UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quarta-feira, 27 de agosto de 2025
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UP luta contra o desmatamento no Vale do Taquari (RS)

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A Unidade Popular (UP) mobiliza a população em defesa de uma Unidade de Conservação (UC), propondo um futuro sustentável e de preservação para a região do Vale do Taquari, contra o avanço do desmatamento e da degradação ambiental.

Josué Schneider Martins e Nicolas Behrens Leal | Vale do Taquari (RS)


BRASIL – Enquanto vivemos uma emergência climática no Brasil e no mundo, ainda nos deparamos com os interesses e a ganância da burguesia sobre a natureza. Enquanto o povo sofre com enchentes, fogo e fumaça – consequências do aquecimento global e da destruição das florestas –, os capitalistas de nosso país seguem desmatando, destruindo habitats naturais, avançando sobre áreas verdes, fragilizando leis ambientais e também construindo loteamentos em antigas áreas de preservação, lucrando com a destruição da natureza e com a especulação imobiliária.

Na região dos Vales, no Município de Arroio do Meio (RS), esta situação não é diferente. Apesar de todos os efeitos destrutivos que o povo já conhece, os ricos que governam nosso país ainda colocam seus próprios lucros à frente das nossas necessidades, que não podem ser garantidas sem a preservação do ecossistema natural.

Nesse sentido, a Unidade Popular (UP), partido formado pelas lutas do povo trabalhador, se coloca na luta pela preservação ambiental e contra o desmatamento promovido pela burguesia local na maior região florestal contínua do Vale do Taquari, o Morro Gaúcho.

O Morro é um dos maiores maciços de vegetação nativa da região, localizada no bioma de Mata Atlântica. Este espaço se encontra em avançado estágio de regeneração e abriga uma vasta diversidade de fauna e de flora, incluindo espécies ameaçadas de extinção. No entanto, existe um projeto para construir uma estátua, o “Gauchão”, em uma propriedade privada localizada dentro da área do Morro.

É sabido também que os capitalistas envolvidos projetam diversos loteamentos, além de um grande complexo turístico. Isso significaria desmatar mais de 20.000 m2 de área verde em benefício do lucro privado de alguns indivíduos.

A destruição de todo este ecossistema não reflete a vontade do povo, mas sim de um único proprietário de terras. A alternativa contrária seria a preservação comunitária do espaço por meio da criação de uma Unidade de Conservação (UC), proposta construída coletivamente pelos movimentos sociais.

Caso fosse criada uma UC, a região poderia ser preservada e utilizada como forma de valorização cultural e meio de educação ambiental com turismo sustentável. Em primeiro lugar, este seria o único meio de combater as chuvas destrutivas que vêm assolando o povo local.

Além disso, diversos empregos qualificados e territorializados poderiam ser criados nas áreas de turismo, de biologia e de gastronomia local, além do incentivo às trilhas e aos esportes de caminhada. Esta é a proposta da ONG Ecobé (uma organização não governamental regional que luta há anos pela criação da Unidade de Conservação), que defende a proteção do local.

Por outro lado, o que a iniciativa privada está propondo para a região é o desmatamento, a destruição do solo, a poluição dos rios, a maior produção de lixo e o assassinato de um número incalculável de espécies nativas vegetais e animais.

“A luta pela preservação do Morro Gaúcho tem ocorrido tanto através de atos no próprio morro quanto nos corredores da Prefeitura, como também com o acionamento do Ministério Público. No entanto, o que acabamos percebendo é o aparelhamento da própria Prefeitura pelo setor privado, que tem interesse de lucrar com a construção de condomínios de luxo e com a destruição da fauna e da flora, uma vez que a Prefeitura já emitiu licenças e decretos que facilitaram o projeto”, conta Caroline Perez, militante da UP e membro da ONG Ecobé. Além disso, ela também denuncia que a imprensa patrocinada pelos ricos na região vem apoiando o projeto de destruição do Morro, divulgando notícias com interesse de manipular a opinião pública a respeito do assunto.

Graças às diversas mobilizações realizadas pelo povo, o Ministério Público (MP) demonstrou interesse em avaliar as várias irregularidades no projeto, como a aprovação relâmpago sem debate público, a supressão da mata em topo de morro em estágio avançado de restauração e o aumento do risco iminente de deslizamentos na região. Esta movimentação do MP não aconteceria se não fossem as manifestações públicas, o abaixo-assinado online, os dossiês técnicos e as solicitações formais organizadas pela ONG Ecobé, juntamente com a UP.

Somente com a luta e com a construção de uma sociedade que represente, de fato, os interesses e as necessidades da classe trabalhadora é que será possível proteger de fato nossa biodiversidade e a vida dos trabalhadores.

Contra a destruição da natureza! Pela proteção das nossas florestas!

Hortas comunitárias e o trabalho coletivo nos bairros

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O trabalho construído pelo MLB nos bairros populares é uma das melhores escolas de como o povo tem tudo a nos ensinar, e a construção de uma horta comunitária é um exemplo didático disso.

João Paulo TIZ | Florianópolis (SC)


LUTA POPULAR – O Alto-Pantanal é um dos locais de anos de atuação do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), em Florianópolis, capital de Santa Catarina. Um morro tão íngreme que dificilmente automóveis conseguem subi-lo, construído majoritariamente de ocupações em área de risco por quem não tinha outra opção de moradia, cuja pavimentação das ruas, iluminação, e o pouco que há de saneamento básico – reivindicações históricas do bairro – foram feitos pelos próprios moradores que muito lutam em seu dia-a-dia. Um exemplo é o de dona Maria, que teve sua casa, na qual vivia desde criança, destruída por um deslizamento durante fortes chuvas em fevereiro deste ano. O MLB auxiliou no processo de mudança de dona Maria para uma casa ainda mais em cima no morro, cedida por outro morador da comunidade.

O bairro depende dessas mesmas chuvas para poder manter seu abastecimento de água nos encanamentos, que é racionado entre os moradores que precisam minimizar seu uso para não faltar antes que a próxima chuva encha as caixas d’água novamente. Com todas essas dificuldades, os moradores ainda precisam pagar altíssimos alugueis, potencializados pela especulação imobiliária nas regiões ao redor, chegando a R$1500 por mês. Assim, boa parte dos salários dos moradores se esvai já no início do mês e não sobra o suficiente para uma alimentação de qualidade.

Nessa realidade é que coube tomar como tarefa do núcleo do MLB do bairro a construção de uma horta comunitária no Alto-Pantanal, um trabalho que não seria possível sem a atuação dos moradores, ou seja, das massas. E de que forma essa atuação foi necessária? Quando começamos a pensar sobre a construção de uma horta, à primeira vista parece tão simples quanto cavar alguns buracos na terra e esperar que a natureza faça seu trabalho magicamente, mas à medida que passamos a planejar de forma material vemos que o buraco é mais embaixo. Os coordenadores nunca haviam feito o plantio de uma horta e em alguns momentos essa inexperiência nos imobilizou. Começamos pelas perguntas básicas: onde será construída? Com que sementes, materiais e ferramentas? Como se deve realizar o plantio? Quais os cuidados? E com que dinheiro?

Recorremos aos moradores do bairro. Já a primeira pergunta foi respondida quando um deles disponibilizou para o MLB parte de seu terreno com o objetivo de destinar à horta. Para as ferramentas, alguns moradores as emprestaram. Com isso, os primeiros mutirões de limpeza do local puderam ser realizados, contando com militantes do MLB, da Unidade Popular, da UJR e os próprios moradores do Alto-Pantanal. Ao longo desse período, o núcleo de Luta do MLB e apoiadores deram as direções sobre como preparar os canteiros e que materiais utilizar para melhorar a qualidade do solo.

