Durante dois dias e meio, dezenas de famílias sem casa da cidade de Caxias-RJ ocuparam um terreno vazio nas imediações dos bairros São Bento e Parque Fluminense e fizeram dele sua nova morada. A ocupação, organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e denominada de Sônia Angel, foi realizada na madrugada do último dia 27 e já contava com dezenas de barracos, banheiros e cozinha comunitária quando, no início da tarde do dia 29, foi violentamente reprimida pelo Polícia Militar do Rio de Janeiro. Com um efetivo de 40 homens e sem qualquer mandato judicial, o tenente Júlio César, do 15º Batalhão, comandou a desocupação arbitrária e ilegal.
A Polícia se aproveitou do horário de trabalho de boa parte dos participantes da ocupação para realizar a ação criminosa. Valendo-se de bombas de efeito moral e cassetetes, os policiais distribuíram porradas em homens, mulheres e crianças, prenderam oito lideranças e apoiadores do movimento, derrubaram todos os barracos da ocupação e ainda apreenderam e destruíram os cartões de memória de quem portava máquinas fotográficas e celulares com câmeras.
Apesar da brava resistência de todos militantes – para a surpresa dos agentes da repressão –, oito companheiros e companheiros foram levados presos: Juliete Pantoja, coordenadora do MLB e líder da ocupação; Gabriel Henrici, diretor de Direitos Humanos da UEE; Esteban Crescente, diretor da UNE; Carlos Henrique, diretor da Ubes; Juliana Costa, diretora da Fenet; Pedro Gutman, do Diretório Acadêmico de Biologia da UniRio; Vaniewerton Ancelmo, diretor do Sintnaval; e Sandro, do MLB e da Ocupação Eliana Silva de BH.
Segundo Esteban Crescente, um dos detidos, “eles praticaram uma série de arbitrariedades e buscaram primeiro prender os militantes que estavam à frente da ocupação. Praticaram também a tortura, pois nos deixaram presos nos camburões, num calor imenso e sem ar, além de nos ameaçar a todo instante, afirmando que não sairíamos dali, que iriam nos bater mais”.
A posse do terreno é do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mas o despejo foi solicitado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que apresentou documento de concessão. Até novembro de 2011, o terreno estava cedido à Fundação Educacional de Duque de Caxias (Feuduc), faculdade privada situada próximo ao local e que nada fez para dar-lhe qualquer utilidade.
Há anos abandonado e sem função social, é de se perguntar qual crime as famílias ocupantes e o MLB cometeram para serem reprimidos desta forma?
Apesar do ocorrido, os participantes da Ocupação Sônia Angel permanecem de cabeça erguida e orgulhosos por terem enfrentado o poder da especulação imobiliária, do Estado burguês e da Polícia. Manifestações de apoio e solidariedade chegavam a todo instante dos moradores do bairro – que cederam a creche local para os desabrigados e doaram alimentos e manifestaram o desejo de ingressar no MLB –, e de outros movimentos e entidades sociais, como o Sindipetro-Caxias, a Central de Movimentos Populares (CMP) e o Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM).
As famílias da Ocupação Sônia Angel não desistirão de seu propósito de morar dignamente, e o MLB continuará levantando firme a bandeira da Reforma Urbana e socialismo como únicas soluções para o grave problema da moradia no Brasil.
Veja abaixo vídeos da repressão policial sobre o povo pobre e trabalhador:
O juiz do município de Unaí, região Noroeste de Minas Gerais, decretou a prisão do padre Carmelita, assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e militante dos direitos humanos, Frei Gilvander. O motivo para a prisão foi a divulgação de um vídeo produzido pelo Frei que denuncia o envenenamento da população da cidade de Unaí e região pelo abuso de agrotóxicos utilizados na marca “Feijão Unaí”.
No vídeo, uma trabalhadora de uma escola municipal de Arinos, cidade vizinha de Unaí, relata que o feijão foi enviado para a merenda escolar e que as cozinheiras não suportaram o mau cheiro e os sinais de veneno contidos no feijão, chegando, inclusive a passar mal. Isso se repetiu várias vezes, chegando ao ponto de até descartarem o feijão no lixo.
A cidade de Unaí é a campeã nacional em casos de câncer. Segundo os dados da Comissão Parlamentar da Câmara Federal, em Unaí há 1260 casos de pessoas com câncer por ano. A média mundial não ultrapassa 400 casos anuais para cada 100.000 habitantes. A cidade também é a campeã nacional em produção de feijão e de uso de agrotóxicos, uma verdadeira ameaça a saúde da população.
A prisão de Frei Gilvander se dará caso não retire de circulação o vídeo que faz essa importante denúncia, um verdadeiro ataque à liberdade de expressão e informação. Os diretores do Google e do Youtube estão respondendo a processo pela veiculação do vídeo.
Frei Gilvander é um grande companheiro da luta do povo pobre e por isso desperta o ódio dos poderosos. Em maio, por seu apoio à luta do povo por moradia e denúncia do despejo da Ocupação Eliana Silva e de outras comunidades sofreu dezenas de ameaças de morte. (Veja na entrevista ao Jornal A Verdadeclicando aqui). Mas segue firme na luta contando com cada vez mais apoio das comunidades e das pessoas de luta, justas e honestas.
Veja abaixo o vídeo que motivou o decreto de prisão de Frei Gilvander:
Os homicídios cresceram 96% em setembro na capital paulista, em relação ao mesmo período em 2011. Foram 135 casos, mais de quatro ocorrências por dia, o maior número mensal registrado desde que a série começou a ser publicada, em janeiro do ano passado. Apenas no dia 27 de outubro, foram registrados 20 assassinatos na Grande São Paulo (incluindo suspeitos em confrontos com a PM), mais que três vezes a média diária de assassinatos este ano. No total, foram 949 pessoas assassinadas e, entre elas, 85 eram policiais militares. Para o secretário da Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, “o índice de crimes varia como uma onda. A estratégia do governo não está errada, ela está corretíssima. Vários autores de homicídios foram presos e vão nos dizer qual a motivação do crime. O combate feito pelos policiais é efetivo e temos certeza de que vamos reverter esse quadro.”
Já o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), considera a onda de atentados a policiais uma resposta ao combate da polícia ao tráfico de drogas. “O crime organizado não vai intimidar o Estado. A ordem é a polícia ir para a rua, prender os criminosos”, afirmou o governador no último dia 20 de outubro.
