Eles tinham a bola, o time e nenhum lugar pra jogar. Sem campo, quadra ou rua, algumas crianças do assentamento Eliana Silva, não acham que disputa de pênaltis seja uma grande aventura, mas isso está prestes a mudar.
Em Portugal, governo treme com manifestação popular mais ofensiva
Mais de 1 milhão de pessoas compareceram as ruas de Lisboa, Portugal, no último dia 2 de março contra a permanência da Troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Européia).
Diferente das outras manifestações, a população voltou a cantar a música “Grândola, Vila Morena“, que antes ditou o ritmo da retomada democrática pelos portugueses junto ao Movimento das Forças Armadas, quando da Revolução dos Cravos no fim da ditadura de Salazar. Era nítido o medo do governo português ao escutar os portugueses reivindicando o espírito revolucionário da música, o que resultou no governo respondendo com polícia, violência. Veja este e outros vídeos.
Jornalistas criam Comissão Estadual da Verdade
O Sindicato dos Jornalistas do Estado do Ceará (Sindjorce), dando prosseguimento às suas atividades de comemoração aos seus 60 anos de funcionamento, lançou, em evento realizado no dia 27 de fevereiro, no Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza, a Comissão Estadual da Verdade dos Jornalistas. Segundo a Presidente do Sindjorce, Samira de Castro, a Comissão terá o papel de esclarecer os crimes cometidos pela ditadura militar contra jornalistas. “O nosso objetivo é fazer memória e justiça a esses profissionais, para que não se esqueça e não se repita”, disse.
A Comissão é composta por seis jornalistas, sendo presidida por Messias Pontes. Dentre os trabalhos, está o recolhimento de informações e documentos sobre casos da época, para serem enviados à Comissão Nacional dos Jornalistas, e a produção de um livro e documentário.
Diversas entidades sindicais e movimentos sociais estavam presentes no auditório do Dragão do Mar, que contou ainda com o lançamento do livro “As duas Guerras de Vlado”, de Audálio Dantas, que lutou contra a ditadura ao lado de Vladimir Herzog, assassinado nos porões do DOI-CODI-São Paulo, em outubro de 1975.
Audálio, que é Presidente da Comissão Nacional dos Jornalistas, reforçou que é necessária a punição de todos os torturadores. “Temos que exigir que sejam punidos os assassinos. Muitos estão soltos circulando livremente pelo país. Os pobres, negros, mestiços e camponeses continuam sendo vítimas dessa violência”.
Da Redação, Ceará
Descoberto espião entre trabalhadores e militantes de Belo Monte
Um espião contratado pelo Consórcio Construtor de Belo Monte foi identificado neste último domingo (24) por militantes do movimento Xingu Vivo, enquanto gravava uma assembleia com uma caneta espiã.
Identificado apenas como Antonio, o espião confessou, ao ser descoberto, que trabalha para o Consórcio Construtor de Belo Monte desde o ano passado. Na memória da caneta foram encontrados vídeos de assembleias, reuniões e até instruções sobre como utilizar o equipamento.
Segundo Antonio, o material seria analisado pela inteligência da CCMB, que contaria também com a participação da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência).
Devido a este serviço de espionagem, cinco trabalhadores foram presos e oitenta foram demitidos sob a acusação de comandarem a última revolta nos canteiros de obras de Belo Monte, em novembro do ano passado.
Confira o depoimento do espião no vídeo.
Mário Lopes
Carta de Marcelo Rivera: Para uma amiga que me deu a liberdade
Me lembro daquele dia, na primeira reunião do núcleo da Juventude (JRE) que você formou no colégio Cinco de Junho, participei por um convite de uma companheira de curso, chamavam-na de “a gata”, se lembra dela? Era alta, branca e com lindos olhos de gato.
Há muito tempo que procurava por vocês, e cheguei ao lugar certo, nessa reunião te conheci, desde aquele dia eu não parei em minha atividade, mesmo na prisão não deixei de ser ativo: sempre organizando, sempre desenvolvendo idéias, propostas, iniciativas … sempre lutando.
