O Tribunal Superior do Trabalho (TST) condenou as lojas C&A a pagar multa de R$ 100 mil por danos morais coletivos para funcionários que foram submetidos a condições de trabalho semelhantes à de escravidão em três shoppings de Goiás, sendo dois em Goiânia e um em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana.
A denúncia apresentada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) afirma que a empresa obrigava os funcionários a trabalharem em feriados ilegalmente, não garantia intervalo de 15 minutos quando a jornada ultrapassava quatro horas seguidas, impedia diversas vezes o intervalo de repouso e almoço, não homologava rescisões no sindicato dos trabalhadores e impunha uma jornada de trabalho além do limite legal, não pagando as devidas horas extras. Segundo o MPT, “a empresa ‘reduziu seus empregados à condição análoga à de escravo’, tendo em vista que lhes impôs jornadas exaustivas”.
Em nota, a multinacional holandesa afirmou que o processo não passava de uma discussão pontual em suas filiais de Goiás e que repudia qualquer forma de trabalho análogo ao escravo.
Denúncias antigas
As denúncias de trabalho escravo envolvendo as lojas C&A não são novidade. Há alguns anos atrás a empresa foi alvo de investigações do Ministério Público do Trabalho em função do uso de trabalho escravo na produção de roupas de marcas ligadas à rede.
Em 2006, o MPT alertou fornecedores da C&A sobre a possibilidade de estarem comprando de confecções que exploravam a mão-de-obra de imigrantes ilegais, já que as etiquetas da marca foram encontradas em diversos estabelecimentos irregulares. Na época, estimava-se em mais de 80 os fornecedores suspeitos de usarem as malharias clandestinas para costurar as roupas.
A C&A adotou uma série de medidas e diminuiu o número de fornecedores pela metade, caindo de 556 para 274. Ou seja, a prática de irregularidades na produção de roupas para as lojas da rede era corriqueira.
Oficina clandestina em São Paulo
Ainda hoje é comum entrar em uma loja da C&A e ver funcionários simpáticos, distribuindo sorrisos e atenção. Porém, por trás disso existe uma cruel estrutura de exploração de seus funcionários. Confecções clandestinas vendem roupas produzidas por homens, mulheres, jovens e até crianças que não têm respeitados seus direitos mais fundamentais.
Dentro das lojas não é diferente: funcionários são expostos a situações de humilhação e assédio moral constantes, pois são pressionados a sempre cumprir metas e prazos, custe o que custar, deixando claro que para a empresa o lucro é mais importante que a dignidade humana.
Ferroviários de São Paulo deliberaram pelo início da greve em todas as linhas de trem do estado a partir da zero hora do dia 15.
Novas assembleias estão convocadas para hoje com o objetivo de referendar a decisão de paralisação.
Reproduzimos abaixo a nota dos sindicatos dos trabalhadores da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos:
Nós, dos Sindicatos dos Trabalhadores em Empresas ferroviárias de São Paulo, da Sorocabana, da Central do Brasil e dos Engenheiros de São Paulo representamos os empregados da CPTM. Estamos há mais de dois meses em negociação com a CPTM, uma empresa de economia mista, ligada à Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos.
Sempre defendemos a negociação como forma de melhorar as condições de trabalho e a qualidade dos serviços prestados à população. Iniciamos as negociações com a CPTM em fevereiro/2014.
Durante esse período, esbarramos na intransigência da direção da CPTM e do Governo do Estado de São Paulo, que não nos deixaram outra alternativa a não ser a greve. Essa é a nossa última forma de mostrar o quanto essa categoria vem sendo negligenciada e desvalorizada.
Enfrentamos na CPTM muitos problemas, apesar dos investimentos do Governo, pois ainda estão aquém das necessidades para que o serviço prestado justifique a tarifa cobrada; sofremos com a crescente e nociva terceirização de quase todo o sistema, o que gera falhas técnicas e o aumento da precariedade do serviço que chega ao usuário. Junte-se a isso a má qualidade das condições de trabalho e a negativa em aplicar aumento real de salários para repor as perdas sofridas pela inflação.
