UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 14 de novembro de 2025
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A revolução não será televisionada – O golpe na Venezuela

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Documentário de Kim Bartley e Donnacha O’Briain sobre sobre o golpe ocorrido na Venezuela em abril de 2002. O golpe foi consumado, pois não houve resistência de Chaves que foi preso. Mas as manifestações e o apoio de militares fiéis ao país enfraqueceram os golpistas, e Chaves retornou ao governo. Participação clara da midia privada, empresários e militares oposicionistas no golpe, além de declarações do governo americano de apoio ao golpe na Venezuela.

Ato na Casa da Morte reivindica transformação do espaço em Centro de Memória

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Ato na Casa da Morte 02Dezenas de militantes do movimento social se reuniram em manifestação na cidade histórica de Petrópolis (Rio de Janeiro) com um objetivo: reivindicar a transformação de um dos principais centros de tortura da ditadura brasileira, a Casa da Morte, em espaço de memória.

O ato, organizado pelo Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça junto a várias outras entidades e partidos signatários se reuniu na praça D. Pedro no centro da cidade. A agitação ficou por conta da articulação de jovens do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis, que cantaram diversos funks e músicas revolucionárias como A Internacional. Várias foram as falas relembrando os heróis que resistiram à tortura e deram suas vidas pela liberdade do povo e uma nova sociedade. Foi destacada também a importância de seus exemplos para o povo e as lutadoras e lutadores dos dias de hoje. Os manifestantes também convocaram a população a participar do ato e se integrar aos grupos de debate e às lutas na cidade, em especial a criação do Centro de Memória.

Ato na Casa da Morte 03A Casa da Morte foi um espaço extra-oficial criado pela ditadura para exercer as mais bárbaras torturas. Segundo relatos de militantes da época e também de agentes da repressão, por lá podem ter passado nomes como o de Honestino Guimarães, Heleny Guariba, Fernando Santa Cruz, entre outros.

No jardim da Câmara Municipal o ato foi encerrado com várias cruzes de madeira sendo enterradas, simbolizando os verdadeiros heróis do povo brasileiro. A criação deste, e de outros centros de memória nos locais utilizados pela ditadura para exercer sua violência contra o povo é um passo importante na luta pela afirmação da memória, da verdade, e da conquista de justiça, com a punição de todos os responsáveis por este período da história brasileira. Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.

Redação RJ

Violência na internet e machismo matam mulheres no Brasil

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Julia suicidou após ser exposta

Os avanços tecnológicos garantiram incríveis possibilidades de rápida circulação de informações e de realização de diversas ações. Cada vez mais pessoas têm acesso à internet, smartphones e aplicativos de interação como redes sociais. No Brasil, estima-se que cerca de 75% dos jovens acessem pelo menos uma rede social a cada três dias.

As redes sociais, ao passo que aproximam pessoas separadas por longas distâncias, também afastam as reais relações, expõem a vida e a intimidade de muitos. O fenômeno que ficou conhecido como ‘Sexting’, o ato de divulgar conteúdos eróticos ou sensuais através de celulares, tem sido praticado em diversos países do mundo e chegou também a Brasil. Vale ressaltar que, mesmo com o avanço da tecnologia e a transformação do modo com o qual as pessoas procuram se relacionar, ainda prepondera a cultura misógina, de ódio à figura feminina, bem como o machismo. Muitos usuários têm se valido do anonimato e da dificuldade de identificação, protegidos por políticas de privacidade, para praticar agressões e assédio a mulheres e crianças.

A cada dia crescem as denúncias de vítimas do ‘Sexting’, pessoas que tiveram sua intimidade devastada ao serem expostas em atos sexuais ou fotos íntimas, compartilhadas por milhares de pessoas em poucos minutos. A rede SaferNet Brasil, que oferece gratuitamente orientação sobre perigos do mundo digital, mantém uma linha de atendimento par auxiliar vítimas de crimes virtuais. O ‘HelpLine’ da entidade registrou, nos primeiros três meses de funcionamento, menos de dez casos de ‘Sexting’, entretanto, entre junho e setembro de 2013, o número de solicitações aumentou em mais de duas vezes, chegando ao pico de mais de 20 pedidos de ajuda em apenas um mês. Setenta por cento das vítimas desse tipo de crime registrado neste período eram mulheres.

