O jornal A Verdade é um órgão de imprensa popular, que, há doze anos, circula em todo país levando ao povo as notícias cotidianas do Brasil e do mundo com o olhar de quem as vive: o próprio povo.
Periódico mensal, A Verdade é construído não só por jornalistas, mas também por militantes políticos, sindicalistas, estudantes, ativistas sociais de diversas setores e por seus leitores. Assim, ao encaminharem suas matérias, denúncias ou sugestões para nossa redação, nossos colaboradores permitem que todos tenham acesso à realidade sentida por milhões de brasileiros e brasileiras à margem das conquistas sociais e da informação.
Considerando ainda a importância que tem para um povo conhecer sua história, esta, muitas vezes, construída por heróis e heroínas “anônimos”, esquecidos pelos livros oficiais, o jornal A Verdade dedica todos os meses sua contracapa a matérias especiais que revelam a trajetória de importantes lideranças e lutas populares do Brasil, da América Latina e do mundo.
Vivemos uma conjuntura internacional de crescimento das lutas populares, a qual ultrapassa os limites dos países pobres e chega a territórios que se acreditavam “livres” da opressão, do desemprego ou de quaisquer outras mazelas do capitalismo, como Europa e Estados Unidos. Diante disso, constatamos uma importante tomada de consciência por parte dos povos, o que nos impõe ainda mais a tarefa de divulgar amplamente as denúncias contra o sistema e de propagar a perspectiva de uma saída revolucionária para a atual crise capitalista.
Neste sentido, o jornal A Verdade implementa a Campanha Nacional de Assinaturas, que visa a levar a cada vez mais pessoas as notícias não transmitidas ou distorcidas pelos monopólios de comunicação, além de servir de grande apoio financeiro para a sustentação de uma imprensa popular e independente.
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Na manhã da última quarta-feira (4) o MLB – Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – recebeu a proposta da secretaria de habitação de Belém de inclusão das 100 famílias participantes da ocupação Sá Pereira num projeto habitacional do programa Minha Casa, Minha Vida para pessoas de renda entre 1 e 3 salários mínimos. A proposta havia sido verbalizada pelo secretário Osvaldo Gonzaga em reunião com o MLB na tarde da última segunda-feira.
Ocupação e organização das famílias foram capazes de garantir a conquista
A ocupação Sá Pereira se deu no prédio abandonado do INSS localizado na Avenida Presidente Vargas, centro de Belém, nas primeiras horas do domingo do dia 06 de maio. No mesmo dia por volta das oito horas da noite as 100 familias da ocupação eram surpreendidas pela ação truculenta da Guarda Municipal que pela força invadiram o prédio, e aterrorizando as famílias desocuparam o local.
Sem deixar a poeira baixar e aproveitando o calor do momento as famílias decidiram permancecer em luta e realizarem ato na frente do prédio no dia seguinte seguindo em passeata em direção a prefeitura.
Fruto do ato as famílias conquistaram o canal de diálogo com a secretaria de habitação que assumiu compromisso de até o fim de junho apresentar um proposta ao movimento.
Em todo esse período as famílias continuaram se reunindo semanalmente no núcleo do MLB aumentando a cada reunião o potencial de moblização realizando ato na FUNPAPA exigindo cesta básica e de olho no prazo dado pelo secretario se fazendo presente no dia 28 de junho na SEHAB para cobrar a resposta do compromisso firmado.
Para Fernanda Lopes, coordenadora do MLB, esse histórico de luta e organizaçao é o principal responsável para que essas familias possam ter no dia de hoje uma resposta positiva e o real compromisso da prefeitura em garantir a construção de moradia própria pra quem tanto precisa.
O MLB está certo que o exemplo da ocupação Sá Pereira será capaz de moblizar cada vez mais pessoas que sofrem mês a mês com o pagamento dos altos aluguéis. O clima é de grande festa e a reunião do MLB que ocorre na tarde de hoje (sexta-feira) promete se transformar num verdadeiro ato de comemoração da conquista do sonho da casa propria.
Em debate realizado no dia 26 de junho, o Centro Cultural Manoel Lisboa (CCML), abordou o recente golpe de estado promovido no Paraguai.
A Cônsul da Venezuela, Coromoto Godoy, apresentou em seu debate que o alerta à possibilidade de golpe já era dada desde a presença constante de representantes dos EUA em visitas nos países da América Latina. O golpe já vinha sendo programado e havia que se considerar a relação próxima e visitas constantes do vice-presidente à embaixada dos EUA no Paraguai. Assim, a condição política que se configurou no país após os últimos conflitos agrários e a posição do presidente terminaram por ser o pretexto esperado pelos 5 deputados ruralistas que propuseram o impeachmant do presidente, que em um julgamento arbitrário foi deposto do poder sem ao menos ter o direito de defesa.
Diante de tal quadro e considerando as diferenças do processo de resistência do povo paraguaio, de forma a preservar a vida do seu povo, o presidente Lugo vê em sua aceitação da decisão uma forma de evitar um derramamento de sangue no país. Contudo, é certo o seu comparecimento na reunião da Unasul e permanência no MERCOSUL, que debaterá a posição dos países da América (já em sua maioria absoluta tendo se posicionado contrários à condição daquele país hoje) acerca do golpe.
Coromoto saudou a iniciativa do CCML e afirmou a necessidade de o povo sentir-se cidadão dessa “Pátria Grande” que é a América Latina, se unindo contra o golpe e apoiando o presidente Lugo. Afirmou ser o golpe dado contra governo do Paraguai, um golpe à um governo eleito pelo povo que servia ao povo e defendia, entre outras, a re-apropriação das terras improdutivas dos grandes latifundiários, inutilizadas por estes, pelo povo. Assim, espera-se que o sentimento de solidariedade entre os povos da América cresça, que os países da “nuestra América” defendam esse país irmão e tomem partido, posto que os latifundiários já tomaram a sua posição.
