UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sábado, 19 de abril de 2025
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Conferência de Mulheres é debatida em Natal

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O Movimento de Mulheres Olga Benario promoveu, no dia 11 de abril, o lançamento da Conferência de Mulheres das Américas no Rio Grande do Norte. O evento foi realizado no auditório da Fundação José Augusto, em Natal, e contou com a participação de aproximadamente cem pessoas, em sua grande maioria, mulheres.

Após a abertura, formou-se a mesa de debate: “A luta das mulheres é internacional!”, da qual participaram Luciana Gomes, coordenadora nacional do Movimento; Dione Caldas, diretora do Teatro Alberto Maranhão, representando o Governo do Estado; Jôse Lucas, secretária Municipal de Mulheres; representante da Secretaria Estadual de Mulheres e da deputada Márcia Maia.

Todas as debatedoras saudaram e parabenizaram o movimento pela iniciativa e destacaram a importância da Conferência para o movimento de mulheres em nível nacional e internacional. Expuseram também sobre a necessidade de avançar na organização e na luta das mulheres. Foram discutidas as questões específicas do Rio Grande do Norte, como a necessidade do aumento no número de creches, a urgência da construção de casas, o direito à formação acadêmica para as mulheres, a quantidade crescente de casos de violência contra a mulher, etc. Foi levantada ainda a discussão do trabalho nas penitenciárias femininas, onde grande parte das mulheres está presa por reagir às agressões de seus parceiros.

Demonstrando uma grande determinação em levar uma representativa delegação para a Conferência das Américas, em São Paulo, e de desenvolver as lutas das mulheres no RN, todas as presentes aprovaram como bandeiras de lutas: salas para crianças nas escolas de Educação de Jovens e Adultos, para que as mães se concentrem em sua formação; campanha de combate a qualquer tipo de violência à mulher (física, psicológica, moral ou sexual); direito à moradia digna; ampliação de vagas nas creches e ampliação do número de Delegacias da Mulher. As instituições presentes se colocaram à disposição para ajudar a delegação potiguar.

O debate foi encerrado homenageando as mulheres que defenderam, com sua própria vida, os direitos femininos e de toda classe trabalhadora: “Margarida, Olga, Dandara e Zeferina, suas vidas são exemplos da luta feminina!”

Samara Martins e Luciana Gomes, Natal

Movimento Olga Benário organiza Encontro Continental de Mulheres

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Nos dias 18, 19 e 20 de maio será realizada, na cidade paulista de São Bernardo do Campo, a 1ª Conferência de Mulheres das Américas. O encontro continental foi marcado durante a Conferência das Mulheres de Base que se realizou em março de 2011 na Venezuela e teve a participação de mais de 30 países e de 21 mulheres brasileiras.

São Bernardo foi a cidade escolhida para o evento pela tradição de luta de seus trabalhadores e por apresentar as condições necessárias para acolher o evento. Até o momento, cerca de oito países já confirmaram presença. A responsabilidade de organização dessa Conferência no Brasil é do Movimento de Mulheres Olga Benario.

O documento que convoca o Encontro afirma: “Nosso Encontro ocorre num momento de ressurgimento da luta dos trabalhadores e trabalhadoras contra mais uma crise do capitalismo e dos povos por sua libertação e independência. Somos nós, mulheres, que sofremos as consequências desse sistema capitalista e de suas crises. Somos nós que sentimos na pele a pobreza, o desemprego, o trabalho com baixos salários. Somos duplamente exploradas e oprimidas pelo capitalismo, já que somos parte das classes trabalhadoras, oprimidas por nossa condição de gênero.

Para combater essa situação, em particular na América Latina, as mulheres se organizam para lutar pelo respeito aos seus direitos, por uma vida digna e com saúde, educação e bem-estar, visto que a imensa riqueza criada com o trabalho e os esforços de milhões de trabalhadores hoje serve apenas para satisfazer o desejo insaciável de lucro dos ricos capitalistas. Estamos decididas a nos unir e a lutar por nossos direitos e por uma sociedade sem exploração, sem opressão e sem discriminação, e, por isso, realizaremos esse encontro continental.”

Participe da Conferência! Faça sua inscrição pela internet: www.conferenciademulheresdasamericas2012.blogspot.com.br ou ligue para o jornal A Verdade em seu estado.

Da Redação

Luiza Maia: “As mulheres precisam tomar iniciativas”

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No dia 20 de março, a Assembleia Legislativa da Bahia aprovou o Projeto de Lei nº. 19.237/2011 (Lei Antibaixaria), iniciativa pluripartidária da Comissão da Mulher da Assembleia. O projeto que foi sancionado pelo governador Jaques Wagner proíbe “o uso de recursos públicos para contratação de artistas que, em suas músicas, desvalorizem, incentivem a violência ou exponham as mulheres à situação de constrangimento, ou contenham manifestações de homofobia, discriminação racial ou apologia ao uso de drogas ilícitas”.

