UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quarta-feira, 9 de abril de 2025
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Tiradentes – a rebelião contra a opressão e a espoliação estrangeira do Brasil

Tiradentes - A rebelião contra a opressão e a espoliação estrangeira do BrasilÉ um sábado, 21 de abril de 1792. Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Faz sol, o céu está limpo. Uma multidão acompanha ansiosa a cena trágica: uma forca, um homem com uma corda em volta do pescoço. Muitos soldados cercam o patíbulo para que ninguém se aproxime. Um padre lembra que não se deve trair a rainha, nem em pensamento. O homem olha para o povo e ergue os olhos para o céu azul, reiteradas vezes, enquanto aguarda o momento fatal. De repente, o povo silencia. O homem é empurrado para o espaço. Os tambores rufam. A platéia solta um grito terrível. Tudo está consumado. Um corpo sem vida balança no ar.

Tudo começara três anos antes, quando um grupo de homens de Vila Rica, Minas Gerais, resolveu rebelar- se contra a opressão da Coroa Portuguesa. Nessa época, o principal produto que os invasores levavam do Brasil era o ouro, abundante nas terras mineiras. Em torno do ouro formou-se uma sociedade composta por mineradores, latifundiários, escravos negros, brancos pobres e um setor médio integrado por pequenos comerciantes, pequenos mineradores e funcionários do governo.

Os mineradores tinham de pagar um quinto do ouro extraído, à Coroa. A partir de 1750, com a queda da produção, foi estabelecida uma quota fixa de imposto, de cem arrobas de ouro, aproximadamente 1.500 kg. Quando a quota não era atingida, o governo da Província mandava arrecadar o que faltasse, de toda a população. Todos pagavam, fossem ou não mineradores, ricos ou pobres. A insatisfação era grande e generalizada.

Na Capitania das Minas Gerais, enquanto poucos enriqueciam, os escravos trabalhavam em condições subumanas para extrair o ouro e “milhares de homens viviam na miséria, passando fome, vagando sem destino pelos arraiais” (Laura de Mello e Souza, em Os Desclassificados do Ouro). Até os grandes mineradores viviam revoltados porque, além do imposto sobre o ouro, tinham de comprar a Portugal, que por sua vez importava da Inglaterra, tudo de que precisavam. Em 1785, a rainha de Portugal proibiu o funcionamento das indústrias brasileiras que, embora engatinhando, já forneciam tecidos, produtos de couro, ferramentas, moendas e armas brancas, a preço muito menor do que os ingleses. Com o acordo imposto pela Inglaterra a Portugal, os colonos passaram a gastar muito mais para adquirir tais produtos.

A revolta transforma-se em movimento

No final de 1788, os homens mais ricos, desesperados com o endividamento e informados de que o governo iniciaria a derrama cobrança do imposto em ouro em meados do ano seguinte, começam a falar em revolta. A população pobre também estava preocupada, pois sabia que a cobrança também recairia sobre ela. Aproveitando esse clima, um grupo de pessoas do setor médio poetas, padres, militares e mineradores começam a dar corpo a um Movimento pela Independência. Eles eram influenciados pelas idéias procedentes da França e dos Estados Unidos da América do Norte. Este havia proclamado sua independência da Inglaterra, em 4 de julho de 1776, após obter vitória na guerra civil; na França, estava em andamento a Revolução Burguesa que espalhava pelo mundo as idéias de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Do grupo de conjurados mineiros, participava um homem do povo que viria a ser nosso herói.

Quem era Tiradentes

Joaquim José da Silva Xavier nasceu em 1746, próximo a Vila Rica. Aos onze anos ficou órfão de pai e mãe e foi morar com seu padrinho que lhe ensinou a profissão de dentista, origem do seu apelido. Aos 20 anos trabalhou como tropeiro, transportando mercadorias numa tropa de burros entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro. Numa dessas viagens, defendeu um escravo que estava sendo castigado, o que lhe valeu um processo. Para pagar as multas e as custas processuais, teve de vender sua tropa de burros. Trabalhou como minerador e, aos 30 anos de idade, sentou praça na 6a Companhia de Dragões, posteriormente Regimento de Cavalaria de Vila Rica. Tornou-se alferes, posto equivalente hoje a 2o tenente.

Insatisfeito por nunca ter sido promovido, apesar de ser dedicado e bravo, pediu licença do Regimento em 1787, aos 41 anos de idade, para tentar implantar projetos de canalização de água no Rio de Janeiro. Ele não era engenheiro, mas tinha vocação e muita capacidade prática, já tendo à época dirigido a construção de estradas. Entretanto, não conseguiu apoio financeiro para seus projetos.

Um desses contatos, em busca de apoio, mudou o rumo da vida de Tiradentes. Foi o seu encontro com José Álvares Maciel, filho de grande comerciante e fazendeiro de Vila Rica. Em vez de lhe emprestar dinheiro, Álvares Maciel propôs que ele participasse do movimento para libertar as Minas Gerais. Não era difícil medir a disposição de Tiradentes para a tarefa, pois nas suas viagens como tropeiro, militar e nessa última em busca de nova profissão, por onde passava ele falava contra a dominação portuguesa. Entusiasmado, Tiradentes volta para Vila Rica e integra-se ao grupo que está preparando a conjuração.

Liberdade, ainda que tarde – o que queriam os revoltosos

Proclamar a Independência e constituir uma República; desenvolver a agricultura, a pecuária, a indústria e a mineração; implantar uma Universidade; anular as dívidas com a Coroa Portuguesa. Esperavam que a vitória repercutisse no Rio de Janeiro, provocando um levante popular, mas estavam preparados para defender a sua República, mesmo sem a adesão de outros lugares. Tiradentes foi o único a defender a libertação dos escravos

Um exemplo de bravura e dignidade

A conjuração mineira tinha participantes oportunistas cuja única preocupação era se livrar das dívidas. Um deles, Joaquim Silvério dos Reis, resolveu denunciar o movimento, em troca do perdão de suas dívidas. O governador suspendeu a derrama e ordenou a prisão dos conjurados. O processo durou três anos. Todos foram condenados à forca, mas tiveram suas penas reduzidas por ordem da rainha Manoel Tiradentes, de Portugal. Apenas Lisboa justamente o homem do povo, teve confirmada a sentença de morte.