A morte de duas jovens brasileiras, uma do Rio Grande do Sul e outra do Piauí, trouxe para o centro do debate, no mês de combate à violência contra as mulheres, este crime virtual. Ambas suicidaram após terem sido expostas na internet em vídeos nos quais praticavam atos sexuais. Nos dois casos suspeita-se que os ex-namorados tenham sido responsáveis pelo vazamento dos materiais.

As mulheres vitimadas por vinganças pornográficas praticadas por ex-namorados ou maridos inconformados com o término da relação, até hoje encontram dificuldades para que os agressores sejam punidos. O machismo recai sobre elas que acabam sendo responsabilizadas por terem cedido à produção de material em momentos de intimidade. As duas mortes das adolescentes ajudaram a engrossar o coro de quem cobra das autoridades maior rigor nas investigações e punições exemplares para homens que pratiquem este tipo de agressão e assédio.

Em maio do ano passado o Deputado Federal João Arruda (PMDB/PR) apresentou o Projeto de Le 5555/2013 que ficou conhecido como ‘Lei Maria da Penha Virtual’ que prevê que este tipo de crime seja enquadrado como violência doméstica e familiar. Diversas emendas já foram propostas, como a do Deputado Romário (PSB/RJ) que propõe a tipificação desta conduta como crime no código penal.

O fato é que o machismo tem vitimado mulheres e jovens em todas as esferas. As mulheres do Brasil e do mundo lutam para que todos os tipos de violência machista e misógina sejam punidos com rigor e que o Estado assuma para si as responsabilidades que lhe cabem na garantia que estas práticas sejam eliminadas.

Raphaella C. Mendes, Movimento de Mulheres Olga Benario

Privatização pode gerar racionamento de água em São Paulo

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cantareira

Milhões de moradores da região metropolitana de São Paulo estão ameaçados pelo racionamento de água. O sistema Cantareira, reservatório que atende mais de 30 municípios da região, atingiu no dia 16 de fevereiro apenas 18,5% de sua capacidade total. A estiagem e as fortes temperaturas contribuíram para a queda nas reservas de água, mas mesmo as chuvas dos últimos dias não foram capazes de fazer o nível dos reservatórios subir.

A Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo, Sabesp, é a empresa responsável pelos serviços de água e tratamento de esgoto em mais de 300 municípios do Estado. É uma empresa de capital aberto e tem quase a metade de seu capital acionário privatizado. O governo do Estado administra a empresa de maneira indireta, por ser detentor da maioria das ações, mas são os interesses do mercado e do lucro os que determinam os destinos da companhia.

No setor do saneamento, a privatização vem disfarçada sob duas políticas que se completam, a Terceirização e a Parceria Público-Privada.

A Terceirização é aplicada em larga escala na Sabesp. A empresa que já teve mais de 30 mil funcionários, hoje, para atender um número muito maior de municípios, tem um quadro de trabalhadores pouco maior que 15 mil. As empresas terceirizadas contratadas para prestar serviço em nome da Sabesp são responsáveis pelos serviços com pior avaliação e, na busca por lucros, precarizam a situação de seus trabalhadores e limitam a qualidade dos equipamentos instaladas.

A Parceria Público-privada – PPP, desde que foi legalizada e impulsionada pelo governo federal, é a forma de privatização mais aplicada pelo governo Alckmin. A Sabesp participa de duas grandes Parcerias Público-privadas para a construção de sistemas de fornecimento de água, são as PPP´s Alto Tietê e São Lourenço. Construtoras como a Andrade Gutierrez e Camargo Correa são as maiores beneficiadas por essas ditas Parcerias.

A verdade é que a direção da Sabesp e o governo do Estado transformaram o essencial serviço de fornecimento de água em uma mercadoria, utilizada para gerar lucros aos capitalistas na Bolsa de Nova Iorque. A empresa é altamente lucrativa (lucro líquido de R$ 1,9 bilhão em 2013), mas é um lucro que não serve nem para solucionar os problemas de fornecimento de água no Estado e menos para garantir condições dignas para os trabalhadores que constroem essa empresa.