A autora do projeto, deputada estadual Luiza Maia (PT), em entrevista a A Verdade fala da importância dessa lei e da necessidade de as mulheres se organizarem para lutar pelo socialismo.

A Verdade: Qual é importância da Lei Antibaixaria para a sociedade baiana?

Deputada Luiza Maia – Era necessário colocar na agenda da sociedade esse debate, pois estava crescendo a violência simbólica e psicológica contra as mulheres. Precisávamos de um projeto que pudesse, pelo menos, impedir a utilização das verbas públicas no fortalecimento e reprodução desse tipo de violência contra a mulher. A grande maioria da população conhece as letras, que, em geral, fazem referência às mulheres: “coloca aqui…”, “a sua cachorra…”, e assim por diante. As pessoas que produzem essas músicas, que chamamos de baixaria, não têm esse direito, mas o fazem cada vez mais e ganham muito dinheiro. Ainda há uma parte da grande mídia apoiando. Estou no meu primeiro mandato de deputada, mas fui vereadora da minha cidade, Camaçari. Lá nós fizemos uma discussão com o prefeito, e colocamos que não dava mais para utilizar dinheiro público, contratando bandas que difamam a imagem das mulheres. Então foi a primeira cidade a ser resolvido. Mas ainda há enfretamentos que temos que fazer, pois algumas bandas dizem que não vão tocar e, na hora, tocam. Para isso, consta no projeto aprovado que, qualquer órgão público que contratar uma banda e não cumprir a Lei Antibaixaria está sujeito, a pagar uma multa no valor de R$ 10.000, além, do descumprimento por parte do contratado, que ficará sujeito ao pagamento de multa no valor equivalente a 50% do valor do contrato. Esse é um momento para a sociedade refletir, que ninguém tem o direito de xingar, desrespeitar, desvalorizar a mulher, que é a maioria da população. Nós sabemos que esse projeto não vai resolver o problema do machismo, pois ele está incrustado na nossa cabeça, inclusive das mulheres. Para desconstruir isso não será apenas com um projeto de lei, de uma hora para outra. Mas o principal objetivo dele é colocar a sociedade para refletir sobre essa questão. Já são nove meses de debate aqui na Bahia, e foi a pressão da sociedade, dos movimentos, que conseguirmos aprová-lo. Eu acho que foi um grande avanço para sociedade baiana, um passo largo que demos contra a violência à mulher, mas ainda temos a bandeira empunhada muito tempo para desconstruir esses valores machistas na sociedade.

Alguns acusam seu projeto de querer censurar a liberdade artística e cultural, o que você acha disso?

É um argumento fácil de ser desconstruído porque tivemos o apoio de várias instituições e profissionais como advogadas, as pesquisadoras do curso de Literatura e Estruturação Musical da UFBA. Em vez de ser censura, o projeto regulamenta a Constituição Estadual e a própria Constituição Federal, quando diz: “É papel do Estado zelar pela dignidade do ser humano, tanto o homem como a mulher, em condições de igualdade”.

Quem discorda do projeto fica enfeitando falsas polêmicas. No primeiro momento, as bandas que cantam pagodes ficaram estressados comigo, me xingaram, me ameaçaram nas redes sociais, mas aí agente foi enfrentando a discussão. Não tenho nada contra o pagode, eu sou pagodeira, não estou fazendo demagogia não, mas o que esses meninos têm que refletir, o que não concordamos, é com essas letras que degradam a imagem da mulher. O problema não é o ritmo, mas o conteúdo.

Nós fomos ganhando a sociedade para isso, e essas músicas incomodavam muito as mulheres na Bahia. O apoio que tivemos foi muito grande, pois constrangia muito as mulheres e nada se fazia, ninguém tinha coragem de fazer esse projeto.

Você sempre esteve na luta pela igualdade entre homens e mulheres e por uma sociedade justa.  A que você atribui esse momento de avanço das mulheres nas lutas em vários países?