É inegável que a atual escalada da violência é consequência direta do aumento dos confrontos entre policiais e traficantes na periferia das cidades paulistas, mas por motivos diferentes daqueles apresentados pelo governador Alckmin e pelo seu secretário, que insistem em colocar a questão como uma guerra entre o bem o mal, entre os agentes da lei e bandidos, tentando angariar apoio da população para ações cada vez mais enérgicas e violentas da polícia.
A verdade é que a polícia trabalha de forma associada ao tráfico e ao crime de maneira geral e, quando a regulação ou a extorsão por parte dos policias cresce, os traficantes dão a resposta e logo surge uma nova escalada da violência. Trata-se de uma briga por uma “justa” divisão dos lucros obtidos com o crime. Lembremos que o Ministério Público e a ONG Justiça Global produziram um dossiê com documentos comprovando que o estopim para a onda de ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) em 2006, em São Paulo, foi uma absurda extorsão sofrida por Marcola, chefe do PCC, que se encontrava nas mãos da Polícia Civil.
Recentemente, um policial civil que investigou grupos de extermínio formados por policiais militares de São Paulo não só confirmou, em entrevista à revista Caros Amigos, (edição de setembro de 2012) a existência desses grupos e sua ligação e subordinação à cúpula da PM paulista, como relatou a sua ligação com o tráfico. “Em cada batalhão tem um grupo de extermínio”, afirmou o policial à revista, sem, entretanto, se identificar, alegando sofrer perseguição.
Os “caixas-dois” (como são conhecidos os grupos de extermínio de cada batalhão) funcionam da seguinte forma: primeiro, identificam-se os “bilões” de cada batalhão, aqueles que, segundo gíria da PM, são considerados os mais violentos, os que mais batem, mais torturam, com perfil de psicóticos. Eles são detectados e, em vez de serem colocados sob avaliação, ganham respaldo, incentivo. Depois, são chamados para integrar os “caixas-dois”. Para o “trabalho”, geralmente usam viaturas da Rota e da Força Tática – ou Forjas Trágicas, como são apelidadas. O grupo é formado por três integrantes, sendo um deles escoltado até um local seguro, onde tira a farda, coloca uma roupa civil e usa uma moto ou um carro para orientar ou executar os assassinatos. Quando o serviço acaba, chega uma viatura, encarregada de recolher as cápsulas e pedir para o pessoal do comércio lavar o local. Em seguida, coloca-se a vítima no carro, e, mesmo que esteja morta, ela é levada ao hospital. Quando necessário, usam o “kit vela” ou “kit flagrante”: uma porção de entorpecente e uma arma fria colocadas na mão do cadáver para justificar o homicídio. Às vezes, também deixam um celular junto à vítima. “O caixa-dois funciona quando não dá para fritar na resistência [justificar o assassinato como decorrência de suposto confronto com a PM]”, explica o policial civil.
A regra do batalhão é: o PM se negou a torturar, a matar? Vai para o PAO: Pelotão de Apoio Operacional, espécie de punição dada pelo comando de alguns batalhões da PM paulista. O castigo consiste em fazer ronda do lado de fora do batalhão, ficar 12 horas de pé, incomunicável com os outros membros da tropa e sem poder comer, urinar ou evacuar.
De acordo com o policial civil, os grupos de extermínio funcionam “numa égide de controle e higienização social, para prestigiar o comando e o governo, para abaixar índices de criminalidade”, explica. Segundo ele, ao ajudar a reduzir as estatísticas de violência nas suas regiões de trabalho, os policiais recebem proteção do comando, sendo favorecidos por melhores escalas, bicos, armamentos, viaturas e outros equipamentos táticos. Entretanto, os grupos já nascem associados a criminosos para gerar lucros aos envolvidos, que, além dos policiais e dos próprios bandidos, incluem políticos, empresários e banqueiros como integrantes. “Tem muito PM batizado no PCC”, completa o policial. Além disso, os grupos de extermínio têm como uma de suas funções intimidar e, se for o caso, matar desafetos políticos de governos, parlamentares ou capitalistas, como líderes sindicais ou populares. O policial civil relata, ainda,que existe um acordo entre policiais e criminosos sobre a divisão de caixas eletrônicos. No esquema, também entram disputas por caça-níqueis, loterias clandestinas e bingos, além dos pontos de venda de drogas.
A dificuldade de combater o problema ocorre, entre outros motivos, por causa da determinação para matar, que vem de cima para baixo. “A cúpula sabe que existe grupo de extermínio”, garante o policial civil. “Eles sabem, mas não querem denunciar. Não é para acabar, pois há interesses pecuniários e políticos. O comando manda fazer, acontecer e foder. Mas, se der merda, o cara fica sozinho.”
Na verdade, a violência policial não é nova no Brasil. Já no fim do século 19, havia várias denúncias da imprensa relatando que presos comuns eram submetidos a espancamentos, alguns deles brutais, dentro de delegacias. Em 1898, o jornal A Nação aconselhava que a população não passasse nas ruas ou lugares onde estivessem soldados da polícia. O famoso método de tortura chamado de “pau de arara” iria originar-se nos anos quarenta em São Paulo. A violência não era praticada somente contra as classes populares, mas também contra os opositores políticos do Estado, como grevistas e lideranças de movimentos reivindicatórios.
No decorrer dos anos, as contradições sociais, econômicas e políticas foram se acentuando no Brasil e a organização policial foi ocupando cada vez mais um lugar de destaque para o enriquecimento de agentes do Estado e para a repressão e controle dos levantes populares. Em 1933, no Rio de Janeiro, e posteriormente em São Paulo, cria-se uma tropa de elite, denominada “Polícia Especial” (PE) para viabilizar as suas ações de repressão, que mais tarde se tornaria o braço armado da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops). Mais tarde, ainda no Rio de Janeiro, setores da imprensa e a Associação Comercial cobraram medidas duras de combate à criminalidade, e foi criado pelo delegado Cecil Borer, do Serviço de Vigilância, o Serviço de Diligências Especiais (SDE), que tinha total liberdade para empregar todos os métodos para conter a criminalidade, e, na prática, acabou não só por consolidar os esquadrões da morte, mas por aprofundar a associação dos esquadrões, da polícia, do governo e do Estado em geral com o crime, em especial o jogo do bicho, aumentando-se o número de pontos de bicho, dando-se liberdade de ação aos bicheiros, estimulando-se o lenocínio e centralizando-se as verbas distribuídas por todo tipo de contravenção.