Os estudos do Plano Diretor de Recursos Hídricos apontam que o consumo de água de toda a região metropolitana pode chegar a 283 mil litros de água por segundo em 2035, enquanto o sistema Cantareira só é capaz de fornecer hoje 36 mil litros. São necessários muitos investimentos para que o sistema não entre em colapso, somados a medidas que garantam a economia e a utilização racional da água.

A situação atual do fornecimento de água na maior metrópole brasileira faz cair por terra toda a falácia de que o mercado é eficaz e à prova de crises. A água é um bem vital e não pode ser utilizada para o lucros de alguns. Precisamos de uma Sabesp 100% pública, a serviço da qualidade de vida do povo de São Paulo, e não dos lucros dos acionistas ou dos interesses eleitorais do partido no governo

Redação São Paulo

Relato de racismo nas Lojas Americanas de Nova Iguaçu, RJ

bianaca2Meu nome é Brenner Oliveira, milito na União da Juventude Rebelião e faço parte da direção do Diretório Central Mario Prata – UFRJ. Vou relatar agora um daqueles momentos em que as contradições do capitalismo batem perto da gente, fazendo queimar com mais força a chama da necessidade de lutarmos contra este sistema.

No dia 11 de fevereiro (terça feira), minha tia, Bianca Maria Azenha, mãe de um grande e antigo amigo a quem me empresto como sobrinho, 55 anos, preta, foi violentada física e moralmente nas Lojas Americanas, no Centro de Nova Iguaçu. Procurou a loja com o objetivo de pesquisar um ar-condicionado, ao sair, o detector que fica na entrada/saída apitou. Dentre umas oito pessoas não-pretas que passavam ao mesmo tempo pela saída, o segurança abordou minha tia, de forma truculenta, racista e machista, questionando o que ela carregava no meio de sua bolsa.

Certa de que não cometera qualquer infração, foi ágil em colocar todos os seus itens para revista, ainda em estado de raiva gritando: “não acredito que você está insinuando que eu roubei alguma coisa, eu não sou ladra”, disparou ela. Não satisfeito, o segurança das Lojas Americanas disse:“é barraqueira?! Sua barraqueira, barraqueira”, divertindo-se. “Eu sou uma senhora você me respeita”. “Barraqueira, sua barraqueira, barraqueira”, aos gritos, ambos. Enraivecida com o segurança, ela o xingou e ele, imediatamente, deu um tapa tão forte no rosto dela, que ela parou bem distante do local, ganhando grandes hematomas e um óculos quebrado.

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A violência contra as mulheres das formas mais impensadas às mais previsíveis, também pode ser sexual, psicológica, econômica, racial, de gênero. Estas modalidades se relacionam, vitimando a mulher desde seu nascimento até sua morte. Num cenário em que 70% das mulheres, segundo a ONU, podem sofrer algum tipo de violência durante sua vida, não dar o enfretamento necessário a este problema só dificulta a emancipação da sua mãe, tia, avó, prima, irmã, amiga, namorada, esposa, sobrinha, vizinha, professora…

Bianca acionou rapidamente a PM, que infelizmente, não foi rápida em dar assistência. Mas o fato é que enquanto os policiais não chegavam, o gerente das Lojas Americanas foi rápido em levar o segurança pro escritório e convidou minha tia para subir também, naquela velha tentativa de colocar oprimido e opressor juntos para que cheguem num acordo que tente restaurar a paz, descaracterizando a vítima e vitimizando o opressor.

Claro que ela não foi. Quando os policiais chegaram, tomaram nota do que houve, e o gerente das Lojas Americanas saiu com os policiais que disseram que iam ali e já voltavam para fazer a ocorrência, e não voltaram. Bianca ouviu do gerente, em tom de deboche, que aquilo não ia dar em nada. Como ele pode ter tanta certeza?
Minha tia já procurou a delegacia e já fez corpo de delito, mas, infelizmente, não passa bem, porque as marcas de uma violência que vem de uma herança histórica não passam quando as manchas somem. Negros e negras são duplamente discriminado no Brasil, por sua situação socioeconômica e por sua cor de pele.