É importante refletir sobre o comportamento de Tiradentes na prisão e nos interrogatórios a que foi submetido, para conhecer a sua têmpera revolucionária. Ele foi apontado pelos outros como o a g i t a d o r, o r e s p o n s á v e l p e l o movimento. Alguns zombaram dele, classificando-o de louco, de rústico. Até o famoso poeta Tomás Antônio Gonzaga escreveu um verso na prisão, em que dizia: “Ama a gente assisada/ a honra, a vida, o cabedal tão pouco/ que ponha uma ação destas/ nas mãos de um pobre sem respeito e louco?”. Todos procurando agradar às autoridades, para livrarem-se da m o r t e . Ti r a d e n t e s t e v e u m comportamento exemplar: não entregou ninguém, assumiu toda a responsabilidade pela revolta, não devolveu as zombarias. Uma dignidade extraordinária.

A sentença que o condenou à forca foi cruel. Além da morte, determinou que “sua cabeça fosse cortada, levada a Vila Rica e pregada em lugar público até que o tempo a consumisse. O corpo, dividido em quatro partes a serem pregadas em postes pelos caminhos onde ele pregara a Revolução. Declarou infames os seus filhos e netos. Determinou o confisco dos seus bens; que a casa fosse destruída e no lugar fosse jogado muito sal, para que nada mais se edificasse”. Ao ouvir a confirmação de tal sentença, afirmou serenamente Tiradentes: “Se dez vidas tivesse, as dez vidas eu daria”.

As classes dominantes queriam atemorizar o povo, para que nunca se revoltasse. Pelo contrário, ficou o exemplo de dignidade, de bravura, da capacidade de dar a vida por uma causa justa, para que todos tenham vida e liberdade.

Tiradentes vive na luta

A burguesia apropriou-se indevidamente do nome de Tiradentes, elegendo-o, inclusive, como patrono da Polícia Militar, a mesma que continua sendo instrumento das classes dominantes para reprimir os sem-terra, os sem-teto, todos aqueles que lutam por seus direitos e se revoltam contra a opressão. É mais uma traição a Tiradentes, um herói do povo brasileiro. A Independência, pela qual ele deu a vida, ainda não foi conquistada. A derrama que motivou a Conjuração Mineira hoje acontece através da cobrança da dívida externa, que passou de US$ 148 bilhões em 1994 para US$ 235 bilhões em 1999. No ano passado (1998), 64% do orçamento da União foram destinados ao pagamento de amortizações, juros e serviços das dívidas externa e interna. A proibição do funcionamento das indústrias brasileiras acontece em nossos dias através do favorecimento aos grandes monopólios capitalistas estrangeiros com isenção de impostos e outros benefícios; com a entrega do patrimônio público ao grande capital estrangeiro e nacional (privatizações), da liberação de taxas sobre produtos importados. Tudo isso gera o fechamento das pequenas e médias indústrias nacionais, provocando desemprego, fome e miséria. Como na época de Tiradentes, o Brasil continua sendo espoliado pelo capital estrangeiro e os trabalhadores vivem na miséria, desempregados e vendo seus direitos desrespeitados. Por isso mesmo, vemos crescer em todas as partes deste país o mesmo sentimento de revolta que animou os revolucionários de Minas Gerais.

Vila Rica, hoje, é o Brasil inteiro. Que todo o povo se levante num movimento de libertação e derrube as classes dominantes e seus “Joaquim Silvério dos Reis” que governam o Brasil, construindo uma nova sociedade onde haja terra, trabalho e vida digna para todos. Tiradentes, nosso herói, estará iluminando esse caminho, juntamente com tantos bravos que tombaram na luta através da nossa História. A liberdade nunca é tardia.

“Liberdade, essa palavra
Que o sonho humano alimenta
Que não há ninguém que explique
E ninguém que não entenda”
(Cecília Meireles)

Luiz Alves
(Publicado no Jornal A Verdade, nº 6 )

Filas do bandejão da UFMG aumentam ainda mais

Filas do bandejão da UFMG aumentam ainda maisComo já denunciado pelo jornal A Verdade, as filas do restaurante universitário da UFMG campus Pampulha estão quilométricas, com os estudantes tendo que esperar até 50 minutos para almoçar.

Essa espera absurda resulta da ineficiência da FUMP – fundação privada que gere os Restaurantes Universitários da UFMG –, que não consegue atender à demanda dos estudantes da universidade, cujo número aumenta a cada dia.

Não bastassem as filas do início do semestre, no dia 9 de abril a FUMP implementou um novo sistema de identificação para entrada no bandejão. Esse sistema só permite que os alunos com a carteirinha da biblioteca e com a carteira de identidade entrem no restaurante.

Mas esse sistema apresenta vários problemas. Primeiro porque em um momento em que ainda não se tem um novo restaurante para atender à demanda, implementar um novo sistema que precisa de um período de adaptação faz com que o tempo de espera na fila se estenda ainda mais. Segundo que o sistema é excludente, uma vez que não aceita o comprovante de matrícula como identificação, sendo que não há nada mais legítimo que comprove que aquele aluno estuda na universidade do que o comprovante emitido pelo colegiado do curso. Com esse novo sistema vários estudantes que estavam sem a carteirinha da biblioteca não puderam almoçar nos primeiros dias, ou tiveram que pagar R$7,00 pelo prato de comida.

Os estudantes, indignados com esses absurdos, organizaram na última quarta (18) um ato em frente ao bandejão para pressionar a FUMP. Coincidentemente – ou não -, no dia do ato foram disponibilizados novos caixas e foram aceitos outros documentos para entrada no restaurante, uma tática da Fundação para que não houvesse filas no dia do ato, uma vez que a imprensa estava toda presente. Mas os estudantes perceberam a tática baixa da entidade e denunciaram essa atitude.