Nos anos 1960, em São Paulo, já era comum policiais extorquirem ou venderem proteção aos marginais. Teria sido com o aval da polícia que o traficante “Zezinho da Vila Maria” se transformou no maior traficante do período. E, na Zona Leste da cidade de São Paulo, bem antes dos atuais justiceiros ficarem famosos, atuava, pago por comerciantes locais, o “Boca de Traíra”, acusado de ter praticado mais de 30 mortes. Para escapar da prisão, “Boca de Traíra” dividia seus lucros com policiais corruptos.
A ditadura militar reestruturou os organismos de repressão do Estado. Além do DOI-Codi e do Dops, da Operação Bandeirantes etc., novas siglas e organizações surgiram. Em São Paulo, na década de 1970, foram criados a Rota, Rone, Garra, entre outras. Nos outros Estados ocorreu a mesma coisa.
Os esquadrões da morte eram o braço extralegal do Estado para extorquir dinheiro e reprimir o povo. Novas nomenclaturas existem hoje, a exemplo dos grupos de extermínio e milícias, mas com os mesmos objetivos e modus operandi. Em suma, são policiais e membros da Forças Armadas, da base e do alto escalão, governos, políticos e empresários que, associados a criminosos comuns, controlam e gerenciam os mais variados crimes e perseguem e eliminam aqueles que põem em perigo o negócio ou os interesses de alguém do grupo.
Assim, as raízes dos confrontos entre policiais e traficantes são suas próprias relações para promover o crime. É preciso que a população conheça essa realidade e se organize para exigir mudanças. Como bem afirmou recentemente Lígia Rechenberg, integrante do Instituto Sou da Paz, “o cidadão tem que cobrar das autoridades uma mudança na política de segurança que vem sendo adotada nos últimos meses. O cidadão tem que se posicionar e dizer que não quer viver numa cidade onde está acontecendo um bangue-bangue”.
É com dois pesos e duas medidas que a prefeitura de Belo Horizonte resolve os problemas da cidade. Quando se trata de ocupação de famílias pobres em luta pela moradia popular, a ação da prefeitura é de reprimir violentamente, não dialogar nem solucionar os problemas da população pobre. Porém, quando uma área pública é tomada por empresas ou famílias milionárias, a política é a de fazer vista grossa, ignorar e, inclusive, garantir que as áreas invadidas sejam devidamente doadas ou vendidas a preço de banana.
Esse é o caso do “mensaleiro” Marcos Valério, que se tornou figura conhecida publicamente nos noticiários da imprensa do País e do mundo por seu envolvimento em escândalos de corrupção. Valério foi um dos principais operadores, articuladores e beneficiados no caso do Mensalão, ocorrido durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e, também, do Mensalão Tucano, em Minas Gerais, no governo de Eduardo Azeredo.
Não satisfeito com o que ajudou a roubar e a ganhar com tanta corrupção, Marcos Valério resolveu, também, tomar posse de um patrimônio que não lhe pertence na cidade de Belo Horizonte: invadiu e cercou 100 metros da Rua Golda Meir, no trecho entre a Avenida Antônio Francisco Lisboa e a Rua Alberto Deodato, no Bairro Bandeirantes, na valorizada região da Pampulha. Com propriedades adquiridas pelo comprovado enriquecimento ilícito, Valério possui nesse local um terreno que abriga o Centro de Preparação Equestre da Lagoa e uma Flora, ambos de sua propriedade. Esses terrenos eram separados pela Rua Golda Meir. No local da via pública, Valério mandou construir um muro, fechando o local e impedindo a circulação de carros e pedestres.
No dia 19 de março de 2010, Valério recebeu notificação do setor de regulação urbana da Regional Pampulha, órgão ligado à prefeitura, exigindo a desobstrução do logradouro público e a demolição da estrutura metálica e da alvenaria construídos no local.
A situação é mais grave ainda quando se verifica que nenhuma medida da prefeitura foi realizada para retomar o terreno público. Muito diferente do que ocorreu na ação de desocupação de 350 famílias da Ocupação Eliana Silva, no Barreiro, quando mais de 400 policiais militares, helicópteros, caveirão, cavalaria, batalhão de choque com armas de grosso calibre, numa autêntica operação de guerra, foram utilizados contra famílias pobres e sem moradia em BH. Ao contrário disso, após a notificação, simplesmente a prefeitura silenciou. E o pior, o referido trecho na Rua Golda Meir, que constava nos mapas oficiais da cidade e da prefeitura até a revisão e promulgação da Lei de Uso e Ocupação do Solo, desapareceu sem qualquer explicação. Nos documentos oficiais não consta nenhuma medida administrativa ou projeto de lei de alienação ou desafetação da área.
O caso veio à tona a partir de denúncia de um cidadão, que anteriormente procurou o jornal Estado de Minas, que ocultou os fatos. Mas o mesmo cidadão, juntamente com representantes do Movimento Fora Lacerda, resolveu protocolar uma representação junto à Promotoria do Patrimônio Público, do Ministério Público de Minas Gerais, para apuração dos fatos e punição dos responsáveis da administração municipal e do invasor por apropriação indevida do bem público.
Tem sido prática constante a política de alienação indevida do patrimônio púbico em Belo Horizonte promovido de forma deliberada pelo prefeito Márcio Lacerda. Além desse escândalo envolvendo Marcos Valério, outros casos vêm ocorrendo na cidade. É o caso da Rua B, na região Oeste da cidade, invadida ilegalmente pela Universidade Newton Paiva para uso como estacionamento. Também causa indignação o projeto para vender a Rua das Musas, no Bairro Santa Lúcia, região Sul, para construção de um hotel de cinco estrelas. Ao todo, são 120 terrenos sendo entregues a empresas privadas, através do PL 1.698-11, áreas que serão alienadas e privatizadas pela prefeitura sem nenhum benefício ao cidadão belo-horizontino. Um crime contra o patrimônio, a memória e a história de uma cidade que se julgava uma das mais bem-planejadas e estruturadas do País, mas que a cada dia mergulha no caos urbano e na falta de planejamento.
É por isso que Marcos Valério é tão beneficiado pelos políticos burgueses e reacionários de Minas Gerais. Como temos acompanhado nos noticiários, Valério está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), tendo sido condenado por corrupção ativa, peculato (desvio de recursos públicos) e lavagem de dinheiro. Um criminoso que, após tantos escândalos e roubos do patrimônio do povo brasileiro, continua sendo prestigiado pelo governo de Minas Gerais e pela prefeitura de BH, tratado como cidadão. Enquanto isso, os trabalhadores são reprimidos violentamente e desrespeitados em seus direitos básicos.