Em maio, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Têxteis de Ipojuca (Sindtêxtil), Rodrigo Rafael, foi demitido pela Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe) como forma de intimidação às lutas que o sindicato passou a desenvolver desde o início do ano, quando foi fundado.
No entanto, a solidariedade de vários sindicatos e a intervenção do Departamento Jurídico do Sindtêxtil foi decisiva para virar o jogo a favor dos trabalhadores. No último dia 20 de junho, o juiz da 3º Vara do Trabalho de Ipojuca, Edgar Gurjão Wanderley Neto, decidiu “que a reclamada (empresa) proceda à imediata reintegração do reclamante em seus quadros, sob pena de pagamento de multa diária”. Acompanhado por um oficial de justiça e por vários dirigentes sindicais do Movimento Luta de Classes (MLC), Rodrigo Rafael foi reintegrado em suas funções na empresa.
“Esta vitória na Justiça demonstra que os patrões não podem tudo, ao contrário do que eles pensam. Vamos continuar lutando até reintegrar a companheira Alais Santos, tesoureira do sindicato, também demitida, e, acima de tudo, nos fortalecer a partir desta decisão para exigir a abertura imediata das negociações sobre a pauta de reivindicações que o Sindtêxtil apresentou em defesa da categoria”, afirmou Rodrigo.
Retaliações ao sindicato
O sindicato foi fundado dia 25 de fevereiro deste ano para fazer frente aos abusos cometidos contra os trabalhadores (assédio moral) e para lutar por melhores condições de trabalho (a empresa reduziu gastos com climatização dos ambientes e com refeitório) e por melhores salários.
Temendo o importante papel que o sindicato demonstrou desde o primeiro momento de sua organização, os capitalistas da Citepe se apressaram em deflagrar uma campanha de perseguição aos dirigentes sindicais. Mudaram os diretores do sindicato de setor e de turno para isolá-los dos demais trabalhadores e, numa tentativa desesperada de manter os operários longe da influência do Sindtêxtil, chegaram a demitir o presidente e a tesoureira.
A Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe) produz cerca de 500 toneladas de fios texturizados por mês, e a previsão, com o incremento de mais 14 máquinas até o final do ano, é passar para 2.300 toneladas. O volume de investimentos no Complexo Petroquímico, onde atuam a Petroquimíca Suape e a Citepe, é de R$ 6 bilhões, entretanto, os operadores da Citepe recebem míseros R$ 789,24.
Imagine poder descobrir e redescobrir fotos importantes que marcaram a história da humanidade. Adentrar ao universo no qual o homem está diretamente conectado com o mundo e sua marcha histórica. Compreender as transformações sociais ocorridas ao longo dos séculos. Entender os aspectos que levaram a decadência do Capitalismo como regime filosófico, econômico e político-social, partindo para a compreensão das lutas de classe, premissas do Marxismo-Leninismo.
Esses são aspectos abordados pelo livro Socialismo Científico – HISTÓRIA, volume 1: Sinopse de História Universal; método materialista dialético da Pré-História aos tempos atuais. Uma obra completa, alicerçada pelo tripé História, Filosofia e Economia, que aborda essencialmente a importância histórica para o Socialismo Científico(SC).
Ao utilizar genericamente a expressão Socialismo Científico, o autor Zola Florenzano, que completou recentemente 100 anos, nos faz compreender as mais gerais leis político-sociais guiando o leitor a um caminho de mudanças sociais.
Utilizando-se de uma linguagem clara, objetiva e de fácil compreensão, o livro parte da análise dos primeiros registros da humanidade, passando por importantes movimentos históricos. Ao leitor é possível viajar pela história das civilizações e compreender aspectos marcantes da Idade Média, do Capitalismo, das Revoluções Científicas e da Religião.
O livro ainda nos leva a conhecer as transformações políticas, econômicas e sociais, as descobertas marítimas, o Iluminismo, a Revolução Russa, as duas grandes Guerras Mundiais, o término da Guerra Fria e as perspectivas para o Século XXI. Em sua última explanação o autor aborda a influência de Marx e o futuro do Marxismo.
Em suas quase mil páginas, Socialismo Científico – HISTÓRIA, volume 1, apresenta ao leitor uma nova forma de ver e analisar os acontecimentos do passado. Um livro instigante voltado não apenas para historiadores, mas, sobretudo, para aqueles que desejam percorrer e compreender o universo contemplativo da história da humanidade.
O lançamento do livro vai ocorrer no dia 7 de julho no Circulo Militar do Paraná, às 17 horas. Largo Bittencourt, nº 187, Curitiba.
“Não trocaria um pedaço da terra de Cuba por todo o dinheiro que poderiam dar-me”
Teófilo Stevenson, Munich 1972
No dia 11 de junho, morreu uma estrela do pugilismo mundial, o cubano Teófilo Stevenson. Nascido em 29 de março de 1952 na cidade de Delicias, província de Las Tunas, Stevenson ganhou todos os títulos da Associação Internacional de Boxe (Aiba). Foi campeão mundial dos pesos meio-pesados, em 1969, e passou à categoria máxima um ano depois, para se proclamar campeão do Caribe.Tricampeão olímpico (Munich – 1972, Montreal – 1976 e Moscou – 1980), tricampeão mundial (Havana – 74, Belgrado – 78 e Reno – 86), o lutador também venceu os Jogos Pan-Americanos e Jogos Centro-Americanos e do Caribe.Exímio boxeador, dotado de talento e técnica extraordinários, Stevenson, além de um excelente atleta, leal com seus adversários e implacável em suas lutas, foi um do
s grandes defensores, ao redor do planeta, do regime socialista cubano.
