UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 28 de agosto de 2025
Início Site Página 54

Rinaldo Cardoso Ferreira, professor, mestre e militante

0

Edival Nunes Cajá*


Rinaldo Cardoso Ferreira era recifense, nasceu numa família proletária no dia 24 de maio de 1935. Enquanto seu pai dirigia caminhões de entrega da empresa Souza Cruz, por longas décadas, sua mãe dedicava-se ao penoso e invisível trabalho de cuidar da casa e da família. Casou-se, em 1958, com Maria do Monte Sinai Caraciolo Ferreira. Dessa união, nasceram Liliane, Rinaldo Luiz e Lígia. Em 1991, realizou seu segundo casamento, com Carol (Maria Carolina Bezerra Cavalcanti).

Formou-se em História (1965) e Economista (1971), ambas na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), retornando à instituição como professor de Economia, já em 1972, um professor com Concepção Marxista da História. Antes de se consagrar como professor universitário, também trabalhou no Banco Nacional do Norte (Banorte), na Texaco, no Banco do Brasil e lecionou História em colégios do Recife. Rinaldo concluiu seu mestrado, em 1986, na UFPB, com uma primorosa dissertação “O Movimento de Cultura Popular de Recife – MCP – expressão educacional de uma proposta política de mudanças”. Ele queria compreender a efervescente situação político-cultural na qual vivera a sua juventude, aqueles agitados e esperançosos anos que antecederam o golpe militar fascista de 1º de abril de 1964. Ele tinha uma verdadeira paixão por aquele ambiente propício para o despertar de novas consciências, marcado pelas ações dos governos municipais progressistas de Pelópidas Silveira (1955-1959) e de Miguel Arraes (1960-1963), também este no Governo do Estado (31/01/63 a 02/04/1964), promovendo o Movimento de Cultura Popular (MCP), o Teatro Popular do Nordeste (TPN), o Ateliê Coletivo, com aulas regulares, incentivando as artes plásticas, a literatura, a música, a dança, o Cinema Novo.

Para isso, foram construídos cineteatros no Centro da cidade e nos maiores bairros, sempre lotados com exibições, espetáculos, assembleias populares, ou congressos, festivais e encontros locais e regionais. Era comum Rinaldo se emocionar ao demonstrar a ideologia revolucionária dos comunistas. Numa roda de conversa sobre o comunismo científico e seus fundadores, Karl Marx e Friedrich Engels, no Centro Cultural Manoel Lisboa, há 30 anos, aproximadamente, Rinaldo nos falou, com um orgulho danado, de ter se tornado comunista de forma natural. Como, assim, companheiro? Ele respondeu: “Ora, em Recife, no início dos anos 60, foi grande o impacto da Revolução Cubana de 1º de janeiro de 1959. A gigantesca desigualdade social reinante em Pernambuco e muitos livros publicados, a preço popular, objetivando despertar a consciência política dos jovens, dos trabalhadores, sobre a realidade social na qual se vivia, como as coleções Romances do Povo e Cadernos do Povo, tendo alguns destes chegado a vender cerca de um milhão de exemplares. Tudo isso tornava o socialismo e o comunismo algo próximo de nós.”

Rinaldo foi se fazendo militante: “Ler A Concepção Materialista da História, de George Plekhanov e a Contribuição à Crítica da Economia Política, de Marx, logo ao chegar à universidade, significou uma redescoberta do mundo, da sociedade e da possibilidade de transformá-la”. A sua longeva amizade com a direção do PCR e com o professor Waldomiro Cavalcanti (Unicap e UFPB), o levou a estudar praticamente toda a obra de Marx, especialmente O Capital. A sua consciência passou a exigir coerência entre teoria e prática. Como transformar a sociedade capitalista em sociedade socialista sem a organização e a militância da classe trabalhadora, sem sua vinculação orgânica com a teoria e o movimento comunista?

Estas grandes indagações o levaram a envolver-se na luta concreta contra a ditadura militar e pelo socialismo. Assim, procurou cuidadosamente aliar sua atividade profissional de professor universitário com a realização de tarefas da resistência armada clandestina à ditadura. Dois exemplos concretos, relatados a seguir, são suficientes para comprovar o tamanho do seu compromisso e de sua capacidade. Ele tinha plena consciência do risco que corria, seja pela ameaça de um flagrante da Polícia do Exército (PE), seja pela possibilidade de uma delação arrancada nas câmeras de torturas, no que pese sua grande confiança na formação ideológica dos militantes e na política de segurança do Partido, no caso de prisão.

Manoel Lisboa de Moura (o companheiro Celso), fundador do PCR e seu principal organizador, seguia militando na clandestinidade, em Recife, entretanto, precisava ir a uma reunião rigorosamente clandestina do Partido em Maceió. O Partido sondou Rinaldo sobre a possibilidade de transportá-lo, examinou os riscos desta viagem interestadual, e ele prontamente se colocou à disposição para levá-lo em seu carro, tendo como cobertura sua própria família – seu irmão Cézar Romero, no volante, e sua esposa, Maria Monte Sinai. A esta altura, 1970, Manoel era um dos homens mais procurado pelo DOI-CODI, o mais violento órgão da repressão política da ditadura militar. A missão foi cumprida exitosamente. Saíram à noite e, na madrugada seguinte, sua família estava de volta ao Recife, sã, salva, e transbordando felicidade.

Valmir Costa (o companheiro Nivaldo), também fundador do Partido e principal dirigente do nosso trabalho no movimento estudantil, cassado em 1969, procurado pela repressão como se procura uma agulha no palheiro, ingressa na luta clandestina como organizador profissional do Partido. Nesta condição, torna-se obrigatório pelas normas de segurança do Partido, a mudança de “aparelho” de tempos em tempos, como forma de driblar a polícia fascista. Na impossibilidade de um novo aparelho, no prazo estabelecido, o companheiro Nivaldo recebeu abrigo seguro na casa de Rinaldo e Sinai, ao lado das três crianças do casal, por longos seis meses, com direito a uma visita semanal do camarada Celso, e uma saída por semana para dar assistência ao coletivo da juventude do Partido, quando, finalmente, foi localizado e alugado um “aparelho” seguro.

A ditadura militar sequestrou Manoel Lisboa no dia 16 de agosto de 1973, na praça Yan Fleming, no bairro do Rosarinho, em Recife, e seguiu torturando-o até sua morte, no dia 04 de setembro, na sede do 4º Exército, na Praça 13 de Maio, sem arrancar uma única informação sua. Valmir Costa foi sequestrado do apartamento onde morava, na Estrada do Arraial, no dia 04 de abril de 1978. Dois duros golpes da repressão, duas árduas experiências de resistência à ditadura.

O companheiro Rinaldo, apesar da proximidade do perigo, posto que estes dois companheiros sequestrados e torturados anteriormente frequentavam sua residência e eram testemunhas da sua contribuição regular e de seu apoio logístico à organização, Rinaldo e sua família não sofreram qualquer indiciamento pela polícia política da ditadura. Os algozes queriam saber onde moravam e com quem conviveram, mas os dois absolutamente nada informaram, apesar das torturas.

Rinaldo avança em seu trabalho como docente e se torna professor titular de Economia da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP), a partir de 1º de abril de 1978, chegando a ser chefe do Departamento de Ciências Econômicas e Administração.