No dia 1º de outubro deste ano, faleceu em Londres, vítima de pneumonia, o brilhante historiador Eric John Ernest Hobsbawm. Tinha 95 anos. Nasceu no dia 9 de junho de 1917, em Alexandria, no Egito, na época em que o país árabe era colônia britânica, e mudou-se para Berlim em 1931, após o falecimento dos pais. Na capital alemã, como estudante, ingressou na Juventude Comunista, numa época de duras batalhas contra o nazifascimo em ascensão.
No mesmo ano em que Hitler assumiu o poder (1936), mudou-se para a Inglaterra, onde se filiou ao Partido Comunista, no qual militou até o ano de 1989. Doutor em História pela Universidade de Cambridge, Hobsbawm explicava o mundo à luz da dialética marxista, de forma convincente, com qualidade, com arte. Por isso, tornou-se um dos intelectuais mais influentes do século20. Até os órgãos da imprensa burguesa reconhecem sua genialidade e lhe escreveram epitáfios elogiosos. Apenas com um sério e profundo erro, ao considerar negativo o que foi outra grande qualidade do Mestre – sua militância política, filiação ao Partido Comunista e defesa do socialismo.
Esta, exatamente a grande lição de Hobsbawm: não basta estudar e interpretar a história humana, é preciso lutar para transformá-la. A isso dedicou grande parte da sua vida, convicto do princípio anunciado por Karl Marx. Hobsbawm compreendia que sem a aplicação do método marxista é impossível compreender a História da Humanidade. “Marx continua a ser a base essencial de todo estudo adequado de história, porque – até agora – apenas ele tentou formular uma abordagem metodológica da história como um todo, e considerar e explicar todo o processo da evolução social humana”.
É oportuno lembrar a análise que o grande historiador fez da crise atual do capitalismo em seu livro Como Mudar o Mundo. Marx e o Marxismo: “o ‘mercado’ não tem nenhuma resposta para o principal problema com que se defronta o século 21: o fato de que o crescimento econômico ilimitado e cada vez mais tecnológico, em busca de lucros insustentáveis, produz riqueza global, mas às custas de um fator de produção cada vez mais dispensável, o trabalho humano, e, talvez convenha acrescentar, dos recursos naturais do planeta. O liberalismo econômico e o liberalismo político, sozinhos ou combinados, não conseguem oferecer uma solução para os problemas do século 21. Mais uma vez chegou a hora de levar Marx a sério”.
Realmente, Eric Hobsbawm é um “farol da história”, que não se apagou, pois continua brilhando em sua obra profunda, indispensável.
Da Redação
Principais obras de Eric Hobsbawm
A era das revoluções – 1789-1848 (2009, Paz e Terra) A era do capital – 1848-1875 (2009, Paz e Terra) A era dos impérios – 1875-1914 (2009, Paz e Terra) A era dos extremos – O breve século XX (1995, Cia. das Letras) História do marxismo – 12 volumes (1985-1989, Paz e Terra) Estratégias para uma esquerda racional – Escritos políticos – 1977-1988 (1991, Paz e Terra) A revolução francesa (1996, Paz e Terra) História social do jazz (1990, Paz e Terra) Ecos da Marselhesa – Dois séculos reveem a Revolução Francesa (1996, Cia. das Letras) Pessoas extraordinárias – Resistência, rebelião e jazz (1998, Paz e Terra) Sobre história (1998, Cia. das Letras) Mundos do trabalho (2000, Paz e Terra) O novo século – Entrevista a Antonio Polito (2000) – também em edição de bolso (2009, Cia. das Letras) Tempos interessantes – Uma vida no século XX (2002, Cia. das Letras) Revolucionários – Ensaios contemporâneos (2003, Paz e Terra) A transição do feudalismo para o capitalismo – Um debate (com outros autores) (2004, Paz e Terra) Depois da queda – O fracasso do comunismo e o futuro do socialismo (com outros autores) (2005, Paz e Terra) Globalização, democracia e terrorismo (2007, Cia. das Letras) A invenção das tradições (2008, Paz e Terra) Nações e nacionalismo desde 1780 (2008, Paz e Terra) Da revolução industrial inglesa ao imperialismo (2009, Forense Universitária) Bandidos (2010, Paz e Terra) Os trabalhadores – Estudos sobre a história do proletariado (2010, Paz e Terra) Como mudar o mundo – Marx e o marxismo 1840-2011 (2011, Cia. das Letras)
Cartola, compositor de lindas melodias e rebuscada poesia completaria 104 anos no dia 11 de outubro desse ano. Carioca nascido no bairro do Catete, Angenor de Oliveira, cursou até o primário. Quando da morte de sua mãe, Cartola teve que parar os estudos e trabalhar. Foi tipógrafo e pedreiro. Nos canteiros de obra cantarolava suas composições ao compasso do seu violão. Também foi na construção que recebeu seu apelido por usar um chapéu com o formato de cartola.
Ainda menino, por causa da precária situação financeira, foi morar com a família no Morro da Mangueira. No ano de 1928, junto com outros companheiros, fundou a escola de samba Estação Primeira de Mangueira, a famosa verde e rosa, cores escolhidas por esse mestre do cancioneiro.
Com a morte de sua primeira companheira, Deolinda, se afastou por uma década das rodas de samba. Passou a viver do que recebia dos bicos que realizava como lavador de carros e vigia de edifícios. Através da ajuda dos amigos retornou as cantigas de roda de samba. De forma simples e melódica levava a vida como na poesia das suas músicas.
As canções do eterno Cartola, cantadas pelos maiores intérpretes da música popular brasileira, são imprescindíveis em nossas vidas, que necessitam respirar o ardor das melodias e saborear a leveza dos poemas das eternas músicas do nosso sempre e grandioso artista. Nesse 11 de outubro, nossas maiores reverências ao mestre Cartola, que com a simplicidade dos gênios, cantou a vida de seu povo e emocionou os corações de todos nós.