Foi assim que no dia 9 de março foi inaugurada a Horta Comunitária do MLB no Alto-Pantanal, na qual foi realizada uma celebração com o plantio das primeiras mudas. Desde então, outras atividades têm sido planejadas no bairro e, para todas, os moradores dão as direções do que é possível fazer, desde o trabalho com madeira para construções, cuidados com o solo, cultivo de plantações, ferramentas, e mais. É através das brigadas, das panfletagens e das reuniões do núcleo de base que temos a oportunidade de conversar com o povo e que ele pode nos ensinar o vasto conhecimento que nos falta. Isso não significa que o trabalho na horta tenha sido resolvido e que não haja dificuldades, porém, graças a esse trabalho coletivo temos confiança para superá-las e construir uma grande luta contra a fome pelo bairro. Como já bem explicou Luiz Falcão: para realizar nosso trabalho com as massas é necessário estar no meio delas e pulsar no seu ritmo.

Essa é uma experiência simples, mas que faz lembrar de “Gonçalão”, personagem da trilogia Subterrâneos da Liberdade (Jorge Amado) que, situado no campo e sentindo falta de se reunir com seu partido para saber como construir a luta com os camponeses, conversa com eles e, a partir das reflexões que eles fazem, percebe que estava, na verdade, o tempo todo com seu partido: as massas camponesas e o próprio Gonçalão, que apenas precisava confiar e dirigir os camponeses.

É possível acabar com a fome

Se ainda nos for permitido sonhar, então sonhemos com um Brasil em que a fome não seja um problema. Adquirir alimento para toda uma família seria simples, já que não prevaleceria o individualismo nos dizendo que é errado começar a trabalhar em uma terra improdutiva só porque ela “tem dono”, ou que distribuir comida é “ruim para a economia”. Em vez disso, haveria a convicção de que toda comida que produzimos deve ser destinada ao povo através de, por exemplo, restaurantes populares, abastecidos com alimentos produzidos nas mais diversas hortas espalhadas pelos bairros e mantidas por seus próprios moradores.

Enquanto para muitos que veem o Brasil de agora isso parece uma utopia, nós, comunistas, sonhamos com os pés no chão e sabemos que essa sociedade é possível. Não à toa, é precisamente essa a descrição que a vietnamita Nguyen Luna, conhecida pelo seu canal “Luna Oi”, dá sobre seu país: há hortas comunitárias em todo lugar, e que “se há terra vazia em uma vila ou estrada, as pessoas apenas vão lá, plantam seus vegetais e os compartilham juntos”.

Então, como bem disse Che, façamos mais Vietnãs, traçando a luta contra a fome como uma tarefa coletiva e tendo como exemplo esse processo que deu origem à Horta Comunitária do MLB do Alto-Pantanal, replicando-o incessantemente através do aprendizado com o espírito prático de nosso povo.

50 anos do Ilê Aiyê: símbolo do poder negro e resistência na ditadura militar

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Com letras que exaltam a ancestralidade e a força do povo negro, o Ilê Aiyê continua a ecoar resistência e a arrastar multidões nas avenidas de Salvador.

Fênix Boa Morte e Augusto Matheus | Salvador (BA)


CULTURA – O Ilê Aiyê é o primeiro bloco afro de carnaval do Brasil, do iorubá significa Nossa Casa ou Nossa Terra. O grupo formado em 1 de novembro de 1974, na Ladeira do Curuzu, no bairro da Liberdade em Salvador, revolucionou o carnaval baiano, trazendo o protagonismo negro através da valorização da beleza afro-brasileira, uso de tecidos e adereços de matriz africana, presença do ritmo percussivo dos terreiros de candomblé num momento em que os blocos tradicionais não admitiam pessoas negras em suas fileiras.

O grupo foi fundado com inspiração nos movimentos de luta dos negros por direitos civis, Black Power e Panteras Negras dos Estados Unidos, e também as guerras de libertação contra o imperialismo que aconteciam no continente africano. Houve uma tentativa de registrar o bloco com o nome Poder Negro, porém a polícia federal impediu por acreditarem ser negativo, tratava-se do período da ditadura militar fascista em nosso país.

Em 1975, no primeiro desfile, contando com 100 pessoas, o Ilê foi escoltado pela polícia, sendo considerados rebeldes e subversivos, visto que o uso de adereços de matriz africana e penteados afros eram reprimidos, chegando ao nível de agressões e prisões.
A resistência do Ilê desafiou a ditadura militar e o apartheid velado que existia naquele momento. Inspirou o surgimento de diversos blocos afro nos anos seguintes, como o Olodum, Muzenza, Malê Debalê, etc.

Com diversas ações sociais na Liberdade – um dos bairros mais populosos e negros da cidade – o bloco que por muito tempo foi sediado dentro do terreiro Ilê Axé Jitolu, possui uma profunda relação com a comunidade, movimentando a economia do bairro, formando a sua juventude e apresentando uma perspectiva de vida para além da violência oferecida pelo Estado.

O Ilê Aiyê, em seus 50 anos de existência, cumpriu um papel que as escolas e a mídia burguesa por muito tempo tentaram esconder. Com letras que contam a história do continente africano e exaltam a força e as lutas do povo negro, o bloco ascendeu a autoestima de uma população explorada e oprimida, que pôde se reconhecer enquanto herdeiros de um povo livre.

É impossível não se encantar ao ver o Ilê saindo da periferia e tomando a avenida todo ano durante o carnaval, não apenas pela beleza de seus instrumentos e vestes, mas pela multidão de pessoas que o Mais Belo dos Belos arrasta cantando músicas que são verdadeiras palavras de ordem. Da ditadura aos dias de hoje, o Ilê Aiyê é um verdadeiro movimento de massas para inspirar os revolucionários.

“Olha, que bloco é esse?
Eu quero saber
É o mundo negro
Que viemos mostrar pra você”

Assassinos de Marielle e Anderson são condenados pelo júri popular no RJ

Após 6 anos, luta de familiares, movimentos sociais e organizações políticas garante a condenação dos assassinos de Marielle Franco e Anderson Gomes pelo júri popular no RJ.

Redação


BRASIL – Após dois dias de sessão, os assassinos Ronnie Lessa e Élcio Queiroz são condenados pelo júri popular no Rio de Janeiro por terem matado Marielle Franco e Anderson Gomes. Juíza Lúcia Glioche condenou Lessa a mais de 78 de prisão e Queiroz a mais de 59 anos.

Os dois são culpados de terem atirado e assassinado a vereadora socialista em 2018, quando mataram também o motorista do carro em que ela se encontrava. A decisão de hoje é resultado da luta de mais de 6 anos de familiares, movimentos sociais e partidos de esquerda do Brasil e do mundo por justiça.

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz faziam parte de um grupo miliciano no Rio de Janeiro que se especializou em morte encomendadas. Desde o ano passado, os dois criminosos realizaram uma delação premiada onde expuseram a rede de corrupção, crime e disputas que tomou várias áreas do estado do Rio.

Foi nesta delação que os dois confessaram seus crimes e delataram os mandantes que seriam o delegado Rivaldo Barbosa, chefe da Polícia Civil do Rio na época do assassinato, o deputado federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do Tribunal de Contas do RJ Domingos Brazão.

Rivaldo foi responsável durante o ano de 2018 pela investigação do assassinato de Marielle, ou seja, um dos prováveis mandantes estava “investigando” um assassinato de sua autoria.

Com o acordo de delação, o tempo de prisão dos dois condenados fica limitado. Élcio ficará no máximo 12 anos preso em regime fechado, enquanto Ronnie ficará 18 anos, mais 2 em regime aberto. O tempo de prisão deles contará já a partir de 2019, quando foram presos.

Os mandantes aguardam julgamento que será realizado no Supremo Tribunal Federal em virtude da prerrogativa de foro de Chiquinho Brazão. Os dois dias de julgamento foram acompanhados por familiares e amigos de Marielle, além de manifestações populares na porta do Tribunal de Justiça do Rio.