Devo te dizer que nesses anos de prisão tenho compreendido um pouco mais o que significa ser livre, e estou convencido que me cheguei a se-lo quando ingressei na organização. Você, amiga e camarada, teve uma grande participação nesse processo de libertação.
Ser livre significa pra mim romper cotidianamente as cadeias da alienação ideológica que o sistema capitalista constrói todos os dias em nossa consciência. Ser livre é cortar essas milhares de amarras que nos atam às concepções, idéias, modelos, mentalidades, preconceitos, conceitos que nos impõe uma única forma de vida e um único caminho a seguir: ser mais uma peça da grande máquina opressora que nos domina. Quando ingressei na organização, comecei esse processo de libertação e ainda estou lutando todos os dias para ser um pouco mais livre.
Um belo dia, de uma hora pra outra, me tiraram o direito de ir e vir, me prederam num caixão de cimento, rodeado de barras, cadeados, correntes, regras, regulamentos, vigilantes, disposições administrativas, e a ameaça permanente de transferências… Enfim, minha existência ficou reduzida ao controle institucional de quem pretende me “rehabilitar”. Me arrancaram de minha familia e amigos, fui colocado com presos comuns para que saiba que “se rebelar contra a grande máquina é um crime, pior ou mais desprezível do que matar, roubar ou estuprar”.
Esta situação deveria provocar uma mudança em minha essência, já não sou o mesmo, agora sei o que é ser livre. Todos os dias assimilo essa realidade e compreendo que nada poderá voltar a me prender, nada poderá tirar a MINHA LIBERDADE. Somos livres amiga, saimos da escuridão e de um mundo de mentiras, a organização nos deu a luz e agora sabemos “o porquê“ de todas as coisas que passam neste mundo e por isso sabemos como transformá-lo e vamos mudá-lo, disso estou plenamente seguro.
Somos livres porque abandonamos a miragem e o sonho eterno em que vivem milheres de pessoas que acreditam ser livres, nossa tarefa agora é libertar a todos, devolver a dignidade ao ser humano, por isso vivemos, essa é nossa responsabilidade de vida.
Há muitos anos me deste a mão, abriu-me a porta e me convidou a ser parte desta organização de seres humanos livres, me convidou a seguir este caminho que jamais deixarei, por isso sou eternamente agradecido.
Uma mulher me deu a vida, uma mulher me deu a felicidade e uma mulher me deu minha liberdade.
Teu amigo Marcelo Rivera
Janeiro de 2013
Entenda o caso
Em dezembro de 2009, Marcelo Rivera, então presidente da Federação dos Estudantes Universitários do Equador – FEUE, foi preso, acusado e condenado pelo governo de Rafael Correa de “agressão terrorista” e “destruição de bens”, por lutar contra uma reforma universitária que estava sendo imposta pela reitoria de sua Universidade.
No dia 27 de fevereiro de 2013, após cumprir 3 anos e 2 meses essa injusta pena, Marcelo Rivera finalmente foi solto e poderá, enfim, se incorporar as trincheiras de luta pela real libertação do homem e da humanidade.
Foi assim a Maré Cidadã em Madrid
Sábado, 23 de fevereiro. São 4 da tarde, aproxima-se a hora da grande maré cidadã. Circulamos por Madrid, conduzidas por uma camarada da Izquierda Unida, que nos acompanhará até às Portas do Sol. Pelo caminho cruzamo-nos com uma coluna de manifestantes que se irá juntar a uma das 4 grandes colunas que mais tarde irão confluir na Praça Cibeles. São do bairro de Vallecas. Foi feito um apelo para que cada bairro da cidade se organizasse para participar na grande mobilização de protesto contra o golpe anti-democrático da Troika e dos mercados.
A nossa camarada estaciona no bairro de Lavapies e seguimos agora a pé pelas ruas em direção ao nosso ponto de encontro. Ao longe já se ouve o fervilhar da multidão. Perceber que pode ser uma multidão faz-nos sorrir.
Chegamos. O nosso ponto de encontro é uma imensa coluna já, da qual não se vê nem o princípio nem o fim,e que ainda vai confluir com outras antes de chegar à Praça Cibeles.
