UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

terça-feira, 1 de julho de 2025
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Greve dos rodoviários no Grande Recife expõe crise contínua na mobilidade urbana

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A greve dos rodoviários, também serviu para mostrar o quanto a mobilidade urbana no Recife está em crise. O trânsito caótico, a superlotação dos poucos ônibus que circulam, e a precariedade das condições de trabalho dos rodoviários nos coletivos são sintomas de um problema maior: a falta de investimentos e de um planejamento eficiente para o transporte público.

João Pedro Souza | Redação – PE


TRABALHADOR UNIDO – A recente greve dos rodoviários do Grande Recife, encerrada no dia 13 de agosto após intensas negociações no Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região, destacou antigos problemas que afetam não apenas a categoria, mas também o povo. Todos os dias, a população da Região Metropolitana do Recife enfrenta o trânsito caótico e a falta de mobilidade urbana em uma região marcada por um planejamento viário inadequado entre as cidades e diversos problemas no transporte coletivo.

Em relação ao término da greve dos rodoviários, embora a categoria tenha conseguido um reajuste salarial de 4,2%, elevando o salário dos motoristas para R$ 3.189,80, e um aumento no vale-alimentação para R$ 400,00, esses avanços não representaram um ganho real significativo, já que o reajuste ficou apenas 0,5% acima da inflação, conforme proposta inicial da patronal, o que é insuficiente diante do custo de vida elevado na Região Metropolitana do Recife (RMR). Adicionado a isso, foi acrescido o abono de R$ 180,00 para aqueles que desempenham a dupla função de motorista e cobrador, que foi um ponto de concessão que ficou abaixo das expectativas dos trabalhadores rodoviários. Além disso, a falta de um plano de saúde definido continua sendo uma questão pendente, embora a procuradora-chefe do Ministério Público do Trabalho em Pernambuco tenha se comprometido a liderar as tratativas futuras entre os sindicatos e as empresas de transporte coletivo.

União dos trabalhadores

TRABALHADOR UNIDO. Movimento Luta de Classes participa da luta dos rodoviários.
TRABALHADOR UNIDO. Movimento Luta de Classes participa da luta dos rodoviários.

A mobilização do Sindicato dos Rodoviários, com participação do Movimento Luta de Classes (MLC) de Pernambuco e outras forças políticas, desempenharam um papel crucial na conscientização e na luta política nas garagens dos ônibus das empresas. Esta mobilização incluiu a venda do jornal A Verdade, piquetes nas garagens e terminais de integração, e a redução significativa do número de ônibus em circulação nos dias da greve.

Além disso, ocorreram diversas manifestações de solidariedade da população em defesa dos direitos dos rodoviários, tanto nas mídias sociais dos jornais locais quanto nas ruas da cidade. Isso evidenciou a necessidade urgente de união e organização da classe trabalhadora para defender seus direitos, que estão sendo cada vez mais ameaçados pelo sistema econômico capitalista e pela forma de governo que favorece os ricos. Esse sistema não atende aos interesses da população, aumentando a insatisfação com as condições de trabalho e o estado precário dos ônibus, adicionado ao modelo caótico de cidade na grande Recife.

Principais problemas

A diminuição da frota de ônibus, a falta de ar-condicionado na maioria dos veículos e o longo tempo de espera dos usuários são problemas crônicos diários que parecem não ter solução à vista. Fica evidente a falta de planejamento dos governos locais em solucionar o problema do transporte e a estrutura viária das cidades. Esses problemas estão cada vez mais acentuados, demonstrando a saturação e a ineficiência do sistema de transporte coletivo da cidade do Recife atualmente.

Para além disso, a população, que sempre foi prejudicada pelo modelo de transporte, também sofre diariamente com o tráfego intenso e as dificuldades de locomoção na cidade. A greve dos rodoviários, também serviu para mostrar o quanto a mobilidade urbana no Recife está em crise. O trânsito caótico, a superlotação dos poucos ônibus que circulam, e a precariedade das condições de trabalho dos rodoviários nos coletivos são sintomas de um problema maior: a falta de investimentos e de um planejamento eficiente para o transporte público.

A greve trouxe à tona a força e a disposição de luta dos trabalhadores rodoviários, como também expôs a fragilidade de um sistema que depende de negociações e concessões públicas para empresas privadas que gerenciam o transporte urbano local que, muitas vezes, não atendem plenamente às necessidades dos trabalhadores e dos usuários. A sensação é de que a estrutura viária e de transporte coletivo da cidade do Recife e região sempre será assim e nada irá mudar pelos próximos anos.

Resultado das negociações

O resultado final das negociações deixou um gosto amargo para muitos rodoviários, que esperavam mais do que um simples reajuste salarial que mal cobre a inflação. As concessões feitas pelos patrões, que foram praticamente as mesmas propostas antes da greve, demonstram que, apesar da mobilização, a categoria ainda enfrenta grandes desafios para obter melhores condições de trabalho.

É evidente a necessidade de uma reforma no sistema de transporte, com a implementação de um modelo público que inclua a participação efetiva do Estado. Essa reforma deve abranger não apenas um novo planejamento da infraestrutura viária, mas também um modelo de transporte público que atenda de forma eficaz à população, melhorando o trânsito e o sistema viário na região metropolitana do Recife.

Um sistema de transporte eficiente depende de uma construção coletiva, com consultas regulares à população, para garantir a adoção de um sistema de ônibus que proporcione aos passageiros mais tempo e agilidade no dia a dia. Se essas mudanças não forem implementadas, o Recife continuará a enfrentar os mesmos problemas de mobilidade urbana que há décadas afetam a vida dos seus cidadãos.

Leo Péricles: “Mesmo com lei eleitoral injusta, militância da UP foi para as ruas”

Sem fundo partidário e tempo de TV, candidaturas da UP foram às ruas defender o socialismo e denunciar o fascismo nas eleições municipais. O Jornal A Verdade conversou com Leo Péricles, presidente nacional da UP sobre o primeiro dia de campanha eleitoral.

Redação


BRASIL – “Nosso foco será desenvolver as lutas já existentes e dar força para as novas.”, afirmou Leo Péricles resumindo o objetivo da Unidade Popular nas eleições de 2024. Com candidaturas em 30 cidades em todas as regiões do país, o partido iniciou sua campanha eleitoral.