De acordo com a delação e a investigação da PF, o motivo do assassinato político foi a luta que Marielle travava contra o domínio de lotes de casas realizado pela milícia na Zona Oeste do Rio. Na capital fluminense, a crise habitacional é seguida por um controle cada vez maior do mercado imobiliário por parte de grupos armados criminosos ligados à milícia e ao tráfico.

Luta por justiça por Marielle no Brasil e no mundo

O julgamento de hoje é mais uma vitória de uma luta incansável por justiça. Mesmo quando diversas provas do assassinato foram perdidas ou destruídas e quando parecia sem qualquer saída a investigação, os familiares de Marielle, Anderson junto com movimentos sociais e organizações mantiveram de pé a luta por justiça.

A luta por justiça para Marielle foi uma das bandeiras das lutas antifascistas durante o governo do genocida Bolsonaro. Durante os quatro anos de governo do fascista, as investigações ficaram praticamente paradas.

A derrota eleitoral do fascismo em 2022 abriu a possibilidade de se intensificar as mobilizações por justiça. Essa luta levou a investigação do assassinato ser levada à Polícia Federal, no ano passado.

A PF conseguiu em pouco tempo as delações de Élcio e Ronnie que revelaram a profundidade da corrupção nas polícias do Rio de Janeiro. Na delação, os dois confirmaram serem os assassinos de Marielle e Anderson e revelaram os mandantes. A revelação de que o delegado Rivaldo Barbosa seria um dos mandantes reforçou ainda mais essa avaliação.

Hoje, a condenação mostra que a luta por justiça para as vítimas dos crimes da extrema-direita no Brasil pode e deve sair vitoriosa. Resultado desta luta em defesa da memória de Marielle foi que a família Brazão, conhecida pelas suas conexões com grupos milicianos na Zona Oeste do Rio, pela primeira vez, desde 1992, não elegeu nenhum vereador na cidade do Rio de Janeiro.

A luta agora continua para garantir justiça para as vítimas de outros crimes cometidos por agentes do Estado. O Rio de Janeiro vive há muitas décadas sob o controle político destes grupos criminosos que usam dos grupos armados para impor sua posição, perseguindo militantes de esquerda e partidos progressistas.

160 mil pessoas vivem em moradias improvisadas no Brasil

Enquanto 160 mil brasileiros vivem em moradias improvisadas, como tendas de lona e barracos de papelão, o Brasil acumula 11,4 milhões de imóveis vazios, revela o Censo de 2022 do IBGE.

Igor Barradas | Rio de Janeiro (RJ)


Dados do Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em setembro, apontam que 160 mil brasileiros e brasileiras vivem em moradias precárias ou totalmente improvisadas. Em todas as cidades do país, vemos diariamente milhares de famílias sendo expulsas de suas casas e empurradas para as regiões mais afastadas e áreas de risco. Ao mesmo tempo, o Censo apontou que existem no Brasil 11,4 milhões de imóveis completamente sem uso.

São pessoas vivendo em tendas de lona, de plástico ou de tecido (cerca de 57 mil pessoas, 35,3% do total) e em barracos de papelão; em estabelecimentos comerciais, construções degradadas ou inacabadas; em carros, caminhões, trailers ou barcos.

Vale ressaltar que a pesquisa trabalha com o conceito de domicílio. Ou seja, pessoas em situação de rua (que hoje são estimadas em quase 230 mil) não estão nesse enquadramento porque não possuem qualquer tipo de domicílio. O Censo também não mapeia pessoas morando em valões, encostas e áreas de alagamento, por exemplo. Ou seja, a crise de moradia pela qual o povo pobre vive é ainda mais grave do que mostram os dados.

Imóveis vazios e alugueis caros

As estruturas improvisadas em logradouros públicos (calçadas, praças e debaixo de viadutos) abrigam 14,5 mil brasileiros e brasileiras. O levantamento também identificou cerca de 17 mil pessoas residindo em edificações não residenciais permanentes degradadas ou inacabadas. 

Outras 43 mil pessoas vivem em estabelecimentos, como comércios e galpões. Ainda de acordo com os dados, quase 2 mil cidadãos e cidadãs habitam carros, caminhões, trailers e barcos.

De fato, numa mesma sociedade onde a maioria das pessoas não conta senão com um salário para sobreviver, o valor do aluguel disparou 16% em 2023, mais do que o triplo da inflação. Como pagar aluguel recebendo um salário-mínimo?

Essa tragédia ocorre porque uma minoria de ricos, a burguesia, que lucra com a dor e o sofrimento da população, é dona de milhares de casas e prédios e dos meios de produção. É o que afirma Renan Carvalho, da Coordenação Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). “A especulação imobiliária, o poder das construtoras e do capital financeiro dominam os centros das cidades. Nestes locais, ocorrem expulsões do povo e estes passam a viver em barracas, lonas e debaixo de marquises. Precisamos enfrentar as grandes elites do mercado financeiro urgentemente”, disse.

De fato, a burguesia se utiliza da especulação imobiliária, ou seja, deixam seus bens vazios ou subutilizados de propósito, esperando valorizá-los para negociá-los por um valor maior.

Ocupar para garantir moradia digna

Como o compromisso dos governos capitalistas é apenas com o lucro dos ricos e das grandes empresas de construção, para população falta moradia e sobram doenças, desemprego e fome.

Por isso, que não existe outro caminho para conquistar uma profunda reforma urbana e o direito à cidade que não sejam as ocupações. Quem não tem onde morar, tem o direito de ocupar. Toda ocupação de imóvel sem uso, seja público ou privado, é legítima, pois, enquanto moradia digna for um privilégio, ocupar é um dever.

“Se não sabes, aprendes; se sabes, ensina!” A Campanha Nacional de Alfabetização de 1961 em Cuba

A Campanha Nacional de Alfabetização de 1961 em Cuba foi possível graças ao esforço de 271 mil educadores voluntários – sendo 121 mil alfabetizadores.

Julia Andrade Ew | Florianópolis (SC)


“Cuba, Cuba! Estudo, trabalho e fuzil! Lápis, cartilha, manual, alfabetizar, alfabetizar: Venceremos!”. Assim cantavam os jovens alfabetizadores cubanos que se somavam aos milhares a uma das façanhas mais incríveis realizadas pela primeira revolução socialista da América Latina. O ano era 1961: a jovem revolução, que já tinha derrotado a ditadura de Fulgêncio Batista, implementado a reforma agrária e urbana e nacionalizado a grande indústria, precisava agora enfrentar uma das chagas mais tristes da miséria: o Analfabetismo.

Ainda em 1960, Fidel Castro convoca o povo cubano para somar-se às tarefas centrais do ano seguinte: a defesa da revolução contra os ataques do imperialismo norte-americano e a erradicação do analfabetismo. Para ele, uma educação revolucionária é condição para uma profunda defesa da revolução e da liberdade de um povo. O governo revolucionário prepara e disponibiliza as armas para a luta contra o analfabetismo: um manual para os jovens professores, chamado “Alfabetizemos!”, com orientações sobre didática, sobre vida coletiva (solidariedade, disciplina, humildade), formação político-ideológica e militar. A contracapa dizia que uma escola não é um prédio, mas a relação profunda entre professores e alunos, em qualquer lugar, até mesmo debaixo de uma árvore. Esse manual era acompanhado por um documento de alfabetização matemática, voltada para o desenvolvimento da economia nacional, cujo lema era “Produzir, economizar e organizar”.

A outra arma era uma cartilha chamada “Venceremos!”, com exercícios para a alfabetização dos trabalhadores. Essa cartilha trazia elementos da realidade e interesse dos trabalhadores mais simples, como a reforma agrária. Já no dia 1° de janeiro de 1961, é oficialmente iniciada a campanha por meio de turmas de alfabetizadores voluntários que passaram por treinamento para cumprir a tarefa. Em fevereiro, 200 alfabetizadores são enviados para a Ciénaga de Zapata e, em março, 640 para a serra do Escambray, um dos territórios mais visados pela infiltração da CIA, a Agência Central de Inteligência dos EUA.