Eu acho que a mulher, no decorrer da história, vem tendo consciência do seu papel, e vem ocupando esse lugar, saindo do espaço doméstico e vindo trabalhar. Claro que muito mais por uma necessidade de vida. Hoje temos 40% dos lares brasileiros chefiados por mulheres, mas acho que ainda é pequena a representação nos espaços mais importantes. Ela chega ao mercado de trabalho, mas para chegar às chefias, aos cargos mais importantes, não tem conseguido. Na Assembleia Legislativa da Bahia, dos 63 deputados, apenas 11 são mulheres. Na Bahia são 417 municípios e temos apenas 47 prefeitas. É preciso muita determinação, dedicação, nossa escolha de estar na militância, pois temos muitos obstáculos a serem superados. Acho que falta retornar para o movimento de mulheres a pauta do socialismo. A gente sabe como o capitalismo tem a capacidade de renovação, colocando outra cara, e como tem muita força nos meios de comunicação, o que acaba tirando da pauta o socialismo. Para mim, o capitalismo está fracassado, não resolve os problemas das desigualdades da humanidade. Nós temos um bilhão de seres humanos morrendo de fome, e essa questão da mulher não está descolada disso, por que nós sabemos que no capitalismo tudo vira mercadoria, inclusive a mulher, principalmente a mulher jovem. É a destruição do valor da mulher como ser humano para ter valor somente como corpo. As mulheres precisam tomar iniciativas de se organizar. A organização não vai cair do céu para os trabalhadores, temos que nos organizar e lutar. Não podemos achar que, só por que elegemos uma mulher como presidente, serão resolvidos os problemas das mulheres. Não vai, e não por que ela não queira, mas é o sistema. A concentração de riqueza nesse Brasil é muito grande.

Que mensagem você deixa aos leitores do jornal A Verdade?

Temos ainda muito pouco no Brasil uma literatura que fale mais das consequências do capitalismo. Acho importante o jornal A Verdade, que tem o papel de esclarecer a população de seus direitos e do poder da sua luta.

Claudiane Lopes, Salvador

Trabalhadores italianos perdem seus direitos

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Continua o processo de retirada dos direitos dos trabalhadores na União Europeia. A burguesia da Europa, representada pela troica formada pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, os dois primeiros sob controle das principais famílias de grandes empresários europeus e o último principalmente controlado pelos EUA – nos três casos, submetidos às decisões dos grandes bancos de seus respectivos territórios – vem sistematicamente atacando os direitos dos países do continente. Já o fizeram com Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Islândia (tendo esta, através de levantes populares, destituído todo o seu antigo parlamento e rompido suas relações com o capital financeiro internacional). Agora é a vez da Itália. Tudo sob a justificativa da “crise econômica e da alta dívida pública”.

A crise econômica por que passam os países ricos nada tem a ver com os trabalhadores. É uma crise estrutural do sistema capitalista, na qual o capital financeiro cresce em velocidade muito maior que a da economia real. O atual processo começou nos EUA, durante a década passada, quando os maiores proprietários de imóveis começaram a aumentar os preços muito acima dos reais valores de mercado, tentando a sorte para ver se dava certo (a famosa especulação imobiliária). Como a economia norte-americana é baseada no capital financeiro, os bancos resolveram apoiar a sua própria especulação através do crédito, e a população aceitou a aquisição dessas “casas supervalorizadas”, endividando-se com os principais bancos e instituições financeiras do país. O problema é que todo esse “dinheiro” não era real; todos adquiriram imóveis caríssimos com um dinheiro que não tinham, e, com o aumento do desemprego (necessário ao sistema capitalista para manter o seu nível de exército de reserva) e o achatamento do salário real (aprofundamento das contradições de classe, também explicadas por Marx), os EUA se viram num processo de “calote” geral por parte de uma população que não tinha condições de pagar suas altas dívidas, mas precisava de uma casa para morar, como precisamos todos nós, seres humanos. Esta foi a queda da primeira peça de um efeito dominó que seguiu com a quebra dos principais bancos e instituições financeiras daquele país, e que colocou abaixo todo o sistema financeiro estadunidense, afundando o país numa crise da qual não consegue sair até hoje.

Como todos sabemos, e como já nos dizia Lênin, o capitalismo, em sua fase superior, tem como característica a internacionalização de seus principais mercados (o mercado financeiro, em primeiro lugar), os países ricos principalmente. Foi exatamente desta forma que a crise dos EUA chegou à Europa, sua principal parceira econômica: EUA e União Europeia têm mercados financeiros praticamente dependentes, e uma queda do sistema nas principais bolsas de um lado causa imediato impacto no sistema financeiro do outro. Os governos da UE, submissos aos grandes bancos internacionais, imediatamente lançaram seus planos de salvação e de apoio a grandes bancos e instituições privadas. Pagaram a primeira parcela da crise com dinheiro do povo, arrecadado dos impostos pagos por trabalhadores assalariados. Porém, a crise não passou, como anunciaram os representantes da burguesia internacional. No caso da UE, a situação é ainda pior, pois, como participam da moeda única, o euro, os bancos centrais dos países estão submissos ao Banco Central Europeu e não têm mais a emissão de moeda como política monetária, famoso “enxuga-gelo” dos governos capitalistas para sanar seus problemas sistêmicos no curto prazo. Consequência: alta dívida pública por parte dos países europeus (além da crise já instaurada).