Os milhares de filiados da UP em todo país se unem agora em colocar na rua a campanha do partido com o objetivo de cumprir as metas políticas definidas pelos diretórios nacional e locais nestas eleições municipais. Ao Jornal A Verdade, presidente nacional do partido apresentou um balanço inicial do primeiro dia de campanha.

“Foi um início como esperávamos, temos debatido em todos os diretórios e coletivos do partido em todo país para mobilizarmos todas as nossas forças para este processo, que é bem injusto para a UP, que é impedida por uma legislação autoritária e antidemocrática de ter acesso ao chamado horário eleitoral gratuito na TV e rádio, e contar apenas com uma migalha do fundo eleitoral. Desse modo encaramos esse processo como uma luta eleitoral. E assim, hoje, em todo país, nossa militância correspondendo ao nosso chamado e ocupando as ruas com grande animação e energia.”, afirmou Leo Péricles.

Sobre as metas da UP, o presidente nacional da Unidade Popular reafirmou que o partido tem como centro a divulgação do programa do Socialismo para o povo brasileiro.

Segundo ele, o “nosso foco é desenvolver as lutas já existentes e dar força para as novas. Segundo, apresentar nossas propostas mas sem esquecer que de fazer grande propaganda do Socialismo como única forma de acabar com a escravidão assalariada e com as opressões e, em terceiro lugar, fazer uma grande campanha de filiação e consolidação de nosso partido!”

Regras injustas tornam disputa eleitoral desigual no Brasil

Enquanto o Partido Liberal, de Bolsonaro, com deputados indiciados por mobilizar um golpe de estado em 8 de janeiro de 2023, recebeu quase 900 milhões de reais de Fundo Eleitoral, a Unidade Popular vai receber apenas 0,1% do Fundo.

Para piorar, o partido socialista não recebe o Fundo Partidário e é boicotado pela grande mídia dos debates e das principais sabatinas na imprensa.

Em São Paulo, por exemplo, enquanto milionários acusados de crimes, como Pablo Marçal (PRTB), são convidados aos debates, Ricardo Senese, candidato da UP, não teve o mesmo direito. No Rio, a candidata da UP, Juliete Pantoja, teve apenas metade do tempo destinado aos demais candidatos na sabatina organizada pelo portal G1, ligado ao grupo Globo.

Este cenário se repete em todo país. Terminado os primeiros 15 dias de campanha, o horário eleitoral de rádio e TV ocorrerá sem que os candidatos da UP possa aparecer. Seja em Porto Alegre, com Luciano do MLB, único candidato a prefeito atingido pelas enchentes, ou em Recife, com a enfermeira Ludmilla Outtes, a UP não tem direito a propaganda no rádio e TV.

Sobre isso, Leonardo Péricles reafirmou que mesmo com o jogo desigual o partido acredita na agitação e propaganda socialistas para levar as propostas da UP ao povo.

“Vamos enfrentar o jogo injusto das eleições no Brasil com um grande trabalho de divulgação de nossas ideias e de nosso partido que chamamos de agitação e propaganda. Ter metas claras e objetivas como as que traçamos na pergunta anterior, forjar e consolidar novas lideranças através das lutas populares e assim impor derrotas ao inimigo de classe que nos permitam acumular forças no processo para inverter o jogo e em médio prazo poder derrota-los através de uma revolução e da edificação do socialismo em nossa pátria.”, finalizou Leo.

Estudantes de todo o país se mobilizam contra ataques à educação pública

Atos em pelo menos 18 estados mobilizaram milhares de estudantes secundaristas e universitários. Jovens denunciam cortes no orçamento da educação pública, defendem o fim do Novo Ensino Médio e rejeitam projetos de privatização e militarização das escolas

Guilherme Arruda | São Paulo (SP)


JUVENTUDE – Nesta quarta-feira (14/8), a juventude brasileira saiu às ruas em um grande ato nacional em defesa da Educação. Marcando uma ação combativa para o Dia do Estudante, comemorado na data de 11 de agosto, a manifestação foi convocada pela Federação Nacional dos Estudantes do Ensino Técnico (FENET), pelos movimentos Rebele-se e Correnteza e por DCEs, Centros Acadêmicos e grêmios escolares do país inteiro.

Entre as pautas que foram defendidas pelas entidades estudantis nos protestos estão o aumento dos investimentos na educação pública, a revogação do Novo Ensino Médio e o fim dos projetos de militarização e privatização das escolas estaduais que diversos governadores estão tentando aprovar.

Além das passeatas nas ruas, o dia foi marcado por uma série de ocupações que chamaram a atenção da sociedade para a situação do ensino público. No Rio de Janeiro, no Ceará e em Santa Catarina, os estudantes ocuparam as secretarias estaduais de Educação. No Rio, a Secretaria de Ciência e Tecnologia também foi ocupada. Já na cidade de Belo Horizonte, ocorreu a ocupação da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Contra a privatização e a militarização do ensino

Em Curitiba, há menos de dois meses, a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP) foi palco de um protesto de 20 mil pessoas contra a privatização das escolas. Por isso, a luta contra a entrega do ensino público para empresas privadas, defendida pelo governador Ratinho Júnior (PSD), foi a principal bandeira da manifestação dos estudantes.

“O ato foi muito importante pra mostrar para os jovens que existe alternativa ao que a gente encara hoje na educação pública do Paraná”, disse Pedro, estudante do Colégio Sesi Paraná e militante do Movimento Rebele-se, ao jornal A Verdade.

Já em São Paulo, além de também anunciar um plano de privatização da educação pública, o governador fascista Tarcísio de Freitas busca implementar um projeto de militarização das escolas. Por meio de falsas consultas e cooptação de diretores, sua gestão quer arbitrariamente impor a substituição de professores por policiais – que ganhariam mais do que recebem os docentes formados – nas unidades escolares do estado, transformando-as em “escolas cívico-militares” que tolhem a liberdade dos alunos e o ensino crítico.

“Aqui em São Paulo, os estudantes foram às ruas contra o Novo Ensino Médio, a militarização das escolas e o projeto de leiloar 33 escolas estaduais em setembro para a iniciativa privada. O ato foi muito importante para o movimento estudantil porque diferenciou aqueles que estão na luta pela Educação daqueles que conciliam com o direito dos estudantes”, afirmou Julia Cacho, coordenadora-geral da FENET e candidata à vereança em Mauá (SP) pela Unidade Popular.