Estudar e lutar, lutar e estudar

Para cumprir com a tarefa da alfabetização nos lugares mais rurais de Cuba era necessário enfrentar um grande desafio: o banditismo contrarrevolucionário. Em janeiro de 1961, o governo de John F. Kennedy anunciou o rompimento das relações dos Estados Unidos com Cuba, e aprofundou seguiu com a política adotada, desde 1959, de financiar bandos terroristas armados que buscavam derrotar o governo revolucionário ocupando partes do território e espalhando medo no povo por meio de assassinatos, incêndios de vilarejos, escolas e demais ações de criminosas de sabotagem. No dia 05 de janeiro de 1961, um desses bandos assassina brutalmente um alfabetizador de apenas 18 anos: Conrado Benítez era um jovem negro, de origem muito humilde, e foi assassinado por cometer o crime de ensinar camponeses pobres a ler e escrever. Fidel pronuncia um discurso dizendo que este professor seguirá como professor mesmo depois de morto, e oficializa as Brigadas Conrado Benítez de Alfabetização, às quais mais de 100 mil jovens estudantes se incorporam voluntariamente.

Os bandos contrarrevolucionários assassinaram mais de 200 pessoas inocentes, dentre elas, o Brigadista Manuel Ascunce Domenech, professor de apenas 16 anos, que fazia parte da Associação de Jovens Rebeldes (AJR) e tinha, em abril daquele ano, ocupado sua escola com outros estudantes para defendê-la de ataques mercenários. Manuel e Pedro Lantigua, camponeses que estavam sendo alfabetizados pelo jovem, foram torturados e enforcados com arames farpados na serra do Escambray. A verdade é que a educação e a cultura eram inimigas da CIA. Nessa dura condição, professores, exército revolucionário, milícias revolucionárias e o povo em geral eram um só na defesa da educação e da pátria. Os operários e guerrilheiros foram convocados a reforçar a campanha de alfabetização. “É possível que nenhuma força militar na história do mundo tenha levado, juntas, estas duas ferramentas: seu fuzil e sua cartilha de alfabetização”, declara Fidel.

O papel da juventude

Silvio Rodriguez, um dos maiores nomes da música cubana, conta sua experiência como alfabetizador no documentário “Mi primera tarea”. Silvio saiu de casa para alfabetizar em outra província com apenas 14 anos: “Foi a primeira vez que participei de uma tarefa social, de algo para o meu país”. A maioria dos alfabetizadores da brigada Conrado Benítez tinha entre 13 e 17 anos. Saíam de suas casas para viver com os camponeses em outras províncias, participavam da jornada de trabalho no campo durante o dia, para alfabetizar no turno da noite. O símbolo dessas brigadas era um lampião, visto que a maior parte dos locais de estudo, em áreas rurais remotas, não tinha eletricidade.

Os jovens, que foram para os rincões mais afastados do país para ensinar, acabaram sendo os que mais aprenderam. Conheceram a vida do povo simples do campo, aprenderam a plantar e a colher, e muitos tiveram a oportunidade de alfabetizar seus heróis, os trabalhadores que lutavam nos pelotões em Playa Girón contra a invasão organizada pelos EUA ou nas milícias revolucionárias nas montanhas para libertar Cuba da exploração imperialista. 

E como foi possível essa epopeia? Silvio afirma que a revolução fez algo simples: pediu aos estudantes secundaristas que se privassem de um ano de sua escola para ajudar os que não sabiam. “Os jovens são ávidos por viver tarefas grandes, nobres, que os façam crescer. Quando os jovens se metem em miséria é porque não há grandeza à vista, mas se há grandeza, ali eles vão!”.

Território livre do analfabetismo!

No dia 05 de novembro de 1961, a cidade de Melena del Sur foi a primeira a erradicar 100% do analfabetismo. No evento de celebração e levantamento da bandeira da alfabetização na cidade, Fidel afirma para os alfabetizadores: “Vocês já terminaram aqui? Pois bem, imediatamente reforcem outros municípios. Isso é como a guerra. Uma unidade tomou posição e imediatamente leva suas forças para onde a batalha é mais dura!”. E, assim, cidade após cidade, ia levantando a bandeira de “Território Livre do Analfabetismo”.

Cartas e mais cartas chegavam a Havana, capital do país, enviadas por gente muito simples, que, finalmente, poderia se expressar por meio da escrita. “Ler é emocionante!”, afirmou Joaquim, camponês alfabetizado durante o ano de 1961. Maria Manuela, camponesa, mãe de quatro filhos, afirmou: “Não tenho com o que pagar isso que agora a revolução faz por mim, mas, se necessário, eu também serei alfabetizadora, quando saiba o bastante!”. “Há muito trabalho no campo. É preciso sacrificar o sono para estudar. Mas não importa. Quando eu deixar de ser analfabeto, me tornarei alfabetizador voluntário lá nos arrozais!”, afirmou Miguel Figeredo, camponês que abrigou um brigadista em sua casa.

Finalmente, no dia 22 de dezembro de 1961, Fidel pronunciou um discurso na Praça da Revolução, em Havana, anunciando a vitória na batalha contra o analfabetismo para milhares de alfabetizadores e alfabetizados que vinham de todos os cantos do país. Uma vitória que foi fruto do trabalho coletivo e da ampla mobilização das massas! Graças ao esforço de 271 mil educadores voluntários – sendo 121 mil alfabetizadores populares; 100 mil brigadistas Conrado Benítez; 15 mil brigadistas Patria o Muerte (brigada de operários) e outros 35 mil professores voluntários –, 707.212 pessoas aprenderam a ler e a escrever. Para efeito de comparação: em 1961, o índice de analfabetismo no Brasil era de 50,5% e na Bolívia de 67,9%. Cuba foi o primeiro país das Américas a se ver livre do analfabetismo!

Que belo exemplo de disposição para trabalhar pelo bem comum da humanidade! Aquela juventude que, voluntariamente, enfrentou duras viagens nas serras, banditismo armado, perseguições, medo, cansaço, o assassinato de nove companheiros brigadistas alfabetizadores e cumpriu corajosamente sua tarefa revolucionária, não se acomodou com a façanha realizada e foi à Praça da Revolução não para pedir prêmios ou descanso, mas para afirmar unânime e cheia de vontade: “Fidel, diga-nos agora que outra coisa temos que fazer!”.

Fontes:

  1. Documentário “Mi Primera Tarea”
  2. En Marcha Con Fidel – 1961, de Antonio Núñez Jiménez
  3. Campaña Nacional de Alfabetización: Ecured.cu
  4. Protagonismo e processos formativos: um estudo de caso da alfabetização em Cuba (1961). Melo, Amaral e Colombo, 2022.

*Matéria publicada na edição impressa nº 301 do jornal A Verdade 

Rinaldo Cardoso Ferreira, professor, mestre e militante

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Edival Nunes Cajá*


Rinaldo Cardoso Ferreira era recifense, nasceu numa família proletária no dia 24 de maio de 1935. Enquanto seu pai dirigia caminhões de entrega da empresa Souza Cruz, por longas décadas, sua mãe dedicava-se ao penoso e invisível trabalho de cuidar da casa e da família. Casou-se, em 1958, com Maria do Monte Sinai Caraciolo Ferreira. Dessa união, nasceram Liliane, Rinaldo Luiz e Lígia. Em 1991, realizou seu segundo casamento, com Carol (Maria Carolina Bezerra Cavalcanti).