Nessa instituição, Rinaldo tomou consciência da necessidade de se transformar num sindicalista classista, com o objetivo de sensibilizar os colegas professores da necessidade histórica de se fundar o sindicato da categoria para lutar por melhores condições de trabalho da categoria e de toda a classe trabalhadora do Brasil.

Fez um trabalho de vanguarda, obtendo como resultado a construção do sindicato dos docentes após várias assembleias, com a ativa participação de um núcleo mais consciente e organizado até conseguir fundar a Associação dos Docentes da Fesp (Adufesp), em 20 de março de 1990. Assim, não foi surpresa a categoria elegê-lo, por unanimidade, como o primeiro presidente do sindicato.

Em decorrência de sua militância política na luta contra a ditadura, Rinaldo foi convidado para exercer vários cargos de confiança, com funções executivas na administração pública, como diretor comercial e financeiro da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), empresa estatal, no segundo governo de Miguel Arraes, na volta do exílio, em 1986. Também assumiu a função de diretor financeiro na Empresa de Urbanização do Recife (URB). Foi Secretário de Administração da Prefeitura de Olinda, na gestão de Germano Coelho. Rinaldo foi ainda coordenador do Instituto General Abreu e Lima de Amizade Pernambuco- Venezuela, instituído por Coromoto Godoy, cônsul-geral da Venezuela em Pernambuco, em 2010.

Rinaldo torna-se também um ativo participante da solidariedade militante com a revolução socialista em Cuba e participa da luta contra o criminoso bloqueio imperialista dos EUA. Torna-se diretor do Centro Cultural Manoel Lisboa e um entusiasta dos cursos de iniciação à teoria marxista do CCML, nos anos 1980, 1990 e 2000. Os cursos ocorreram em dezenas de sindicatos, faculdades e colégios por meio das lideranças das entidades estudantis. Ele coordenou, com maestria, o curso de leitura de O Capital. Enfim, contribuiu enormemente com o trabalho de formação política de novas gerações de militantes e quadros revolucionários marxistas em quase toda a região Nordeste. Presidiu o Seminário do centenário de Gregório Bezerra, no dia 13 de março de 2000, por quem tinha uma grande admiração política.

Rinaldo faleceu no dia 24 de junho deste ano.

Estas linhas representam um tributo à memória do companheiro Rinaldo. Com elas, pensando na publicação de um livreto, pelas Edições Manoel Lisboa, iniciaremos a coleta de testemunhos por escrito de amigos, colegas de magistério e ex-alunos que queiram contribuir com a construção da memória histórica deste combatente da luta pela derrubada da ditadura, pela conquista da Anistia, pela punição dos torturadores e golpistas de 1964, pela liberdade e pelo socialismo.

Companheiro Rinaldo! Presente, agora e sempre!

*Edival Nunes Cajá foi membro da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Olinda e Recife, quando presidida por Dom Helder Câmara. Foi preso político, é sociólogo, presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa, coordenador do Comitê Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia (CMVJRD-PE) e membro do CC do PCR.

Governador fascista mentiu para manipular eleição de São Paulo

1

Desde o primeiro turno, eleição desigual em São Paulo foi marcada por fake news, compra de votos e uso da máquina pública pelos candidatos dos ricos. Nova acusação falsa de Tarcísio de Freitas escancara necessidade de punir a direita fascista por suas mentiras criminosas

Bernardo Ferreira | Campinas (SP)


Neste domingo (27/10), em meio ao segundo turno da eleição em São Paulo, a difusão de uma notícia falsa pelo governador fascista Tarcísio de Freitas sobre o candidato Guilherme Boulos demonstrou a que estão dispostos os partidos dos ricos para se manter no poder na maior cidade da América Latina. Em uma coletiva de imprensa, Tarcísio mentiu e afirmou sem provas que a facção criminosa paulista PCC estaria orientando votos no candidato do PSOL, para associá-lo ao crime organizado.

Desde o primeiro turno, a campanha de São Paulo foi repleta de distorções como a disseminação de fake news por fascistas como Pablo Marçal, a compra de votos por candidatos a vereador da direita e o uso escancarado da máquina pública para garantir a reeleição do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Além disso, candidaturas de trabalhadores como a do metroviário Ricardo Senese, da Unidade Popular (UP), não tiveram acesso a tempo de televisão e rádio e nem foram convidadas para os debates pelos grandes monopólios de mídia. Esse processo desigual foi coroado com a mentira de Tarcísio sobre Boulos no domingo, claramente pensada para causar pânico entre os eleitores no dia da eleição em São Paulo.

Impunidade eleitoral

Durante essas eleições, instituições como a Justiça Eleitoral praticamente não puniram os crimes eleitorais dos fascistas, que usam milhões de reais para impulsionar falsidades nas redes digitais. Por isso, os candidatos do fascismo e do ódio aos trabalhadores em todo o Brasil mantiveram seu método de extrema-direita de falar mentiras atrás de mentiras sobre os movimentos populares e candidatos de esquerda, confiantes da impunidade total.

Guilherme Boulos afirmou que vai entrar na Justiça para pedir a punição do governador fascista e reparação pelos danos causados pelo ataque mentiroso. Apesar disso, há poucos elementos concretos para acreditar que algo de fato vá acontecer, como mostram exemplos recentes. Na capital paulista, Pablo Marçal quase foi ao segundo turno com uma campanha de calúnias baixas e o vencedor Ricardo Nunes é acusado de desviar dinheiro para empresários aliados e obrigar servidores públicos a participarem de sua campanha. Já na cidade de Campinas, o prefeito Dário Saadi foi reeleito em primeiro turno, baseando sua campanha em abuso de poder e uso indevido da máquina pública.

Como apontou a nota da Executiva Nacional da Unidade Popular publicada na edição nº 301 do jornal A Verdade sobre o processo eleitoral, o Brasil vive cada vez mais uma falsa democracia, onde quem tem dinheiro é livre para abusar do poder político e econômico com o objetivo de vencer eleições. Enquanto isso, o povo sofre nas mãos dos patrões que financiam os candidatos fascistas com milhões de reais.

Após as eleições, ainda há luta

A incapacidade da Justiça burguesa de dar um basta aos crimes do fascismo e garantir os direitos constitucionais da classe trabalhadora demonstra que a única alternativa que o povo tem para acabar com as injustiças e desigualdades do capitalismo é a organização de um partido revolucionário e comprometido com a luta antifascista. O episódio na eleição de São Paulo escancarou o apodrecimento da democracia burguesa no país, já que os fascistas manipulam impunemente o processo eleitoral com o apoio dos ricos e o descaso das instituições.

Por isso, após as eleições, é preciso “organizar os novos filiados e filiadas nos núcleos, promover cursos de formação política e ideológica, construir materialmente o trabalho da UP e dar impulso às lutas pelos direitos da classe trabalhadora e do povo”, destaca a nota da Unidade Popular. Só assim, conclui o documento, é possível levar adiante a “luta por um país verdadeiramente livre e democrático”.

A creche e a revolução

0

“Fazer a mulher participar do trabalho produtivo social, libertando-a da escravidão doméstica, libertando-a do jugo bruto e humilhante, eterno e exclusivo, da cozinha e do quarto dos filhos, eis a tarefa principal. Esta luta será longa. Exige uma transformação radical da técnica e dos costumes. Mas levará finalmente à vitória completa do comunismo”.  (V. I. Lênin)

Comissão de Creche de São Paulo*


A conjuntura em que estamos vivendo, de crise do sistema capitalista e de avanço do imperialismo e do fascismo no mundo, impõe a nós, comunistas, a urgência de crescer nossa influência na classe trabalhadora, em especial, entre as mulheres. No entanto, só alcançaremos esse objetivo se dermos atenção ao fato de que a maioria das mulheres trabalhadoras é mãe e que, na sociedade atual, as tarefas ligadas à criação dos filhos recaem sobre os ombros das mulheres, pois a maternidade não é amparada pelo Estado burguês.