O Samba do Operário Se o operário soubesse
Reconhecer o valor que tem seu dia
Por certo que valeria
Duas vezes mais o seu salário
Mas como não quer reconhecer
É ele escravo sem ser
De qualquer usurário
Abafa-se a voz do oprimido
Com a dor e o gemido
Não se pode desabafar
Trabalho feito por minha mão
Só encontrei exploração
Em todo lugar
Empresa, que já foi um patrimônio do povo brasileiro está envolvida em escândalos de corrupção a acordo com ditadura africana
A empresa brasileira Vale do Rio Doce, privatizada em 1997, uma das maiores empresas mineradoras do mundo, está envolvida em escândalo de corrupção e disputa internacional. Tudo isso para adquirir o controle de parte da valiosa Simandou, segunda maior jazida de minério de ferro do mundo, localizada na Guiné, no continente africano.
A operação ocorreu nos primeiros meses de 2010, quando a Guiné saía de um governo ditatorial e quando protestos populares tomavam as ruas do país. A jazida de Simandou é dividida em duas partes, sendo uma ocupada pela empresa australiana Rio Tinto e a chinesa Chinalco e outra explorada pelo consórcio Vale Beny Group, formado pela Vale do Rio Doce e o empresário israelense Beny Steinmetz, famoso pelas suas relações com ditaduras na África. Steinmetz havia recebido a metade da jazida das mãos de Lansana Conté, último ditador do país.
No fim de 2010, como fruto das lutas do povo da Guiné, assume a presidência o ex-preso e exilado político Alpha Conté, primeiro presidente democraticamente eleito. Com um país arruinado e milhares de famintos, o presidente propõe rever os acordos de concessão para a exploração das jazidas, de forma que o governo tenha mais recursos para superar os graves problemas sociais e econômicos do país. A Guiné é um dos países mais pobres do mundo e, ao mesmo tempo, tem a metade das reservas mundiais de bauxita, além de jazidas de diamante e ouro. O novo governo acusa ainda o consórcio Vale Beny Group de não cumprir a legislação do país.
Na madrugada de 31 de julho, manifestantes invadiram e saquearam o acampamento da mineradora na cidade de Zogota porque a empresa não cumpriu acordos trabalhistas e desrespeitou vários direitos dos trabalhadores. No dia 4 de agosto, seis trabalhadores da Vale foram mortos pelo exército guineense numa nova manifestação. Segundo manifestantes, a própria Vale forneceu os veículos ao exército para que reprimisse os trabalhadores.
Portanto, como está constatado, no centro dos ataques à soberania do povo da Guiné está a Vale do Rio Doce, uma empresa estratégica que já foi estatal. Nesse período, nossas riquezas naturais estavam sob controle público, mas hoje, como empresa privada capitalista, a única coisa que interessa a seus proprietários é aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora, roubar as riquezas de diversos países e obter o máximo de lucro possível, mesmo que, para alcançar seus objetivos, seja necessário assassinar trabalhadores e se envolverem escândalos. Ouseja, não há escrúpulos para os capitalistas quando se trata de aumentar seus lucros e privilégios.
A privatização da Vale do Rio Doce
É importante lembrar que a Vale do Rio Doce foi entregue, em maio de 1997, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, ao empresário Benjamin Steinbruch por R$ 3,3 bilhões, um valor muito subestimado, sendo que ainda foi desconsiderado dessa conta o valor das jazidas que estavam sobre o controle da empresa naquela época.
Antes mesmo de sua privatização, a Vale já era a maior exportadora de minério de ferro do mundo, com faturamento anual de R$ 2 bilhões. Descobertas feitas meses antes da privatização apontavam jazidas de ouro no Pará, região onde hoje se encontra a maior província mineral do mundo, a reserva mineral de Carajás. Todo esse patrimônio foi entregue de bandeja aos capitalistas, através de negociatas e transações que lesaram o patrimônio público e colocaram as riquezas minerais brasileiras nas mãos de grupos capitalistas privados. A transação teve ainda o total financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Steinbruch ainda ganhou R$ 700 milhões que estavam no caixa da Vale.
Tudo isso mostra o quanto foram criminosas as privatizações de nossas empresas estatais, na década de 1990, e do nosso patrimônio realizadas no governo neoliberal de FHC. Isso aponta a necessidade de uma profunda investigação no mar de corrupção que marcou essas transações. Assim, ficará mais claro que a reestatização dessas empresas é uma justiça que deve ser feita ao povo brasileiro.
A atual posição social ocupada pelas mulheres teve sua origem há centenas de anos, com o surgimento da propriedade privada e o nascimento da figura do patriarca, o homem que detinha poder sobre todos os bens da família: terras, ferramentas, excedentes de produção etc. Condenada às obrigações domésticas, a mulher foi escravizada dentro do lar e passou a ser considerada também uma das propriedades do patriarca da família, bem como os filhos gerados por ela.
A sociedade em que vivemos ainda é baseada nessa forma de organização chamada “patriarcal” e economicamente regida pelo sistema capitalista. Este sistema econômico se sustenta a partir das desigualdades e opressões, explorando o trabalho de muitos e enriquecendo poucos. Tudo vira mercadoria e é passível de comercialização, e aquilo que não mais interessa é descartado e substituído por outro artigo mais rentável.
A aprovação da Lei nº 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, foi, sem dúvida, uma importante conquista da sociedade, em especial das mulheres que lutam há anos pela criminalização da violência. Porém, a lei está aquém do necessário, pois falta muito suporte para que ela seja plena. A existência de apenas 374 delegacias especializadas no enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil faz com que apenas 7% dos 5.554 municípios brasileiros sejam contemplados. Além das delegacias, é necessário que outros órgãos municipais, estaduais e federais atuem de maneira conjunta para reeducar agressores e prevenir e punir qualquer tipo de violência. Atualmente as delegacias comuns desqualificam as denúncias de agressão e violência, não as enquadrando na Lei Maria da Penha. Não existem órgãos de apoio suficientes e não há punição severa para os agressores.
Na última década, percebeu-se um crescimento de políticas e iniciativas que visam a minimizar a prática de violência e assassinatos praticados contra mulheres no Brasil, mas o que se pôde observar foi um aumento de 230% no número de mortes nesse mesmo período. Este assustador crescimento está intimamente ligado ao fato de que as mulheres ainda são consideradas uma propriedade privada dos homens com os quais se relacionam ou são extremamente desvalorizadas por agressores que não sejam de seu convívio.
Belo Horizonte, por exemplo, terceiro centro econômico e político do país, apresentou um aumento de 77% das ocorrências de estupro e ocupa hoje a posição de sétima capital mais violenta para mulheres do Brasil.