Nosso movimento busca corrigir essas deficiências que atingem tanto o trabalhador quanto os usuários. O bom funcionamento dos trens é cobrado do trabalhador que atende à população no dia a dia. Mas nós também vivemos o sufoco de, em alguns casos, não conseguirmos prestar um melhor serviço à população devido à deficiência do que está à nossa disposição para este fim.
Queremos sim, salários melhores, pois, ao longo desses anos, mesmo não tendo sido recompensados com a contraparte da companhia e apesar do tratamento diferenciado em relação às empresas da mesma Secretaria de Estado, jamais nos desmotivamos; superamos os desafios e atingimos as metas estabelecidas.
A quantidade de passageiros transportados pela CPTM vem crescendo a cada ano, o que representa aumento de receita.
O resultado operacional bruto do exercício de 2013 apresentou um crescimento de 73% em relação ao exercício anterior.
Entre as empresas de transporte sobre trilhos, foi a que mais cresceu. No primeiro trimestre de 2014, a CPTM registrou um aumento 6,2% em número de passageiros transportados, atingindo, aproximadamente 3 milhões/dia.
Os trabalhadores da rede municipal de ensino do Município de Caruaru, a 120 km do Recife, encontram-se em greve há dois meses e meio. Em assembleia geral promovida pelo Sindicato dos Servidores Municipais de Caruaru (Sismuc), no último dia 07 de maio, decidiu-se, por unanimidade, pela permanência da greve e pela realização de um novo protesto no aniversário da cidade, no próximo dia 18.
Entre os principais pontos estão a valorização dos profissionais da educação escolar, ingresso na carreira pública por concurso, gestão democrática e piso salarial. A manutenção da greve demonstra grande resistência dos professores, uma vez que estão sem receber salários desde o início do movimento.
A Prefeitura de Caruaru e seu prefeito José Queiroz não estão sequer ouvindo os professores, pois, em nenhum momento, a educação foi tida como prioridade no município, tendo assim escolas sem quadras para a prática de esportes, laboratórios de informática, química ou biologia.
A segurança também é outro fator que deixa a desejar. São frequentes as reclamações por conta dos assaltos contra alunos e funcionários das instituições de ensino. Também há nas escolas o assédio moral aos professores e funcionários, tendo como consequência um mau desenvolvimento do projeto de educação.
A questão é: será mesmo que em um município onde os professores pedem 8% de reajuste salarial e a greve é considerada ilegal o direito à educação é assegurado?
Diante de tudo isso, a Prefeitura de Caruaru se mantém omissa à greve, aos educadores e à sociedade civil. A população caruaruense e todos do nosso país precisam saber o que está ocorrendo no nosso país, onde a própria Constituição está sendo desrespeitada, já que todos os trabalhadores têm o direito constitucional de fazer greve e, acima de tudo, lutar por seus direitos e por uma vida mais digna e justa.
Os Comandos Nacionais de Greve da Fasubra (Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil) e do Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica) realizaram na manhã da última quarta-feira, 7 de maio, uma ação de grande combatividade e ousadia, que obrigou o Governo Dilma a sair de sua postura de intransigência diante das greves dos trabalhadores das universidades e dos institutos federais. Cerca de 1.500 servidores das universidades de todo o Brasil, reforçados pelos membros do comando de greve do Sinasefe, dirigiram-se ao Bloco C da Esplanada dos Ministérios, por volta das 05h00, e assumiram o controle das entradas de acesso ao Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), impedindo que os funcionários do órgão entrassem para trabalhar.
A ação foi a resposta dos grevistas à postura intransigente do Governo Dilma que tem se recusado a negociar com os técnico-administrativos das universidades, em greve desde 17 de março, e com os servidores dos Institutos Federais, em greve desde 21 de abril. A Fasubra e o Sinasefe, juntamente com o Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), convocaram para a quarta-feira a Marcha da Educação Federal, que contou com um ato em frente ao Ministério da Educação à tarde. Embora as entidades tivessem protocolado um pedido de audiência na semana anterior, o ministro Henrique Paim recusou-se a atender, o que revoltou as categorias.