Em consequência, as mulheres mães, mesmo as que tomaram essa decisão consciente, são responsáveis por uma carga de trabalho doméstico gigantesca (10,4 horas semanais a mais que os homens) e, na maioria das vezes, solitária. Levar e pegar as crianças na escola, cozinhar, arrumar a casa, lavar roupa, comprar, planejar, levar o filho ao médico, etc., é quase tudo realizado pelas mulheres que são mães.

As mulheres ainda são encarregadas do cuidado com os doentes e os idosos. Por isso, as mulheres têm mais dificuldades de participar de uma reunião ou manifestação, por exemplo, do que os homens.

Portanto, quando estamos diante de mães que atuam nos movimentos ou no partido, precisamos levar tudo isso em consideração, precisamos ter empatia, ajudá-las e apoiá-las, garantir as condições concretas para que possa participar da melhor maneira possível.

Isso significa que a plena participação da mãe militante em nossas atividades orgânicas e de massas é uma tarefa política do coletivo, que deve, antecipadamente, discutir e preparar as condições práticas para termos a companheira sempre presente. Não se trata de resolver o problema de uma reunião apenas, pois as mães são mães a vida inteira e a maternidade não pode ser uma contradição para as mulheres se tornarem militantes dos nossos movimentos, dos sindicatos e, inclusive, exercer o papel de dirigentes.

A importância da creche

Uma das formas de apoiar a plena participação das mães militantes em nossas atividades é a creche. Ter creches organizadas por nós, levando em conta não apenas a necessidade das mães, mas também o bem-estar das crianças, é a principal medida para ampliarmos a participação das mães.

No entanto, é comum uma militante pedir ou perguntar se haverá creche na atividade, quando, na verdade, o coletivo deveria ter consciência de que a creche é uma necessidade e, assim, tomar a iniciativa.

Muitas mães, criadas na lógica do individualismo, pensam que seus filhos são um fardo para o coletivo, que vão dar trabalho, que a obrigação é dela, afinal, ela que quis ter filhos e tem vergonha de levantar a questão. Mas, nós, revolucionários, não podemos pensar dessa maneira.

De fato, numa sociedade egoísta, a criação de uma criança é um peso individual; já numa sociedade socialista, a criação de uma criança passa por responsabilidades coletivas na alimentação, educação (de qualidade e perto do local de trabalho da mãe), etc.

Esta era a realidade da União Soviética, em que, a cada três horas de jornada de trabalho, a mãe tinha 45 minutos para ir à creche amamentar seu filho, como relata Alexandra Kollontai em “O Comunismo e a Família”: “Já existem casas para as crianças em fase de amamentação, creches, jardins de infância, colônias e lares para crianças, enfermarias e postos de saúde para os doentes ou que precisam de cuidado especial, restaurantes, refeitórios gratuitos, roupas e calçados para as crianças dos estabelecimentos de ensino. Tudo isso não demonstra suficientemente que a criança sai do marco estreito da família, passando o peso de sua criação e educação dos pais à coletividade?”.

Coletivizar o cuidado

Além disso, é imprescindível compreender a criança como um indivíduo, um ser humano que tem direitos, vontades, capacidade de se comunicar, criticar, pensar, tudo fase de formação, e que precisa da ajuda dos adultos para se desenvolver. Assim, respeitar a criança e auxiliá-la a desenvolver o entendimento da autonomia sobre seu corpo, com pequenos gestos (como pedir licença ao fazer a higiene na criança), são fundamentais.

Claro que na função de ajudar a criança a se desenvolver não vamos deixá-la “fazer tudo que quer”, porque, efetivamente, ela ainda é um ser em formação. Por exemplo, não vamos deixar de dar banho porque a criança está se colocando contra, mas temos que conversar, explicar, usar recursos lúdicos, cantar, comunicar de forma que ela entenda. Antes de anunciar o que vai ser feito, precisamos conversar com as crianças, explicar cada coisa que estamos fazendo. Enfim, elevar nossa consciência para respeitar as crianças como seres humanos e com direitos é uma imposição da nossa realidade atual.

Nesse sentido, a creche não pode ser um “puxadinho” das nossas reuniões, mas sim um espaço pensado para alguém que tem o direito de estar ali, e ter um momento prazeroso, educativo e também político, pois nosso objetivo é educar nossas crianças com a ideologia da nossa classe. Assim, antes de organizar a creche, temos que debater esse espaço enquanto um lugar que é um direito da criança e da mãe.

Lembremos ainda que, desde a primeira infância, as crianças são bombardeadas com diversas propagandas e desenhos infantis que promovem e exaltam a ideologia burguesa e, como disse Paulo Freire: “Educar é um ato político. Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra”.

O que propomos

Quando organizamos uma creche, é necessário levarmos em consideração as especificidades das crianças, sua faixa etária, e preparar os encontros pensando previamente nas atividades que serão realizadas. Em um encontro de lideranças indígenas, por exemplo, por que não fazer uma creche colocando músicas dos artistas originários e desmistificar a ideia racista de “índio”? Pode-se pegar o mapa do território e descobrir com as crianças quais são as terras originárias ou falar de indígenas em contextos urbanos. Assim, constrói-se terreno para que a retomada e a demarcação de terras seja um assunto presente na vida da criança.

Bola é brinquedo de menino e panela é brinquedo de menina? Para nós, não! Então, na creche, ensina-se a brincar com a bola em diversos jogos para que todos tenham familiaridade com a dinâmica e se entenda que brinquedo é de criança, independente se é menina ou menino.

Numa atividade do Movimento de Mulheres Olga Benario, na creche, pode-se perguntar às crianças o que elas pensam da divisão de brinquedos de menina e de menino, levantando repertório para identificar quais assuntos precisam ser aprofundados com o objetivo de quebrar estereótipos de gênero.

Camaradas, de forma alguma cuidar de uma criança deve ser visto como uma atividade menor, porque estamos contribuindo para formar nossas crianças segundo os princípios do comunismo e da nossa organização. As creches em nossas atividades e reuniões são tão políticas quanto as atividades em si e coletivizar o cuidado das crianças é também uma tarefa da revolução!

Por fim, apresentamos algumas orientações para o cuidado dos filhos e filhas dos e das nossas camaradas:

– Escolher com antecedência os e as camaradas que ficarão com a tarefa dos cuidados das crianças.

– Garantir os horários de alimentação das crianças, independentemente dos horários da reunião.

– Sempre oferecer água às crianças.

– As brincadeiras e atividades devem ser preparadas com antecedência.

– Levar materiais de recreação para as atividades, sabendo separar por faixa etária (bebês, crianças menores, crianças a partir dos 8 anos, etc.), pois, para cada uma, existem interesses diferentes).

– Orientar os(as) camaradas responsáveis a verificarem a fralda das crianças pequenas.

– Em nossas ocupações, devemos garantir brinquedotecas.

– Muitas vezes, deixamos as crianças direto na tela do computador, do tablet ou do celular, mas as telas prejudicam o desenvolvimento das crianças, em especial, as pequenas. Portanto, devemos evitar este recurso!