Está um sol radioso que faz brilhar as bandeiras e os cartazes e ilumina os rostos, apesar do frio imenso que teima em gelar-nos as mãos e as faces.
A data é bastante simbólica, passam 32 anos da tentativa de golpe militar de 23 de Fevereiro de 1981, durante o qual a Guardia Civil tentou tomar de assalto o Congresso dos Deputados.
Agora os espanhóis juntam-se novamente para lutar contra este novo golpe de Estado.
Vieram todos. Trabalhadores, desempregados, pensionistas, estudantes, velhos e crianças, os mineiros, as vítimas dos despejos, os que defendem a saúde pública, os que defendem a educação pública, os trabalhadores da rádio e televisão de Madrid (onde já foram despedidos 90% dos trabalhadores e que vai agora ser privatizada), as vítimas do franquismo, os do 15M. As várias marés, (verde, branca, vermelha, laranja) juntaram-se a mais de 300 associações sociais, a partidos políticos, como a Izquierda Unida, e a muitos milhares de cidadãos Vieram mostrar a sua indignação contra a austeridade e os cortes que lhes querem impor, contra a reforma laboral.
Desfilam agora pelas ruas, imunes ao frio gelado. Por todo lado vemos pequenos cartazes que dizem simplesmente “No” com o desenho de uma tesoura, simbolizando “no a los recortes” – não aos cortes. Um grupo que se auto-intitula de veteranos dos 15M, numa divertida alusão à sua idade, gritam que estão ali pelos jovens. Há imensas alusões a Rajoy. Muitos trazem consigo envelopes e mostram que os seus estão vazios. As frases que mais se ouvem serão, talvez, “si, se puede” (sim, é possível) e “no hay pan para tanto chorizo” (não há pão para tanto “ladrão”).
Ainda estamos a meio da Calle de Alcalá a caminho da Praça Cibeles e já se começa a andar bem devagar. Ao longe avista-se uma verdadeira maré de gente a confluir de Leste, Oeste, Norte e Sul. A coluna é cada vez mais compacta. Todos querem chegar perto da Câmara dos Deputados e do ponto final da manifestação – a praça Neptuno.
Chegamos ao ponto de confluência. Uma verdadeira enchente de pessoas que se agita como uma verdadeira maré. A marcha é cada vez mais lenta. Ainda não se vê o fim da coluna que integramos nem de qualquer das outras. Mas o espaço entre pessoas é cada vez menor. Um pouco mais à frente ouve-se um cântico. Um comentário perpassa pela multidão – são os mineiros! Há um misto de respeito e de admiração nessa afirmação. E todos começam a cantar com os mineiros “Santa Bárbara Bendita”. Furo pela multidão à procura do epicentro. Os mineiros estão sentados no chão, com os seus capacetes na cabeça e as luzes ligadas como faróis. Terminam o cântico e gritam: “arriba mineros!”. Levantam-se e a marcha prossegue. Pela multidão continua a ouvir-se a pergunta: “viste os mineiros?”.
Passa já das 6 da tarde, não estamos sequer a meio do percurso entre a praça Cibeles e a Praça Neptuno, mas já não é possível avançar mais. Os que conseguiram chegar à frente e regressam dizem-nos que não vai ser possível ir mais longe, que junto das barreiras que a polícia instalou em volta do Congresso dos Deputados, está tão compacto que não cabe uma mosca. Ao ponto de confluência continua a chegar um mar sem fim de gente.
Todos se questionam quanto aos números. As autoridades nem nos números abdicam da austeridade e falam em 80 mil. As organizações dizem que entre 400 e 500 mil pessoas. À nossa volta, arriscam que estão muito mais. Uns comparam com a manifestação de protesto contra a guerra que juntou 1 milhão. Outros comparam com os festejos da vitória da Espanha no Mundial que juntou 700 mil pessoas. Com excepção dos dados das autoridades que são manifestamente parcos, é difícil dizer quem terá razão. Devido aos constantes fluxos de pessoas será talvez difícil chegar ao número mais próximo da realidade, mas é certo que as marés não deixarão de voltar a correr pelas ruas em Madrid, porque quem lá esteve viu e sentiu a verdadeira dimensão da indignação.
