UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 30 de junho de 2025
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Rodoviários decretam greve na Região Metropolitana do Recife

Diante de uma situação de exploração e sobrecarga de trabalho, os rodoviários decidiram paralisar o serviço e decretar greve, atingindo a Região Metropolitana do Recife (RMR).

Redação PE


TRABALHADOR UNIDO – Na manhã do dia 12 de agosto, a rede de transporte rodoviário do Recife e Região Metropolitana amanheceu paralisada, após a categoria aprovar greve por tempo indeterminado.

Em março deste ano, a governadora Raquel Lyra (PSDB) aprovou, para o Recife e a região metropolitana, a criação do bilhete único, modificando a tarifa A, que era de R$5,60, para R$4,10. A medida serviu para melhorar a imagem do governo diante da população, mas não melhorou o serviço, que teve durante a pandemia o agravante das empresas aproveitarem para demitir os cobradores e criar a chamada dupla função para os motoristas.

A militância do Movimento Luta de Classes (MLC) e da Unidade Popular em Pernambuco estiveram na mobilização em apoio à categoria. Contou com mobilizações nas portas das garagens desde a madrugada, e uma enorme adesão dos trabalhadores das diversas empresas. O jornal A Verdade acompanhou a mobilização e entrevistou Aldo Lima, presidente do sindicato dos Rodoviários de Pernambuco.

A Verdade – Qual a principal reivindicação da categoria hoje?

Aldo Lima – A nossa pauta inicial é um aumento de 5% acima da inflação nos salários, o ticket de alimentação de R$700 e ajuda de custo para o motorista que faz a dupla função de R$500. Hoje, o motorista que dirige e cobra a passagem ganha entre R$140 e R$180 em média de abono para exercer essas duas funções. Mas uma das nossas principais reivindicações é o plano de saúde para a categoria.

Houve alguma melhoria no serviço após a implementação do Bilhete Único de março desse ano até agora?

As condições de trabalho da categoria são muito difíceis, muito precárias. É violência, a dupla função que desgasta muito, os trabalhadores são expostos ao calor e a trepidação do veículo, o adoecimento mesmo. Esses subsídios que a governadora repassa para as empresas tem um único objetivo: melhorar a condição das empresas. Somente. Nunca visa melhorar a condição do trabalhador.

No início do ano era repassado um subsídio para as empresas de R$250 milhões. Com a unificação do bilhete B com o bilhete A, esse subsídio passou para R$310 milhões, atualmente está em R$348 milhões e há uma perspectiva desse valor subir para R$400 milhões até o final do ano. E a pergunta que nós fazemos é: o que vem para o trabalhador? De que maneira esses profissionais vão ser valorizados? Quais os cuidados que vão ser dados a esses trabalhadores? Nós precisamos de um plano de saúde. Se tem dinheiro de subsídio para dar para os empresários por que não repassa parte desse subsídio para valorizar os profissionais?

Como tem sido a adesão dos trabalhadores e a percepção junto a população nesse início de greve no Recife?

A adesão da categoria tem sido massiva. Os trabalhadores estão muito revoltados com essa situação. A greve foi comunicada com muita antecedência. Nós deixamos claro, para toda a população de que iríamos fazer essa mobilização. Eu sei que traz um transtorno, mas a gente quer apontar o culpado dessa greve, que são as empresas e o governo do Estado que não resolveram esse impasse. E a maioria da população tem ficado do nosso lado. Quem usa os ônibus diariamente sabe pelo que passamos.

Morre Delfim Netto, agente da ditadura militar fascista

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O economista Delfim Netto morreu nesta segunda-feira (12/8). Ministro da Fazenda nos governos dos generais fascistas Médici e Costa e Silva durante a ditadura militar e um dos signatários do AI-5, Netto foi responsável por uma política econômica de arrocho salarial e cúmplice da repressão sanguinária contra os trabalhadores

Guilherme Arruda | São Paulo (SP)


Nesta segunda-feira (12/8), morreu em São Paulo o economista Delfim Netto, que foi ministro da Fazenda de 1967 a 1974 durante a ditadura militar, na presidência dos generais fascistas Arthur Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici.

Cúmplice dos desaparecimentos e assassinatos de opositores, entre eles os comunistas, durante o regime ditatorial, Netto foi um dos signatários do Ato Institucional n° 5 (AI-5). Decretado em dezembro de 1968 pelo governo, o AI-5 endureceu a política repressiva da ditadura militar fascista ao suspender o direito ao habeas corpus e dar à presidência a prerrogativa de fechar o Congresso Nacional, suspender os direitos políticos dos cidadãos e censurar a imprensa. Durante a deliberação sobre a assinatura do ato, Netto disse ao general-presidente Costa e Silva: “Eu estou plenamente de acordo com a proposição que está sendo analisada no Conselho. E, se Vossa Excelência me permitisse, direi mesmo que creio que ela não é suficiente”.

Centenas de lutadores pela democracia e o socialismo, como Amaro Luiz de Carvalho e Manoel Lisboa, foram mortos sob a vigência dessa medida arbitrária. Após a redemocratização, Netto não se arrependeu da cumplicidade com esses crimes: em 2022, disse ao Estadão que “assinaria de novo” o AI-5.

No ministério da Fazenda, Netto foi responsável por uma política econômica anti-operária, expressa em sua frase “crescer o bolo, para depois dividi-lo”. Sob sua orientação, a ditadura militar contraiu uma dívida externa gigantesca com os bancos internacionais para supostamente estimular a economia do Brasil e ao mesmo tempo arrochava os salários dos trabalhadores, prometendo que o crescimento econômico melhoraria suas condições de vida por si só.

A “divisão do bolo” prometida por Delfim Netto nunca veio: após sua passagem pelo ministério, o Brasil estava completamente endividado com o setor financeiro internacional e os trabalhadores brasileiros viviam um dos períodos de maior miséria de sua história. Na década de 1970, as favelas passaram por um crescimento explosivo nas periferias das grandes cidades, já que os trabalhadores do campo foram estimulados a buscar empregos industriais nos centros urbanos, onde encontraram baixos salários, péssimas condições de vida e nenhuma política de moradia.

As expressões de insatisfação com a política de arrocho salarial de Netto e da ditadura eram reprimidas com grande violência autorizada pelo AI-5, como no caso do assassinato do operário Manoel Fiel Filho em 1975. O economista voltaria a ser ministro da ditadura no governo do general João Figueiredo, quando assumiu a pasta do Planejamento e fracassou em lidar com a crise da dívida externa, cujas raízes haviam sido criadas por ele mesmo dez anos antes.

Após o anúncio da morte de Delfim Netto, figuras do Governo Federal, como o presidente Lula (PT) e o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), foram a público lamentar seu falecimento, apresentando-o como um “grande economista” e um “desenvolvimentista”. Por sua vez, movimentos de luta por memória, verdade e justiça criticam falas como essa, por estimularem o esquecimento do papel de Netto na ditadura militar que deixou milhares de vítimas entre mortos, desaparecidos, torturados e presos.