Diante de ministério paralisado, Governo recua
Na medida em que os funcionários do Ministério do Planejamento iam chegando, se defrontavam com a irreverência de dezenas de manifestantes que trancavam cada porta de acesso e cantavam: “Hoje é seu dia de folga! Hoje é seu dia de folga! Ninguém vai trabalhar!” A maioria dos funcionários compreenderam o protesto; alguns inclusive aproveitaram para tirar fotografias ao lado do boneco da Dil-má, trazido pelos grevistas. Mais tarde, a Dil-má apareceu em carne e osso, representada por uma das diretoras da Fasubra, fazendo sucesso entre os caravaneiros e funcionários do MPOG. Imitando o jeito de falar da presidente, Dil-má anunciou que apoiava a greve dos servidores e “profetizou” que já tinha mandado seus assessores negociar.
Por volta de 8h30 da manhã, chegou o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento Sérgio Mendonça, responsável pelas negociações com os servidores federais. Sem conseguir entrar no prédio e cercado pelos manifestantes, o secretário negociou com uma comissão dos comandos de greve a entrada de sua equipe no prédio, em troca do compromisso de receber as categorias às 10 horas.
Na reunião com os comandos de greve, o secretário Sérgio Mendonça reafirmou a posição inicial do Governo em relação à greve das duas categorias estava mantida, mas que consultaria os seus superiores para que pudesse dar uma resposta dentro de um prazo de 15 dias sobre a exigência das categorias de abrir um processo de negociação.
A posição do secretário representou um recuo por parte do Governo Dilma, que se recusava a receber as categorias e através da AGU (Advocacia Geral da União) estava realizando pressão sobre as reitorias das universidades federais para cortar o ponto dos grevistas.
A luta continua
Após o término da reunião, os servidores desobstruíram o prédio e seguiram em marcha junto com os demais servidores públicos federais.
À tarde, os servidores federais se reuniram na tenda do Acampamento da Fasubra e aprovaram o seguinte calendário de mobilização:
15/05 – Dia nacional de lutas em todo Brasil
20/05 – Reunião do fórum dos Servidores Federais para discutir fortalecimento processo mobilização
12/06 – Atos nos estados, principalmente nas cidades que vão sediar jogos da Copa
No último feriado, de 01 a 04 de maio, aconteceu, na cidade do Rio de Janeiro, o 24º Congresso da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), que reuniu estudantes de mestrado, doutorado, especializações latu sensu independentes ou representados por várias APGs de universidades de todo o país.
A pós-graduação, por estar inserida na comunidade acadêmica, para além das pautas universais, apresenta pautas e demandas específicas, o que torna indispensável uma representação estudantil politizada e compromissada com o crescimento da ciência e da tecnologia. Dentre inúmeros assuntos, as principais pautas debatidas exaustivamente no Congresso foram o sistema produtivista da Capes e das outras agências de fomento, as políticas de assistência estudantil da pós-graduação, o assédio moral aos pós-graduandos, os critérios de avaliação dos programas de pós-graduação, a distribuição e valorização de bolsas e a representação discente nos órgãos colegiados, entre outras.
O Congresso deixou claro o aparelhamento a que a entidade está atualmente submetida, imposto por um grupo político despolitizado que, por ser base do Governo Federal, evita o debate, boicota o surgimento de novos grupos e tenta estipular golpes, rebaixando o debate e tentando desviar o principal foco de um evento estudantil.
Porém, no 24º Congresso da ANPG, um novo grupo de oposição surgiu. Ao contrário das calúnias descaradamente propagadas por integrantes da diretoria majoritária, o grupo de estudantes que construiu o movimento de Oposição na ANPG foi composto por pós-graduandos de várias universidades como UFMG, UFRJ, UNICAMP, UFRGS, UFSCAR, UNESP, FIOCRUZ, UFLA, UFSC, e USP São Carlos, que participaram de todos os debates, painéis e plenárias. Por apresentarem coerência política, os pós-graduandos que construíram na base documentos como a Carta de Tramandaí, Tese Após a Pós, Tese O Movimento de Pós-Graduação Precisa Avançar, Tese Rebele-se e a carta Por Que Valorizar a Pesquisa e os Pesquisadores, e outros pós-graduandos que se também estavam no congresso buscando debates produtivos e propositivos a respeito da pós-graduação, uniram-se e construíram a tese Amanhã Vai ser Maior!.