Cláudia Oliveira
Fonte: BE Internacional
O sistema de saúde em Cuba
Neste trecho do documentário Sicko, de Michael Moore, norte-americanos vão para Cuba para conseguir tratamento médico. A qualidade do sistema de saúde cubano é reconhecida mundialmente, não obstante o bloqueio econômico e midiático imposto pelos EUA à ilha caribenha.
Vigilantes de todo país fazem paralisação por adicional de periculosidade já sancionado por lei
A lei 12.740, sancionada pelo Governo Federal em dezembro do ano passado, garante aos vigilantes patrimoniais adição salarial de periculosidade de 30%. No entanto, as empresas se recusam negociar a efetivação da proposta. Os empresários alegam que estão aguardando a regulamentação da legislação para efetuar o pagamento.
Por todo o país os trabalhadores da categoria mobilizaram paralisações e greves. No estado de São Paulo as principais ações aconteceram no interior, nas regiões de Piracicaba, Sorocaba, Riberão Preto e Franca.
Grande parte dos vigilantes que aderiram às paralisações trabalham em agências bancárias, o que resultou no fechamento de diversas delas, já que, segundo lei federal, para o funcionamento das agências é necessário garantir cota mínima de segurança nos locais. Boa parte dos bancários apoiam as paralisações e afirmam que “sem vigilante, bancário não trabalha”.
Liminares foram abertas por Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) para que um mínimo de 40% do efetivo das regiões interioranas de São Paulo voltassem ao trabalho, consideram inconstitucionais as greves realizadas.
Em protesto, os trabalhadores organizaram doações de sangue coletivas, o que impede que os trabalhadores exerçam a função no dia em que a doação é realizada. Um grupo de 80 vigilantes doaram sangue no Hemonúcleo de Piracicaba nesta última quinta-feira.
A Fetravesp (Federação dos Trabalhadores em Segurança, Vigilância Privada, Transporte de Valores e Similares do Estado de São Paulo) reverteu a decisão judicial da 42º Vara do Trabalho em São Paulo que impedia o direito de greve dos vigilantes.
Ana Rosa Carrara, São Paulo
Novo primeiro-ministro da Tunísia é nomeado após morte de líder opositor e mobilizações populares
O presidente tunisino, Moncef Marzouki, nomeou Larayedh Ali novo primeiro-ministro. Larayedh substitui Hamadi Jebali, que renunciou ao cargo no último dia 19. Jebali tentava formar um novo gabinete do governo para dar uma respostas as reivindicações das mobilizações populares.
Em 14 de janeiro deste ano, as ruas das principais cidades da Tunísia foram ocupadas mais uma vez por milhares de pessoas, dessa vez contra o atual governo, liderado pelo partido islamita Ennahda. Para o povo tunisino, os objetivos das mobilizações, conhecidas como Primavera Árabe, não foram alcançadas.
A data marca os dois anos da queda do ditador que se mantinha no poder a mais de vinte anos, Zine el-Abdine Ben Ali. Em 14 de janeiro de 2011, Ben Ali fugiu, junto com família, para a Arábia Saudita. Sua deposição foi resultado da Primavera Árabe, que se iniciou na Tunísia e também derrubou ditaduras em países vizinhos como Egito, Iêmen e Líbia.
Chokri Belaid, secretário-geral da coligação de esquerda laica, Frente Popular, foi assassinado com quatro tiros, na capital Tunes, no último dia 6 de fevereiro, o que revoltou ainda mais a população insatisfeita com o governo.
Segundo a oposição, o assassinato de um dos líderes da Frente Popular é reflexo do fracasso político do governo atual. O desemprego, a pobreza e a violência são agudas, os problemas sociais e a arbitrariedade da polícia só aumentam e falta acordo sobre a elaboração da nova Constituição do país.
As manifestações que se seguiram são uma demonstração clara da organização popular que vem tomando o país. Cerca de 40 mil pessoas participaram do funeral do líder da oposição. A cerimônia realizada em memória de Belaid foi acompanhada por uma greve geral e intensos confrontos com as forças da ordem. A população pede um explicação urgente sobre o assassinato.