Assembleia Legislativa do RS aprova lei que corta direitos para quem faz ocupação

A lei foi sancionada pela Assembleia Legislativa do RS após o silêncio do governador Eduardo Leite (PSDB), pune quem faz ocupação de propriedades e facilita a perseguição de líderes comunitários.

Claudiane Lopes | Porto Alegre (RS)


LUTA POPULAR – Foi promulgada, no dia 08 de julho, a lei que estabelece o corte de benefícios sociais promovidos pelo Estado a quem ocupa propriedades rurais e urbanas. A proposta foi transformada em lei por ato do presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Adolfo Brito (PP), após o silêncio do governador Eduardo Leite (PSDB), que não sancionou nem vetou a medida.

Em junho, a Assembleia aprovou com 35 votos favoráveis e 14 contrários o PL 154/2023, de autoria do deputado estadual Gustavo Victorino (Republicanos), prevendo uma série de sanções, como a perda de benefícios sociais e a impossibilidade de assumir cargos públicos.

O que representa essa lei

A lei prevê que quem ocupar deve ser identificado, gerando punições individuais para atos coletivos organizados para o enfrentamento da desigualdade, especialmente o acesso à terra e à moradia. Isso facilita ainda a perseguição a lideranças comunitárias e de movimentos sociais. Importante ressaltar que essa forma de identificação individual das famílias já ocorreu no despejo da Ocupação Sarah Domingues, no dia 15 junho, em Porto Alegre, antes mesmo de essa lei entrar em vigor.

Após as enchentes de maio que assolaram a população gaúcha, 388 mil pessoas ainda seguem desalojadas e, com isso, as pessoas têm se organizado cada vez mais em movimentos de moradia para ocupar prédios abandonados para terem um teto. Portanto, a aprovação da nova lei, neste momento, também é uma resposta da burguesia e seus representantes ao aumento das lutas por moradia, especialmente na capital.

Na verdade, essa lei possui o objetivo encoberto de proteger a propriedade privada da burguesia. O alto índice de violência decorrente de disputas fundiárias no Rio Grande do Sul é evidente. No entanto, ao analisar os dados, fica claro que as principais vítimas dessas violências são a população pobre, os povos originários e os quilombolas. Um dos grupos mais atingidos pela violência são os povos originários, que historicamente têm suas terras usurpadas pelos latifundiários. Segundo o Relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o Rio Grande do Sul liderou o ranking nacional em conflitos indígenas relacionados a direitos territoriais em 2021 e 2022. Em 2022, foram registrados 27 conflitos, correspondendo a 17% do total nacional.

O número de imóveis vazios quase dobrou no Rio Grande do Sul em 12 anos. Segundo levantamento da Fundação João Pinheiro (FJP), o estado registrou 604.277 domicílios vagos em 2022, enquanto o déficit habitacional é de 220.927 (65.275 em habitações precárias, 34.073 em coabitação e 121.579 em ônus excessivo com aluguel). A situação da moradia na capital gaúcha repete a situação do estado e o déficit habitacional na Região Metropolitana de Porto Alegre é estimado em cerca de 90 mil moradias, número inferior ao de imóveis vagos na metrópole. Ressaltando que são dados de antes das enchentes.

Criminalizar quem luta por direito constitucional é punir quem precisa. A contradição gerada pelo sistema capitalista (tantas casas vazias e tantas pessoas sem casa) é um exemplo de como este sistema não tem nada a oferecer à classe trabalhadora.

Encontro Nacional do MLB reafirma a luta pela reforma urbana e pelo socialismo

O Encontro Nacional de Lideranças do MLB, feito em comemoração aos seus 25 anos de luta, abordou temas como Memória, Verdade e Justiça; luta por moradia e a importância da união entre o socialismo e a classe trabalhadora. 

Coordenação Nacional do MLB


LUTA POPULAR – Com objetivo de organizar as famílias sem-teto, as mulheres, as mães e a juventude para enfrentar a desigualdade social no Brasil, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), em comemoração aos seus 25 anos de existência, promoveu o Encontro Nacional de Lideranças do MLB, na cidade de Caruaru (PE), nos dias 19, 20 e 21 de julho. O Encontro contou com a presença de 80 participantes, de 16 estados, abarcando todas as regiões do país.

Ao longo dos três dias, os trabalhos se iniciaram com atividades físicas (caminhada, corrida, futebol, capoeira e alongamento), ressaltando a importância do cuidado com a saúde.

No primeiro dia, o tema da Memória, Verdade e Justiça, a combatividade de grandes lutadores, como Manoel Lisboa, Manoel Aleixo e Emmanuel Bezerra, e a importância de lutarmos para que um dos períodos mais sombrios da nossa história, a Ditadura Militar de 1964, não se repita, foram levantados e debatidos no plenário. Edival Nunes Cajá, ex-preso político e membro do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário (PCR) apontou para a necessidade de realizarmos um persistente trabalho, político e ideológico, em torno deste tema em todas as atividades de base que realizamos com as famílias sem-teto. Para isso, é preciso construir, com mais responsabilidade, os núcleos de base, porque são eles a força do MLB.

O segundo dia foi marcado pelos informes dos estados sobre o trabalho desenvolvido e por importantes leituras, como o texto “Engels, a luta por moradia e a revolução”, escrito por Queops Damasceno, da Coordenação Nacional do MLB, e publicado no novo Caderno de Formação para o Trabalho Nacional de Bairros, e o capítulo “A primeira revolução russa”, do livro “Lênin, sua vida e sua obra”, das Edições Manoel Lisboa.

Contamos também com a presença de Luiz Falcão, diretor de Redação do jornal A Verdade e membro do Comitê Central do PCR, que falou sobre o orgulho e a esperança que precisamos ter no nosso povo, que nossa tarefa é praticar a união do socialismo com a classe trabalhadora, pois é ela, e somente ela, que tem as condições de emancipar o povo desse sistema adoecido e desigual que é o capitalismo.

Ainda esteve presente Leo Péricles, presidente nacional da Unidade Popular (UP). Em sua fala, Leo reforçou a UP como um partido do povo, que foi construído para ser a ferramenta de luta da nossa classe, já que não existe nenhum espaço vazio na política. “Os núcleos da UP devem andar lado a lado com o trabalho e os núcleos do MLB, construindo lutas permanentes e convidando a classe operária para ingressar no nosso partido”, afirmou. E encerrou sua fala sugerindo que na frente de cada ocupação seja escrito “AQUI ACABA A ESCRAVIDÃO DO ALUGUEL”.

