UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 17 de abril de 2025
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Seminário debate crise econômica e a dívida pública

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Nos dias 18 e 19 de abril, foi realizado, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o seminário A Dívida Pública em Debate, organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas do Estado do RJ (Sintuperj) e o Núcleo de Auditoria Cidadã do RJ. A mesa de abertura foi composta pela coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli, e pelo economista e professor da UFF, Marcelo Carcanholo.

Durante o seminário, foram discutidos o nacional-desenvolvimentismo e a desindustrialização, o papel do BNDES, com presença de seu ex-presidente, Carlos Lessa, as dívidas dos estados da Federação e a experiência do Núcleo de Auditoria Cidadã da Dívida em Minas Gerais, além da questão energética e das privatizações, com o Sindipetro-RJ e AEPET. Wilma Salgado, ex-ministra de Finanças do Equador e Fattorelli apresentaram a experiência da auditoria da dívida pública no Equador.

O jornal A Verdade e os militantes da União da Juventude Rebelião (UJR) estiveram presentes em todos os momentos, fortalecendo o caráter de luta do seminário e se comprometendo em ampliar o alcance destes debates.

A dívida pública no Brasil

Em sua fala, o professor de economia da UFRJ Reinaldo Gonçalves expôs o real valor da dívida pública brasileira, que soma hoje mais de trê trilhões de reais e é, na prática, impagável, pois, a cada ano, somam-se juros calculados sobre juros, o chamado anatocismo. Maria Lúcia Fattorelli denunciou que um dos principais motivos para as taxas de juros serem altíssimas é a composição do conselho que as define, formado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e o Banco Central, em conjunto com um corpo de “analistas” composto esmagadoramente (95%) por representantes dos bancos e fundos de investimento, ou seja, por aqueles que se beneficiam com os juros altos.

Fattorelli traçou o histórico da dívida, denunciando como o valor desta deu um grande salto a partir do Regime Militar. Por meio de instituições como o Fed (Banco Central Estadunidense, que é privado), o regime contratava financiamentos a juros baixos, mas flutuantes para grandes projetos como hidrelétricas, a Transamazônica, etc. Além disso, facilitou a entrada de capital estrangeiro para as empresas nacionais, aumentando a dívida e aprofundando a dependência econômica e o controle das políticas públicas pelos grandes bancos e multinacionais.
Com nossa economia na mão, os EUA aumentaram unilateralmente as taxas de juros, culminando numa crise da dívida pública brasileira na década de 80. Na exposição de Fattorelli também ficou clara a importância da dívida para a submissão das políticas econômicas e sociais do Brasil no início dos anos 90 ao FMI e ao Banco Mundial. Estas entidades apresentam propostas de “amortizações” e refinanciamento da dívida, as condições eram de que o Governo do Brasil flexibilizasse (atacasse) os direitos trabalhistas e a previdência, promovesse a liberalização financeira e abertura comercial ao capital estrangeiro, e, principalmente, efetivasse um grande plano de privatizações. Uma política resumida na frase de Margareth Tatcher, primeira-ministra neoliberal da Inglaterra em 1985 – “Se os países subdesenvolvidos não conseguem pagar suas dívidas externas, que vendam suas riquezas, seus territórios e suas fábricas”. O governo FHC seguiu a receita à risca, e as consequências são conhecidas pelo povo: diminuição do salário mínimo, corte nos direitos, venda das principais empresas estatais, etc.

Também ficou esclarecido o mito que existe, desde 2005, do fim da dívida externa. A verdade é que o Governo Lula refinanciou junto a bancos e financeiras “nacionais” (controladas em grande parte por empresas internacionais) a dívida com o FMI, de R$ 15,5 bilhões. Pior! A dívida com o FMI corria a juros de 4% ao ano, mas, ao comprar a dívida externa e transformá-la em interna, passamos a pagar juros de 19,5% a.a. Ao invés de quitarmos a dívida, passamos a pagá-la mais caro!

O endividamento das nações

O professor Carcanholo esclareceu os mecanismos que o capitalismo inventou para tentar prolongar o prazo de validade de seu sistema, e a relação destes com a atual crise e o endividamento das nações.  O sistema financeiro criou os “Derivativos” ou Ativos Tóxicos, produtos financeiros sem valor real, meros mecanismos para alavancar negócios nas bolsas de valores, e que servem para gerar boa parte das fortunas dos grandes milionários em cima de apostas sobre valores que não existem. Hoje, o PIB mundial é de aproximadamente 74 trilhões de dólares, mas o mercado financeiro trabalha com um valor de 600 trilhões de dólares. Isso gerou a chamada Bolha, que estourou em 2008; a economia já não podia se sustentar em cima de algo inexistente.

A solução apresentada pelo capitalismo foi novamente aprofundar o endividamento das nações, desviando montantes inéditos de capitais para salvar um pequeníssimo número de empresários, os mesmos que causaram a crise.
A Auditoria Cidadã da Dívida averiguou como, em três anos, entre 2007 e 2010, o Governo estadunidense transferiu secretamente 16 trilhões de dólares para salvar 15 bancos. Importante notar que o PIB de um ano dos EUA, neste mesmo período, foi de 14,5 trilhões de dólares. Estes 15 bancos são responsáveis por 47% dos empreendimentos mundiais.

Além disso, foram criados os bad Banks, instituições financeiras destinadas a absorver parte destes ativos tóxicos. Não para tirá-los de circulação, mas para injetá-los em economias que estariam “mais resistentes” ao vírus do sistema financeiro, como o Brasil. Esta injeção pode vir, entre outras formas, através da privatização das jazidas do Pré-sal. Uma denúncia importante também feita pela Coordenadoria Nacional da Auditoria Cidadã é que a lei que regula os recursos do Fundo Social do Pré-sal dá preferência a investimentos do exterior, que estão amplamente contaminados com os derivativos.