Stevenson negou, por diversas vezes, convites para se transformar em lutador profissional e abandonar seu país, perdendo assim a chance de lutar contra Muhammad Ali. Em resposta a uma proposta de contrato que lhe renderia cerca de U$$5 milhões (R$ 9 milhões), proferiu sua mais marcante frase: “O que é um milhão de dólares em comparação ao amor de oito milhões de cubanos?”.
Ultimamente, Teófilo Stevenson se
dedicava à Vice-presidência da Federação Cubana de Boxe, munindo de sonhos e ideologia jovens garotos e garotas apaixonados pela modalidade e por sua Pátria Socialista.
No dia 7 de junho, a jovem operária Débora Heloar, de 20 anos, faleceu dentro da empresa Delphi Packard Electric Systems, empresa americana que fabrica chicotes elétricos (fiação elétrica) para a Fiat Automóveis na cidade mineira de Itabirito, próximo à região dos Inconfidentes. A morte da jovem revoltou os operários da fábrica e intensificou a campanha de denúncias contra a multinacional.
Uma das denúncias que os trabalhadores fazem é sobre o fato de que, quando os empregados afastados temporariamente retornam ao trabalho, voltam a exercer as mesmas atividades que geraram as doenças profissionais e suas sequelas. Andreia, um exemplo dessa situação, já ficou afastada duas vezes, o que totaliza quatro anos longe da empresa pelo mesmo problema. “Trabalhava no setor de tableiro, que era uma bancada fixa onde são montados os chicotes. Quanto voltei, o setor foi renomeado para conveyor e a mesa agora é giratória, e nela o ritmo de trabalho é acelerado, o tempo da máquina é controlado e um chicote fica pronto em um minuto e quarenta e cinco segundos”, conta, e completa: “Sem falar na tensão e no cansaço que retiram todo o nosso interesse em manter uma vida saudável”.
Os números registrados ilustram a situação na empresa, onde mulheres e adolescentes são tratados como verdadeiros escravos. Atualmente, 130 empregados estão afastados e outros 60, na faixa de 20 a 26 anos, foram aposentados por invalidez. Entre as doenças profissionais mais comuns estão a Dort (Distúrbios Ósseos Musculares Relacionados ao Trabalho), antes conhecida por LER (Lesões por Esforços Repetitivos) e a surdez ocupacional. No geral, de 1994 a 1999 foram registrados 2.066 casos de afastamento por doença profissional em todo o setor metalúrgico.
Laudo confirma más condições
Um laudo de 1997, feito por uma equipe de especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a pedido do Ministério Público do Trabalho, confirma as más condições de trabalho na empresa. Segundo o documento, “particularmente os setores de montagem de chicotes (tableiros móveis) e cockpit, as condições são inadequadas e antiergonômicas, estando em vários aspectos em desacordo com a legislação em vigor”. Em outros dois setores de produção, ainda segundo o documento, “apesar de à primeira vista a carga de trabalho não se ter mostrado muito intensa, alguns problemas e queixas foram também observados e deverão ser propostas melhorias”. O laudo conclui que, diante das condições inadequadas de trabalho, é fácil entender por que o número de casos de doenças profissionais existentes é significativo na empresa.
Os trabalhadores, porém, denunciam essa situação. Uma funcionária da fábrica enviou a A Verdade uma carta contando como aconteceu a morte da operária de apenas 20. Segue, na íntegra, o relato.
No dia 05/06/2012, segunda-feira, Débora chegou à empresa passando mal e se queixando de dor de ouvido e dores no corpo; passou quase o dia todo no ambulatório e, mesmo sentindo dores, não a encaminharam para o hospital.
No dia 06/06/2012, terça-feira, a jovem foi ao hospital por conta própria. Chegando ao hospital, Débora falou o que sentia à médica, que mal a examinou – apenas perguntou onde ela trabalhava e, quando ela disse “Delphi”, a médica deu um dia de atestado para ela; achou que era invenção, pois a empresa não é bem-vista.
No dia 07/06/2012, quarta-feira, Débora retornou à empresa. Chegou passando mal, sentindo muita falta de ar. Pediu água, pegamos a água; na hora em que ela foi beber, pediu pra poder ajudar porque já não estava enxergando; após beber a água, veio a desmaiar. Um brigadista que estava por perto a levou para sala de segurança, onde tinha dois bombeiros conversando, e ela sentada numa cadeira. Perguntamos como ela se sentia; ela disse que estava sentindo muita falta de ar e não estava nem conseguindo conversar; Mal conseguia levantar a cabeça, estava muito pálida e fraca. Débora chegou por volta das 5h30 e só foi levada para o hospital às 7h30, e, antes de a levarem para o hospital, já tinham ocorrido dois desmaios que, na conclusão de todos, eram dois ataques cardíacos. Chegando ao hospital, Débora veio a ter o terceiro ataque cardíaco, que foi fulminante.
Eu nunca vi uma empresa que não tem uma ambulância, não tem um médico ou enfermeira. Eles acham que temos que passar mal na hora em que eles querem, não tem nem remédio direito. O ambulatório abre entre 7h e 8h – fora o descaso que os chefes fazem e fizeram, mesmo depois que a jovem veio a falecer. A empresa não fez caso dos amigos que choravam, não pararam o setor onde ela trabalhava. Um dos amigos pediu à empresa que liberasse todos do setor para ir ao enterro, mas não permitiram e um dos chefes falou: “Como ia ficar a produção da empresa e como eles iam explicar pra Fiat que a empresa perdeu produção por causa de uma funcionária que tinha falecido?”. Mesmo depois que os funcionários disseram que trabalhariam mais tempo e nos finais de semana para não perder produção, eles disseram que não liberariam.