Por um R.U. de qualidade

Os estudantes universitários, organizados no Movimento Correnteza e na União da Juventude Rebelião, também levaram suas pautas às manifestações do dia 14 de agosto. Na cidade de Petrolina, o DCE da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e a União dos Estudantes de Pernambuco (UEP) realizaram o ato estudantil na frente do Restaurante Universitário da Univasf e se solidarizam com os trabalhadores.

“O evento faz parte de uma série de mobilizações por um R.U. mais acessível, de qualidade e com preços populares, já que ele é o mais caro do Nordeste. Além dos altos preços, também foram denunciados os mais de 100 processos trabalhistas contra a Empresa Paisagem, fornecedora dos serviços do restaurante. Os estudantes fizeram falas mostrando sua indignação com o preço absurdo e os funcionários também mostraram seu apoio”, explicou Alysson Monteiro, presidente do DCE da Univasf e candidato a vereador em Petrolina pela UP.

Em defesa da UERJ

No Rio de Janeiro, a manifestação reuniu dezenas de entidades estudantis na Praça da Cinelândia, onde há 56 anos ocorreu a Passeata dos Cem Mil contra a ditadura militar. O ato seguiu até a sede das Secretarias de Educação e Ciência e Tecnologia, onde ocorreu uma ocupação em que se denunciou os cortes orçamentários cometidos pelo governador fascista Cláudio Castro (PL).

O ato foi marcado por uma importante presença de estudantes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que estão ocupando dois campi da instituição contra os cortes e as mudanças nas regras de acesso às bolsas de assistência estudantil. Ainda nesta quinta (15/8), os alunos foram reprimidos a mando da reitoria e do governo do Estado no campus do Maracanã.

Luta pela educação deve seguir firme

Além de uma demonstração da força do movimento estudantil, o ato do dia 14 de agosto serviu como um chamado para o conjunto dos estudantes se envolverem mais ativamente com a luta em defesa da educação pública.

Em um cenário político marcado pelos cortes orçamentários impostos pelo Arcabouço Fiscal e pela ofensiva dos governadores fascistas contra o ensino público, a mobilização liderada por entidades e movimentos como FENET, UJR, Rebele-se, Correnteza e os grêmios e DCEs associados à Oposição na UNE e na Ubes será imprescindível para defender um futuro digno para os jovens.

“É possível reverter o quadro em que a gente se encontra, mas isso só vai acontecer com a luta organizada dos estudantes”, completou o estudante paranaense Pedro.

Organizações Sociais da Saúde sucateiam saúde pública de São Paulo

Em São Paulo, o SUS enfrenta problemas graves devido à terceirização e privatização promovida pelas OSS com o aval da Prefeitura. Cortes de verbas, diminuições no quadro de funcionários e baixos salários resultam em superlotação, longas filas de espera e sobrecarga dos profissionais de saúde nas UBSs da cidade

Magno Pereira Rocha e Viviane Damaceno | São Paulo (SP)


SAÚDE – O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos serviços essenciais mais importantes do nosso país, pois é a partir dele que a população pode ter acesso a uma saúde pública, gratuita e de qualidade, apesar de diversas insuficiências. Contudo, em todo o país, mas especialmente na cidade de São Paulo, o SUS tem sido entregue a Organizações Sociais de Saúde (OSS), entidades privadas que atentam contra sua transparência, sua eficácia e seu caráter público, tornando-o apenas um atravessador mercantilista.

Assim, apesar da enorme importância que o SUS tem para o povo, temos visto a concessão de seus equipamentos, como hospitais e Unidades Básicas de Saúde (UBSs), para o que na realidade são empresas terceirizadas (apesar das OSS alegaram que “não tem fins lucrativos”) que cortam gastos e diminuem o quadro de funcionários. Algumas das OSS oferecem mais benefícios, mas em compensação pagam baixos salários. O resultado desse processo é o sucateamento da saúde pública, aumentando a quantidade de pacientes em filas de espera, fragilizando a autonomia do Estado para intervir em problemas administrativos e dificultando a transparência dos gastos públicos.

Saúde ameaçada em São Paulo

Dados do IBGE mostram que, em 2019, 17,3 milhões (10,7%) de pessoas de 18 anos ou mais de idade procuraram algum serviço da Atenção Primária à Saúde (APS), como as UBS, nos seis meses anteriores à pesquisa. Entre elas, 69,9% eram mulheres; 53,8% não tinham uma ocupação e 64,7% tinham renda domiciliar per capita inferior a um salário-mínimo.

Nas Unidades Básicas de Saúde da cidade de São Paulo, a terceirização se acelerou na gestão do ex-prefeito Bruno Covas (PSDB) e teve continuidade na atual gestão de Ricardo Nunes (MDB). Cerca de 90% das UBS estão sendo administradas por OSS, em uma verdadeira entrega de dinheiro público para bolsos privados.

A falta de compromisso da prefeitura com a administração pública das Unidade Básicas de Saúde tem uma primeira grande consequência: a superlotação generalizada desses espaços, já que eles contam com um número de funcionários cada vez menor. A sobrecarga dos enfermeiros dentro das unidades se tornou parte de um “novo normal”.

Além disso, o crescimento exponencial no número de casos de gripe e dengue no primeiro semestre de 2024 ocasionou uma falta de testes disponíveis e no aumento das filas de espera. No contexto da epidemia de dengue que afetou o país, os enfermeiros foram pressionados a bater metas de atendimento altíssimas, a despeito da ausência de materiais e enfrentando uma grande insatisfação de pacientes que, revoltados, chegam a ameaçar fisicamente os trabalhadores.

Um problema similar ocorre nas campanhas de imunização organizadas pela Secretaria Municipal de Saúde, prejudicadas pela falta de vacinas e pelo número reduzido de enfermeiros para aplicá-las. Isso gera uma expectativa maior pela aplicação de uma única vacina, levando à frustração de quem utiliza o serviço.

Ainda por cima, a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), uma das OSS contratadas pela prefeitura de São Paulo, custeia de forma insuficiente essas ações, de acordo com relatos de seus funcionários. Com isso, enfermeiros, responsáveis técnicos e outros profissionais, tiram de seus próprios salário o dinheiro para comprar insumos para a campanha.

Nas unidades de saúde mental, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), a saúde pública paulistana também enfrenta um processo de sucateamento, com falta de funcionários e necessidade urgente da construção de novas unidades. Sem a abertura de novos serviços de saúde, os usuários não terão garantido o acesso à integralidade e longitudinalidade do cuidado que são diretrizes centrais da construção do SUS.