A dívida para o povo brasileiro

Os trabalhos da Auditoria Cidadã apuraram que, em 2011, foram gastos com o pagamento da dívida 708 trilhões de reais, 45,5% de todo orçamento executado da União, riqueza produzida pelos trabalhadores e que foi direto para o bolso de banqueiros e outros grandes capitalistas. Em compensação, com a saúde foram gastos 11 vezes menos, 4,07%, e com a educação 2,99%, 15 vezes menos.

Com o dinheiro gasto no pagamento da dívida pública, o Governo poderia construir 20 milhões de casas populares, contratar dois milhões de médicos para os hospitais públicos ou aumentar o salário mínimo de R$ 622,00 para o piso do Dieese, de R$ 2.295,58. Os gastos com a dívida não são apenas números em uma complexa conta para especialistas, são, em verdade, uma Dívida Social.

A exportação de capitais e ativos financeiros e o endividamento público é mais um dos meios que o capitalismo criou para subjugar os povos e salvar seu sistema da ruína.

Pedro Gutman, militante UJR

“Egoísmo leva Celpe a sonegar direitos trabalhistas para aumentar lucro”

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Tramita na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei nº 4.330 de autoria do deputado Sandro Mabel, do PMDB, que amplia a terceirização para todos os setores da economia e da empresa, visto que atualmente o Tribunal Superior do Trabalho (TST) só aceita a terceirização para atividade-meio e não para atividade-fim. Hoje, a terceirização já é a maior responsável pelo aumento das mortes e dos acidentes de trabalho no Brasil.

Para esclarecer os nossos leitores sobre o que é a terceirização e suas consequências para os trabalhadores, A Verdade entrevistou Vanessa Patriota Fonseca, procuradora do Ministério Público do Trabalho em Pernambuco, autora de uma Ação Civil Pública (ACP) contra a Celpe pelo processo irregular de terceirização visando aprofundar a exploração dos trabalhadores e aumentar os lucros da empresa. A seguir a entrevista com a Dra. Vanessa Fonseca.

A Verdade – O Ministério Público do Trabalho (MPT) em Pernambuco ingressou com uma ação civil pública contra a Celpe. Quais as razões dessa ação?
Vanessa Patriota Fonseca – Nós recebemos a denúncia de terceirização ilícita na Celpe e, concomitantemente, recebemos denúncias de acidentes de trabalho. Então, requisitamos fiscalização na Superintendência Regional de Trabalho e Emprego, que passou um ano fiscalizando a Celpe e as terceirizadas dela. Existe um grupo de combate à fraude lá na Superintendência do Trabalho e esse grupo passou um ano dentro da Celpe e das terceirizadas, fiscalizando. Paralelamente, colhemos vários depoimentos aqui e, realmente, a situação na qual se encontram os trabalhadores é lamentável. Nós percebemos que, entre os anos de 1997 e 2010, enquanto a Celpe expandiu sua rede de usuários consideravelmente, passando de menos de dois milhões para mais de três milhões, o número de empregados diretamente contratados por ela caiu de 3.970 para 1.796, ou seja, a empresa aumentou a oferta de serviços e diminuiu consideravelmente o número de trabalhadores diretamente contratados. Já a quantidade de terceirizados foi praticamente triplicada entre 2000 e 2010. Hoje, a Celpe tem 5.500 terceirizados, aproximadamente. A proporção de terceirizados passou de 30% do total de trabalhadores em 1997 para cerca de 60% em 2000, chegando a ultrapassar 75% de toda a mão de obra em 2010, ou seja, mais de 75% de toda a mão de obra da Celpe hoje é terceirizada. Veja o caso do eletricista, que exerce uma função perigosa, que tem adicional de periculosidade, e que exerce uma atividade essencialmente finalística da empresa. Ora, nessa atividade principal, preponderante, da empresa, hoje apenas 15% são diretamente contratados pela Celpe. O que é que a gente vê da terceirização: a empresa, para se constituir, não pode possuir apenas prédios, máquinas e equipamentos, ela precisa de gente. Então se entende que só é possível terceirizar a atividade para a qual ela não foi constituída. Para a atividade para a qual ela se constituiu, precisa ter empregados próprios. É assim que dispõe a Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

O que é a terceirização?
A terceirização é um instituto da administração pública e a ideia é a seguinte: você tem uma empresa, você se dedica àquilo para que ela foi constituída, aquilo em que você tem know-how; já aquilo que você não conhece você passa para empresas especializadas no assunto, como, por exemplo, uma fábrica de refrigerantes, que vai manter todos os empregados na linha de produção diretamente contratados. Mas, para administrar o refeitório, que vai fornecer alimentação para os seus funcionários, poderá terceirizar, porque ela não foi consituída para fornecer refeições. Assim, seria o mesmo no que diz respeito à Celpe: ela se constituiu para fazer a transmissão de energia elétrica, para ser distribuidora de energia elétrica; então, para isso, precisaria contratar os eletricistas para construção e manutenção de redes, para verificação de consumidores clandestinos, e repassar para terceiros atividades periféricas, para as quais não foi constituída, como por exemplo o caso do refeitório, como citei agora. Mas não foi isso que aconteceu! A Celpe passou a contratar outras empresas para que contratassem os trabalhadores. No entanto, quando há uma terceirização legítima, o que é que acontece é que você repassa aquela atividade para outra empresa, que vai exercer, com o seu know-how, aquela atividade. Não foi esse o caso da Celpe. A Celpe passou a contratação dos trabalhadores para as outras empresas, só que esses trabalhadores continuaram subordinados a ela. Então o que é que a gente verificou: que a Celpe monta as equipes de trabalhadores, interfere na seleção e na dispensa desses trabalhadores terceirizados, fornece os equipamentos de proteção individual, os carros, as escadas, mantém até o controle de horário de trabalho deles. A Superintendência do Trabalho teve acesso a um banco de dados da Celpe onde ela mantém o controle de horário desses terceirizados,  sabe a hora  em que entram e saem. É um supervisor da Celpe quem diz se o trabalhador pode ter um intervalo para descanso ou não, ou seja, ela manteve o controle, não terceirizou, simplesmente passou a assinatura da carteira para outra pessoa. Com isso, diminuiu o salário, porque, no que diz respeito aos trabalhadores diretamente contratados, terá de cumprir a convenção coletiva do Sindicato dos Urbanitários, que traz uma série de benefícios aos seus associados. Por exemplo: participação nos lucros e resultados, férias com o adicional de 50%, além do terço constitucional, garantia de emprego para quem tem mais de cinco anos de serviço e está perto da aposentadoria, plano de saúde, auxílio-funeral – enfim, uma série de benefícios.  Ao repassar a contratação a outras empresas, passa a pagar um salário de sindicato de prestadora de serviços, que é muito menor e que não compreende quase nenhum benefício. Então a Celpe tem um enorme lucro com isso, sonegando o direito desses trabalhadores. E qual foi a consequência maior disso? Acidentes de trabalho.