A tese Amanhã Vai Ser Maior apresenta uma detalhada análise de conjuntura e levanta questões pertinentes à pós-graduação e à pesquisa no Brasil, apontando seus principais problemas e tecendo uma análise crítica do porquê hoje passamos por tantas dificuldades na pós-graduação. Além de fazer uma proposta concreta do que deve ser o movimento para o setor de pós-graduandos e o papel que a ANPG deve desempenhar, apresenta 32 propostas concretas com a atual realidade da pós-graduação e dos pó-graduandos.
Formada dentro do espaço do Congresso pela convergência de ideias entre os pós-graduandos que hoje compõem a Oposição na ANPG, em sua primeira participação, a tese Amanhã Vai Ser Maior enfrentou o despreparo fruto do desespero e imaturidade política da diretoria majoritária, que, ao perceber a formação do campo de oposição, promoveu plenárias paralelas para tentar divulgar mentiras sobre as propostas apresentadas pela oposição, tentando boicotar o credenciamento de pós-graduandos que compõem o grupo e questionando a participação desses pós-graduandos nos espaços “oficiais” do Congresso, sendo que, no Facebook e site oficiais da entidade, todas as fotos divulgadas contam com a presença dos estudantes da oposição.
Porém, agora os tempos são outros. Mesmo com todas as dificuldades, a força, a coerência, a firmeza ideológica, a união e a combatividade dos companheiros que construíram a tese Amanhã Vai Ser Maior garantiu que esta fosse vitoriosa, conseguindo 20% dos votos dos delegados, o que garantiu à oposição seis diretorias na entidade.
Agora o movimento de pós-graduação ganha uma nova tônica, uma nova força, uma nova cara e principalmente uma nova forma de representação estudantil. A Oposição sabe que ainda tem muito o que conquistar, mas segue unida com a certeza de que amanhã vai ser maior!
Na próxima sexta (09/05), acontece no plenário da ALERJ, às 18:30h, ato em homenagem aos 90 anos da Coluna Prestes.
O evento, que contará com a presença da historiadora Anita Leocádia Prestes, é promovido pelo mandato do Deputado Estadual Paulo Ramos (PSOL), Associação Cultural José Marti, CeCac, ILCP, CEP, MST, MPA, Arma da Crítica, PCLCP, PCB e PCR.
***
Serviço:
HOMENAGEM AOS 90 ANOS DA COLUNA PRESTES
Data – 09 de maio de 2014
Hora – 18:30h
Local – Plenário da ALERJ (Rua 1º de Março, S/N, Centro, Rio de Janeiro)
Talvez nenhum artista tenha jamais conseguido revolucionar um gênero artístico de forma tão ampla e profunda como fez Beethoven. Suas inovações na forma tanto de compor quanto de ouvir música o tornaram um ponto de referência e o símbolo do que há de mais sublime e sofisticado na chamada rainha das artes, na música.
Ludwig van Beethoven nasceu em 17 de dezembro de 1770, na cidade de Bonn, Reino da Prússia (atual Renânia do Norte, na Alemanha), na segunda metade de um século conturbado, de grandes transformações. Embora Marx tenha observado que nem sempre os períodos de grande florescimento artístico estejam conformes ao desenvolvimento geral da sociedade, a época em que Beethoven desenvolveu seu trabalho testemunhou, no entanto, grandes revoluções também no campo social. Em 1776, a Revolução Americana uniu treze colônias do norte do continente americano contra o Império Britânico. Foi a primeira revolução vitoriosa contra uma potência europeia, e serviu como modelo e inspiração para outros povos colonizados. Já na Europa, em 1789, a Revolução Francesa, sob o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, incendiou todo o velho continente e foi de fundamental importância na superação do absolutismo medieval e do feudalismo.
