No dia 16 de outubro, milhares de estudantes comemoraram a refundação do Grêmio Livre Estudantil do Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG), depois de mais de 15 anos desativado. Em assembleia geral, mais de 1.300 estudantes decidiram reorganizar a entidade. Na assembleia foram aprovadas a comissão eleitoral e a data das eleições, e o grêmio recebeu o nome de “Professor Vinicius José Machado”, em homenagem ao primeiro diretor eleito democraticamente na escola, depois de mais de 16 anos, que morreu este ano, vítima de câncer.
Lamentavelmente, nas duas últimas semanas do processo eleitoral houve uma grande intervenção da Secretaria Estadual de Educação que, de forma autoritária, tentou controlar o processo através no Colegiado da escola, utilizando ilegalmente funcionários, fazendo ameaças e difamando as lideranças. Apesar de tudo isso, a chapa Atitude Coletiva, organizada pelos estudantes em conjunto com a Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas da Grande BH (Ames-BH), com mais de 300 estudantes, derrotou essa intervenção.
Mais de 1.000 estudantes participaram da votação. As urnas foram abertas em todos os turnos da escola e a chapa Atitude Coletiva obteve 825 votos contra 270 votos da chapa Fênix (chapa da direção da escola).
“Essas eleições foram um importante marco na construção do movimento estudantilem Belo Horizontee na luta contra a tentativa da Secretaria de Educação de atacar o direito à livre organização dos estudantes”, afirmou Lincoln Emmanuel, diretor da Ames-BH e estudante do Instituto de Educação.
A Ames-BH prepara seu congresso para o fim do mês de novembro e conta com mais um grêmio na sua base de apoio para fortalecer ainda mais a luta dos estudantes de BH.
Bruno Duarte, diretor da Ames-BH e estudante do IEMG
Segundo dados do governo, o Brasil tem 50 milhões de jovens com idade entre 18 e 29 anos, e, destes, apenas 15% estão no ensino superior brasileiro, sendo que 75% estão nas universidades privadas que, na maioria das vezes, não oferecem um ensino de qualidade nem pesquisa e muito menos extensão universitária. Para deixar pior a situação, a política de assistência estudantil do governo para as universidades federais deixa desamparada a maior parte dos estudantes que necessitam dessas políticas para continuar seus cursos, principalmente em relação a moradia, alimentação e bolsas. O resultado desse imenso descaso com a assistência estudantil é o crescimento da evasão escolar nos bancos universitários para 21%, nos últimos dez anos, de acordo com o Inep.
Para transformar essa realidade, a União da Juventude Rebelião (UJR) realizou, nos dias 12, 13 e 14 de outubro, na cidade de Carpina, PE, o ativo nacional universitário da UJR, em que se reuniram os militantes universitários da Rebelião para discutir a intervenção na atual conjuntura.
Um importante debate no ativo nacional foi a atuação nos forúns da União Nacional dos Estudantes (UNE) e, mais particularmente, no 14º Conselho Nacional de Entidades de Base (Coneb) que se realizará no Recife nos dias 18, 19, 20 e 21 de janeiro de 2013. Num momento em que a Comissão Nacional da Verdade investiga os crimes cometidos pelos agentes do Estado brasileiro contra o povo, a juventude e a democracia, o Coneb será um importante momento, pois, por proposta da UJR, nele ocorrerá um ato político de formação da Comissão da Verdade da UNE, que será responsável por investigar os mortos, perseguidos e desaparecidos estudantes do período da ditadura, pressionando assim a Comissão Nacional a descobrir os assassinos de Honestino Guimarães, Manoel Lisboa e tantos outros. Neste mesmo Coneb será discutido um novo projeto de reforma universitária que a UNE passará a defender como projeto de universidade.
Infelizmente, nos últimos anos, a maior parte da diretoria da UNE tem apoiado políticas desastrosas sobre os rumos da educação em nosso país, como é o caso da defesa incondicional do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Passados cinco anos de sua implementação, com a criação da Comissão de Acompanhamento da Expansão nas Universidades Federais, da qual fazemos parte representando a entidade, fica evidente que este programa não foi capaz de atender às demandas da universidade brasileira e muito menos de resolver o problema da exclusão a que está submetida a juventude brasileira.
Também a União Nacional dos Estudantes tem perdido apoio nas universidades públicas por conta dessa desastrosa política de blindar o governo sempre que os estudantes e a juventude entram em confronto com as políticas que vão de encontro às suas expectativas. Foi o caso da última greve nas universidades federais, que durou mais de cem dias e que, não fosse pela ativa participação dos diretores ligados à UJR e da oposição, não teria presença da entidade, visto que os estudantes em greve foram abandonados pela direção da UNE, pois estes sumiram das universidades no momento em que os estudantes mais precisavam de sua entidade máxima.
É por estas e outras razões que o ativo nacional da UJR convoca todos os seus militantes, aliados e simpatizantes a lutarem por uma UNE rebelde e combativa ao lado dos estudantes!