A terceirização na Celpe aumentou os acidentes de trabalho?
A Superintendência do Trabalho analisou o banco de dados da Celpe onde constam os registros de ponto dos trabalhadores terceirizados,  e elaborou um programa de informática para fazer a leitura desse banco de dados e apontar os números. Só para se ter uma ideia, nos eletricistas do setor de prontidão foram constatadas jornadas superiores a dez e a 12 horas em milhares de ocorrências nos anos de 2009 e 2010. Não foram centenas, não: foram milhares! Foi constatado trabalho em jornada de mais de 20 horas, num dia de eletricistas, em 225 ocorrências, em 2010. Foi constatado o trabalho sem concessão de intervalo para refeição ou descanso em 31.172 ocorrências registradas em 2009 e em 49.765 ocorrências em 2010, alguams vezes com jornada superior a 12 horas, sem que a pessoa tivesse direito a uma hora de descanso.  Então, esses trabalhadores estão subordinados à Celpe, com jornada excessiva, desenvolvendo atividade periculosa, quer chova, quer faça sol, subindo em postes, carregando pesados equipamentos de proteção individual, e ainda tendo que cumprir meta de produtividade que a companhia estabelece. Assim, eles correm para cumprir uma meta difícil de ser alcançada. O que é que isso causa? Acidentes de trabalho! Há até mesmo um estudo da Fundação Coge, uma entidade da qual fazem parte todas as concessionárias de energia elétrica do país, que mostra, em gráficos, apresentados na ação civil pública com que ingressamos, os dados de acidentes de trabalho na Celpe. O índice desses acidentes é três vezes maior entre os trabalhadores contratados por empresas interpostas (ou seja, terceirizados) do que entre aqueles diretamente contratados pela Celpe. E, para piorar o quadro, quando se compara a gravidade dos acidentes, nota-se que os mais graves ocorrem com maior frequência entre os terceirizados. A taxa de gravidade relativa aos acidentes ocorridos com empregados da Celpe não chega a 200, numa escala, ao passo que a a mesma taxa relativa aos acidentes ocorridos com terceirizados ultrapassa 3.000. Daí comprendermos que tal situação da terceirização seja ilícita, uma vez que a Celpe repassou para terceiros a sua atividade finalística, o que burla até mesmo o contrato de concessão, pois quando ela firmou um contrato de concessão com a União, foi para que fornecesse diretamente o serviço, o que não está fazendo, assim burlando até o processo licitatório. Terceiriza quando não é possível; precariza, diminuindo o salário, diminuindo benefícios; aumenta jornada e não está preocupada com isso porque os trabalhadores estão registrados por outra pessoa jurídica; e, por fim, aumenta o número de acidentes de trabalho. E, para piorar ainda mais a situação, a Superintendência ainda apontou condições análogas às de escravos a que são submetidos os que trabalham na expansão de redes no interior. Trabalhadores que passavam até 26 dias fora de casa a trabalho, dormindo em alojamentos sem janelas, sem colchões ou com colchões mofados, com fiação elétrica exposta e sem local para armazenamento de alimentos –para em seguida receber quatro dias de folga.

