UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 14 de novembro de 2025
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Transformação do antigo DOPS/RJ em espaço de memória da resistência

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Ato em frente ao prédio do DOPS 01Diversas organizações políticas e entidades ligadas aos direitos humanos, como o Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça, a Anistia Internacional, o Fórum de Reparação e Memória do Rio de Janeiro, o Grupo Tortura Nunca Mais, o Levante Popular da Juventude e o PCR (Partido Comunista Revolucionário), lançaram no último dia 13 de dezembro, quando se completou 45 anos da publicação do AI-5, uma campanha pela transformação do prédio do antigo DOPS/RJ em espaço de memória da resistência.

Com o lema “Ocupar a memória para não esquecer a nossa história”, a campanha se soma a antigas iniciativas e ao esforço no mesmo sentido da Comissão Estadual a Verdade (CEV-Rio) e quer ganhar a opinião pública para a necessidade de se construir no local um espaço comprometido com a memória da resistência e das lutas sociais, e que explicite a relação entre as violações cometidas pelo Estado no passado e no presente, estimulando medidas que impeçam a repetição de tais práticas.

“É preciso transformar o prédio em um espaço voltado para as políticas de Direitos Humanos, de modo que seja dinâmico e exclusivo, congregando a produção, guarda e circulação de informações, documentações, acervos, projetos e propostas voltadas ao direito à memória, verdade e justiça”, afirma o manifesto lançado no ato, que aconteceu no Centro Cultural da Justiça Federal, no centro do Rio de Janeiro.

O prédio do antigo Departamento de Ordem Política e Social no Rio de Janeiro foi inaugurado em 1910 como sede da Repartição Central de Polícia. Ao longo dos anos foi local de tortura e ficou conhecido como centro de repressão às manifestações políticas e culturais de caráter popular. Lá foram presos nomes como Olga Benario, Luiz Carlos Prestes, Graciliano Ramos, Carlos Marighella e João Figueiró, atualmente militante do PCR, além de pessoas ligadas à cultura e à religião afro-brasileira.

Hoje, o prédio encontra-se abandonado, com vários documentos importantes literalmente entregues às baratas. A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, que administra o local, afirma querer criar lá um museu da corporação.

Na cerimônia de posse da Comissão Estadual da Verdade, o governador Sérgio Cabral (PMDB) se comprometeu publicamente a atender a reivindicação de transformar o edifício em centro de memória, mas até agora nenhum passo foi dado nesse sentido por parte do governo.

Diante disso, as entidades e organizações a frente da campanha já preparam uma série de atividades com vistas à conquista do prédio, entre elas uma ocupação cultural do espaço, nos próximos dias 21 e 22 de março, onde pretende-se reunir centenas de ex-presos políticos, familiares de mortos e desaparecidos durante a Ditadura, artistas e militantes dos movimentos sociais do Rio de Janeiro. Essa será apenas uma das muitas atividades que estão sendo organizadas para “descomemorar” o golpe civil-militar de 1964 e reafirmar a necessidade de políticas de não repetição de crimes e violações dos direitos humanos como os cometidos durante a Ditadura e que ainda hoje estão impunes.

Redação Rio

Um rolezinho de puro preconceito

rolezinho_repressão_em_shoping_de_São_PauloDurante os meses de dezembro e janeiro os rolezinhos tornaram-se assunto de conversa entre os brasileiros, uma vez que tomaram características de manifestação de resistência, principalmente após a repressão policial que ocorreu nos shoppings de São Paulo.

Os shoppings são o centro da propaganda do consumismo, onde famílias e amigos reúnem-se para divertir-se, seja na praça de alimentação ou numa sala de cinema. É uma verdadeira festa do capital, onde quem tem mais tem direito a divertir-se mais.

Porém, a juventude pobre, que geralmente pouco tem, também quer participar dessa diversão, e dessa forma marca encontros nesses centros de consumismo, encontros que foram caracterizados como um “rolezinho”, já que se eles não podem “ostentar” dentro das lojas, fazem isso nos corredores, com muito funk, brincadeira e animação.