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Nesta mesma semana, em Nova Iguaçu, um policial preto a paisana foi morto por um segurança despreparado e desqualificado de um posto de gasolina, próximo à praça do skate, por vê-lo correndo atrás de um jovem infrator branco e com roupas caras, deduzindo que o policial fosse um ladrão. Foram 5 tiros à queima roupa. Execução. As chances de um negro ser assassinado é 4 vezes maior do que um branco, e esse tipo de violência de minha tia sofreu só corrobora a cultura do racismo e do machismo que infesta o Brasil, porque se é difícil ser preto, ser preta pode ser miseravelmente pior.

Brenner Oliveira, militante da UJR – União da Juventude Rebelião

Protesto antifascista nas ruas de Viena

Protesto Viena_Copyright_APA HerbertNeubauerAnualmente reúnem-se em Viena para um baile grupos de orientação de extrema direita e suas famigeradas “fraternidades nacionalistas”. Em 24 de Janeiro como é tradicionalmente organizado pelo FPÖ (Partido da Liberdade Austríaco em tradução livre) o baile contou com a presença, além das fraternidades austríacas, de seus pares de várias regiões da Europa.

Por sua vez também são tradicionais as manifestações antifascistas nas ruas de Viena contra a realização do evento direitista. Contra os manifestantes este ano a força policial mobilizada foi de dimensões jamais vistas, com várias detenções e feridos. E enquanto a polícia reprimia os manifestantes com spray de pimenta e gás lacrimogêneo, as fraternidades de direita dançavam livremente com seus trajes de gala e suas músicas aristocráticas.

Bloqueios no Centro e proibição da imprensa

Ainda antes dos protestos várias medidas foram tomadas, alegando-se precaução, cerceando os direitos de milhares de cidadãos. Além de isolar todo o entorno do local do evento proibindo a circulação de não participantes do baile a imprensa foi impedida de cobrir a repressão policial. O sindicato dos jornalistas criticou as restrições à liberdade de imprensa com veemência: “Se queremos ter uma democracia, então devemos assegurar que os jornalistas possam cobrir os fatos livremente e não simplesmente assumir um relatório policial como narrativo dos fatos! É o que nós exigimos no Iraque e exigimos na Síria”.

Protestantes rompem as barricadas da polícia

Apesar de uma operação repressiva com um contingente de cerca de 2.000 policiais, os bloqueios e a proibição dos manifestantes de cobrirem o rosto (mesmo em um frio de -10 Cº), participaram do protesto antifascista cerca de 10.000 pessoas. Os manifestantes conseguiram romper parte do bloqueio e os confrontos entre as forças de repressão e os manifestantes se estenderam por horas naquela noite fria de 24 de janeiro.

Queremos uma sociedade de paz, mas não de uma paz de cemitério

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frei gilvanderQueremos uma sociedade de paz, mas paz como fruto da justiça e jamais paz de cemitério, a alardeada pela mídia.
Resposta ao Editorial do Jornal Nacional da TV Lobo, dia 10/02/2014

A mídia brasileira está esbravejando contra o/s rapaz/es que jogou/jogaram o rojão que matou o cinegrafista da TV Band Santiago Ilídio Andrade, na última quinta-feira, dia 06/02/2014, em uma justa manifestação popular contra o aumento do preço das passagens de ônibus no Rio de Janeiro. A mídia está tentando vender a ideia de que a violência que levou Santiago à morte aos 49 anos é a maior e pior violência que acontece no Brasil. Ledo engano. Mentira! Querem continuar com uma cortina de fumaça que impeça o povo de ver muitas outras violências execráveis.

Mas… Primeiro, nossa solidariedade à esposa de Santiago, à filha, aos seus parentes e amigos/as. Segundo, lamentável um trabalhador honesto, gente boa, ter sido vitimado no exercício de sua profissão. Terceiro, alardear que “manifestação é direito de todos, mas deve ser sempre pacífica” é, na prática, defender o status quo opressor. É sabido que “manifestação pacífica” não faz nem cócegas nos detentores dos podres poderes da economia e da política. Se “manifestação pacífica” bastasse, não seria necessária greve de trabalhadores por melhores salários, nem ocupação de terra no campo e na cidade. A reforma agrária já teria sido feita. Os salários seriam justos.

