UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 28 de novembro de 2024
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Beth Carvalho: “A CIA quer acabar com o samba”

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Cantora lança CD e, em entrevista ao iG, acusa a Agência Central de Inteligência dos EUA.

Ao abrir o elevador, ainda no hall de entrada do apartamento, um quadro com a foto de Che Guevara. Não há dúvidas. Ali é o andar de Beth Carvalho. Ela surge na sala, amparada por duas muletas, que logo deixa de lado para posar para as fotos. “Nunca vi coisa para cair mais do que muletas. Estas meninas caem toda hora”, diz, bem-humorada.

Ainda se recuperando de uma fissura no sacro (osso do final da coluna), aos 65 anos, Beth anda com dificuldades. Ficou dois anos sem pôr os pés no chão. “Estou ótima, salva! Os médicos comentaram com minha filha que eu poderia não andar mais. Mas não me abati. Foi um processo menos doloroso por perceber a prova de amor dos amigos e da família”, relata.

Após quinze anos, a sambista lança o CD de inéditas “Nosso samba tá na rua”, dedicado a dona Ivone Lara, com canções sobre a negritude, o amor e o feminismo. Uma das letras, “Arrasta a sandália”, é de autoria de sua filha, Luana Carvalho. Cercada de quadros de Cartola e Nelson Cavaquinho, entre almofadas verdes e rosas (cores de sua escola de samba Mangueira), perante uma estante com dezenas de troféus e outra com bonecos de Che, Fidel Castro e orixás, Beth concede a entrevista a seguir ao iG.

No fundo da janela, o mar de São Conrado, bairro vizinho à favela da Rocinha. “A CIA quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura”, diz a cantora, presidente de honra do PDT. Entre os fartos risos, também não faltaram palavras ríspidas para defender seu ponto de vista.

iG: Qual foi a sensação ao voltar a andar?

BETH CARVALHO: A pior da minha vida. Quando pus os pés pela primeira vez no chão, achei que nunca ia andar de novo. Parecia que não tinha mais pernas, sem força muscular. Depois, com a fisioterapia, a recuperação foi rápida. Precisei colocar dois parafusos de 15 cm cada um, só isso me fez voltar a andar. Agora sou interplanetária e biônica (risos).

iG: Em seu novo CD, a letra “Chega” é visivelmente feminista. Por que é raro o samba dar voz a mulheres?

BETH CARVALHO: O mundo, não só o samba, é machista. Melhorou bastante devido à luta das mulheres, mas a cada cinco minutos uma mulher apanha no Brasil. É um absurdo. Parece que está tudo bem, mas não é bem assim. Sempre fui ligada a movimentos libertários.

iG: De que forma o samba é machista?

BETH CARVALHO: A maioria dos sambistas é homem. Depois de mim, Clara Nunes e Alcione, as coisas melhoraram. O samba é machista, mas o papel da mulher é forte. O samba é matriarcal, na medida que dona Vicentina, dona Neuma, dona Zica comandam os bastidores da história. Eu, por exemplo, sou madrinha de muitos homens (risos).

“Não desanimo nunca. Minha esperança é a última que morre”

iG: A senhora é vizinha da favela da Rocinha. Como vê o processo de pacificação?

BETH CARVALHO: Faltou, por muitos anos, a força do estado nestas comunidades. Agora estão fazendo isso de maneira brutal e, de certa forma, necessária. Mas se não tiver o lado social junto, dando a posse de terreno para quem mora lá há tanto tempo, as pessoas vão continuar inseguras. E os morros virarão uma especulação imobiliária.

iG: Alguns culpam o governo Leonel Brizola (1983-1987/1991-1994) pelo fortalecimento do tráfico nos morros. A senhora, que era amiga do ex-governador, concorda?

BETH CARVALHO: Isso é muito injusto. É absurdo (diz em tom áspero). Se tivessem respeitado os Cieps, a atual geração não seria de viciados em crack, mas de pessoas bem informadas. Brizola discutia por que não metem o pé na porta nos condomínios da Avenida Viera Souto (em Ipanema) como metem nos barracos. Ele não podia fazer milagre.

iG: Defende a permanência de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho?

BETH CARVALHO: Olha, sou presidente de honra do PDT porque é um título carinhoso que Brizola me deu, mas não sou filiada ao PDT. Não tenho uma opinião formada sobre isso, porque não sei detalhes. Existe uma grande rigidez a partidos de esquerda. Fizeram isso com o PC do B do Orlando Silva, e agora fazem com o PDT. O que conheço do Lupi é uma pessoa muito correta. Eles deveriam ser menos perseguidos pela mídia.

iG: Aqui na sua casa há várias imagens de Che Guevara e de Fidel Castro. Acredita no modelo socialista?

BETH CARVALHO: Eu só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade. Não tem outro (fala de forma enfática). Cuba diz ‘me deixem em paz’. Os Estados Unidos, com o bloqueio econômico, fazem sacanagem com um país pobre que só tem cana de açúcar e tabaco.

iG: Mas e a falta de liberdade de expressão em Cuba?

BETH CARVALHO: Eu não me sinto com liberdade de expressão no Brasil.

iG: Por quê?

BETH CARVALHO: Porque existe uma ditadura civil no Brasil. Você não pode falar mal de muita coisa.

iG: Como quais?

BETH CARVALHO: Não falo. Tem uma mídia aí que acaba com você. Existe uma censura. Não tem quase nenhum programa de TV ao vivo que nos permita ir lá falar o que pensamos. São todos gravados. Você não sabe que vai sair o que você falou, tudo tem edição. A censura está no ar.

iG: Mas em países como Cuba a censura é institucionalizada, não?

BETH CARVALHO: Não existe isso que você está falando, para começo de conversa. Cuba não precisa ter mais que um partido. É um partido contra todo o imperialismo dos Estados Unidos. Aqui a gente está acostumada a ter vários partidos e acha que isso é democracia.

“Só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade”

iG: Este não seria um pensamento ultrapassado?