Esta atividade poderia ser algo considerado comum, já que eventos bem parecidos também são realizados com a parceria dos administradores dos shoppings e donos das lojas. São os flash-mobs e os trotes universitários. Como denunciou manifesto do Centro Acadêmico da Faculdade de Educação, Administração e Contabilidade da USP, esses eventos são organizados todos os anos durante a calourada e reúnem centenas de jovens no Shopping Eldorado, fazendo barulho e subindo nas mesas. O manifesto provoca: “Se os eventos são similares, o tratamento deve ser o mesmo, independentemente de quem os frequentem”.

Uma expressão da luta de classe

Para a sociedade capitalista, a diferença está na cor e na classe social. Enquanto os jovens ricos e brancos podem fazer muito barulho em qualquer espaço, os jovens negros e pobres são marginalizados e criminalizados. A Polícia Militar vem mostrando que está aí para perpetuar tal preconceito, já que desde dezembro tem agido em favor dos ricos e reprimido a diversão dos pobres nos shoppings, agredindo, ameaçando e prendendo, qualquer jovem pobre e negro que ouse romper com o padrão de shopping center estruturado pelas elites. O mesmo tipo de tratamento que a polícia está acostumada a dar a esses jovens nas favelas, onde o xingamento e o tapa na cara são rotineiros.

Como se não bastasse a juventude das periferias já ser explorada por falta de um trabalho que a remunere de forma digna, pela ausência de uma educação de qualidade e de um sistema de saúde que as contemple e por anualmente ser excluída das universidades, agora está tendo seus espaços de locomoção limitados pelas regras ditatoriais e de higienização de uma grande elite. Regras semelhantes ao apartheid sul-africano.

Para as elites a propriedade privada deve ter limites claros para esta parcela da população, caso contrário o povo vai entender cada vez mais que não pode obter a maior parte do que produz com seu trabalho.

É preciso questionar e analisar que o grito desses jovens vai para além dos muros dos shoppings; esses só querem poder ter o mesmo direito que os jovens de classe média têm, só querem poder ver os seus sonhos se realizarem.

Cansados de verem os jovens brancos e a grande mídia esfregar em suas caras a falta de oportunidade e as poucas esperanças que a sociedade lhes dá, parecem dispostos a enfrentar toda tentativa da burguesia de higienizar os espaços não só privados, como públicos. Parecem não aceitar mais o fato de, em seus encontros, muitos jovens serem presos sem qualquer motivo, além do constrangimento que são submetidos pelos seguranças particulares dos shoppings, que não evitam qualquer chance de bater nesses jovens e ameaçá-los com armas, detê-los e levá-los para averiguação.

Pelo jeito, a burguesia pode esperar, porque o rolezinho vai se nacionalizar.

Thiago Vidal e Rafael Cantuária, militantes da UJR – RJ

Ato sindical “Unidos, Jamais Vencidos” homenageou trabalhadores e sindicalistas vítimas do regime militar

ato_sindical_cvPromovido pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), por meio de seu Grupo de Trabalho: Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical, o ato rememorou mais de 400 trabalhadores perseguidos ou/e mortos no período de 64 a85, no Brasil.

As dez centrais sindicais que participam do GT estiveram presentes na solenidade e realizaram suas intervenções prestando homenagem a centenas de trabalhadores perseguidos.

João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, em uma fala emocionada, lembrou da autorização feita pela CNV para a exumação do corpo de Jango e afirmou que ” e exumação não deve ser só do corpo de meu pai, mas de toda reforma de base do nosso país”.

Rosa Cardoso, advogada e representante da CNV no ato, elencou a importância de se prestar homenagens aos trabalhadores e a entidades sindicais, pois é principalmente pelos sindicatos que o povo se interessa e começa a participar da política.

Nas intervenções de alguns sindicalistas presentes, foi destacada a ação das grandes empresas e corporações que sustentavam financeiramente e com estruturas a Ditadura Militar, fazendo memória de que estas também são responsáveis pela repressão política sofrida pelos trabalhadores, já tão explorado por elas em seus empregos.