A história de Beethoven, devido a um contexto familiar desfavorável – era filho de um pai alcoólatra e de uma mãe tuberculosa – “parece zombar abertamente dos determinismos da hereditariedade”, afirma Bernard Fauconnier, um de seus biógrafos. Ludwig deixou a escola aos 11 anos de idade. Seu pai, músico empregado no arcebispado de Colônia, queria fazer do filho uma espécie de menino prodígio, assim como Mozart havia sido quando criança, alguns anos antes. Esse projeto fracassou miseravelmente. Beethoven era apresentado como tendo dois anos menos do que realmente tinha, mas mesmo assim suas performances não impressionavam a nobreza, que chegou mesmo a dizer que ele não era “nenhum Mozart”. Seu pai, ao chegar bêbado em casa, por várias vezes tirou o pequeno Ludwig da cama durante a madrugada para treinar piano. Beethoven teve, assim, muitas razões para se afastar completamente da música quando crescesse, mas não foi esse o seu destino
Beethoven nunca foi um compositor rico. Sua condição social sempre foi a de um “gênio plebeu”, como lhe chamou certa vez o compositor russo Stravinsky. Isso porque ele escolheu não se empregar nem na igreja, nem com nenhum nobre ou príncipe, como era costume dos compositores de então. Isso lhe trouxe, obviamente, algumas tribulações financeiras, mas lhe permitiu, todavia, se manter modestamente e com a necessária liberdade criativa de que precisava.
Sinfonias revolucionárias
Beethoven recebia as notícias dos acontecimentos revolucionários – principalmente da França – com grande entusiasmo. Mas, como disse Karl Marx, a diferença entre os franceses e os alemães é que enquanto os franceses faziam as revoluções, os alemães meramente especulavam sobre elas. Por isso Beethoven se mostrou impaciente diversas vezes pelo fato de ainda não terem acontecido revoluções na Alemanha. Certa vez chegou a afirmar que “enquanto os austríacos tiverem sua cerveja e uma salsicha, eles não se revoltarão.”¹
As aspirações revolucionárias do homem Beethoven, naturalmente, se fazem sentir em grande parte de sua obra. Se é verdade que a música clássica não é de maneira alguma música para “relaxar” – uma incompreensão muito comum em relação à música clássica, já que a finalidade de nenhum tipo de obra de arte é essa – isso fica ainda mais evidente na apreciação de várias das composições de Beethoven, cujo efeito sobre o ouvinte, longe de acalmar, é de chocar.
Que alguém tente “relaxar” ouvido os vibrantes primeiros compassos de sua Quinta Sinfonia, por exemplo – que de tão imponentes receberam o nome de “o Destino batendo à porta”. Esta sinfonia, uma de suas obras mais conhecidas e que trata da Revolução Francesa (1789), tem todos os seus principais temas extraídos de canções revolucionárias.
O maestro Nikolaus Harnancourt, amplamente reconhecido por suas conduções das sinfonias do compositor, afirmou sobre essa obra: “Isso não é música; é agitação política. É algo nos dizendo: o mundo que temos não é bom. Vamos mudá-lo! Venham!”
Segundo o cientista político Alan Woods, a mensagem central dessa sinfonia é a luta e o triunfo sobre todas as dificuldades, e sua mensagem é sempre: “É necessário lutar! Nunca se renda! No final certamente venceremos!”
A propósito, os primeiros compassos da Quinta Sinfonia de Beethoven eram utilizados durante a Segunda Guerra Mundial para agrupar os franceses para lutar contra os invasores alemães, o que mostra como grandes obras de arte falam conosco através dos séculos, mesmo após suas origens terem se perdido nas névoas do tempo².
Outro exemplo desse espírito revolucionário que move as sinfonias de Beethoven está na sua Nona Sinfonia, a qual também é chamada de “Marselhesa da Humanidade”. Segundo Woods, ainda hoje a Nona Sinfonia não perdeu sua habilidade de chocar e inspirar, e expressa a voz de um otimismo revolucionário. Essa sinfonia é a voz do homem que se recusa a admitir a derrota, cuja cabeça não se curva diante da adversidade.