E o pior ainda está por vir. Nos últimos 20 anos, cresceu uma nova categoria de trabalhadores, que não é considerada desempregada pelos dados estatísticos: o trabalhador precário. São todos aqueles que trabalham, mas não são beneficiados pelos direitos que têm os trabalhadores do país: trabalhadores sem contrato, estagiários, trabalhadores part-time, contratos sem vínculo empregatício, etc. Estes últimos são a grande manobra de grandes empresários para não pagar direitos a trabalhadores e não ter com eles vínculo empregatício: segundo as leis italianas, contratos de trabalho de três ou seis meses após uma renovação de mais três meses não criam vínculo. Isto significa que o trabalhador não pode requerer seus direitos caso seja mandado embora ou seu contrato não seja renovado. Um caso recorrente no país, utilizado em larga escala por muitas empresas consideradas “sérias” nos padrões internacionais, ocorre quando um trabalhador é contratado por três ou seis meses, depois tem seu contrato renovado por mais 3 meses, e depois é colocado na “geladeira”. A maioria dos trabalhadores se submete a isso, pois não há escolha, e fica muitas vezes mais de três meses sem trabalhar e sem salário, aguardando uma resposta e procurando outro trabalho. Em muitos casos, o trabalhador não é readmitido, sendo substituído por outra pessoa que também trabalha sob o mesmo sistema. Tudo isso, segundo as próprias empresas, para “evitar qualquer relação que possa ser identificada como vínculo empregatício, evitando assim problemas judiciais futuros”. Segundo o Eurostat, em 2010, os trabalhadores precários já representavam aproximadamente 12% dos trabalhadores “empregados” do país.

A reforma trabalhista

Em abril, o primeiro-ministro italiano Mario Monti anunciou o que seria o texto final da reforma trabalhista no país. Esta seria parte de um pacote de austeridade maior, já começado por Silvio Berlusconi. A primeira parte foi o corte de “gastos” públicos: diminuição do investimento em educação, saúde e serviços públicosem geral. Muitoscursos universitários de graduação e pós-graduação fecharam em 2011. Restaurantes universitários de todo o país sofreram aumento de preços e concursos para professores, e profissionais da área de saúde estão suspensos por tempo indeterminado.

A sequência vem com o Governo Monti, um “governo técnico”, não eleito através do voto pelos cidadãos italianos, mas sim com um primeiro ministro “recomendado” pelo Parlamento Europeu. A reforma trabalhista também segue os padrões impostos internacionalmente pela burguesia aos governos: a proposta é “flexibilizar” o mercado de trabalho italiano, com leis “menos rígidas” na regulação das relações de trabalho, o que “aumentaria o nível de empregos” no país. A proposta inclui o aumento dos impostos de trabalhadores autônomos, ou aqueles que trabalham como pessoa jurídica. Propõe também o aumento da participação das agências de emprego como intermediadoras entre as empresas e os trabalhadores, com incentivos a estas empresas e vagas preenchidas através dessas agências; uma vez preenchida a vaga, é claro, será pago um preço pelo serviço prestado: como sabemos, no capitalismo até o desemprego é mercadoria.

A reforma ainda propõe uma modificação no artigo 18 da Constituição italiana (que regulamenta as demissões de trabalhadores privados no país, chamado de Estatuto dos Trabalhadores). Em termos práticos, a proposta é “flexibilizar” as demissões em contratos por tempo indeterminado. Atualmente, o artigo diz que a única forma de o empregador demitir um empregado sem cumprir com obrigações de indenização é a demissão por justa causa. O critério para a consideração da demissão por justa causa ocorre em situações consideradas gravíssimas pelo art. 18, como envolvimento em brigas no ambiente de trabalho, agressão a colegas ou superiores, causar danos materiais a equipamentos de trabalho e outros casos semelhantes. A reforma propõe que durante processo na Justiça do Trabalho o juiz possa decidir segundo sua própria avaliação se a justificativa do empregador é considerada como justa causa, por considerar a lista de possíveis justas causas para demissão muito “rígida”. Outra proposta de alteração ao art. 18 está na reintegração ao posto de trabalho. Segundo a lei, caso após processo judicial seja provado que a demissão não ocorreu sob justa causa, o trabalhador tem direito à reintegração ao seu posto de trabalho (ou seja, ele volta a trabalhar exatamente onde estava quando foi demitido). A proposta da reforma é extinguir a reintegração, tendo o trabalhador somente direito à indenização, após provada a inexistência de justa causa na demissão. A proposta prevê ainda a possibilidade de considerar como justa causa a demissão de trabalhadores por problemas econômicos da empresa (a empresa decreta falência e não precisa pagar os direitos aos empregados.