Como as filas ainda permanecem, os estudantes seguem organizando a luta, vigilantes para que essa situação se resolva e que a Assistência Estudantil da UFMG seja de fato uma política de permanência na universidade, e não vista apenas como um “gasto”, que é a forma como vem sendo tratada.

Isabela Rodrigues Ligeiro
Diretora do Centro Acadêmico de Ciência Sociais da UFMG

Crise em Portugal fecha 26 empresas por dia

Crise em Portugal fecha 26 empresas por diaSegundo dados citados pelo Diário Econômico, as falências de restaurantes disparam 143 por cento no primeiro trimestre deste ano em Portugal. No total, houve um aumento de 51,5 por cento das falências de empresas nos vários setores.

O setor de alimentação não está a resistir aos aumentos do IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado), nem à quebra do consumo, indicam os dados citados pelo Diário Econômico. Segundo os dados da Coface houve um aumento de 143 por cento no número de restaurantes em falência no primeiro trimestre. Este é apenas um dos muitos setores em dificuldades. No conjunto dos três primeiros meses do ano houve um aumento de 51,5 por cento nas falências – a cada dia, 26 empresas fecharam as portas.

As razões apontadas são várias e não surpreendem: as medidas de austeridade, a quebra no consumo das famílias e o aumento do IVA justificam o forte agravamento das insolvências no setor de alimentação.

Mas, como explica o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), a realidade é ainda mais grave: “As falências são só uma parte muito pequena dos encerramentos. Trata-se apenas dos estabelecimentos que fecham com comunicação judicial, por existir uma impossibilidade formal em pagar as suas responsabilidades. A nossa estimativa é que no comércio e restaurantes as falências representam apenas 10 por cento do total de encerramentos”, sublinhou Vieira Lopes, ao Diário Económico.

“O mais grave são os encerramentos silenciosos”

Também o secretário-geral da ARESP partilha desta convicção, mas alerta: “O mais grave são os encerramentos silenciosos – estamos a falar de micro e pequenas empresas, familiares – a acontecer ao ritmo de centenas por mês”, frisa José Manuel Esteves. E acrescenta que estes valores “vão disparar a partir de Maio”, data em que as empresas têm de pagar o IVA referente ao primeiro trimestre.

José Manuel Esteves salienta ainda o impacto que estes encerramentos têm na receita fiscal, não só nas perdas de IRC, de IVA e de contributos para a Taxa Social Única, mas também no agravamento das despesas com os subsídios de desemprego.

Fonte: Esquerda.Net

Tráfico de mulheres: uma questão de classe e gênero

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O Brasil é hoje o país com maior número de mulheres traficadas para fins sexuais da América do SulSegundo Relatório da Anistia Internacional, o tráfico de pessoas é uma das formas ilegais mais lucrativas no mercado mundial. Dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) estimam que o tráfico humano movimente por ano cerca de 32 bilhões de dólares.

A Convenção de Palermo, um dos poucos marcos legais que tratam do tráfico de pessoas, o define como o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento de pessoas utilizando-se de ameaça, uso da força, formas de coação e abuso de autoridade sobre situações de vulnerabilidade para fins de exploração.

Segundo estimativas do Instituto Europeu para o Controle e Prevenção do Crime, cerca de 500 mil pessoas são traficadas de países mais pobres para este continente por ano. Quanto ao tráfico de pessoas para fins sexuais, estima-se que 98% das vítimas em todo o mundo são mulheres.

Para quem realiza este tipo de exploração, a atividade tem baixos riscos e altos lucros. As mulheres traficadas entram no seu país de destino com visto de turista e a ação da exploração sexual muitas vezes é camuflada nos registros por atividades legais como o agenciamento de modelos, babás, garçonetes ou dançarinas.

Poucas das mulheres vítimas deste crime têm ciência de que a migração se destina à exploração sexual. Por vezes elas permanecem em cárcere privado, sob permanente vigilância, além de sofrerem preconceito e discriminação por parte dos clientes e dos donos dos estabelecimentos.

Sabe-se que essas mulheres trabalham de 10 a 13 horas diárias no mercado do sexo, não podendo recusar clientes e sendo submetidas ao uso abusivo de drogas e álcool para permanecerem despertas .Elas acabam não se reconhecendo como traficadas, não se dão conta da grave exploração que sofrem, apenas admitem que foram enganadas.

O tráfico para fins de exploração sexual traz irreversíveis consequências às mulheres. Estas ficam expostas a todo tipo de doença sexualmente transmissível, inclusive ao vírus HIV, sofrem ataques físicos por parte dos clientes, são atacadas sexualmente pelos aliciadores, têm que lidar com constantes ameaças ou intimidações por todo o período que permanecem em regime de escravidão sexual, além de destinarem todo o dinheiro que arrecadam para pagar a dívida contraída com os cafetões.

Para a Associação para a Prevenção e Reinserção da Mulher Prostituída (APRAMP) a situação das brasileiras inseridas neste mercado de exploração merece atenção. A instituição alerta que o Brasil é hoje o país com maior número de mulheres traficadas para fins sexuais da América do Sul. Dados da Pesquisa Nacional sobre o Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes (PESTRAF) contabilizam 110 rotas nacionais e 131 rotas internacionais, sendo 32 dessas para a Espanha.

O mais alarmante é que se detectou que vem aumentando a quantidade de brasileiras que entram nos países de língua latina da Europa para fins de exploração sexual. Dessas tantas, muitas estão sofrendo uma nova forma de exploração: a revenda. As mulheres permanecem um pequeno período, menos de 28 dias, em um estabelecimento de prostituição, em seguida são revendidas a outros estabelecimentos com a finalidade levar novas possibilidade de escolha dos clientes. Para a estudiosa do assunto Iana Matei, o aumento desse comércio de troca é consequência da relação de traficantes de entorpecentes com a exploração sexual, levando a este ramo a administração em rede e a renovação de mercadoria para lucrar mais.