Por que o trabalho terceirizado tem cresceu tanto na Celpe? Isso tem relação também com a qualidade do serviço?
Com a privatização da empresa, foi expandido enormemente esse processo de terceirização. Sabemos também que, nesse período, houve uma considerável elevação do valor da tarifa de energia elétrica. Mas não é possível dizer se houve ou não melhora, porque sabemos que a Celpe nesse período posterior à privatização expandiu a atuação e o número de consumidores, mas, ao mesmo tempo, houve uma elevação drástica da tarifa. Portanto, essa é uma análise que não cabe ao Ministério Público do Trabalho fazer, para afirmar se houve ou não melhora do serviço prestado. Agora, em relação às condições de trabalho, certamente houve uma degradação total, uma piora considerável. E por que isso? No meu entender, pelo lucro, pelo egoísmo capitalista da empresa de sonegar direitos trabalhistas para obter um lucro maior. Ela reduz o valor do salário e reduz o valor dos benefícios, demanda uma quantidade maior de horas de jornada de trabalho e essa busca incessante pela produtividade numa atividade que é perigosa. Hoje as decisões judiciais têm sido no sentido contrário a se admitir meta de produtividade em atividade insalubre ou perigosa. Por exemplo, já tem até uma lei de motoboy que veda estabelecer produtividade para esse profissional, porque o que acontece muito – e a gente sabe que, embora exista a lei, há empresas que a descumprem – é que o motoboy tem que entregar a pizza e voltar em um determinado espaço de tempo. Isso, em uma atividade perigosa, gera acidentes de trânsito, acidente de trabalho no caso. Na cana-de-açúcar já há atualmente muitas decisões também contrárias à meta de produtividade porque é uma atividade extremamente desgastante. A atividade perigosa como essa da Celpe, em que já foram constatadas a terceirização ilícita, a jornada excessiva, o trabalho em condições análogas às de escravo, o descumprimento de normas de segurança e de saúde. E já foi encontrado eletricista analfabeto, o que é proibido, porque eletricista não é só aquele que conserta uma tomada na sua casa, o profissional da Celpe tem que entender e ler aqueles quadros todos. A Norma Regulamentadora não permite. Era terceirizado, mas a Celpe tem conhecimento porque tem cadastro de tudo. Foi denunciado ainda o fato de ajudante de eletricista a substituir o eletricista, o que também não pode ser, porque a formação é outra. Foi constatada a ausência de equipamento de proteção individual adequado, enfim. Os veículos das terceirizadas, apontou-se, eram veículos na maioria das vezes fornecidos pela Celpe, só que os melhores estavam com os trabalhadores diretamente contratados pela empresa, enquato os mais desgastados, com pneus carecas e bancos com molas expostas e rasgados, esses ficavam com as terceirizadas. É basicamente isso. E aí tivemos a primeira audiência, e a sentença deve sair por esses dias.

Quem pode apresentar denúncias ao MPT e como contar com a atuação do órgão?
Qualquer pessoa pode apresentar denúncia – até pode pedir que a denúncia seja resguardada, que os dados do denunciante sejam preservados sob sigilo. Então, é qualquer pessoa, não precisa ser o próprio trabalhador. E, em relação ao tema, pode ser qualquer descumprimento das normas trabalhistas que afete o interesse da coletividade. Porque o Ministério Público do Trabalho não atua na questão individual;  quando há um prejuízo individual a um trabalhador, ele poderá ter a defesa do sindicato, ele próprio ajuizar uma ação na Justiça ou esperar a fiscalização do Ministério Público do Trabalho. O Ministério Público do Trabalho atua quando há possível lesão a direito coletivo. Por exemplo, se uma empresa está com vazamento de amônia e esse vazamento pode causar prejuízo à saúde de vários trabalhadores. Ou quando a empresa está sem pagar os salários dos empregados, o que então configura uma questão do ponto de vista coletivo. Aí, sim, o Ministério Público do Trabalho atua.

Thiago Santos, Recife

Em defesa da língua e da soberania nacional

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No ano de 1953, quando a burguesia estadunidense reinava na França, aproveitando-se do seu enfraquecimento ocasionado pela ocupação nazista alemã (1940-1944), o economista e sociólogo Alfred Sauvy (1898-1990) escrevia amargurado no jornal Le Monde (edição de 05/08/1953):

“…Não se escreve mais États-Unis ou E.U. nos nossos textos, mas U.S.A. Esta inocente substituição não será o efeito da atração exercida pelo credor sobre o devedor, pelo protetor sobre o protegido?… Estas fraquezas contribuem poderosamente para a destruição do francês… A servidão linguística leva diretamente à servidão cultural”.
Imagine Sauvy brasileiro, vivendo na atualidade. Ele faria suas pesquisas pela internet, inclusive, em trânsito, utilizando um notebook ou um iPad, trocaria ideias com seus colegas via e-mail, pelo MSN ou Facebook. No seu escritório, sentindo fome, ligaria para um restaurante delivery ou iria ao shopping mais próximo, almoçar num self-service ou, devido à pressa, lancharia num  fast-food.  Nas palestras e cursos, utilizaria um data-show, daria um time para o coffee-break e se preocuparia com o feed-back dos alunos. É dizer, Alfred Sauvy enfartaria.

Língua e dominação

Conta o Gênesis (livro da Bíblia Cristã) que na Babilônia, há alguns milênios, os homens se julgaram capazes de chegar até Deus por meio de uma torre para questionar qual a razão de Ele tê-los jogado nesse Vale de Lágrimas. Lançaram-se à obra; já atingiam as nuvens mais baixas, quando o Senhor do Universo, sentindo-se ultrajado, decidiu impedir a façanha. E o fez, obrigando-os a falar línguas diferentes. Eles não se entendiam; tiveram de parar. O projeto ficou conhecido como Torre de Babel, que significa Torre da Confusão.

Os homens aprenderam a lição. As classes dominantes passaram a aplicá-la no controle das classes dominadas. Sabemos que, no Brasil, durante o regime de Escravidão (1530-1888), os fazendeiros compravam escravos de nações diferentes para dificultar a comunicação entre eles, pois falavam línguas diversas. Eles tiveram de aprender o português.

Desde a pré-história, os grupos ou nações dominantes buscam impor sua cultura à dominada, especialmente a língua, que é elemento fundamental da nacionalidade. O português, como as demais línguas neolatinas (espanhol, italiano, romeno, catalão) resultaram do domínio do Império Romano no Ocidente durante cinco séculos (24 a.C. – 476 d.C.). Em nosso país, a língua portuguesa foi imposta pelos colonizadores que desembarcaram de Portugal e exterminaram a cultura e promoveram impiedoso genocídio das nações indígenas.

Fica evidenciado que a língua é meio de comunicação, e expressa os interesses de quem a utiliza; manifesta a ideologia e a relação de poder entre classes e nações.