A troica e os representantes da burguesia nela presentes dizem que as atuais leis trabalhistas são desinteressantes aos “investidores internacionais”, pois são muito “rígidas”, tornando o país menos “atraente”. A verdade infelizmente é outra: os tais investidores internacionais não existem, pois a maioria das grandes empresas norte-americanas e europeias que teriam condições de sustentar um investimento na Itália está à beira da falência. O que esta reforma vai causar – e as burguesias italiana e europeia, assim como o Governo, sabem perfeitamente – é um processo de demissão em massa, sem quaisquer direitos aos trabalhadores. O atual Estatuto do Trabalhador foi uma conquista obtida depois de muitos anos de luta dos trabalhadores italianos. O país tinha um dos maiores partidos comunistas do mundo, o PCI, com tradição de luta desde o período de seu principal dirigente, Antonio Gramsci, e que esteve à frente das principais batalhas nas conquistas dos trabalhadores italianos. Mais uma vez, a burguesia vem retirar os poucos direitos conquistados, porém os trabalhadores de todo o país se organizam para resistir ao roubo de seus direitos.

Eloá Santos. Roma

Argentina expropria multinacional espanhola

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O Senado argentino aprovou, por ampla maioria, o projeto de lei enviado pela presidente Cristina Kirchner ao Congresso, no final de abril, que declara de interesse público a exploração do petróleo e seus derivados no país e reestatiza a empresa YPF, antiga estatal privatizada na década de 1990.

A partir de agora 51% das ações da YPF serão retomadas pelo governo argentino, ficando este com 26,06% e as regiões produtoras com 24,99%, enquanto os 49% restantes serão de responsabilidade das províncias (estados) nos quais a empresa atua. A YPF é a líder no mercado de combustíveis na Argentina, controlando 52% da capacidade de refinamento do país e dispondo de uma rede de 1.600 postos.

De acordo com o relator do projeto, o senador Marcelo Fuentes, da Frente para a Vitória, a expropriação das ações de YPF nas mãos da Repsol “marca o início do caminho para a recuperação da soberania energética e deve necessariamente definir nossa postura frente ao resto das petroleiras”. Já para a presidente Cristina Kirchner, o objetivo da medida é alcançar a autossuficiência do país em petróleo. “A Argentina é o único país da América Latina que não maneja seus recursos naturais”. Ela também afirmou estar seguindo o exemplo de outros países que têm o controle da maioria dos seus recursos de hidrocarbonetos, como Arábia Saudita, Irã, China, Venezuela, México, Chile, Uruguai, Nigéria, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Kuwait e Noruega.

De fato, nenhum país soberano pode abrir mão do controle de bens e recursos estratégicos. Logo, a decisão do governo argentino não é apenas justa, mas também lógica. A YPF é a única companhia nacional de petróleo e gás do país, mas foi vendida à Repsol por apenas US$ 15 bilhões em 1999, durante a onda de privatizações que atingiu a Argentina. Desde então, a produção de petróleo e gás argentinos caiu, a exploração de novas reservas foi interrompida e o país hoje importa o produto. Somente entre 2003 e 2010, o consumo de petróleo e gás subiu 38% e 25%, respectivamente, enquanto a produção caiu 12% e 2,3% no mesmo período.

A privatização da YPF tem custado muito caro à Argentina. Estima-se que o rombo do setor este ano será de 60 bilhões de dólares (há apenas três anos o setor era superavitário). “Depois de dezessete anos, pela primeira vez em 2010, tivemos que importar gás e petróleo. Também tivemos redução no saldo comercial devido à queda nas exportações do setor, que entre 2006 e 2011 foi de 150%”, afirmou Cristina Kirchner. Como se vê, não faltaram motivos ao governo argentino para expropriar a empresa e retomar para seu controle a exploração do petróleo e gás nacionais. Aliás, qualquer governo minimamente comprometido com os interesses do país teria feito o mesmo.

Privatização da YPF demitiu 36 mil trabalhadores

Durante todos os anos em que a YPF foi uma empresa pública, os trabalhadores da estatal estavam entre os que mais possuíam direitos e conquistas trabalhistas. Contratos coletivos de trabalho altamente protecionistas e amplos direitos sociais, além de moradia, hospitais, educação, instituições de repouso e lazer eram garantidos aos trabalhadores e suas famílias. Entretanto, com o início do processo de privatização, no começo dos anos 1990 essas conquistas foram destruídas e mais de 36 mil trabalhadores foram demitidos compulsoriamente entre 1990 e 1994.