Perfil

A Fundação francesa Scelles, que luta contra a exploração sexual, divulgou que há cerca de 42 milhões de pessoas em situação de prostituição no mundo; 75% dessas são mulheres com idade entre 13 e 25 anos.

O relatório da OIT sobre o assunto acrescenta que são de classes populares, apresentam baixa escolaridade, habitam em espaços urbanos periféricos com carência de saneamento, transporte (dentre outros bens sociais comunitários), moram com familiares, têm filhos e exercem atividades laborais com baixa remuneração. Muitas delas já foram submetidas a alguma forma de prostituição.

O mesmo relatório avalia que entre as causas do tráfico de pessoas para fins de exploração sexual estão: instabilidade política, econômica e civil em regiões de conflito, emigração não legalizada, violência doméstica, ausência de oportunidades de trabalho. Esta última é maior motivação por conta da vulne-rabilidade social e econômica em que essa situação insere as mulheres.

Toda essa relação de exploração reflete claramente que o tráfico de mulheres é uma das maiores expressões da ação da sociedade capitalista na vida das mulheres trabalhadoras, as quais, precisando sobreviver, submetem-se a condições de vida degradantes. Nos períodos de crise, como o que vivemos atualmente, isto tende a se agravar, como mostram os dados, já que a exploração da classe trabalhadora como um todo, aumenta. O capitalismo, todos sabemos, se fundamenta na realização de lucro para poucos à custa do trabalho de muitos e a qualquer preço.

A sociedade capitalista expõe o corpo das mulheres, utilizndo para vender os mais variados produtos e leva esta mercantilização até as últimas consequências, tornando as próprias mulheres mercadorias, as quais se vendem, se compram, se usam e se exploram da maneira mais cruel.

Esta dura realidade coloca a toda classe trabalhadora e em específico às mulheres a necessidade de lutar para colocar fim a esta exploração e opressão. Coloca a necessidade de organização para que tenha fim de uma vez por todas este sistema, que se utiliza do corpo, do sangue, do trabalho de uma enorme parcela da população para enriquecer uma minoria.

Ana Rosa, São Paulo

Chico Science e o Manguebeat: “Eu me organizando posso desorganizar”

Chico ScienceFrancisco de Assis França foi um músico pernambucano nascido na cidade de Olinda em 13 de março de 1966 e que morreu, precocemente, no Recife, no dia 2 de fevereiro de 1997. Seu legado, uma revolução musical: um movimento antropofágico em que o rock bebe em fontes do tropicalismo, do maracatu, do coco de roda, do hip-hop, além da black music e do funk. Somadas a isso, letras banhadas de críticas ao abandono econômico e social sofrido pela região de mangue, representada pela cidade do Recife. O nome desse movimento: manguebeat.

Chico Science foi um menino de periferia, criado no bairro de Rio Doce, em Olinda. Na década de 1970, era uma criança entre brincadeiras de rua, a escola pública, amigos, picolé, etc., etc. Seu contato, durante a adolescência, com o hip-hop e o funk influenciou-o e o fez organizar-se, em 1987, no Orla Orbe, banda de hip-hop, e, posteriormente, no Loustal, grupo de black music formado por Chico e seus amigos Lúcio Maia e Alexandre Dengue. Loustal era em homenagem ao quadrinista francês Jacques de Loustal.

Na década de 80 predominava na cidade o movimento armorial, o qual pregava uma arte brasileira erudita baseada na cultura popular sem interferência do global. O cenário cultural era um marasmo e o Recife havia sido considerado a quarta pior cidade do mundo para se viver. Então, contrapondo-se ao conceito de arte armorial, surgem músicos de periferia inconformados com essa visão simplista de nossa cultura. Nessa conjuntura surge uma arte descolada da realidade do povo, e, liderada por Science, é fundada a banda Nação Zumbi.

Por ter sido criado em periferia, certamente Chico estava ciente dos problemas enfrentados por essa parcela da sociedade tão marginalizada pelo poder público. O manguebeat de Chico Science e da Nação Zumbi, mais do que uma revolução musical em termos rítmicos mostrou-se importante instrumento de manifestação contra os problemas vivenciados por aqueles que vivem na periferia, destacando-se especialmente aqueles que povoavam os mangues.

Sua música faz menções, por exemplo, a Josué de Castro e à Teoria do Caos, quando canta “o sol queimou, queimou a lama do rio/ eu vi o xié, andando devagar/ vi um aratu pra lá e pra cá/ e um caranguejo, andando pro sul/ saiu do mangue e virou gabiru/ Oh, Josué, nunca vi tamanha desgraça/ quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça” e mostra uma dura crítica ao sistema que condiciona as pessoas a um círculo vicioso baseado em mais e mais miséria.

Segundo estudo divulgado pela revista Logos de número 26, o movimento de Chico Science vai dar palavra a uma camada da sociedade que até então não tinha encontrado um eco de maneira autônoma, e, como Palmares, quis acolher a pluralidade étnica que acolhe os excluídos do sistema colonial; daí a definição “quilombo cultural”. Assim, Chico Science e o manguebeat são reflexo de uma sociedade repleta de contradições, na qual o “de cima sobe e de baixo desce”, contradições contra as quais sua música é, sobretudo, um instrumento de luta.

Em 1997, em um acidente de carro entre Olinda e Recife, morre Chico Science, às vésperas de um show que a já consagrada Nação Zumbi faria no Carnaval do Recife. A morte do cantor e líder da banda deixou órfãos não só a Nação Zumbi, mas todo o manguebeat, que, apesar de já não contar com um dos seus principais idealizadores, permanece combatendo a divisão de classes, com relação à qual Chico deixa a dica: “Eu me organizando posso desorganizar”.

Lidiana Medeiros, Recife

Coco de roda: origem e resistência

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Coco de rodaDança tradicional do Nordeste, o coco de roda tem sua origem na união da cultura negra com os povos indígenas no Brasil. Apesar de frequente no litoral, acredita-se que o coco surgiu no interior, provavelmente nos quilombo, a partir do ritmo originado da quebra dos cocos para a retirada da amêndoa, com sua dança e tradição musical cantada, tornou-se um modo privilegiado de transmissão e manutenção do conhecimento e da tradição popular.