BETH CARVALHO: Meu Deus do céu! Estados Unidos têm ódio mortal da derrota para oito homens, incluindo Fidel e Che, que expulsaram os americanos usando apenas o idealismo cubano. Os americanos dormem e acordam pensando o dia inteiro em como acabar com Cuba. É muito difícil ter outro Fidel, outro Brizola, outro Lula. A cada cem anos você tem um Pixinguinha, um Cartola, um Vinicius de Moraes… A mesma coisa na liderança política. Não é questão de ditadura, é dificuldade de encontrar outro melhor para ocupar o cargo. É difícil encontrar outro Hugo Chávez.

iG: Chávez é acusado por muitos de ter acabado com a democracia na Venezuela.

BETH CARVALHO: Acabou com o quê? Com o quê? (indaga com voz alta)

iG: Com a democracia…

BETH CARVALHO: Chávez é um grande líder, é uma maravilha aquele homem. Ele acabou com a exploração dos Estados Unidos. Onde tem petróleo estão os Estados Unidos. Chávez acabou com o analfabetismo na Venezuela, que é o foco dos Estados Unidos porque surgiu um líder eleito pelo povo. Houve uma tentativa de golpe dos americanos apoiada por uma rede de TV.

iG: A emissora que fazia oposição ao governo e que foi tirada do ar por Chávez…

BETH CARVALHO: Não tirou do ar (fala em tom áspero). Não deu mais a concessão. É diferente. Aqui no Brasil o governo pode fazer a mesma coisa, televisão aberta é concessão pública. Por que vou dar concessão a quem deu um golpe sujo em mim? Tem todo direito de não dar.

iG: A senhora defende que o governo brasileiro deveria cassar TV que faz oposição?

BETH CARVALHO: Acho que se estiver devendo, deve cassar sim. Tem que ser o bonzinho eternamente? Isso não é liberdade de expressão, é falta de respeito com o presidente da República. Quem cassava direitos era a ditadura militar, é de direito não dar concessão. Isso eu apoio.

 Che e Fidel enfeitam a estante de Beth Carvalho

iG: Por ser oriundo dos morros, o samba foi conivente com o poder paralelo dos traficantes?

BETH CARVALHO: Não, o samba teve prejuízo enorme. Hoje dificilmente se consegue senhoras para a ala das baianas nas escolas de samba. Elas estão nas igrejas evangélicas, proibidas de sambar. Não se vê mais garoto com tamborim na mão, vê com fuzil. O samba perdeu espaço para o funk.

iG: Quem é o culpado?

BETH CARVALHO: Isso tem tudo a ver com a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), que quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura. Estas armas dos morros vêm de onde? Vem tudo de fora. Os Estados Unidos colocam armas aqui dentro para acabar com a cultura dos morros, nos fazendo achar que é paranoia da esquerda. Mas não é, não.

iG: O samba vai resistir a esta “guerra” que a senhora diz existir?

BETH CARVALHO: Samba é resistência. Meu disco é uma resistência, não deixa de ser uma passeata: “Nosso samba tá na rua”.

Fonte: iG
Fotos: George Magaraia

Sócrates: “Poucos se preocupam com o bem estar coletivo”

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No domingo, 4 de dezembro de 2011, faleceu Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o Dr. Sócrates. Notabilizado pelo excelente domínio de bola e pelo calcanhar mortal para zagueiros despercebidos, quase sempre deixava os companheiros de ataque de frente para o goleiro.

Mais. Notabilizou-se como homem de opinião e personalidade fortes. Foi craque nos gramados em um tempo em que os brasileiros não podiam votar no presidente da república e toda e qualquer opinião dissidente do regime era punida com seqüestro, tortura, sevícias e morte. E nestes mesmos tempos, foi à principal liderança de um time que ficou conhecido como “A Democracia Corintiana”. Nesta democracia, desde o roupeiro até os dirigentes do clube decidiam tudo através do voto e da discussão coletiva, inclusive o treinador, e tinham como palavra de ordem “ganhar ou perder, mas com democracia!”. Era o exemplo que aqueles homens queriam dar para toda a sociedade.

E quando o Corinthians discutia o seu passe com a Fiorentina (Itália), num comício pelas diretas, prometeu: “Se a emenda Dante de Oliveira (previa eleições diretas para presidente) passar na Câmara e no Senado, eu não saio do meu país!”. Infelizmente não passou naquele momento e Sócrates fez uma rápida incursão pelo exterior, sendo ídolo também daquela torcida. Depois voltou, ainda jogou pelo Flamengo, Santos e terminou sua carreira onde tudo começou: Botafogo de Ribeirão Preto.

Aposentado, Sócrates escreveu peças teatrais, crônicas desportivas e artigos sobre os mais variados assuntos. Em várias entrevistas, demonstrou a sua admiração por Cuba, chegando inclusive a colocar o nome de Fidel em seu último filho. Considerava Cuba como exemplo de democracia e se declarava um “Socialista no sentido pleno da palavra”. Numa entrevista histórica que concedeu a revista Caros Amigos, defendeu a revolução como saída para o capitalismo que “só explora a capacidade de consumo da nação” e “está pouco se lixando para se o povo passa fome ou está se matando”.

Vinha se dedicando ultimamente, a denunciar em sua coluna semanal em Carta Capital, os mandos e desmandos da CBF e das multinacionais que comandam a FIFA, com a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Em seu último artigo denuncia os impactos ambientais que a Copa trará e os poucos retornos sociais advindos dela. Também em sua última entrevista impressa, para o Jornal do Diretório Central dos Estudantes da UFRPE (que segue na íntegra) disse que a Copa de 2014 “passa ao largo da cidadania”.

Assim era o Dr. Sócrates, craque, inteligente, firme em seus princípios e profundamente humano. Lhe cabia melhor o nome de Sócrates Democrático Socialista Brasileiro.

(Yuri Pires Rodrigues é 1° Vice-presidente da União Nacional dos Estudantes e membro da coordenação da UJR)

 

 

Entrevista concedida por Sócrates ao jornal do DCE da Universidade Federal Rural de Pernambuco em 16 de novembro de 2011.