Para avançarmos nesse trabalho, publicaremos, posteriormente, outros textos sobre o tema no site do jornal A Verdade.

Se nos empenharmos nessa tarefa, com certeza, as crianças terão seu direito respeitado e criaremos melhores condições para formarmos muitas mulheres revolucionárias.

*Esse texto foi escrito por várias mãos com o objetivo de contribuir no avanço do nosso trabalho entre as mulheres trabalhadoras e o cuidado coletivo com seus filhos.

Matéria publicada na edição impressa nº 301 do jornal A Verdade

MLB completa 12 anos de trabalho no Vale das Ocupações do Barreiro, em Belo Horizonte

No aniversário de 12 anos da Ocupação Eliana Silva, em Belo Horizonte, o MLB celebra conquistas e reforça a luta pela moradia digna. Fundada em 2012 em homenagem a Eliana Silva, uma das principais lideranças do MLB, a ocupação resistiu a despejos violentos e hoje integra sete comunidades.

Edinho Silva | Belo Horizonte (MG)


LUTA POPULAR – Na madrugada do dia 21 de abril de 2012, o nome Eliana Silva renasceu. Não haveria homenagem mais bonita a essa companheira, que uma ocupação batizada com seu nome. Ela foi uma importante militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR), iniciou sua luta no movimento estudantil, no combate à ditadura militar, realizou a Ocupação Corumbiara, em Belo Horizonte (MG), presidiu a associação de moradores e foi uma das principais lideranças na criação do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), em 1999. Eliana nos deixou em 2009, vítima de câncer. O seu legado é a luta. E assim seguimos seus passos.

“O despejo durou mais de 24 horas. Iniciou-se na sexta-feira e só terminou no sábado, véspera do Dia das Mães. Naquele ano, passamos o Dia das Mães com as mães sem terem para onde levar seus filhos. Aquela violência marcou muito a cidade, principalmente o povo, que resistiu e cantava ‘Eliana Silva, mais uma ocupação, não tem medo de Caveirão’… No domingo, o rapper Emicida estava em Belo Horizonte, fazendo um show no Barreiro, bem perto de onde era a ocupação. Ele fez um protesto contra a Polícia, que despejou às famílias e acabou preso. Isso repercutiu nacionalmente, junto com a repercussão do despejo. Eliana Silva virou palavra de ordem dos movimentos na cidade e um exemplo de luta para todas as ocupações do Brasil”, relata Leonardo Péricles, morador da Ocupação Eliana Silva e presidente nacional da Unidade Popular (UP).

Após 21 dias de resistência, a mando do prefeito Márcio Lacerda, com apoio do então governador Antônio Anastasia, a ocupação foi despejada de uma forma extremamente violenta, tendo, pela primeira vez, o uso do Caveirão (veículo blindado) da Polícia Militar, além de helicóptero, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Mesmo com tanta violência, as famílias não abaixaram a cabeça, se organizaram mais e refizeram a Ocupação Eliana Silva em 22 de agosto do mesmo ano.

Neste ano de 2024, a ocupação completou 12 anos de resistência e conquistas. Hoje, é um bairro consolidado e parcialmente urbanizado, e a comunidade é um verdadeiro exemplo na luta pela moradia em todo o Brasil.

Em 2013, de forma espontânea, centenas de famílias realizaram a Ocupação Nelson Mandela e, rapidamente, o MLB se somou à luta contra o despejo, indo às barricadas e trincheiras de enfrentamento.

Em 2015, o Movimento organizou a Ocupação Paulo Freire, com mais de 150 famílias. Hoje, com nove anos, a ocupação já conta com o fornecimento oficial de água e se prepara para receber uma quadra poliesportiva coberta e com vestiários, fruto de uma parceria com o Instituto Conhecimento Liberta (ICL), que organizou uma campanha de arrecadação.

Em 2016, o MLB realizou a Ocupação Temer Jamais (no mesmo terreno da Eliana Silva 1, que permanecia abandonado). A ocupação foi despejada com violência em seu primeiro dia. 

Parque das Ocupações

O Vale das Ocupações conta com sete comunidades, sendo elas: Horta 1 e 2, Camilo Torres, Irmã Dorothy, Eliana Silva, Nelson Mandela e Paulo Freire. São interligadas por uma área verde que foi adotada e preservada pelas ocupações, que desejam transformá-la em um parque com trilhas e resgatar as nascentes que foram contaminadas pelas indústrias.

O MLB, as coordenações das ocupações e a Escola de Arquitetura da UFMG desenvolveram o projeto do parque, mas muitas coisas ainda dependem da Prefeitura para avançar.

A luta pela urbanização

Os 12 anos de atuação do Movimento na região foram fundamentais para a organização das lutas e os avanços na consolidação da urbanização das comunidades.

Em 2015, após vários dias faltando água nas ocupações, com os moradores já cansados da humilhação de ter que andar uma longa distância, carregando baldes d’água para beber, tomar banho e cozinhar, eles se revoltaram e cercaram o caminhão pipa que fornecia água duas vezes por semana. O veículo só sairia com o compromisso da Companhia de Água e Saneamento (Copasa), de que a ligação de água seria feita. Ao fim da negociação, representantes da empresa foram até a ocupação para dizer que as obras seriam iniciadas.

Em 2016, o MLB ocupou a Câmara Municipal para que as ocupações fossem reconhecidas como áreas de interesse social no Plano Diretor, que tramitava na Casa. Em 2019, o Plano Diretor virou lei com as ocupações reconhecidas em seu texto.

Muita coisa avançou, sempre como resultado das lutas. Hoje, todas as ocupações possuem fornecimento de água, as ruas possuem CEP, parte das ocupações já conta com o fornecimento de energia elétrica e iluminação pública, e a outra parte aguarda o início das obras de instalação. Assim como algumas já possuem pavimentação das ruas para a coleta de lixo e possuem coleta de esgoto.

“A luta ainda está longe do fim. No momento, as ocupações passam por um estudo, para a formulação do projeto de urbanização e regularização por parte da Prefeitura de BH, depois de muita luta e pressão do MLB e dos moradores. Essa foi mais uma grande vitória, porém queremos que a urbanização seja feita com uma verdadeira participação  popular, respeitando a história e tudo que já foi construído coletivamente até aqui, e não uma urbanização aos moldes burgueses, autoritários, com violência e despejos sem alternativas, mudando as características do local e expulsando milhares de famílias para fora de BH para atender a grande especulação imobiliária”, afirma Poliana Souza, da Coordenação Nacional do MLB e moradora da região.

Creche Tia Carminha

O nome é uma homenagem à companheira Carminha, liderança do Movimento, que nos deixou em 2011. Ela presidiu a associação de moradores da Vila Corumbiara e organizou o coral de crianças da comunidade.

A creche é um pilar fundamental do Movimento no território. Foi a primeira construção de alvenaria da Ocupação Eliana Silva. Doze anos depois, a creche continua ativa, garantindo que pais e, sobretudo, mães de família, possam trabalhar e terem a tranquilidade de saber que seus filhos estão bem cuidados.

“Eu cheguei na ocupação ainda criança. Passei pela primeira turma da creche. A maior parte da minha vida, vivi aqui. Estive em todas essas lutas: a do caminhão pipa; quando ocupamos a Cemig, a Prefeitura, a Câmara; nas lutas de rua e também nas atividades internas. Me formei na luta. Fui militante da UJR e ajudei na fundação do projeto “Minha Quebrada” para organizar nossa juventude nas ocupações e periferias, onde jovens morrem todos os dias. Aos 18 anos, fui eleito para a Coordenação Estadual do MLB. Hoje, sou casado e tenho dois filhos, uma menina e um menino, que também estão na creche”, relata Adriel Cássio.