Os elementos que compõem a nacionalidade são constituídos historicamente desde a pré-história e se consolidaram na época do capitalismo ascendente, com o fortalecimento dos mercados nacionais, na luta contra a fragmentação feudal. Para a burguesia comercial, interessava a existência de nações fortes, unitárias. Assim, “províncias independentes, apenas federadas entre si, tendo interesses, leis, governos e tarifas alfandegárias diferentes, foram reunidas em uma só nação, em um só interesse nacional de classe, atrás de um único cordão alfandegário” (Marx). Hoje, após o êxito de inúmeras lutas de libertação nacional e revoluções socialistas, a burguesia tem como estratégia a formação de blocos econômicos e a chamada globalização, e tenta convencer de que o conceito de soberania nacional está ultrapassado.
Mas em momentos de crise econômica profunda, como ocorre atualmente, o rei fica nu, com a burguesia de cada país defendendo seus próprios interesses, bombardeando, inclusive, as nações que não queiram se submeter à sua lógica de dominação (Iraque, Afeganistão, Líbia, ameaças ao Irã, etc.).

As burguesias dos países periféricos, por sua vez, não têm nenhum sentimento de nacionalidade, embora formalmente o manifestem. Sua pátria é o lucro e, para esse fim, se associam às burguesias externas, imperialistas e dilapidam as riquezas nacionais (destruição da Amazônia, extração dos minérios, privatizações e assim por diante).

“Outrora, a burguesia era considerada como a cabeça da nação; ela defendia os direitos e a independência da nação, colocando-os acima de tudo. Atualmente, não resta mais traço algum do princípio nacional. Atualmente, a burguesia troca os direitos e a independência da nação pelos dólares. A bandeira da independência nacional e da soberania nacional foi atirada à margem. Sem dúvida alguma, cabe a vós, representantes dos partidos comunistas e democráticos, erguer esta bandeira e levá-la adiante, se quiserdes ser patriotas, se quiserdes constituir a força dirigente da nação. Ninguém mais, a não ser vós, poderá erguê-la”  (Stálin).

Por isso, a defesa da soberania nacional está nas mãos do povo, do proletariado de cada país.

Mantendo a identidade

“Aboli a exploração do homem pelo homem, e tereis abolido a exploração de uma nação por outra nação. No dia em que cair o antagonismo das classes no interior da nação, cairá igualmente a hostilidade das nações entre si”. (Marx e Engels). Somente então será possível a verdadeira globalização, com superação das fronteiras, com a constituição de uma língua comum. Trata-se de uma longa caminhada, na qual os primeiros passos estão se dando. Nessa caminhada, é fundamental preservar a soberania, a identidade cultural de cada povo, do nosso povo.

O que devemos fazer diante da invasão linguística que vem se aprofundando, especialmente de palavras da língua inglesa (anglicismo)?  Resistirmos e utilizar palavras correspondentes na língua portuguesa. Vamos falar e escrever sítio em vez de site; ligação, em vez de link; rato, em vez de mouse; mistura, em vez de remix; desempenho, em vez de performance; regravação, em vez de remake; vaqueiro em vez de cowboy; fone de ouvido, em vez de head-phone.

E quando a palavra estrangeira não tiver uma correspondente clara em nossa língua? Ora, somos mestres em aportuguesar. Exemplos históricos: futebol (foot-ball), gol (goal), frila (free-lancer), bife (beef), Chiclete (chiklet ou chiclet) Por que, então, não dizer (e escrever), por exemplo: imeio (e-mail), islaide  (slide).

Vamos usar nossa criatividade, que é outra festejada característica do povo brasileiro!

Prof. Zacarias, doutor em Letras e colaborador de A Verdade

Ato marca os 50 anos da morte de João Pedro Teixeira

Centenas de pessoas homenagearam João Pedro Teixeira

Só um grande homem, só uma grande causa, só uma grande batalha por vencer pode permanecer, por mais de 50 anos, mobilizando pessoas e levando-as a se reunir, a sair às ruas e a celebrar. É o caso de João Pedro Teixeira (Veja A Verdade nº 7), fundador e líder das Ligas Camponesas de Sapé, pequeno município localizado entre a Zona da Mata e o Brejo do Estado da Paraíba.

No dia 2 de abril, completou-se o cinquentenário do covarde assassinato do líder camponês, à beira da estrada do distrito de Café do Vento, quando regressava da capital, João Pessoa, distante cerca de 60 km do Sítio Barra de Antas, onde vivia.

Nessa data, a cidade de Sapé reviveu suas tradições de luta e viu cerca de mil pessoas caminharem desde o Cemitério Municipal até a Praça Central para homenagear não só João Pedro, mas também todos aqueles que encabeçaram as Ligas Camponesas e tombaram na luta pela reforma agrária como “Nego Fuba” (João Alfredo Dias) e “Pedro Fazendeiro” (Pedro Inácio de Araújo).