 

Na sua opinião, porque há tanto investimento para a construção de estádios para a Copa 2014, e quase nenhum para o desporto amador no Brasil?

Sócrates – Construir é onde se pode manipular mais recursos. Por isso se levantam tantos equipamentos esportivos. Investir em educação ninguém quer.

Recentemente o Deputado Federal Romário fez um discurso denunciando a questão das desapropriações de famílias pobres para a construção das obras da copa. Qual sua opinião sobre o tema?

Sócrates – Tudo o que está sendo e será feito passa ao largo da cidadania.

Talvez a experiência mais coletiva do futebol brasileiro tenha sido a democracia Corinthiana. O futebol é um esporte coletivo. Porque hoje vivemos um individualismo cada vez maior no futebol, chegando às vezes ao cúmulo de se criarem panelinhas para queimar tal ou qual jogador?

Sócrates – O individualismo está presente em toda a nossa sociedade. Poucos se preocupam com o bem estar coletivo e isso só favorece a manutenção do atual status social.

Sobre a meia entrada nos jogos da Copa do Mundo 2014, a FIFA é contra, mas nos estados onde se realizarão os jogos, existem leis que obrigam os empresários do setor a conceder meia entrada para estudantes. Qual a sua opinião?

Sócrates – Quando assumimos a realização da Copa também assinamos uma série de quesitos que provavelmente não foram lidos. Uma das questões é essa e agora deve ser resolvida sem que percamos nossa autonomia. Não deveríamos estar discutindo isso, mas também sendo um evento privado não deveria utilizar recursos públicos ao contrário do que está acontecendo. Está tudo errado assim como os mais lúcidos esperavam. Só não sabia quem não queria ver o que ocorreria.

Yuri  Pires Rodrigues

Mumia Abu-Jamal não será mais executado

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Dia de comemoração popular nos EUA. Judith Ritter, advogada de Mumia Abu-Jamal, comunicou hoje que ele não será mais executado, como dizia sua condenação, 30 anos atrás.

A advogada do jornalista norte-americano preso nos EUA, disse em comunicado hoje que Mumia não será mais executado, apesar da sua condenação não ter sido revogada. Pelas leis da Pensilvânia, sua condenação será revertida a prisão perpétua.

O Supremo Tribunal dos EUA recusou, em outubro, o pedido dos procuradores da Filadélfia que pretendiam continuar com o processo de execução. Estes acabaram por anunciar que não vão mais recorrer.

Mumia está preso a 30 anos pela acusação de ter assassinato de um policial branco. Num processo cheio de falhas e num julgamento parcial e controlado pelas elites dos EUA, foi condenado pelo júri. Contudo, a própria reversão de sua condenação é o reconhecimento de que o júri foi manipulado e recebeu instruções erradas, em 1982. O processo continua sendo reexaminado.

Mumia era e ainda é um dos principais líderes dos Panteras Negras.

Marighella é anistiado e homenageado no seu 100° aniversário de vida

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No dia em que completaria 100 anos de vida, Carlos Marighella recebeu a anistia “post mortem” e o pedido formal de desculpas do Estado brasileiro pela perseguição política que sofreu ao longo de toda a vida, além da tentativa incessante do governo ditatorial em destruir a imagem desse combatente comunista.

Apresentado no dia 5 de dezembro em Salvador, pela Comissão da Anistia, o pedido de desculpas a Marighella compôs a sessão 53 da Caravana da Anistia, projeto do Ministério da Justiça cujo objetivo é reparar os crimes cometidos pelo último regime militar, entre os anos 1964 e 1985.

Na solenidade exaltou-se o ex-líder da Ação Libertadora Nacional (ALN) como herói do povo brasileiro, retratando-se assim, a forma desqualificadora com que a ditadura militar tratava Marighella. O governo ditatorial chegou a considerá-lo um facínora, um terrorista, um inimigo da pátria. O pedido de desculpas ressaltou, ainda, a responsabilidade dos órgãos de repressão por seu assassinato em uma emboscada no ano de 1969.

A anistia foi recebida pelo filho de Marighella, Carlos Augusto Marighella, e pela viúva, Clara Charf. Os dois se emocionaram muito durante a homenagem feita a Carlos Marighella. O ato mostrou o grande reconhecimento que tem a luta deste grande revolucionário, que defendia não apenas a superação da ditadura, mas também a emancipação da classe trabalhadora.

Ana Rosa Carrara, São Paulo

Professores do RS em greve contra o ensino politécnico e pelo piso salarial

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O governo do Rio Grande do Sul apresentou por decreto uma proposta pedagógica de reestruturação do ensino médio nas escolas públicas que visa implantar o ensino politécnico. Esse ato foi o estopim que fez com que a categoria dos professores do estado decretasse greve geral por tempo indeterminado em assembleia geral no dia 18 de novembro no ginásio Gigantinho em Porto Alegre.

Segundo Luís Veronezi, representante da Direção Central do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul (CPERS), em entrevista ao jornal A Verdade declarou que  “Tudo está sendo feito por decreto e sem discussão com a comunidade escolar, isso impossibilita um processo democrático de construção e alteração da proposta do governo. O termo politécnico, por exemplo, é um termo marxista, mas o projeto do governo de marxista não tem nada, apenas visa formar mão de obra barata para as empresas da região, além de dificultar o acesso dos estudantes da escola pública à universidade, visto que diminuirá a carga horária de disciplinas como matemática, português, geografia, história e outras para garantir disciplinas de orientação tecnicista”.

A greve dos professores foi aprovada colocando três bandeiras: contra a reestruturação apresentada pelo governo do ensino médio; contra a avaliação dos professores, também apresentada pelo governo e pelo pagamento do Piso Salarial Nacional. Para o CPERS “A questão do piso não é só salarial, mas representa uma valorização dos professores. Perdemos muitos professores todos os anos cooptados pelas empresas, para trabalhar em qualquer outra coisa, porque não dá pra viver com o baixo salário de professor.”