Odijas Carvalho de Souza (1945-1971), estudante de agronomia da UFRPE e líder estudantil, foi barbaramente assassinado pela ditadura militar por lutar pela liberdade, pela democracia e por um país mais justo. Odijas teve seus direitos políticos, civis e estudantis cassados pelo Decreto-Lei nº 477, pelo qual a UFRPE foi uma das universidades mais atingidas. Foi preso no dia 30 de janeiro de 1971 e levado para o Dops/PE, embora em seu prontuário não conste sequer um depoimento.
Neste ano de 2012, a Universidade Federal Rural de Pernambuco estará completando 100 anos. A rematrícula de Odijas e o Seminário pelo Direito à Memória, Verdade e Justiça-Odijas Carvalho de Souza ocorrerão no dia 9 de novembro e será uma das atividades oficiais do centenário, conquistada depois de muita mobilização dos estudantes e das organizações que lutam em favor dos direitos humanos, da abertura dos arquivos da ditadura e da punição dos torturadores.
É com esse seminário que o Diretório Central dos Estudantes da UFRPE vai garantir aos estudantes e à sociedade o direito de conhecer a sua história e a importância da luta pela abertura dos arquivos da ditadura e pela punição dos torturadores de Odijas. Além disso, o ato de rematrícula em homenagem a Odijas Carvalho de Souza será símbolo do reconhecimento da UFRPE, do Estado e toda a sociedade ao erro irreparável, aos crimes imprescritíveis e à violação dos direitos humanos contra Odijas e contra todos os que foram assassinados naquele período sob as mesmas condições.
A justa homenagem que fazemos ao patrono da nossa entidade e aos demais jovens que tiveram suas vidas ceifadas pela repressão da ditadura militar é uma forma de garantir que tais crimes jamais se repitam em nosso País e que o povo brasileiro tenha acesso a informações que até hoje são extremamente ocultadas da maioria da população.
Odijas Carvalho de Souza, presente! Agora e sempre!
Tomou posse no dia 1º de outubro a nova diretoria do Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo. A eleição vem em um momento no qual a crise do capital afeta profundamente as relações de trabalho, levando cada vez mais a um aprofundamento da precarização do trabalho, o que também afeta essa categoria.
É certo que nos últimos anos vêm ocorrendo diversas mudanças nas relações de trabalho desses profissionais. Cada vez mais grandes escritórios contratam centenas de advogados com baixos salários, sem carteira assinada e sem qualquer direito trabalhista assegurado, escondendo a verdadeira realidade de advogados empregados com a roupagem de contratos de associação. Além disso, o piso salarial é baixíssimo no Estado de São Paulo e, não raras vezes, os empregadores deixam de cumprir as leis trabalhistas e as especificidades do trabalho do advogado empregado, constantes do Estatuto da Advocacia.
Os estagiários e bacharéis também são profissionais que sofrem com esse cenário, tendo seu trabalho ainda mais desvalorizado, muitas vezes fazendo o trabalho típico do advogado, porém recebendo baixíssima remuneração.
Para Raquel Brito, diretora do Sindicato dos Advogados, “hoje, a maioria de advogados trabalham para escritórios que pagam baixos salários, e não tem direitos trabalhistas. Os advogados empregados também sofrem com a precarização do trabalho, o descumprimento das leis trabalhistas e os baixos salários. É o momento em que o sindicato precisa cada vez mais assumir seu papel e defender efetivamente os clamores da categoria”.
Assim, os desafios para a nova gestão do sindicato são muitos: desenvolver a luta da categoria por melhores condições de trabalho, defender as prerrogativas do advogado e aglutinar no sindicato a ala mais progressista da advocacia paulista, continuando o importante trabalho junto aos movimentos sociais e em defesa dos direitos humanos.
Com o crescimento das terceirizações no Brasil, um ramo que se desenvolveu muito foi o telemarketing. Grandes empresas foram criadas, especializadas em oferecer atendimento pelo telefone e suprir uma demanda das grandes empresas de telefonia, eletrodomésticos, bancos, etc., que precisavam expandir sua rede de atendimento para vender mais e mais rápido.
Junto com o crescimento do ramo de telemarketing veio a grande exploração dos trabalhadores: Hoje o piso salarial da categoria é um dos menores do país, R$ 630, que não cobre os gastos básicos como aluguel e alimentação.
No ano de 2007, fruto das mobilizações dos trabalhadores do setor, foi incluído na NR17, Norma Regulamentadora 17 (de 1990), que regulamenta determinados ramos de trabalho, o anexo 2, específico para o trabalho no telemarketing. Quando lemos a NR17, no entanto, podemos levantar uma série de questões que não estão regulamentadas ou estão ainda de forma que beneficiam os patrões.
O trabalho em telemarketing é conhecido por desenvolver um grande índice de doenças como depressão, síndrome do pânico, etc., por conta da pressão sofrida pelos teleatendentes, de um lado pelos clientes (insatisfeitos com os péssimos serviços oferecidos pelas empresas capitalistas) e principalmente pela cobrança, por parte da empresa, de metas estabelecidas baseadas apenas na ganância de lucro dos patrões.