Nosso grandioso Encontro foi encerrado com a leitura do texto “A creche e a revolução”, escrito pela Comissão de Creche (SP), e o inegociável debate em torno do cuidado coletivo das nossas crianças e das mulheres mães. “Se é verdade que são as mulheres as mais exploradas e oprimidas por esse sistema, é verdade também que serão as mulheres a ponta de lança da destruição desse sistema”, afirma Marta de Lara, da Ocupação Anita Garibaldi (Florianópolis).

Por isso, precisamos garantir as condições para a participação das camaradas nas lutas, aprofundando nossa organização, intensificando o enfrentamento e a resolução dos graves problemas urbanos, colocando fim à ganância da especulação imobiliária e promovendo o direito à cidade para, o quanto antes, construirmos o socialismo e vivermos de forma digna, justa e feliz.

Greve estudantil na Uece reivindica políticas de permanência e contratação de professores

Os estudantes das três universidades estaduais do Ceará, a Uece, Urca e UVA, enfrentam graves desafios para concluir seus cursos, como a falta de professores, insegurança nos campi e ausência de políticas de permanência estudantil.

Otávio Miranda | Estudante de História


JUVENTUDE – Há décadas, os estudantes das três universidades estaduais que existem no Estado do Ceará (Uece, Urca e UVA) convivem com a dificuldade para permanecerem na graduação. Na Universidade Estadual do Ceará (Uece) faltam professores em diversos cursos, não há políticas de permanência estudantil e sobre insegurança nos campi de Itaperi e Fátima.

Não é de hoje que estudantes de vários cursos não conseguem concluir disciplinas, incluindo as obrigatórias, por falta de professores no quadro docente. Essa situação obriga os estudantes a atrasarem seus cursos, afetando também professores que ficam sobrecarregados ao pegar mais disciplinas para tentar amenizar o problema.

A falta de professores coloca em risco a permanência de estudantes em diferentes cursos e campi, como os cursos de Letras, História, Serviço Social, Matemática, dentre outros.

Ainda no segundo semestre de 2023, estudantes realizaram atos ocupando a Reitoria para denunciar a insegurança após a morte de uma criança autista de nove anos no campus Itaperi e a falta de professores que colocava em risco o funcionamento de vários cursos. Já em fevereiro deste ano, um incêndio destruiu parte do setor administrativo da universidade, além de mais uma morte no mesmo campus, desta vez, um funcionário foi assassinado.

Segundo o último censo de carência docente, de 2023, faltam 480 professores, sendo a maior escassez de professores que a universidade já teve em cinco décadas de história.

Para além da carência de professores, outra pauta fundamental enfrentada pelos estudantes é a falta de políticas para permanecerem na universidade. Em 2023, fruto da mobilização estudantil protagonizada pelo Movimento Correnteza, as bolsas disponibilizadas pelo Governo do Estado foram reajustadas de R$ 400,00 para R$ 700,00, porém ainda são poucas para abarcar o quantitativo de alunos que necessitam.

Falta de residência universitária para estudantes dos interiores que estudam na capital; campus que disponibilizam apenas sopa no jantar; outros sem restaurante para a alimentação dos alunos; falhas na infraestrutura dos prédios da capital e interiores; são problemas enfrentados pelos estudantes que lutam para não evadirem seus cursos frente a precarização da universidade.

Segundo a Constituição Estadual (art. 224), o Governo do Ceará deve aplicar 5% dos impostos arrecadados em investimentos no ensino superior público. Contudo, em 2023, foram arrecadados quase R$ 20 bilhões em impostos e, do valor constitucionalmente exigido, apenas pouco mais da metade foi, de fato, destinado às universidades.

É greve porque a situação é grave

Diante do estado crítico do quadro docente e da necessidade de mais permanência estudantil, o conjunto dos movimentos e entidades estudantis intensificaram a luta por melhorias na universidade, deflagrando uma greve na Assembleia Geral do dia 16 de abril, com uma quantidade expressiva de estudantes, somando-se à construção da greve docente nas três universidades estaduais.

Entre as pautas colocadas estão a autonomia universitária; concurso para professores efetivos; chamada do Cadastro Reserva de professores; ampliação do restaurante universitário; aumento do número de bolsas; construção da residência universitária; cotas para pessoas trans; melhorias na iluminação e na segurança; etc.

Mesmo com a tentativa, por parte do governador Elmano de Freitas (PT) e da Reitoria, de deslegitimar a greve, o movimento grevista estudantil e docente esteve constantemente articulado na construção de mobilizações para pressionar o governo. Este, por sua vez, tomou a atitude covarde de criminalizar a greve docente, justificando ser ilegal e impondo multas para os sindicatos e seus diretores.

No dia 21 de junho, a greve dos professores teve fim, num cenário em que os estudantes ficariam sem restaurante universitário, sem as duas passagens gratuitas devido ao “período de férias”, sem ônibus dos interiores para a capital e ainda tendo que manter a greve estudantil.

Apesar disso, o movimento estudantil ocupou o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Uece e conseguiu aprovar o calendário acadêmico proposto pelos estudantes, com três semanas de recesso, diminuindo os impactos para os estudantes.

No retorno às aulas, o movimento estudantil tomará as decisões sobre a continuidade das lutas, pois ainda há muito o que conquistar nessa batalha por uma educação digna e de qualidade na Uece. Só a luta e a mobilização estudantil são capazes de fazer frente à precarização e ao projeto capitalista de tornar a educação uma mercadoria.

Venezuela: movimento popular enfrenta sanções do imperialismo e crise

Enviado do jornal A Verdade à Venezuela apresenta iniciativas e posições dos movimentos populares da pátria de Hugo Chávez para lutar contra a ofensiva imperialista e construir o socialismo

Renato Campos | Caracas (Venezuela)


O processo da luta de classes é complexo, possuindo uma série de contradições, que influenciam na conjuntura de um país, de um continente e, por consequência do mundo. Na Venezuela, este processo possui características peculiares. O jornal A Verdade teve a oportunidade de vivenciar experiências dos movimentos populares da Venezuela por meio do contato com militantes da Unidade Popular Revolucionária e Anti-imperialista (Upra) e do Movimento Gayones, organização marxista-leninista que luta pela revolução socialista no país.

O professor Pedro Rosas, atual presidente da Upra, me recepcionou em Caracas, capital venezuelana. Enquanto íamos de uma atividade a outra, estabelecemos conversações sobre inúmeros temas. Nessa visita, participei de debates sobre a conjuntura latino-americana, a luta anti-imperialista, a importância da organização popular e, claro, sobre a situação política atual na Venezuela.

“O nosso problema é que não foi feita a revolução. Ocorreram vários avanços significativos, porém, a lógica da sociedade é capitalista. Não foi abolida a propriedade privada dos meios de produção e nem alterada a circulação das mercadorias, o que acarretou uma série de problemas concretos para a vida do povo”, afirma Pedro Rosas.