Pela manhã, participaram do ato centenas de estudantes da rede pública de Sapé e dezenas de entidades e movimentos sociais de todo o Estado da Paraíba, e até de Pernambuco, ligados ao setor camponês, sindical, estudantil, dos direitos humanos, da Igreja Católica, ex-parlamentares, partidos políticos, secretarias de governo, universidades, etc. Destaque especial para a memória viva das Ligas nas figuras de dona Elizabeth Teixeira, Assis Lemos (professor universitário aposentado, deputado estadual cassado e ex-preso político) e Agassiz Almeida (advogado, deputado estadual cassado e ex-preso político). Ainda estiveram presentes o ex-arcebispo da Paraíba, dom José Maria Pires, e João Pedro Stédile, da Coordenação Nacional do MST. Em nome da Comissão Pastoral da Terra (CPT), uma das principais entidades organizadoras do evento, falou o padre Hermínio Canova, pároco de Barra de Antas: “Não assassinaram João Pedro, e sim plantaram uma semente. Ele era cristão de religião e um comunista de coração, um comunista de verdade”.
Já Elizabeth Teixeira emocionou a todos em praça pública ao rememorar os momentos finais de seu companheiro: “Marcharei na tua luta, foi o que eu disse ao meu João Pedro quando peguei ele morto nos meus braços. Ele era um homem muito bom. Todos os dias, antes de sair de casa,  ele beijava nossos 11 filhinhos, me beijava e dizia: ‘vou indo, mas não sei se tenho o direito de voltar’. Todo mundo sabia que estavam apenas esperando a hora certa de matar João Pedro”. Elizabeth, até então, era apenas dona de casa e esposa do líder camponês, mas jurou ao marido morto continuar sua trajetória e passou a comandar as Ligas Camponesas de Sapé. Hoje, aos 83 anos, vive em João Pessoa.
O ato foi animado a todo instante por músicas combativas em homenagem a Teixeira, e ainda foram executadas A Internacional Comunista e o Hino do Camponês, composição com letra de Francisco Julião (ex-deputado estadual e dirigente das Ligas Camponesas de Pernambuco) e música do maestro Geraldo Menucci, que veio do Recife para simbolicamente reger a execução do hino durante o ato.

À tarde, os manifestantes se juntaram aos moradores do Sítio Barra de Antas, onde foi inaugurado o Memorial das Ligas Camponesas, justamente na casa em que João Pedro viveu com a família.

O descerramento da placa e a abertura do Memorial ao público foram feitos com a participação do governador Ricardo Coutinho (PSB), uma vez que o Governo Estadual desapropriou o terreno de seu último dono, restaurou a casa e preparou o ambiente e o acervo para o Memorial.
Um grupo de militantes do PCR se fez presente desde cedo em Sapé e, durante todo o dia, mesmo debaixo da chuva que caiu diversas vezes, manteve erguida bem alto a bandeira do Partido, a bandeira do socialismo, realizando uma brigada do jornal A Verdade com cerca de 50 exemplares difundidos, particularmente da edição especial Heróis do Povo Brasileiro – nº 1, que traz um relato da vida e da luta de Pedro Teixeira. Para João Batista, natural de Sapé e membro da Coordenação do MLB na Paraíba, “este foi um dia muito especial para todos nós que estivemos aqui. Nossa cidade tem uma grande história de lutas, e João Pedro é a maior referência. Devemos a ele todo o respeito e juramos também, mais uma vez, permanecer trilhando o seu caminho”.

Viva João Pedro Teixeira!
Viva as Ligas Camponesas!

Rafael Freire, João Pessoa

Seminário Saúde e Segurança do Trabalhador

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No vídeo acima a intervenção de Serley Leal, do MLC (Movimento Luta de Classes), no Seminário Saúde e Segurança do Trabalhador, em Fortaleza.

No ar nova página da CCLCP na internet

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No ar nova página da CCLCP na internetA Corrente Comunista Luiz Carlos Prestes informa a todos e todas que sua nova página na internet já está no ar: www.cclcp.org. Ela está mais dinâmica e completa do que antes. Vários documentos da CCLCP foram compilados, assim como alguns artigos, jornais e os cursos disponíveis na Escola de Formação Luiz Carlos Prestes (EFLCP). Com o tempo novas informações serão adicionadas.

Todos os militantes e amigos da CCLCP estão convidados a contribuir com a organização da página, enviando notícias, avaliações do movimento em seu local de atuação, artigos, etc. A imprensa e Propaganda são atividades fundamentais de uma organização revolucionária. Elas servem como instrumentos práticos para o exercício da direção coletiva e da democracia da organização, para um maior alcance e difusão da política, para agitação em momentos de maior efervescência do movimento de massas e, sobretudo, como ferramenta organizadora, pois exige a formação de uma rede que com o tempo vai se destacando e profissionalizando seus organismos.

Os revolucionários devem ser capazes de no futuro enfrentar todo o aparato e a propaganda ideológica sistemática do Estado e da burguesia. É preciso estar a altura deste desafio, se utilizando das mais diversas formas (internet, rádio, TV, jornal, etc). Os instrumentos criados pelo capitalismo para a dominação se voltarão contra ele no futuro.

Polícia invade Ocupação Eliana Silva e desmonta barracos com violência

Polícia invade Ocupação Eiana Silva e desmonta barracos com violênciaCom uma ação truculenta e irresponsável a PM invadiu a Ocupação Eliana Silva em Belo Horizonte e está desmontando os barracos das famílias que ocuparam a área desde o dia 21 de abril passado.

A situação continua tensa e os próprios moradores estão sob cerco policial dentro do local, não tendo acesso a seus pertences, que estão sendo jogados num caminhão. O clima de revolta e indignação é muito grande. Há pessoas feridas no local e todo o processo ocorre sob muitas agressões e violência.

A Prefeitura não apresentou nenhum documento comprovando que a área pertence ao poder público municipal, mesmo assim a ação de despejo está sendo efetivada e não está sendo levado em conta nenhum dos critérios jurídicos para que a ação seja legítima. Trata-se de uma ilegalidade e de uma arbitrariedade sem tamanho.

As famílias continuam resistindo, apesar do forte aparato.

Blog oficial da ocupação: http://ocupacaoelianasilva.blogspot.com.br/

Redação MG

União Europeia perto dos 25 milhões de desempregados

União Europeia perto dos 25 milhões de desempregadosA Zona do Euro está à beira dos 11 por cento de desemprego (10,9 por cento) e a União Europeia aproxima-se dos 25 milhões de desempregados, segundo os dados oficiais da UE divulgados na última quarta-feira pelo Eurostat. Portugal é agora o terceiro país com a mais elevada taxa de desemprego na União e na Zona do Euro – 15,3 por cento. A Grécia está com 21,7 e a Espanha com 24,1, números relativos a janeiro deste ano. Em termos absolutos, o número de pessoas desempregadas na União Europeia aumentou 2,1 milhões entre março do ano passado e deste ano, 1,7 milhões das quais na Zona do Euro. Estes são os efeitos da austeridade enquanto as instituições europeias e os governos continuam a considerar que tal política é compatível com a criação de emprego.