A decisão argentina de expropriar a petrolífera gerou reações dos governantes espanhóis e de grande parte dos economistas burgueses, todos ainda defensores do receituário neoliberal que levou o mundo à atual crise econômica. Para Antônio Brufau, presidente da Repsol, a expropriação de sua empresa foi, além de uma quebra de contrato, uma maneira encontrada pelo governo argentino de “esconder a crise social e econômica que o país enfrenta”. Entretanto, a razão de tanta indignação nada tem a ver com “acordos quebrados” ou coisa do tipo, uma vez que os mesmos governantes e grandes capitalistas que se levantam contra tais medidas são aqueles que todos os dias rasgam acordos e contratos trabalhistas, reduzem salários e aposentadorias e cortam verbas de serviços públicos essenciais à população. O que na verdade provoca tamanha indignação desses senhores e de seus meios de comunicação é a perda de uma teta para mamar.

A nacionalização do petróleo e do gás argentinos e os demais acontecimentos similares que observamos na América Latina, como as nacionalizações na Venezuela e Bolívia, servem de exemplo para todos os países e povos do mundo, que tiveram suas riquezas entregues nas mãos de grandes monopólios e que hoje lutam pela reconquista de sua soberania.

Heron Barroso, Rio de Janeiro

CPC: a cultura como uma trincheira de luta

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Abril de 1964, a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) é destruída pela Ditadura Militar fascista, e, junto com ela, é reprimida uma das mais avançadas organizações culturais do país. O Centro Popular de Cultura (CPC) surgiu em 1962 com o objetivo de disseminar a cultura popular revolucionária e apontar as contradições do sistema capitalista, colocando-se ao lado do povo na produção artística.

A sede da UNE, no Rio de Janeiro, foi a mais conhecida da organização do CPC, contudo, o movimento cultural não se restringiu a este estado e, por meio da UNE Volante, nos anos de 1962/1963, foram criados CPCs estaduais, geralmente ligados a ma União Estadual dos Estudantes (UEE).

Muitos dos ideólogos partidários da arte burguesa acusam falsamente a arte engajada do CPC como uma arte panfletária, portanto, inferior, que valoriza mais o conteúdo do que a estética. Vale ressaltar que tal conceito, tomado como universal e absoluto, é uma mostra da percepção burguesa do mundo, reflexo de uma classe dominante que despreza totalmente as manifestações artísticas que contestam a exploração e a injustiça do sistema capitalista.

Vianinha e o Teatro Militante

Num contexto de estruturação da indústria cultural na década de 1960, iniciaram-se as discussões sobre como o teatro brasileiro poderia ser valorizado e disseminado. Ocorria um debate nacional acerca de como popularizar e politizar o teatro brasileiro.

O Teatro de Arena passa a incorporar esta discussão de se fazer teatro a partir de peças brasileiras que valorizassem a cultura do país, além de denunciar a situação do povo, contudo, por ser de iniciativa privada, possuía limitações: altos preços de ingressos e apresentações em teatros que não eram frequentados pela maioria da população trabalhadora. O principal autor dessas críticas ao Teatro de Arena era Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, que defendia peças apresentadas nas ruas, praças, fábricas, escolas, universidades, sindicatos, gratuitamente ou a preços baixíssimos, e principalmente que tivessem por base a teoria marxista, ou seja, defendia o desenvolvimento de um teatro militante.

A UNE Volante

A peça A mais-valia vai acabar, seu Edgar é a que melhor representa a experiência do teatro militante construído por essa organização de artistas, que passava ao público os conceitos básicos do marxismo, mostrando como eles estavam presentes na vida cotidiana do trabalhador, utilizando uma linguagem direta, simples.

Foi então que, em 1962, Oduvaldo Vianna Filho, Carlos Estevam Martins e Leon Hirszman propuseram à diretoria de UNE a criação de um curso de filosofia que utilizasse a peça A mais-valia vai acabar, seu Edgar como ferramenta didática. A partir dessa experiência, nascem as condições para a organização do CPC da UNE.

A partir da UNE Volante, projeto que proporcionava debates sobre a Reforma Universitária e apresentações teatrais do CPC nas capitais do Brasil, surgem 12 Centros no país.