Na manhã do dia seguinte à minha chegada, pegamos o metrô de Caracas. Este transporte público voltou a funcionar apenas recentemente. Isto porque o imperialismo estadunidense suspendeu a sanção que proibia o comércio de petróleo com a Venezuela em razão da guerra Rússia-Ucrânia, ocasionando um breve suspiro econômico ao país.

Enquanto nos acomodávamos nas cadeiras, Pedro falava da conjuntura do país: “Sofremos um grande ataque por parte do imperialismo estadunidense. Em 2019, foram mais de 900 sanções. Há a proibição de o Estado venezuelano negociar qualquer produto com outro país. Assim, não podíamos comercializar o petróleo, base fundamental da nossa economia. Além disso, a pandemia do novo coronavírus fez um impacto tremendo em toda a sociedade. Muitas dificuldades de garantir as condições básicas à população. Da situação dos trabalhadores, mais de 50% da população é de servidores públicos. O salário mensal em nosso país é de apenas três dólares. O governo paga um abono de 100 dólares para cada funcionário. Quando há datas importantes, como o Dia Internacional da Mulher, entre outros, o governo paga mais três dólares a cada servidora pública. Assim, em média, ganhamos 103 a 106 dólares. Importante frisar que é um abono, pois não está vinculado ao salário. Assim, quando se aposenta, perde esses 100 dólares. Então há uma luta dos sindicatos para que o governo incorpore este valor aos salários. Isso não dá pra comprar nada, então temos de trabalhar em outra coisa. No serviço público ocorre esse processo. No setor privado não é muito distinto. Há empresas estrangeiras que negociam acima desse valor de salários, mas são pouquíssimas. A Ford, por exemplo, se manteve na Venezuela. Está na cidade de Valência, capital do Estado de Carabobo. No entanto, mantém apenas 45 trabalhadores e não há trabalho todos os dias. Assim, os operários fazem carretos, os que têm carro, fazem transporte, vendem alimentos nas ruas para complementar a renda. O governo subsidiou os serviços de água, luz e gás para toda a população, o que economiza bem os custos da manutenção de uma família”.

Durante a viagem, foi possível observar as enormes favelas de Caracas. A capital é cercada de montanhas e nelas estão as moradias de grande parte da população. Quando desembarcamos no Centro, Pedro falava sobre os efeitos da crise na educação: “Um dos efeitos mais graves ocorre na educação. O governo não consegue manter abertas as escolas primárias e nem as universidades. Por consequência, não temos mais restaurantes universitários, e o governo não consegue pagar o salário de antes aos professores. Assim, um professor universitário também ganha três dólares de salário e o abono de 100 dólares. Então os professores estabeleceram com o governo que não podem trabalhar todos os dias recebendo só isso de salário, pois precisam trabalhar em outra coisa para complementar a renda. Assim, as aulas ocorrem entre dois ou três dias na semana. As aulas são dadas e, durante a semana, estabelecemos conversas com os alunos por aplicativos de mensagens ou e-mail.  Então há um intenso debate sobre a qualidade do ensino. O Governo, por sua vez, pressionou para que houvesse o pleno funcionamento das universidades, o que não aconteceu. Há ainda o problema da imigração. Muitas pessoas da comunidade universitária saíram da Venezuela. Muita gente mesmo, em torno de oito milhões de pessoas. Foram para Colômbia, Peru, Argentina, Brasil, entre outros países”.

De fato, enquanto o companheiro falava, eu observava as calçadas e não se via muita gente entre 20 e 40 anos, a imensa maioria das pessoas aparentava ter acima dos 50 anos ou eram crianças e adolescentes.

Participei de reuniões com Comunas, em Caracas, com os trabalhadores da Ford, em Valência, camponeses na cidade de San Carlos e operários das fábricas ocupadas na cidade de Barquisimeto [1], capital do Estado de Lara. Entre o transporte de ônibus e de carro, pude escutar bastante sobre a experiência das Comunas. “As Comunas são uma experiência de organização popular impulsionada pelo governo de Hugo Chávez. É uma política que também ocorre na Colômbia, mas aqui tiveram mais respaldo por ter uma lei que garante seu funcionamento e o apoio governamental. Essa lei foi promulgada depois da tentativa de golpe reacionário contra o Governo Chávez, em 2003 [2]. Como resposta, o governo fortaleceu as Comunas, cedendo território e apoio político para as suas demandas. As Comunas nas grandes cidades organizam o bairro, reivindicam as demandas ao governo. No auge da pandemia, as Comunas distribuíam cestas básicas para as famílias mais carentes. Já na zona rural, as Comunas organizam a produção de alimentos e podem estabelecer comércio entre si. Um exemplo, dirigimos uma Comuna em San Carlos, Estado de Cojedes. Produzimos manga e podemos comercializar com outra Comuna que produza mandioca. Nossa luta é para que as Comunas tenham mais independência do governo, mostrar ao povo que nossa classe pode dirigir a produção efetivamente e, que quando isso ocorre, nosso povo come, bebe, trabalha e tem acesso a tudo”.

Como se aproximavam as eleições venezuelanas [4], era possível sentir o clima de disputa nas ruas. Conversando com as pessoas, era possível perceber o que está no imaginário geral da população: “Maduro não é Chávez. O governo dele não expressa a causa que defendia Chávez”, falava um vendedor ambulante enquanto comíamos arepa [3] e tomávamos café. “Não há o apoio devido às Comunas e nem às fábricas tomadas. Falta dinheiro para saúde e educação, há corrupção. Mas a direita não pode ganhar! Maduro é o que nós temos, infelizmente”. E Pedro ainda completou: “Há grande conciliação com setores da burguesia nacional, o que fica evidente na composição do governo. Enquanto isso, a direita não tem força. Maria Corina Machado não tem partido e representou os interesses do Panamá na Organização dos Estados Americanos, não se pode ser presidente de um país quando se defende os interesses de outro em espaços internacionais. O outro candidato da oposição, Edmundo González, mora em Miami, e nem possui passaporte venezuelano para voltar. Ao todo, são dez candidatos de oposição que brigam entre si. Vamos apoiar Maduro nestas eleições e fazer avançar a luta de classes. Temos que fortalecer as Comunas, fazer críticas ao governo com o objetivo de fortalecer os sindicatos, movimentos populares em suas reivindicações”.  Há um enorme espaço para atuação nos movimentos populares, apesar das privações provocadas pela crise.

Ao final da viagem, o companheiro Pedro Rosas me disse: “Mande uma saudação revolucionárias aos camaradas do Brasil. Por aqui, seguimos lutando!”.