No entanto, devido à sua origem nas camadas oprimidas e marginalizadas da sociedade, o coco sempre sofreu a discriminação dos meios de comunicação das classes dominantes. Assim, a difusão e a manutenção do coco como expressão cultural deve-se unicamente à sua resistência.

É enfrentando essas dificuldades que os mestres coquistas passam grande parte de suas vidas sem apoio, apesar de sua arte possuir grande valor histórico, que persiste através dos tempos.

Jackson do Pandeiro, por exemplo, um dos artistas mais célebres do coco, que começou sua carreira acompanhando sua mãe nas rodas de cocos enquanto tocava zabumba, morreu pobre e até hoje seu talento é desprezado pela grande mídia, apesar de ser referência nacional para vários artistas que alcançaram o estrelato.

Por sua vez, as leis de incentivo à cultura nunca colocaram o coco como prioridade nas ações e projetos considerados de interesse público. Também a maioria dos grandes espetáculos promovidos com o dinheiro do povo não tem o coco como foco das ações. Mesmo assim, esses órgãos gastam altos cachês e investimentos na propaganda de uma “cultura de massa” voltada para o lucro.

Apesar desta realidade, são cada vez mais notáveis as iniciativas populares para promover a valorização do coco de roda e resgatar essa tradição popular. Com frequência, vemos aumentar a realização de Sambadas, numa ação que pretende levar à juventude a valorização das vivências culturais que fortalecem a identidade popular.

Projetos como “O Coco do Amaro Branco”, que envolve mestres e discípulos de um coco tradicional há mais de 100 anos em Olinda, agora tem tido o coco de roda levado adiante como a Sambada Divina, organizada no dia 24 de março pelo Coletivo Bacurau, e que levou aos jovens do Recife uma alternativa de qualidade e difusão de talentos da música popular como o Grupo Sagaranna – novo grupo de música popular a desabrochar na cena pernambucana – apresentando o trabalho do Mestre Zé de Vina e seus Mamulengos vindos de Lagoa de Itaenga-PE e o talento da Mestra Dona Cila do Coco – Olinda.

Fernanda Toscano, Recife

Novelas brasileiras passam imagem de país branco, critica escritora moçambicana

A escritora moçambicana Paulina Chiziane“Temos medo do Brasil.” Foi com um desabafo inesperado que a romancista moçambicana Paulina Chiziane chamou a atenção do público do seminário A Literatura Africana Contemporânea, que integra a programação da 1ª Bienal do Livro e da Leitura, em Brasília (DF). Ela se referia aos efeitos da presença, em Moçambique, de igrejas e templos brasileiros e de produtos culturais como as telenovelas que transmitem, na opinião dela, uma falsa imagem do país.

“Para nós, moçambicanos, a imagem do Brasil é a de um país branco ou, no máximo, mestiço. O único negro brasileiro bem-sucedido que reconhecemos como tal é o Pelé. Nas telenovelas, que são as responsáveis por definir a imagem que temos do Brasil, só vemos negros como carregadores ou como empregados domésticos. No topo [da representação social] estão os brancos. Esta é a imagem que o Brasil está vendendo ao mundo”, criticou a autora, destacando que essas representações contribuem para perpetuar as desigualdades raciais e sociais existentes em seu país.

“De tanto ver nas novelas o branco mandando e o negro varrendo e carregando, o moçambicano passa a ver tal situação como aparentemente normal”, sustenta Paulina, apontando para a mesma organização social em seu país.

A presença de igrejas brasileiras em território moçambicano também tem impactos negativos na cultura do país, na avaliação da escritora. “Quando uma ou várias igrejas chegam e nos dizem que nossa maneira de crer não é correta, que a melhor crença é a que elas trazem, isso significa destruir uma identidade cultural. Não há o respeito às crenças locais. Na cultura africana, um curandeiro é não apenas o médico tradicional, mas também o detentor de parte da história e da cultura popular”, detacou Paulina, criticando os governos dos dois países que permitem a intervenção dessas instituições.

Primeira mulher a publicar um livro em Moçambique, Paulina procura fugir de estereótipos em sua obra, principalmente, os que limitam a mulher ao papel de dependente, incapaz de pensar por si só, condicionada a apenas servir.

“Gosto muito dos poetas de meu país, mas nunca encontrei na literatura que os homens escrevem o perfil de uma mulher inteira. É sempre a boca, as pernas, um único aspecto. Nunca a sabedoria infinita que provém das mulheres”, disse Paulina, lembrando que, até a colonização europeia, cabia às mulheres desempenhar a função narrativa e de transmitir o conhecimento.

“Antes do colonialismo, a arte e a literatura eram femininas. Cabia às mulheres contar as histórias e, assim, socializar as crianças. Com o sistema colonial e o emprego do sistema de educação imperial, os homens passam a aprender a escrever e a contar as histórias. Por isso mesmo, ainda hoje, em Moçambique, há poucas mulheres escritoras”, disse Paulina.

“Mesmo independentes [a partir de 1975], passamos a escrever a partir da educação europeia que havíamos recebido, levando os estereótipos e preconceitos que nos foram transmitidos. A sabedoria africana propriamente dita, a que é conhecida pelas mulheres, continua excluída. Isso para não dizer que mais da metade da população moçambicana não fala português e poucos são os autores que escrevem em outras línguas moçambicanas”, disse Paulina.

Durante a bienal, foi relançado o livro Niketche, uma história de poligamia, de autoria da escritora moçambicana.

Alex Rodrigues
Fonte: Agência Brasil

Fantasma da troika ameaça Espanha

Fantasma da troika ameaça EspanhaA Espanha está oficialmente em recessão, segundo os responsáveis do país e, de acordo com pareceres cada vez mais comuns em Bruxelas, vai ter que recorrer a qualquer forma de “ajuda” externa, a exemplo da Grécia, Portugal e Irlanda.