O CPC possuía várias características que o diferenciavam dos demais movimentos culturais, pois trazia a proposta da arte como ferramenta de elevação da consciência da classe trabalhadora, uma arte que denuncia as injustiças do sistema capitalista e congregava todos os artistas (escritores, atores, artistas plásticos, compositores, músicos, etc.) que possuíssem o compromisso de produzir intelectualmente em prol da classe operária. Além das produções artísticas, os CPCs também promoveram alfabetização com cartilhas e livros de leitura baseados no método de Paulo Freire. Entre os envolvidos no CPC estavam os artistas Tom Zé, Capinam, Cacá Diegues, Carlos Lyra, Sérgio Ricardo, João do Vale.

Retrocesso

Infelizmente, a diretoria da UNE, composta majoritariamente há anos por setores reformistas, renega o compromisso da arte engajada do CPC da década de 1960. As iniciativas culturais da entidade, como o Circuito Universitário de Cultura e Arte (Cuca) e as Bienais de Arte, Cultura e Ciência se limitam a artistas populares entre os universitários, que são uma minoria da população brasileira, e priorizam uma arte que não questiona a sociedade capitalista, sendo, na verdade, um eco da ideologia burguesa.

A Rede Fora do Eixo é outro movimento cultural da atualidade. Surgiu em 2005 com a proposta de formar uma rede de cultura fora do eixo central Rio-São Paulo. As atividades organizadas pela rede incluem desde música, fotografia e filmes até teatro e poesia. Com o rápido crescimento da Rede, ela logo incorporou à sua rota o eixo Rio-São Paulo.

Apesar de fomentar as iniciativas artísticas alternativas e “independentes” da indústria cultural brasileira, o Fora do Eixo não possui a arte engajada como princípio, tirando do foco temas sociais. Além disso, há muitas críticas ao Fora do Eixo porque ele utiliza verba púbica para financiar seus festivais e, muitas vezes, não remunera os artistas de maneira justa. Empresas como a Vale do Rio Doce e Petrobrás se anunciaram patrocinadoras oficiais da Rede. Esse fato, somado à “neutralidade” política da Rede, mostra que está fora de cogitação desse movimento a perspectiva revolucionária.

Portanto, as maiores organizações culturais da atualidade não desenvolvem uma cultura combativa contra o capitalismo como o era com o CPC da UNE. Há algumas iniciativas culturais pontuais no sentido de denunciar o capitalismo, porém não há uma unidade nacional de ação neste sentido.

“Quero ser um propagandista do comunismo e quero sê-lo em tudo o que eu possa pensar, falar e descrever, e em tudo o que possa pintar. Quero usar a minha arte como uma arma”, palavras do artista plástico mexicano Diego Rivera.

É preciso unir todos os artistas que, assim como Rivera, acreditam na arte como uma arma revolucionária em prol da construção de um mundo mais justo em uma frente de produção cultural revolucionária. É preciso reconstruir um movimento cultural nacional que realmente tenha como objetivo principal elevar a consciência da classe trabalhadora acerca das contradições do capitalismo, permitir a popularização da arte e promover a disseminação de uma cultura popular que tome como base a história de luta do povo contra a exploração.

Mariana Mendes, militante da UJR

RAP como forma de transformação social

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A palavra RAP significa ritmo e poesia, e se configura em geral por letras musicadas que aparecem na forma de discurso com rimas. Muitas vezes, elas falam sobre os problemas sociais que se apresentam no cotidiano da nossa sociedade. É como um desabafo de pessoas inconformadas com a banalização da vida.

No último dia 14 de abril foi realizado um evento de RAP na comunidade Jorge Turco, localizada em Coelho Neto, tida como uma das áreas com menor índice de desenvolvimento humano da cidade do Rio de Janeiro. Alem da precariedade de políticas públicas, a comunidade está localizada em uma área em situação de conflitos permanentes entre várias organizações do poder paralelo que estão presentes no local. É uma situação real de esquecimento social por parte do poder público.

Um dos organizadores do evento descreveu a noite do RAP como “um grito de uma juventude combatente que não cansa de lutar”. O evento contou com apresentações de vários músicos, DJs, batalha de MCs e discursos políticos. Estiveram presentes militantes do PCB, PT, PSOL, PCR, Apafunk, entre outros, que se uniram pela arte como forma de fortalecer sua luta em prol da construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Nesse evento e em tantos outros realizados por todo o país, pudemos perceber que a arte também pode estar a serviço da transformação social quando utilizada como instrumento de conscientização e mobilização. É importante que também sejam construídos outros eventos com potencial revolucionário, que possam reunir a população inconformada com os problemas decorrentes da ordem capitalista, ao perceber a cultura como uma arma poderosa na luta contra a alienação manipuladora que sustenta a opressão vigente.