Notas

  1. Leia as matérias “Trabalhadoras assumem controle de fábrica na Venezuela” (nº 293) e “Se eles não produzem direito, tomemos a produção” (nº 294).
  2. Para maiores informações, veja o documentário “A Revolução não Será Televisionada”, lançado em setembro de 2003.
  3. Arepa é um prato de massa de pão feito com milho moído ou com farinha de milho pré-cozido nas culinárias populares e tradicionais da Bolívia, Colômbia, Venezuela e Panamá.
  4. Que ocorreram no último dia 28 de julho.

Matéria publicada na edição n° 296 do jornal A Verdade

“Eles deram mais de 70 tiros numa casa cheia de crianças”

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Na operação em que matou o garoto João Pedro Matos, de 14 anos, a Polícia Militar do Rio de Janeiro deu mais de 70 tiros na casa de sua família. Mesmo assim, policiais não foram condenados pelo Poder Judiciário. Em entrevista ao jornal A Verdade, Rafaela Matos, mãe de João Pedro, conta sobre sua luta por justiça

 Igor Marques, Daniel Paiva e Redação RJ


No Centro de São Gonçalo (RJ), dezenas de pessoas vivendo nas ruas. Nas portas dos restaurantes, pessoas em situação de miséria pedem para que alguém possa lhes pagar um prato de comida. É neste cenário que encontramos nossa entrevistada: Rafaela Matos, professora de educação infantil, de 41 anos, e mais uma mãe que teve a vida de seu filho arrancada por um agente policial do Estado. João Pedro Matos foi assassinado, em maio de 2020, aos 14 anos de idade, dentro de sua própria casa, no Complexo do Salgueiro, uma das principais favelas de São Gonçalo.

Segundo o Instituto Fogo Cruzado, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro bateu recorde de crianças baleadas no ano passado, com 25 crianças atingidas, sendo 10 vítimas fatais. A maioria delas morreu em ações policiais violentas.

Os policiais deram mais de 70 tiros e um deles acertou João Pedro. Em 10 de julho de 2024, a juíza Juliana Bessa, da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, absolveu sumariamente os agentes Mauro José Gonçalves, Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister, acusados do crime. Rafaela dedicou um pouco do seu tempo para nos contar sua história.

A Verdade – Como têm sido esses quatro anos de luta por justiça pelo seu filho?

Rafaela Matos – A gente acaba tendo que não viver o luto para entrar na luta. Esses quatro anos têm sido de uma luta muito desumana, porque é uma justiça que demora e acaba se tornando uma injustiça. A gente fica tentando juntar os cacos do que sobrou, porque é arrancado de nós o que a gente tem de mais precioso e de uma forma muito brutal e muito cruel.

Eu lembro que em uma das primeiras entrevistas que o meu esposo deu, ele disse que o Estado não matou somente João Pedro, mas matou a nossa família. Então, todos os dias essa busca por justiça nos mata um pouco, porque essa luta é incansável, desumana.

É algo que não vai trazer o nosso filho de volta, mas traz um alento aos nossos corações. E agora, no mês de julho, a juíza teve todas as provas necessárias para remeter os réus ao júri popular e nós fomos surpreendidos pela Justiça do Estado do Rio de Janeiro, absolvendo os três policiais acusados na morte do João Pedro. Eles ainda foram absolvidos por legítima defesa, alegando que teve um confronto dentro da casa, sendo que todas as perícias provaram que não houve confronto.

Foi uma decisão absurda. A juíza negligenciou as provas do Ministério Público e o depoimento dos adolescentes que estavam dentro da casa, que viveram tudo. Ela só ficou com os depoimentos dos policiais, que tiveram quase quatro anos para combinar e decidir o que eles falariam, para que os depoimentos dos três batessem um com o outro.

Em todo o país, muitos policiais acusados de assassinatos de jovens nessas operações são absolvidos pelo Judiciário. Como vocês enxergam o funcionamento desse sistema?

É um sistema que só nos leva a pensar que existe uma combinação entre o Judiciário e as Polícias porque, nos últimos anos, eu só tenho assistido à Justiça absolver policiais envolvidos em mortes de jovens negros no Estado do Rio de Janeiro. No caso do João Pedro, não chegou nem ao júri popular, porque a juíza não deu nem esse direito a minha família, que era o que nós esperávamos.

Você hoje está no movimento das mães que lutam por justiça para aquelas crianças e adolescentes assassinados pela Polícia. Como é este movimento?

Existe um movimento de mães, que nos acolhem. São mães que são vítimas do Estado. Eu tenho feito parte de alguns. Eu não posso estar em todos os momentos, até mesmo porque eu tenho a limitação do meu trabalho. Mas, nas vezes que eu não estou, o meu esposo está e nós fazemos parte desse coletivo de mães. Estamos juntas nessa busca por justiça a cada dia uma tenta apoiar a outra e assim a gente corre em busca de que algo mude.

Quais são os próximos passos da luta por justiça por João Pedro?

Começa um novo período, que a gente sentia medo e não esperava que fosse acontecer dessa forma. E agora a luta continua. Vamos recomeçar porque agora cabe o recurso. Nós vamos recorrer ao Ministério Público e à Defensoria e é isso: a luta não para, a luta continua.

Se o João Pedro fosse um jovem que morasse na Zona Sul, com certeza o caso já estaria solucionado, os policiais já estariam presos ou já teriam sido julgados há muito tempo. É claro que a Rafaela, a mãe do João Pedro, não é uma diplomata, que acha absurdo um policial parar e apontar arma para um adolescente, para uma criança. [Ela faz referência ao caso dos filhos de diplomatas do Canadá, Gabão e Burkina Faso, que sofreram uma abordagem violenta da PM no início de julho, no Rio].

Parece que realmente foge a memória. Parece que a sociedade esquece que os policiais invadiram a casa do João Pedro. Uma casa onde só tinha crianças. E invadiram atirando, deram mais de 70 disparos dentro de uma casa onde só tinha criança. Então, é muito normal no Estado do Rio de Janeiro isso acontecer.

Como você observa o papel do racismo nessa estrutura em que grande parte dos mortos pelas Polícias são jovens negros?

Eu sempre morei na favela. João Pedro era uma criança criada dentro de casa, mas eu nunca falei com ele a respeito do racismo, nunca falei dessa questão da Polícia parar. Eu nunca tinha me apercebido da maneira que a Polícia entrava nas favelas e o que eles faziam.

Ouvia relatos, mas, quando vivemos isso na pele, a gente tem uma visão aberta para aquilo que você não imaginava que poderia acontecer com você, que a gente acha que sempre vai acontecer com os outros. Então, vi essa questão, porque vi a diferença de como a Polícia entra na Zona Sul, bate na porta, pergunta se pode entrar, enquanto na favela não é dessa forma. Eu vi esse racismo acontecer.

Mas essa luta por justiça não é em vão. Porque, quando aconteceu toda essa tragédia na minha família, eu tinha desconhecimento de muitas coisas e hoje eu tenho uma visão mais aberta para a questão do racismo, para a questão da Polícia que entra na favela e mata.