Controle social sob ataque

Há anos, para não convocar novos editais de contratação de trabalhadores (algo que a Prefeitura também se negava a fazer quando era responsável pelas unidades), a SPDM recorre à realocação de funcionários, “emprestando-os” para as unidades que gere e para a sede administrativa, segundo denúncias feitas ao jornal A Verdade. Essa prática, além de estimular a sobrecarga, leva a muitos casos de desvio de função.

O cenário é devastador: um dos depoimentos relata que, sozinhos, 3 funcionários da sede administrativa da SPDM no Butantã atenderam mais de 300 ocorrências mensais no último período, em que foi registrado um aumento no número de ocorrências para a manutenção. Os problemas do tipo vão ainda mais além, sendo vistos também na contratação de empresas terceirizadas para o fornecimento de materiais e equipamentos.

Em outra medida questionada, na gestão Ricardo Nunes, a Secretaria Municipal de Saúde contratou a Organização Nacional de Acreditação (ONA) para supostamente “aferir a qualidade” dos postos de saúde. Nas visitas da ONA, são verificados itens como organização da unidade, uniformização dos funcionários, pintura e reformas e protocolos de atendimentos de todos os profissionais. Quando todos os itens estão em conformidade com as diretrizes da ONA, a UBS recebe certificação de acreditação.

Porém, este método de avaliação não está previsto nas diretrizes da saúde pública brasileira, que é de administração tripartite e prevê que administradores do serviço, trabalhadores e usuários, por meio dos Conselhos Gestores, é que devem exercer o controle social do SUS, e não empresas externas. Apesar de se apresentar como uma entidade “filantrópica”, a ONA tem como presidente Fábio Leite Gastal, um representante da UNIMED, um monopólio do setor da saúde privada.

Tirem as mãos da saúde pública!

A entrega de equipamentos públicos para OSS e as privatizações são medidas realizadas com a promessa de melhorias na gestão e no funcionamento. Porém, como mostra esse conjunto de denúncias, essas formas de gestão são pautadas apenas pela sede de recursos públicos escondida pela máscara “sem fins lucrativos” das Organizações Sociais da Saúde, que sempre optam por decisões que prejudicam pacientes e trabalhadores.

As demissões e a precarização do trabalho na saúde pública, além de gerarem mais dificuldades para o sistema absorver a demanda de pacientes, ameaçam o caráter social do SUS e o transformam e um balcão de negócios dos grandes barões da medicina, que tiram o direito da população de acessar uma saúde universal, pública e de qualidade para todos.

Os trabalhadores da saúde e os movimentos em defesa do SUS, por sua vez, defendem um Sistema Único de Saúde 100% público. A experiência dos últimos anos em São Paulo já tem mostrado que é impossível ter uma boa gestão com as OSS, que tiram proveito do sucateamento e da terceirização da saúde.

Para enfrentar esse quadro, os movimentos e o jornal A Verdade convocam os cidadãos que utilizam os serviços de saúde a participar ativamente dos conselhos gestores dos serviços do SUS, como as UBS, os CAPS e as Supervisões Técnicas de Saúde.

Movimentos conquistam desapropriação da Casa da Morte, em Petrópolis (RJ)

Casa da Morte, antigo centro clandestino de torturas da Ditadura Militar Fascista será desapropriado e se tornará centro de memória.

Christian Nunes | Petrópolis – RJ


MEMÓRIA – No dia 9 de agosto de 2024, foi anunciada a encampação da Casa da Morte pelo governo federal em convênio com a prefeitura de Petrópolis. Essa é uma importante vitória da luta pela memória, verdade, justiça e reparação. Foram 40 anos de lutas de movimentos sociais, organizações políticas e familiares das vítimas da Ditadura Militar Fascista (1964-1985)

Foi durante este regime que Inês Etienne Romeu foi capturada por lutar contra o regime militar e por uma sociedade mais justa. Foi barbaramente torturada e estuprada. Inês Etienne escapou com vida do cárcere e conseguiu denunciar a Casa da Morte, local onde fora torturada, contribuindo enormemente para a luta por memória verdade e justiça.

A Casa da Morte está localizada no bairro Caxambú, em Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro. Além de Inês Etienne, dezenas militantes políticos, lutadores contra a ditadura, foram torturados na mesma casa. No local também ocorriam execuções sumárias daqueles que lutava por um Brasil sem exploração. 

A casa da morte era propriedade de Mario Lodders, filho do espião nazista Ricardo Lodders. Mario cedeu a casa para que funcionasse como centro de torturas da Ditadura.

Depois de anos de lutas, realizadas por movimentos sociais, partidos, dentre eles, a Unidade Popular e a União da Juventude Rebelião, o Centro Alceu Amoroso Lima, Centro de de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH), Grupo Pró Memorial Casa da Morte e parlamentares de esquerda, a encampação foi finalmente conquistada. Nessa luta se destacaram especialmente os familiares e amigos das vítimas da Ditadura Militar Fascista, além da própria Inês Etienne, que faleceu em 2015, mas nunca deixou de defender a criação do centro de memória no local.

A proposta é que se torne um centro memorial, para visitação e pesquisa contínua sobre a ditadura militar. A maioria do povo da cidade de Petrópolis não conhece esta casa e sua história, portanto, se torna fundamental a existência deste memorial.

A Ditadura Militar de 64, foi um governo fascista que durante 21 anos aumentou a desigualdade social, jogou o povo na pobreza, perseguiu lideranças estudantis, sindicais e de camponeses e reprimiu, torturou e matou opositores ao regime. O regime foi apoiado pela burguesia brasileira e pelo governo dos Estados Unidos. 

A direita fascista faz de tudo para esconder este legado de tortura e morte, mas os comunistas, movimentos sociais e progressistas, com a força da luta, atingem uma importante vitória que contribuirá decididamente na luta contra o fascismo em Petrópolis e no Brasil, conscientizando as pessoas e denunciando os crimes do fascismo e da ditadura militar.

Secundaristas se mobilizam contra o Novo Ensino Médio no Ceará

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Secundaristas ocupam a secretaria da educação e exigem revogação do Novo Ensino Médio e melhoria da educação no estado do Ceará.

Ignis Medina e Victor Davidovich | Fortaleza


JUVENTUDE – Na tarde de 13 de agosto, estudantes secundaristas de múltiplas escolas de Fortaleza e Caucaia ocuparam a secretaria de educação do estado do Ceará em manifestação contra a falta de estrutura e a implementação do novo ensino médio em seus colégios e para denunciar os projetos em curso no país de militarização e privatização da educação.