Formou-se em História (1965) e Economista (1971), ambas na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), retornando à instituição como professor de Economia, já em 1972, um professor com Concepção Marxista da História. Antes de se consagrar como professor universitário, também trabalhou no Banco Nacional do Norte (Banorte), na Texaco, no Banco do Brasil e lecionou História em colégios do Recife. Rinaldo concluiu seu mestrado, em 1986, na UFPB, com uma primorosa dissertação “O Movimento de Cultura Popular de Recife – MCP – expressão educacional de uma proposta política de mudanças”. Ele queria compreender a efervescente situação político-cultural na qual vivera a sua juventude, aqueles agitados e esperançosos anos que antecederam o golpe militar fascista de 1º de abril de 1964. Ele tinha uma verdadeira paixão por aquele ambiente propício para o despertar de novas consciências, marcado pelas ações dos governos municipais progressistas de Pelópidas Silveira (1955-1959) e de Miguel Arraes (1960-1963), também este no Governo do Estado (31/01/63 a 02/04/1964), promovendo o Movimento de Cultura Popular (MCP), o Teatro Popular do Nordeste (TPN), o Ateliê Coletivo, com aulas regulares, incentivando as artes plásticas, a literatura, a música, a dança, o Cinema Novo.

Para isso, foram construídos cineteatros no Centro da cidade e nos maiores bairros, sempre lotados com exibições, espetáculos, assembleias populares, ou congressos, festivais e encontros locais e regionais. Era comum Rinaldo se emocionar ao demonstrar a ideologia revolucionária dos comunistas. Numa roda de conversa sobre o comunismo científico e seus fundadores, Karl Marx e Friedrich Engels, no Centro Cultural Manoel Lisboa, há 30 anos, aproximadamente, Rinaldo nos falou, com um orgulho danado, de ter se tornado comunista de forma natural. Como, assim, companheiro? Ele respondeu: “Ora, em Recife, no início dos anos 60, foi grande o impacto da Revolução Cubana de 1º de janeiro de 1959. A gigantesca desigualdade social reinante em Pernambuco e muitos livros publicados, a preço popular, objetivando despertar a consciência política dos jovens, dos trabalhadores, sobre a realidade social na qual se vivia, como as coleções Romances do Povo e Cadernos do Povo, tendo alguns destes chegado a vender cerca de um milhão de exemplares. Tudo isso tornava o socialismo e o comunismo algo próximo de nós.”

Rinaldo foi se fazendo militante: “Ler A Concepção Materialista da História, de George Plekhanov e a Contribuição à Crítica da Economia Política, de Marx, logo ao chegar à universidade, significou uma redescoberta do mundo, da sociedade e da possibilidade de transformá-la”. A sua longeva amizade com a direção do PCR e com o professor Waldomiro Cavalcanti (Unicap e UFPB), o levou a estudar praticamente toda a obra de Marx, especialmente O Capital. A sua consciência passou a exigir coerência entre teoria e prática. Como transformar a sociedade capitalista em sociedade socialista sem a organização e a militância da classe trabalhadora, sem sua vinculação orgânica com a teoria e o movimento comunista?

Estas grandes indagações o levaram a envolver-se na luta concreta contra a ditadura militar e pelo socialismo. Assim, procurou cuidadosamente aliar sua atividade profissional de professor universitário com a realização de tarefas da resistência armada clandestina à ditadura. Dois exemplos concretos, relatados a seguir, são suficientes para comprovar o tamanho do seu compromisso e de sua capacidade. Ele tinha plena consciência do risco que corria, seja pela ameaça de um flagrante da Polícia do Exército (PE), seja pela possibilidade de uma delação arrancada nas câmeras de torturas, no que pese sua grande confiança na formação ideológica dos militantes e na política de segurança do Partido, no caso de prisão.

Manoel Lisboa de Moura (o companheiro Celso), fundador do PCR e seu principal organizador, seguia militando na clandestinidade, em Recife, entretanto, precisava ir a uma reunião rigorosamente clandestina do Partido em Maceió. O Partido sondou Rinaldo sobre a possibilidade de transportá-lo, examinou os riscos desta viagem interestadual, e ele prontamente se colocou à disposição para levá-lo em seu carro, tendo como cobertura sua própria família – seu irmão Cézar Romero, no volante, e sua esposa, Maria Monte Sinai. A esta altura, 1970, Manoel era um dos homens mais procurado pelo DOI-CODI, o mais violento órgão da repressão política da ditadura militar. A missão foi cumprida exitosamente. Saíram à noite e, na madrugada seguinte, sua família estava de volta ao Recife, sã, salva, e transbordando felicidade.

Valmir Costa (o companheiro Nivaldo), também fundador do Partido e principal dirigente do nosso trabalho no movimento estudantil, cassado em 1969, procurado pela repressão como se procura uma agulha no palheiro, ingressa na luta clandestina como organizador profissional do Partido. Nesta condição, torna-se obrigatório pelas normas de segurança do Partido, a mudança de “aparelho” de tempos em tempos, como forma de driblar a polícia fascista. Na impossibilidade de um novo aparelho, no prazo estabelecido, o companheiro Nivaldo recebeu abrigo seguro na casa de Rinaldo e Sinai, ao lado das três crianças do casal, por longos seis meses, com direito a uma visita semanal do camarada Celso, e uma saída por semana para dar assistência ao coletivo da juventude do Partido, quando, finalmente, foi localizado e alugado um “aparelho” seguro.

A ditadura militar sequestrou Manoel Lisboa no dia 16 de agosto de 1973, na praça Yan Fleming, no bairro do Rosarinho, em Recife, e seguiu torturando-o até sua morte, no dia 04 de setembro, na sede do 4º Exército, na Praça 13 de Maio, sem arrancar uma única informação sua. Valmir Costa foi sequestrado do apartamento onde morava, na Estrada do Arraial, no dia 04 de abril de 1978. Dois duros golpes da repressão, duas árduas experiências de resistência à ditadura.

O companheiro Rinaldo, apesar da proximidade do perigo, posto que estes dois companheiros sequestrados e torturados anteriormente frequentavam sua residência e eram testemunhas da sua contribuição regular e de seu apoio logístico à organização, Rinaldo e sua família não sofreram qualquer indiciamento pela polícia política da ditadura. Os algozes queriam saber onde moravam e com quem conviveram, mas os dois absolutamente nada informaram, apesar das torturas.

Rinaldo avança em seu trabalho como docente e se torna professor titular de Economia da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP), a partir de 1º de abril de 1978, chegando a ser chefe do Departamento de Ciências Econômicas e Administração.

Nessa instituição, Rinaldo tomou consciência da necessidade de se transformar num sindicalista classista, com o objetivo de sensibilizar os colegas professores da necessidade histórica de se fundar o sindicato da categoria para lutar por melhores condições de trabalho da categoria e de toda a classe trabalhadora do Brasil.

Fez um trabalho de vanguarda, obtendo como resultado a construção do sindicato dos docentes após várias assembleias, com a ativa participação de um núcleo mais consciente e organizado até conseguir fundar a Associação dos Docentes da Fesp (Adufesp), em 20 de março de 1990. Assim, não foi surpresa a categoria elegê-lo, por unanimidade, como o primeiro presidente do sindicato.

Em decorrência de sua militância política na luta contra a ditadura, Rinaldo foi convidado para exercer vários cargos de confiança, com funções executivas na administração pública, como diretor comercial e financeiro da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), empresa estatal, no segundo governo de Miguel Arraes, na volta do exílio, em 1986. Também assumiu a função de diretor financeiro na Empresa de Urbanização do Recife (URB). Foi Secretário de Administração da Prefeitura de Olinda, na gestão de Germano Coelho. Rinaldo foi ainda coordenador do Instituto General Abreu e Lima de Amizade Pernambuco- Venezuela, instituído por Coromoto Godoy, cônsul-geral da Venezuela em Pernambuco, em 2010.

