UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

terça-feira, 9 de setembro de 2025
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UP tem 3 vezes mais candidatos pretos que a média dos outros partidos

Nas eleições de 2024, cerca de 33% dos candidatos que defenderão o programa socialista e antifascista da UP são pretos. Entre os partidos da burguesia, que apoiam o sistema que exclui e oprime os negros, a média é de apenas 11%

Guilherme Arruda | Redação SP


Nas eleições de 2024, a Unidade Popular (UP) será um dos partidos com maior proporção de pretos disputando um cargo. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 32,73% dos candidatos da UP se autodeclaram pretos, uma porcentagem 3 vezes maior do que a média dos demais partidos que estão participando da disputa: apenas 11% dos candidatos a prefeito e vereador nas eleições deste ano são pretos.

O cenário reflete as consequências de séculos de opressão e exploração, da escravidão no passado à exclusão e marginalização social na atualidade, que ainda se põem como barreiras à participação política da população negra.

No 13º ponto de seu programa político, a Unidade Popular defende o “fim do racismo e da discriminação dos negros”. Com a ampla presença dos pretos – especialmente jovens e mulheres – em suas chapas por todo o país na eleição de 2024, o partido demonstra mais uma vez o seu compromisso com a libertação negra e popular no Brasil. O jornal A Verdade conversou com algumas das candidatas da UP para apresentar suas lutas contra o fascismo e em defesa dos direitos da classe trabalhadora e do socialismo.

Candidaturas de luta

Na capital mais negra do país, Salvador (BA), a UP se destacou por lançar uma chapa 100% composta por negros para prefeitura, vice-prefeitura e vereança, com o objetivo de agitar seu programa socialista e antifascista na eleição municipal. Compõem a chapa Willian Santos do MLB, candidato a vereador, Giovana Ferreira, candidata à vice-prefeitura, e Eslane Paixão, candidata a prefeita.

“No caso de Salvador, que é a cidade mais negra fora da África, ter uma candidatura de uma mulher preta, pobre e periférica comprometida com um programa revolucionário só reafirma o nosso compromisso com a luta daqueles que são mais explorados pelo sistema capitalista, ainda mais nesse contexto em que os candidatos da UP não vão ter os bilhões que os candidatos da burguesia vão ter à sua disposição nessa eleição“, disse Eslane, de 31 anos. Além de candidata, a baiana é militante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e ajudou a organizar na cidade a Ocupação Luiza Mahin, nomeada a partir de uma grande liderança da luta contra a escravidão naquele estado no século XIX.

Em Caruaru (PE), no Agreste pernambucano, a estudante Maria Santos, de 23 anos, é o nome da UP para a batalha eleitoral contra as oligarquias. “Aqui no município, só tem uma candidatura de mulher negra à prefeitura: a da Unidade Popular. O nosso objetivo com essa candidatura é organizar o povo, impulsionar a sua luta e mostrar uma alternativa concreta de mudança da realidade, que é o socialismo”, aponta a estudante.

Já na capital pernambucana, Recife, a candidata será a enfermeira Ludmila Outtes, de 36 anos. A liderança da UP também é a atual presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Pernambuco (SEEPE), posição da qual liderou mobilizações que resultaram em importantes conquistas para a classe, como o Piso Salarial e a sala de descanso exclusiva para a enfermagem nas instituições de saúde. Na própria categoria de que Ludmila faz parte, 80% das trabalhadoras são mulheres, das quais 65% são negras, como ela.

Agitar o socialismo nas eleições

Também na disputa pelo Poder Legislativo, a UP construiu chapas com importante participação dos pretos e das pretas entre os candidatos, particularmente os jovens, devido a seu papel central na mobilização cotidiana contra o fascismo e pelo socialismo no Brasil.

Um dos mais importantes exemplos vem do Sul do país: Amanda Wenceslau, de 22 anos, concorrerá à vereança em Florianópolis (SC) para defender os direitos da juventude negra catarinense. “Em um estado como Santa Catarina, que registra 6 injúrias raciais por dia, ter uma candidatura de uma jovem preta na capital é um desafio, mas mostra qual é o lugar que a gente tem na UP e na luta pelo socialismo”, explica a estudante de Saneamento no IFSC e diretora da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (FENET).

Na cidade operária de Mauá (SP), a UP lançou a candidatura de Selma Almeida, que é liderança da Ocupação Manoel Aleixo do MLB e coordenadora nacional da Central de Movimentos Populares (CMP). Ao jornal A Verdade, ela disse: “Nós que somos candidatos da UP sofremos o que todo mundo sofre. Ando de ônibus, uso o SUS e estou há seis meses esperando um especialista. A Unidade Popular é esse partido de lutas que quer chamar o povo às ruas para reivindicar os seus direitos e construir o socialismo. Eu me sinto muito honrada de carregar essa bandeira”.

Por isso, as candidatas entrevistadas ressaltam que a Unidade Popular quer utilizar o espaço das eleições para convocar os milhões de brasileiros explorados a lutar por grandes transformações econômicas e sociais no país. “A UP é um partido que vai organizar não só o povo negro, mas as mulheres, a classe trabalhadora, os pobres, todos os que estão sofrendo com a desigualdade no capitalismo”, defende a pernambucana Maria Santos.

Vereadores de Florianópolis aumentam seus salários em 48%

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A proposta de aumento do salário dos vereadores de Florianópolis foi aprovada em dezembro de 2023 e entrará em vigor a partir de janeiro de 2025. Enquanto isso, a maioria do povo enfrenta o custo de vida mais caro que 66% das cidades da América Latina.

Gabriel GB | Florianópolis (SC)


BRASIL – A Câmara Municipal de Florianópolis aprovou, para 2025, o aumento de salário dos vereadores em 48%. O salário que atualmente é de R$17.539,20 irá, já em 1 de janeiro, para R$24.794,79, e a partir de fevereiro para R$26.080,98. A aprovação deste projeto reafirma que a maioria esmagadora dos que hoje compõem as cadeiras do legislativo não são representantes do povo, mas das elites e de seus interesses econômicos e políticos.

Para efeito de comparação, um só vereador de Florianópolis irá receber o equivalente ao salário de 6 professores da rede de ensino básico. Levando em consideração que o município conta com 23 vereadores, serão gastos por ano mais de R$7 milhões. 

Este dinheiro que poderia estar sendo investido em políticas públicas para que os trabalhadores tenham uma melhor qualidade de vida, irá para o grande empresariado de Florianópolis, em cargos de vereadores, se conservando no poder.

Plano da prefeitura é excluir a população pobre

A proposta de aumento dos salários foi apresentada pela mesa diretora da Câmara, presidida por João Cobalchini (MDB), aliado do atual prefeito, o milionário e empresário, candidato à reeleição Topázio Neto (PSD).

Tratam-se de políticos ricos, representantes da direita, que fazem da Prefeitura seu balcão de negócios, enquanto fecham postos de saúde, empurram a população pobre para os morros sem acesso ao saneamento básico e com esgoto a céu aberto.

Na contramão dos altos salários recebidos pelos vereadores estão as difíceis condições de vida e a carestia. A média salarial no estado de Santa Catarina é de R$1.600,00, ao passo que o custo de vida na cidade de Florianópolis gira em torno de R$6.417,00. Gastos que vão principalmente para o aluguel, fazendo da capital a terceira mais cara do país para se viver. Nesse cálculo, o que um único vereador recebe em 1 mês, um trabalhador, com sorte, recebe em 1 ano e 4 meses de trabalho. 

Como se não bastasse, a Câmara dos Vereadores aprovou em março, por proposta do executivo, um projeto de lei (PL 19.044/2024) que permite a internação forçada de pessoas que vivem em situação de rua. O tamanho absurdo e desumanização desta proposta indignou a população e fez com que o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) notificasse a Prefeitura por irregularidades.

Representantes do povo para enfrentar os ricos

Enquanto a classe dominante elege seus representantes financiando suas campanhas milionárias para que, após eleitos, continuem promovendo ataques e mais exclusão à classe trabalhadora, a Unidade Popular pelo Socialismo (UP) acredita que são justamente os trabalhadores que devem decidir os rumos da política e para onde vão os recursos de Florianópolis. 