Lembro que em uma das minhas primeiras falas eu disse que eu não queria que nenhuma outra mãe sofresse o que eu estava sofrendo e eu não imaginava que tantas outras mães iriam sofrer após o caso do João.

Eu também não tinha conhecimento de tantas outras mães, que sofreram muito antes de mim e estão nessa luta por justiça. Então, o meu sentimento imediato era que nenhuma mãe e nenhuma família sofressem como a minha família tem sofrido.

Por isso, a gente continua nessa luta para que algo mude. Porque a minha luta é por justiça, por memória e por reparação. Enquanto estiver viva, eu serei a memória do João Pedro aqui e lutarei por justiça.

Matéria publicada na edição n° 296 do jornal A Verdade

Seis das dez cidades mais violentas do Brasil estão na Bahia

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Aumento da violência na Bahia inclui um salto na letalidade policial: em Jequié, Eunápolis, Simões Filho, Salvador e Luís Eduardo Magalhães mais da metade das mortes foram provocadas pela polícia. Dados apontam a necessidade de uma nova política nacional de segurança pública, com ampla participação popular, e do fim da atual orientação racista e fascista

Vitória Louise | Jacobina (BA)


O Brasil registrou 46.328 mortes violentas intencionais em 2023 – uma taxa de 22,8 por 100 mil habitantes. São homicídios, latrocínios, mortes após lesão corporal ou por violência policial. Os dados são do Anuário de Segurança Pública.

Seis das dez cidades mais violentas do Brasil estão na Bahia. Ao todo, 6.578 pessoas foram mortas no estado, uma taxa de letalidade de 46,5 para cada 100 mil habitantes. A polícia baiana também foi a que mais matou no país, vitimando 1.699 pessoas só em 2023. As cidades com maiores índices de violência são Camaçari, Jequié, Simões Filho, Feira de Santana, Juazeiro e Eunápolis.

Além disso, o anuário também apresenta dados sobre a letalidade policial. A cidade que lidera é Jequié, na qual a taxa de mortes decorrentes de intervenções policiais chega a 46,6. Além de Jequié, mais quatro cidades da Bahia também se encontram no topo deste quesito: Eunápolis, Simões Filho, Salvador, Luís Eduardo Magalhães, onde mais da metade das mortes são provocadas pelas polícias.

Fica evidente que a segurança pública no Estado da Bahia é, na verdade, uma estratégia de violência institucional contra o povo. Até porque, metade das mortes por violência são cometidas pelas polícias. É necessária a reorganização da Política Nacional de Segurança Pública, com uma ampla participação popular, assim como defende o programa da Unidade Popular (UP).

Os dados mostram também a urgência de desmilitarizar a Polícia Militar e combater a lógica fascista e racista, em que os principais alvos são pobres e negros da periferia, ou seja, os trabalhadores.

A violência é resultado também da ausência de políticas públicas para moradia, educação, saúde, lazer e trabalho. Lugares onde as pessoas conseguem acessar a qualidade de vida, o índice de violência é menor. Nas palavras do jurista Flávio Gomes: “Quanto mais igualdade, menos crimes violentos”.

Para além da reorganização da Política Nacional de Segurança Pública, também é necessário lutar por uma sociedade com outra lógica de produção que não vise ao lucro: uma sociedade organizada pela própria classe trabalhadora, uma sociedade socialista. Apenas nesse modelo de sociedade é possível planificar a economia, realizar as reformas urbana e agrária e garantir o acesso aos direitos básicos da população a fim de que todos possam ter acesso pleno à saúde, educação, trabalho, esportes e lazer e que a desigualdade social deixe de ser a realidade do povo brasileiro.

Matéria publicada na edição n° 296 do jornal A Verdade

Em 30 anos, Plano Real aumentou dependência do país ao capital financeiro

Comemorado pelos neoliberais ao completar 30 anos em 2024, Plano Real “enfrentou a inflação” ampliando nossa dependência e submissão ao capital financeiro. Só uma reorientação verdadeiramente popular da economia poderá enfrentar papel subalterno do Brasil no mundo

Heron Barroso | Redação


Durante a Ditadura Militar (1964-1985), a política econômica dos generais transformou o Brasil num dos países mais desiguais do mundo. A concentração de renda ampliou o abismo entre ricos e pobres, a miséria cresceu, enquanto os salários dos trabalhadores foram achatados e perderam 50% do seu poder de compra; as portas da economia brasileira foram abertas ao grande capital estrangeiro e o tão falado “milagre econômico” produziu 41 milhões de famintos.

Para impedir que o país entrasse em recessão, a ditadura contraiu dívidas no exterior e entregou o controle da economia para o famigerado Fundo Monetário Internacional (FMI). A dívida externa, que era de 3,1 bilhões de dólares, em 1964, passou para 95,8 bilhões, em 1985, um aumento de mais de 3.000%!

Os militares levaram o Brasil à falência. Anos após a redemocratização, o país ainda não tinha conseguido se recuperar e sofria com uma inflação que passava dos 1.700% ao ano. Era comum ver as pessoas correndo aos supermercados antes que os preços dos alimentos fossem reajustados, coisa que ocorria diariamente.

Para enfrentar essa situação, foram propostos vários planos econômicos, a exemplo dos planos Cruzado (1986), Bresser (1987), Verão (1989) e Collor (1990). Porém, como nenhum deles mexeu nos privilégios do capital financeiro, a situação só se agravava.

A partir dos anos 1990, com a consolidação da chamada “nova ordem mundial” e do neoliberalismo, o Brasil passa a ser plataforma para a acumulação do capital financeiro, através do endividamento público, das privatizações e da submissão à cartilha do FMI.

Dependência e subordinação

Foi nesse contexto que surgiu, em 1993-94, o Plano Real, que em julho completou 30 anos. Louvado por economistas e pelos grandes meios de comunicação da burguesia como marco da estabilização econômica do país e do fim da hiperinflação, o plano criado e implementado por Fernando Henrique Cardoso (FHC) trouxe, na verdade, sérias consequências para a soberania nacional e o desenvolvimento da economia brasileira.

O tripé macroeconômico – metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante –, base da política econômica imposta ao país, enfraqueceu a indústria nacional. Empresas públicas estratégicas foram vendidas ou tiveram seu capital aberto, a exemplo da Telebras, da Companhia Vale do Rio Doce, da Ligth, das ferrovias federais, da Petrobras e de dezenas de bancos estaduais. Vastos setores da economia passaram a ser controlados por grandes monopólios estrangeiros. A desindustrialização diminuiu o papel da indústria no PIB, transformou o Brasil em mero exportador de matérias-primas, as chamadas commodities, e totalmente dependente da importação de produtos industrializados de alta tecnologia.

