo automóveis no país. O comércio entre os dois países alcança US$ 30 bilhões e a expectativa é que chegue a US$ 50 bilhões em 2015. A Índia é o segundo maior importador de petróleo iraniano, com 400 mil barris diários, que representam 11% das suas necessidades diárias.

Entretanto, os negócios mais atingidos com essa guerra estão na Rússia. Há pouco, em parceria com a China, Rússia e Irã, os russos  construíram um gasoduto para trazer gás do Turcomenistão e que bombeará 8 bilhões de metros cúbicos de gás turcomano. Mas tem capacidade para bombear anualmente 20 bilhões de metros cúbicos. Sem falar das gigantes russas de petróleo e gás Gazprom, Lukoil e GazpromNeft, que já assinaram contratos de bilhões de dólares para ajudar o Irã a explorar seus campos de hidrocarbonetos.

Fica mais do que claro que os norte-americanos estão de olho nesse rico ouro negro e no gás, e não nas possíveis bombas atômicas ou de “destruição em massa” de que acusaram ter Saddam Hussein – e nunca as encontraram.

As provocações

Como toda guerra precisa ter um motivo, o Mossad, serviço secreto de Israel, e a CIA, inteligência dos EUA, prepararam diversas investidas para gerar uma resposta do Irã, que tem resistido bravamente. Os israelenses executaram o plano que resultou na morte de Mostafa Ahmadi Roshan, de 32 anos, engenheiro nuclear iraniano. Ele morreu em um atentado a bomba. A ação provocou em Teerã uma onda de revolta contra Israel. Os principais jornais iranianos pediram represálias imediatas do governo contra ambos os países.

 O assassinato domina o noticiário naquele país e muitos criticaram o que chamaram de silêncio do Ocidente sobre as mortes. Os jornais mais radicais pedem, inclusive, uma ação secreta contra Israel. A mídia internacional boicotou as informações e as provocações ameaçam dividir o governo. O ataque foi similar a outros quatro que aconteceram em Teerã nos últimos dois anos. Três cientistas, incluindo dois que também trabalhavam no programa nuclear iraniano, morreram, enquanto outro – que agora dirige a Agência de Energia Atômica do Irã – escapou por pouco tempo de um atentado.

Os preparativos militares, ao mesmo tempo, andam a todo vapor. O porta-aviões USS Nimitz posiciona-se ao largo, na costa do Irã. Os EUA trasladaram um grupo de militares especializados em desembarque e um batalhão inteiro de marines. A tropa segue embarcada nos navios anfíbios Makin Island, New Orleans e Pearl Harbor. Soma-se à força naval uma esquadrilha reforçada de helicópteros e um batalhão de retaguarda.

Além do USS Nimitz,  o Estreito de Ormuz contará com a presença de um grupo de combate da V Frota Marítima, encabeçado pelo porta-aviões Carl Vinson, com aeronaves a bordo. Estes equipamentos se somam a um outro grupo de navios de guerra estacionado na região desde dezembro último.

Por outro lado, o principal país contrariado pelo confronto, a Rússia, elevou o “alerta vermelho” na sua frota que patrulha a região. Segundo fonte do Ministério da Defesa russo, falando à agência espanhola de notícias Rictv, o governo daquele país determinou o reforço na segurança da Rodovia Transcaucasiana e nos mares Cáspio, Mediterrâneo e Negro, diante do iminente ataque de Israel às instalações nucleares iranianas, considerado “inevitável e a ser realizado em prazo muito curto”.

A preparação da Rússia, na esfera militar, a fim de minimizar as perdas humanas e materiais por conta das possíveis operações bélicas do Ocidente contra o vizinho Irã, começou há mais de um ano “e estão praticamente concluídas”, acrescenta a fonte. As tropas na Transcaucasiana e no Mar Cáspio “estão prontas para eventuais combates e os navios de guerra estão posicionados até o Mediterrâneo”, revela.

A qualquer momento, poderemos ter uma nova guerra em virtude da decadência do imperialismo capitalista, resultado da sede de lucro das grandes multinacionais petrolíferas e armamentistas. 

Serley Leal, Fortaleza