Ana Rosa Carrara, São Paulo
Greve dos eletricitários da Paraíba atinge grande mobilização

Em campanha salarial desde setembro de 2012, os eletricitários da Paraíba decidiram cruzar os braços na última segunda-feira, dia 18. A greve é organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas da Paraíba (Stiupb) e atingiu oito cidades-polos da Energisa, empresa que presta serviço de distribuição de energia em todo o Estado. A exceção é a capital João Pessoa, cujo sindicato local já assinou um Acordo Coletivo tal qual propuseram os patrões, sem fazer sequer uma assembleia para aprová-lo.
A paralisação mobilizou 100% dos trabalhadores em algumas cidades e, em Campina Grande, principal base do Stiupb, apesar do grande embate com a empresa, o piquete contou com a adesão da maioria dos funcionários. Na cidade, a Energisa tentou, a todo o momento, obrigar os funcionários a trabalhar, ameaçando-os de demissão, mas o sindicato realizou uma grande agitação com carro de som na porta da empresa, restando a ela ingressar na Justiça do Trabalho com um pedido de ilegalidade do movimento. A Justiça, por sua vez, negou o pedido, mas ordenou, através de liminar, que fosse liberado 40% do efetivo de trabalhadores, alegando se tratar de um setor de serviços essenciais. Caso o sindicato descumpra a determinação, teria que pagar multa diário de R$ 20 mil.
Segundo Wilton Maia, presidente do Stiupb, “nós já conquistamos nossa maior vitória nesta greve, que foi unir definitivamente a categoria com o sindicato. Estamos enterrando o passado de conchavos com as empresas para vender a campanha salarial, que era a prática das antigas diretorias. Neste ano, não esperamos grandes vitórias econômicas, mas estamos determinados a impor à empresa que respeite a dignidade dos trabalhadores, acabando com o assédio moral, as demissões em massa e a terceirização, além de fazer valer o princípio da isonomia, pois existem muitas distorções entre trabalhadores de um mesmo setor ou cidade, alguns recebendo certos benefícios que são negados a outros”.
A greve conta com o apoio do Movimento Luta de Classes (MLC), do Partido Comunista Revolucionário (PCR), do Movimento de Luta nos Bairros (MLB), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e de outros sindicados da Paraíba, como os sindicatos da limpeza urbana, dos jornalistas, dos metalúrgicos e dos servidores municipais.
Rafael Freire
40 perguntas para Yoani Sánchez em sua turnê mundial
1. Quem organiza e financia sua turnê mundial?
2. Em agosto de 2002, depois de se casar com o cidadão alemão chamado Karl G., abandonou Cuba, “uma imensa prisão com muros ideológicos”, para imigrar para a Suíça, uma das nações mais ricas do mundo. Contrariamente a qualquer expectativa, em 2004, decidiu voltar a Cuba, “barco furado prestes a afundar”, onde “seres das sombras, que como vampiros se alimentam de nossa alegria humana, nos introduzem o medo através do golpe, da ameaça, da chantagem”, onde “os bolsos se esvaziavam, a frustração crescia e o medo se estabelecia”. Que razões motivaram esta escolha?
3. Segundo os arquivos dos serviços diplomáticos cubanos de Berna, Suíça, e de serviços migratórios da ilha, você pediu para voltar a Cuba por dificuldades econômicas com as quais se deparou na Suíça. É verdade?