Isso é um absurdo, vários funcionários da empresa estão revoltados e alguns não querem nem trabalhar mais, pelo descaso com que trataram a morte da jovem.
A Delphi já vem sendo denunciada com várias queixas de funcionários que passam mal, e se o médico achar que estão aptos a trabalhar, eles são obrigados a trabalhar mesmo não tendo condições. Vários funcionários saem de licença por doença, por dores musculares, por problemas que dão dentro da empresa e mesmo depois de ficarem bastante tempo afastados; quando voltam, eles exercem o mesmo trabalho. Fora o estresse que têm alguns funcionários, que chegam a fazer tratamento. O estresse é tanto que uns chegam a entrar até em depressão e têm que fazer acompanhamento com psicólogo. E quando isso vai acabar? Quando mais pessoas morrerem…”
No dia 26 de junho de 2012, a Câmara dos Deputados aprovou o texto do Plano Nacional de Educação (PNE), encaminhado por seu relator, o deputado federal Ângelo Vanhoni (PT-PR). A discussão na sala da Comissão de Educação foi acalorada, com a presença de mais de 300 estudantes, pois se percebia a tentativa do Governo Federal em atrasar a votação nos bastidores ou mesmo de derrotar o movimento educacional, que defendia a aplicação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) no orçamento da Educação pública.
O resultado é que a pressão dos estudantes se fez valer, e a proposta dos 10%, defendida na ocasião pelo deputado Paulo Rubem (PDT-PE), foi aprovada por uma unanimidade constrangedora para o Governo, que chegara a sustentar o índice de 8%.
Primeiramente é preciso identificar que esta pode se configurar como a vitória mais expressiva do movimento educacional nos últimos tempos, caso o PNE seja aprovado no plenário do Congresso e sancionado pela presidente Dilma Rousseff.
Em segundo lugar, demonstra claramente a importância da persistência, da realização de cada luta, seja uma jornada de manifestações de rua, seja um debate dentro de uma escola ou universidade.
Cada estudante que foi às ruas Brasil afora, cada estudante que passou numa sala de aula fazendo um discurso, que recolheu assinaturas de abaixo-assinado, que ocupou bandejão ou Reitoria, que pressionou as autoridades no MEC, no Congresso Nacional, numa Assembleia Legislativa em seu estado, cada estudante que fez greve (neste momento, são mais de 25 universidades federais em greve estudantil no país), contribuiu imensamente para esta conquista.
A luta dos docentes e servidores técnico-administrativos das universidades e institutos federais (o atual movimento paredista já conta com a adesão de mais de 90% das instituições), as recorrentes greves dos trabalhadores em educação básica em quase todos os estados e em diversas cidades importantes, as campanhas populares desenvolvidas pelas entidades de classe e movimentos populares por creche e moradia, todos, sem exceção, tiveram um papel determinante neste processo luta.
Também foi indispensável a contribuição de deputados comprometidos com a Educação, como Paulo Rubem (PDT-PE), Ivan Valente (PSOL-SP), responsável pela unificação de todas as emendas relativas aos 10% em torno da proposta aprovada, Chico Alencar (PSOL-RJ) dentre outros. Quem participou do ato no dia da votação do PNE na Câmara viveu um momento histórico, sem sombra de dúvidas.
Porém, não podemos esquecer que esta foi apenas uma primeira vitória. A aprovação em comissão da Câmara se deve à grande pressão popular, mas nada está garantido. A votação ainda vai para o Senado, volta para o plenário do Congresso e depois ainda tem que passar pela sanção presidencial.
Lembremos que, no último PNE, o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), vetou o trecho que instituía 7% do PIB para a Educação, e que Lula (PT) manteve o veto durante seu mandato.
É preciso aumentar a pressão e radicalizar as lutas! É momento de fortalecer as entidades e a organização estudantil, que, por seu peso numérico, por sua história de combatividade e rebeldia, podem decidir este jogo em favor da Educação brasileira.
Além disso, mesmo depois de todas as etapas vencidas, o PNE tem um período de execução de dez anos. Até lá, até sair dos cerca de 4% atuais para os 10% defendidos pelo movimento, e até que os investimentos (um incremento de mais de R$ 85 bilhões no orçamento da Educação) passem a surtir os efeitos esperados, será um longo caminho.
Também não foi dito de onde sairá o dinheiro. Serão necessárias ainda muita fiscalização e cobrança para efetivar o investimento, porque é preciso trazer para a prática as promessas e discursos, tornando-os investimentos concretos. Porque é necessário aplicar imediatamente em política de permanência e assistência estudantil, em aumento no número e valor das bolsas nas universidades, em infraestrutura geral no ensino básico e superior. Porque é preciso realizar uma massiva ampliação de vagas no setor público para acabar com o vestibular e instituir o livre-acesso do povo à universidade pública, gratuita e de qualidade.
Lembremos que mais de 4,5 milhões de jovens se inscreveram no Enem 2012 para pouco menos de 200 mil vagas oferecidas.
E não podemos esquecer dos cerca de 15 milhões de brasileiros (aproximadamente 9% da população com mais de dez anos, segundo o IBGE) que são analfabetos, o que, se somados àqueles que apenas sabem escrever o próprio nome e realizar simples operações matemáticas ou mesmo não conseguem interpretar um texto corretamente, chegam aos 40% da população. Uma vergonha com a qual o Brasil convive há décadas e que não pode mais ser tolerada.
O Governo já deixou claro que tem outras prioridades, como o pagamento fiel dos juros da dívida pública e as isenções fiscais aos grandes monopólios industriais e ao agronegócio, e tentará se rearticular para barrar os 10%.