Redação São Paulo

Novo Clipe do MC Demo

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MC Demo, de Recife-PE, lançou um novo Web Clipe com sua música “Vandalismo”. Confira

Pistoleiros do massacre de Felisburgo são condenados

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Massacre Felisburgo justiçaApós nove anos do Massacre de Felisburgo, mais dois réus foram julgados e condenados. A decisão do 2º Tribunal do Júri do Fórum Lafayette em Belo Horizonte aconteceu em 24 de janeiro, quando o juiz Glauco Eduardo Soares Fernandes anunciou a pena de 102 anos e seis meses de prisão para os dois pistoleiros, Francisco de Assis Rodrigues de Oliveira e Milton Francisco de Souza pelos crimes de homicídio, tentativa de homicídio e incêndio durante a invasão do acampamento Terra Prometida, em Felisburgo, no Vale do Jequitinhonha, norte de Minas Gerais.

Para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra (MST), o julgamento e a condenação dos pistoleiros é uma grande vitória da luta pela direito à terra no Brasil, um importante passo que traz um sentimento de justiça aos trabalhadores rurais e camponeses em toda a região, marcada por inúmeros conflitos agrários. Os dois pistoleiros são os únicos assassinos que ainda vivem na região.

Com medo de retaliação e pelas ameaças constantes vivdas pelos trabalhadores rurais, a direção estadual do MST exige a imediata prisão dos condenados. A preocupação é muito justa já que em outubro de 2013, o mandante do massacre e réu confesso, Adriano Chafik foi condenando a 115 anos de prisão por ter participado diretamente do ataque ao acampamento Terra Prometida. Além de Chafik, o capataz Washington da Silva foi condenado a 97 anos e seis meses de cadeia. Mas ambos estão em liberdade aguardando o julgamento dos recursos.

Histórico do Massacre

O Massacre de Felisburgo aconteceu no dia 20 de novembro de 2004 no acampamento Terra Prometida, na fazenda Nova Alegria, no município de Felisburgo. Na ocasião, cinco trabalhadores rurais foram assassinados e outras 12 pessoas, entre elas uma criança de 12 anos, ficaram feridas. Além disso, 27 casas e uma escola foram incendiadas. As famílias Sem Terra, vítimas do massacre montaram acampamento na fazenda Nova Alegria em 2002. No mesmo ano, 567 dos 1.700 hectares da fazenda foram decretados pelo Instituto de Terras de Minas Gerais (ITER) como terras devolutas, ou seja, área do Estado que deveria ser devolvida para as famílias acampadas e transformado em assentamento de Reforma Agrária.

O julgamento desses criminosos e a consequente condenação representam uma vitória do movimento popular que luta contra a criminalização das lutas sociais no Brasil e a impunidade.

Fernando Alves, Minas Gerais

Vacina contra HPV será disponibilizada pelo SUS

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vacina hpvO Governo Federal lançou no 20 de janeiro, campanha nacional que incorporará ao Sistema Único de Saúde a vacina de imunização contra o Papiloma Vírus Humano, conhecido como HPV. A campanha de combate ao vírus iniciará no dia 10 de março e tem como meta imunizar este ano 5,2 milhões jovens de 10 a 13 anos em todo o país. Em 2015, meninas de 9 e 10 anos também serão incorporadas à campanha de imunização. A eficácia da vacina é comprovada em mulheres que ainda não iniciaram sua vida sexual e, portanto, não tiveram contato com uma dos mais de 100 tipos de HPV existentes.

As meninas só poderão ter acesso à vacina se obtiverem autorização de pais ou responsáveis e o processo de imunização se dá em três doses com cerca de dois meses de intervalo entre eles. O objetivo da campanha é preventivo e não substitui a necessidade de exames periódicos, acompanhamento ginecológico e de educação sexual.

Sendo assim, a luta pela disponibilização da vacina para as meninas de todas as regiões do país deve ser constante e aliada à já histórica luta pela disponibilização de acompanhamento ginecológico e especializado de todas as mulheres do país.

Alguns especialistas temem que a campanha esbarre no machismo ainda existente na sociedade e que se reproduz no seio familiar. É preciso ultrapassar o tabu pois, algum dia, elas iniciarão sua vidasexual e também estarão sujeitas à contaminação por doenças transmissíveis pelo ato sexual, como o HPV, ou outro vírus.