4. Como pôde se casar com Karl G. se já estava casada com seu atual marido Reinaldo Escobar?
5. Ainda é seu objetivo estabelecer um “capitalismo sui generis” em Cuba?
6. Você criou seu blog Geração y (Generación Y) em 2007. Em 4 de abril de 2008 conseguiu o Prêmio de Jornalismo Ortega e Gasset, de 15 mil euros, outorgado pelo jornal espanhol El País. Geralmente, este prêmio é dado a jornalistas prestigiados ou a escritores de grande carreira literária. É a primeira vez que uma pessoa com seu perfil o recebe. Você foi selecionada entre cem pessoas mais influentes do mundo pela revista Time (2008). Seu blog foi incluído na lista dos 25 melhores blogs do mundo pela cadeia CNN e pela revista Time (2008), e também conquistou o prêmio espanhol Bitacoras.com, assim como The Bob’s (2008). El País lhe incluiu em sua lista das cem personalidades hispano-americanas mais influentes do ano 2008. A revista Foreign Policy ainda a incluiu entre os dez intelectuais mais importantes do ano em dezembro de 2008. A revista mexicana Gato Pardo fez o mesmo em 2008. A prestigiosa universidade norte-americana de Columbia lhe concedeu o prêmio María Moors Cabot. Como você explica esta avalanche de prêmios, acompanhados de importantes quantias financeiras, em apenas um ano de existência?
7. Em que emprega os 250 mil euros conseguidos graças a estas recompensas, um valor equivalente a mais de 20 anos de salário mínimo em um país como França, quinta potencia mundial, e a 1.488 anos de salário mínimo em Cuba?
8. A Sociedade Interamericana de Imprensa, que agrupa os grandes conglomerados midiáticos privados do continente, decidiu nomeá-la vice-presidente regional por Cuba de sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação. Qual é seu salário mensal por este cargo?
9. Você também é correspondente do jornal espanhol El País. Qual é sua remuneração mensal?
10. Quantas entradas de cinema, de teatro, quantos livros, meses de aluguel ou pizzas pode pagar em Cuba com sua renda mensal?
11. Como pode pretender representar os cubanos enquanto possui um nível de vida que nenhuma pessoa na ilha pode se permitir levar?
12. O que faz para se conectar à Internet se afirma que os cubanos não têm acesso e ela?
13. Como é possível que seu blog possa usar Paypal, sistema de pagamento online que nenhum cubano que vive em Cuba pode utilizar por conta das sanções econômicas que proíbem, entre outros, o comércio eletrônico?
14. Como pôde dispor de um Copyright para seu blog “© 2009 Generación Y – All Rights Reserved”, enquanto nenhum outro blogueiro cubano pode fazer o mesmo por causa das leis do embargo?
15. Quem se esconde atrás de seu site desdecuba.net, cujo servidor está hospedado na Alemanha pela empresa Cronos AG Regensburg, registrado sob o nome de Josef Biechele, que hospeda também sites de extrema direita?
16. Como pôde fazer seu registro de domínio por meio da empresa norte-americana GoDady, já que isto está formalmente proibido pela legislação sobre as sanções econômicas?
17. Seu blog está disponível em pelo menos 18 idiomas (inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, português, russo, esloveno, polaco, chinês, japonês, lituano, checo, búlgaro, holandês, finlandês, húngaro, coreano e grego). Nenhum outro site do mundo, inclusive das mais importantes instituições internacionais, como por exemplo as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE ou a União Europeia, dispõem de tantas versões linguísticas. Nem o site do Departamento de Estado dos Estados Unidos, nem o da CIA dispõem de igual variedade. Quem financia as traduções?
18. Como é possível que o site que hospeda seu blog disponha de uma banda com capacidade 60 vezes superior àquela que Cuba dispõe para todos os usuários de Internet?
19. Quem paga a gestão do fluxo de mais de 14 milhões de visitas mensais?
20. Você possui mais de 400 mil seguidores em sua conta no Twitter. Apenas uma centena deles reside em Cuba. Você segue mais de 80 mil pessoas. Você afirma “Twitto por sms sem acesso à web”. Como pode seguir mais de 80 mil pessoas sem ter acesso à internet?
21. O site www.followerwonk.com permite analisar o perfil dos seguidores de qualquer membro da rede social Twitter. Revela a partir de 2010 uma impressionante atividade de sua conta. A partir de junho de 2010, você se inscreveu em mais de 200 contas diferentes do Twitter a cada dia, com picos que podiam alcançar 700 contas em 24 horas. Como pôde realizar tal proeza?
22. Por que cerca de seus 50 mil seguidores são na verdade contas fantasmas ou inativas? De fato, dos mais de 400 mil perfis da conta @yoanisanchez, 27.012 são ovos (sem foto) e 20 mil têm características de contas fantasmas com uma atividade inexistente na rede (de zero a três mensagens mandadas desde a criação da conta).