Segundo o ministro da Economia, o crescimento deverá ser negativo de 0,3 por cento no primeiro trimestre deste ano, uma situação que já vem ocorrendo desde o terceiro trimestre de 2011, o que corresponde ao reconhecimento do estado de recessão.

Com a economia a afundar-se rapidamente em função das fortíssimas medidas de austeridade, o desemprego a galopar, prevendo-se que atinja os 25 por cento ainda antes do fim do ano e os 50 por cento entre os jovens, com os juros da dívida a subir e a especulação a crescer nos mercados, a Espanha está em situação semelhante à dos países que foram colocados sob a tutela da troika. Os juros da dívida a dez anos voltaram a ultrapassar os seis por cento e os Credit Defaul Swap (CDS) da dívida espanhola batem recordes sucessivos, sinal de grande atividade especulativa.

Se não houver intervenção do BCE (Banco Central Europeu) será impossível a Espanha gerir a situação sem recorrer às “ajudas” externas, afirma-se em Bruxelas. O BCE declara-se, por seu lado, à margem de qualquer intervenção. Segundo Jorg Asmussen, diretor do banco, como “o pior da crise do euro ficou para trás cabe agora aos governos atuar para resolverem os seus problemas de endividamento”.

Fonte: BE Internacional

Argentina expropria YPF, multinacional espanhola de petróleo

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Argentina expropria YPF, multinacional espanhola de petróleoUma das principais disputas políticas – e também ideológicas – que vem sendo travada nos últimos anos diz respeito ao controle nacional dos recursos naturais dos países. De um lado, o imperialismo, que faz de tudo para controlar essas riquezas – inclusive guerras -, e do outro, os povos e governos progressistas, que lutam para manter ou retomar recursos fundamentais para seu desenvolvimento soberano.

Essa semana mais um capítulo dessa luta foi escrito. Em ato histórico, a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, enviou no dia 16 de abril proposta ao Congresso Nacional do país declarando de interesse público a exploração de petróleo e seus derivados. Na prática, o projeto expropria as ações da empresa YPF, antiga estatal privatizada na década de 1990 e que hoje é de propriedade da multinacional espanhola Repsol. Pela proposta, 51% das ações da empresa petrolífera serão retomadas, ficando o governo federal com 26,06% e as regiões produtoras com 24,99%, enquanto os restantes 49% serão de responsabilidade das províncias (estados), nos quais a empresa atua. A YPF é a líder no mercado de combustíveis na Argentina, controlando 52% da capacid ade de refinamento do país e dispondo de uma rede de 1.600 postos.

Segundo Kirchner, o objetivo da medida é alcançar a autossuficiência do país em petróleo. “A Argentina é o único país na América Latina que não maneja seus recursos naturais”, disse a presidenta argentina, que afirmou estar seguindo o exemplo de outros países têm o controle da maioria dos recursos de hidrocarbonetos, como a Arábia Saudita, o Irã, a China, Venezuela, o México, Chile, Uruguai, a Nigéria, os Emirados Árabes Unidos, o Iraque, Kuwait e a Noruega.

Outro motivo para a decisão foi o fato de que a Repsol não cumpriu compromissos de investimento firmados com o governo, o que obrigou o país a importar grandes volumes de hidrocarbonetos nos últimos anos. “Depois de dezessete anos, pela primeira vez em 2010, tivemos que importar gás e petróleo. Também tivemos redução no saldo comercial devido à queda nas exportações do setor, que entre 2006 e 2011 foi de 150%”, afirmou Cristina.

A decisão argentina de expropriar a petrolífera gerou reações dos governantes espanhóis e de grande parte dos economistas burgueses, todos ainda defensores do receituário neoliberal que levou o mundo à atual crise econômica.

Segundo Antônio Brufau, presidente da Repsol, a expropriação de sua empresa foi a maneira encontrada pelo governo argentino de “tapar a crise social e econômica que o país enfrenta”.

Digamos que isso seja verdade. Sendo assim, o governo argentino nada mais fez do que seguir o mesmo caminho adotado pelos países imperialistas quando do estouro da crise econômica mundial, ou seja, nacionalizar os setores mais importantes da economia.

Esse tipo de medida devia servir de exemplo para todos os países da região, que tiveram suas riquezas entregues nas mãos de grandes monopólios durante as privatizações da década de 1990, inclusive, e principalmente, no Brasil. De fato, não tem sentido que empresas como a Petrobras, a Vale do Rio Doce, CSN e setores como os das telecomunicações e energia continuem sendo propriedade privada, enquanto o país e o povo necessitam mais do que nunca de soberania e independência para se desenvolverem e superarem séculos de atraso e exploração. A Argentina percebeu isso.

Heron Barroso

Indústrias do petróleo e da guerra tomam o Ártico aproveitando o aquecimento global

Indústrias do petróleo e da guerra tomam o Ártico aproveitando o aquecimento globalPaíses europeus e americanos com territórios na zona Ártica estão a multiplicar exercícios militares conjuntos antecipando os efeitos das transformações provocadas pelas alterações climáticas e preparando a proteção para as novas rotas navais que serão abertas até 2030 e rentabilizarão a exploração de petróleo e gás natural já em curso.

Segundo os dados da US Geological Survey, cerca de 13 por cento das reservas de petróleo e 30 por cento das reservas de gás natural ainda desconhecidas no mundo estarão na zona Ártica, até agora difíceis de pesquisar e explorar devido às condições naturais.

O aquecimento global abre uma “janela de oportunidade”, segundo militares e técnicos da indústria petrolífera norte-americana citados pelas agências internacionais, porque vai tornar mais benignas as condições de investigação e trabalho e permitirá abrir rotas regulares à navegação.

A Noruega acolheu em março os exercícios militares “Resposta Fria” que envolveram mais de 16 mil operacionais de 14 países e respectivo equipamento terrestre, naval e aéreo numa ação de “elevada intensidade”. Tratou-se, segundo os organizadores, de fazer face a “ameaças terroristas”.