Foi com esse objetivo que a UP oficializou as candidaturas de Amanda Wenceslau, jovem, estudante do IFSC e Professor Pedro, profissional de educação do estado, para candidatura ao cargo de vereadores. Em uma campanha antifascista, que conta com um programa popular e e pelo socialismo, em contraponto a atual política da burguesia.

De fato, o povo de Florianópolis não quer mais saber de candidatos e vereadores ricos, que utilizam do poder para interesses próprios, mas sim de representantes legítimos da classe que constrói toda a riqueza. Para que, desta forma, o povo ocupe os cargos de decisão e de poder, construindo a verdadeira democracia popular.

Milei reprime manifestação dos aposentados na Argentina

A polícia de Buenos Aires reprimiu violentamente uma manifestação de aposentados. O protesto foi organizado contra o veto do presidente fascista Javier Milei a um projeto de lei que aumenta a aposentadoria na Argentina.

Wildally Souza | São Paulo – SP


BRASIL – Nesta quarta-feira (28), a polícia de Buenos Aires, a mando do presidente fascista Javier Milei e da Ministra da Segurança Patricia Bullrich reprimiu violentamente uma manifestação de aposentados. O ato se manifestava contra o veto anunciado pelo presidente, a um projeto de lei que altera e aumenta a aposentadoria no país. 

Junto aos aposentados, vários movimentos sociais e partidos políticos se organizaram em frente o Congresso Nacional para iniciar um ato de caminhada pela Plaza de Mayo, onde está localizada a Casa Rosada (sede do Executivo). Os manifestantes foram surpreendidos pela polícia, que com muita truculência usou spray de pimenta, cassetetes, armas de choques e os próprios punhos, para atacar o povo. 

O que é o projeto de lei vetado por Milei?

Aprovada na semana passada por uma ampla maioria no Senado (61×8), a nova Reforma da Previdência projeta uma mudança na formulação das pensões de forma móvel e a variação média dos salários formais, um ajuste de 8,1%, correspondente à diferença entre a inflação de janeiro e o ajuste de 12,5% concedido por decreto governamental, e um aumento de $17.000 pesos argentinos para o salário mínimo vital.

Apesar de não contemplar efetivamente os interesses dos trabalhadores e operários aposentados, que reivindicam uma aposentaria que os tirem da pobreza e que não seja um bônus salarial, além de uma moratória estendida e a suspensão da dívida pública, os aposentados viram nessa reforma um alívio perante as atrocidades que os acometem desde o início do mandato do atual presidente. 

Segundo Javier Milei, “o projeto aprovado pelo Congresso tem como único objetivo destruir o programa econômico do governo”. Como sabemos, o programa econômico de Milei é a manutenção do capitalismo. Desde o início do seu mandato, o povo pobre tem enfrentado a carestia, a fome e o desemprego no país. 

Aumento da pobreza

As políticas econômicas e os cortes estatais feitos pelo fascista Milei, estão aumentando as taxas de pobreza e o número de argentinos que não conseguem pagar o aluguel e se encontram em situação de rua tem crescido drasticamente desde 2023. 

De acordo com uma pesquisa do Observatório da Universidade Católica da Argentina, a taxa de pobreza subiu de 44,7% no final de 2023 para 55,5% em junho deste ano no país. Os dados também apontam para um aumento de 17,5%, de pessoas em estado de extrema pobreza e que não têm acesso a pelo menos 3 refeições no dia. Isso significa o dobro em comparação com a última pesquisa realizada no país, e representa mais de 8 milhões de argentinos nessas condições. 

No início deste semestre, a Prefeitura de Buenos Aires divulgou um relatório, apresentando que o número de pessoas em situação de rua na capital argentina aumentou 14% entre abril de 2023 e abril de 2024. Ou seja, mais de 4 mil pessoas sem casa espalhadas pelos metrôs, praças, e na frente das lojas da maior cidade do país.

O levantamento ainda aponta que pessoas em situação de rua na capital cresceu 56% nos últimos três anos. Em 2021 foram registradas 2.573 pessoas usando as ruas como lar temporário; em 2022, 2.611; em 2023, um salto absurdo para 3.511; e, neste ano, 4.009 pessoas.

Apesar da seguridade que apresentou a prefeitura sobre esses dados, diversas organizações sociais contestam os dados e garantem que o número é muito maior e passa de 8 mil. Dados divulgados pelo jornal Clarín no início do ano apontam para 1.200 pessoas vivendo somente no metrô de Buenos Aires.

Os aposentados, por sua vez, foram impactados drasticamente pelo governo de Milei. Dados do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (CELAG) revelam que entre novembro de 2023 e agosto de 2024, cada aposentado que recebe o salário mínimo no país argentino acumulou uma perda de 704.000 pesos argentinos, equivalente a 2,4 aposentadorias mínimas. Isso significa que, nos últimos nove meses, os aposentados receberam o equivalente a apenas seis meses e meio de pensão. 

As medidas de Milei, eleito com apoio e financiamento do imperialismo norte-americano, tem empurrado a população argentina cada vez mais para a extrema pobreza. Em paralelo a isso, a burguesia do país tem se beneficiado com os projetos de privatizações do atual presidente. 

A Argentina está sendo um laboratório do fascismo na América Latina, com Javier Milei enquanto principal representante, a partir da repressão aos movimentos sociais. 

A classe trabalhadora e operária argentina já reconhece que o inferno do imperialismo norte-americano está aberto, e sua luta tem colocado que só a mobilização popular e a vitória da sociedade socialista contra a infâmia capitalista tem condições de derrotar a fome, o desemprego e a falta de moradia.

Diário do interior: a juventude e o trabalho na agricultura familiar

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A agricultura familiar é a base da economia no interior do Brasil. Em Paranatama, município do agreste pernambucano, isso também é uma realidade. O jornal A Verdade entrevista Francisco Abilio, sindicalista e trabalhador da agricultura familiar.

Raul Carvalho Herculano | Paranatama – PE


BRASIL – No interior do Brasil a base da economia é a agricultura familiar, responsável por produzir alimentos, movimentar a economia e o comércio em 90% dos municípios com até 20 mil habitantes, sendo a ocupação de 70% dos brasileiros no campo, segundo dados de 2018 do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Esta realidade não é diferente em Paranatama, município do agreste pernambucano, que conta com uma população de 13.824 habitantes. Para compreender melhor a importância da agricultura familiar e a sua relação com a juventude do campo, o jornal A Verdade entrevistou Francisco Abilio, agricultor desde os 7 anos, tendo trabalhado há mais de 50 anos na agricultura familiar, além de ser sindicalista atuando no Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar de Paranatama – SINTRAF.

Abilio coloca que a maioria das propriedades da região nordeste do Brasil são pequenas, de pequenos agricultores. Estes são responsáveis pela maioria da produção, apesar de terem poucas terras em comparação aos poucos grandes agricultores. “Todos os produtos que chegam nas feiras livres das grandes cidades vem da agricultura familiar”, destaca Abilio.

A Verdade – O que é produzido aqui em Paranatama pela agricultura familiar?

Abilio – Aqui é plantado milho, feijão, mandioca, feijão-de-corda, fava… As frutas que plantamos: tem um pouco de laranja, melancia. Aqui a força maior está produzindo milho feijão e mandioca, outra parte que também é grande aqui é o criador de bovinos, caprinos e suínos, para completar a subsistência do homem do campo.

Para onde vai essa produção?

São vendidos nas feiras no Posto Alto da Serra, Capoeiras, Garanhuns, Saloá e aqui mesmo em Paranatama também. Parte da produção vende aqui e também tem o programa do PAA, que as prefeituras compram o produto da agricultura familiar para manter as escolas, creches, hospitais. 

Quais são os principais problemas que a agricultura familiar enfrenta? 

Um problema que a agricultura familiar enfrenta no dia a dia é a pouca terra na mão de muitos agricultores, terra com pouca adubação, pouca condição de adubar as terras. Outro problema sério aqui é o agricultor familiar que não tem condição de comprar adubo para adubar as terras para dar uma boa produção. Falta apoio financeiro e incentivo para a produzir mais. 

Hoje em dia, o agricultor familiar trabalha na sua própria terra ou ele trabalha de rendeiro em algumas outras terras?