Dedico este texto a Dona Eudir Dias, que nos deixou em julho deste ano. Dona Boazinha, como era chamada, é um grande exemplo de luta e inspiração para todos nós. Seu passado difícil a fez uma grande militante contra a fome e seu grande sonho é também o nosso, a construção de uma nova sociedade em que nenhuma pessoa mais passe fome, a sociedade socialista.

Nota de Pesar: Raquel Rocha presente!

0

Partido Comunista Revolucionário e Unidade Popular | Natal (RN)


NOTA DE PESAR – É com um profundo pesar que comunicamos que a nossa companheira Raquel Rocha, honrosa e essencial camarada, nos deixou fisicamente hoje. Uma companheira que dedicou sua vida à construção de uma nova sociedade, mais justa e igualitária, denunciando a barbárie do capitalismo, o genocídio do povo preto orquestrado nas periferias do nosso país e a necessidade de uma educação pública emancipadora, plural e de qualidade.

Raquel atuou dentro do movimento popular revolucionário no Rio Grande do Norte e teve papel de destaque tendo sido vice-presidente da União Estadual dos Estudantes – UEE, coordenadora do DCE da UFRN, Coordenadora Geral do Centro Acadêmico de Ciências Sociais e membro do diretório municipal da Unidade Popular – UP em Natal, onde construía o coletivo negro Valdete Guerra, o movimento correnteza e a União da Juventude Rebelião.

Raquel era sinônimo de alegria, disposição e de uma rebeldia revolucionária incomparável que pulsava em suas veias, incendiava suas intervenções e contagiava todos ao seu redor a seguir nas lutas e nos enfrentamentos a esse sistema injusto e assassino. Ela foi uma de suas vítimas. A desumanização, a miséria e a falta de perspectiva é a única coisa que esse sistema de exploração tem a oferecer para nossa juventude. A camarada não pode ser mais uma estatística do capitalista. O seu legado segue vivo toda vez que uma bandeira de resistência for levantada.

Sempre lembraremos da Raquel sorridente, combativa e que acreditava que era possível transformar a realidade do nosso povo. Nossos sentimentos à sua família, amigos e camaradas que tiveram o privilégio de viver e lutar ao seu lado.

“As cores da juventude
A energia da luta
A combatividade da raça
A força da mulher
Ah, Raquel…
Seguimos sua luta!”

Raquel Rocha, presente!
Nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de lutas!

Crise no transporte público prejudica trabalhadores da Grande Florianópolis

0

Em cidades como São José, Palhoça e Biguaçu, na região metropolitana de Florianópolis, a população convive com um transporte público caro e insuficiente. Com panfletagens e brigadas do jornal A Verdade, a Unidade Popular convoca mobilização contra esse cenário

Wilson Májè e Thayná Guimarães | São José (SC)


Nas cidades catarinenses de São José, Palhoça e Biguaçu, situadas na região metropolitana de Florianópolis, os trabalhadores enfrentam uma grave crise no transporte público, que atinge seus direitos e precariza suas vidas.

Responsáveis pela mobilidade urbana nesses municípios, as empresas Jotur Auto Ônibus, Transporte Coletivo Estrela e Biguaçu Transportes Coletivos cobram preços que variam de R$4,98 a R$12,00 nas passagens, uma das tarifas mais caras do Brasil. Mesmo assim, o serviço é avaliado como de péssima qualidade: a frota e os itinerários são completamente insuficientes, prejudicando diretamente a população.

Depois de longas jornadas de trabalho, a população dessas cidades paga caro por um transporte cheio de problemas, como denunciou ao jornal A Verdade o passageiro Jair, morador do bairro de Potecas em São José: “Os acidentes ocorrem ao menos uma vez por semana, é sempre assim”. Na prática, os ônibus em más condições e os horários inadequados de sua circulação se transformam em um risco para a saúde física e mental dos usuários.

Falta de integração

Outro ponto que agrava esse cenário é a inexistência de uma política eficiente de passe único ou de integração tarifária. Enquanto em muitas regiões metropolitanas é comum a baldeação gratuita ou com tarifa reduzida, permitindo que o usuário utilize mais de um ônibus pagando uma única passagem, na Grande Florianópolis essa integração é inexistente ou mal implementada. Isso obriga os moradores a pagarem passagens inteiras sempre que trocam de ônibus.

Apesar de promessas de unificação do sistema, o cartão “Grande Floripa + Integrada” não abrange integralmente a capital. Em grande parte, isso deve ao contrato entre a prefeitura de Florianópolis e o Consórcio Fênix, que monopoliza as operações de ônibus na cidade até 2034. Embora o cartão tenha sido apresentado como solução para integrar as linhas da região metropolitana, ainda há companhias como Estrela e Imperatriz que, apesar de fazerem parte da associação de empresas de transporte na região, não aderiram totalmente ao sistema. Isso perpetua a fragmentação do serviço, prejudicando os usuários que continuam sem acesso a um transporte integrado e acessível.

Passagem cara põe direito à educação em risco

Como se não fosse o bastante, as famílias com filhos em idade escolar enfrentam um peso ainda maior dos transportes no orçamento. Mesmo com o benefício da meia tarifa para estudantes, o custo total das passagens pode facilmente ultrapassar R$500 por mês para uma família, tornando o direito à mobilidade um luxo inalcançável para muitos.

Em entrevista, Joaquim Pedroso, morador do bairro Forquilhinhas, contou ao jornal A Verdade que, para trabalhar no bairro Ponte do Imaruim, em Palhoça, precisa utilizar dois ônibus das empresas Estrela e Jotur, desembolsando cerca de R$30 por dia. Com três filhos estudando no centro de Florianópolis, devido à melhor qualidade das escolas, ele ainda gasta aproximadamente R$15 diários para o deslocamento das crianças, o que soma cerca de R$225 por semana.

“Todo mês é um desespero manter as contas em dia”, desabafa Joaquim, que também precisa arcar com alimentação, aluguel, vestimentas e as contas da família.

UP defende estatização e gratuidade do transporte coletivo

Para o núcleo da Unidade Popular (UP) que atua no bairro de Forquilhinhas, em São José, esse cenário de precariedade e exploração é reflexo da falta de fiscalização e de uma política que garanta a dignidade dos usuários do transporte público. O acesso ao transporte coletivo, que deveria ser um direito garantido, se tornou um verdadeiro fardo, e os moradores dessas três cidades se veem reféns de um sistema que prioriza o lucro empresarial e a mobilidade individual em detrimento do bem-estar coletivo da população pobre e trabalhadora. 

No último período, a militância da Unidade Popular deu início a uma série de panfletagens e brigadas do jornal A Verdade com o objetivo de mobilizar as famílias da região afetada pela crise. A ação visa denunciar as condições precárias vivenciadas pelos trabalhadores locais e reforçar a necessidade de mudanças estruturais no transporte público, lutando, por exemplo, pelo passe livre para estudantes e trabalhadores.

Para a UP, sem a busca imediata de soluções que tornem o transporte acessível e eficiente na região, o direito de ir e vir continuará sendo negado a milhares de trabalhadores e suas famílias. Por isso, a mobilização defende que o transporte seja retirado das mãos de empresários que lucram com a exploração da força de trabalho e o controle do sistema de mobilidade urbana.