A disponibilização gratuita da vacina por parte do Estado é uma importante vitória para as mulheres brasileiras, tendo em vista que o câncer de colo de útero, que tem como uma de suas maiores causas o desenvolvimento do HPV, é uma das doenças que mais mata mulheres. Porém, ainda persiste em nosso país a dificuldade de acesso de mulheres e jovens a espaços de educação sexual e planejamento familiar, bem como é muito difícil para aquelas oriundas das camadas mais pobres terem acesso à métodos de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e à exames de acompanhamento ginecológico.

A inexistência de centros de especialidades médicas com capacidade de absorverem mulheres mais pobres em diversas regiões afastadas dos grandes centros é ainda uma realidade e dificulta o acompanhamento da saúde dessa parcela da sociedade. O Movimento de Mulheres Olga Benário segue na luta constante pela implementação de programas e estruturas concretas que beneficiem a prevenção e o cuidado com a saúde das mulheres trabalhadoras de todas as regiões do país.

Raphaella Mendes, Movimento de Mulheres Olga Benário

Gama Filho e UniverCidade: federalização já!

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ato Ugf e UC 2Nas últimas semanas, ganharam grande destaque nos noticiários as manifestações dos estudantes de duas das mais tradicionais universidades privadas do Rio de Janeiro, a Universidade Gama Filho (UGF) e o Centro Universitário da Cidade (UniverCidade).

Há dois anos, estudantes, funcionários e professores dessas instituições enfrentam diversos problemas, em especial aumentos sucessivos nas mensalidades, demissões em massa e fechamento de unidades. A empresa responsável pela gestão das duas universidades, o Grupo Galileo Educacional, é acusado de lavagem de dinheiro, apropriação indébita de recursos públicos e sonegação de impostos.

Até agora o Ministério da Educação (MEC) não conseguiu dar uma resposta satisfatória para os estudantes e, recentemente, buscando o caminho do menor esforço, anunciou o descredenciamento das duas universidades e a transferência assistida de todos os alunos, deixando mais de 13 mil estudantes sem saber como e onde irão concluir seus cursos.

Em resposta, mais de dois mil estudantes da Gama Filho e da UniverCidade, organizados por seus DCE’s e Centros Acadêmicos, e com o apoio da UNE, da UEE-RJ e dos DCE’s de outras universidades, com a UFRJ e a UNISSUAM, foram seguidas vezes às ruas do Rio de Janeiro denunciar a mercantilização da educação e exigir a federalização das duas universidades, bem como a responsabilização do Grupo Galileo Educacional. Até um acampamento em Brasília foi montado para cobrar do MEC uma saída para o problema.

É grande a dívida histórica que nosso país tem com a educação, principalmente quando o assunto é o ensino superior, onde quem manda são os chamados tubarões da educação. De fato, atualmente, pouco mais de 6,7 milhões de jovens são universitários, sendo a maioria (74%) estudantes de instituições privadas.

Os quatro maiores grupos econômicos do setor da educação superior (Anhanguera, Kroton Educacional, Estácio Part e SEB) possuem juntos ações avaliadas em mais de R$ 1,8 bilhão. A crescente presença do capital estrangeiro e a monopolização da educação superior são as principais ameaças à boa formação dos estudantes, pois encaram a educação como mera mercadoria. Por isso, é preciso pôr fim ao controle do capital sobre a educação e estatizar todo o ensino do país.

Os casos da Gama Filho e da UniverCidade são apenas a ponta do iceberg. É urgente regulamentar o ensino pago, proibir a entrada de capital estrangeiro no setor e exigir das universidades privadas a prática de ensino, pesquisa e extensão, a transparência na gestão financeira e a proibição de aumentos abusivos nas mensalidades, caso contrário, assistiremos cada vez mais estudantes tendo seu futuro ameaçado para saciar a fome de lucros dos tubarões da educação.