Neste sentido, o Movimento de Mulheres Olga Benário lançou,em Minas Gerais, uma ampla campanha que denuncia a violência e exige o combate a todos os tipos de violência cometidas contra as mulheres. Organizando grupos de estudo com as mulheres da Ocupação Eliana Silva, debates em parceria com a Central Única dos Trabalhadores e lançando materiais e manifestos, o Olga Benário começa a reorganizar as mulheres em torno dessa luta para acabar com esta verdadeira chacina cometida contra as trabalhadoras brasileiras – e convoca toda a sociedade para se levantar contra tamanha barbárie.
Raphaela Mendes é Movimento de Mulheres Olga Benário – MG
Presos políticos do Equador necessitam de solidariedade
Durante os últimos anos, no Equador se vive o enfraquecimento das garantias e direitos contemplados na Constituição.
Segundo informes dos organismos de direitos humanos e da Defensoria do Povo do Equador, em 2011 houve 129 defensores dos direitos humanos processados pelo governo e por empresas privadas, assim como 31 ativistas políticos processados ou condenados. Seus casos são pouco conhecidos, o que obriga a uma ação mais firme da parte de quem se sente comprometido com os direitos humanos e com a consequente luta para que esses direitos sejam respeitados em todo o mundo. Deve-se assinalar que no Equador não existe nenhuma organização de caráter terrorista, embora haja cerca de 200 pessoas acusadas desse crime. Os segmentos sociais têm recorrido às tradicionais formas de luta e protesto – como ocupação de praças, fechamento de rodovias, mobilizações e marchas – que são reprimidas com uma força policial e militar desproporcional. Para o regime, segundo sua primeira proposta de novo Código Penal, uma pessoa que fecha uma rodovia sem permissão merece a mesma punição que um torturador.
Os dez de Luluncoto
Em março deste ano as principais organizações sociais do país, como a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), a Frente Popular (que agrupa organizações de professores, estudantes, moradores de bairros, pequenos comerciantes, camponeses, mulheres e uma central sindical), a Frente Unitária dos Trabalhadores (que agrupa quatro centrais sindicais) e muitos outros coletivos populares convocaram a “Marcha por Água, Vida e Dignidade dos Povos”, que percorreu quase todo o território do país entre 8 e 22 de março deste ano. A resposta do governo foi um discurso violento, discriminatório e racista, de incitação ao ódio, carregado de ataques e desqualificações aos diversos atores sociais, a que chamou de “desestabilizadores da democracia” e de “golpistas”.
Entretanto, como sabe todo o país, a marcha se realizou pacificamente, mostrou sua plataforma reivindicativa de direitos e esvaziou o argumento do governo. Os setores populares organizados se somaram de distintas maneiras e foram muitos os intelectuais que expressaram publicamente seu apoio, realizaram eventos para debater a situação e contribuíram para desmascarar o extrativismo e a criminalização da luta social.
Invasão de domicílio
No dia 3 de março passado, dez equatorianos (sete homens e três mulheres), todos eles trabalhadores, estudantes e funcionários públicos, líderes sociais conhecidos, reuniram-se numa atividade pacífica para discutir a “Marcha por Água, Vida e Dignidade dos Povos”, que estava para começar. De acordo com a polícia, portavam apenas fontes de consulta, como a Constituição da República, o jornal oficial El Ciudadano, vários meios de comunicação, livros e panfletos sobre filosofia do Direito e o documento “Defesa da democracia” elaborado pelo governo, entre outros. A reunião foi realizada num apartamento do conjunto Casales, no bairro de Luluncoto, ao sul de Quito.
No apartamento, os sete homens e as três mulheres que participavam da reunião foram abordados violentamente por cerca de 50 agentes da Unidade de Luta contra o Crime Organizado (Ulco) e do Grupo de Intervenção e Resgate (GIR). A ação policial violou expressas normas legais, pois invadiu um domicílio sem mandado judicial, e, além disso, a polícia não tinha em mãos nenhuma ordem de prisão, não foram lidos para os detidos os seus direitos nem lhes foi informado o motivo de sua detenção. Para completar, não havia a prática de nenhum delito (a polícia admite que apenas estavam reunidos e conversando), de maneira que não poderiam ser presos em flagrante.
Os membros dos grupos especiais da polícia submeteram os detidos a tratamento degradante e cruel, pois os algemaram e os retiraram do apartamento, colocando-os numa escadaria onde permaneceram quatro horas ajoelhados. Fadua Tapia, jovem de 18 anos, grávida, informou sua condição, porém foi violentamente empurrada ao chão e algemada. Golpearam contra a parede o rosto do engenheiro afro-equatoriano Javier Estupiñan, quebrando um de seus dentes, como consta na perícia.
Enquanto os homens permaneceram fora do apartamento, as mulheres foram colocadas em um dos quartos; Os pertences pessoais dos detidos (documentos, celulares, cadernos e agendas, computadores, cédulas e moedas, mochilas e carteiras) foram manipulados por agentes policiais, que foram repreendidos por Cristina Campaña, que protestou ao ver que introduziam material impresso em sua mochila.
Os dez cidadãos permaneceram, arbitrária e ilegalmente, retidos por cerca de sete horas, das 16 horas (hora da prisão) às 23 horas, momento em que foram levados à Polícia Judicial para, depois de uma hora, ou seja, à meia-noite, supostamente ser formalizada a detenção num boletim de ocorrência tão malfeito que até foi datado de 3 de março de 2011, ou seja, um ano antes da prisão). De acordo com a lei, todo esse procedimento deveria ter sido realizado imediatamente após a detenção. Apenas na Polícia Judicial seus direitos finalmente foram lidos e lhes foi permitido fazer uma ligação telefônica a seus familiares.
Ingerência do governo na Justiça
No dia seguinte, às 14 horas, os detidos foram retirados repentinamente das celas da Polícia Judicial, sem conhecimento de seus familiares e advogados, e conduzidos para a audiência de instrução em outro lugar, na Unidade de Vigilância de Carapungo, localizada ao norte de Quito. Invocando a segurança do Estado, as autoridades declararam a audiência reservada e exibiram as supostas provas – cédulas de identidade, celulares, carteiras, cadernos e agendas, dinheiro, anotações e computadores –, mas ocultando documentos como a Constituição da República, o jornal El Ciudadano, o documento do governo “Defesa da democracia” e outros meios de comunicação.