Como destacado em matéria na edição nº 298 do jornal A Verdade, a UP reivindica a estatização e a gratuidade do transporte coletivo, dando um fim à “máfia dos transportes”. Para o partido, somente através da organização da revolta popular será possível enfrentar o desrespeito que os trabalhadores passam todos os dias ao sair de casa.

Estudantes do DF querem o fim das escolas cívico-militares

Programa de escolas cívico-militares do governador Ibaneis (MDB) é rejeitado pela juventude do Distrito Federal. Desde sua implementação, Movimento Rebele-se vem organizando a resistência à militarização do ensino básico

Artur Vidal, Samuel Mesquita, Isabelly Andrelino e Samira Prestes | Brasília (DF)


O Programa Nacional das Escolas Cívico-militares (Pecim) foi um dos principais projetos de Jair Bolsonaro para a educação em 2019. A proposta era de que, até 2023, 200 escolas do país seguissem o modelo. Hoje já são aproximadamente 500 (ver edição nº 295 de A Verdade) e, apesar de ter deixado de ser um projeto federal, os estados podem decidir sua implementação, como em São Paulo, onde o fascista Tarcísio de Freitas o aprovou em mais de 100 escolas.

Desde janeiro de 2019, até então, essa “gestão compartilhada” atingiu 17 instituições no Distrito Federal, a mando do governador igualmente fascista Ibaneis Rocha (MDB). A Secretaria de Educação fica responsável pela parte pedagógica e administrativa, enquanto a “disciplina” fica a cargo de policiais militares e bombeiros da reserva.

Insegurança

O maior argumento para a militarização das escolas é sempre aumentar a segurança dos estudantes e servidores. Vejamos os dados: de acordo com pesquisa da Secretaria de Segurança Pública, a sensação de insegurança aumentou 111% entre professores e 128% entre os estudantes.

O estudante João (nome fictício para preservar a identidade) relatou: “Me sentia como se eu estivesse servindo em um regime ou algo assim. Não me sentia seguro por conta da posição de ‘superioridade’ que eles aparentavam ter com os alunos. Alguns chegam a ofender os alunos”. Houve estudantes que mudaram de escola ou até mesmo desistiram de estudar.

O problema se agrava quando ocorrem casos de assédio às alunas. Segundo os estudantes entrevistados, os casos relatados à equipe pedagógica foram acobertados para “não manchar a reputação da escola”, fazendo com que as mesmas estudantes que denunciaram se sentissem impotentes e desprotegidas num lugar que deveria ser acolhedor e seguro para elas.

De fato, os casos de violência sexual nas escolas militarizadas cresceram 258% entre 2019 e 2023.

Falta de liberdade

Nas escolas cívico-militares, uma das principais questões é o conteúdo deturpado apresentado aos alunos. Temas da área de humanas, principalmente na matéria de História, são distorcidos: uma visão romantizada da colonização desumana dos portugueses no Brasil, em que eles colocam a figura de bandeirantes (capatazes da Coroa portuguesa responsáveis pela expropriação de terras e escravização dos povos indígenas) como heróis; um relato amenizado da ditadura militar, se comparado à brutalidade que ela realmente teve, para “não manchar a imagem” dos militares.

A quantidade de regras absurdas, na tentativa de criar um “padrão de disciplina militar” também faz com que a escola, um espaço primordial de construção da personalidade própria de cada jovem, torne-se mais um lugar de opressão.

“A escola era repleta de regras extremamente rigorosas e sem sentido: meninos não podiam usar nenhum acessório e tinham que usar a camisa quase totalmente dentro da calça. Meninas sempre de cabelo amarrado e, durante algum período, nenhum calçado que não fosse branco ou preto. Se você desobedecesse uma vez, era advertência direto. Teve caso de uma amiga minha tomar uma advertência porque a calça legging dela, que é exigida na aula de educação física, não era azul o suficiente segundo o que eles queriam”, relata a estudante Sandra (nome fictício).

“Cães farejadores eram introduzidos nas salas para farejar os pertences de cada aluno, incluindo suas bolsas e roupas. Caso o animal indicasse algo suspeito, a pessoa era retirada da sala para ser revistada pela polícia. Mesmo que o aluno não estivesse portando nada ilícito, era constrangido ao ter que se submeter a essa revista”, completa Sandra.

Em 2019, houve resistência dos alunos e dos professores à militarização no Centro de Ensino Fundamental 01 do Núcleo Bandeirante.

Todos os relatos acima, assim como as recentes mobilizações nas ruas, demonstram bem qual é a opinião dos estudantes sobre esse projeto: “Escola não é quartel!”. Assim, o Movimento Rebele-se organiza os grêmios e entidades contra esse projeto de repressão e convida todos os estudantes à luta.

Matéria publicada na edição impressa nº 301 do jornal A Verdade

Deputados bolsonaristas querem cobrar mensalidades nas universidades públicas de SP

Apresentado pela extrema-direita na ALESP, o PL 672/24 é mais uma tentativa de cobrar mensalidades nas universidades públicas de São Paulo. Luta dos estudantes já se mostrou capaz de barrar essa proposta que exclui os pobres do ensino superior

Ísis Mustafá | São Paulo (SP)


O Projeto de Lei 672/24, apresentado à Assembleia Legislativa de São Paulo pelo deputado Leonardo Siqueira (Novo) é mais uma das incontáveis tentativas da direita em avançar com a privatização do ensino público brasileiro. Denominado como Sistema de Investimento Gradual Acadêmico (Siga), o projeto prevê a cobrança de mensalidades para estudantes das universidades estaduais públicas de São Paulo. O deputado bolsonarista Lucas Bove (PL) já havia protocolado proposta semelhante em 2023.

Os argumentos centrais em defesa da cobrança de mensalidade são inteiramente falsos. Vejamos.

Primeiro, sugerem que o Estado não pode arcar com os altos custos das instituições que já vivem uma asfixia orçamentária, e, portanto, é preciso buscar outras fontes de financiamento. Mentira! O Estado tem dinheiro, mas prioriza “honrar os compromissos” com o capital financeiro, e não com o povo (educação, saúde, transporte, etc). Além disso, a Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, fechou o ano fiscal de 2023 com mais de R$ 5,7 bilhões em caixa. Enquanto isso, a administração da universidade, sob o comando do governador fascista Tarcísio de Freitas, deixa os estudantes da moradia estudantil vivendo com as baratas e sem acesso à água potável.

O segundo argumento dos defensores do PL das Mensalidades é que pretendem combater a desigualdade, pois as universidades públicas são custeadas com os impostos do povo trabalhador, mas quem consegue estudar nelas pertence às famílias mais ricas do país. Mais uma distorção! De fato, os vestibulares e a baixa qualidade do ensino nas escolas públicas geram uma exclusão da juventude pobre dessas instituições, ao passo que aqueles que estudam nas escolas particulares têm mais chances. Entretanto, o perfil dos estudantes que se matricularam na USP, Unesp e Unicamp, em 2024, indica que 47% são de famílias com renda entre 1 e 5 salários mínimos (R$ 1.412,00 a R$ 7.060,00). Sem dúvidas, essas não são as famílias mais ricas do país. Se realmente estivessem preocupados em corrigir essa desigualdade, estariam empenhados em erradicar o vestibular, taxando as fortunas dos grandes ricos para subsidiar a expansão das vagas nas universidades públicas.