A Espanha e a Grécia são os países mais afetados pelo flagelo do desemprego. A taxa subiu na Espanha de 20,8 para 24,1 entre março de 2011 e janeiro de 2012, calculando-se que se situe atualmente nos 24,4 e ultrapasse os 25 por cento no final do ano. Na Grécia cresceu de 14,7 para 21,1 entre março de 2011 e janeiro de 2012 – a elevação mais rápida em termos absolutos no país onde as políticas de austeridade correspondem a dois processos de resgate em condições impostas pela troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu, FMI).

O desemprego em Portugal, de acordo com os dados do Eurostat, está atualmente em 15,3 por cento, o terceiro mais elevado na União e na Zona do Euro, contra 12,4 por cento há um ano. Em apenas um mês, de fevereiro para março deste ano, subiu 0,3 pontos – ritmo idêntico ao dos países com taxas mais elevadas.

Mais da metade dos jovens com menos de 25 anos estão desempregados na Grécia (51,2 por cento) e na Espanha (51,1 por cento), mas em Portugal a taxa já atingiu os 35,4 por cento, uma elevação de 7,8 pontos percentuais em apenas um ano. O desemprego feminino em Portugal cresceu de 12,9 para 15,1 num ano e o masculino aumentou de 12 para 15,5 por cento.

Ao nível da União Europeia a taxa de desemprego entre os jovens atingiu os 22,6 por cento, com 22,1 por cento na Zona Euro. Há 5,5 milhões de jovens com menos de 25 anos desempregados na União Europeia, 3,35 milhões dos quais na Zona do Euro.

O desemprego na União Europeia está em progressão constante desde o segundo trimestre de 2008, coincidindo com o período de lançamento das políticas de austeridade e de reformas das leis trabalhistas em vários países, registrando-se apenas uma ligeira inflexão conjuntural no primeiro trimestre de 2011.

Fonte: BE Internacional

Luta dos metalúrgicos intensifica-se na Alemanha

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Luta dos metalúrgicos intensifica-se na AlemanhaOs metalúrgicos alemães iniciaram um processo de luta em todo o país através da realização de greves em massa durante as próximas semanas por aumentos salariais dignos, rejeitando as propostas patronais consideradas “provocatórias”.

“Exigimos uma proposta que leve a sério os trabalhadores e o seu trabalho”, declarou Berthold Huber, presidente do poderoso sindicato IG Metall, que aglutina 3,5 milhões de trabalhadores do setor metalúrgico.

Os trabalhadores exigem aumentos salariais de 6,5 por cento enquanto o patronato contrapõe três por cento em 14 meses, atitude que os dirigentes sindicais consideram “provocatória”. Os salários alemães estiveram praticamente congelados durante a última década e os trabalhadores consideram que é chegada a hora de começarem a recuperar o poder de compra perdido. A política econômica e social do governo Merkel, na sequência de reformas trabalhistas de índole neoliberal anteriormente lançadas pela coligação SPD/Verdes, tem provocado desigualdades cada vez mais profundas na sociedade alemã.

As greves foram lançadas no sábado passado e a intensificação da luta corresponde à insatisfação do sindicato com o andamento das negociações que já estão na terceira rodada.

As ações de protesto já realizadas, e que registaram adesões em massa, afetaram e afetam a produção nos maiores grupos industriais alemães, alguns de envergadura mundial como são os casos do ThyssenKrupp, Bosch, Continental, MAN, Siemens, entre outros.

A luta dos metalúrgicos segue-se à dos trabalhadores da administração pública, que realizaram numerosas greves ao longo de semanas e alcançaram aumentos salariais de 6,5 por cento em dois anos.

O frente-a-frente entre o patronato e os metalúrgicos é acompanhado com interesse por toda a sociedade alemã uma vez que o peso do setor pode influenciar todas as outras negociações salariais que venham a ser estabelecidas.

Fonte: BE Internacional

Após manifestação, prefeitura assume compromisso para projeto de moradia do MLB em Belém

Após manifestação, prefeitura de Belém assume compromisso para projeto de moradia do MLBApós ação truculenta da Guarda Municipal na noite de ontem os ocupantes da Ocupação Sá Pereira ficaram mais confiantes da luta e mais dispostos a irem até o fim em defesa pela moradia e por uma sociedade melhor.

Ainda na noite de ontem após ação de despejo as famílias se reuniram em praça pública próximo aos locais onde foi realizado o trabalho de cadastramento de preparação a ocupação e decidiram permanecer em luta realizando na manhã desta segunda um ato público que teve início no local da ocupação que estava cercado por uma tropa da Guarda Municipal e terminou em frente a Prefeitura de Belém onde uma comissão de quatro companheiros foram recebidos pelo Chefe de Gabinete do prefeito, o Sr. Oseas Junior.

Fruto do ato público ficou agendado uma reunião com o secretário de habitação do município, o Sr. Oswaldo Gonzaga, às 3 horas da tarde onde as famílias organizadas pelo MLB alcançaram uma importante conquista. O secretário assumiu compromisso da secretaria em atender o movimento incluindo as famílias num projeto para a construção de 100 casas para as famílias que ocuparam o prédio do INSS.