Por outro lado, o governo do estado tenta minar a greve com acusações de “greve de final de ano”, colocando que os alunos estariam sendo prejudicados e fazendo entrevista com pais que são contra a greve. Essa campanha já recebeu apoio inclusive de entidades que há muito não representam mais o movimento estudantil real e que estão de braços dados com o governo. É o caso da UGES (União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas), que em congresso aprovou posição contra a greve. Mesmo assim centenas de estudantes têm saído às ruas juntamente com os professores em apoio à greve e contra o Ensino Politécnico.

Quando questionado sobre a “greve de final de ano”, Veronezi explicou que “a culpa é do governo Tarso Genro, pois apresentou no final de ano essa proposta de reestruturação que na verdade desmonta a educação pública e que faz parte de um plano neoliberal para a educação pública brasileira. Nós, professores, não temos como começar 2012 sendo polivalentes e ensinando todas as matérias como quer o governador em seu projeto. A interdisciplinaridade leva tempo, não é assim da noite para o dia. Além do que a greve é um instrumento de pressão mesmo, sabemos que têm greve no restante que dura há mais de 90 dias, e se o governo está pressionado porque está no final do ano, esse é o melhor momento para a greve, não podíamos deixar para o ano que vem com o decreto já implantado.”

Redação RS

Operários das obras da copa batem um bolão por seus direitos

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No mês de novembro os operários da construção civil travaram mais uma batalha contra os donos dos monopólios responsáveis pela realização das obras da Copa do Mundo de 2014.

As lutas dessa vez aconteceram nas obras da Arena Pernambuco, localizada na Grande Recife – PE, e do Estádio Nacional, que fica em Brasília – DF. Em setembro foram realizadas paralisações nas obras do Maracanã – RJ e do Mineirão – MG.

Em Brasília, os cerca de 2400 operários responsáveis pela construção do Estádio Nacional (antigo Mané Garrincha), obra explorada pelo Consórcio Brasília 2014, formado pelas empreiteiras Via Engenharia e Andrade Gutierrez, entraram em greve no dia 26 de outubro.  A paralisação durou nove dias e arrancou importantes conquistas para os trabalhadores.

A greve foi necessária porque, apesar do Consórcio Brasília 2014 ter a previsão de faturamento com a obra de R$ 745 milhões as empreiteiras se negavam a oferecer para seus empregados direitos básicos como uma alimentação de qualidade.

Os operários reivindicavam auxílio alimentação, plano de saúde e odontológico, recesso de final de ano, melhorias no transporte e nas condições de higiene e melhor qualidade da alimentação servida no canteiro. Os trabalhadores também exigiam aumento salarial variando de R$ 600 a R$ 1.000, pagamento imediato de 20 horas-prêmio prometidas há três meses.

No mesmo dia em que foi deflagrada a greve, o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e Mobiliário do Distrito Federal chegou a fazer um acordo com o patronato, em troca do atendimento de apenas dois itens da pauta de reivindicações. O sindicato chegou a divulgar na imprensa a volta ao trabalho dos operários, mas o acordo foi rejeitado pela categoria em assembleia. O consórcio partiu então para tentar encerrar a paralisação na Justiça, através de uma liminar solicitando a ilegalidade da greve.

Diante da posição firme dos trabalhadores em defesa de seus direitos e pressionada pelo cronograma da obra, prevista para ser encerrada em dezembro de 2012 – a tempo de sediar a abertura da Copa das Confederações, o consórcio não teve alternativa senão acatar as propostas dos operários. As conquistas obtidas demonstram o acerto da decisão da categoria de continuar a greve:  elhorias imediatas das condições de alimentação e de alojamento; Plano odontológico; Recesso de 10 dias no final de ano; Abono de 30% sobre o salário em dezembro – junto com o décimo terceiro, e outro em maio de 2012; Garantia de estabilidade de 100 dias para os 17 integrantes da comissão de negociação.

Arena Pernambuco

Os operários que constroem a Arena Pernambuco, estádio projetado para a Copa de 2014 em São Lourenço da Mata, Região Metropolitana do Recife, entraram em greve na manhã do dia 1º de novembro.

Os cerca de 1.400 trabalhadores da multinacional Odebrecht reclamavam de maus tratos e assédio moral por parte do chefe da segurança das obras do estádio, o coronel reformado Eduardo Fonseca, mais conhecido pelos operários como “coronel Kadaffi”.

De acordo com os trabalhadores, o coronel reformado Eduardo Fonseca estaria impondo uma “disciplina militaresca” na obra e assediando moralmente os operários. Segundo o sindicalista Leodelson Bastos, do Sintepav, sindicato que representa a categoria, o coronel já teria agredido um operário que fumava um cigarro artesanal de tabaco, que teria sido confundido com um baseado de maconha. “Ele deu dois tapas no peito do peão e, ao perceber o erro, disse que ele perderia o emprego se contasse isso a alguém”, afirmou Bastos.

Insatisfeita com o assédio moral que pratica contra seus funcionários, a empresa, acreditando que o regime militar não foi reinstalado apenas em seus canteiros, mas no País, não existindo mais assim direitos trabalhistas, demitiu dois trabalhadores que pertenciam à Cipa (Comissão Interna para Prevenção de Acidentes), o que é proibido pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Esta foi a gota d’água para os trabalhadores decretarem a paralisação.

Além do coronel, os trabalhadores queriam a demissão do encarregado da empresa, conhecido como Marreco. A Odebrecht se negou a negociar a demissão dos seus feitores e chama os operários de mentirosos. Além disso, em nota, a empresa defendeu que tem direito de demitir quem quiser e que o sindicato não tem nada a ver com isso.

Coerentes com essa postura de truculência, a empresa chamou a Polícia Militar (PM) para impedir a realização de uma assembleia pelos trabalhadores no dia 3 de novembro. A PM dispersou os funcionários usando spray de pimenta. Um dos operários passou mal e foi carregado pelos policiais.

Na sexta-feira, 4, a Odebrecht, mantendo sua postura autoritária, lançou nota confirmando que dois dos operários que demitiu eram membros da Cipa, que foram excluídos de seus quadros por terem incitado o “motim” dos operários contra a empresa. Este comunicado oficial da empresa, tratando a realização de uma greve como “motim”, demonstra que a imposição de uma disciplina militar nos canteiros não é uma atitude isolada de seus capatazes, mas uma postura da própria empresa.

