Heron Barroso
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas
RIO DE JANEIRO – Que Bolsonaro é um presidente fraco e incompetente já não é novidade para ninguém, em que pese alguns setores da “esquerda” – assustados e temerosos – continuarem associando a grande presença de generais no Planalto a uma demonstração de força de seu governo.
Fora as medidas e reformas econômicas, Bolsonaro não tem encontrado nenhuma facilidade em impor seu programa ao país. Ao contrário, sofreu sucessivas derrotas e teve que recuar diversas vezes. Tentou cortar verbas das universidades e foi obrigado a voltar atrás por milhões de estudantes e professores que foram às ruas; seus filhos não conseguem se desfazer das acusações de corrupção e suspeitas de envolvimento com milícias e com o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes; o novo partido que tenta criar depois que perdeu o controle do PSL ainda não validou sequer um terço das assinaturas exigidas por lei, apesar do apoio de grandes empresários e de muito dinheiro; até uma simples medida provisória que visava tirar das entidades estudantis o controle da carteirinha de estudante caducou sem que Bolsonaro conseguisse colocá-la em votação no Congresso Nacional.
É verdade que vários direitos sociais foram retirados e retrocessos aconteceram, o maior deles a reforma da Previdência. Mas essas derrotas dizem respeito muito mais à fraqueza e dispersão da maioria do movimento popular, dos sindicatos, centrais e partidos de “esquerda” do que propriamente à força de Bolsonaro, que se sustenta graças ao apoio da grande burguesia e dos generais fascistas que comandam as Forças Armadas.
Não há dúvidas de que, caso as centrais sindicais e as organizações políticas que ainda são hegemônicas no movimento social tivessem adotado nesses últimos cinco anos a mesma atitude que o povo chileno, equatoriano ou francês teve recentemente diante de seus governos, certamente teríamos derrotado não apenas a reforma da Previdência, mas também impedido o próprio golpe parlamentar de 2016 e todos os retrocessos que temos sofrido desde então. Porém, preferiram apostar – mais uma vez – na institucionalidade burguesa e nas articulações políticas.
Agora, estamos diante da maior crise sanitária de nossa história, que aprofundou e ampliou uma crise econômica também sem precedentes e da qual não sairemos sem romper com a dominação dos bancos e monopólios sobre nosso país.
Apesar disso, persiste a resistência de grande parte do movimento social em assumir com firmeza e decisão a luta pela derrubada imediata do governo Bolsonaro e o necessário trabalho de mobilização e conscientização da classe trabalhadora e do conjunto do povo para a construção de uma alternativa popular à crise que vivemos.
Essa resistência não passa, na verdade, de uma defesa camuflada da democracia burguesa, uma democracia deturpada, manca, corrompida, com suas instituições e tribunais apodrecidos e corruptos, enfim, democracia para uns, ditadura da fome, da violência e do desemprego para a maioria.
“Bolsonaro é o pior presidente que já tivemos, mas ainda não há correlação de forças para defender o Fora Bolsonaro”, dizem, sem apresentar outra saída que não signifique a paralisia política e o respeito ao “calendário eleitoral”.
Agindo assim esquecem que Bolsonaro é um fascista, que age a serviço dos interesses do capital financeiro e da oligarquia mais agressiva, egoísta e entreguista, e que cada dia de seu governo é um pesadelo para milhões de brasileiros.
De fato, quanto tempo mais assistiremos a Amazônia arder em chamas e ser violentada pelo agronegócio? Até quando toleraremos milhares de famílias sem-teto, sem emprego, padecendo nas filas dos hospitais e morrendo de doenças perfeitamente tratáveis? Será possível continuar permitindo pacificamente que destruam o que resta do nosso patrimônio público? Basta!
Bolsonaro precisa cair! Mas ele não cairá sozinho, não será afastado pelos militares que o cercam e defendem, nem sofrerá um impeachment sem pressão das ruas. Insistir nas vias “democráticas” do parlamento burguês ou num improvável enfraquecimento até a inanição de seu governo é, além de um grande erro político, um total descompromisso com os milhões de trabalhadores que amargam o desamparo do desemprego, a crueldade da fome e a incerteza do amanhã. Quanto mais cedo o povo brasileiro se livrar desse vírus, mais forças teremos para impor uma saída revolucionária para a crise.
A palavra de ordem de “Fora Bolsonaro! Por um governo popular!” ajuda a acumular forças, mobilizar e desenvolver a consciência da classe trabalhadora, da juventude e do povo pobre de que existe uma saída, uma alternativa que não signifique trocar seis por meia dúzia.
Um governo popular é urgente para tirar o Brasil da crise, pois todos os governos que já se instalaram em nosso país foram governos controlados por uma oligarquia, uma elite racista, escravocrata, anti-povo e entreguista. Afinal, se são os trabalhadores os verdadeiros responsáveis por todas as riquezas produzidas no país, nada mais justo que caiba a eles o benefício de uma vida sem pobreza, dívidas, incertezas e sofrimentos.
Tudo indica que viveremos dias conflituosos durante e, principalmente, depois da quarentena. Todas as medidas adotadas pelo governo para conter a proliferação do coronavírus ignoram as dificuldades que milhões de trabalhadores enfrentarão sem trabalho, ao mesmo tempo que não medem esforços para preservar a “saúde” dos mercados.
As contradições se intensificarão ainda mais, a revolta popular grita hoje das janelas, na ânsia de ocupar as ruas o mais rápido possível, e cabe a nós nos prepararmos para enfrentar os desafios que estão por vir.
Em momentos como esse, não pode haver meio termo. Não se pode declarar-se antifascista e recear levantar a bandeira do Fora Bolsonaro! Esta é uma questão central da conjuntura.
“Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o hoje nascerá do jamais.”
– Bertolt Brecht: Elogio da Dialética.