Este momento histórico nos ensina que sempre que os estudantes e a classe trabalhadora desse país radicalizaram suas lutas e acreditaram em sua capacidade de mobilização e organização, saíram vitoriosos. É tempo de lutar e conquistar!
Yuri Pires é vice-presidente da UNE e militante da UJR
Em recente estudo divulgado pelo Instituto Ilos (RJ), que tem como uma de suas atividades soluções em logística foi apresentada uma metodologia que permite quantificar o valor monetário de “limpar” (?) o meio ambiente em caso de derramamento de petróleo no Brasil. O modelo calcula, sob a visão empresarial, apenas as despesas com a limpeza do óleo cru, sem levar em conta as multas aplicadas pelos órgãos de proteção ambiental, os gastos referentes à recuperação da fauna e flora, e outros custos financeiros decorrentes do derramamento e de seus impactos.
Esta tentativa de mensurar pode ser relevante para avaliar o risco ambiental no caso de um desastre provocado pelo derramamento de óleo, e se ter base técnica para o estabelecimento de indenizações aos diferentes tipos de impactos causados. O valor encontrado para a área do pré-sal utilizando a técnica de dispersão do óleo característico da região foi de US$ 56,86 para cada barril (159 litros) derramado. O próprio estudo aponta que se o vazamento for próximo da costa, este valor pode quadruplicar, chegando a US$ 227,44, inferior ao encontrado para os EUA que é de US$ 260,24 e superior ao barril derramado na Europa que é de US$ 109, 77.
No caso particular de Pernambuco, onde se encontra em construção o Complexo Industrial Portuário de Suape o receio de um vazamento/derramamento é plenamente justificável, e motivo real de preocupação. Neste território de 13.500 ha vai se concentrar inúmeras atividades industriais que utilizarão como matéria prima o petróleo e derivados, além de atividades portuárias de carga e descarga do referido material. Ali já se encontra em construção uma refinaria que receberá petróleo e terá capacidade de produzir 200.000 barris de óleo diesel e insumos diversos para a indústria petroquímica que está se instalando na região, um parque de termelétricas consumindo óleo combustível e gás natural, além de estaleiros, entre outras indústrias.
Para as comunidades residentes e nativas um derramamento de óleo iria atingi-las diretamente, com reflexos na economia regional, e cujos efeitos poderiam ser catastróficos. A relevância da atividade turística na região, onde se situa a 10 km o balneário de Porto de Galinhas, constitui um aspecto particular na avaliação dos prejuízos causados por um provável acidente. Outros impactos poderão ocorrer se analisarmos e compararmos com as conseqüências decorrentes do desastre ecológico provocado pelo vazamento de óleo da Refinaria Duque de Caxias (REDUC), em janeiro de 2000, onde 5,8 mil toneladas de petróleo (42.522 barris) foi derramado no mar.
Nesta oportunidade os impactos verificados foram: a redução do consumo de peixe e frutos do mar em decorrência da contaminação; a interrupção ou arrefecimento de diversas atividades econômicas, com destaque para a pesca, o turismo e o comércio na área atingida pelo vazamento; o desemprego; o comprometimento da imagem da Baía de Guanabara – cartão postal do Estado; a criação de ambiente propício ao surgimento de diversas moléstias ou sintomas (dermatite, conjuntivites tóxicas ou alérgicas, provocadas pelo contato com o óleo, doenças do fígado, depressão do sistema nervoso central e irritações gastrintestinais, provocadas pela ingestão de alimentos contaminados, perda de apetite, náusea, vômitos e dor de cabeça provocado pela inalação de vapores tóxicos liberados a partir da decomposição, sob a ação do calor, do óleo contido na lâmina d’água). Sem contar que foi atingida uma área de mangue, santuário de várias espécies marinhas que ali encontravam seus alimentos e se reproduziam. Neste ecossistema o derramamento matou ou mesmo gerou um forte estresse nas plantas que tiveram contato com o óleo, causando um sufocamento radicular devido à absorção de elementos tóxicos.
Um simples exercício aritmético mostra que se usarmos os números apresentados pelo Instituto Ilos para o acidente da REDUC, somente com a “limpeza”, ou melhor, a dispersão do óleo derramado, estima-se gastos em torno de 10 milhões de dólares. Quantia que pode ser considerada pequena diante das despesas com todos os outros impactos relacionados a esta tragédia, que deixou marcas na Bacia de Guanabara até hoje.
Longe de ser um profeta do apocalipse, mas diante da opção adotada de se instalar um complexo com porto e indústrias sujas em Suape, a pergunta que não quer calar: Pernambuco está preparado (ou se preparando) para a prevenção de um acidente que pode acontecer provocado pelo derramamento/vazamento de petróleo em sua costa?
Heitor Scalambrini Costa Professor da Universidade Federal de Pernambuco
Cláudio Guerra, assassino confesso da Ditadura Militar, escreveu o livro Memórias de uma Guerra Suja no qual mente descaradamente sobre os covardes assassinatos dos dirigentes do Partido Comunista Revolucionário (PCR) durante os anos de chumbo. O objetivo das mentiras do matador é proteger alguns dos seus colegas de profissão, despistando assim, a Comissão da Verdade.
Temendo que o crescimento do movimento reivindicatório e político das classes trabalhadoras ameaçasse os fabulosos lucros dos seus monopólios e desapontados com a negativa do governo João Goulart de apoiar a intervenção militar em Cuba no ano de 1961, o governo dos EUA passou a trabalhar diuturnamente para derrubar o governo brasileiro.
Para alcançar o sucesso nesta criminosa empreitada, os grandes capitalistas dos EUA e do Brasil aliciaram os generais, políticos, cardeais e os donos de jornais, rádios e TVs mais reacionários do país.