Dia 11/08 é o dia nacional dos estudantes, mas apesar dessa data comemorativa, não há nada a se comemorar para a categoria estudantil no Brasil. Com cortes bilionários, Novo Ensino Médio, precarização sistemática, militarização e venda de mais de 200 escolas públicas para a iniciativa privada no sul e sudeste. Pensando nisso, a Rebele-se Ceará, junto da União dos Estudantes Secundaristas da Região Metropolitana de Fortaleza (UESM) Convocaram escolas para a realização de um grande manifestação, ocupando a secretaria de educação do seu estado, reivindicando a melhoria da estrutura de seus colégios e a revogação do Novo Ensino Médio, que já no ano passado havia sido duramente criticado por meio de mobilizações estudantis.

O ato mobilizou centenas de estudantes e conquistou uma reunião com o secretário executivo da Secretaria de Educação, junto com as lideranças dos movimentos e representações estudantis das escolas e dos grêmios presentes. Na reunião, foi denunciada principalmente a situação de precarização estrutural das escolas – são inúmeras salas sem climatização adequada, escolas sem quadra poliesportiva, banheiros sem porta e sem insumos como papel e sabonete, etc.

Quando entrevistados pelo Jornal A Verdade, alguns dos secundaristas trouxeram suas exigências e suas histórias. Rafa, estudante do ensino técnico, da Escola Jaime de Alencar, falou sobre o teto da escola, que caiu com a temporada de chuva de Fortaleza, salas sem ar-condicionado e extremo descaso da coordenação pedagógica quanto ao contexto de bullying e violência vivido pelos seus estudantes. Isso tudo, em uma escola premiada pelo Ministério da Educação, por sua excelência.

Situação de violência parecida foi descrita por Julia, estudante do CE Adauto Bezerra, que expressou sua decepção com o trato da escola quanto aos assédios, principalmente quando vindo dos próprios professores.

Em um estado que se vangloria pela qualidade de sua educação, a manifestação feita pela UESM e o Rebele-se no Ceará escancaram uma realidade não trazida pelas propagandas de um “estado líder em educação”. Por trás de todos os números de sucesso e comemorações, os estudantes vivem em escolas públicas sem qualidade, em regimes de horas extensivos e abusivos, cansaço, mal preparo e ensino técnico que cada vez mais gera mão de obra mais barata para o mercado de trabalho, um novo ensino médio que prejudica estudantes e professores, com um currículo e educação pensada por empresários.

Por isso, a União Juventude e Rebelião, o Rebele-se e a FENET convocam atos nacionalmente pela educação e seus estudantes, pela revogação do NEM, e enquanto houver quem lucre com a educação no Brasil, haverá educação pública de má qualidade. É preciso da organização e da luta não só dos estudantes brasileiros, mas também dos trabalhadores do nosso país, uma luta que paute a derrubada do sistema que cria essa realidade de precarização pelo lucro.

Correnteza organiza estudantes da UDESC contra precarização

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Movimento Correnteza organiza trabalho de denúncia dos ataques do governador fascista Jorginho Melo aos direitos dos estudantes da UDESC.

Ísis C. Artusi e Vitória B. Ribeiro | Florianópolis


Sendo um dos estados mais fascistas do país com uma assembleia composta majoritariamente por partidos de extrema-direita como o Partido Liberal (PL), as universidades de Santa Catarina sofrem diretamente com as contradições e desigualdades defendidas pelas alianças entre políticos e os grandes empresários.

A exemplo disso, a aprovação do projeto Universidade Gratuita, encabeçado pelo atual governador do estado Jorginho Mello (PL), que destina o investimento da educação estadual para as universidades comunitárias com bolsas para os estudantes em vulnerabilidade social, mas com a prerrogativa de trabalho em troca das bolsas e diversas dificuldades em seu acesso. Além disso, não há políticas de permanência nessas universidades, que na sua maioria, não tem restaurantes universitários ou moradias estudantis.

Esquecem de comentar que o orçamento da UDESC é devolvido todos os anos ao estado de Santa Catarina. Por isso, é importante o debate e a organização de uma luta que pode se dar através das entidades universitárias organizadas, contra a mercantilização da educação no estado e pela garantia de uma universidade mais acessível, pelo fim do vestibular e pelo aumento de concursos, que permitam a ampliação do corpo docente e estrutura para todo o povo que deseja ingressar na UDESC – a universidade verdadeiramente pública e gratuita de Santa Catarina. 

Outra política que faz parte do plano de sucateamento e da educação no geral,  é a política do arcabouço fiscal, antigo teto de gastos, que mesmo sendo uma política nacional, afeta a conjuntura geral do estado de Santa Catarina. Enquanto são colocados limites para os gastos na educação e saúde no nosso país, mais da metade da riqueza produzida pelo nosso país vai direto para o bolso de grandes empresários e países. É necessária a luta pela auditoria da dívida pública em nosso país e pela suspensão do arcabouço fiscal. 

Os estudantes querem entrar e permanecer 

A luta pela permanência é a questão principal no dia a dia dos estudantes da UDESC. Hoje em dia nem a política de cotas, nem os auxílios permanência oferecidos pela universidade são o bastante para garantir a não evasão dos estudantes que ingressam no ensino superior. 

As políticas de entrada na Universidade do Estado de Santa Catarina preveem o ingresso de apenas 30% das vagas totais para o programa de ações afirmativas, sendo 20% dessas vagas para estudantes que completaram o Ensino Médio na rede pública, e o restante, 10%, para estudantes negros. Outra escassez está nas cotas para pessoas com deficiência, pessoas trans e pessoas indígenas. As políticas de cota da UDESC se mostram consideravelmente atrasadas comparadas ao resto do país e, por mais que tenha sido criada uma comissão para reavaliação das cotas, nenhuma solução efetiva foi apresentada nos últimos quatro anos de uma gestão alinhada com os governos fascistas de Santa Catarina. 