Infelizmente, o sindicato da categoria, filiado à Força Sindical, suspendeu a greve no dia 7, em prol de demonstrar a sua boa vontade de dialogar. O “diálogo” oferecido pela Odebrecht foi a demissão de 200 operários em retaliação, que esperam até agora por uma solução.

O caminho para acabar com a ditadura na Arena Pernambuco é o mesmo trilhado pelos operários da década de 80: a greve.

Clodoaldo Gomes, da Coordenação Nacional do MLC

Com luta, operários da construção conquistam aumento

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A data-base para o reajuste salarial dos trabalhadores da construção civil de Caruaru é o dia 1º outubro. Sendo assim, o sindicato da categoria, o Sintracon, que é coordenado pelos militantes do Movimento Luta de Classes (MLC), vinha desde o início de setembro preparando o espírito da base para lutar por um aumento digno e por melhores condições de trabalho. Realizou cursos de formação, um congresso sobre segurança no trabalho com 70 trabalhadores e a assembleia geral para aprovar a pauta de reivindicações. Entres as propostas da categoria: 20% de amento nos salários, alimentação nos canteiros, café regional e melhores condições de trabalho.

Após quatro rodadas de negociação entre o Sintracon e o sindicato patronal no Ministério do Trabalho, os patrões se mostraram intransigentes e queriam apenas conceder um reajuste de 7,5%. Várias assembléias foram realizadas nos próprios canteiros de obras, e o clima de greve se espalhou por Caruaru.

“Fomos pra base realizar assembleias nos canteiros, e defendemos a necessidade de realizar uma paralisação de advertência aos patrões, ou seja, de radicalizar o nosso protesto já que eles radicalizaram nas mesas de negociação sem querer aumentar em mais nenhum centavo da proposta inicial”, relata Henrique Ramos, presidente do Sintracon.

No dia 16 de outubro, o Sindicato convocou os trabalhadores em cada obra e foi realizada uma grande passeata pelo Centro da cidade, em direção ao prédio de um novo shopping center que está sendo erguido. “O ato político que realizamos surtiu um grande efeito, pois teve repercussão imediata e os patrões ficaram com medo da força que demonstramos e da revolta dos operários”, afirma Henrique. Participam também apoiando a mobilização integrantes do SindCalçados de Carpina, SindMoto de Caruaru , do Sindlimp-PE e da União dos Estudantes Secundaristas de Caruaru.

O sindicato patronal então pediu ao representante do Ministério do Trabalho que intermediasse uma negociação de emergência para que a paralisação não se transformasse numa greve de vários dias. À noite, foi realizada a rodada final de negociação, que confirmou o acerto da luta do Sintracon e dos operários. A Convenção Coletiva de Trabalho foi assinada, após muita discussão, e garantiu as seguintes conquistas para a categoria: aumento de 12,15% no piso, de 12% para o servente e de 11,5% para o setor administrativo, além da garantia de liberação de dirigentes sindicais para o exercício pleno do seu mandato; garantia de almoço nos locais de trabalho e várias cláusulas sobre condições de trabalho.

Na avaliação de Henrique Ramos, “desde que o MLC assumiu o Sindicato há cerca de três anos, crescemos a mobilização da base, e, nesta campanha salarial, realizamos a maior paralisação da história da construção civil de Caruaru. Depois que passamos a desenvolver um trabalho mais político na categoria, com boletins informativos e congressos de segurança, cursos de formação, os operários ficaram mais confiantes em si mesmos, em sua luta, e provaram que estão com o mesmo espírito dos operários das obras da Refinaria e da Petroquímica de Suape e da Arena Pernambuco, e de tantos outros companheiros que realizaram grandes greves aqui no nosso estado e em todo o país.”.

Da Redação

Ditadura de Pinochet pode ter envenenado Pablo Neruda

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O Partido Comunista do Chile (PCC)  pediu a exumação do poeta comunista Pablo Neruda, morto em 1973. O Partido diz que as condições da morte de Neruda nunca foram explicadas, e acredita que o poeta chileno pode ter sido envenenado pela ditadura de Pinochet.

Neruda foi ganhador do Prêmio Nobel de Literatura e morreu em 1973, apenas 12 dias depois que o general Augusto Pinochet deu o golpe militar e assumiu o poder. O atestado de óbito indica que Pablo Neruda morreu de câncer de próstata.

Recentemente,  o antigo motorista do poeta disse que ele recebeu uma injeção pouco antes de sofrer um ataque cardíaco, em um hospital da capital chilena, onde estava internado. O pedido de exumação dos restos mortais de Neruda foi encaminhado à Justiça chilena por Eduardo Contreras, advogado do Partido Comunista.

Da Redação

Barulho de Cabral é pra proteger cartel do petróleo

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Governador do Rio defende cartel

A crise econômica mundial vem demonstrando de modo enfático os métodos a cada dia mais avassaladores, e menos dissimulados, de apropriação de riquezas por parte dos mais poderosos, sejam eles pessoas, grupos ou países. E os casos exemplares não estão tão longe quanto imaginamos, nas ‘longínquas’ guerras promovidas pelos EUA no Iraque, Irã e Afeganistão… Estão bem debaixo do nosso nariz

A recente e acalorada discussão sobre a distribuição de royalties no país é um caso notório. Ao olhar mais distraído, pode parecer uma mera discussão burocrática patrocinada pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, e seguida por outros estados, em sua briga pra ver quem fica com a maior parte do quinhão do petróleo. Mas, por trás dessa que tem ares de ser mais uma prosaica querela nacional, estão poderosas aves de rapina atrás de um recurso que se torna a cada dia mais raro mundialmente.