A vinculação do valor da nova moeda ao dólar alimentou a especulação e fortaleceu o setor financeiro. Os impactos do Real na vida dos trabalhadores foram profundos. Segundo o IBGE, o desemprego aumentou mais de 50% entre 1994 e 1998. As condições de trabalho se precarizaram, direitos foram retirados e um forte arrocho salarial foi imposto.

Mesmo o controle da inflação, defendido como grande legado da nova moeda, foi alcançado à custa da desaceleração da atividade produtiva e de um escandaloso endividamento público. Como disse o mestre Celso Furtado, os economistas burgueses não sentiram nenhuma vergonha por trocar inflação por dívida externa e comprometimento do crescimento econômico do país.

De fato, ainda hoje, sob o argumento de controlar a inflação, o Banco Central aplica uma política monetária baseada na adoção de juros elevados e na redução do volume de moeda em circulação para conter o consumo da população. Acontece que os juros altos não controlam a inflação, ao contrário, apenas provocam o crescimento da dívida pública, impedem o financiamento de atividades produtivas e comprometem o orçamento nacional.

Isso porque, no Brasil, a inflação é resultado, principalmente, do excessivo encarecimento dos chamados “preços administrados” (energia, telefonia, combustível, transporte, tarifas bancárias, etc.), dos preços dos alimentos, hoje controlados pelos monopólios do agronegócio, e da dependência da estrutura produtiva brasileira ao capital internacional. Assim, as medidas adotadas pelo Banco Central (juros altos, etc.), na prática, são ineficientes para o controle desse tipo de inflação; funcionam apenas para concentrar renda e transferir mais recursos públicos para os credores da dívida.

Quem ganhou com o Real?

A verdade é que o Plano Real consolidou o papel subalterno do Brasil na economia mundial, transformando-o num paraíso para o grande capital e a especulação financeira, que hoje drenam nossas riquezas, controlam as contas públicas, ditam os rumos da economia, concentram a riqueza e mantêm o país entre os mais desiguais do planeta. São eles – os bancos e monopólios capitalistas – os grandes beneficiários desse estado de coisas.

O plano real deu tão certo quanto o “milagre” da ditadura. Ambos reorganizaram a economia brasileira para torná-la funcional à valorização do capital, mantendo a concentração de renda e o subdesenvolvimento.

Infelizmente, ao assumir o governo em 2003, o PT endossou a ideia de que essa política de dependência e subordinação é a única possível. O atual ministro da Fazenda Fernando Haddad, por exemplo, não mede esforços em agradar ao mercado, mesmo que isso signifique apertar o cinto da maioria da população.

Se tivéssemos no Brasil um governo verdadeiramente popular, o que se estaria discutindo agora seria um novo plano, com o povo no centro das atenções; um plano que discutisse como usar todas as riquezas produzidas pela brava gente brasileira para acabar de uma vez por todas com a dependência, a fome, o desemprego e as desigualdades sociais. Essa é uma tarefa que apenas a classe trabalhadora será capaz de cumprir.

Matéria publicada na edição n° 296 do jornal A Verdade

Governos do Paraná e de São Paulo vendem escolas e atacam a juventude

A precarização do ensino é utilizada para justificar a privatização das escolas, que favorecem empresários em detrimento da educação pública. Governos como os de São Paulo e Paraná avançam na política privatista, enfrentando resistência de estudantes, pais e professores.

João Gabriel e Cadu Machado | São Paulo (SP)


JUVENTUDE – Recentemente, o Brasil tem enfrentado ataques dos imperialistas aos direitos do povo. As reformas de Temer e Bolsonaro tiraram o direito à aposentadoria e permitiram mais terceirizações. Os milionários continuam querendo mais lucros, e os ataques não param. O alvo mais recente tem sido as estatais brasileiras. Desde o governo do ex-capitão fascista, empresas estratégicas como Eletrobrás, TAG, Sabesp e CBTU foram entregues. O novo alvo deles é a educação.

No último mês, o governador fascista de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), assinou um decreto que autoriza a privatização de 33 escolas estaduais. A canetada aconteceu dias depois de deputados da Assembleia Legislativa do Paraná aprovarem um projeto semelhante que entrega 200 escolas à administração de empresas que visam ao lucro. O projeto, de autoria do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), também prevê o pagamento de R$ 800 por aluno para a empresa que vencer a licitação.

Ambos os projetos foram rejeitados por estudantes, pais e professores. No Paraná, enquanto os deputados se esconderam e realizaram a votação de forma virtual, 20 mil professores e estudantes, em greve, protestaram em frente à Assembleia Legislativa do Paraná contra a aprovação do projeto. A reação do Estado foi reprimir os manifestantes com bombas, deixando dezenas de feridos e duas pessoas hospitalizadas.

Para Isabelle Vaz, diretora da Ubes, o interesse por trás das privatizações é desviar dinheiro público para o bolso de bilionários: “Os dois governadores representam os interesses dos ricos, dos grandes empresários e dos tubarões da educação. Esse projeto vai contra os interesses dos estudantes pobres. Enquanto falta merenda e professores e as escolas estão caindo aos pedaços, estão querendo dar nossa verba para bilionários.”

Precarização da educação

Segundo o Tribunal de Contas da União, 57% das salas de aula no Brasil são inadequadas para o ensino. No Paraná, 51% dos professores são temporários e, em São Paulo, apenas 43% são concursados, conforme o Inep. Os cortes orçamentários e o fechamento de salas de aula agravam ainda mais essa situação.

Segundo Thais Gasparini, professora da rede estadual de São Paulo, o desmonte das escolas faz parte do projeto privatista: “Eles precisam justificar a privatização e sempre fazem isso acusando a administração pública de ineficiência. Mas o que acontece na realidade é que é impossível manter as escolas com um orçamento cada vez menor e com mais de 10 anos sem concurso público para contratar professores. Isso faz todos os dias circularem nas redes digitais relatos denunciando falta de água, larva na comida e diversos problemas estruturais das escolas”.

A privatização das escolas está ligada diretamente ao interesse dos empresários em crescer seus lucros. No entanto, as escolas públicas são essenciais na formação da juventude, sendo importantes no processo de formação social, ensinando habilidades para a vida, ajudando na escolha e na formação profissional, além de ser a possibilidade de ingressar na universidade, e não podem ser vendidas. Se a educação for privatizada, os estudantes terão um ensino voltado para os interesses dos donos das escolas e para o lucro, em vez de atender às necessidades da sociedade. É crucial manter a educação pública e focada no desenvolvimento social, garantindo o direito da juventude de se formar.

Juventude contra as privatizações

A juventude tem se organizado para enfrentar a privatização da educação, além da precarização, pela revogação do Novo Ensino Médio e contra a militarização das escolas, todos projetos dos ricos para impedir que a juventude tenha acesso à educação. Por todo o país, estudantes têm ido às ruas, organizado atos e manifestações contra esse projeto de desmonte do ensino público.