Para esmagar a resistência da juventude e do povo, colocaram os tanques nas ruas, fecharam o Congresso Nacional, O CGT, a UNE, a UBES, cassaram os mandatos de políticos, promotores e juizes de esquerda, seqüestraram, encarceraram, assassinaram sob torturas, ocultaram cadáveres e exilaram as principais lideranças do povo brasileiro.
Para garantir a longevidade da primeira e mais longa ditadura da América Latina (1964-1985), as Forças Armadas se acercaram do que havia de mais podre no seu próprio seio e nas entranhas dos esquadrões da morte alojados nas polícias civil e militar.
Um desses policiais bandidos, de natureza nazifascista, que atende pelo nome de Cláudio Guerra, de Vitória (ES), hoje com 73 anos de idade, resolveu falar e contar, segundo ele, tudo que sabe (será mesmo?) sobre os chamados anos de chumbo. Seu depoimento, dado aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, foi publicado no livro Memórias de uma Guerra Suja (Top books Editora, Rio de Janeiro, 2012).
“Matador frio e implacável”
É assim que os próprios jornalistas classificam o seu entrevistado. Porém, complacentes, não acrescentam o epíteto de covarde e mentiroso. Em momento algum, o policial a serviço dos generais fascistas no Brasil, agora travestido de pastor, relata algum confronto em que tenha enfrentado cara a cara suas vítimas, os patriotas, os comunistas ou religiosos. Matando sempre pelas costas, em emboscadas, em ações de surpresa, para dar um “tiro de misericórdia em quem já estava agonizando”. Mentira. Na verdade, todas as suas vítimas políticas, sem exceção, foram extremamente torturadas até a morte, muitas delas estupradas, tudo com o objetivo de arrancar informações sobre a organização dos revolucionários e da resistência armada à ditadura e tentar converter algum resistente em delator e até em agente policial. Esta foi a via crucis a que todos os revolucionários seqüestrados foram submetidos, depois do surgimento do DOI-CODI no final de 1969. O ex-delegado fascista omite propositadamente todos os casos de seqüestros e torturas de que participou porque sabe que estes crimes são imprescritíveis por sua natureza de lesa-humanidade, assumindo somente os crimes de assassinatos que já prescreveram por terem sidos praticados há mais de trinta anos.
Logo após o fim da ditadura, Cláudio Guerra se transformou em matador de aluguel à disposição dos patrões capixabas para eliminar lideranças sindicais rurais e urbanas. Matou a própria mulher e uma cunhada e jogou os corpos no lixo no início dos anos 80. Este é o perfil de um perigoso criminoso, de um monstro criado e cevado pelo governo militar, que agora anda de Bíblia na mão, se passando por pastor para tentar ludibriar A Comissão da Verdade e os familiares dos mortos e desaparecidos políticos, todos no encalço daqueles que torturaram até a morte e sumiram com os corpos dos seus entes queridos e abnegados heróis da causa da liberdade, da justiça e do socialismo.
No início dos anos 70, Claudio Guerra era delegado da polícia civil em Vitória (ES), envolvido com esquadrões da morte e com o jogo do bicho. Unificou as bancas para melhor controlá-las e matou os bicheiros que não aceitaram sua truculenta liderança.
Mercenário da repressão política do Estado
No final de 1972, o Procurador Federal no Espírito Santo, Geraldo Abreu (as procuradorias eram órgãos de apoio e articulação da perseguição à oposição do governo militar), apresentou Cláudio ao comandante-maior da repressão política, o coronel do exército Freddie Perdigão Pereira. Esta macabra parceria resultou em 15 anos de crimes hediondos, como mortes sob torturas, seqüestro e desaparecimento dos corpos de inúmeros militantes políticos de oposição ao regime militar, até hoje impunes, entre os quais o réu confesso e ainda em liberdade, Cláudio Guerra, assume os seguintes:
Execução de Nestor Veras (PCB), Ronaldo Moutinho Queiroz (ALN), Merival Araújo (ALN), Almir Custódio de Lima, Ramires Maranhão do Vale e Vitorino Alves Moitinho (PCBR), Manoel Lisboa de Moura, Emmanuel Bezerra e Manoel Aleixo (PCR).
Incineração dos corpos de 10 militantes mortos sob tortura na Casa de Petrópolis (“Casa da Morte”), entre os quais identifica: Joaquim Pires Cerveira, David Capistrano, Luiz Ignácio Maranhão Filho e Fernando Santa Cruz. Seus corpos teriam sido incinerados no forno da Usina Cambahyba, situada no Município de Campo dos Goytacazes, pertencente a Heli Ribeiro Gomes, que foi vice-governador do Rio de Janeiro no período 1964-1971 e grande amigo das autoridades militares.
Com a “abertura lenta, gradual e segura” anunciada pelo ditador-presidente, general Ernesto Geisel, Cláudio e os demais agentes da repressão política passaram a planejar e realizar atentados e atribuí-los à esquerda, a fim de abortar a redemocratização: incêndio de bancas de jornal, explosão de bombas em órgãos de imprensa, OAB, Cine-Teatro Apolo 11 em Cajazeiras (PB) e o que seria a grande ação (Riocentro), na qual os terroristas se frustraram, tendo a bomba explodida no colo de um deles.
Amigo e parceiro do mais facínora de todos, o delegado Sérgio Paranhos Fleury, chefe do DOPS, torturador da Operação Bandeirantes (OBAN) e do DOI-CODI, órgãos de captura e tortura de comunistas do II Exército em São Paulo, Cláudio não hesitou em votar por seu assassinato, como queima de arquivo, e só não participou diretamente da execução porque o plano foi mudado.