Para piorar a situação, o PL 672/24, além de propor que as instituições determinem o valor das mensalidades, pretende ainda endividar os estudantes: criará um programa de financiamento para que o estudante que não pode arcar com os custos faça um empréstimo com o Estado a ser pago em prestações após a conclusão do curso.

É preciso dizer que já existe no Brasil um modelo de financiamento, mas que favorece as instituições privadas de ensino e tem se tornado um pesadelo para os estudantes trabalhadores: mais de 50% dos beneficiários do Fies estão endividados. Em reportagem para o portal G1, a estudante Michele conta que passou três anos sem um emprego fixo e hoje trabalha como vendedora. “Já fiz umas dez entrevistas para diversos empregos relacionados à área de administração, mas o meu nome sujo me impede de ser contratada”. Em 2021, chegou a um milhão o número de inadimplentes, o que fez com que o atual governo implementasse um programa para renegociar as dívidas. Essa é a realidade dos trabalhadores brasileiros: endividam-se para fazer uma graduação, sonhando em melhorar as condições da sua família, mas só encontram salários baixos e alto custo de vida.

Plano do capital financeiro

Em 2017, o Banco Mundial, uma das organizações financeiras que exploram e representam os interesses do imperialismo capitalista sobre os países dependentes, publicou um relatório intitulado Um ajuste justo – Análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil. No documento, encomendado pelo então presidente golpista Michel Temer, o Banco Mundial já defendeu a cobrança de mensalidades nas universidades públicas do país, além de outras políticas de ajuste fiscal para reduzir os investimentos nas áreas sociais. Sem dúvidas, a única preocupação do capital financeiro é que o Estado brasileiro continue enxugando as despesas para garantir o chamado superávit primário e continuar pagando fielmente os juros e amortizações da dívida pública.

Lutar é a saída

Assim como em 2019 os estudantes derrotaram o “Future-se”, projeto de Bolsonaro para privatizar as universidades públicas, é possível derrotar também o Siga, em São Paulo, com grandes mobilizações de rua. Os estudantes das estaduais paulistas realizaram uma vitoriosa greve e sabem que quem luta, conquista. Vamos organizar assembleias em cada curso e, mais uma vez, mostrar que, se depender da força dos estudantes, esses governantes estão com os dias contados.

Matéria publicada na edição impressa nº 301 do jornal A Verdade

Deficiência: duas concepções, dois interesses de classe opostos

0

Comissão Anticapacitista da UP promove estudos sobre a diferença entre os modelos biomédico e social da deficiência e defende a organização para a luta contra o capitalismo, que promove a exclusão dos PCDs

Ingrid Pereira | Rio de Janeiro (RJ)


No Brasil, o debate da comunidade com deficiência é muito recente. Por isso, a Unidade Popular (UP) do Rio de Janeiro tem assumido o trabalho de conscientização da população, com o viés proletário e revolucionário, sobre vários tópicos de vivências e violências sofridas pela parcela PcD do nosso estado. A Comissão Anticapacitista da UP tem proposto cursos, atos e grupos de estudos, todos voltados a conquistar um espaço de luta por direitos para pessoas com deficiência.

No dia 9 de junho, aconteceu o primeiro encontro do grupo de estudos “Capitalismo, Deficiência e Neurodivergência”. Nele foi debatido o texto “O que é deficiência?”, de Débora Diniz, aprofundando os conceitos de modelo biomédico e social de deficiência.

O que são os modelos de deficiência?

A palavra “Deficiência” no dicionário significa “Falta, falha, imperfeição, defeito”. Com essa definição, conseguimos explicar com facilidade a diferença real entre os modelos de deficiência: a questão é assumir onde está a falha, falta, defeito.

O modelo biomédico assume que a falha está no indivíduo, pessoa que nasceu ou adquiriu alguma “anormalidade”. Por outro lado, o modelo social avalia que o defeito está na sociedade que envolve a pessoa com deficiência que necessita de recursos para conviver socialmente e não os recebe do ambiente externo.

Modelo biomédico: ideologia da classe capitalista

O modelo biomédico é o mais conhecido, mais utilizado e mais compreendido no imaginário da população quando se pensa em pessoas com deficiência. Afinal, a pessoa cega, é aquela que não enxerga; a surda é a que não ouve; a descrição do “problema” tem sempre foco na pessoa. Esse modelo, o preferido da burguesia, provoca que uma série de responsabilidades que poderiam ser aplicadas ao sistema produtivo e ao governo sejam arremessadas no colo do indivíduo.

Exemplo. No capitalismo se promove uma política de inclusão efetiva das pessoas surdas no nosso país? Existe difusão da Libras nas escolas regulares? Não. O que existe é uma constante pressão aos surdos no Brasil para fazerem cirurgia de implante ou gastar rios de dinheiro em aparelho auditivo, com o medo da fome e do desemprego. Não é preciso que se elabore muito para comprovar como se estabelece um mar de possibilidades de explorações cada vez mais cruéis, quando nos limitamos à filosofia biomédica.

Modelo social: ideologia construída pelos explorados

Em contrapartida, o modelo social de deficiência mostra um lado mais coletivo e efetivo. Entendendo o problema como o que ele é na realidade: algo que a sociedade (por meio do Estado) tem o dever de corrigir. A pessoa cega não pode decidir enxergar o sinal vermelho ao atravessar a rua, mas os semáforos do nosso país poderiam ser sonoros, além de visuais. Quando se abre o horizonte para entender que o problema não está naquele que anda em cadeira de rodas, que nada pode fazer para mudar sua condição, mas sim em ruas pouco acessíveis e prédios com somente escadas, torna-se muito mais fácil entender as negligências sociopolíticas que o capitalismo nos oferece.

É muito mais fácil culpar o corpo de alguém que não pode ser mudado, do que assumir responsabilidades nas questões que podem ser resolvidas com dinheiro público; questões que já teriam sido resolvidas se o capitalismo não gastasse quase metade do nosso dinheiro, dos impostos que pagamos, com a dívida pública. Então vale pensar, por que nosso direito de ir e vir, de trabalhar, e de estudar, de viver vale menos? O que eles ganham nos fazendo acreditar que não conseguimos nada por causa de algo que não podemos mudar?

Essa compreensão nos mostra que está no momento de nós mudarmos de rumo, de mente, e de espírito. O sistema capitalista nunca vai abrir mão de seus lucros. Podemos continuar deixando os nossos na condição de doentes, pedintes e coitados, ou podemos nos unir e nos organizar para construir uma sociedade livre e justa, feita por todos nós para todos nós, uma sociedade socialista.

Matéria publicada na edição impressa nº 301 do jornal A Verdade

O projeto de assassinato do povo Xokleng

0

No último período, as ações de latifundiários e do governo catarinense contra o povo Xokleng se tornaram ainda mais frequentes, com uma onda de assassinatos e incêndios criminosos. Mesmo assim, os Xokleng resistem ao roubo de suas terras

Thiago Augusto Zeferino | Blumenau (SC)


Desde o início do século passado, o Estado de Santa Catarina tenta exterminar todo um povo, o povo Laklãnõ-Xokleng. Hoje, uma grande parte desta população indígena mora a cerca de 90 km a oeste de Blumenau, em uma terra demarcada, vivendo sob constantes tentativas de assassinato por pistoleiros e policiais militares.