Além das condições de ingresso, as condições de permanência são ainda piores. Há cursos em que são abertas 40 vagas e entram apenas 5 alunos. Há outros casos, ingressam 40 estudantes e destes somente 5 se formam na universidade. A cada semestre, vemos nossas turmas diminuírem, mais e mais estudantes das mais diversas realidades precisando escolher entre fazer uma graduação ou pagar o aluguel e colocar comida na mesa. A “coincidência” é que esses estudantes que trancam ou desistem da faculdade são trabalhadores, pobres, pretos, mães, pais, estudantes com deficiência, indígenas, trans. Questionamos então, é mesmo coincidência ou um projeto para que somente estudantes brancos, (majoritariamente homens cis gênero e classe média alta) possam permanecer na UDESC? 

Em contato direto com essas contradições e reivindicações dos estudantes no espaço da universidade, a Chapa Calor da Rua, construída por estudantes do Movimento Correnteza e outros estudantes independentes, apresentou seu programa político para a universidade e venceu as eleições para o Diretório Central dos Estudantes Antonieta de Barros, contabilizando um total de 886 votos dos 1446 votos depositados. 

A luta organizada na Universidade do Estado de Santa Catarina

Com uma formação de chapa e campanha que teve como principais pautas atingir os estudantes das cidades dos interiores, denunciar o governador fascista do Jorginho Mello e o Projeto de Universidade Gratuita, denunciar as condições precárias de permanência e ingresso da universidade e apontar nossos verdadeiros inimigos. O nosso inimigo é o estado burguês e fascista, que cotidianamente coloca bilhões nos bolsos de banqueiros e grandes empresários, enquanto temos milhões de famílias e crianças sem moradia digna, com fome, sem acesso a saneamento básico, educação e saúde. 

É necessário entender, que através da gestão das entidades e da luta organizada dentro do movimento estudantil, a nossa juventude se molda e ocupa tarefas que mudam efetivamente o cotidiano dos estudantes e trabalhadores de uma universidade. Em outras palavras, o povo que compõe a classe estudantil se coloca com firmeza dentro do espaço universitário, mostrando que o ocupa pela luta do povo e que vai ocupar cada vez mais. 

Mas pautar também, como Diretório Central dos Estudantes, denúncias imprescindíveis no movimento estudantil. É deixar claro que não é um DCE que vai resolver e mudar a educação. Assim como não são os professores que vão mudar a escola. A comunidade pobre, periférica, preta e indígena não vai ocupar a maioria dos espaços acadêmicos até que não se destrua esse sistema. As mulheres, pessoas LGBTIAPN+ não estarão seguras nos espaços acadêmicos, enquanto a burguesia estiver no poder. A exploração dos trabalhadores terceirizados da limpeza, das cantinas, restaurantes universitários, entre outros, não vai acabar até que não se faça a revolução socialista.

Mães estudantes da UFMA conquistam aumento do auxílio creche

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Mais de 2 milhões de crianças não têm acesso à creche no Brasil hoje. A conquista do auxílio creche na UFMA é fundamental para garantir a permanência das mães estudantes na universidade.

Thalia Lima | São Luís (MA)


MULHERES – O acesso à creche ainda é um problema no nosso país. As vagas limitadas, junto da mercantilização da educação primária, atrapalham e prejudicam ainda mais as mães pobres e periféricas. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios sobre Educação (Pnad), ainda existem 2,5 milhões de crianças de 0 a 3 anos que não têm acesso a vagas em creche.

As mulheres que estão mães precisam trabalhar, estudar e ter uma rede de apoio para continuar fazendo seus afazeres. Por isso, o auxílio creche na universidade é fundamental para que a mãe estudante tenha a segurança para poder estudar e realizar pesquisas com a garantia de que sua criança está em um lugar seguro.

A realidade das universidades está longe de ser a ideal para as mães. Muitas não possuem creches ou outras estruturas para atender à demanda das mães. Já as que garantem auxílios muitas vezes oferecem valores que não cobrem os custos de uma creche em período integral, que é extremamente cara no país, e não atende as necessidades para as mães poderem estudar com tranquilidade.

Lua Costa, estudante de Teatro da UFMA e mãe, relata: “A minha vivência enquanto mãe e universitária é bastante desafiadora devido à falta de suporte/estrutura dentro da universidade. Como por exemplo, tenho que trocar a minha filha em locais inapropriados, pois em todo o campus só existe um único trocador, que foi uma vitória da luta das mães”.

Na Universidade Federal do Maranhão, não é diferente. Diante disso, no final de 2023,  o Coletivo de Mães da UFMA, o Movimento de Mulheres Olga Benario e diversos outros movimentos sociais estiveram na universidade denunciando a falta de brinquedoteca, creche universitária, e o valor de 200 reais do auxílio creche. Fruto dessa luta, foi conquistado o aumento de 200% do valor do auxílio, passando de 200 para 600 reais.

“O auxílio creche com toda certeza ajuda na permanência de mães (sobretudo as sem rede de apoio) na UFMA. Pois, assim, como no meu caso, levam seus filhos para as salas de aula, dificultando seu desempenho acadêmico tendo que lidar com a dupla demanda; agora não precisarão mais recorrer a essa situação e sim custearão uma creche ou cuidadores para cuidar de suas ‘crias’, enquanto estudam tranquilamente”, completa Lua Costa.

A continuação da luta é de extrema importância para garantir a permanência das mães estudantes, assegurando auxílios e melhores estruturas para elas, possibilitando, assim, a oportunidade de continuar sua tão sonhada graduação.

Movimentos seguem na luta contra o PL do Estupro

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Apesar do PL do Estupro ter sido temporariamente retirado de pauta no Congresso Nacional, a sanha dos fascistas contra os direitos reprodutivos não acabou. Para o Movimento de Mulheres Olga Benário, neste período eleitoral, é preciso exigir compromisso com a ampliação dos serviços de aborto legal, maior oferta gratuita de contraceptivos e políticas para as mulheres mães

Larissa Mayumi | São Paulo (SP)


No mês de junho, aconteceu uma grande jornada de atos de mulheres contra o Projeto de Lei 1.904, o chamado PL do Estupro, que tenta criminalizar ainda mais as vítimas de estupro no Brasil. O projeto foi temporariamente retirado da pauta do Congresso Nacional, mas a luta continua.

Poucas semanas depois, já no mês de julho, uma menina de 13 anos, de Goiás, foi impedida de realizar o procedimento de aborto, mesmo sendo uma gestação fruto de estupro. Ela informou aos pais, ainda em fevereiro, que estava grávida, mas o pai a impediu de realizar o procedimento. Insatisfeita, e não querendo levar a gestação à frente, a criança, em maio, procurou o Conselho Tutelar para que este interviesse em seu favor, resultando numa decisão favorável ao procedimento por parte do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A Organização Mundial de Saúde indica que gestação em menores de 16 anos coloca em risco a vida da gestante. De acordo com o artigo 128 da Constituição Federal, o aborto pode ser realizado em três casos: gestação fruto de estupro; risco de vida à gestante; feto anencéfalo.