Não, a maioria trabalha nas suas próprias terras, a maioria. Outros trabalham nas terras de outras pessoas, pagam uma renda, mas são poucos. A maioria aqui são filhos de agricultores familiares e são agricultores familiares. Aquelas pessoas que estão estudando, se formando, crescendo, que não querem ficar na agricultura vão logo para outra região, para outro estado do Brasil, vão cumprir seus estudos que aprenderam lá, fora da agricultura familiar. É por isso que existe uma queda grande na agricultura familiar, a maioria dos filhos de agricultores não está para viver na agricultura, aí vão embora para as grandes cidades.

Os jovens se interessam em continuar trabalhando no campo? 

Uns se interessam, outros não. Após se formar, adquirir conhecimento, eles vão para as grandes cidades do Brasil, procurando empregos melhores, para ter mais renda. Outros se formam, aí vão para as grandes fazendas, onde existe a plantação de cana-de-açúcar, onde existe o desenvolvimento da agricultura através dos grandes fazendeiros. Os jovens vão trabalhar pra eles em busca de uma renda melhor.

Como que você acha que vai ser o futuro da agricultura familiar aqui no Brasil? Ela vai continuar crescendo, ou pode perder espaço para o agronegócio ou a agricultura extensiva?

Não. Veja a situação: o agronegócio está tomando controle de várias coisas na região. E aqui o problema que tem é que nem todos têm a terra para produzir. Estuda, se forma, se prepara, mas nem todos têm a terra para trabalhar. 

O que você acha que pode ser feito para melhorar a situação geral da agricultura familiar aqui nos municípios, para que a juventude se engaje mais no trabalho e também traga o conhecimento da faculdade para que ele seja aplicado na região? 

O que pode fazer, deve ser feito, é as pessoas com conhecimento, trazer e fazer o intercâmbio, repasse de conhecimento para os outros, para sobreviver na agricultura familiar, sem precisar de se ir para fora. Porque muitas pessoas chegam, estudam, se preparam, então após ter iniciado a aprendizagem ele vai arrumar um meio de sobreviver se submetendo aos empresários. Nas nossas terras devemos plantar alimentos, ver os trabalhadores equipados com enxadas. Agora, trabalhando em terras miúdas e inférteis, quando tem a terra pra plantar, fica difícil. Nós já somos responsáveis por alimentar toda a nação, imaginem o que seriam capazes os nossos camponeses se tivessem acesso a terras boas, assistência técnica?

Agronegócio sufoca os trabalhadores

A situação que Abílio fala vai além da agricultura familiar, afeta todos os trabalhadores do campo. Segundo dados do PNAD divulgados em 2009, considerava que em todo o Brasil havia um contingente de 15,7 milhões de pessoas trabalhando na agricultura, passou para 8 milhões em 2019, o equivalente a 11% da população da época. Destes, 59% não têm carteira assinada e trabalham na informalidade.

Há ainda milhões de desempregados no campo espalhados por toda a nação que só conseguem trabalho na época das colheitas quando há maior demanda por trabalhadores nas grandes fazendas, sendo obrigados a viverem uma vida de perrengue no período de entressafras.

Curiosamente, esse cenário ocorre enquanto o agronegócio bate recorde de lucros. Ao automatizar o trabalho com máquinas modernas, dispensa de grande parte da mão de obra. Assim, ao concentrar a terras em poucas mãos, obriga o povo do campo – principalmente a sua parcela mais jovem – a se submeter a um salário de fome ou tentarem a sorte nas capitais por não terem de onde tirar o próprio sustento em sua terra natal.

A Guerrilha do Araguaia e a luta por memória, verdade e justiça

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Há exatos 52 anos, na região do Rio Araguaia, localizado hoje na fronteira entre Pará – Tocantins, iniciou-se a Guerrilha do Araguaia. Com o avanço das lutas populares contra a extrema-direita dentro dos movimento populares, é preciso ressaltar que quase seis décadas atrás foi proibido falar sobre a exploração e a miséria que o povo sofre. 

Josue Nascimento | Parnamirim (RN)


HISTÓRIA – Com o avanço das lutas populares contra a extrema-direita no movimento estudantil, nos sindicatos e no período eleitoral, com candidaturas que pautam os direitos do povo e o socialismo, é preciso ressaltar que 60 anos atrás foi proibido falar sobre reajuste salarial, melhores condições de trabalho, melhores estruturas escolares e universitárias, etc. 

Trazendo esse panorama, a luta por memória é extremamente importante, pois o que vemos hoje das impunidades para os ricos desse país e a penalidade para os trabalhadores é o retrato da não justiça de transição, que deveria julgar os crimes feitos durante o período da ditadura no nosso país. O que vemos a Polícia Militar fazer nas favelas e comunidades, é o mesmo que faziam contra quem lutava por melhores condições de vida para o povo. Um desses episódios de luta contra a repressão aconteceu numa região desse país que ainda vive a precarização do Estado brasileiro até hoje, sendo emblemática pela Guerrilha do Araguaia contra a ditadura.

Sobre a Guerrilha do Araguaia

Há exatos 52 anos, na região do Rio Araguaia, localizado hoje na fronteira entre Pará – Tocantins, iniciou-se a Guerrilha do Araguaia. Com o acirramento da luta de classes e a repressão da ditadura, aniquilando qualquer tipo de intervenção institucional, greve e guerrilhas urbanas, houve a discussão sobre a possibilidade da luta armada no campo contra a ditadura. Dada as condições materiais analisadas pelo antigo PCdoB, acreditava-se que era possível adotar a tática de guerra popular prolongada, uma tática usada pela Revolução Chinesa de 1949 e a Revolução Cubana de 1959. Com recrutamento de 69 pessoas, dividida em 3 destacamentos (A, B e C), os primeiros combatentes chegaram à região ainda em 1966, para analisar a área proposta pelo partido e preparar as condições para receber os guerrilheiros, que aos poucos iam chegando. Assim, a contagem do início da guerrilha foi de fato em 12 de abril de 1972 com o primeiro confronto. Cerca de 35 militares atacaram o destacamento A. Dois dias depois, o destacamento C. 

À época, o governo Médici juntamente ao Ministro da Fazenda Delfim Netto, acentuava suas políticas neoliberais fantasiadas de avanço econômico, como o projeto de interiorização do país com a construção da Transamazônica. Mas essas políticas somente enchiam os bolsos da burguesia e do capital estrangeiro, em especial os Estados Unidos.

Para a grande burguesia, aquela região Norte/Centro Oeste do país era basicamente um grande pote de ouro esperando ser roubado. Assim houve um avanço na mineração e na consequente exploração dos camponeses que ali nasceram, viveram e que, após o golpe de 64, foram torturados e mortos pela ditadura fascista. Com a preparação da Guerrilha, era orientado os guerrilheiros prestarem serviços à população para se aproximar, fazer trabalho voluntário para ter apoio para luta e recrutar os trabalhadores para a luta armada. No livro escrito por um dos guerrilheiros sobreviventes, Glênio Sá, potiguar assassinado num suposto acidente de carro após a redemocratização em 1990, Araguaia, relato de um guerrilheiro” está debruçada como era a convivência e os treinamentos militares. 

“O trabalho para levantar a nova casa era empolgante. Tínhamos que preparar forquilhas, cumieira, caibros e cortar as melhores folhas de babaçu. Com elas, preparávamos a cobertura da casa que não dava vazamento, mesmo nos invernos mais rigorosos. O nosso treinamento militar se intensificava cada vez mais, mas feito às escondidas dos moradores da região. Nas nossas aulas teóricas aprendíamos tudo sobre guerra regular e irregular, a relação entre os dois tipos de guerrilhas, algumas experiências internacionais e nacionais, as contradições da tática antiguerrilha, a moral dos combatentes.”

A propagação da luta armada

Uma das táticas usadas pelos guerrilheiros para sistematizar a propaganda contra a ditadura era fazer panfletagens nos pequenos centros. Essa panfletagem consistia em falar sobre as barbaridades que os ricos cometiam. No panfleto continha as razões pela qual existia a pobreza, miséria e sofrimento, enquanto existiam pessoas podres de ricas, além de citar a iniciação da luta armada. A ULPD (União pela Liberdade e pelos Direitos do Povo), criada pela Comissão Militar da guerrilha, colocava em 27 pontos sobre os quais eram os objetivos da luta armada contra a ditadura naquele local.