Para combater essa situação, a NR17 conta com artigos como o 5.3., que determina que “O tempo de trabalho em efetiva atividade de teleatendimento/telemarketing é de, no máximo, seis horas diárias, nele incluídas as pausas, sem prejuízo da remuneração”. O que não é cumprido, primeiro pela grande cobrança de horas extras e, segundo, pela resistência das empresas de respeitar até o salário mínimo, como foi o caso, até junho deste ano, da empresa Atento, que só passou a pagar o mínimo após grande mobilização em vários sites.
E mais, no artigo 5.4.5: “Devem ser garantidas pausas no trabalho imediatamente após operação onde haja ocorrido ameaças, abuso verbal, agressões ou que tenha sido especialmente desgastante, que permitam ao operador recuperar-se e socializar conflitos e dificuldades com colegas, supervisores ou profissionais de saúde ocupacional especialmente capacitados para tal acolhimento”.
Isso é cotidianamente desrespeitado, mostrando que, para as empresas, a vida das pessoas é nada perto do lucro desejado e o argumento utilizado para a transgressão da regra é a fila de espera das ligações ou o cumprimento de metas, prática que também é proibida pelo artigo 5.9: “Os mecanismos de monitoramento da produtividade, tais como mensagens nos monitores de vídeo, sinais luminosos, cromáticos, sonoros ou indicações do tempo utilizado nas ligações ou de filas de clientes em espera não podem ser utilizados para aceleração do trabalho e, quando existentes, deverão estar disponíveis para consulta pelo operador, a seu critério”.
Ou ainda, o artigo 5.7: “Com o fim de permitir a satisfação das necessidades fisiológicas, as empresas devem permitir que os operadores saiam de seus postos de trabalho a qualquer momento da jornada, sem repercussões sobre suas avaliações e remunerações”.
Já no artigo 5.11: “É vedado ao empregador: b) imputar ao operador os períodos de tempo ou interrupções no trabalho não dependentes de sua conduta”. Artigo desrespeitado cotidianamente, já que os horários de pausa não só são impostos, como seu cumprimento é utilizado como forma de avaliar o desempenho do trabalhador.
O artigo 5.12. diz que “a utilização de procedimentos de monitoramento por escuta e gravação de ligações deve ocorrer somente mediante o conhecimento do operador”, o que nunca acontece e faz que os trabalhadores vivam sob uma pressão invisível, já que qualquer ligação pode ser monitorada e seu desempenho avaliado por uma questão de pequena ou grande relevância.
Sofremos ainda com um estímulo à competição, com prêmios ou punições distribuídos àqueles que concorrem em “campanhas”, individualmente ou em equipe, nas quais o objetivo é sempre o de gerar lucro à empresa através de vendas, tempo de atendimento, etc., o que é proibido pelo artigo 5.13: “É vedada a utilização de métodos que causem assédio moral, medo ou constrangimento, tais como: a) estímulo abusivo à competição entre trabalhadores ou grupos/equipes de trabalho; b) exigência de que os trabalhadores usem, de forma permanente ou temporária, adereços, acessórios, fantasias e vestimentas com o objetivo de punição, promoção e propaganda; c) exposição pública das avaliações de desempenho dos operadores”.
Mas enquanto recebemos das empresas uma série de circulares com as metas e outras cobranças, nada se fala sobre os riscos para a nossa saúde no trabalho realizado, o que a NR17 regulamenta no artigo 6.1, que diz: “Todos os trabalhadores de operação e de gestão devem receber capacitação que proporcione conhecer as formas de adoecimento relacionadas à sua atividade, suas causas, efeitos sobre a saúde e medidas de prevenção”. Ou ainda o artigo 6.2: “Os trabalhadores devem receber qualificação adicional à capacitação obrigatória referida no item anterior quando forem introduzidos novos fatores de risco decorrentes de métodos, equipamentos, tipos específicos de atendimento, mudanças gerenciais ou de procedimentos”.
Outro grande índice é o de problemas auditivos e vocais, já que trabalhamos com headfones em galpões lotados de trabalhadores que, assim como nós, estão atendendo a clientes. A NR17 diz, no artigo 8.2.1, que: “No sentido de promover a saúde vocal dos trabalhadores, os empregadores devem implementar, entre outras medidas: a) modelos de diálogos que favoreçam micropausas e evitem carga vocal intensiva do operador”, o que não é cumprido, já que somos cobrados pelo tempo de atendimento e por isso devemos evitar esses diálogos com micropausas, e “b) redução do ruído de fundo”, o que é impossível num galpão com mais de mil pessoas, em alguns casos trabalhando ao mesmo tempo.
Sofremos ainda problemas de coluna, tendinite, LER, etc., que são muito frequentes na categoria e agravados porque a mobília não cumpre os critérios da NR17 ou, por não ser trocada frequentemente, deixa de cumprir esses critérios porque está quebrada. É o caso, especialmente, das cadeiras, que, mesmo velhas e quebradas, não são trocadas para não gerar despesas e diminuir os lucros das empresas.