“O barulho do Sergio Cabral era para dificultar a aprovação do contrato de partilha. Como ele já foi votado e aprovado, Cabral agora quer evitar a supressão da emenda entreguista. Assim, o barulho serve de biombo para esconder o segredo mais bem guardado desta República: a emenda que devolve, em petróleo, às empresas, os royalties pagos em dinheiro”. É o que afirma com sua costumeira contundência e sagacidade o presidente da AEPET (Associação de Engenheiros da Petrobrás), Fernando Siqueira.

E não fica por aí: Cabral estaria também interessado em esconder os benefícios da Lei Kandir, uma lei antiqüíssima, mas que atua ainda hoje, e com vigor, em favor do cartel internacional e em detrimento do povo brasileiro, segundo avalia Siqueira.

Leia a seguir entrevista exclusiva.

Correio da Cidadania: Como o senhor tem analisado as polêmicas em torno da distribuição dos royalties do petróleo, opondo estados produtores e não produtores em exaustivas discussões parlamentares?

Fernando Siqueira: A lei 9478/97, elaborada pelo Fernando Henrique era péssima para o país, pois os produtores ficavam com 100% do petróleo produzido e só pagavam, em dinheiro, os royalties além de uma participação especial quando a produção fosse maior do que 94.000 barris por dia, por campo. Como só a Petrobrás tem uma produção maior do que este valor, só ela paga essa participação, mas apenas uma média de 11%. No mundo, os países produtores ficam com mais de 70% do petróleo produzido. Assim, quando o Pré-Sal foi descoberto, o presidente Lula enviou o projeto que muda o contrato de concessão (a propriedade do petróleo é do produtor) para partilha, em que a propriedade volta para a União.

A Petrobrás é a operadora de todos os campos, ou seja, propôs avanços consideráveis em favor da União. O cartel do petróleo não gostou. E foi pra cima dos parlamentares, apresentando 15 emendas. Uma delas colou: é aquela em que o produtor paga o royalty em reais, mas o recebe de volta em petróleo.  Esse cartel tem um time de lobistas, inclusive citados nos telegramas do Wikileaks: O Instituto Brasileiro do Petróleo, a ONIP e a FIESP. Tem ainda o governador Sergio Cabral, seus secretários, o senador Dornelles, a Agência Nacional do Petróleo e Paulo Hartung (ES). Conta ainda com a grande mídia nacional. Cabral e Hartung provocaram a discussão dos royalties para dificultar a mudança, pois Lula não os incluíra na proposta. “Primeiro vamos retomar a propriedade do Petróleo, para depois distribuí-lo”, dizia Lula.

Denunciamos essa emenda/contrabando no Senado e a repercussão negativa foi grande. O relator Romero Jucá retirou-a, mas, sob a pressão do lobby, sub-repticiamente, a colocou de volta em quatro artigos: 2º, 10º, 15º e 29. Onde o Projeto de Lei falava em ressarcimento dos custos de produção (é normal, pois o produtor gasta dólares e recebe esses custos em petróleo), Jucá acrescentou: “e do volume da produção correspondente aos royalties pagos” (safadeza, pois o consórcio não paga nada). Assim, ele dificultou a supressão, pois era preciso um partido para cada artigo a suprimir. A nosso pedido, o senador Pedro Simon apresentou uma emenda (art. 64§ 3º) que impedia essa apropriação constante  dos quatro artigos. Mas como ele também incluiu a distribuição equânime dos royalties, o lobby aproveitou e fez um grande barulho na mídia.

Resultado, Lula, assustado, vetou o antídoto e deixou o veneno. Como era certa a derrubada do veto e a base governista a considerava um desgaste, buscou-se uma saída. Assim, alguns parlamentares elaboraram um Projeto de Lei do Senado com as mesmas premissas de Simon – só que preservando os ganhos dos estados produtores em valor absoluto -, para evitar a derrubada do veto. Mas a grita/biombo continua para esconder o ressarcimento dos royalties.

Correio da Cidadania: O que pensa em particular do ‘barulho’ que faz o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, em tais discussões, inclusive convocando manifestações populares para defender uma renda que pertenceria por direito aos cariocas?

Fernando Siqueira: O barulho do Sergio Cabral, como dito acima, era para dificultar a aprovação do contrato de partilha. Como ele já foi votado e aprovado, Cabral agora quer evitar a supressão da emenda entreguista. Assim, o barulho serve de biombo para esconder o segredo mais bem guardado desta República: a emenda que devolve, em petróleo, os royalties pagos em dinheiro. Se Cabral estivesse interessado em defender o Rio de Janeiro, a atitude tinha que ser de negociação, não de confronto com os estados não produtores. Todos eles querem preservar o Rio. Para ilustrar essas informações, vejamos alguns dados:

I) Na Constituição de 88, o José Serra conseguiu mudar a incidência do ICMS do produtor para o consumidor. O Rio perdeu muito. E, para compensar, ganhou um percentual alto dos royalties. Só que, na época que os royalties começaram a ser cobrados, o montante anual era de R$ 1 bilhão. Hoje são cerca de 10 bilhões. Em 2020 pode ser o triplo. Não dá para o Rio virar um Abu Dhabi e os demais estados continuarem na miséria;

II) O Rio Perde por ano cerca de R$ 7 bilhões com a isenção de ICMS devido à Lei Kandir aplicada no petróleo, incorretamente, pois o bem mais cobiçado do planeta não precisa de incentivo para ser exportado. Em 2020 essa perda subirá para R$ 34 bilhões. É o Brasil subsidiando o cartel, os EUA e os demais países desenvolvidos. Não se tem buscado corrigir essa excrescência;

III) O Rio, hoje, perde cerca de R$ 8 bilhões por ano com a cobrança errada do ICMS. Pode ser um argumento forte para negociação, mas não está sendo usado. Ou seja, o Cabral e sua turma querem é esconder o benefício da devolução de royalties e da Lei Kandir em favor do cartel internacional e em detrimento do povo brasileiro.

Correio da Cidadania: A verdade é que o senhor vem denunciando há tempos estas emendas inseridas no projeto de lei sobre os Royalties elaborado pelo governo Lula, as quais, em um revés para tal projeto original, determinam, como dito, a devolução, em petróleo, dos royalties pagos pelas empresas exploradoras.