Em contrapartida, o local de atuação da guerrilha dificultava a comunicação com a direção do partido em outras regiões. Por diversas vezes o contato foi cortado pela repressão do exército e/ou dificuldades geográficas, beneficiando a ofensiva contra a guerrilha. Durante o período de trégua existente entre a segunda e terceira campanha do exército para acabar com a luta, o contato dos guerrilheiros com os trabalhadores foi exitoso, fazendo com que esse período fosse o de maior número de recrutamentos. 

A massa fornecia comida e mesmo redes, calçados, roupas etc. E informação. Contávamos com o apoio de mais de 90% da população. A fraca presença do inimigo na área e a nossa política correta no trabalho de massa proporcionaram esses exitos.” Relato de Ângelo Arroyo, dirigente da Guerrilha do Araguaia e um dos poucos sobreviventes; assassinado em 1976 no Massacre da Lapa. 

Nesse curto período, foram estabelecidos 13 núcleos da ULDP com os moradores, ampliando contato até mesmo fora da região da guerrilha. Existiam livros de literatura, rádio e pequenas assembleias. Esse trabalho de base facilitou com que os trabalhadores aderissem à guerrilha como combatentes. Em dezembro de 1972, entrou um; em abril de 1973, um; de junho em diante entraram mais cinco no A; dois no B; e dois no C. Uma boa parte da massa realizou tarefas ligadas à atividade guerrilheira. Relatório Sobre a Luta no Araguaia; Ângelo Arroyo. 

Descoberta da guerrilha

Na guerrilha, uma das discrepâncias materiais entre os guerrilheiros e o exército era o armamento. Os guerrilheiros do destacamento B tinham no total um mosquetão; 5 rifles quarenta e quatro; 6 espingardas vinte; 1 vinte dois canos; 1 dezesseis; 2 carabinas vinte e dois; 1 metralhadora de bala trinta e oito; 17 revólveres Taurus trinta e oito; 1 bereta e 1 submetralhadora Royal. Fora os facões, facas e materiais de sobrevivência. Mesmo assim, moralmente, os guerrilheiros eram muito maiores que a ditadura que até então estava há quase 10 anos no poder.

A descoberta da guerrilha foi iniciada com grande repressão do exército na região, feito por 3 campanhas de cerco e aniquilamento. A primeira ocorre no dia 12 de abril, a segunda campanha em setembro de 1972, e a terceira, que serviu para limpeza do local e caça aos últimos guerrilheiros, aconteceu em meados de 1973 até começo de 1974, quando a guerrilha basicamente já havia sido dizimada, e os poucos sobreviventes estavam encarcerados sofrendo torturas.

A primeira campanha foi iniciada com base na delação de um dos desertores da Guerrilha preso no Ceará. Um dos primeiros destacamentos a ser atacado pelo exército foi o A, que continha 22 guerrilheiros. Para tentar avisar aos destacamentos B e C, foi encarregado um militante de cada destacamento para centralizar as informações, mas dada a falta de comunicação, acabou sendo visto por bate-paus” (pessoas compradas pelo exército que prestavam serviços se passando por moradores comuns) e preso pelos agentes da ditadura. A primeira ofensiva do Exército deixou explícita que ainda não tinha terminado a preparação dos três destacamentos para a luta.

A segunda campanha iniciou-se em setembro de 1972. A ditadura, já sabendo e temendo o crescimento da guerrilha, empregou cerca de 8 mil a 10 mil tropas. Materialmente, havia pouca tropa especializada do exército, porém fizeram algumas armadilhas, utilizaram helicópteros e aviões. Soltaram bombas na mata, próximo de um acampamento do Destacamento B, recrutaram bate-paus locais e pagavam 25 cruzeiros por dia aos moradores que quisessem servir de guias nas matas. Até então, a guerrilha havia perdido 18 combatentes. 

A terceira campanha foi introduzida no dia 7 de outubro de 1973. As tropas do exército já haviam milimetrado quais seriam os pontos de ataque. Transamazônica, São Domingos, Metade, Brejo-Grande, São Geraldo, Palestina e Santa Cruz. Nesse período, houve intensificação da repressão entre a população, registros de agressão física, psicológica, assassinatos e expulsão de pequenos agricultores. A comissão militar havia chegado à constatação que o exército não estava em grande ofensiva, mas, ao contrário, nos combates e ataques, a guerrilha sofreu na terceira campanha a perda de 8 combatentes. No final das contas haviam sobrado na guerrilha somente 20, dentre esses, muitos presos e outros exilados.

A luta por Memória, Verdade, Justiça e Reparação

O atual governo federal, colocou na ordem do dia da campanha presidencial, que os familiares dos mortos e desaparecidos políticos seriam ouvidos, e facilitaria a abertura da Comissão da Verdade. Criada em 2011 pela luta dos familiares assassinados pela ditadura de 1964, promulgada pela então Presidente Dilma Rousseff para se debruçar e aprofundar cada vez mais uma Justiça de Transição no país, que pouco condenou e julgou os algozes da ditadura fascista. Porém, poucos avanços tivemos em relação. Por exemplo, em 31 de março de 2024, nos preâmbulos do aniversário do golpe, a decisão do gabinete presidencial ao Ministério dos Direitos Humanos foi de afirmação que golpe era coisa do passado e que não precisava ficar remoendo. Para completar, no dia do falecimento de um dos signatários do AI-5, Delfim Netto, a nota presidencial foi de “grande pesar” e afirmando que somente teria divergências no campo das ideias.

A luta para quem perdeu seus familiares é muito cara, não só os de ontem, mas os de hoje. O Brasil até hoje não cumpriu o papel de condenar os algozes da ditadura, e, ao contrário, isso reflete nos milhares de jovens hoje sendo presos, torturados e humilhados nos cárceres a fora. Hoje, existem quase 900 mil pessoas encarceradas, 200 mil presas previamente e sem julgamento. A cada 4 pessoas presas, 1 não teve julgamento.

Para isso, precisamos cerrar as fileiras sobre a pauta da memória daqueles que lutaram por uma sociedade mais justa, pois os que mataram hoje Giovanne Gabriel, são os que assassinaram Helenira “Preta” Resende, Manoel Lisboa, Alexandre Vanucchi Leme, Emmanuel Bezerra e diversos outros. Cerrar as fileiras exigindo que o governo federal reative a Comissão da Verdade é um dos caminhos. É nosso papel em cada espaço que ocupamos lembrar dos que deram a vida para que houvesse um mínimo de democracia.

Referências:

Guerrilha do Araguaia (A esquerda em armas) – Romualdo Pessoa Campos Filho

Araguaia (Relato de um guerrilheiro) – Glênio Sá

Relatório sobre a Guerrilha do Araguaia – Ângelo Arroyo

Estudantes de Florianópolis ocupam Secretaria de Educação do Estado

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Após persistência dos estudantes, a Secretaria de Educação de Santa Catarina recebeu representantes de entidades estudantis e protocolou a carta reivindicatória que foi entregue ao gabinete.

Isadora Miranda | Florianópolis (SC)


EDUCAÇÃO – Caminhando do Largo da Alfândega até a Secretaria de Estado da Educação (SED/SC), estudantes secundaristas e universitários marcharam na quarta-feira, 14 de agosto, em um ato em defesa da educação. O objetivo dos manifestantes foi denunciar os cortes orçamentários na educação, o aumento da privatização e militarização nas escolas e reivindicar o fim do Novo Ensino Médio. O secretário de educação Aristides Cimadon se ausentou da negociação da SED com os estudantes, mas será obrigado a ler a carta em até 21 dias e dar uma resposta às entidades estudantis.

Ao chegarem na Secretaria, os estudantes tiveram sua entrada barrada, mas permaneceram se mobilizando e insistindo para que pudessem dialogar com a instituição. “Isso é um reflexo de como a Secretaria lida com os estudantes que ela representa. Mesmo sendo um órgão público, ficaram com medo quando viram os estudantes se aproximando”, disse Sofia, estudante de Engenharia de Automação e militante do Movimento Correnteza e da Unidade Popular pelo Socialismo (UP). No entanto, levantando a bandeira de que “os estudantes não se rendem”, os manifestantes ocuparam o espaço e exigiram uma reunião com os representantes da secretaria.