Essa realidade é grave, pois, mesmo com tantas regras sendo descumpridas, as empresas continuam operando normalmente e aumentando seus lucros à custa do nosso trabalho. Isso mostra que a defesa dos trabalhadores não será feita pelo Ministério do Trabalho, muito menos pelos patrões. Somos nós, trabalhadores e trabalhadoras, que temos que nos organizar, fortalecer o Movimento Luta de Classes (MLC) entre os trabalhadores, eleger companheiros que defendam nossos direitos nas Cipas e ocupar os sindicatos da categoria, levando-os para o caminho da luta em defesa dos trabalhadores.
Agenor de Oliveira, trabalhador da Atento na capital paulista
A obrigação revolucionária de atuar em todos os locais e condições nas quais se desenvolva a classe operária, nos sindicatos que são e se reclamam classistas, assim como nos sindicatos pelegos, de disputar por todos os meios a influência das massas operárias e a condução de suas lutas, foi e é assumida pelos partidos marxista- leninistas e se desenvolve por diferentes vias e alternativas.
Existem, contudo, algumas experiências em que as forças revolucionárias e os partidos marxista-leninistas conquistaram a maioria ou a hegemonia na direção de um sindicato, de um setor específico de trabalhadores, organizaram e conduziram valiosas lutas específicas e alcançaram uma presença e um prestígio significativos, conquistando a referência no conjunto do movimento sindical, operário e popular, o que facilita e favorece a disputa do conjunto do movimento, permite irradiar opinião e influencia contingentes cada vez mais amplos das massas trabalhadoras. Esses espaços devem ser preservados, defendidos e ampliados; devem ser considerados parte do processo de ganhar a classe operária para a revolução e o socialismo.
Para os marxistas-leninistas, além da obrigatória tarefa de agitação e propaganda para o conjunto da classe operária, é de grande utilidade contar com instrumentos próprios no interior do movimento sindical que facilitem e multipliquem a promoção e a prática dos princípios, orientações e postulados classistas e revolucionários.
Trata-se de contar com um segmento do movimento organizado dos trabalhadores que procure e se eduque com a orientação dos marxistas-leninistas, não para separá-lo do conjunto, mas sim para que, atuando com a direção revolucionária, possa incidir no resto da classe operária, elaborando as bandeiras mais consequentes, classistas e revolucionárias.
Dependendo das condições, este segmento pode adquirir diferentes formas e características organizativas: corrente, frente, sindicato ou central sindical; podendo, inclusive, ser expressão de uma unidade com outras forças classistas e revolucionárias no interior do movimento sindical. Será sempre uma responsabilidade e uma tarefa forjar a mais ampla unidade da classe operária.
Nos últimos tempos, em vários países, existem forças políticas e sindicais que lutam contra a burocracia sindical, contra o oportunismo e a traição, que podem e devem confluir numa proposta unitária que atue nas bases sindicais e aponte para a luta operária, para a educação política dos trabalhadores, para a unidade sindical.
Em nenhum dos casos pode entender-se como uma visão ou concepção exclusivista, sectária e isolacionista, que pretenda separar do conjunto do movimento um segmento que se aparta e se afasta da classe e atua pura e exclusivamente por sua conta, sem contaminar-se de oportunistas e reformistas. Não, uma política desse tipo desdiz a própria pretensão de reivindicar-se como o segmento mais consciente e avançado do movimento sindical. Trata-se, por outro lado, de conquistar, organizar e dirigir uma força com capacidade de ação própria, porém, ao mesmo tempo, encarando responsabilidades e tarefas para o conjunto da classe operária e as demais forças sociais que enfrentam o capitalismo.
Não se pode alcançar uma consciência revolucionária à margem dos problemas específicos que afetam e preocupam os trabalhadores. Liderar a luta pelas justas reivindicações das massas operárias é uma tarefa inevitável dos sindicalistas classistas e revolucionários. Apoiar-se nessa experiência e elevar sua consciência, politizá-las e envolvê-las no debate a respeito da necessidade da revolução, de seu papel na mesma, da possibilidade certa de avançar esse propósito, é obrigatório para os comunistas.
Dia 20 de novembro de 2012, completam-se oito anos de um dos maiores crimes contra camponeses no Brasil. Nesse dia, no ano de 2004, cinco trabalhadores rurais foram brutalmente assassinados no acampamento Terra Prometida, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), localizado no Município de Felisburgo, região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
Entre as vítimas fatais, estavam os agricultores Francisco Ferreira Nascimento, 72 anos, morto com cinco tiros no peito; Juvenal Jorge da Silva, 65 anos, morto com três tiros no peito e na barriga; Miguel José dos Santos, 56 anos, morto com 13 tiros no peito e no abdômen; Iraquia Ferreira da Silva, 23 anos, morto com três tiros no peito; Joaquim José dos Santos, 48 anos, oito tiros no peito e no abdômen, chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital de Felisburgo. Além dos cinco agricultores assassinados nesse covarde crime, vinte trabalhadores rurais também foram atingidos.