Rinaldo torna-se também um ativo participante da solidariedade militante com a revolução socialista em Cuba e participa da luta contra o criminoso bloqueio imperialista dos EUA. Torna-se diretor do Centro Cultural Manoel Lisboa e um entusiasta dos cursos de iniciação à teoria marxista do CCML, nos anos 1980, 1990 e 2000. Os cursos ocorreram em dezenas de sindicatos, faculdades e colégios por meio das lideranças das entidades estudantis. Ele coordenou, com maestria, o curso de leitura de O Capital. Enfim, contribuiu enormemente com o trabalho de formação política de novas gerações de militantes e quadros revolucionários marxistas em quase toda a região Nordeste. Presidiu o Seminário do centenário de Gregório Bezerra, no dia 13 de março de 2000, por quem tinha uma grande admiração política.

Rinaldo faleceu no dia 24 de junho deste ano.

Estas linhas representam um tributo à memória do companheiro Rinaldo. Com elas, pensando na publicação de um livreto, pelas Edições Manoel Lisboa, iniciaremos a coleta de testemunhos por escrito de amigos, colegas de magistério e ex-alunos que queiram contribuir com a construção da memória histórica deste combatente da luta pela derrubada da ditadura, pela conquista da Anistia, pela punição dos torturadores e golpistas de 1964, pela liberdade e pelo socialismo.

Companheiro Rinaldo! Presente, agora e sempre!

*Edival Nunes Cajá foi membro da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Olinda e Recife, quando presidida por Dom Helder Câmara. Foi preso político, é sociólogo, presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa, coordenador do Comitê Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia (CMVJRD-PE) e membro do CC do PCR.

Governador fascista mentiu para manipular eleição de São Paulo

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Desde o primeiro turno, eleição desigual em São Paulo foi marcada por fake news, compra de votos e uso da máquina pública pelos candidatos dos ricos. Nova acusação falsa de Tarcísio de Freitas escancara necessidade de punir a direita fascista por suas mentiras criminosas

Bernardo Ferreira | Campinas (SP)


Neste domingo (27/10), em meio ao segundo turno da eleição em São Paulo, a difusão de uma notícia falsa pelo governador fascista Tarcísio de Freitas sobre o candidato Guilherme Boulos demonstrou a que estão dispostos os partidos dos ricos para se manter no poder na maior cidade da América Latina. Em uma coletiva de imprensa, Tarcísio mentiu e afirmou sem provas que a facção criminosa paulista PCC estaria orientando votos no candidato do PSOL, para associá-lo ao crime organizado.

Desde o primeiro turno, a campanha de São Paulo foi repleta de distorções como a disseminação de fake news por fascistas como Pablo Marçal, a compra de votos por candidatos a vereador da direita e o uso escancarado da máquina pública para garantir a reeleição do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Além disso, candidaturas de trabalhadores como a do metroviário Ricardo Senese, da Unidade Popular (UP), não tiveram acesso a tempo de televisão e rádio e nem foram convidadas para os debates pelos grandes monopólios de mídia. Esse processo desigual foi coroado com a mentira de Tarcísio sobre Boulos no domingo, claramente pensada para causar pânico entre os eleitores no dia da eleição em São Paulo.

Impunidade eleitoral

Durante essas eleições, instituições como a Justiça Eleitoral praticamente não puniram os crimes eleitorais dos fascistas, que usam milhões de reais para impulsionar falsidades nas redes digitais. Por isso, os candidatos do fascismo e do ódio aos trabalhadores em todo o Brasil mantiveram seu método de extrema-direita de falar mentiras atrás de mentiras sobre os movimentos populares e candidatos de esquerda, confiantes da impunidade total.

Guilherme Boulos afirmou que vai entrar na Justiça para pedir a punição do governador fascista e reparação pelos danos causados pelo ataque mentiroso. Apesar disso, há poucos elementos concretos para acreditar que algo de fato vá acontecer, como mostram exemplos recentes. Na capital paulista, Pablo Marçal quase foi ao segundo turno com uma campanha de calúnias baixas e o vencedor Ricardo Nunes é acusado de desviar dinheiro para empresários aliados e obrigar servidores públicos a participarem de sua campanha. Já na cidade de Campinas, o prefeito Dário Saadi foi reeleito em primeiro turno, baseando sua campanha em abuso de poder e uso indevido da máquina pública.

Como apontou a nota da Executiva Nacional da Unidade Popular publicada na edição nº 301 do jornal A Verdade sobre o processo eleitoral, o Brasil vive cada vez mais uma falsa democracia, onde quem tem dinheiro é livre para abusar do poder político e econômico com o objetivo de vencer eleições. Enquanto isso, o povo sofre nas mãos dos patrões que financiam os candidatos fascistas com milhões de reais.

Após as eleições, ainda há luta

A incapacidade da Justiça burguesa de dar um basta aos crimes do fascismo e garantir os direitos constitucionais da classe trabalhadora demonstra que a única alternativa que o povo tem para acabar com as injustiças e desigualdades do capitalismo é a organização de um partido revolucionário e comprometido com a luta antifascista. O episódio na eleição de São Paulo escancarou o apodrecimento da democracia burguesa no país, já que os fascistas manipulam impunemente o processo eleitoral com o apoio dos ricos e o descaso das instituições.

Por isso, após as eleições, é preciso “organizar os novos filiados e filiadas nos núcleos, promover cursos de formação política e ideológica, construir materialmente o trabalho da UP e dar impulso às lutas pelos direitos da classe trabalhadora e do povo”, destaca a nota da Unidade Popular. Só assim, conclui o documento, é possível levar adiante a “luta por um país verdadeiramente livre e democrático”.

A creche e a revolução

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“Fazer a mulher participar do trabalho produtivo social, libertando-a da escravidão doméstica, libertando-a do jugo bruto e humilhante, eterno e exclusivo, da cozinha e do quarto dos filhos, eis a tarefa principal. Esta luta será longa. Exige uma transformação radical da técnica e dos costumes. Mas levará finalmente à vitória completa do comunismo”.  (V. I. Lênin)

Comissão de Creche de São Paulo*


A conjuntura em que estamos vivendo, de crise do sistema capitalista e de avanço do imperialismo e do fascismo no mundo, impõe a nós, comunistas, a urgência de crescer nossa influência na classe trabalhadora, em especial, entre as mulheres. No entanto, só alcançaremos esse objetivo se dermos atenção ao fato de que a maioria das mulheres trabalhadoras é mãe e que, na sociedade atual, as tarefas ligadas à criação dos filhos recaem sobre os ombros das mulheres, pois a maternidade não é amparada pelo Estado burguês.

Em consequência, as mulheres mães, mesmo as que tomaram essa decisão consciente, são responsáveis por uma carga de trabalho doméstico gigantesca (10,4 horas semanais a mais que os homens) e, na maioria das vezes, solitária. Levar e pegar as crianças na escola, cozinhar, arrumar a casa, lavar roupa, comprar, planejar, levar o filho ao médico, etc., é quase tudo realizado pelas mulheres que são mães.

As mulheres ainda são encarregadas do cuidado com os doentes e os idosos. Por isso, as mulheres têm mais dificuldades de participar de uma reunião ou manifestação, por exemplo, do que os homens.

Portanto, quando estamos diante de mães que atuam nos movimentos ou no partido, precisamos levar tudo isso em consideração, precisamos ter empatia, ajudá-las e apoiá-las, garantir as condições concretas para que possa participar da melhor maneira possível.

Isso significa que a plena participação da mãe militante em nossas atividades orgânicas e de massas é uma tarefa política do coletivo, que deve, antecipadamente, discutir e preparar as condições práticas para termos a companheira sempre presente. Não se trata de resolver o problema de uma reunião apenas, pois as mães são mães a vida inteira e a maternidade não pode ser uma contradição para as mulheres se tornarem militantes dos nossos movimentos, dos sindicatos e, inclusive, exercer o papel de dirigentes.