Surdez
Mas esse otimismo das sinfonias de Beethoven não é expressão apenas de suas posições políticas. Ele também se origina da postura do compositor diante da vida. Aos 28 anos, no auge de sua carreira, Beethoven teve o diagnóstico de que estava perdendo a audição gradativamente. Se tal doença é aterradora para qualquer ser humano, para um compositor de sua envergadura e com um futuro promissor pela frente é catastrófico. No entanto, à medida que ia perdendo a audição, Beethoven trabalhava ainda mais, compondo obras cada vez mais belas e revolucionando a arte da música. No ano de sua mais devastadora crise, por volta de 1802, ele compôs a grande sinfonia chamada Eroica³, mesmo estando à beira do suicídio.
Se considerarmos, junto com o biógrafo Bernard Fauconnier, que Beethoven já estava completamente surdo em 1818 – pois a data de sua surdez total é incerta –, então sua Nona Sinfonia, finalizada só em 1824 e considerada quase universalmente como a sua maior obra, foi composta com Beethoven não ouvindo praticamente nada do que fazia. A Nona Sinfonia tornou-se, em 2001, a primeira obra musical considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
A dialética das sonatas
Uma análise das obras de Beethoven mostra que sua música sempre se move por um conflito, por uma contradição interna. Os compositores antes de Beethoven escreviam partes calmas e partes agitadas, mas completamente separadas. Beethoven, ao contrário, passa rapidamente de uma à outra, lhe conferindo uma tensão que exige uma solução. Segundo Woods, essa é a música da luta.
A sonata, especificamente, tem uma forma básica com uma linha de desenvolvimento A-B-A, chamados na linguagem musical de exposição, desenvolvimento e recapitulação. Isso é, parte-se de um tema A, passando por B e retorna-se a A, mas em um nível mais elevado. Segundo Woods, isso é um conceito totalmente dialético. É um movimento através da contradição, da negação da negação. Usando termos filosóficos simplificados, seriam a tese, a antítese e a síntese.
Beethoven não criou essa forma da sonata. Compositores como Haydn e Mozart, anteriores a ele, já tinham composto várias sonatas. No entanto, a inovação de Beethoven nas sonatas é que até então a forma prevalecia sobre o conteúdo, mas com Beethoven o real conteúdo da sonata finalmente emerge, mostrando o mais sublime exemplo de unidade dialética entre forma e conteúdo.
Música para a posteridade
A vida de Beethoven, com muitos episódios envoltos em lendas, continua a despertar grande curiosidade. Nas últimas décadas diversos filmes, biografias e documentários fizeram novas leituras de sua vida a partir de novos ângulos. Afinal, como não querer conhecer o espírito capaz de criar obras tão belas com a Sonata ao luar ou a Nona Sinfonia? Mas foi-se o homem, permaneceu sua obra. E é sua música o que ainda tem muito a nos dizer.
Beethoven, assim como outros grandes artistas e filósofos, sabia que estava escrevendo para a posteridade. Quando os pianistas lhe diziam que suas músicas eram difíceis de executar, ele respondia: “Não se preocupe, isso é música para o futuro.” E mesmo dois séculos depois, ela continua sendo música para o futuro. Uma música que nos diz, entre tantas coisas, que é preciso não se curvar diante das adversidades, que é preciso encarar os desafios com otimismo revolucionário e prosseguir na luta por um novo mundo. Pois, como também afirma o filósofo húngaro György Lukács, a revolução burguesa, que carregava os ideais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, só será consumada pela revolução proletária. Só ela poderá instaurar de fato tudo aquilo que a revolução burguesa prometeu.
O escritor russo Máximo Górki conta que Lênin, após ouvir a sonata Apassionata (sonata nº 23, op. 57), de Beethoven, assim se expressou: “Não conheço nada mais belo do que a Apassionata, e seria capaz de ouvi-la o dia inteiro. Uma música maravilhosa, mais do que humana! Penso sempre, talvez com um orgulho infantil e ingênuo, que maravilhas os homens são capazes de criar!
Glauber Ataide, Belo Horizonte
Notas
¹Na verdade os austríacos participaram da revolução de 1848, cerca de duas décadas depois da morte de Beethoven.