A mídia criminaliza as atitudes que excedem ao “padrão pacífico” das manifestações, condenando furiosamente os Black blockers. É preciso asseverar que só conquistaremos uma sociedade de paz com justiça quando eliminarmos muitos outros tipos de violência que arrebentam disfarçadamente com milhões de pessoas brasileiras.

Faremos referência a doze outros tipos de violência. Poderíamos citar muitas outras, mas para a lista não ficar muito grande, citaremos doze apenas, abaixo.

1) Violência do latifúndio e dos latifundiários, que seqüestram a terra em poucas mãos gananciosas, expulsam o povo camponês para as periferias das cidades.

2) Violência do agronegócio que, com uso indiscriminado de agrotóxico envenena a comida do povo brasileiro, gera “epidemia” de câncer, submete milhares de trabalhadores a situação análoga à de escravidão, devasta o ambiente, a biodiversidade.

3) Violência da democracia representativa que, via de regra, elege e reelege os representantes do poder econômico e privatizam os recursos públicos deixando na miséria o povo submetido à via crucis do SUS, a um salário mínimo injusto, à especulação imobiliária que expulsa paulatinamente as famílias pobres para as periferias das periferias das regiões metropolitanas.

4) Violência do poder religioso, que, de forma fundamentalista, proselitista, segundo os ditames da Teologia da Prosperidade, usa e abusa do nome de Deus para lucrar, lucrar.

5) Violência que tem jogado centenas de pessoas nas ruas de todo o Brasil, sem as possibilidades mínimas de acesso a moradia e demais direitos fundamentais, submetidas aos mais terríveis crimes.

6) Violência da Política econômica neoliberal (neocolonial) que desde Collor de Melo, passando por FHC, Lula e agora com Dilma Rousseff suga da classe trabalhadora grande fatia do orçamento do país e repassa para uns poucos banqueiros gigantes para pagar os juros da dívida pública, asfixiando, assim, o SUS, a educação pública e adiando indefinidamente a realização de uma Reforma Agrária Popular.

7) Violência da polícia que continua torturando milhares de jovens negros e empobrecidos diariamente pelo Brasil afora.

8) Violência do sistema penal e carcerário brasileiro que, como campos de concentração, subtraem muito mais do que o direito de ir e vir e impõe castigo os presos pela superlotação dos presídios, pelas condições degradantes e desumanas das prisões.

9) Violência escondida e subliminar das propagandas televisivas que seduzem de crianças a idosos reduzindo o ser humano a mero consumidor de mercadorias, muitas delas supérfluas e inúteis. É a idolatria do mercado e do capital.

10) Violência da injustiça social que sustenta um déficit habitacional acima de 7 milhões de moradias, condenando, por isso, milhões de famílias à cruz do aluguel e à humilhação que é sobreviver de favor.

11) Violência virtual que incita a violência real. Refiro-me à violência dos jogos de vídeo games, dos filmes que fazem apologia da violência, das reportagens sensacionalistas.

12) Violência social que, em grande parte é fruto de todas as violências listadas, acima.

Enfim, quem de fato e em última instância gera violência no Brasil? Paulo Freire, na Pedagogia do Oprimido, diz que a classe dominante adora chamar os violentados de violentos quando os oprimidos ousam levantar a cabeça e, de forma organizada e coletiva, se rebelam contra o sistema que os violenta. Colocar panos quentes em cima das feridas do povo brasileiro não constrói uma sociedade de paz. Aliás, aprofunda a violência. Em uma sociedade injusta estruturalmente só a luta por justiça pode trazer mudanças reais a favor do povo. Luta que não incomoda os poderosos não é luta por justiça.

Por frei Gilvander Moreira
www.gilvander.org.brwww.freigilvander.blogspot.com.br

Relato de manifestante presa durante manifestação em Belo Horizonte

Manifestante presa em manifestação em Belo Horizonte 2Confira abaixo o relato da detenção imotivada, autoritária e atroz de Isabela Rodrigues, ocorrida durante a concentração do ato do Tarifa Zero em Belo Horizonte na última quinta-feira (6).