23. Como é possível que muitas contas do Twitter não tenham nenhum seguidor, apenas seguem você e tenham emitido mais de duas mil mensagens? Por acaso seria para criar uma popularidade fictícia? Quem financiou a criação de contas fictícias?
24. Em 2011, você publicou 400 mensagens por mês. O preço de uma mensagem em Cuba é de 1,25 dólares. Você gastou seis mil dólares por ano com o uso do Twitter. Quem paga por isso?
25. Como é possível que o presidente Obama tenha lhe concedido uma entrevista, enquanto recebe centenas de pedidos dos mais importantes meios de comunicação do mundo?
26. Você afirmou publicamente que enviou ao presidente Raúl Castro um pedido de entrevista depois das respostas de Barack Obama. No entanto, um documento oficial do chefe da diplomacia norte-americana em Cuba, Jonathan D. Farrar, afirma que você nunca escreveu a Raúl Castro: “Ela não esperava uma resposta dele, pois confessou nunca tê-las enviado [as perguntas] ao presidente cubano. Por que mentiu?
27. Por que você, tão expressiva em seu blog, oculta seus encontros com diplomáticos norte-americanos em Havana?
28. Entre 16 e 22 de setembro de 2010, você se reuniu secretamente em seu apartamento com a subsecretaria de Estado norte-americana Bisa Williams durante sua visita a Cuba, como revelam os documentos do Wikileaks. Por que manteve um manto de silêncio sobre este encontro? De que falaram?
29. Michael Parmly, antigo chefe da diplomacia norte-americana em Havana afirma que se reunia regularmente com você em sua casa, como indicam documentos confidenciais da SINA. Em uma entrevista, ele compartilhou sua preocupação em relação à publicação dos cabos diplomáticos norte-americanos pelo Wikileaks: “Eu me incomodaria muito se as numerosas conversas que tive com Yoani Sánchez forem publicadas. Ela poderia sofrer as consequências por toda a vida”. A pergunta que imediatamente vem à mente é a seguinte: quais são as razões por que você teria problemas com a justiça cubana se sua atuação, conforme afirma, respeita o marco da legalidade?
30. Continua pensando que “muitos escritores latino-americanos mereciam o Prêmio Nobel de Literatura mais que Gabriel García Márquez”?
31. Continua pensando que “havia uma liberdade de imprensa plural e aberta, programas de rádio de toda tendência política” sob a ditadura de Fulgencio Batista entre 1952 e 1958?
32. Você declarou em 2010: “o bloqueio tem sido o argumento perfeito do governo cubano para manter a intolerância, o controle e a repressão interna. Se amanhã as suspenderem as sanções, duvido muito que sejam vistos os efeito”. Continua convencida de que as sanções econômicas não têm nenhum efeito na população cubana?
33. Condena a imposição de sanções econômicas dos Estados Unidos contra Cuba?
34. Condena a política dos Estados Unidos que busca uma mudança de regime em Cuba em nome da democracia, enquanto apoio as piores ditaduras do Oriente Médio?
35. Está a favor da extradição de Luis Posada Carriles, exilado cubano e ex-agente da CIA, responsável por mais de uma centena de assassinatos, que reconheceu publicamente seus crimes e que vive livremente em Miami graças à proteção de Washington?
36. Está a favor da devolução da base naval de Guantánamo que os Estados Unidos ocupam?
37. Você é favorável à libertação dos cinco presos políticos cubanos presos nos Estados Unidos desde 1998 por se infiltrarem em organizações terroristas do exílio cubano na Florida?
38. Em sua opinião, é normal que os Estados Unidos financiem uma oposição interna em Cuba para conseguir “uma mudança de regime”?
39. Em sua avaliação, quais são as conquistas da Revolução Cubana?
40. Quais interesses se escondem atrás de sua pessoa?
Salim Lamrani*
* Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor titular da Université de la Réunion e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro se intitula Etat de siège. Les sanctions économiques des Etats-Unis contre Cuba, Paris, Edições Estrella, 2011, com prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade.
Fonte: Opera Mundi