Em 2023, foram mais de 64 mil casos de estupro de vulneráveis (que são as crianças menores de 14 anos e pessoas que não têm condições de consentir), de acordo com o último Anuário de Segurança Pública. Além disso, mais de 1.500 meninas gestantes de até 14 anos morreram por causas relacionadas à gravidez só no ano de 2020, de acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS). Quase 500 mulheres já morreram, nos últimos dez anos, por terem complicações em abortos realizados de forma insegura.

Próximos passos

Assim, mesmo que os atos da jornada nacional de lutas contra o PL do Estupro tenham atrasado sua votação no Congresso Nacional, milhares de meninas e mulheres têm sua vida colocada em risco diariamente, pois são impedidas de acessarem o aborto legal.

Além disso, intensificou-se a perseguição a médicas e médicos que realizam o procedimento de aborto legal, e até mesmo o fechamento deste serviço em hospitais de referência, pois algumas Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas têm aproveitado o cenário para tentar impedir o acesso a este direito e criminalizar as vítimas e os profissionais da saúde.

Assim, os próximos passos da luta das mulheres são ocupar as ruas contra esses ataques, vindos especialmente da extrema-direita, e exigir a reabertura dos serviços de abortamento legal e a sua ampliação para mais municípios. Atualmente, só 104 dos mais de 5.500 municípios brasileiros oferecem este serviço.

Devemos transformar essa luta num grande movimento de massas, chamar mais mulheres para ocupar as ruas pela legalização do aborto no Brasil.

Seguir mobilizando mulheres, construindo rodas de conversas nos bairros, realizando atividades em escolas e universidades, debatendo junto às trabalhadoras em seus locais de trabalho, orientando como acessar o direito ao aborto legal e a necessidade de seguir ocupando as ruas até a legalização do aborto em todos os casos.

Também realizar passagens em serviços de saúde para garantir que sejam oferecidos métodos contraceptivos, como a oferta de camisinhas, dispositivos intrauterinos (DIU) e a realização do procedimento de laqueadura, conforme nova legislação – mulheres com mais de 21 anos ou para todas as mulheres com dois filhos ou mais (independentemente da idade), sem a necessidade de autorização do parceiro.

Durante o período eleitoral que se avizinha, devemos denunciar aqueles candidatos que atacam nossos direitos, exigir das candidaturas de esquerda a defesa da ampliação do serviço de abortamento legal e a garantia de que os municípios ofereçam políticas de educação sexual e métodos contraceptivos. Também a garantia de políticas para quem decide ser mãe, como creches em tempo integral, oferta de serviços de pré-natal nos postos de saúde, garantia de parto naturalizado e humanizado.

Por fim, devemos já nos preparar para construir um grande ato de rua no dia 28 de setembro, Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta pela Legalização do Aborto, chamando aquelas e aqueles que realmente defendem a vida das mulheres e das crianças a lutarem pela legalização do aborto no nosso país.

Mais de um milhão de mulheres sofreram violência em 2023

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Dados da edição mais recente do Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam: cerca de 1,2 milhão de casos de violência contra as mulheres foram registrados em todo o Brasil no ano passado. Um aumento no número de denúncias foi registrado em todos os tipos de crimes considerados ligados à violência de gênero

Indira Xavier | Redação


O Fórum Brasileiro de Segurança Pública publica anualmente um relatório nacional a partir de informações fornecidas pelas Secretarias de Segurança Estaduais, pelas Polícias Civis, Militares e Federal, entre outras fontes oficiais.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, cresceram os registros de todas as formas de violência contra a mulher, sendo que o crime de importunação sexual teve um aumento de quase 50%, com mais de 41.300 casos denunciados.

A violência doméstica teve um aumento de quase 10%, sendo mais de 258 mil mulheres agredidas, o que resultou em mais de 2.700 vítimas de tentativas de feminicídio, sendo que 1.467 perderam suas vidas, o maior número desde que o feminicídio passou a ser tipificado. No total, foram mais de meio milhão de medidas protetivas expedidas em 2023 e mais de 770.000 mulheres ameaçadas por seus parceiros e ex-companheiros.

A violência sexual contra meninas também aumentou: foram mais de 72 mil casos denunciados. Se, até 2022, era registrado um caso de estupro a cada oito minutos, em 2023, essa média passou para um caso a cada seis minutos. O que quer dizer que, no Brasil, 240 mulheres e meninas são estupradas a cada dia. São mais de 87 mil casos por ano, sendo que, destas, mais de 60% são menores de até 13 anos ano de idade.

Somados todos os casos de violação e violência contra as mulheres no Brasil, chega-se a um total de 1.238.208 casos, só em 2023. Uma realidade brutal.

Lei Maria da Penha

Neste mês de agosto, completam-se 18 anos da Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, que é um desdobramento das várias sanções sofridas pelo Estado brasileiro nas Cortes Internacionais de Direitos Humanos por não ter dado respostas às denuncia realizadas pela professora Maria da Penha, que, por anos, denunciou as violências e sucessivas tentativas de assassinatos que sofreu por parte de seu ex-companheiro, que a deixou paraplégica.

A lei é reconhecidamente uma das mais completas do mundo e uma importante conquista das mulheres brasileiras, pois, pela primeira vez, tipificam-se violências que nunca foram tratadas como tais e que eram usadas para desqualificar as mulheres, como as violências psicológica e patrimonial, por exemplo.

No entanto, mesmo com a vitória da implementação da lei e, posteriormente, a inclusão no Código Penal da lei do feminicídio (13.104), em março de 2015, a realidade é que a violência de gênero continua vitimando milhões de mulheres todos os anos em nosso país.

A Lei Maria da Penha é um importante instrumento para coibir e conter a violência de gênero, assim como todas as medidas que foram adotadas posteriormente, fruto da luta do movimento de mulheres para tipificar outras violências em diversos âmbitos, como o feminicídio, a importunação sexual, etc.

No entanto, vivemos sob o Estado capitalista e, embora este diga defender a liberdade e a vida das mulheres e crianças, a realidade é que estimula a violência de gênero todos os dias. O que assistimos são governos fascistas e inimigos das mulheres retirando orçamentos das políticas de assistência e impedindo o pleno desenvolvimento das redes de enfrentamento à violência contra as mulheres.