As entidades estudantis entregaram uma carta à Secretaria com denúncias sobre as más condições de infraestrutura nas escolas, nas quais faltam itens de higiene, ar condicionado e as salas de aula estão superlotadas. Os estudantes afirmam que os problemas acontecem por falta de orçamento destinado à educação. No documento, há também denúncias sobre a aprovação do Novo Ensino Médio (NEM), mostrando que 64,5% dos estudantes secundaristas não cursaram os itinerários escolhidos, e 81,5% estão insatisfeitos com o programa.

Outra denúncia colocada na carta foi o aprofundamento das privatizações e militarização nas escolas públicas. A exemplo, foi falado da Escola de Ensino Básico Ildefonso Linhares, escola cívico-militar, onde houve casos de assédio por parte dos policiais com os estudantes. Assim, a carta solicita o compromisso da SED com a não militarização e não privatização das escolas estaduais, com a não perseguição dos professores, e com a Lei do Grêmio Livre.

“A luta não termina hoje”

Amanda Wenceslau, candidata à vereadora em Florianópolis pela UP, esteve presente no ato representando os estudantes. Foto: João Rio.
Amanda Wenceslau, candidata à vereadora em Florianópolis pela UP, esteve presente no ato representando os estudantes. Foto: João Rio.

A reunião aconteceu em auditório com mais de 80 lugares, mas somente 5 representantes foram autorizados a participar do espaço, sendo eles da União Catarinense dos Estudantes (UCE), Diretório Central dos Estudantes Antonieta de Barros (DCE/UDESC), Diretório Central dos Estudantes Luís Travassos (DCE/UFSC), União Florianopolitana dos Estudantes Secundaristas (UFES), e Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (FENET).

Segundo as participantes da reunião, a secretaria afirmou que “há muito papel higiênico e sabonete nos almoxarifados, mas as escolas ficam sem por baixa fiscalização”. O órgão protocolou a carta, e prometeu que o secretário da educação responderá às entidades em até 21 dias.

A candidata a vereadora pela Unidade Popular pelo Socialismo (UP), Amanda Wenceslau, estudante do Instituto Federal de Educação de Santa Catarina, representou a UFES no ato e ressaltou a importância da manifestação. “A luta não termina hoje. Essa ocupação é pra gente voltar para a sala de aula e seguir mobilizando os estudantes, mostrando que a condição das nossas escolas acontece por má vontade do Estado em cumprir seu papel”.

Amanda, enquanto candidata da UP, defende uma educação socialista, devendo ela ser pública, gratuita e socialmente referenciada. Denunciando o avanço do fascismo em Santa Catarina e no Brasil, a Unidade Popular pelo Socialismo acredita que o avanço da privatização e militarização das escolas é uma tática da extrema-direita para intensificar a exploração do povo e controlar ainda mais a juventude, que tem cada vez mais dificuldade em acessar o ensino básico e superior. 

Assim, a UP se posiciona nacionalmente a favor da revogação do Novo Ensino Médio, e defende uma educação integral, com acesso ao ensino básico, esporte e à cultura. Além disso, o partido defende a luta pelo passe livre para estudantes de todos os níveis, sendo essa uma forma de reforçar o direito constitucional de acesso à educação gratuita.

Prefeito de Olinda ataca a cultura popular pernambucana

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O Ministério Público de Olinda removeu o acervo do mestre bonequeiro Fernando Augusto Gonçalves, sem consultar a família, desrespeitando sua memória e a cultura pernambucana. Suas obras, negligenciadas pela gestão do prefeito Lupércio (PSD), serão distribuídas a outros estados e municípios brasileiros.

Yan Gurgel | Olinda – PE


BRASIL – Fernando Augusto Gonçalves é uma figura artística importantíssima para Olinda. Bonequeiro, mestre do teatro de mamulengos, é responsável por inúmeros carnavais do município. Sua morte, em 2022, aos 74 anos, entristeceu o povo olindense que admirava sua obra.

Em 2024, exatamente dois anos depois de sua morte (15 de julho de 2022), o Ministério Público de Olinda, em desrespeito ao legado de Fernando Augusto e a sua família, e em um claro ataque a cultura pernambucana, determinou a retirada de seu acervo do local onde atualmente se encontram, sem nenhum contato com seus familiares.

Suas obras, já sucateadas desde sua morte, jogadas numa rua qualquer, tratadas como lixo pela gestão do prefeito Lupércio (PSD), irão para diversos municípios e estados brasileiros, transferindo a responsabilidade de preservação dessas obras para o primeiro que demonstrar interesse.

Falta de preservação da cultura popular

Cultura Popular Pernambucana. Casas históricas estão abandonadas no bairro do Carmo, em Olinda. Foto: Reprodução.
Casas históricas estão abandonadas no bairro do Carmo, em Olinda. Foto: Reprodução.

A falta de preservação da cultura do Centro Histórico de Olinda, oficialmente declarado como patrimônio da humanidade, e das obras de uma das figuras mais importantes para a cultura do município, demonstra o claro desrespeito, a falta de responsabilidade e o ataque aberto aos artistas olindenses e de todo o Brasil.

A decisão do Ministério Público de Olinda de retirar o acervo do mestre bonequeiro Fernando Augusto Gonçalves, sem consulta prévia à sua família, gerou um amplo debate sobre a preservação da cultura popular pernambucana e a responsabilidade das autoridades em relação ao patrimônio artístico e histórico da cidade. Muitos olindenses se sentiram profundamente magoados com essa atitude, que consideram um desrespeito não apenas à memória de Fernando Augusto, mas também à identidade cultural de Olinda.

A gestão do prefeito Lupércio (PSD) tem sido alvo de críticas por sua falta de investimento na preservação do Centro Histórico de Olinda e na valorização dos artistas locais. A situação do acervo de Fernando Augusto Gonçalves é apenas um exemplo dessa negligência. As obras, que deveriam ser protegidas e exibidas para as futuras gerações, foram deixadas à mercê do tempo e do descaso, transformando-se em lixo nas ruas da cidade.

A transferência do acervo para outros municípios e estados pode parecer uma solução temporária, mas na verdade é um ato de abandono da responsabilidade de preservar essa parte importante da história e cultura de Olinda. Além disso, essa medida pode levar à dispersão das obras, dificultando ainda mais o acesso e o estudo sobre a vida e a obra de Fernando Augusto Gonçalves.

Diante dessa situação, é fundamental que a sociedade olindense se mobilize para exigir das autoridades uma atitude mais comprometida com a preservação da cultura popular e do patrimônio histórico. É necessário que haja um investimento real na valorização dos artistas locais, na criação de espaços culturais adequados e na proteção do acervo de figuras importantes como Fernando Augusto Gonçalves.

A cultura popular é um bem imaterial que enriquece a identidade de um povo e deve ser preservada para as gerações futuras. E não tratada como um mero ornamento, mas sim uma parte essencial da vida da cidade.

Mulheres que são mães se organizam cada vez mais para lutar pelo socialismo

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Por todo o país, mulheres que são mães estão se organizando para lutar com o Movimento de Mulheres Olga Benário e a Unidade Popular. Organização coletiva deve ser um apoio à militância dessas mulheres contra o machismo e o capitalismo

Indira Xavier e Larissa Mayumi*


Toda mãe é comunista

Dividem o pão igualmente

E o carinho também

Só são felizes no mundo

Se os filhos estiverem bem

A cada um, conforme a necessidade

De todos, sem fazer lista

No fundo, no fundo

Toda mãe é comunista

(Pedro Laurentino, poeta e dirigente da UP)

A poesia acima ilustra uma linda qualidade sempre valorizada nas mulheres que são mães. Esta e outras qualidades não são, porém, instintos, e, se verdadeiramente valorizadas, poderiam assegurar um mundo sem exploração, violência e miséria.

O sentido de justiça e afeto profundo por outro ser proporcionado pela maternidade, quando direcionado para a organização da classe trabalhadora, potencializa e amplifica uma luta que é necessária para a real libertação de toda a humanidade. Refletindo sobre isso e, olhando os exemplos que existem entre as mulheres mães e militantes dos diversos movimentos, sobretudo, as organizadas a partir do Movimento de Mulheres Olga Benario, é que preparamos esta matéria.