A importância da creche

Uma das formas de apoiar a plena participação das mães militantes em nossas atividades é a creche. Ter creches organizadas por nós, levando em conta não apenas a necessidade das mães, mas também o bem-estar das crianças, é a principal medida para ampliarmos a participação das mães.

No entanto, é comum uma militante pedir ou perguntar se haverá creche na atividade, quando, na verdade, o coletivo deveria ter consciência de que a creche é uma necessidade e, assim, tomar a iniciativa.

Muitas mães, criadas na lógica do individualismo, pensam que seus filhos são um fardo para o coletivo, que vão dar trabalho, que a obrigação é dela, afinal, ela que quis ter filhos e tem vergonha de levantar a questão. Mas, nós, revolucionários, não podemos pensar dessa maneira.

De fato, numa sociedade egoísta, a criação de uma criança é um peso individual; já numa sociedade socialista, a criação de uma criança passa por responsabilidades coletivas na alimentação, educação (de qualidade e perto do local de trabalho da mãe), etc.

Esta era a realidade da União Soviética, em que, a cada três horas de jornada de trabalho, a mãe tinha 45 minutos para ir à creche amamentar seu filho, como relata Alexandra Kollontai em “O Comunismo e a Família”: “Já existem casas para as crianças em fase de amamentação, creches, jardins de infância, colônias e lares para crianças, enfermarias e postos de saúde para os doentes ou que precisam de cuidado especial, restaurantes, refeitórios gratuitos, roupas e calçados para as crianças dos estabelecimentos de ensino. Tudo isso não demonstra suficientemente que a criança sai do marco estreito da família, passando o peso de sua criação e educação dos pais à coletividade?”.

Coletivizar o cuidado

Além disso, é imprescindível compreender a criança como um indivíduo, um ser humano que tem direitos, vontades, capacidade de se comunicar, criticar, pensar, tudo fase de formação, e que precisa da ajuda dos adultos para se desenvolver. Assim, respeitar a criança e auxiliá-la a desenvolver o entendimento da autonomia sobre seu corpo, com pequenos gestos (como pedir licença ao fazer a higiene na criança), são fundamentais.

Claro que na função de ajudar a criança a se desenvolver não vamos deixá-la “fazer tudo que quer”, porque, efetivamente, ela ainda é um ser em formação. Por exemplo, não vamos deixar de dar banho porque a criança está se colocando contra, mas temos que conversar, explicar, usar recursos lúdicos, cantar, comunicar de forma que ela entenda. Antes de anunciar o que vai ser feito, precisamos conversar com as crianças, explicar cada coisa que estamos fazendo. Enfim, elevar nossa consciência para respeitar as crianças como seres humanos e com direitos é uma imposição da nossa realidade atual.

Nesse sentido, a creche não pode ser um “puxadinho” das nossas reuniões, mas sim um espaço pensado para alguém que tem o direito de estar ali, e ter um momento prazeroso, educativo e também político, pois nosso objetivo é educar nossas crianças com a ideologia da nossa classe. Assim, antes de organizar a creche, temos que debater esse espaço enquanto um lugar que é um direito da criança e da mãe.

Lembremos ainda que, desde a primeira infância, as crianças são bombardeadas com diversas propagandas e desenhos infantis que promovem e exaltam a ideologia burguesa e, como disse Paulo Freire: “Educar é um ato político. Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra”.

O que propomos

Quando organizamos uma creche, é necessário levarmos em consideração as especificidades das crianças, sua faixa etária, e preparar os encontros pensando previamente nas atividades que serão realizadas. Em um encontro de lideranças indígenas, por exemplo, por que não fazer uma creche colocando músicas dos artistas originários e desmistificar a ideia racista de “índio”? Pode-se pegar o mapa do território e descobrir com as crianças quais são as terras originárias ou falar de indígenas em contextos urbanos. Assim, constrói-se terreno para que a retomada e a demarcação de terras seja um assunto presente na vida da criança.

Bola é brinquedo de menino e panela é brinquedo de menina? Para nós, não! Então, na creche, ensina-se a brincar com a bola em diversos jogos para que todos tenham familiaridade com a dinâmica e se entenda que brinquedo é de criança, independente se é menina ou menino.

Numa atividade do Movimento de Mulheres Olga Benario, na creche, pode-se perguntar às crianças o que elas pensam da divisão de brinquedos de menina e de menino, levantando repertório para identificar quais assuntos precisam ser aprofundados com o objetivo de quebrar estereótipos de gênero.

Camaradas, de forma alguma cuidar de uma criança deve ser visto como uma atividade menor, porque estamos contribuindo para formar nossas crianças segundo os princípios do comunismo e da nossa organização. As creches em nossas atividades e reuniões são tão políticas quanto as atividades em si e coletivizar o cuidado das crianças é também uma tarefa da revolução!

Por fim, apresentamos algumas orientações para o cuidado dos filhos e filhas dos e das nossas camaradas:

– Escolher com antecedência os e as camaradas que ficarão com a tarefa dos cuidados das crianças.

– Garantir os horários de alimentação das crianças, independentemente dos horários da reunião.

– Sempre oferecer água às crianças.

– As brincadeiras e atividades devem ser preparadas com antecedência.

– Levar materiais de recreação para as atividades, sabendo separar por faixa etária (bebês, crianças menores, crianças a partir dos 8 anos, etc.), pois, para cada uma, existem interesses diferentes).

– Orientar os(as) camaradas responsáveis a verificarem a fralda das crianças pequenas.

– Em nossas ocupações, devemos garantir brinquedotecas.

– Muitas vezes, deixamos as crianças direto na tela do computador, do tablet ou do celular, mas as telas prejudicam o desenvolvimento das crianças, em especial, as pequenas. Portanto, devemos evitar este recurso!

Para avançarmos nesse trabalho, publicaremos, posteriormente, outros textos sobre o tema no site do jornal A Verdade.

Se nos empenharmos nessa tarefa, com certeza, as crianças terão seu direito respeitado e criaremos melhores condições para formarmos muitas mulheres revolucionárias.

*Esse texto foi escrito por várias mãos com o objetivo de contribuir no avanço do nosso trabalho entre as mulheres trabalhadoras e o cuidado coletivo com seus filhos.

Matéria publicada na edição impressa nº 301 do jornal A Verdade

MLB completa 12 anos de trabalho no Vale das Ocupações do Barreiro, em Belo Horizonte

No aniversário de 12 anos da Ocupação Eliana Silva, em Belo Horizonte, o MLB celebra conquistas e reforça a luta pela moradia digna. Fundada em 2012 em homenagem a Eliana Silva, uma das principais lideranças do MLB, a ocupação resistiu a despejos violentos e hoje integra sete comunidades.

Edinho Silva | Belo Horizonte (MG)


LUTA POPULAR – Na madrugada do dia 21 de abril de 2012, o nome Eliana Silva renasceu. Não haveria homenagem mais bonita a essa companheira, que uma ocupação batizada com seu nome. Ela foi uma importante militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR), iniciou sua luta no movimento estudantil, no combate à ditadura militar, realizou a Ocupação Corumbiara, em Belo Horizonte (MG), presidiu a associação de moradores e foi uma das principais lideranças na criação do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), em 1999. Eliana nos deixou em 2009, vítima de câncer. O seu legado é a luta. E assim seguimos seus passos.

“O despejo durou mais de 24 horas. Iniciou-se na sexta-feira e só terminou no sábado, véspera do Dia das Mães. Naquele ano, passamos o Dia das Mães com as mães sem terem para onde levar seus filhos. Aquela violência marcou muito a cidade, principalmente o povo, que resistiu e cantava ‘Eliana Silva, mais uma ocupação, não tem medo de Caveirão’… No domingo, o rapper Emicida estava em Belo Horizonte, fazendo um show no Barreiro, bem perto de onde era a ocupação. Ele fez um protesto contra a Polícia, que despejou às famílias e acabou preso. Isso repercutiu nacionalmente, junto com a repercussão do despejo. Eliana Silva virou palavra de ordem dos movimentos na cidade e um exemplo de luta para todas as ocupações do Brasil”, relata Leonardo Péricles, morador da Ocupação Eliana Silva e presidente nacional da Unidade Popular (UP).