²Marx já havia observado que a arte, assim como toda atividade espiritual humana, pode gozar de certa autonomia em relação à estrutura econômica, e por isso diz na Introdução da sua Contribuição à crítica da economia política: “No que diz respeito à arte, já se sabe que certas épocas de florescimento artístico não estão de nenhuma maneira conformes ao desenvolvimento geral da sociedade, nem, consequentemente, com a base material, com a ossatura, por assim dizer, da sua organização. Por exemplo, os gregos comparados aos modernos ou também a Shakespeare.”
³A sinfonia Eroica era uma das preferidas de Engels.
A participação maciça de estudantes e professores do Instituto Federal do Amazonas (IFAM), pela manhã, e do curso de Direito da Uninorte, à noite, foi mais uma demonstração do grande interesse que o tema 50 anos do Golpe Militar no Brasil tem despertado nos fóruns realizados no País. Nas palestras realizadas no último dia 30 de abril, o sociólogo Edival Nunes Cajá, ex-preso político e integrante do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco, revelou-se claramente o interesse da sociedade por reafirmar que o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) exija do Estado brasileiro a punição dos mandantes, patrocinadores e executores dos crimes cometidos pelo regime autoritário.
As atividades no IFAM foram organizadas pelo Grêmio Chico Mendes e pelo Centro Cultural Manoel Lisboa do Amazonas, com a participação na mesa de Amanda Barroso, da Federação Nacional dos Estudantes Ensino Técnico (Fenet), Wilson Reis e Amadeu Guedes, do Comitê da Verdade, Memória e Justiça do Amazonas, Acácio Carneiro, presidente do Sindipetro-AM, William Carvalho, coordenador-geral do Sinasef, prof. Davi (História-IFAM), Raimundo Luiz, diretor de ensino do campus IFAM-Centro.
Já na comunidade universitária a organização foi garantida pelo Sindicato dos Jornalistas e pelo Departamento da Faculdade de Direito (prof. João Batista), contanto também com a participação na mesa dos professores de Direito Helso Ribeiro, Márcio Rys, além de Lorrine Almeida, coordenadora do Movimento de Mulheres Olga Benário.
Antes dos debates, o auditório da Uninorte, lotado, assistiu a algumas passagens do filme “O dia que durou 21 anos”, de Camilo Tavares. Isso facilitou a compreensão dos antecedentes do Golpe de Estado de 1964 e a decisiva participação dos Estados Unidos.
Wilson Reis, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas e membro do Comitê da Verdade, disse que a ruptura social imposta pelo Golpe Militar de 1964, que durou 21 anos, pode ser medida nos dias atuais. “As violações aos direitos humanos, a negação da liberdade, a tortura e a morte instituíram a impunidade e o medo em nossa população”, apontou. “Até hoje não conseguimos pensar como um só País. A educação foi violentada, estudantes e professores perseguidos e mortos, expressões e figuras públicas do teatro e da música exilados, assim como vários políticos que pensavam diferente do Alto Comando Militar”, concluiu.
“Um evento histórico para marcar nossa instituição, pela excelência dos palestrantes, pela importância histórica do tema e pela participação dos nossos alunos”, assinalou o prof. João Batista.
Depois de enfrentamentos iniciados após uma partida de futebol, grupos favoráveis ao governo golpista de Kiev cercaram dezenas de manifestantes contrários, que tinham se refugiado no prédio da Central Sindical, e provocaram um incêndio criminoso usando coquetéis molotov. Os extremistas impediram a saída das pessoas – espancando as que tentavam fugir – enquanto incendiavam as dependências do sindicato, como pode ser visto nos videos divulgados na internet pelos próprios autores da chacina. O resultado foi 46 pessoas assassinadas, muitas das quais morreram sufocadas pela fumaça, outras queimadas, e ainda houve as que se atiraram ao vazio tentando fugir das chamas. Isto constitui, sem sombras de dúvidas, um massacre. No entanto, a mídia ocidental, que atua como um mero canal de propaganda de EUA e da Otan, sempre pronta para divulgar justificativas para guerras e intervenções “humanitárias”, não viu este massacre.