GabryelHenrici, diretor da UEE-RJ e militante da UJR

Aumentam casos de violência contra LGBTT no Brasil

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MarleneVivemos numa sociedade que enfrenta profundas contradições no que diz respeito aos direitos da população LGBTT. Se por um lado, o Brasil tem a maior parada gay do mundo, por outro, a transhomofobia cresce em escalada no país. Embora a luta da população LGBTT tenha garantido importantes avanços legislativos – como o reconhecimento do Supremo Tribunal Federal da união estável entre pessoas do mesmo sexo – a intolerância ao “diferente” ainda discrimina e mata centenas de homossexuais, travestis e transexuais brasileiros. A palavra transhomofobia significa repulsa ou ódio contra transexuais e homossexuais. Podemos entender a transhomofobia, assim como outras formas de “fobia”, como a atitude de colocar outro ser humano numa condição de inferioridade, nesse caso, baseado na idéia de que só pode haver um tipo de expressão para a sexualidade humana: a da heterossexualidade. Segundo relatório divulgado pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH) em junho de 2012, os casos de violência física e psicológica contra homossexuais cresceram 46,6% no período de um ano. Só no ano passado, foram contabilizadas 310 mortes (desconsiderando os casos “subnotificados”) por motivação homofóbica no país, colocando o Brasil em primeiro lugar no ranking dos países mais inseguros para a comunidade LGBTT.

Marlene Xavier é professora da rede pública, fundadora da ACIV – ASSOCIAÇÃO SOCIOCULTURAL IGOR VIVE e mãe orgulhosa de sete filhos: quatro homossexuais, duas travestis e uma transexual. Marlene sentiu na pele os efeitos da intolerância transhomofóbica quando um de seus filhos foi brutalmente assassinado por assumir sua homossexualidade. Igor Leonardo Lacerda Xavier foi morto no dia primeiro de março de 2002, em Montes Claros – MG. Igor era bailarino, professor e um artista talentoso em franca ascendência na cidade. O assassino confesso, que declarou ”detestar homossexuais” é o fazendeiro Ricardo Athayde Vasconcelos, que contou com a participação do seu filho Diego Rodrigues Athayde e seu irmão Márcio Athayde Vasconcelos. Por falta de leis específicas que criminalizem a homofobia e pela influência política da família dos acusados em Montes Claros, onze anos da morte de Igor se passaram para que Marlene pudesse ver os assassinos confessos de seu filho serem julgados. Em entrevista exclusiva ao jornal A Verdade, Marlene fala da luta contra o preconceito e das ações da entidade na defesa dos direitos das minorias.

Como iniciou a sua trajetória na luta contra o preconceito?

O início dessa trajetória de luta contra o preconceito ocorreu bem antes do trágico acontecimento com Igor. Logo que percebi que meus filhos eram homossexuais, tratei de aconselhar e acompanhar a trajetória deles, garantindo o direito ao estudo enquanto pude, procurando me aproximar dos seus amigos para melhor orientá-los e desvia-los de possíveis perigos. Depois da perda do meu filho, isso deixou de ser uma luta solitária e passei a me ingressar nas entidades que lutam pela igualdade dos direitos humanos aos menos favorecidos.

Como acha que a homossexualidade é vista no Brasil?

A meu ver, a homossexualidade ainda é vista no Brasil com bastante preconceito, isso se percebe no crescimento da violência contra as pessoas com orientação sexual diferente.

Em sua opinião, o que gera este tipo de preconceito?

Esse preconceito é gerado pelo machismo, pela própria família que não aceita o filho “diferente”, pelo descaso do governo em aprovar leis que protegem essas pessoas, pela falta de políticas públicas para combater o preconceito.

Que medidas você acha que os governos podem implementar, em termos de políticas públicas, para combater a homofobia?

Várias medidas poderiam ser tomadas pelos governos no combate à homofobia. Por exemplo, aprovar o kit contra a homofobia nas escolas, adicionar ao currículo escolar matéria que ensine o respeito ao diferente, ministrar cursos para que os professores saibam lidar com naturalidade a questão do preconceito, abrir nas escolas um canal de comunicação onde possa ser disseminado informações e atividades artístico-culturais, com a participação de toda a comunidade escolar.

Os assassinos de Igor foram julgados. A justiça foi feita?