Após 21 dias de resistência, a mando do prefeito Márcio Lacerda, com apoio do então governador Antônio Anastasia, a ocupação foi despejada de uma forma extremamente violenta, tendo, pela primeira vez, o uso do Caveirão (veículo blindado) da Polícia Militar, além de helicóptero, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Mesmo com tanta violência, as famílias não abaixaram a cabeça, se organizaram mais e refizeram a Ocupação Eliana Silva em 22 de agosto do mesmo ano.

Neste ano de 2024, a ocupação completou 12 anos de resistência e conquistas. Hoje, é um bairro consolidado e parcialmente urbanizado, e a comunidade é um verdadeiro exemplo na luta pela moradia em todo o Brasil.

Em 2013, de forma espontânea, centenas de famílias realizaram a Ocupação Nelson Mandela e, rapidamente, o MLB se somou à luta contra o despejo, indo às barricadas e trincheiras de enfrentamento.

Em 2015, o Movimento organizou a Ocupação Paulo Freire, com mais de 150 famílias. Hoje, com nove anos, a ocupação já conta com o fornecimento oficial de água e se prepara para receber uma quadra poliesportiva coberta e com vestiários, fruto de uma parceria com o Instituto Conhecimento Liberta (ICL), que organizou uma campanha de arrecadação.

Em 2016, o MLB realizou a Ocupação Temer Jamais (no mesmo terreno da Eliana Silva 1, que permanecia abandonado). A ocupação foi despejada com violência em seu primeiro dia. 

Parque das Ocupações

O Vale das Ocupações conta com sete comunidades, sendo elas: Horta 1 e 2, Camilo Torres, Irmã Dorothy, Eliana Silva, Nelson Mandela e Paulo Freire. São interligadas por uma área verde que foi adotada e preservada pelas ocupações, que desejam transformá-la em um parque com trilhas e resgatar as nascentes que foram contaminadas pelas indústrias.

O MLB, as coordenações das ocupações e a Escola de Arquitetura da UFMG desenvolveram o projeto do parque, mas muitas coisas ainda dependem da Prefeitura para avançar.

A luta pela urbanização

Os 12 anos de atuação do Movimento na região foram fundamentais para a organização das lutas e os avanços na consolidação da urbanização das comunidades.

Em 2015, após vários dias faltando água nas ocupações, com os moradores já cansados da humilhação de ter que andar uma longa distância, carregando baldes d’água para beber, tomar banho e cozinhar, eles se revoltaram e cercaram o caminhão pipa que fornecia água duas vezes por semana. O veículo só sairia com o compromisso da Companhia de Água e Saneamento (Copasa), de que a ligação de água seria feita. Ao fim da negociação, representantes da empresa foram até a ocupação para dizer que as obras seriam iniciadas.

Em 2016, o MLB ocupou a Câmara Municipal para que as ocupações fossem reconhecidas como áreas de interesse social no Plano Diretor, que tramitava na Casa. Em 2019, o Plano Diretor virou lei com as ocupações reconhecidas em seu texto.

Muita coisa avançou, sempre como resultado das lutas. Hoje, todas as ocupações possuem fornecimento de água, as ruas possuem CEP, parte das ocupações já conta com o fornecimento de energia elétrica e iluminação pública, e a outra parte aguarda o início das obras de instalação. Assim como algumas já possuem pavimentação das ruas para a coleta de lixo e possuem coleta de esgoto.

“A luta ainda está longe do fim. No momento, as ocupações passam por um estudo, para a formulação do projeto de urbanização e regularização por parte da Prefeitura de BH, depois de muita luta e pressão do MLB e dos moradores. Essa foi mais uma grande vitória, porém queremos que a urbanização seja feita com uma verdadeira participação  popular, respeitando a história e tudo que já foi construído coletivamente até aqui, e não uma urbanização aos moldes burgueses, autoritários, com violência e despejos sem alternativas, mudando as características do local e expulsando milhares de famílias para fora de BH para atender a grande especulação imobiliária”, afirma Poliana Souza, da Coordenação Nacional do MLB e moradora da região.

Creche Tia Carminha

O nome é uma homenagem à companheira Carminha, liderança do Movimento, que nos deixou em 2011. Ela presidiu a associação de moradores da Vila Corumbiara e organizou o coral de crianças da comunidade.

A creche é um pilar fundamental do Movimento no território. Foi a primeira construção de alvenaria da Ocupação Eliana Silva. Doze anos depois, a creche continua ativa, garantindo que pais e, sobretudo, mães de família, possam trabalhar e terem a tranquilidade de saber que seus filhos estão bem cuidados.

“Eu cheguei na ocupação ainda criança. Passei pela primeira turma da creche. A maior parte da minha vida, vivi aqui. Estive em todas essas lutas: a do caminhão pipa; quando ocupamos a Cemig, a Prefeitura, a Câmara; nas lutas de rua e também nas atividades internas. Me formei na luta. Fui militante da UJR e ajudei na fundação do projeto “Minha Quebrada” para organizar nossa juventude nas ocupações e periferias, onde jovens morrem todos os dias. Aos 18 anos, fui eleito para a Coordenação Estadual do MLB. Hoje, sou casado e tenho dois filhos, uma menina e um menino, que também estão na creche”, relata Adriel Cássio.


Dedico este texto a Dona Eudir Dias, que nos deixou em julho deste ano. Dona Boazinha, como era chamada, é um grande exemplo de luta e inspiração para todos nós. Seu passado difícil a fez uma grande militante contra a fome e seu grande sonho é também o nosso, a construção de uma nova sociedade em que nenhuma pessoa mais passe fome, a sociedade socialista.

Nota de Pesar: Raquel Rocha presente!

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Partido Comunista Revolucionário e Unidade Popular | Natal (RN)


NOTA DE PESAR – É com um profundo pesar que comunicamos que a nossa companheira Raquel Rocha, honrosa e essencial camarada, nos deixou fisicamente hoje. Uma companheira que dedicou sua vida à construção de uma nova sociedade, mais justa e igualitária, denunciando a barbárie do capitalismo, o genocídio do povo preto orquestrado nas periferias do nosso país e a necessidade de uma educação pública emancipadora, plural e de qualidade.

Raquel atuou dentro do movimento popular revolucionário no Rio Grande do Norte e teve papel de destaque tendo sido vice-presidente da União Estadual dos Estudantes – UEE, coordenadora do DCE da UFRN, Coordenadora Geral do Centro Acadêmico de Ciências Sociais e membro do diretório municipal da Unidade Popular – UP em Natal, onde construía o coletivo negro Valdete Guerra, o movimento correnteza e a União da Juventude Rebelião.

Raquel era sinônimo de alegria, disposição e de uma rebeldia revolucionária incomparável que pulsava em suas veias, incendiava suas intervenções e contagiava todos ao seu redor a seguir nas lutas e nos enfrentamentos a esse sistema injusto e assassino. Ela foi uma de suas vítimas. A desumanização, a miséria e a falta de perspectiva é a única coisa que esse sistema de exploração tem a oferecer para nossa juventude. A camarada não pode ser mais uma estatística do capitalista. O seu legado segue vivo toda vez que uma bandeira de resistência for levantada.

Sempre lembraremos da Raquel sorridente, combativa e que acreditava que era possível transformar a realidade do nosso povo. Nossos sentimentos à sua família, amigos e camaradas que tiveram o privilégio de viver e lutar ao seu lado.

“As cores da juventude
A energia da luta
A combatividade da raça
A força da mulher
Ah, Raquel…
Seguimos sua luta!”

Raquel Rocha, presente!
Nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de lutas!