Historicamente oprimidas e exploradas e com uma imensa sobrecarga, as mulheres trabalhadoras sempre lutaram coletivamente e, através de mobilizações, garantiram conquistas importantes como o Sistema Único de Saúde (SUS), as creches e as escolas públicas. Mesmo nos tempos mais sombrios, onde eram perseguidas pela ditadura militar fascista, as mulheres organizadas construíram o Movimento Contra o Custo de Vida, recolhendo milhares de assinaturas contra o aumento do custo de vida e a carestia. Lutaram e ainda lutam para encontrar seus filhos sequestrados, reivindicando por memória, verdade e justiça.

Hoje, as mulheres gastam 21,4 horas nas tarefas domésticas por semana, enquanto a média dos homens é 11 horas. “A gente, enquanto mulher, acaba assumindo a maior parte dos serviços de casa, e é uma coisa que a gente automaticamente assume porque a gente acha que, nesse sistema, o homem não tem jeito pra essas coisas”, afirma Marta Domingues da Silva, militante do Movimento Luta de Classes (MLC) e mãe de Sarah Domingues, militante da União da Juventude Rebelião (UJR) que foi assassinada no dia 23 de janeiro, em Porto Alegre (RS), enquanto fazia sua pesquisa de campo para finalização do seu curso de Arquitetura.

Pesquisas apontam que essa sobrecarga física e mental, gerada pelo acúmulo de tarefas que as mães têm na sociedade, associados à pobreza, trabalhos precarizados e ao desemprego, adoecem mais as mulheres que outras parcelas da população. Elika Rodrigues, da Unidade Popular (UP), conta como foi se organizar e lutar ao lado de seu filho, militante da UJR: “Lutar ao lado do meu filho me dá a certeza de que ele está no caminho certo e de que, de alguma maneira, eu fiz um bom trabalho em sua formação pessoal e isso me enche de orgulho. A minha perspectiva, após conhecer a militância, é a melhor possível. Ter esperança que dias melhores virão me dá força pra lutar, estudar e correr muito atrás da transformação social”.

Mesmo caminho seguido Swami Okubo, que passou a ter contato com o Movimento Olga Benario após sua filha começar a se organizar e, quando o movimento construiu a Ocupação Cleone Santos, próximo à sua casa. Swami é exemplo de como a visão das mulheres trabalhadores pode ser transformada com a luta: “Mudou tudo, a visão que eu tinha era uma visão conformista. Embora eu acreditasse no socialismo, mas sempre achei que fosse um pouco utópico. Aí, na militância, eu vi que é possível. Porque eu imaginava que seriam os políticos, que viria lá de cima e que alguém fizesse alguma coisa pra classe, pros proletários. Por isso, eu achava que utópico. Depois, na militância, que eu vi que é a própria classe trabalhadora, são os movimentos e as lutas da classe trabalhadora, que vai vir da massa trabalhadora mesmo, e não ficar esperando que vai vir lá de cima”.

Outro exemplo de que as mães são revolucionárias, é o caso de Marlene Goya, que buscava se organizar em grupos feministas e, em conversa com seu filho, militante da UJR, passou a conhecer o Movimento de Mulheres Olga Benario: “Um dia, conversando com meu filho, questionando os grupos feministas que apenas discutiam ascensão das mulheres nos postos de trabalho, competindo entre os homens e entre elas próprias, e que eu não achava que isso era movimento feminista. Meu filho me indicou conhecer a Casa Laudelina de Campos Melo, do Movimento de Mulheres Olga Benario”.

Temos hoje o exemplo de várias mães que passaram a se organizar a partir do exemplo de seus filhos, como o caso de Adriana Rio, da Unidade Popular: “Somente resolvi me organizar politicamente após meu filho me inspirar com seu exemplo transformador, pois ele ingressou na universidade e começou a militar no movimento estudantil, do Correnteza à UJR e me apresentou o Movimento de Mulheres Olga Benario. Me filiei à UP e estou organizada, lutando junto com ele, nos últimos dois anos. Uma experiência muito profunda de resgate das nossas origens revolucionárias. Meu sentimento é de orgulho, admiração e gratidão, aprendo muito sobre o mundo em transformação com meu filho, mas, sobretudo, com toda a juventude, e me sinto energizada pela vivência no método do marxismo-leninismo. Cada vez mais convencida que nossa tarefa histórica é acreditar e lutar pela transformação radical da sociedade capitalista, que tão perversamente nos oprime, explora e adoece constantemente”.

Assim, construir nas mulheres mães, a partir de sua organização, a perspectiva de acabar com a atual crise capitalista, em que milhões passam fome, falta emprego, aumenta a violência, é fundamental.

Marta finaliza reforçando a importância de chamar as mães nesta luta: “É muito importante as filhas e os filhos tentarem levar a mãe para a militância. Por muitas vezes, as mães têm muita resistência a militar, de participar, até por conta da sobrecarga de trabalho que a mulher já tem. Mas eu acho que os jovens que tão na militância têm que fazer esse esforço para essa luta de construção do socialismo. Lutar do lado da Sarah era muito gostoso! Porque é muito bom você ter o mesmo ideal que a sua filha, porque não só por ser filha, mas por a gente ver uma realidade diferente, lutar por um mundo diferente daquele que a gente estava antes. Não porque a gente saiu dele, mas porque só de começar a ter esse entendimento, o nosso mundo já muda. E quando você luta por essa realidade diferente, quando você tá ao lado da sua filha, que era o meu caso, é melhor ainda, porque é uma coisa que você está construindo pros seus filhos também! Quando você é mãe, você luta pensando nos seus filhos, mais nos filhos do que em você mesma. Dá mais coragem, é uma força a mais!”.

*Indira Xavier e Larissa Mayumi são da coordenação do Movimento de Mulheres Olga Benário

Matéria publicada na edição nº 297 do jornal A Verdade

África do Sul, uma história de resistência

A rica história das lutas do povo da África do Sul tem como marca o papel protagonista do Partido Comunista Sul-Africano na resistência ao apartheid e na construção do Congresso Nacional Africano (CNA), movimento de libertação liderado por Nelson Mandela

José Levino*


O país está situado no sul do Continente que deu origem à humanidade, a nossa mãe África. Repleta de riquezas e belezas naturais, oito vezes menor que o Brasil, a África do Sul tem 60 milhões de habitantes. Destes, 79% são negros, 9,6% são brancos europeus, 8,9% são mestiços e 2,5% são imigrantes asiáticos. Por mais de três séculos, a minoria branca dominou o país onde implantou a segregação racial (apartheid) mais rigorosa do mundo. Mas não dominou por ser branca, e sim, por vir da Europa, continente em que o capitalismo se desenvolveu e para prosseguir no seu crescimento, buscou subjugar os demais povos do mundo.

Há milênios, o Sul da África era habitado por três grupos: o mais antigo, chamado hotentotes ou boxímanos, seguido pelos zulus e xhosas, estes subgrupos da etnia banta. Viviam em regime comunitário, de agricultura, coleta, caça, pesca e criação de animais. Os problemas começaram quando os colonizadores europeus (holandeses) resolveram instalar um posto de reabastecimento no Cabo da Boa Esperança para reabastecer seus navios na rota Europa-Índia-Europa, em 1652.  Os holandeses foram se estabelecendo, ocupando terras, criando gado e chamando a eles mesmos de “africâneres” ou “bôeres”, termo derivado da palavra holandesa boer, que significa fazendeiro. Terminaram escravizando os hotentotes. 

Os ingleses chegaram no ano de 1795. Expulsaram os xhosas e entraram em choque também com os bôeres. Estes abandonaram as terras e se deslocaram para o interior, onde se confrontaram com xhosas e zulus e criaram o Estado do Transvaal. Uma certa coexistência pacífica entre ingleses e holandeses durou até o ano de 1867. Com a descoberta de ouro e diamante na região, as forças britânicas buscaram o seu domínio. Desencadeou-se uma guerra que durou três anos e acabou com a rendição dos bôeres e a assinatura de um acordo no qual eles aceitaram a tutela dos ingleses.