Com respeito à justiça no caso Igor, essa foi feita pela metade. Os assassinos foram julgados e condenados. Mas infelizmente a legislação brasileira é arcaica, com um código penal definido pelo ministro César Peluso como lento, ineficiente, danoso e perverso que permite o abuso pelo qual assassinos que praticaram crimes hediondos possam recorrer em liberdade quando deviam estar cumprindo pena em regime fechado.

O que é a ACIV e por que ela foi criada?

Fundei em 2008 a ACIV – ASSOCIAÇÃO SOCIOCULTURAL IGOR VIVE, cujo principal objetivo foi a luta por justiça no caso Igor Xavier, além de procurar a garantia dos direitos humanos das comunidades LGBTT. Outro objetivo de cunho social é ministrar oficinas de arte-educação em escolas da periferia de Montes Claros, tendo como público alvo crianças, adolescentes e jovens carentes, com foco nos que tem orientação sexual diferente, com a intenção de promover a socialização dos mesmos e ajudar as famílias no enfrentamento do preconceito.

Apesar das conquistas no campo dos direitos, a diversidade sexual ainda enfrenta preconceitos e a população LGBTT ainda tem muito que conquistar. Há um longo caminho a percorrer em direção a um país que, de fato, respeite formas de ser e viver diferentes daquelas culturalmente impostas. Que exemplos como o de Marlene sejam combustível para a construção de uma sociedade mais justa e consciente de que respeitar a diversidade sexual é respeitar a diversidade humana.

Daniela Abreu, Minas Gerais

Chuvas e enchentes: causa natural?

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chuva rio de janeiro 11 de dezembroNo último dia 11 de dezembro, uma forte chuva caiu no Rio de Janeiro, desalojando e desabrigando centenas de pessoas. Houve alagamentos em várias partes da cidade, mas Acari/Fazendo Botafogo foram as áreas mais afetadas.

Pelas ruas o caos: trânsito parado, ruas inundadas e metrô também parado. Os moradores olhavam tal situação atônitos. Com toda a dificuldade encontrada, tendo suas casas alagadas, moradores corriam para socorrer outros vitimados. As águas passavam de três metros em alguns lugares. A criatividade e força de resistência estiveram presentes. Pondo sua vida em risco, o povo usava desde caixa d’água até isopor para ajudar a população ilhada. Quando a água baixou, deu para ver o estrago: móveis, alimentos e roupas, tudo foi para o lixo.

Não perdendo tempo, o povo organizado logo foi recolher mantimentos e roupa para os necessitados. Uma sopa foi feita e distribuída pelas ruas de Acari. O povo não se abateu diante da tragédia. Foi por toda a solidariedade popular que mortes foram evitadas. Ouvia-se protestos de populares contra os governos, que privilegiam áreas centrais da cidade, gastando rios de dinheiro, vendo a Copa e Olímpiadas como alvo de sucesso para os ricos. A chuva é natural, mas toda a situação de descaso é culpa do sistema capitalista.

A construção da nova sociedade não é obra de outro senão dos operários. Por isso, não desistiremos de alargar nossas fileiras e conscientizar o povo.

Joseílton Soares, militante do Movimento Luta de Classes/RJ

Ex-presos políticos reconhecem local de tortura na Vila Militar

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A comitiva que esteve no dia 23 de janeiro de 2014 na Vila Militar, em Deodoro (RJ), foi recebida com “muita cordialidade”, segundo as palavras de Rosa Cardoso, membro da Comissão Nacional da Verdade. Tratamento diferente do que os ex-presos políticos, que acompanharam a visita, receberam 40 anos atrás, quando foram presos.

O objetivo da visita foi tentar reconhecer, apesar das inúmeras mudanças pelas quais o lugar passou, as celas e as salas de tortura. A diligência contou também com os membros da Comissão da Verdade do Rio, João Ricardo Dornelles e Eny Moreira, e Manoel Moraes, da Comissão da Verdade de Pernambuco.