Mentiras sobre heróis do PCR
Em relação à execução dos dirigentes do PCR, Cláudio Guerra mente descaradamente. Por que razão? Talvez para proteger alguns dos seus colegas da macabra profissão, despistando assim, a Comissão da Verdade, os familiares e o Partido sobre o encalço dos verdadeiros responsáveis por seus suplícios e mortes. Vejamos:
Manoel Aleixo da Silva. Cláudio Guerra conta que recebeu passagens Rio/Recife/Rio do SNI (Serviço Nacional de Informação) para matar um líder importante, que depois identificaria como sendo Manoel Aleixo. Teria sido levado a um bairro, que não sabe qual é, encontrou Aleixo caminhando na rua. Ele estava sozinho, desprevenido. Passou por ele como quem não queria nada. Atirou, ele caiu. “Para mim, estava morto. Tiraram-me dali. Sumiram com o homem. Não tenho explicação sobre esse sumiço”.
A verdade: Manoel Aleixo (1931-1973), é sua própria companheira Izabel Simplício da Conceição quem relata, foi seqüestrado de sua própria casa no dia 29 de agosto de 1973. Levado para o DOI-CODI do IV Exército foi torturado e morto, sem entregar ninguém, provamos isto porque cobrimos o ponto marcado no interior da igreja católica de Ribeirão, dias depois do seu seqüestro, sem que nada acontecesse. Os responsáveis diretos pelas sevícias e assassinato foram Sérgio Paranhos Fleury, o delegado Moacir Sales de Araújo (diretor do DOPS-PE), o delegado José Oliveira Silvestre, o torturador da polícia civil Luís Miranda, o então capitão de exército Vilarinho Neto e o Major Gabriel Antônio Duarte Ribeiro, ambos ainda vivem em Recife e deveriam ser interrogados pela Comissão da Verdade. O IV Exército, como era de costume, divulgou a mentira de que Aleixo morrera durante tiroteio com os órgãos da repressão política em Ribeirão, zona canavieira de Pernambuco. A versão de Cláudio Guerra desmente a do IV Exército, mas o bandido também mente. Naturalmente, na lógica da repressão, um líder importante como Manoel Aleixo, dirigente histórico das Ligas Camponesas, responsável pelo trabalho no campo do PCR, teria de ser capturado vivo e torturado para tentar extrair informações sobre o partido, as quais ele não deu e por isso mesmo foi morto. Não tinha sentido trazer um policial do Rio só para atirar em Aleixo, sem qualquer tentativa de aprisionar e interrogar um importante comunista revolucionário.
Manoel Lisboa de Moura. Manoel Lisboa (1944-1973), alagoano, fundador e dirigente maior do PCR, foi seqüestrado na Praça Ian Fleming, no Rosarinho, em Recife no dia 16 de agosto de 1973. Poucos dias depois, Maria do Carmo Tomáz, operária da Fábrica Torre, também militante do PCR, foi presa e colocada frente a frente com Manoel. Ela relata: “estava totalmente nu, com muitos hematomas, semi-paralítico, apenas me olhou e falou: sei que a minha hora chegou,só peço que continuem o trabalho do Partido. Depois, fiquei numa cela vizinha ouvindo seus gritos. Certo dia, já no começo de setembro, o próprio torturador Fleury, diante das grades da minha cela, comemorou a morte de Manoel comentando com euforia – Manoel Lisboa vocês não o terão mais nunca”. Na estória inventada pelo próprio Cláudio, o delegado José Silvestre entregou Manoel a Fleury e ele já estava mal por causa da tortura. Como poderia ir a um bar em Vila Moema em São Paulo se encontrar com Emmanuel Bezerra quando o ponto de encontro ambos estava marcado em Recife no dia 15 de setembro, quando voltaria da sua missão no Chile e Argentina? Mesmo assim, na invenção de Cláudio Guerra, ambos estariam conversando em São Paulo até serem eliminados a tiros por Cláudio, Paulo Jorge e Pejota, levados diretamente de Vitória apenas para essa missão. História sem pé nem cabeça.
Emmanuel Bezerra dos Santos. Emmanuel Bezerra (1943-1973), potiguar de Caiçara (RN), foi presidente da Casa de Estudante de Natal, liderou a bancada dos delegados estudantis do Rio Grande do Norte ao XX Congresso da UNE em Ibiúna (SP), era integrante da Comissão Executiva da Direção Nacional do Partido e responsável pelo trabalho do PCR em Alagoas na clandestinidade e muito provavelmente foi capturado pela “Operação Condor”, durante a missão que cumpria no Chile e Argentina. Foi torturado até a morte nas dependências do DOI-CODI de São Paulo sem que os carrascos fascistas tivessem o prazer de saber, sequer, a casa e a cidade onde Emmanuel residia, Maceió. Seu corpo foi encontrado na mesma cova do cemitério de Campo Grande de São Paulo para onde Manoel Lisboa fora levado; ambos foram enterrados como desconhecidos. De nada adiantaram as monstruosidades e as mentiras para caluniarem suas heróicas trajetórias de comunistas revolucionários e despistarem seus familiares e camaradas. Os restos mortais de Manoel Lisboa e Emmanuel Bezerra foram localizados e identificados, graças à Comissão dos Familiares de Mortos e Desaparecidos, que depois de rigorosa análise do laboratório da UNICAMP, tivemos a honra de sepultá-los como heróis junto aos seus familiares no Rio Grande do Norte e em Alagoas.
Ainda, do mesmo modo cruel e bárbaro foram sacrificadas as vidas de Amaro Félix Pereira, que foi dirigente das Ligas Camponesas e seqüestrado e torturado até a morte sem entregarem o seu cadáver até hoje, e de Amaro Luiz de Carvalho, histórico dirigente das Ligas, do movimento sindical, fundador do PCR em maio de 1966, com curso de formação política e militar em Cuba e na China e foi assassinado no pátio da Casa de Detenção do Recife em 21 de agosto de 1971, por determinação dos usineiros José Lopes de Siqueira, Júlio Maranhão e o diretor do da Detenção, coronel da PM, Olinto Ferraz.