No dia 6 de fevereiro, por volta das 17hs, fui detida na Praça 7, no centro de Belo Horizonte. Eu estava na concentração do ato da Tarifa Zero e me chamou a atenção a abordagem que a PM realizava junto a três pessoas bem próximas a mim. Fiquei atenta, uma vez que os policiais estavam revistando uma menina e bem sei que seria necessário uma PM mulher para poder revista-la. Nesse instante o Sargento Carvalho, que estava revistando essa moça, que eu nunca havia visto na vida, me olhou e começou a gritar para eu me afastar, alegando que eu estava atrapalhando o serviço dele. Eu só estava atenta caso ele fizesse algum abuso, dei um passo pra trás e continuei observando, assim como várias outras pessoas. Ele continuou a gritar comigo e eu disse que não ia me afastar mais, pois não estava atrapalhando nada. Nesse momento veio outro indivíduo e começou a discutir comigo e eu fui explicar pra ele que só estava acompanhando a ação e que eu tinha esse direito. Ele começou a gritar e disse que era policial também (que estava a paisana), mas não mostrou nenhuma identificação e ficou afirmando que eu estava atrapalhando o trabalho da PM. Enquanto eu falava com ele o Sargento Carvalho veio por trás gritando que eu estava desacatando o PM e me algemou imediatamente e me puxou. Eu não entendi nada e comecei a gritar, falando que era um absurdo, que não tinha feito nada, e vieram outros PMs que também me puxaram e torceram muito meu braço, já algemado. Várias pessoas se aproximaram, tentaram me ajudar, mas nada adiantou e fui levada rapidamente para viatura.

Manifestante presa em manifestação em Belo HorizontePermaneci algemada e fui conduzida sozinha dentro da viatura com um soldado e o Sargento Carvalho, que no instante que me colocou na viatura começou a intimidação e a me insultar. Na Companhia da Polícia Militar sofri mais abusos, me colocaram sentada no chão, ainda algemada , ao lado de outros presos, que não sei o motivo de suas detenções, mas que poderiam colocar minha integridade em risco.

Depois de alguns minutos, antes de fazer a minha ficha o Sgt. Carvalho me mandou levantar e me levou para um corredor nos fundos da companhia. No caminho me deu socos na cabeça e um no queixo e novamente começou a me ameaçar e fazer várias perguntas abusivas e a me filmar. Depois de alguns minutos o sargento me levou novamente para sentar na frente com os outros presos.

Não bastasse isso tudo ainda sofri revista intima, sem nenhuma justificativa, uma vez que a alegação de minha detenção era por desacato. Depois fui levada para o juizado especial e depois para um posto de apoio da PM e depois para a UPA. Na UPA mais um abuso, o soldado Nesio e o Sargento Fidelis entraram comigo no consultório e viram todo o atendimento, o que me constrangeu mais uma vez, pois tive que levantar a blusa para o médico fazer o exame. Depois voltei para o posto de apoio da PM e por fim fui levada para o juizado especial novamente para dar meu depoimento e terminarmos o BO.

Em vários momentos me perguntaram porque eu fui me intrometer e tomar as dores dos outros, que eu nem precisava estar ali. Eu pensei em responder várias vezes, mas pensei que não ia adiantar de nada naquele momento, talvez eles nunca entendam o que é amor ao próximo de verdade, o que é tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo…

Manifestante presa em manifestação em Belo Horizonte 3Estou bem dolorida, já tomei vários remédios e minha cabeça não para de doer, meus braços torcidos e com hematomas, mas o que mais dói em mim é pensar que eu tive a sorte de ter companheiros que estavam próximos e acionaram rapidamente advogados, amigos, familiares e pude ser solta no mesmo dia. Parece contraditório, pois eu deveria ficar feliz com isso, mas penso que isso é uma exclusividade que eu preferiria que não existisse, pois sei e vi como pobre e preto é tratado, sem advogado, sem direito, sem nada, todos os dias.

Um turbilhão de coisas que passam pela nossa cabeça nessas horas, pra quem está de fora são só algumas horas, mas só quem passa por isso sabe, ainda mais mulher totalmente indefesa em um Estado ainda machista.

Me orgulho de não ter deixado cair nenhuma lágrima e estar fazendo algo que considero certo e justo. Mas só tive essa força pois sabia que tinham camaradas do PCR (Partido Comunista Revolucionário), familiares e amigos me apoiando e fazendo de tudo pra me liberarem e que dia a dia caminhamos lado a lado! Obrigada a todos!!!