Fernando Siqueira: Esse ressarcimento é uma excrescência entreguista. É como se a Ford pagasse o IPI e o recebesse de volta em automóveis. O senador Jucá retirou-a em função da repercussão negativa após nossa denúncia através do senador Simon. Só que, sob pressão do lobby, a colocou de volta nos quatro artigos mencionados, para garantir a apropriação indébita do petróleo correspondente aos royalties pelo Consórcio Produtor, em detrimento do país. Seria um volume maior do que as atuais reservas brasileiras, descobertas pela Petrobrás. No mês de junho deste ano, a revista Época fez uma matéria onde diz que Jucá gastou R$ 15 milhões na sua campanha para a reeleição e declarou só R$ 1,5 milhão. Diz ainda que os US$ 13,5 milhões restantes foram pagos em dólar vivo. Mera coincidência? ”É, pode ser, com todo o respeito”, diria o Ancelmo Gois.

Correio da Cidadania: Estão sendo agora tentados vários arranjos para a distribuição dos royalties, após este revés no projeto original de Lula. Diante das atuais circunstâncias, qual seria o arranjo ideal, a seu ver?

Fernando Siqueira: O arranjo ideal tem que ser o fruto de uma boa negociação. O Rio tem trunfos bons como os citados acima e pode conseguir se sair bem, sem perdas, mas mantendo um ganho coerente. Como a produção de petróleo vai crescer muito e o preço do barril também, não dá para o Rio receber o percentual atual. O ideal é manter o valor absoluto do ganho atual com a devida correção monetária para que o Rio tenha supridos os seus compromissos a serem pagos com a renda dos royalties. O Rio ganha, hoje, cerca de R$ 7 bilhões entre royalties e participação especial, por ano. Pode manter esse ganho com juros e correção monetária.

Lembremos que o petróleo do Pré-Sal está a cerca de 300 km da costa. Pelo artigo 20 da Constituição ele é da União. Mas os estados, DF e municípios têm direito a participar dos royalties “de acordo com a Lei”, que pode ser negociada. Quem provê as facilidades de produção são as empresas produtoras e, se houver acidente, elas se encarregam de eliminar os seus efeitos. Há benefícios para os estados confrontantes como geração de empregos, desenvolvimento tecnológico e a instalação de empresas fornecedoras de bens e de prestadoras de serviços. Assim, os estados confrontantes podem se contentar em manter os ganhos atuais, enquanto os demais saem do zero até chegar a um montante próximo ao desses estados confrontantes, em médio e longo prazos.

Correio da Cidadania: Em entrevista ao Correio, no final de 2009, o senhor ressaltou que continuamos sem garantias de que “empresas asiáticas, européias, norte-americanas e o cartel internacional, por precisarem de petróleo para sobreviver, venham para cá ávidas para produzir o mais rápido possível para resolverem os problemas dos seus países”. Realmente, há um foco demasiado nessas discussões sobre os Royalties no atual momento, ao lado de um quase abandono das discussões essenciais sobre, por exemplo, esta questão dos leilões, tanto os que foram feitos antes do Pré-Sal como os que devem certamente prosseguir pela frente. 

Fernando Siqueira: Como eu disse acima, os royalties são o biombo para esconder a discussão essencial. Quando o Pré-Sal foi descoberto, o presidente Bush reativou a quarta frota naval, argumentando que era para proteger o Atlântico Sul. Ora, no Atlântico Sul, só estão Brasil e Argentina e esta já entregou o seu petróleo para o cartel. Então, a quarta frota é para “proteger” o Pré-Sal. As invasões do Iraque, da Líbia, do Afeganistão e a atual pressão sobre o Irã nos dão uma pista, uma mensagem muito forte de que precisamos nos preparar para defender o Pré-Sal, que é uma reserva equivalente à do Iraque, só que na América Latina. O cartel internacional e os países desenvolvidos precisam de petróleo para sobreviver. Estamos entrando no pico de produção mundial e a oferta vai cair fortemente. Os países desenvolvidos da Europa, da Ásia e os EUA estão numa insegurança energética brutal. Querem petróleo a qualquer custo e o mais rapidamente possível. Como impedir a produção veloz e predatória? Portanto, as premissas que nortearam a sua pergunta continuam válidas.

Correio da Cidadania: Setores progressistas defendem a volta do monopólio estatal do petróleo, no lugar do modelo de exploração em que serão combinados concessão e partilha . Acredita que esta discussão ainda esteja ou possa voltar à pauta da nossa nação? Qual seria a importância da retomada deste debate para o nosso país?

Fernando Siqueira: Esta discussão está mais atual do que nunca. A Petrobrás, durante 40 anos, acreditou e pesquisou o Pré-Sal. Quando a tecnologia permitiu, ela perfurou e achou, correndo todos os riscos. Lembro que durante 13 anos a área do Pré-Sal esteve entregue às empresas estrangeiras detentoras dos contratos de risco. E elas não arriscaram nada. A Petrobrás é a empresa que mais conhece a tecnologia de águas profundas, visto que foi a primeira a acreditar na existência de reservas nessa profundidade. Portanto, fazer leilão não tem qualquer justificativa ou vantagem para o país.

Imaginemos que essa emenda da devolução dos royalties passe.  Pela simulação que fizemos, com o petróleo a US$ 100 por barril e os custos de produção previstos em US$ 45 por barril, teríamos o seguinte absurdo: A União ficaria com 28% do petróleo produzido, a Petrobrás, como operadora, ficaria com 21,6% e o líder do Consórcio Produtor ficaria com 50,4%, sem fazer nada (a Petrobrás é quem opera, produz e corre todos os riscos) e sem correr qualquer risco. Por outro lado, se o royalty previsto de 15% for pago em petróleo, sem essa devolução, o Brasil ficará com 43%, livres, a Petrobras, com 17,1%, e o líder do consórcio, com 39,9%. Sendo que ele despendeu dólares com os custos de produção.

Dá para aceitar, a pior situação? Leilão é sinônimo de desnacionalização do petróleo, inclusive com elevada velocidade de extração, em detrimento dos  interesses nacionais, como está ocorrendo em todos os países que privatizaram suas reservas. E o caso Chevron reforça bem essa tese.