O mandante do crime foi o fazendeiro Adriano Chafik, que contratou 17 pistoleiros para atacar o acampamento. O latifundiário participou pessoalmente dos crimes, orientando os pistoleiros, mas ainda aguarda julgamento. Todas as provas mostram que o crime foi premeditado. Uma campanha vem sendo realizada desde que esses tristes fatos ocorreram, exigindo a punição dos responsáveis.
Segundo relatórios sobre Conflitos no Campo no Brasil, elaborados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Minas Gerais existem vários grupos organizados por fazendeiros que possuem sigla, como UPPR e MDPS, e que têm estatutos e regulamentos. Esses grupos dizem defender a paz no campo, mas estão estruturados e armados para defender os interesses dos fazendeiros e atuam, na verdade, para atacar os trabalhadores, a serviço da propriedade privada do latifúndio. São grupos de foras-da-lei que agem com truculência, ameaçando, intimidando e realizando despejos e expulsões.
Governo de Anastasia acoberta crimes no campo
Apesar da pressão dos setores organizados da sociedade e do MST, a impunidade continua, já que a fazenda Nova Alegria – onde hoje está o acampamento – ainda não foi desapropriada, as famílias vítimas do massacre não foram indenizadas e os criminosos não foram punidos oficialmente. A fazenda Nova Alegria é terra devoluta. Na região prevalece a política do coronelismo, com fazendeiros mantendo grupos de jagunços fortemente armados, que fazem ameaças constantes aos trabalhadores. Fruto de tanta impunidade, Minas Gerais se tornou um barril de pólvora na luta pela terra, seja no campo ou nas cidades. São dezenas de ocupações espalhadas por todo o Estado e nenhuma providência é tomada pelas autoridades para resolver os conflitos agrários. O governador Antônio Anastásia, em vez de coibir essa violência, coloca a Polícia Militar para defender os fazendeiros e coronéis e persegue as lideranças e os movimentos que lutam pela distribuição de terras no Estado.
O julgamento do massacre de Felisburgo está previsto para janeiro de 2013 e, até essa data, algumas atividades estão sendo organizadas por entidades dos movimentos sociais e sindicatos com o objetivo de cobrar a prisão do mandante e réu confesso, Adriano Chafik.
O caso do Massacre de Felisburgo é mais um entre os vários de violência no campo contra os trabalhadores rurais brasileiros, a exemplo dos massacres de Corumbiara, ocorrido em Rondônia, de Eldorado dos Carajás, no Pará, e o de Unaí, também em Minas Gerais – apenas para citar alguns casos que continuam impunes. Todos os anos, dezenas de camponeses, religiosos, advogados populares e demais defensores dos direitos dos trabalhadores rurais são ameaçados ou assassinados no Brasil. Em alguns locais existe até uma lista com tabela de preços que variam de acordo com a importância política e a posição social e profissional da vítima.
Apesar disso, não vemos por parte do Governo nenhuma medida concreta para garantir a reforma agrária no campo ou o combate ao uso indiscriminado de agrotóxicos. Ao contrário, continua-se adotando no Brasil uma política que estimula a concentração de terras nas mãos de alguns latifundiários e de empresas, através de incentivos fiscais e financiamento público.
Na tarde do dia 18 de outubro, no auditório do Banco Central em Recife, a Comissão da Verdade Dom Hélder Câmara realizou a primeira sessão sobre a morte de Odijas Carvalho de Souza (1945-1971) (leia A Verdade, nº 43), estudante de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), líder do movimento estudantil e militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Odijas foi preso pelo Departamento de Ordem Política e Social de Pernambuco (Dops/PE), para averiguação, no dia 30 de janeiro de 1971; em seu prontuário não constava nenhum depoimento, e a causa de sua morte foi declarada como edema pulmonar. A Comissão tomou os depoimentos dos ex-presos políticos e testemunhas das torturas: Lylia Guedes, Alberto Vinícius, Tarzan Castro e Maria Cristina Castro.
A audiência começou pela leitura da carta de saudação a Lylia Guedes escrita pelo Diretório Central dos Estudantes Odijas Carvalho de Souza (DCE-UFRPE): “Muito nos orgulha conhecer em vida a lutadora que esteve com Odijas no momento de sua prisão e de seus momentos difíceis. A apuração dos crimes cometidos, a abertura dos arquivos, a punição dos torturadores e o depoimento dos militantes são fundamentais para que se faça justiça a todos os jovens que, assim como Odijas, pagaram com sua própria vida para que o povo brasileiro conquistasse um Estado democrático e um país mais justo”.