Para Pedro Alisk, estudante do Paraná e militante do Movimento Rebele-se: “A educação está sob ataque e a melhor resposta que podemos dar é avançar a organização de luta da juventude. Além de privatizar, querem entregar escolas para a mesma polícia que reprime nossas manifestações e é urgente um período de rebelião da juventude das escolas, assim como foram as ocupações em 2015, em São Paulo. Ocupar escolas no Brasil inteiro será a resposta dos estudantes contra os ataques ao nosso futuro”.

Matéria publicada na edição nº 296 do Jornal A Verdade

Trabalhadores de tecnologia da informação se organizam para colocar seu sindicato na luta

Os núcleos do Movimento Luta de Classes (MLC) dos trabalhadores de tecnologia da informação do Estado de São Paulo decidiram disputar as eleições sindicais deste ano, denunciando a atual gestão do SindPD-SP como antidemocrática.

Movimento Luta de Classes (MLC) | São Paulo


TRABALHADOR UNIDO – Durante uma assembleia ocorrida em maio de 2023, nas vésperas do 2º Congresso Nacional do Movimento Luta de Classes (MLC), foram fundados os primeiros núcleos do MLC entre os trabalhadores de tecnologia da informação no Estado de São Paulo. Após amplo debate, ficou claro que somente com muita organização, orientados por um sindicalismo classista e revolucionário, esses profissionais seriam capazes de responder às políticas burguesas de retirada de direitos, como a Reforma Trabalhista, que só facilitou as demissões em massa e a contratação desenfreadas em modelo PJ (pessoa jurídica, portanto, sem direitos trabalhistas).

Durante todo o ano de 2023, os núcleos fizeram um intenso trabalho, com reuniões quinzenais, organizando brigadas do jornal A Verdade e panfletagens nas portas das empresas, dialogando com a categoria em plenárias, assembleias, cursos dentre outras atividades, que permitiram ampliar o acúmulo sobre a realidade da categoria.

Assim como em diversas outras categorias, o sindicato (Sindicato de Processamento de Dados do Estado de São Paulo, SindPD-SP) está tomado por uma direção pelega e conciliadora. Seu presidente, Antonio Neto (filiado ao PDT e também presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros, CSB), faz mais questão de promover cursos online e divulgar a sua colônia de férias do que responder aos trabalhadores, convocar assembleias, promover greves, ir até os locais de trabalho. Em resumo, uma direção completamente afastada e com nenhum reconhecimento entre a categoria.

Não à toa, o número de sindicalizados vem caindo ano após ano, reflexo de uma política afastada da base, dentro de uma estrutura que investe grandemente em ações na Justiça, esperando que as suas súplicas sejam atendidas, ou que rebaixam sua política para evitar a luta de classes e promover a conciliação com os patrões.

Frente a esse cenário no SindPD, chegamos à conclusão de que era necessário disputar as eleições sindicais neste ano de 2024 e colocar o sindicato nas mãos da categoria, no rumo da luta.

Oposição sindical

Uma vez que nossos camaradas entenderam a importância dessa tarefa, fizemos um verdadeiro trabalho diário, sistemático e contínuo por todo o Estado de São Paulo. Desde maio deste ano, quando decidimos iniciar o processo da construção da nossa chapa de oposição, passamos em inúmeras empresas de tecnologia, principalmente nas empresas públicas de processamento de dados (Prodam, Prodesp, Serpro, Prodesan, Dataprev, IMA), conversando olho no olho com cada trabalhador e trabalhadora, que nos relataram as diversas mazelas sofridas diariamente

Na Prodesp, por exemplo, existem trabalhadores que estão há mais de seis anos sem férias por conta de frequentes mudanças nos contratos com prestadoras de serviço, que fazem com que nunca se complete o período mínimo de um ano para as férias. Ao buscarem o sindicato, nada foi feito para organizar os trabalhadores e escutar as suas demandas, tanto que a situação continua até hoje.

Diariamente, apresentamos para a categoria a perspectiva de que é possível construir uma oposição a essa direção, de que é possível que o trabalhador de tecnologia, reconhecendo a sua condição de explorado, busque se organizar. Isso se refletiu no número de trabalhadores que decidiram se organizar no Movimento Luta de Classes, sendo necessária uma nova organização dos núcleos.

Já sabíamos que não seria fácil a tarefa de inscrever a nossa chapa. Tínhamos clareza de que este sindicato é estruturado sobre uma política que, além de pelega, também é antidemocrática. A começar pelo estatuto que, dentre inúmeros absurdos, estabelece uma comissão eleitoral formada apenas pela atual gestão e por sua presidência. Mesmo com o sindicato escondendo o edital de convocação nas notas de rodapé da Folha de São Paulo, sem nenhuma postagem sequer em seu site ou redes digitais, conseguimos quase 50 documentos de companheiros e companheiras que se dispuseram a enfrentar essa política do sindicato.

Ao chegarmos à porta do sindicato, seus representantes sequer recolheram nossos documentos, alegando que havia informações faltantes. Nossa chapa de oposição sequer foi impugnada para que os documentos fossem regularizados. Os documentos foram simplesmente rejeitados.

Decidimos, então, produzir cinco mil jornais da oposição e fazer uma ampla denúncia sobre esse processo antidemocrático em cada empresa, mostrando para cada trabalhador quem é a gestão do sindicato. Além disso, ingressamos com pedido judicial pela anulação da eleição, resultando numa audiência marcada para outubro.

No dia da votação (26 de julho), realizamos um ato em frente ao sindicato contra a fraude eleitoral e pela democracia nas eleições, demonstrando que os trabalhadores não querem “tumultuar as eleições”, como afirma o sindicato, mas sim exigir um processo eleitoral democrático, que permita a participação da categoria e que possibilite de uma vez por todas o expurgo dessa direção pelega para transformar o sindicato em uma verdadeira trincheira de luta da classe trabalhadora.

Em uma sociedade onde a tecnologia está cada vez mais submetida aos interesses dos monopólios capitalistas, é urgente que os trabalhadores de tecnologia se organizem e que sejam representados por um sindicato capaz de obter conquistas econômicas, mas que possa ser também uma ferramenta da classe trabalhadora para a construção do socialismo.

O desenvolvimento tecnológico não pode ser guiado pelos interesses de um punhado de bilionários, que nos exploram diariamente para produzir as tecnologias e que nos matam e nos adoecem. É necessária uma sociedade onde a produção tecnológica esteja nas mãos dos trabalhadores para, assim, criarmos tecnologias capazes de considerar o bem-estar coletivo como prioridade, ao invés da máxima produção que apenas cria novas e novas crises.

A classe operária tudo produz, a ela tudo pertence! Viva a oposição sindical do MLC!

Matéria publicada na edição nº 296 do Jornal A Verdade