Os detidos acusam a polícia de haver “plantado” textos supostamente ligados aos GCP (Grupos de Combatentes Populares GCP). Nessa mesma hora ficou-se sabendo que o ministro do Interior havia convocado uma entrevista coletiva com o propósito de exibir os detidos como supostos desestabilizadores da democracia, o que não aconteceu pela chegada dos familiares e advogados. Antes de terminar a audiência, o pessoal da polícia tinha até mesmo um cartaz com o título “GCP” e as fotos dos detidos algemados, evidenciando uma trama que tinha o claro propósito de criar na opinião pública uma corrente pela condenação.
Ao invadir o apartamento, as forças policiais não informaram aos dez cidadãos as razões de sua prisão; apenas na Polícia Judicial lhes foi dito que eram acusados de ser “terroristas”. Na audiência de instrução do caso, a promotora Diana Fernández, em uma incongruente intervenção diante do juiz Juan Pablo Hernández, que se mostrou distraído durante todo o tempo, os acusou de crime contra a segurança do Estado e expediu contra eles uma ordem de prisão preventiva, motivo pelo qual estão privados da liberdade há mais de cinco meses.
Em 26 de abril, ou seja, 53 dias depois da prisão ilegal, durante a madrugada foram realizadas invasões aos domicílios de familiares dos detidos, em várias cidades do país simultaneamente, violando-se novamente os direitos humanos. Usando um volume desproporcional de forças policiais, elementos fortemente armados e mascarados irromperam nas casas, criando terror entre crianças, mulheres e idosos, numa ação destinada a atemorizar os familiares, que durante todo o tempo foram a público exigir a liberdade dos dez detidos.
A promotora Diana Fernández justificou esse ato violento ao argumento de que haviam sido encontradas novas evidências. Essas “provas” eram livros de Direito Constitucional, panfletos de várias organizações sociais, cadernos da Universidade Central, livros de Ciências Sociais de autores como Agustín Cueva, a Enciclopédia Universal Ilustrada, DVDs de filmes como O último rei da Escócia, O exorcista etc., CDs de música de protesto (como as do cantor equatoriano Jaime Guevara), fotos como as da filha de um dos detidos que tinha ao fundo uma imagem de Che Guevara e computadores, instrumentos de trabalho e estudo dos outros membros da família.
Esse processo, que nasceu contraditório, atropelado e violador de direitos fundamentais, apresenta como justificativa o fato de que, na marcha indígena e popular de março, estavam elementos desestabilizadores da democracia. O governo encontrou, na reunião desses trabalhadores e jovens estudantes, a oportunidade de contar com um “bode expiatório”. A enorme campanha publicitária oficial para deslegitimar a “Marcha por Água, Vida e Dignidade para os Povos” terminou saturando a população e não teve os efeitos esperados.
Entretanto, e em que pese o que há de inconstitucional e ilegal no processo, a ingerência do governo na atuação da promotora e dos juízes foi notada desde o início (na audiência de instrução do processo estava presente o vice-ministro do Interior, Javier Córdova). Uma semana após a detenção, o presidente Rafael Correa criticou a imprensa por não ter dado a devida importância àquilo que ele entendia que o caso possuía. Na contramarcha organizada pelo governo, no dia 22 de março, o presidente fez referência aos detidos em seis discursos, qualificando-os como “desestabilizadores”; já o ministro José Serrano fez ameaças contra quem assumiu a defesa dos detidos. Tudo isso mostra o interesse de conseguir uma condenação por um crime inexistente que eles não foram capazes de provar.
Essas detenções se mostram como ilegais e violadoras dos direitos humanos e da Constituição do Equador, que garante o direito de todos os cidadãos a participar do espaço público como local de deliberação, nos assuntos de interesse público, como o bem-estar, a educação, a saúde, o trabalho e a moradia, o direito de opinar e expressar seu pensamento livremente e em todas as suas formas, a liberdade de consciência, de associação, reunião e mobilização de forma livre e voluntária. O exercício desses direitos não pode se constituir em delito contra a segurança do Estado. O que faziam esses jovens estudantes e trabalhadores era exercer seus direitos.
Os dez detidos em Luluncoto são presos políticos, aos quais se causa um grave dano: vários deles perderam seus empregos, tiveram seus estudos prejudicados, foram separados de suas famílias e amigos e impedidos de ter uma vida normal.
Os familiares recorreram aos organismos de direitos humanos e à Defensoria do Povo, conversaram com o juiz espanhol Baltazar Garzón para que viabilize um processo justo e livre das claras pressões políticas do governo, que busca uma condenação a qualquer custo.
A condição de um preso político demanda a resposta da comunidade internacional, povos e pessoas democráticas e comprometidas com os mais elevados valores humanos. Por isso, os familiares dos dez presos políticos de Luluncoto solicitam uma ação imediata, dentro e fora do país, que impeça a continuação dessa injustiça e a ameaça de uma prisão de anos que destrua a vida desse grupo de jovens – e de suas famílias.
“O que queremos é justiça, o cumprimento do devido processo e das leis do país, suspensão da perseguição e das ameaças do governo, o fim do uso da imprensa para exercer um ‘linchamento midiático’, e que o sistema judicial atue com independência. Se a justiça se expressar, os familiares vítimas dessa montagem sairão livres de maneira imediata e se impedirá que casos como este se repitam uma e outra vez”, declarou a A Verdade Ramiro Vinueza, representante do comitê pela liberdade dos 10 presos políticos de Luluncoto.
A ocupação Eliana Silva, organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) no dia 22 de agosto na região do Barreiro, em Belo Horizonte, completou dois meses de resistência e está em plena consolidação. São cerca de 370 famílias que vêm construindo uma vida nova dentro da ocupação.
A experiência de poder popular é fator mais marcante deste processo. Todas as decisões são tomadas coletivamente, mantendo as famílias mobilizadas diariamente, participando das assembleias e reuniões dos núcleos do MLB.
As comissões de educação, segurança, estrutura, comunicação, limpeza, alimentação desempenham um grande papel para o crescimento da organização das famílias e para o desenvolvimento desta nova consciência coletiva. A comissão de segurança, por exemplo, garante a defesa da ocupação que desde o primeiro dia, funcionando 24h, o que impediu várias tentativas da PM e de representantes do Governo e da Prefeitura de BH em retirar as famílias, além de ter barrado a Companhia de Energia de Minas Gerais (Cemig) e a Polícia, que queriam cortar a luz da comunidade.
Este trabalho, movido à união e vontade de vencer, incomoda os poderosos, que, mesmo estando de certa forma vulneráveis devido ao processo eleitoral, buscam impor um clima de tensão e medo permanente às famílias, fotografando, filmando e tentando se infiltrar na ocupação, inclusive com homens à paisana.