Vadim Negaturov, poeta ucraniano assassinado no massacre.
Com a clara intenção de diminuir o impacto do acontecimento, entrou em cena a “linguagem do poder”, então, em vez de ficarmos sabendo que 46 pessoas foram cercadas e queimadas vivas, foram usados artifícios como “enfrentamentos deixam 46 mortos”, ou ainda “incêndio causa mortes”, sem entrar em detalhes e ocultando ou camuflando a autoria do incêndio e tomando especial cuidado para não personificar as vítimas.
Normalmente, quando a imprensa quer nos comover com algum massacre ou com alguma tragédia natural da qual pretenda obter algum lucro político, as vítimas são humanizadas: elas têm nome e uma história, os planos truncados da vítima são apresentados detalhadamente para gerar empatia no público. Mas, em Odessa, a imprensa transformou todas as vítimas em anônimos, pessoas sem rosto, sem nome e sem história. Ninguém sabe no Ocidente, pelo menos não pela imprensa corporativa, que o poeta ucraniano Vadim Negaturov morreu ao pular do prédio da sede sindical em chamas. Ninguém sabe se ele tinha filhos, ou se ele tinha sonhos. Também não seremos informados se ficou algum poema inacabado.
Neil Clark questiona “por que o uso da força por parte das autoridades contra os manifestantes era completamente inaceitável em janeiro, mas é aceitável agora?”, Clark disse estar confuso com estas “contradições”. Nós também estamos. Por esse motivo consideramos que é imprescindível analisar como a mídia corporativa está escolhendo as palavras para mascarar o massacre. Não fizemos um levantamento sobre como a mídia brasileira veiculou a notícia, mas traduzimos dois artigos com dados importantes sobre como vários grandes veículos de imprensa internacional noticiaram o massacre de Odessa.
Por Natalia Forcat, Oriente Mídia (http://www.orientemidia.org/)
No dia 1º de maio, diversas atividades mobilizaram os/as trabalhadores/as de Campinas, interior de São Paulo, e marcaram o Dia Internacional dos/as Trabalhadores/as na cidade.
No início da manhã, aconteceu a tradicional missa do/a trabalhador/a na Catedral Metropolitana de Campinas. Ao mesmo tempo, centenas de pessoas, então concentradas no Largo do Pará, seguiram em passeata pelas ruas do centro da cidade até o Largo da Catedral. Durante a marcha, várias intervenções denunciaram a exploração do capital e os efeitos perversos da crise econômica mundial que continua a penalizar a classe trabalhadora com demissões, baixa remuneração e precarização do trabalho.
Por fim, já no Largo da Catedral, os/as trabalhadores/as realizaram um ato político. As intervenções seguiram denunciando os ataques à classe trabalhadora e o descaso com o povo, dando destaque ao Projeto de Lei nº 4330, que pretende legalizar a terceirização em todos os setores, ao bilionário gasto público com a Copa da Fifa e ao pagamento da dívida pública em detrimento de serviços sociais, e à negligência da prefeitura de Campinas frente ao caos na saúde, permitindo que a população campineira sofra a maior epidemia de dengue da história, com mais de 17 mil casos da doença em quatro meses.
Com a chamada “1º de Maio Sem Patrões e Sem Governo”, o ato unificou centrais sindicais, sindicatos, partidos e movimentos sociais organizados, ressaltando as seguintes bandeiras: redução da jornada sem redução dos salários; reforma agrária e urbana; fim do fator previdenciário; desmilitarização da Polícia Militar; estatização do sistema de transporte público; contra a criminalização dos movimentos sociais.
Evidenciando a exploração sofrida pela classe trabalhadora e as lutas travadas em nome de melhores condições de trabalho, o 1º de Maio permite enxergar que, enquanto houver capitalismo, os direitos dos/as trabalhadores/as estarão sob constante ameaça. Para conquistar o respeito e a dignidade que lhes são de direito, os/as proletários/as precisam acabar com todas as formas de exploração do homem pelo homem. Portanto, é preciso indicar o caminho: a luta da classe trabalhadora deve ser a luta pelo socialismo!
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