Apartheid substitui o escravismo

Os ingleses aboliram a escravidão, mas criaram um sistema de barreiras rígidas para impedir que os nativos ascendessem econômica, política e socialmente. A segregação racial ou apartheid, como ficou conhecida, foi oficializada em 1910, na primeira Constituição sul-africana. Os negros eram privados do direito de voto, não podiam possuir terras, eram proibidos de circular nos mesmos lugares que os brancos, frequentar a mesma escola, transporte, etc. O Native Labor Act, promulgado após a Constituição, destinou apenas 7% do território nacional aos negros. Eles tiveram de se espremer nos bantustões (Zona Rural) e nos guetos (periferia das cidades). No final dos anos 1920, o desenvolvimento industrial provocou a necessidade de contratar negros, sempre com salários menores que os europeus e os imigrantes asiáticos.

A organização do povo

A organização dos negros sul-africanos começou em 1912, com a fundação do Congresso Nacional Africano (CNA). Seus fundadores, estudantes de escolas missionárias, acreditavam que, organizados, os negros convenceriam a minoria branca dominante a abrir espaço para sua participação na vida política do país, e as mudanças aconteceriam gradativamente. Em vez de diálogo, veio a repressão. A greve de 40 mil mineiros negros, em 1920, foi literalmente massacrada. Em 1921, funda-se o Partido Comunista Sul-africano (PCSA), inicialmente com maioria de operários brancos (imigrantes europeus). O PCSA definiu como estratégia atuar no interior do CNA, na intenção de desenvolver a consciência de classe entre os negros e convencê-los de que a igualdade racial somente seria possível com o socialismo, e se dedicou também à criação de sindicatos.

Foi se fortalecendo uma linha mais combativa. Em 1940, forma-se a Frente Antirracismo, que publicou a Carta da Liberdade, reivindicando o fim do apartheid e a distribuição de terras. Dentro do CNA, criou-se a Liga da Juventude (1943), dirigida por nomes que se tornariam conhecidos em todo o mundo, especialmente Oliver Tambo e Nelson Mandela. Em 1958, surgiu uma dissidência do CNA, por discordar da participação de brancos na Frente Antirracista. Os dissidentes fundaram o Congresso Pan-Africano (CPA), cuja primeira ação de vulto foi uma manifestação contra os limites impostos para circulação dos negros em lugares frequentados pelos brancos. A polícia matou 70 participantes e a repressão se intensificou. Em 1960, as organizações antirracistas foram proibidas.

Luta guerrilheira e luta de massas

Na ilegalidade, o CNA criou seu braço armado, denominado Lança da Nação (Umkhonto WeSizwe). A Luta Armada se deu, numa primeira fase, mediante atentados a prédios públicos, sempre fora do expediente, para evitar mortes, e depois evoluiu para guerrilha rural.

Em 1961, aconteceu a independência da Inglaterra, mas nada mudou na política interna. No final de 1962 e início de 1963, os principais dirigentes do CNA foram presos. No dia do seu julgamento, Mandela pediu para ler uma declaração em vez de responder a perguntas. Nesta declaração, intitulada Estou Preparado para Morrer, afirma: “Tínhamos a tradição da não violência e da negociação para resolver as disputas. Mas todos os meios legais de expressão foram fechados pela legislação. Somente quando o governo recorreu ao uso da força para esmagar a oposição às suas políticas, decidimos responder à violência com violência. Acreditamos que a África do Sul pertence a todos os povos que nela vivem e não a um grupo, seja ele branco ou negro”. Os acusados foram condenados à prisão perpétua.

Apesar do abalo sofrido, a luta armada continuou. Cresceu também a mobilização de massas nos guetos e nos bantustões. O Levante de Soweto (1976), mobilização de jovens, resultou no assassinato de mais de 500 estudantes. No ano seguinte, um dos organizadores, o carismático Steve Biko, de 30 anos, foi preso e torturado até a morte. Ele fundara o Movimento Consciência Negra e é autor da frase utilizada até hoje, “O negro é belo”. Enquanto Nelson Mandela é o grande herói do povo sul-africano, Biko é o seu Mártir.

A ONU recomenda boicote ao comércio com a África do Sul. Porém, a luta armada se fortalece ao ganhar bases de apoio nos países vizinhos recém-libertados do domínio colonial: Angola, Moçambique e Zimbábue. As lutas civis ganharam o reforço do bispo anglicano Desmond Tutu, que foi o primeiro negro a assumir o cargo de Secretário Geral do Conselho de Igrejas da África do Sul.

No dia 11 de fevereiro de 1990, o governo de Frederik de Klerk liberta Nelson Mandela. Começam as negociações para o fim do apartheid e estabelecimento da democracia. As primeiras eleições multirraciais foram realizadas em 27 de abril de 1994. Mandela foi eleito presidente com 62% dos votos.

Governo do CNA

As negociações para o fim da segregação racial chegaram a termo com a garantia da unidade nacional, o chamado arco-íris. O novo regime pôs fim ao apartheid, aprovou uma nova Constituição, estabeleceu eleições livres, adotou políticas públicas destinadas a promover a ascensão e inclusão social dos negros, mas sem alteração do sistema econômico, ou seja, com a manutenção do capitalismo.

Essas políticas criaram uma classe média negra de três milhões de pessoas, mas a concentração de propriedade e riqueza é semelhante à do Brasil, isto é, a propriedade das terras, das indústrias, dos bancos, do grande comércio, permaneceu, predominantemente, nas mãos da burguesia branca que dominou o país por mais de três séculos. Enquanto isso, metade da população não tinha acesso à água, esgoto e energia elétrica e vivia na periferia das grandes cidades e no campo, abaixo da linha da pobreza.

Não poderia ser diferente. Inserido no sistema capitalista, a estrutura econômica não mudou e as normas constitucionais, baseadas nos princípios da igualdade e justiça social, nunca passaram de uma declaração de intenções. Até hoje, crescimento econômico tem como base a exportação de matérias-primas e, para seu abastecimento, o país permanece dependente de produtos do exterior. Sofre apagões constantes e há uma crescente insatisfação popular frente às dificuldades de atendimento às necessidades básicas, bem como das acusações de clientelismo e corrupção, que forçaram a renúncia e posterior condenação do penúltimo presidente, Jacob Zuma, que hoje lidera um partido de oposição, chamado Lança da Nação, que era o nome do setor armado do CNA, do qual ele participou.

Como consequência, nas eleições de 2024, o CNA caiu de 230 para 159 cadeiras no Parlamento. Para manter a presidência (eleição indireta), foi preciso negociar com o principal partido de oposição, dominado pela burguesia branca e chamado Aliança Democrática. Essa aliança tem provocado mais insatisfação popular e despertado tensões raciais.

É mais uma prova concreta, histórica, de que as lutas identitárias, como a antirracista, são muito importantes, mas seus resultados são limitados e podem ser revertidos se não estiverem integrados orgânica, política e ideologicamente com a luta de classes, que visa à criação do Poder Popular, em vista da construção do Socialismo, no qual inexista a exploração de um ser humano por outro e todos possam ter vida digna, e vida em abundância.

*José Levino é historiador

Matéria publicada na edição nº 297 do jornal A Verdade

Pernambuco enfrenta crise ambiental com aumento de microplásticos nas praias

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Os resultados mostraram que foram encontradas 1.406 partículas de microplásticos nas praias a partir das amostras analisadas. Todas as praias examinadas apresentaram a presença desses micropoluentes, com a praia do Paiva sendo a mais impactada, mesmo não tendo um alto fluxo de pessoas.

João Pedro Souza | Redação PE


BRASIL – O litoral de Pernambuco, conhecido por suas praias como Porto de Galinhas, Tamandaré e Praia do Paiva, enfrenta uma ameaça grave que compromete não apenas o meio ambiente, mas também a saúde pública e a economia local: a contaminação por microplásticos. Estes fragmentos plásticos minúsculos, com dimensões inferiores a cinco milímetros, estão disseminados em larga escala nas areias e nas águas, resultado de décadas de negligência ambiental e exploração desenfreada dos recursos naturais.

Pesquisas revelam crise ambiental

Estudos recentes do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI) revelam um aumento alarmante na presença de microplásticos nas praias de Pernambuco. A coleta das amostras começou em 2022 e apontou que a Praia do Paiva, localizada no Cabo de Santo Agostinho, apresenta 695 fragmentos por amostra de 200ml de sedimento.