Assim, lutar por medidas de combates à violência contra as mulheres passa necessariamente por lutar contra o fascismo e todas as suas medidas de retirada de direitos da classe trabalhadora e contra a entrega do patrimônio público à burguesia.

Só pondo abaixo o capitalismo e construindo em seu lugar o socialismo, um governo dos trabalhadores e das trabalhadoras, será possível termos plenos direitos e liberdades, como dizer o que é melhor para nós e nossos filhos, decidir sobre nossas vidas e nossos corpos.

Vila Amaury, a ocupação dos operários que construíram Brasília

Entre 1957 e 1960, moraram na Vila Amaury mais de 4 mil famílias de “candangos”, os trabalhadores que puseram Brasília de pé. Essa verdadeira ocupação foi inundada pelo Lago Paranoá quando a capital foi inaugurada, mas sua história de independência frente às empreiteiras e o governo merece ser sempre lembrada

Thiago Medeiros | Brasília (DF)


A morte de Amaury foi premeditada! A Ocupação Vila Amaury, que abrigou em torno de 4.000 famílias entre 1957 e 1960, foi um importante espaço para a vida candanga durante a construção de Brasília. Uma ocupação independente das construtoras, erguida pelas mãos calejadas da classe trabalhadora e mantida de pé por seu espirito solidário.

Amaury foi onde muitas famílias conseguiram achar um lar e uma comunidade durante a empreitada da construção da nova capital federal. O espaço que chegou a ter um parque de diversões com roda gigante e uma rádio própria, com direito a declarações de amor, anúncios, avisos importantes e música para o povo aproveitar, existe hoje somente nas memórias daqueles que a conheceram e no fundo do Lago Paranoá. A Vila que o povo candango construiu, desde o início tinha seus dias contados. Amaury foi morta afogada, sem ar, debaixo d’água, encoberta pela maré artificial da transposição do Rio Paranoá.

As vilas operárias

O projeto para a construção de Brasília era ambicioso. Ambicioso até demais. A promessa feita pelo então presidente da República Juscelino Kubitschek, para desenvolver o Brasil “cinquenta anos em cinco”, só poderia se efetivar porque toda a jurisdição do território que viria a ser o Distrito Federal tinha sido passada para empresa estatal Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil), que ignorava inúmeros direitos e necessidades do povo candango em troca de cumprir seu objetivo final: viabilizar a construção de Brasília custasse o que custasse.

Entre as muitas violações que a população candanga sofreu nesse período, o direito à moradia foi uma das mais sentidas. Muitos dos trabalhadores moravam em alojamentos que seguiam à risca o modelo de “vilas operárias”, espaços que existiam para que as empreiteiras contratadas pela Novacap pudessem controlar e explorar ainda mais seus trabalhadores. Proximidade aos canteiros, espaços cercados, toque de recolher, horários para as refeições e vigias constantes eram comuns nesses espaços. A semelhança a uma prisão demonstrava o nível de tutela que as empresas queriam ter sobre os operários.

A Vila Amaury, no entanto, fugia um pouco desse modelo, pois era independente das construtoras, composta de casas feitas de tábuas de madeira e sacos de cimento extraviados das obras da construção de Brasília. Destacava-se também por abrigar famílias, já que as empreiteiras davam preferência para homens solteiros em seus alojamentos.

Por que, então, a Novacap deixou florescer um espaço tão grande e diferente dos seus outros alojamentos sem represálias? Seria um resquício de bondade e de compaixão com a condição humana ou com a necessidade de moradia? Claro que não! É porque lhe era conveniente!

Primeiro, mantinha a proximidade do povo candango com os canteiros de obras; segundo, criava um espaço onde concentrar os operários; e finalmente, a área onde ficava a ocupação seria inteiramente inundada pela transposição do que viria a ser o Lago Paranoá.

Quando ocupações e favelas despontavam em outras regiões, eram rapidamente instruídas a levar seus barracos para a Vila Amaury. Tal como o gado engordado para o abate, Amaury se edificava sobre sua própria cova. O destino da Vila demonstra claramente o que os executores de Brasília pensavam sobre o povo que construiu a nova capital: uma necessidade temporária, uma presença a ser esquecida, uma sujeira a ser lavada pelas águas.

O plano de transferência

Em 12 de setembro de 1959, fecha-se a barragem do Rio Paranoá e a água começa a subir em direção à Vila Amaury.

A Novacap apresentou o Plano da Transferência da População da Vila Amaury para as Cidades Satélites, emitido em 27 de outubro de 1959. A população seria remanejada para duas cidades satélites, Taguatinga e Sobradinho. A primeira, já havia recebido moradores de outras ocupações desarticuladas pela empresa estatal e não comportaria as novas famílias. Já a segunda, ainda era um projeto de cidade. Não tinha água para fornecer, energia elétrica, fossas, escoadouros, postos de saúde, mercados, postos policiais, corpo de bombeiros ou mesmo uma capela. A transferência levaria os candangos de uma cidade jurada de morte para uma que era apenas um projeto no papel. E a água subia…

Por seis meses, o lago vai tomando seu espaço prometido, rastejando para a “cota 1000”, nível no qual o reservatório poderia operar normalmente. As famílias da Vila Amaury iam sendo remanejadas precariamente através das estratégias do Plano novacapista e, pouco a pouco, a Vila ia sumindo, afogada pelo Lago Paranoá.

Quem construiu a Capital?

Quando vemos o sobrenome Kubitschek estampado em tantos prédios públicos e históricos do Distrito Federal somos levados a imaginar que o responsável pela construção da Capital foi Juscelino. Ele, como um super-herói da construção civil, ergueu prédio após prédio, quadra após quadra. Ergueu a Catedral e o Palácio da Alvorada, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.

É fácil esquecer do povo candango. Enquanto o nome de JK está espalhado pelo Plano Piloto, os restos dos verdadeiros construtores da Capital estão escondidos, seja no fundo do Paranoá, seja nas origens das cidades satélites. O povo candango foi apagado, nossa luta, nossa dor, nossa felicidade e, principalmente, nossa história.

Cantemos, então, os nomes dos nossos heróis! Não deixemos que eles sejam levados pelas águas do esquecimento! Lembremos sempre quem construiu a Capital: o povo candango! Viva a nossa história!