Dois meses antes a Dinamarca, os Estados Unidos e o Canadá tinham feito exercícios conjuntos e debatido com altos comandos dos países de toda a zona Ártica, incluindo a Rússia, as questões de segurança na região. A reunião decorreu numa base militar canadense.

A abertura de rotas do petróleo, agora em direção ao Norte profundo, beneficiando das novas condições de acesso proporcionadas pelo degelo contínuo decorrente do aquecimento global ajuda a explicar, segundo analistas citados pelas agências internacionais, muita da falta de empenho das grandes potências no combate às alterações climáticas e os sucessivos fracassos das cimeiras da ONU. Para a indústria petrolífera e a indústria militar que a sustenta, o aquecimento global é uma questão irreversível. E as atividades industriais e militares em zonas sensíveis aceleram-no.

Fonte: BE Internacional

A importância da luta armada na história do Brasil

Carlos Lamarca treinando Iara IavelbergDurante a elaboração do Terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, os movimentos sociais propuseram e aprovaram a criação da Comissão de Verdade e Justiça, para investigar e julgar os crimes cometidos pela Ditadura Militar no Brasil. Hoje, finalmente está sendo formada essa comissão, agora apenas Comissão da Verdade, pois o povo brasileiro ainda terá que lutar mais tempo para conquistar a justiça.

Muitos são os ataques feitos a essa comissão. São ataques que vem de lugares certos: dos setores atrasados da igreja que apoiaram a ditadura, dos latifundiários, empresários e banqueiros que financiaram e enriqueceram com a ditadura, e é claro dos próprios militares que temem que a terrível verdade venha à tona. Uma das ‘justificativas’ dos implacáveis ocultadores da verdade é a de que foram cometidos crimes não só pelos militares, mas também pelos brasileiros que lutaram pela reposição do presidente eleito democraticamente, pelo fim da ditadura e redemocratização do país, e por um país mais justo e igualitário, diferente do Brasil de hoje, o país mais desigual da América Latina.

Esses combatentes, heróis nacionais, sofreram torturas, foram separados de seus filhos, viram seus entes mais queridos serem estuprados e assassinados na sua frente, tiveram os seios arrancados, foram seviciados com cassetetes, foram para o pau de arara, foram assassinados, jogados em valas comuns ou no mar, sem direito a qualquer tipo de julgamento. Suas famílias até hoje procuram seus corpos e a verdade a respeito de seu ‘desaparecimento’. Esses heróis são chamados pela corja da mentira de ‘terroristas’, maneira pela qual parece ter se encantado a burguesia em chamar os revolucionários em todo mundo, como o Che Guevara e as Farc na Colômbia.

Muitas vezes, mais que caluniar os revolucionários através da mídia, a direita tenta de fato transformar movimentos armados em terroristas, corrompendo elementos e manipulando as informações. É o que aconteceu com os Panteras Negras, movimento armado em defesa dos negros nos EUA nos anos 60, que foi difamado pelo governo que infiltrou drogas e traficantes nas comunidades negras.

É por isso que antes de aceitarmos que os jovens que lutaram contra a Ditadura Militar no país, ditadura que censurou a imprensa e a educação, que mais que duplicou nossa dívida externa e nossa dependência dos EUA, que impôs o medo a vários brasileiros, que impedia a livre expressão e atuação política, que freou os avanços sociais do Governo Jango e acabou com as Reformas de Base fortalecendo a desigualdade social no Brasil, antes de aceitarmos que eles sejam chamados de terroristas é importante lembrarmos o papel da luta armada em toda a história do Brasil.

A História do Brasil é a história da resistência do povo brasileiro. Na época da Colônia foram as revoltas dos índios contra a exploração portuguesa e até de outros países da Europa que vigoraram. Como a Confederação dos Tamoios (1555-1567), a Guerra dos Aimorés na Bahia (1555-1673) e a Guerra dos Potiguares na Paraíba e no Rio Grande do Norte (1586-1599). Depois começaram as resistências às entradas e bandeiras, expedições bandeirantes e bugreiras de exploração e captura de indígenas no interior do Brasil que duraram até o séc. XVII.

É quando, por não conseguir dominar a maioria dos índios e adequá-los à escravidão, os portugueses trazem mais escravos da África e mesmo com todo o esforço para impedir a organização dos negros que eram separados de seus familiares e tribos para não poderem se comunicar, quase imediatamente começam a existir os Quilombos e finalmente acontece a Guerra dos Palmares. Os quilombos foram formados no Brasil até o século XVIII e ainda hoje existem diversas comunidades negras e quilombolas no país que sofrem nas mãos das armas policiais.

Durante quatro anos, de 1617 a 1621 ocorreu o Levante dos Tupinambás, numa brava resitência aos portugueses que abrangeu o estado do Espirito Santo e a Bahia e na mesma época a primeira Insurreição Pernambucana, a Guerra da Luz Divina. Em São Paulo teve a Revolta de Amador Bueno, insurreição popular de 1641. Em 1666 o Motim do Nosso Pai em Pernambuco e a Revolução de Beckman ou revolta de comerciantes no Maranhão de 1684 a 1685. E continuam as revoltas indígenas com a Confederação dos Cariris na Paraíba e no Ceará (1686-1692) e com a Guerrilha dos Muras já no século XVIII. Houve também a Guerra dos Emboabas entre bandeirantes e mineiros, em São Paulo e Minas Gerais no início de 1700.

E aí se iniciam as Revoltas contra as altas taxas e impostos como a Revolta do Sal em Santos (1710), a Guerra dos Mascates entre comerciantes e canavieiros em Pernambuco (1710-1711), os Motins do Maneta, sublevações ocorridas em Salvador contra o monopólio do sal e aumento de impostos (1711) e a Revolta de Felipe dos Santos, revolta de mineradores contra a política fiscal em Minas Gerais (1720).

E é claro, com a ampliação do controle português sobre o território brasileiro continuam as resistências indígenas desta vez no Amazonas, a Guerra dos Manaus (1723-1728) e a Resistência Guaicuru no Mato Grosso do Sul (1725-1744). E até os jesuítas se unem aos índios catequizados em luta contra Portugal e Espanha na Guerra Guaranítica no Sul (1751-1757).