Em Porto de Galinhas, uma das praias mais famosas do Brasil, foram encontrados 320 fragmentos por amostra. A Praia de Tamandaré registrou 300 fragmentos por amostra demonstrada. Esses números são particularmente preocupantes em regiões onde a fiscalização ambiental é deficiente e a conscientização pública sobre os perigos do plástico ainda é limitada.

Os resultados mostraram que foram encontradas 1.406 partículas de microplásticos nas amostras analisadas, com o nylon azul destacando-se como o mais prevalente, representando 63% do total. Todas as praias examinadas apresentaram a presença desses micropoluentes, com a praia do Paiva sendo a mais impactada, mesmo não tendo um alto fluxo de pessoas.

Além de contaminar a água e a areia, os microplásticos entram na cadeia alimentar e são consumidos por peixes e outras formas de vida marinha. Estes animais são, em última análise, ingeridos pelos seres humanos, havendo implicações para a saúde pública que ainda não são totalmente compreendidas.

Investigações preliminares da Universidade do Novo México sugerem que a ingestão de microplásticos pode afetar tecidos dos rins, do fígado e até do cérebro. Outros estudos detectaram fragmentos de microplásticos no coração, no sistema sanguíneo e em fetos humanos. Portanto, o que começou como um problema ambiental tem o potencial de se transformar em uma crise de saúde global, exacerbada pela globalização do sistema capitalista.

O capitalismo prioriza o lucro

Impulsionada por um modelo de produção orientado pelo lucro, a indústria dos plásticos tem sido um dos principais contribuintes para a poluição que afeta os ecossistemas marinhos em todo o mundo. Em nome da conveniência e do consumo desenfreado, o plástico tornou-se onipresente, desde simples embalagens até itens de uso diário. O verdadeiro custo desta “conveniência” é mascarado e transferido para o ambiente e, portanto, para as gerações futuras. O sistema capitalista dá prioridade ao lucro sobre qualquer valor ambiental, perpetuando assim uma economia de resíduos que incentiva a eliminação enquanto a responsabilidade pelo impacto ecológico é sistematicamente ignorada.

A resposta dos governos a essa crise tem sido insuficiente. As regulamentações ambientais, quando existem, são frequentemente flexibilizadas para atender aos interesses das grandes corporações que buscam o lobby com as prefeituras em detrimento de mais espaço para usufruírem de isenções fiscais sem nenhuma contrapartida.

As iniciativas de reciclagem e de redução da utilização de plástico, embora importantes, não são suficientes para resolver a escala do problema. Em muitos casos, a reciclagem é um processo ineficiente e economicamente inviável, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil. 

Para resolver verdadeiramente a crise dos microplásticos e, por extensão, a crise ambiental global, é necessária uma mudança radical na forma como produzimos e consumimos. É necessário romper com a lógica capitalista, no qual torna o meio ambiente como um recurso infinito a ser explorado dando prioridade aos lucros em detrimento das vidas. A prioridade é uma transição para uma economia planejada que minimize os resíduos e utilize os recursos de forma eficiente e regenerativa, além de priorizar um trabalho de conscientização coletiva.

A conscientização coletiva e a mobilização social são fundamentais para impulsionar mudanças nas políticas públicas em defesa do meio ambiente. Para proteger nossas praias, nossos oceanos e nossa saúde, é preciso reimaginar nossa relação com o planeta e adotar um modelo de desenvolvimento que seja verdadeiramente sustentável e equitativo.

A cota individual, uma tarefa militante

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Se o “poder material só pode ser derrubado pelo poder material”, como dizia Marx, é preciso de um método que sustente uma poderosa estrutura revolucionária. Por isso, a cota individual de cada militante é essencial para o avanço das lutas da UJR

Coordenação Nacional da UJR


A sociedade capitalista, baseada na exploração de um ser humano pelo outro, é dividida em classes sociais com interesses antagônicos. Nesta sociedade, tudo, do alfinete à grande fábrica, e até mesmo a força de trabalho humana, é transformado em mercadoria. Desta forma, a classe dos capitalistas, aqueles que são donos dos meios de produção, não trabalham e enriquecem à custa da exploração da classe dos proletários, aqueles que nada tem a chamar de seu e são obrigados a vender sua força de trabalho para sobreviver.

Exploradores e explorados vivem numa constante luta entre si. Uns para manter seu regime de exploração, sua riqueza e seus privilégios; outros para destruir essa velha sociedade e construir uma nova sociedade sem exploração, onde todos trabalhem e a riqueza da sociedade seja produto coletivo. Nesta luta “exploradores unem-se com exploradores, explorados unem-se aos explorados. Do choque de interesses entre ambos surgem as organizações com a finalidade de defender as aspirações e os anseios que eles representam” (Declaro-me marxista-leninista, Manoel Lisboa).

Assim, a burguesia cria seus próprios partidos, coloca seu imenso poder material e usa o Estado e seus aparatos repressivos para manter sua dominação. Por outro lado, o proletariado cria seu próprio partido comunista revolucionário, que deve ser sua principal arma na luta pela tomada do poder, pela destruição do Estado burguês e pela construção da sociedade socialista.

Desta forma, pode o Partido do proletariado cumprir sua missão histórica se não possuir as condições materiais para isso? Da mesma forma, a União da Juventude Rebelião, organização revolucionária da juventude brasileira, pode ser uma poderosa organização se não tiver os recursos financeiros que possibilitem sua estruturação, seu crescimento e desenvolvimento? Não.

Para ser capaz de fazer uma revolução que derrube o capitalismo, as organizações proletárias devem ser dotadas dos recursos materiais para isso. Para desenvolver essas organizações e fazer sua propaganda junto ao povo é necessário promover reuniões, plenárias, produzir milhões de panfletos, jornais, cartazes, etc. Para construir uma grande organização revolucionária é preciso ter centenas e até milhares de quadros profissionais, ou seja, pessoas cuja tarefa seja a construção da revolução. Mas, sem dinheiro, como é possível realizar reuniões em um país de dimensões continentais como o Brasil em que as passagens ficam cada vez mais caras? Como vamos produzir materiais de propaganda, adquirir megafones, equipar as sedes e sustentar militantes profissionais? Trata-se de idealismo acreditar que só com a “força de vontade” e sem a força material conseguiremos derrubar o poder da burguesia.

Desta forma, a história do movimento comunista é repleta de exemplos de como devemos financiar as organizações revolucionárias. Já na primeira década do século passado, o Partido Operário Social-Democrata Russo, o partido de Lênin, definiu em seus estatutos que um dos critérios para ser militante é fazer uma contribuição financeira ao Partido. Portanto, a cota individual deve ser a principal fonte de financiamento de uma organização revolucionária. Trata-se de uma fonte de recursos segura, que depende apenas do convencimento ideológico do militante. No entanto, não devemos achar que isso acontecerá de forma espontânea. É necessário discussão cotidiana, luta ideológica, cobrança e controle para que esta política seja efetivada.

Desde a sua criação, em 1995, a UJR definiu que é dever de cada camarada dar uma contribuição financeira à revolução. É evidente que os membros de uma organização revolucionária são, em geral, pobres. No entanto, cada um, de acordo com as suas condições, deve colocar os seus recursos à serviço da revolução e da luta contra a exploração.

No primeiro semestre deste ano, a militância da UJR deu provas de que a luta política e ideológica é capaz de superar obstáculos e a grande maioria da militância da UJR cumpriu com o seu compromisso de contribuir financeiramente. Agora, a campanha de arrecadação do segundo semestre precisa ser colocada em movimento. É necessário pautar nas reuniões e discutir individualmente com cada militante a sua contribuição para que 100% dos camaradas fiquem em dia com este compromisso revolucionário da cota individual.

Esta não é uma tarefa simples, exige um alto grau de concentração, de luta ideológica em todos os coletivos, controle (da cobrança e da execução), prazo, etc. No entanto, é uma tarefa fundamental, das mais coletivas e importantes para a nossa luta. Somente agindo assim, compreendendo de maneira profunda o significado da autossustentação para a libertação da classe trabalhadora e construção do Socialismo, é que desenvolveremos cada vez mais a ação e a influência da UJR, a juventude revolucionária do Brasil.

Matéria publicada na edição nº 297 do jornal A Verdade