Em seguida, veio o recolhimento dos depoimentos. A primeira a ser ouvida foi Lylia Guedes, presa junto com Odijas na casa em que residiam, na clandestinidade, na praia de Maria Farinha, em Paulista, cidade da Região Metropolitana do Recife. Em seu relato, ela demonstrou visível incômodo ao recordar as torturas e forneceu detalhes do momento da prisão. Contou que era por volta das seis e meia da manhã do dia 30 de janeiro de 1971 quando Odijas, vestido apenas de bermuda, se preparava para correr na praia, como fazia todos os dias. “Ele estava com 25 anos, corria na praia regularmente e não tinha nenhum problema de saúde. Não morreria de edema pulmonar se não fosse massacrado. Os militares deram um atestado de óbito falso”.
Lylia presenciou as torturas, pois ela tinha apenas 18 anos e não era muito conhecida, e a principal forma de torturá-la era ver o que estava se passando. No dia 6 de fevereiro, Odijas foi levado do Dops. Os outros presos políticos suspeitavam de sua morte e, para arrancar alguma informação, fizeram uma greve de fome que durou cerca de 15 dias. Para tentar pôr fim à greve, os militares ofereciam comida mais sofisticadas, mas, mesmo assim, os presos resistiam e bebiam, às escondidas, água da privada.
O segundo depoente foi Alberto Vinícius, ex-preso político e amigo de Odijas. “Foram 17 horas seguidas de violência; das celas nós ouvíamos os gritos, pancadas e perguntas dos torturadores em busca de informações. Depois disso, ele ficou todo arrebentado e urinando sangue e, até o dia de sua morte, não sofreu mais torturas físicas, somente psicológicas”. E mais: “Com a morte de Odijas, os presos saíram do Dops e eram torturados no Exército e na Aeronáutica. Lá conheci a força do coronel Carlos Alberto Bravo Câmara e do tenente Castilho. Depois fui para a prisão Barreto Campelo, na Ilha de Itamaracá, onde ficávamos em celas reservadas para presos políticos”.
A mobilização pela denúncia da morte de Odijas tomou repercussão internacional. Os presos no Dops escreveram e assinaram uma denúncia que foi encaminhada a entidades de defesa dos direitos humanos internacionais, escrita em papel de cigarros, como relatou Alberto Vinícius. “Precisávamos revelar o que estava acontecendo. Nosso relato chegou às mãos de dom Hélder Câmara, e a Arquidiocese [de Olinda e Recife] fez esse documento chegar ao exterior”.
Tarzan Castro, ex-preso político e deputado estadual em Goiás, em seu depoimento revelou: “O silêncio dele causava ódio nos torturadores, que se sentiam desafiados e batiam cada vez mais.” Tarzan era companheiro de cela de Odijas, e, em uma das torturas, que sempre aconteciam em uma sala próxima, chegou a contar 300 agressões. “Ele chegava arrebentado na minha cela, passava algumas horas e depois o levavam para o ‘pau de arara’. Passei por outras prisões e vi muita tortura no Chile, mas as pancadas aqui eram para matar. Cheguei a falar que ele não iria aguentar, e o secretário de Segurança me respondia que isso era ‘um esparro’ dele”, relatou Tarzan Castro.
Bastante emocionada e com os olhos marejados, Maria Cristina Castro, ex-presa política e esposa de Tarzan de Castro na época, contou que, ao ouvir as torturas e movimentação no corredor que dava acesso à sala onde elas eram perpetradas, não acreditava que tantos homens e tanta violência eram para apenas uma pessoa. Um momento marcante, e que a emocionou muito em seu depoimento, foi se recordar quando viu Odijas ser levado do Dops. Dois soldados o sustentavam pelo braço, e ele gritou para ela: “Meu nome é Odijas Carvalho. Eu sou Odijas Carvalho de Souza.” Até hoje Cristina diz se recordar daquele momento, às vezes sonha com Odijas e lembra suas palavras como forma de incentivo para si mesma.
Entre os principais nomes citados pelas testemunhas, estão o do secretário de Segurança Pública Armando Samico e o investigador reconhecido como Miranda. Outros nomes são o do coronel reformado da Polícia Militar e ex-deputado, José Siqueira, o diretor do Dops, Ordolito Azevedo, os delegados Aquino Farias e Carlos de Brito e os investigadores Fausto Venâncio, Edmundo Brito, Ivaldo Vieira, Severino Pereira, Rível Rocha e Cesário. A comissão enviará um ofício ao Governo de Pernambuco solicitando informações sobre os agentes e pessoas citadas nos depoimentos, a fim de que sejam convocados para prestar esclarecimentos.
A comissão vai encaminhar pedido judicial para que o atestado de óbito de Odijas seja retificado. Para o relator, Roberto Franca, “independentemente de se confirmarem os acusados, já está caracterizada a responsabilidade do Estado e a falsidade do atestado de óbito.”
O sentimento que ficou dessa primeira audiência foi o de que foi muito importante para que tenhamos conhecimento do que ocorreu com Odijas e do quanto foi torturado, já que a maioria das informações era praticamente desconhecida. Odijas foi sepultado no Cemitério dos Ingleses, no bairro de Santo Amaro, no Recife, com o nome falso “Osias de Carvalho Souza”. O governo militar destruiu várias provas, documentos da época, e até seu nome. Ficou evidente o caráter internacional das ditaduras militares e a colaboração de vários países com os crimes que aconteceram em nosso país.