Estes e todos os heróis do povo brasileiro, como Carlos Marighella, Maurício Grabois, Paulo Stuart Wright, David Capistrano, Mário Alves, Fernando Santa Cruz, Joaquim Seixas, Soledad Barret, Padre Henrique, entre tantos outros, serão sempre a nossa eterna referência e fonte de inspiração na luta pela emancipação do nosso povo trabalhador e pela independência verdadeira da nossa pátria e pela solidariedade com os povos explorados e oprimidos do mundo pelo capital imperialista.
Pela imediata prisão do criminoso Cláudio Guerra
Diante da gravidade das denúncias deste perigoso criminoso da ditadura, o torturador, assassino e ocultador de cadáveres, Cláudio Guerra, vimos exigir do governo brasileiro a sua prisão imediata, até ser julgado e condenado exemplarmente pela autoridade competente. Se tal prisão e a tomada de depoimentos não ocorrer imediatamente, este réu confesso poderá evadir-se, ou pior ainda, ser assassinado pelos seus antigos comparsas a qualquer hora dessas.
Segundo os cientistas sociais que estudam as causas dos elevados índices de violência na sociedade de hoje e especialmente nos presídios e delegacias tem a ver com a flagrante impunidade, já há décadas dos torturadores dos presos políticos da ditadura militar.
Cláudio Guerra não apenas assume uma parte importante dos seus crimes (apenas atirava e matava?), como aponta outros executores e chefes mandantes, apesar de quase todos mortos, não havendo como serem ouvidos e comprovadas ou não as suas informações).
Confirma tudo o que os militantes sobreviventes haviam denunciado: torturas, assassinatos, sumiço de cadáveres, arrecadação de finanças entre empresários, colaboração de artistas, de setores conservadores da Igreja Católica, etc. É réu confesso. Não lhe cabe, nem a nenhum desses criminosos de lesa-humanidade, o benefício da anistia. Este é o posicionamento unânime da ONU, de todos os órgãos de defesa dos direitos humanos, nacionais e internacionais. Agora a Comissão da Verdade tem a missão apenas de investigar, mas não pode punir.
Porém a organização e a mobilização da juventude e do povo trabalhador devem continuar se inspirando na força do sonho coletivo e na esperança de mudança radical da sociedade pela qual caíram em combate os nossos heróis.
Pela imediata prisão e condenação, do perigoso criminoso da ditadura, Cláudio Guerra!
Aos heróis da resistência armada à ditadura, que deram suas vidas pelo povo brasileiro, toda a honra e toda a glória, agora e sempre!
Edval Nunes Cajá*, Recife, com colaboração de Luiz Alves *Membro do comitê central do PCR
O Senado paraguaio aprovou por 39 votos a favor e quatro contra, a deposição do presidente da República eleito pelo povo, Fernando Lugo. O processo foi um dos mais rápidos da história, com o presidente Lugo tendo apenas duas horas para se defender, testemunhas não foram ouvidas e tampouco foi garantido um amplo direito de defesa. Para dar uma aparência legal a ação, os senadores da burguesia e dos grandes latifundiários chamam a ação golpista de impeachment. Milhares de pessoas estão nas ruas protestando contra o golpe e exigindo a volta de Fernando Lugo ao governo.
Vários governos da América latina já se pronunciaram contrários ao golpe e a decisão do Senado paraguaio.
Analisando o episódio, José Aparecido Rolon, professor de Relações Internacionais e pesquisador do Núcleo de Estudos Internacionais e Políticas Comparadas da USP (NESPI-USP), afirmou ao Opera Mundi que o processo de impeachment impetrado pelo poder é um “golpe disfarçado” da oposição conservadora.
Para ele, os opositores de Lugo encontraram uma forma de destituí-lo do poder seguindo as regras legais, utilizando-se apenas de meios constitucionais. “Não existe um motivo concreto que tenha deflagrado a crise atual no sistema político do Paraguai. Para desestabilizar o governo, a oposição se utiliza de um conjunto variado de acontecimentos, como o conflito contra os sem-terras na semana passada, e os escândalos de paternidade de Lugo”.
A verdade é que a oligarquia, a Igreja e a mídia do país desde 2008 trabalham pela destituição do ex-bispo. Com a aproximação das eleições presidenciais marcadas para abril de 2013, e a falta de perspectiva de vitória dos candidatos da direita, o caminho encontrado foi voltar ao governo para manipular as eleições. A pressa no processo e a posse imediata do vice-presidente teve ainda o objetivo de evitar grandes manifestações e resistência da população.
Por trás dessa atitude estão sim os interesses das oligarquias do país em não permitir a reforma agrária no país. “O presidente colocou o dedo na ferida da oposição”, afirma Marcos Ybáñez, secretário de comunicação do Partido Tekojoja, em entrevista ao site Opera Mundi. “A maioria dos deputados de direita é proprietária de grandes latifúndios e a situação da oligarquia paraguaia se tornou insustentável quando o presidente colocou em debate questões tão sensíveis como a reforma agrária”, explicou.
Ybáñez também afirma que esse movimento dos partidos Colorado e Liberal Radical Autêntico (responsáveis pelo processo de impeachment na Câmara de Deputados e no Senado) foi planejado para atrapalhar as eleições presidenciais de 2013. “Eles querem boicotar o desenvolvimento normal do processo eleitoral. Eles temem que a esquerda ganhe espaço no próximo ano”.
A resistência popular cresce nas ruas, com milhares de representantes de movimentos sociais, sindicais e camponeses cercam o congresso nacional.
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