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sexta-feira, 3 de maio de 2024

O Feminismo e a Luta Antimanicomial

A luta antimanicomial também faz parte da luta das mulheres e da luta anticapitalista. Não existe saúde mental dentro do sistema que nos mata e oprime.

Amanda de Lucca | Mogi das Cruzes


MULHERES Em toda a história da sociedade o aprisionamento foi utilizado como uma medida contra os indivíduos que representavam uma ameaça à ordem. A criação do hospício, por exemplo, era sustentada pela manutenção da moral e dos bons costumes, considerando “loucos” aqueles que não cumpriam um determinado papel social.

Este contexto é ainda mais evidente nas mulheres. Ao longo das décadas, a histeria era relacionada ao feminino, tornando-se uma condição

para retratar mulheres que tinham dores de cabeça, perda de apetite, ansiedade ou até mesmo as que não conseguiam engravidar.

A histeria foi diagnosticada na maioria das mulheres nas primeiras décadas do século 20 no Brasil. Os principais “sintomas” usados pelos médicos eram pelo simples fato de não cumprirem seus deveres de esposa e mãe de família, ou seja, mulheres que fugiam dos padrões impostos pelo patriarcado necessitavam de tratamento manicomial.

Essa “doença” servia de controle sobre as mulheres, pois, quando “loucas”, elas perdiam os poucos direitos que detinham – especialmente o de ir e vir – quando eram internadas nos hospitais psiquiátricos.

Ao analisar diversos registros do Hospital Psiquiátrico do Juquery, a pesquisadora Eliza Teixeira de Toledo observou que mesmo os homens sendo em sua maioria dos internos, as psicocirurgias, também conhecidas como lobotomias, eram destinadas exclusivamente às mulheres entre os anos 1930 e 1950.

Para a historiadora, a lobotomia também estava vinculada à violência de gênero, visto que tornavam as mulheres passivas e os considerados “comportamentos desviantes”, eram chamados de distúrbios psiquiátricos.

Nessa lógica, os testemunhos tanto do pai quanto do marido e irmão possuíram uma grande importância para a realização da internação, diagnóstico e também para autorizar a lobotomia. Na época, a medicina era válida para interferir na vida e no corpo da mulher, moldando-a para o modelo ideal de família burguesa e dentro da lógica capitalista.

Feminismo e a Luta Antimanicomial

O dia 18 de maio é marcado como Dia Nacional da Luta Antimanicomial em referência ao movimento popular e político cuja atuação é fundamentada na garantia dos direitos das pessoas em sofrimento psíquico. Este movimento combate a ideia de isolamento para indivíduos que possuem algum transtorno mental e reafirma que todos têm o direito à liberdade, de viver em sociedade e ao tratamento sem ter que deixar seu lugar enquanto cidadãos.

Ao longo de décadas, mulheres foram reduzidas à função de servidão e de reprodução, e aquelas que iam contra sua função social “padrão” eram trancadas em manicômios. Pessoas que perdem a capacidade de responder aos interesses de produção capitalista.

Além do aprisionamento, diversas mulheres tiveram seus nomes apagados da história. Stella do Patrocínio, por exemplo, foi internada em 1962 com o diagnóstico de esquizofrenia e passou os trinta anos encarcerada até sua morte, em 1992. Stella escrevia poemas sobre como se sentia trancada dentro do hospital psiquiátrico e suas obras só passaram a ser divulgadas depois de sua morte.

Aurora Cursino dos Santos também foi internada à força por ser prostituta. Durante sua internação, produziu mais de duzentos quadros, contudo, devido à sua “condição”, por muito tempo não foi considerada como artista.

Mesmo depois de 22 anos de luta antimanicomial até o dia de hoje o imaginário da loucura está rotulado no sentido ruim, principalmente nas mulheres que denunciam a violência que sofrem.

A luta antimanicomial também faz parte da luta das mulheres e da luta anticapitalista. Não existe saúde mental dentro do sistema que nos mata e oprime. É fundamental lutar por políticas públicas antimanicomiais e pela destruição definitiva do capitalismo.

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