Isso não me intimidará nem um pouco e só reforça mais ainda minha convicção de que o sistema capitalista está falido. Sou estudante de Ciências Sociais da UFMG e militante dos movimentos sociais na busca de um mundo mais justo, mais igualitário e mais humano. Enquanto isso a luta segue firme!!!

Não vai ter copa!!!
Fim da PM já!!
Viva o Socialismo!!!

“Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte!!”
(Bertolt Brecht)

Isabela Rodrigues, militante da PCR

O olhar ao povo de Eduardo Coutinho

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eduardo coutinho2Eduardo Coutinho nasceu em São Paulo em 11 de maio de 1933, onde também estudou direito e se envolveu no movimento estudantil, onde desempenhou papel destacado na cultura, principalmente no Centro Popular de Cultura da UNE. Não concluiu seu curso superior, mas se lançou aos estudos de direção e montagem, na França, onde lançou seus primeiros trabalhos.

Ao voltar pro Brasil retomou seu trabalho cultural, dando destaque sempre ao povo humilde de nosso país, buscando com sua arte mostrar o lado real, humano da grande população de nosso país (operários, camponeses, estudantes) deixando de lado o idealismo e dando voz ao oprimido. Uma de suas obras mais marcantes é o documentário “Cabra Marcado Para Morrer”, que iniciou em 64, sendo interrompido pelo golpe, que acusou o diretor de “conduzir um filme com conteúdo comunista, subversivo.”

Inicialmente o filme possuía a proposta de abordar a vida e aluta de João Pedro Teixeira, líder das ligas camponesas, assassinado em 62 por enfrentar os grandes donos de terras. Em 1985 a obra foi retomada, dessa vez, mudando o foco da obra: o diretor passou a remontar a vida da família após a morte do pai. Entre seus principais filmes também estão “Edifício Master”, “Jogo de cena”, “Babilônia 2000”.

O documentário tornou-se uma grande denuncia dos desmandos dos poderosos e do que foi o golpe militar pela ótica daqueles que sofreram com a intervenção da ditadura em seu seio familiar.

A morte violenta e repentina de Eduardo Coutinho, no ultimo dia 2 de fevereiro, deixou uma grande lacuna em nossa cultura popular, que, certamente, terá que ser preenchida com alguém que honre e substitua Eduardo Coutinho à altura.

ClovesSilva, UJR-PE, estudante de letras da UFRPE

Funk Ostentação: sociedade do consumo ostenta hipocrisia

Funk ostentação - MCDALESTEO estilo musical denominado ‘Funk Ostentação’, originado no estado de São Paulo, transformou-se em um verdadeiro fenômeno nacional idolatrado por crianças, adolescentes e jovens da periferia. Os principais personagens da história são também garotos da periferia, que, através do funk, abriram a cortina da segregação social apresentando, para os excluídos e marginalizados, as maravilhas do mundo da ostentação e exaltação da riqueza.

Se cerca de 75% dos jovens do país acessam as redes sociais pelo menos três vezes por semana, está na internet o terreno fértil para a divulgação desse estilo de vida. São videoclipes que ultrapassam os quinze milhões de acessos de um público que assiste atento ao ode ao consumo de itens de luxo como carros e motocicletas esportivos, correntes, relógios e anéis de ouro maciços, roupas e acessórios de marcas consagradas. Tudo isso regado a muito champagne e caviar.

O assassinato de um dos maiores expoentes deste estilo de vida, o jovem MC Daleste, baleado em pleno palco enquanto fazia uma apresentação na cidade de Campinas, trouxe à tona um debate que revelou um elevado grau de hipocrisia. Analistas, músicos, jornalistas e intelectuais vieram a público levantando duras críticas ao discurso de incentivo ao consumo desenfreado, apresentando que este estilo de vida levava ao mundo do crime e contravenção uma série de jovens que não teriam, devido à condição pobre, condições de adquirir bens de tão elevado calibre. Alguns até associaram os famosos ‘rolezinhos’ nos shoppings a este hipotético problema.