Até que chegamos as Revoltas pela Independência do Brasil, a famosa Inconfidência Mineira republicana (1789), a Conjuração Carioca (1794-1795) e a Conjuração Baiana ou Revolução dos Alfaiates (1798), revolta independentista e abolicionista, a única das três que não foi abortada. E já no século XIX a Conspiração dos Suassunas em Pernambuco (1801) onde também houve a Revolução Pernambucana em 1817, a Revolução Liberal de 1821 na Bahia e no Pará, a Independência da Bahia (1821-1823) e finalmente a Guerra da independência do Brasil contra militares legalistas portugueses, que abrangeu Bahia, Piauí, Maranhão, Pará e Uruguai (1822-1823).

Após tantas revoltas, nosso Brasil ganha o título de Império e com ele mais revoltas, a Confederação do Equador, revolta separatista no Nordeste (1823-1824), a Revolta dos Mercenários contra o Império do Brasil no Rio de Janeiro (1828), onde também ocorreu a Noite das Garrafadas, insurreição popular e confronto entre brasileiros e portugueses em abril de 1831 e a famosa Cabanada, insurreição popular em Pernambuco e Alagoas (1832-1835).

Aí volta, cada vez mais forte o desejo pela república, como na Federação do Guanais na Bahia (1832) e a Rusga que foi uma revolta entre conservadores (que queriam manter o império) e republicanos no Mato Grosso (1834). Teve a também famosa Cabanagem, insurreição popular no Pará (1834-1840), a Revolta dos Malês na Bahia (1835), a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul (1835-1845), a Sabinada, insurreição popular na Bahia (1837-1838), a Balaiada, insurreição popular no Maranhão (1838-1841) e as Revoltas Liberais de São Paulo e Minas Gerais (1842) e Revolta dos Lisos em Alagoas (1844).

Em Pernambuco teve o Motim do Fecha-Fecha (1844), o Motim do Mata-Mata (1847-1848) e a Insurreição Praieira, revolta socialista de 1848 a 1850. A Revolta do Ronco de Abelha no Nordeste (1851-1854), o Levante dos Marimbondos em Pernambuco (1852), a Revolta da Fazenda Ibicaba em São Paulo (1857), o Motim da Carne sem Osso, insurreição popular na Bahia (1858), a Revolta dos Muckers, insurreição popular-messiânica no Rio Grande do Sul (1868-1874), a Revolta do Quebra-Quilos, insurreição popular no Nordeste (1874-1875), a Guerra das Mulheres, uma insurreição popular no Nordeste (1875-1876) que mostra que as mulheres nunca foram passíveis na história, a Revolta do Vintém, insurreição popular no Rio de Janeiro (1880) e Curitiba (1883) e finalmente a Proclamação da República em 1889.

Na verdade, quando os poderosos no Brasil veem que não vão conseguir parar as revoltas populares, eles vão e fazem as mudanças por eles mesmos para dar algumas concessões ao povo sem perder o poder, mas com isso as revoltas não param, pois o povo quer uma mudança real que beneficie a todos e transforme a sociedade. E na República teve a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul (1893-1894), a República de Cunani, insurreição popular-separatista no Amapá (1895-1900) e a famosa Guerra de Canudos, insurreição popular-messiânica na Bahia (1896-1897).
Já no século XX, teve a Revolução Acreana, insurreição popular-separatista no Acre (1900-1903), a Revolta da Vacina, insurreição popular no Rio de Janeiro (1903), a Revolta da Chibata no Rio de Janeiro (1910), a Guerra do Contestado, insurreição popular-messiânica em Santa Catarina e Paraná (1912-1916), a Sedição de Juazeiro, insurreição política no Ceará (1914), a Revolta dos 18 do Forte no Rio de Janeiro (1922) e finalmente a Coluna Prestes, insurreição militar de fama internacional (1923-1925) que aderiu a Revolta Paulista de 1924.

Por conta destes movimentos (o último deles com forte influência socialista), o Governo pensou: “Façamos a Revolução antes que o povo a faça.” E aí veio a Revolução de 1930, golpe de Estado civil-militar e a Revolução Constitucionalista de 1932, revolta político-militar e guerra civil em São Paulo e finalmente a Intentona Comunista, insurreição comunista no Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Norte (1935) e a Intentona Integralista, insurreição integralista no Rio de Janeiro (1938). Até na Segunda Guerra Mundial teve mais de 23.000 soldados brasileiros lutando para derrotar o nazismo.

E aí vem em 1964 o Golpe Militar fascista, patrocinado pelos poderosos e pelos EUA, para deter os avanços que o povo vinha conseguindo depois de tanto sangue derramado para cada vitória do povo. E como nunca faltou à luta contra as injustiças, filhos do povo brasileiro novamente se armaram na cidade e no campo contra este novo inimigo do avanço da luta popular, o Governo Ditatorial. A Luta armada, as guerrilhas urbanas e rurais de 1965 a 1972, como a Guerrilha do Araguaia, foram terrivelmente reprimidas pelo Regime militar com requintes de crueldade e desumanidade, e por isso os melhores filhos do povo foram barbaramente torturados e assassinados. Mas a luta não parou e por isso hoje, temos nossa “liberdade democrática” que garante por exemplo, a publicação do Jornal A Verdade e a existência do PCR, e é também por fruto desta luta armada e de outras lutas que vieram depois, que este ano poderemos ir as urnas e eleger nossos representantes, direito que não tínhamos na ditadura militar.

É claro que ainda há muito pelo que lutar, e até hoje, filhos do povo são assassinados pela polícia fascista na luta por moradia e terra no país. Mas a luta não vai parar. A polícia pode nos chamar de terroristas, mas somos o povo brasileiro e lutaremos, se for preciso com armas na mão, até que toda desigualdade e exploração seja banida, lutaremos até a construção da sociedade socialista.

Luanna Grammont de Cristo, Belo Horizonte