Mesmo com todas essas ameaças, as famílias seguem firmes e convencidas da enorme possibilidade de vitória. É o que nos diz o relato dos moradores da ocupação: “O sonho que eu tenho de ter minha casa, para mim e para o meu filho e independente da situação, estarei aqui para luta e resistir, não tenho nada a perder”, afirma Cristiane Verrissímo, de 26 anos. “Moro de favor, a dona da casa colocou a casa a venda, o que ganho por mês não dá pra pagar aluguel e cumprir com as atividades que tenho, por isso, estou junto com vocês nessa luta para o que der e vier” disse Seu Geraldo Silvio, 67 anos. “Eu quero sim ter minha casa, para ficar com meus filhos sem passar humilhação, mesmo passando muitas dificuldades, chuva, sol, frio. Faço até o sacrifício de ter que ficar longe de uma parte dos meus filhos. Por isso tudo eu não desisto”, é o depoimento de Mônica Lima, 28 anos, mãe de quatro crianças.
A rede de solidariedade
A força da ocupação também vem da rede de solidariedade que cresce a cada dia. Além de centenas de estudantes, professores, sindicalistas, advogados populares, jornalistas, arquitetos e outros profissionais liberais, religiosos, parlamentares, etc., personalidades vêm declarando seu apoio à ocupação. Além do rapper Emicida, que desde maio vem constantemente defendendo a ocupação, outro grande rapper brasileiro, o Rebeld, do grupo SNJ (Somos Nós a Justiça) deu uma importante declaração de apoio à ocupação que pode ser vista no blog:http://www.ocupacaoelianasilva.blogspot.com.br/2012/09/rebeld-snj-declara-apoio-comunidade.html. Além disso, foram doados livros para a biblioteca, brinquedos e cadeirinhas para creche, além de roupas, cobertores, móveis e alimentos.
Alvenaria, o caminho para vitória
Com pouco mais de 20 dias de ocupação, as famílias, contando com grande apoio da rede de solidariedade e decididas em permanecer no local, já ergueram uma creche, que atende diariamente cerca de 40 crianças de 0 a 5 anos, e iniciaram a construção de suas casas de alvenaria.
Uma rede de professores e estudantes de arquitetura organizou um belo projeto de divisão equitativa dos lotes e abertura das ruas e avenidas. “Fizemos um projeto de parcelamento para garantir que as famílias tivessem melhores condições habitacionais e qualidade de vida. O projeto prevê como as famílias podem estar mais inseridas dentro do contexto urbano, dando a elas o direito à cidade”, disse a estudante de Arquitetura da UFMG Poliana Ambrósio.
No projeto, o novo bairro irá contar com alguns espaços coletivos, além da creche, uma sede para o MLB e a associação de moradores, uma igreja ecumênica e um espaço de lazer com quadra e brinquedos.
Dezenas de moradias já estão erguidas, e a luta continua para que a Prefeitura e os Governos Estadual e Federal possam garantir a posse definitiva da área às famílias bem como o financiamento para implementação do saneamento básico, asfalto, e demais obras de infraestrutura necessárias.
Várias outras iniciativas estão em discussão, como projeto pedagógico para educação de jovens e adultos, elaboração de programa de sustentabilidade para as famílias, reciclagem do lixo, projetos ecológicos, horta comunitária, entre outras atividades.
Assim é a nova vida para os moradores e lutadores da ocupação Eliana Silva.
Leonardo Pericles, membro da Coordenação Nacional do MLB
A cidade de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, tem mais de 650 mil habitantes e um déficit habitacional oficial de 20 mil moradias. Não possui nenhum projeto em andamento para sanar os problemas de moradia e só tem quatro creches em funcionamento. Contudo, Jaboatão sempre foi palco de batalhas nas quais seu povo sempre foi protagonista.
Foi isso o que demonstraram, mais uma vez, os 400 delegados que participaram do 1º Congresso do Movimento de lutas nos Bairros Vilas e Favelas (MLB), no dia 16 de setembro.
A poesia popular abriu os trabalhos do evento, lembrando que só a verdadeira cultura revolucionária emana do povo. A mesa de abertura foi composta por Kleber Santos, do MLB, que coordenou os trabalhos; Joel Marcos, da coordenação da Central dos Movimentos Populares – CMP; Guita Kosmhinsky, do Movimento de Mulheres Olga Benario; o companheiro Geraldo Soares, do Sindicato dos Trabalhadores da Borracha; e Marcelo Bulhões, da Caixa Econômica Federal (CEF). Carlos Padilha, ex-presidente da CUT e ex-secretário de Habitação do Recife. Inaldo Campelo, secretário de Habitação de Jaboatão, destacou a realização do congresso como “uma ação ímpar” e disse que a secretaria estava aberta a discutir o avanço nas soluções dos problemas.
Ao final, houve uma homenagem ao vice-prefeito Edir Peres pelo apoio ao movimento popular e à luta por moradia digna em Jaboatão. Edir foi aplaudido de pé por todos e ressaltou o papel que MLB tem cumprido na luta por uma moradia digna.
“Os Programas Habitacionais” foi o tema do painel da tarde, ministrado pelo represente da CEF, momento que o conjunto dos delegados aproveitou para tirar dúvidas sobre os projetos habitacionais em construção na cidade. Depois do debate, a delegação foi dividida em grupos, com temas variados.
A plenária final transformou-se em um grande ato político em defesa de uma nova e melhor cidade (com moradia, saúde, creche, trabalho e transporte de qualidade), anseios de uma população que não apenas quer ser ouvida, mais quer ver os problemas resolvidos.
O Congresso do MLB em Jaboatão aconteceu num momento especial. Em 2012, completaram-se nove anos da realização da ocupação Mércia de Albuquerque. Durante esse período as famílias deram centenas de provas e de resistência. No início do ano, mais uma vez, as famílias foram surpreendidas com a interrupção das obras dos apartamentos. Após vários atos na Prefeitura, Sehab e visitas à Caixa, as obras foram retomadas. Agora elas passam por um processo cansativo de cadastramento, no qual a Secretaria de Habitação do município pernambucano incluiu visitas a todos em suas casas, procedimento que tem causado vários constrangimentos a inúmeras famílias.
Mesmo passando por tudo isto, o MLB e as famílias assumiram mais um compromisso com a luta no congresso: continuar resistindo com garra até a entrega de suas casas!
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