A burguesia cria todos os dias, através de sua cultura e da exploração, uma série de contradições sociais que acabam por depor contra ela mesma. O Instituto DATAPOPULAR apresentou em pesquisa realizada no segundo semestre do ano passado, dados que apontaram que os jovens da classe C, que não coincidentemente são predominantes nos chamados ‘rolezinhos’, têm apresentado potencial de consumo de cerca de R$129 milhões por mês. O potencial dos jovens das classes A, B e D somados chega a apenas R$99 milhões.

Sendo assim o reflexo prático do incentivo ao consumismo desenfreado se dá pelo crescimento do endividamento da população e também pela transformação da cultura dos marginalizados da periferia. Para a grande burguesia é central que essa massa consuma cada vez mais, entretanto, é inadmissível que estes se pretendam e ousem ocupar o mesmo espaço ou almejar mesmo estilo de vida das classes dominantes.

O pobre é incentivado pela cultura consumista a ter um tênis da Nike, mas é impensável que o compre no shopping da classe média. Ao passo que se é comum os filhos dos banqueiros e grandes milionários desejarem e comprarem carros que são verdadeiras máquinas ou ostentarem ternos e joias, é inadmissível que um favelado tenha os mesmos requintes ou estilo de vida. Se é branco e de tradicional família burguesa, é estilo. Se se é preto e oriundo da favela, é ostentação e incentivo à criminalidade.

O resultado de tanta hipocrisia e consumismo é uma parcela gigantesca de jovens que não se compreendem enquanto classe e que não conseguem identificar-se enquanto indivíduos, protagonistas de suas próprias histórias sem que isto esteja atrelado ao consumo, a bens e propriedades. O ‘funk ostentação’ é fruto da árvore do consumismo cultivada pelo sistema capitalista. A grande diferença é que o Sistema incentiva o consumo,mas deseja manter a segregação. Se em tese somos iguais porque somos livres para consumir, na prática, somos diferentes porque somos oriundos de classes inconciliáveis.

Raphaella Mendes, Redação Minas Gerais

A pane no metrô de São Paulo e o “vandalismo” nosso de cada dia

unnamedMilhões de trabalhadores, além da exploração, estão sujeitos ao grande caos que é o transporte público de São Paulo. Para ir e vir do trabalho é preciso pagar uma tarifa abusiva e pode-se afirmar que o transporte na cidade mais populosa deste país contribui e muito para o estresse de quem o utiliza. Se não bastassem as violações que sofremos no emprego, na educação ou nos hospitais, o nosso direito de ir e vir está sucateado.

Paralisações na Linha 3 – Vermelha ocorrem todos os dias, principalmente em horários de ida e volta do trabalho, mas para o governador Geraldo Alckimin, o PSDB e seu Secretário de Transportes, Jurandir Fernandes, isto é “caso de polícia”. Afinal, é assim que o Governador do Estado de São Paulo vem tratando a população: a base do cassetete.

Após mais uma pane ocorrida no Metrô, nesta terça-feira, declararam: “a causa destes problemas é o vandalismo inusitado de grupos organizados”. Como medida escalaram policiais para fazer o serviço de “manter a lei e a ordem”. Ou seja, a moda é classificar de “vândalo” o pobre indignado com a situação vivida. E sim, os destinados a resolver estes e outros problemas são, mais uma vez, a Polícia Militar, que já demonstrou estar na rua para proteger o cidadão rico e sua propriedade. Quer mais exemplos do descaso do governo tucano com a população? Basta ver as cenas de despejos ocorridos em Pinherinho, a truculência do Choque na manifestação do dia 25 de Janeiro ou os cartéis bilionários que beneficiam grandes empresas, como Alstom e Siemens.

Quem utiliza o Metrô sabe do sufoco que são estas paralisações. O certo é que o ocorrido desta terça e dos dias que se seguem, não é exceção: aprofunda a exploração sofrida pelos trabalhadores. É a forma de dizer “bastas”, destes milhões de oprimidos, cada janela estilhaçada. O povo está surtando com esta rotina caótica. Quem ficaria tranquilo, após um dia de trabalho, em um vagão escuro, sem ar e lotado de crianças, jovens, mulheres grávidas, deficientes, etc., correndo diversos riscos? Você ficaria, Governador? E você, Secretário dos Transportes?

Matheus Nunes, São Paulo