Saiba mais no site da CNV: http://bit.ly/1blgSV9

Prisão de vice em protesto expõe racha da UNE

Prisão de vice em protesto expõe racha da UNEApesar da posição favorável da UNE à realização da Copa no Brasil, a 1ª vice-presidente da União Nacional dos Estudantes, Katerine Oliveira, de 23 anos, foi detida durante o protesto contra a realização da Copa do Mundo no Brasil realizado no sábado, 25 de janeiro, no centro de São Paulo.

Katerine Oliveira participa do grupo Rebele-se, um dos coletivos de oposição à atual direção da entidade. Ao contrário da posição oficial da UNE, o grupo se coloca contra a realização da Copa da forma como está sendo feita: os gastos são considerados abusivos e mal coordenados. “Em dez anos, foram feitas duas reformas no Maracanã” exemplifica a vice-presidente, em entrevista à CartaCapital. E emenda: “eles chegaram a postar na página da UNE uma mensagem defendendo o trabalho voluntário durante a Copa. Achamos que a instituição não deveria se prestar a isso.”

Normalmente a UNE apoia as ações do governo federal. O Ministério dos Esportes é presidido por Aldo Rebelo, do PCdoB, partido domina a UNE há cerca de duas décadas e tem entre seus filiados sua atual presidenta, Virgínia Barros, de 27 anos. Virgínia defendeu a realização do evento e diz que na UNE discute-se, contando com os diversos coletivos, o legado deixado pela Copa, que na sua visão é positivo. “Falamos do legado social da Copa, que vem promovendo a criação de cidades melhores. Não temos uma visão unilateral do evento, vemos como uma oportunidade para o País.” Quanto à oposição dentro da UNE, Virgínia reforça que a instituição é formada por diversos coletivos, e que as articulações se dão sempre por encontros, debates e votações.

Virgína diz que a UNE condena a detenção de sua vice-presidente Katerine e a ação da polícia em protestos, independente da pauta dos mesmos. “Defendemos a desmilitarização da polícia e também repudiamos a criminalização de movimentos sociais. As manifestações são legítimas e, neste caso, fica claro o despreparo da polícia em lidar com isso.”

A UNE teve em uma semana três prisões de seus membros. Além de Katerine, dois diretores, Mateus Weber e Igor Mayworm, foram detidos pela polícia por estarem acampados em frente ao Palácio do Planalto, em protesto quanto ao descredenciamento, acontecido no dia 13 de janeiro, das universidade Gama Filho e da UniverCidade.

Ação policial

Katerine narrou os acontecimentos de sábado, quando foi detida. Junto a um grupo de outros manifestantes, ela entrou em um hotel na Rua Augusta para se proteger das bombas de efeito moral e balas de borracha que estavam sendo lançadas pela polícia. O recepcionista do hotel acabou permitindo que os jovens ficassem por lá até que a situação se acalmasse.

No entanto, a polícia entrou no estabelecimento e, com ameaças, obrigou os manifestantes a se agacharem. “Não quebramos nada na recepção. Os policiais gritaram e usaram insultos para coibir os manifestantes, que não reagiram em nenhum momento. Um deles chegou a dizer ‘Levanta, vadia’ para uma das meninas. O comandante era o mais alterado, e ele não tinha nenhuma identificação” diz Katerine, que viu apenas um dos policiais utilizando o nome no uniforme.

O que chamou a atenção de Katerine foi a insistência em apagar qualquer registro que pudesse ter sido feito. Aos manifestantes, ela conta, foi pedido que entregassem os celulares ou câmeras, enquanto eram apagadas as filmagens e os aparelhos desligados. “Ouvi os policiais perguntando ao recepcionista aonde ficavam as câmeras de segurança. Não sei se elas foram apagadas, mas ouvi perguntarem por elas. Percebi que estavam preocupados com as gravações”.

O grupo de Katerine foi encaminhado a 78º DP dos Jardins para fazer ocorrência. Às 3 da manhã, estavam liberados. Um rapaz de 22 anos, Fabrício Proteus Nunes, que não estava no grupo de Katerine mas participava da manifestação, está em estado grave na Santa Casa, em Higienópolis, depois ser atingido por três tiros disparados por um policial. Oficialmente, a PM alega legítima defesa na ação.

Fonte: Carta Capital