Correio da Cidadania: O que tem ocorrido de relevante no setor, que não costuma ser noticiado na mídia, especialmente no que se refere aos leilões favoráveis às empresas, nacionais ou multinacionais, e lesivos à sociedade? Quem têm sido os maiores beneficiários desse atual estado de coisas?

Fernando Siqueira: Certamente o cartel internacional do Petróleo é sempre o beneficiado. Foi ele que induziu o presidente FHC a fazer a absurda lei 9478/97 que dá 100% do petróleo a quem produz e o direito de pagar somente os royalties e a participação especial, em dinheiro, numa média de 21% no total. No mundo, os países exportadores ficam com uma média superior a 70%, em petróleo, do volume produzido, que é a riqueza real que move as grandes economias e a produção de novas riquezas. O valor pago em dólar é irrelevante para quem imprime dólar sem qualquer lastro.

Vou relatar um episódio recente que ilustra bem a ação dos lobbies, e que só sai no Wikileaks: Uma semana antes de o senador Vital do Rego apresentar o PLS 448 (alternativa à derrubada do veto de Lula), no Senado, eu estava em reunião na AEPET quando recebi uma ligação de um dos parlamentares da comissão que elaborou o projeto. Ele me perguntou a situação dos artigos e como teria que fazer para suprimir esses contrabandos. Quando eu comecei a responder, ele passou o telefone para o assessor legislativo que iria ajudá-los a elaborar o projeto. Ele foi dizendo: “engenheiro, quem pediu essa emenda de devolução dos royalties foi a Petrobrás”. Respondi, irritado: “Isto é conversa dos lobistas do IBP. Eu conversei com os diretores da Petrobrás e eles jamais discutiram esse assunto”. Ele insistiu: “não, foi o representante da empresa aqui em Brasília”. “Outra mentira. O representante em Brasília nunca faria isto sem autorização da Petrobrás. Conheço-o bem”, eu retruquei.  Então ele passou o fone para o deputado, a quem eu adverti sobre a conversa.

Na semana seguinte, preocupado, fui para Brasília. No gabinete do senador Pedro Simon, vimos a leitura da proposta pelo senador Vital do Rego e consegui uma cópia do projeto. Passei a noite lendo o calhamaço do projeto. E descobri duas cascas de banana: o assessor incluíra um artigo que quebrava a espinha dorsal da Lei de partilha. O artigo dizia: “A União poderá fazer ‘joint ventures’ com empresas mediante licitação”. Ora, na nova Lei o ponto alto era a Petrobrás ser a operadora de todos os campos e a nova proposta derrubava isto. Outra safadeza era mudar a configuração do IBGE fazendo com que o Rio deixasse de ser o estado confrontante no Pré-Sal. A maioria desses assessores tem casa no Lago Sul, não por coincidência.

Correio da Cidadania: Como enxerga, finalmente, o último vazamento de petróleo na Bacia de Campos, envolvendo a empresa Chevron, à luz de toda esta discussão?

Fernando Siqueira: Como uma rotina da atuação dessas empresas. Elas produzem devastação no mundo todo. A Shell fez um estrago na Nigéria. A Chevron está num processo no Equador com multa da ordem de US$ 20 bilhões. É comum ocorrerem estas coisas. Agora, em Frade, ocorreu uma série de erros da Chevron.

Primeiro, ela alugou uma plataforma improvisada. Segundo o Wall Street Journal, essa plataforma, obsoleta, funcionava como hotel flutuante no Mar do Norte. Foi adaptada para esse trabalho e cobra uma diária de US$ 315mil, contra cerca de US$ 700 mil das plataformas tecnicamente preparadas para esse trabalho. Segundo, há algum tempo tendo alguns poços produtores, ela tinha condições de conhecer a pressão do reservatório. Mesmo assim seus engenheiros erraram no cálculo da densidade da lama de perfuração, onde uma das suas funções é equilibrar a pressão do reservatório. Com uma lama mais leve, quando atingiram o reservatório, um “Kick” de pressão ameaçou a perda de controle do poço. Afobados, os técnicos injetaram lama mais pesada, mas com uma pressão acima da tolerada pelo reservatório. Assim fraturaram o invólucro selador do reservatório.

Depois foi uma sucessão de desinformações, mentiras, falácias, uma saraivada de inverdades, que a grande mídia brasileira recebeu passivamente, sem questionamentos e verificações. Imagina se uma ocorrência desse tipo fosse com a PETROBRAS! Qual seria o tratamento?

Portanto, essa ocorrência em frade reforça a nossa tese do FIM dos leilões. O país nada ganha com eles.

Fonte: Valéria Nader, economista, editora do Correio da Cidadania; colaborou Gabriel Brito. www.apn.org.br

Professsores e estudantes protestam na Argentina

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Professores e estudantes argentinos saem às ruas em manifestação e são recebidos pela polícia de choque. Dezenas de professores e estudantes ficaram feridos.

Adeus, Sócrates

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“Quanto ao Fidel Castro, símbolo da Revolução Cubana, como Che Guevara, as pessoas estão mal informadas. No nosso país se conhece muito pouco o que acontece fora daqui e mesmo aqui dentro. A estrutura política cubana é extremamente democrática. Eu queria que meu filho nascesse lá, eu queria ser um cubano. Nós estivemos lá agora, nós fomos passear! Peguei minha mulher e fui lá, passear, curtir lampejos de humanidade. Um povo como aquele, numa ilhota, que há mais de 60 anos briga contra um império, só pode ser muito forte, e ditadura alguma faz um povo tão forte. Ditadura não é tempo de serviço, necessariamente é qualidade de serviço. Em Cuba, o povo participa de tudo, em cada quarteirão. E aqui? Pra quem você reclama? Você vota e não tem pra quem reclamar.”

Doutor Sócrates, 57 anos, médico, ex-jogador da seleção brasileira e líder da democracia corintiana na Folha de S. Paulo em 27/08/2011.