Quando os governos começaram a ocupar terras em Santa Catarina para criar uma logística para conectar São Paulo ao Rio Grande do Sul, os vários indígenas da região lutaram contra as ocupações violentas. O Governo Estadual decidiu, então, criar um grupo de extermínio que recebia dinheiro para entrar nas matas e matar todo indígena que encontrasse.

Esses assassinos ficaram conhecidos como “bugreiros”. Para provar seu trabalho, os bugreiros voltavam com as orelhas cortadas de suas vítimas, além das crianças indígenas que sequestravam. Esse grupo de extermínio continuou atuando até pelo menos 1930, sendo responsáveis por 2/3 das mortes do povo Xokleng, além de outros assassinatos financiados pelo governo para auxiliar a ocupação de terras por latifundiários e coronéis.

Ditadura militar

No processo de extermínio dos Xokleng e da construção de obras superfaturadas para encher o bolso de militares e da burguesia, o governo decidiu, nos anos 1970, criar uma barragem no meio do território indígena. Essa tinha como objetivo evitar enchentes em cidades do Vale do Itajaí, como Blumenau, onde moravam os herdeiros das terras roubadas a sangue pelos bugreiros.

A construção dessa barragem não contou com a pesquisa sobre os impactos ambientais no terreno e ocasionou um grande aumento do nível do rio, inundando centenas de quilômetros de terras férteis e a destruição de moradias. Essa “tragédia programada” acarretou na eliminação do sustento das pessoas da região, obrigando que migrassem para lugares mais altos e tornando-os ainda mais dependentes das empresas, sendo obrigados a venderem sua mão de obra por um salário de miséria.

Devido às várias injustiças, a barragem foi ocupada pelos indígenas em 2014, como protesto ao descaso por parte do governo, que, desde 1990, nunca cumpriu sua parte nas negociações.

Marco Temporal

A tese do Marco Temporal, também chamada “Lei do Genocídio”, que vai causar a morte de vários indígenas ao redor do país, além de desmatamento, poluição e expulsão de pessoas de suas casas, está sendo alvo de debates há alguns anos. Seu objetivo é apenas beneficiar os latifundiários para que possuam ainda mais terras.

No próximo dia 30 de outubro, várias organizações indígenas realizarão mais uma grande jornada nacional de lutas contra a Proposta de Emenda à Constituição nº 48 (PEC 48), que tramita no Congresso Nacional sobre o Marco Temporal. O debate jurídico sobre o tema também acontece no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nos últimos anos, a questão ganhou grande destaque devido aos conflitos entre o povo Xokleng e as madeireiras. Estas continuam a invadir ilegalmente territórios indígenas em todo o país, territórios estes que são habitados há séculos por povos como os Xokleng. Muitos desses povos foram violentamente expulsos de suas terras, uma situação que já era evidente em 1988, ano da promulgação da Constituição Federal.

De modo oportunista, ruralistas usaram esse caso para dizer que todas as terras que foram invadidas por latifundiários de 1988 até hoje e que não estavam ocupadas pelos indígenas, são terras dos invasores, pois “chegaram primeiro”, num ato claramente desprezível, já que essas invasões significaram o extermínio e a expulsão de milhares de indígenas de suas terras.

Entre março e abril deste ano, houve diversas tentativas de assassinato e intimidação contra o povo Xokleng, justamente no território onde está em disputa por conta do Marco Temporal. Os indígenas Pedro e José (nomes fictícios) foram alvejados. Já o jovem Hariel Paliano, de 26 anos, foi assassinado e teve sua casa incendiada por ruralistas. Tudo com a conivência do Estado de Santa Catarina.

Na verdade, a própria estrutura do governo é usada pelos latifundiários e burgueses para realizar esses ataques e saírem impunes. Além de todos os casos citados, em outubro do ano passado, o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), chegou a enviar 100 policiais militares e helicópteros contra os Xokleng, que se manifestavam contra a enchente do seu território causada pela barragem.

O Estado brasileiro já demonstrou seu ódio à classe trabalhadora, e nenhuma eleição ou herói nos salvará. Precisamos nos organizar mais e mais, difundir e promover o pensamento crítico (como por meio da divulgação do jornal A Verdade).

Tudo para nos prepararmos para a luta que levará o povo brasileiro ao poder e colocará fim aos mais de 520 anos de genocídio que acontece no nosso país. A única saída é o povo organizado contra a burguesia e os latifundiários.

Matéria publicada na edição impressa nº 301 do jornal A Verdade

Categoria portuária realiza greve nacional contra alteração na Lei dos Portos

Com pretexto de ampliar a concorrência, a Federação Nacional de Operações Portuárias (FENOP) e a Associação Brasileira de Terminais de Contêineres de Uso Público (ABRATEC), ambas patronais, buscam aumentar a lucratividade reduzindo salários, alterando a Lei de Portos.

Welfesom Alves | Belém (PA)


TRABALHADOR UNIDO – Na madrugada da terça-feira, 22, a categoria portuária iniciou uma paralisação nacional em defesa do porto público contra a alteração na Lei 12.815/2013, conhecida como Lei de Portos. Os grandes empresários buscam derrubar a exclusividade na contratação de portuários avulsos (TPAs), modificar o entendimento de Trabalho Portuário e Autoridade Portuária, atacando frontalmente a estabilidade e a remuneração de doqueiros, estivadores, arrumadores, capatazia e demais portuários.

Nesse contexto se destacam pela falta de compromisso com trabalhadores e trabalhadoras a Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), a Federação Nacional de Operações Portuárias (FENOP) e a Associação Brasileira de Terminais de Contêineres de Uso Público (ABRATEC), que juntas defendem os grandes empresários e questionam a legislação que garante aos TPAs remuneração baseada na movimentação e não em contratos estipulados pelo setor patronal.

Fica claro nas suas movimentações que estão dispostos a gastar rios de dinheiro para garantir a alteração da Lei. Empenharam suas energias no último período na realização de eventos de articulação nacional para que, junto ao Congresso Nacional e Arthur Lira, pudessem instituir uma comissão de juristas para a revisão legal da exploração dos portos e instalações portuárias, em 2023, desconsiderando a existência do fórum permanente sobre a temática portuária, criado no ano passado, onde as mesmas entidades fazem parte.

A desregulação do setor é um perigo real para toda a categoria portuária, uma vez que o papel da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) está sob questionamento. Um exemplo é tornar a autoridade portuária responsável novamente pelos arrendamentos e concessões sem que haja participação da agência, já que sem a ANTAQ, a Companhia Docas do Pará (CDP) já amargou processos milionários e dividiu e entregou parte do patrimônio do Porto de Belém para o Governo do Estado, enfraquecendo a estatal.

Em entrevista ao jornal A Verdade, Raquel Brício, guarda portuária e diretora do Sindicato dos Portuários do Pará e Amapá (SINDIPORTO), pontua que essa não é uma greve por aumento de salários e sim por manutenção de direitos históricos e destaca: “O importante é fortalecer a unidade sindical, várias categorias que atuam dentro do porto são categorias portuárias e são organizadas diversos sindicatos diferentes e que nesse momento é necessário a unidade, porque essa alteração na Lei atinge a todos os trabalhadores, independente de qual categoria seja.”

A luta é uma só pela defesa da soberania nacional, dos interesses da classe trabalhadora e pela construção de uma nova sociedade, a sociedade socialista, que respeite as categorias pela sua importância, melhor remunere trabalhadores e trabalhadoras, onde as decisões sobre os rumos da empresa seja fruto de um debate coletivo.