O MLB fará uma tentativa de se reunir com a secretária nacional de habitação, Inês Magalhães, até o dia 24, data em que haverá nova reunião entre o movimento e a prefeitura. Até esta reunião MLB e prefeitura farão pesquisas de terrenos na cidade para efetivação do projeto para 100 casas populares.

Dia 30 de junho é o prazo final para a prefeitura dar resposta sobre a viabilidade do projeto que será apresentado pelo MLB no dia 24.

Euforia e muita felicidade resumem o estado de espírito de todos que participaram da ocupação Sá Pereira, ao mesmo tempo que exige a todos que fazem parte do MLB perseverança e perspicácia para que o compromisso conquistado junto a prefeitura seja concretizado.

Para Fernanda Lopes, da coordenação do MLB, o movimento espera que a prefeitura cumpra com o compromisso firmado e que puna os responsáveis pela violência praticada pela Guarda Municipal na noite de ontem. “As famílias estão no clima de aumentar ainda mais a influência do MLB nos bairros de Belém e dispostas a lutarem com todas as forças para verem o sonho da casa própria ser realizado” afirmou Fernanda.

Blog oficial da ocupação: Ocupação Sá Pereira

Ex-delegado do DOPS confessa assassinato de militantes de esquerda durante a Ditadura

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Cela do DOPSRealizado sob o pretexto de garantir a democracia e salvar o Brasil do “fantasma do comunismo”, o golpe militar de 1964 impôs a mais ferrenha ditadura aos trabalhadores e ao povo brasileiro. Nesse período, milhares de comunistas e democratas foram presos, entidades estudantis fechadas, universidades invadidas pela polícia, sindicatos sofreram intervenção, parlamentares tiveram seus mandatos cassados, a imprensa foi censurada e greves foram proibidas.

A face mais brutal da Ditadura, entretanto, foi a tortura e o assassinato de seus opositores, homens e mulheres que lutaram bravamente pela liberdade e pelo socialismo em nosso país e que, por isso mesmo, são e sempre serão lembrados como verdadeiros heróis do povo brasileiro.

Essa semana um dos responsáveis por perseguir, prender, torturar e assassinar esses patriotas saiu da escuridão. O livro “Memórias de uma guerra suja”, que será lançado esse fim de semana, reúne uma série de depoimentos dados aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros pelo ex-delegado do DOPS (Departamento de Operações Políticas e Sociais) do Espírito Santo, Cláudio Antônio Guerra, trazendo à luz revelações importantes e históricas sobre os crimes praticados durante a Ditadura Militar no Brasil.

Guerra, que substituiu o monstro fascista Sérgio Paranhos Fleury à frente do DOPS após sua morte, dá nomes aos envolvidos nesses crimes e afirma ter sido um dos principais encarregados pelo regime de matar adversários da Ditadura entre os anos 70 e 80, tendo participado pessoalmente no assassinato de aproximadamente uma centena de pessoas durante o período, inclusive do próprio Fleury.

No livro, o ex-delegado do DOPS, que (acreditem!!!) se diz arrependido, conta como executou pessoalmente militantes de esquerda como Nestor Veras, então membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB), após uma sessão de tortura: “(Veras) tinha sido muito torturado e estava agonizando. Eu lhe dei o tiro de misericórdia, na verdade dois: um no peito e outro na cabeça. Estava preso na Delegacia de Furtos em Belo Horizonte. Após tirá-lo de lá, o levamos para uma mata e demos os tiros. Foi enterrado por nós”.

Guerra diz também que pelo menos dez corpos de militantes assassinados sob tortura foram incinerados no forno da Usina Cambahyba, de propriedade do ex-deputado federal e ex-vice-governador do Rio de Janeiro Heli Ribeiro Gomes, colaborador da Ditadura, em 1973. Segundo o ex-delegado, foram incinerados os corpos de João Batista e Joaquim Pires Cerveira (presos na Argentina pela equipe do delegado Fleury), Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva (“a mulher apresentava marcas de mordidas pelo corpo, talvez por ter sido violentada sexualmente, e o jovem não tinha as unhas da mão direita”), David Capistrano (“lhe haviam arrancado a mão direita”), João Massena Mello, José Roman e Luiz Ignácio Maranhão Filho (dirigentes históricos do PCB), Eduardo Collier Filho (militante da Ação Popular Marxista-Leninista) e Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira (ver A Verdade, nº 8).

De acordo com os depoimentos do livro, os comandantes desse tipo de operação eram o coronel do Exército Ênio Pimentel da Silveira, conhecido como “Doutor Ney”, o coronel-aviador Juarez de Deus Gomes da Silva, da Divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça, o delegado da Polícia Civil de São Paulo Aparecido Laertes Calandra, o coronel do Exército Freddie Perdigão, do Serviço Nacional de Informações (SNI), o comandante Antônio Vieira, do Cenimar, e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do Departamento de Operações de Informações do 2º Exército (DOI-Codi) e notório torturador.

Essas e outras revelações feitas pelo ex-delegado Cláudio Guerra apenas reforçam a necessidade de que a Comissão Nacional da Verdade, que está preste a ser nomeada pela presidenta Dilma Rousseff, deve cumprir com a tarefa de lançar uma luz sobre a nossa história, permitindo efetivamente que se conheça o que ocorreu nos vinte e um anos de ditadura, identificar os responsáveis e fazer justiça. Não é justo que enquanto centenas de famílias permanecem sem saber como morreram e que fim levaram os corpos de seus entes queridos, criminosos e torturadores confessos continuem impunes, circulando livremente pelas ruas e pelas instâncias de poder do país, muitos deles sendo tratados, inclusive, como homens honrados. É preciso que a justiça seja feita, os crimes da Ditadura apurados e seus responsáveis devidamente punidos. Está na hora do Brasil abrir essa caixa preta e reescrever sua própria história.

Heron Barroso