Odijas, o Neguinho, como era chamado pelos seus camaradas e amigos, era um jovem alegre, brincalhão, e que, apesar de sua morte física, continua vivo na memória. A repressão não conseguiu matar o espírito jovem e de luta de Odijas, que acima de tudo respondeu com silêncio aos torturadores e entregou sua vida pela libertação do povo brasileiro, dos estudantes, e em prol da conquista da democracia!
Lidiane Monteiro, Coordenadora-geral do DCE-UFRPE Odijas Carvalho de Souza
Os guarani-caiovás são o segundo povo indígena mais numeroso do Brasil, possui uma população total de cerca de 43 mil, que além do número considerável de suicídios, vive violência constante dos grandes latifundiários brasileiros.
Em janeiro deste ano, o STF suspendeu a demarcação de mais de 90% da reserva Arroio-Korá, no Mato Grosso do Sul. No mês de outubro, os guarani-caiovás escreveram uma carta ao Supremo Tribunal Federal, na qual claramente reconhece que a justiça brasileira serve a uma classe, e essa classe não é a dos indígenas:
“Fica evidente para nós que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo; não acreditamos mais na Justiça brasileira”.
Os argumentos utilizados pelos representantes do agronegócio, que foram cegamente acatados pela Justiça Federal, são os de que, em 1988, quando a Constituição vigente passou a existir, os guaranis não estavam nas terras. Contudo, tais argumentos não possuem solidez alguma, pois, segundo Antônio Brand, professor da Universidade Católica Dom Bosco, em Campo Grande, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) reconheceu extensões de terras como sendo da população indígena desde 1915, e que tais conquistas foram gradualmente reduzidas, e, na maioria dos casos, com permissão de órgãos oficiais. Além disso, segundo o antropólogo Levi Marques, a população indígena sofre pressão por parte dos grandes latifundiários desde a década de 1960, sempre com atos de violência e humilhação.
É de uma hipocrisia sem tamanho utilizar um argumento temporal pontual contra um povo que sofre um genocídio histórico desde a invasão dos europeus à América Latina. Um povo que lutou e continua lutando incansavelmente por seu direito à vida digna de continuar em suas terras, mesmo que em condições precárias, tendo que servir de mão de obra barata aos capitalistas da agroindústria.
O caso dos guarani-caiovás se soma à interminável lista de injustiças cometidas nessa sociedade, uma sociedade que dá prioridade ao conforto e ao lucro de uma meia-dúzia de capitalistas, em detrimento do povo trabalhador. É preciso denunciar essa situação, para que todos e todas percebam a importância da organização do povo para mudar essa realidade, para impedir que o povo indígena seja exterminado por conta da ganância por lucros dos latifundiários de hoje, que são netos e bisnetos dos escravistas de ontem.
Mariana Mendes é militante da UJR e estudante de geografia da UFSCar – Sorocaba
1. Desde há séculos o Brasil carece de governo autônomo, capaz de promover o progresso econômico e social. A independência proclamada em 1822 não se traduziu em autonomia real, pois o País atravessou o Império e os primeiros anos da República sob tutela financeira e política da Inglaterra, até o final da Primeira Guerra Mundial, e do império anglo-americano desde então.
2. Os lampejos de autonomia duraram pouco, logo apagados por intervenções da oligarquia mundial. Assim, nos anos 1840, com a tarifa Alves Branco, uma tentativa de viabilizar o surgimento de indústrias nacionais. Também, com os empreendimentos abrangentes do barão de Mauá, dos anos 1850 aos 1880, e com iniciativas limitadas, como a fábrica de linhas de Delmiro Gouveia em Alagoas, 1912-1917.
3. Os avanços na redução da dependência econômica foram contidos ou anulados pela dependência política. E esta decorreu da subordinação da economia agrária e exportadora de bens primários aos interesses comerciais e industriais de potências estrangeiras.
4. Quando Getúlio Vargas promoveu maior grau de autonomia nacional – de 1934 a 1945 e de 1951 a 1953 – as potências hegemônicas, coadjuvadas pelas “classes conservadoras” locais e pela mídia venal, montaram complôs para desestabilizar e derrubar o governo.
5. Como Vargas antes, João Goulart, em 1962-1963, não se precaveu diante das maquinações imperiais, tarefa difícil em regime “democrático” no qual o poder financeiro determina o processo político.
6. Mesmo sendo escassa a proteção tarifária e a não tarifária, e operassem no Brasil vários cartéis e grandes empresas estrangeiras, surgiram numerosas indústrias de capital nacional substituidoras de importações na segunda metade do século 19 e na primeira do século 20.
7. Cito quatro livros que o demonstram: Warren Dean, A industrialização de São Paulo(1880-1945); Edgard Carone, O centro industrial do Rio de Janeiro e sua importante participação na economia nacional(1827-1977), ed. Cátedra, Rio 1978; Delso Renault, 1850-1939 O desenvolvimento da indústria brasileira, Sesi; Eli Diniz, Empresário, Estado e capitalismo no Brasil, 1930-1945, ed. Paz e Terra, SP, 1978.
8. O próprio Vargas só restringiu investimentos estrangeiros em poucos setores e demorou a notar o volume das remessas de lucros ao exterior, o que está longe de ser único dos prejuízos que eles causam à economia.
9. As potências imperiais realizaram seus objetivos a partir de Café Filho, fantoche dos entreguistas civis e militares (1954). JK, eleito em 1955, pelos votos getulistas, ampliou os benefícios ao capital estrangeiro.
10. Daí não terminou mais a escalada de desnacionalização, não obstante se terem criado estatais na área produtiva – privatizadas de forma vergonhosa a partir de 1990 –, tendo o Estado feito também investimentos nas infra-estruturas econômica e social.
11. O poder público subsidiou as transnacionais, e esmagou empresas nacionais.
12. Resultado: em 1971 o capital estrangeiro já controlava setores importantes: mercado de capitais, 40%; comércio externo, 62%; serviços públicos, 28%; transportes marítimos, 82%; transporte aéreo externo, 77%; seguros, 26%; construção, 40%; alimentos e bebidas, 35%; fumo, 93,7%; papel e celulose, 33%; farmacêutica, 86%; química, 48%; siderurgia, 17%; máquinas, 59%; autopeças, 62%; veículos a motor, 100%; mineração, 20%; alumínio, 48%; e vidro, 90%.
13. Em 1971 o estoque de investimentos diretos estrangeiros (IDEs) não chegava a US$ 3 bilhões. Em 2011 atingiu US$ 669,5 bilhões.
14. O montante de 2011 é 40 vezes maior que o de 1971, atualizado para US$16,6 bilhões. No período, o PIB, em dólares corrigidos, só se multiplicou por 6.
15. Os IDEs referem-se só às empresas com maioria de capital estrangeiro, não aos “investimentos estrangeiros em carteira” (participações no capital de empresas e aplicações em títulos públicos e privados). Esses acumularam US$ 597 bilhões até 2011. Os empréstimos, US$ 190 bilhões. A soma dá quase US$ 1,5 trilhão.
16. É fácil emitir dólares do nada e com eles comprar ativos. Mais: grande parte dos IDEs é reinvestimento de lucros, e quantia muitíssimo maior que a dos ingressos foi remetida ao exterior a título de lucros, dividendos, juros, afora os ganhos camuflados em outras contas do balanço de transações correntes. Disso originou-se a dívida pública, fator de empobrecimento e de dependência.
17. A desnacionalização prossegue galopante. Conforme a “Pesquisa de Fusões e Aquisições” da consultoria KPMG, 247 empresas foram adquiridas por transnacionais de janeiro a setembro de 2012. Em todo 2011 haviam sido 208. De 2004 para cá foram 1.247.
18. Em 2012 destacam-se: tecnologia da informação (33); serviços para empresas (20); empresas de internet (19); supermercados, açúcar e álcool (35); publicidade e editoras (10); alimentos, bebidas e fumo (10); mineração (9); óleo e gás (8); educação (7); shopping centers (7); imobiliário (7).
19. Ainda mais estarrecedora que a avassaladora ocupação da economia brasileira é a persistência na mentalidade de que os investimentos estrangeiros beneficiam a economia.
20. Não houve evolução, desde os anos 1950 e 1960, no entendimento da realidade. Continuam sendo escamoteadas as causas do enorme atraso tecnológico do País e disto tudo: pobreza, insegurança, infra-estrutura lastimável, desagregação social, desaparelhamento da defesa e cessão de territórios a pretexto de proteção ao ambiente e a indígenas.
21. O impasse da economia brasileira, prestes a desembocar em dificuldades ainda maiores, sob o impacto da depressão nos países centrais, decorre das percepções errôneas, subjacentes às recomendações da Comissão Econômica para a América Latina da ONU (Cepal) e à política “desenvolvimentista” de JK.
22. Estas foram as falsas premissas, ainda não atiradas ao lixo, como deveriam ter sido há muito tempo: 1) a industrialização como meta em si mesma, independente da composição nacional ou estrangeira e do grau de concentração do capital; 2) o capital estrangeiro tido por necessário para suprir pretensa insuficiência local de recursos.
23. As políticas decorrentes dessas ideias redundaram na desindustrialização e na descapitalização do País. Ignora-se a experiência histórica – sempre confirmada – de nunca ter existido real desenvolvimento em países nos quais predominem os investimentos estrangeiros.
24. Recorde-se que, de 1890 a 1917, ano da débâcle na guerra e da revolução, o volume de investimentos estrangeiros na Rússia foi cerca de três vezes superior ao do capital nacional.
Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento, editora Escrituras, SP
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