Cíntia Vaz e Júlio Lacerda, Rio de Janeiro

erca 150 estudantes, organizados pela Associação Paraibana dos Estudantes Secundaristas (Apes) e pela União da Juventude Rebelião (UJR), ocuparam no dia 12 de abril, as galerias da Assembleia Legislativa da Paraíba

Estudantes em defesa da liberdade de organização

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Cerca 150 estudantes, organizados pela Associação Paraibana dos Estudantes Secundaristas (Apes) e pela União da Juventude Rebelião (UJR), ocuparam no dia 12 de abril, as galerias da Assembleia Legislativa da Paraíba para defender seu direito de liberdade de organização e a autonomia administrativa da Universidade Estadual da Paraíba e também denunciar diversos problemas que vêm ocorrendo dentro das escolas públicas da Região Metropolitana de João Pessoa. Uma representação dos DCEs da UEPB e UFCG, vinda de Campina Grande, também se fez presente.

Os estudantes saíram em passeata do Instituto de Educação da Paraíba (IEP) e percorreram as ruas do Centro da Capital com muita animação e palavras de ordem: “Autonomia é pra valer, governador respeite a UEPB”, “Da carteira não abro mão, ela garante defender a educação” e “O dinheiro do meu pai não é capim, eu quero passe-livre sim”.

Há cerca de dois meses, a Assembleia Legislativa aprovou um Projeto de Lei que acaba com a necessidade da carteira de estudante para o acesso à meia-entrada em eventos e para o transporte urbano e intermunicipal, além de que obriga o Governo do Estado a oferecer gratuitamente o documento aos estudantes da rede pública estadual. Tal projeto, na verdade, ao invés de trazer benefícios, como apregoaram insistentemente os deputados e a mídia, apenas tapa o sol com uma peneira e dá um golpe no movimento estudantil.

Na opinião de Aline Leite, presidente da Apes, “se é realmente para trazer benefícios e economia aos estudantes, nós queremos discutir leis que garantam o passe-livre nos transportes públicos, que garantam cultura, esporte e lazer gratuitamente como parte da nossa formação e que garantam o cumprimento da lei nacional da meia-entrada. Isso, sim, desonera a vida dos estudantes e de suas famílias”. E ainda: “Não vamos aceitar que nenhum parlamento ou governo interfira nas questões internas das entidades estudantis. Sem o financiamento do movimento por parte dos próprios estudantes não há condições de desenvolver as lutas e manter o movimento independente do Estado”, afirmou Aline aos deputados, no plenário da Assembleia.

Vários estudantes também fizeram uso da palavra para denunciar a falta de estrutura nas escolas, em especial naquelas que deveriam funcionar, desde o começo do ano letivo, em tempo integral, mas que continuam com as velhas estruturas: sem refeitórios nem vestiários, com as quadras de esporte sucateadas, tetos destelhados e com infiltrações, etc.

Por fim, a representação universitária de Campina Grande reforçou a denúncia que vem fazendo há alguns meses sobre a quebra da autonomia administrativa e financeira da UEPB, a partir de uma “nova interpretação” da Lei da Autonomia feita pelo Governo Estadual, o que ocasionou uma queda nos repasses para a universidade na casa dos R$ 67 milhões só nestes primeiros meses do ano.

Além dos deputados presentes, que ouviram as reivindicações das entidades e deixaram agendada uma reunião para tratar melhor dos assuntos, uma comissão de estudantes foi recebida no mesmo dia pelo recém-empossado secretário de Educação, Harrisson Targino.

“Fazemos um balanço de que toda a nossa movimentação foi muito positiva, pois expusemos nossos pontos de vista na Assembleia e no Governo, além de que conseguimos grande repercussão na imprensa local. Nosso maior objetivo é defender uma educação de qualidade e mostrar a toda a sociedade que o movimento estudantil de luta não só existe, como está preparado para garantir os direitos da juventude”, disse a presidente da Apes.

Athamir Marcos, João Pessoa

Congresso da Fasubra aprova plano de lutas

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Aconteceu entre os dias 10 e 15 de abril, em Poços de Caldas, Minas Gerais, o 21º Congresso da Federação dos Servidores Públicos das Universidades do Brasil (Fasubra), com o tema “Trabalhadores das IES na Luta em Defesa e Valorização dos Serviços Públicos e dos Movimentos Sociais”. Estiveram presentes aproximadamente 1.100 delegados.
O representante do Movimento Luta de Classes (MLC) na mesa Educação e Seguridade Social, criticou a falta investimento na educação pública: “o Governo brasileiro não prioriza esse setor”. Também criticou a privatização dos Hospitais Universitários e parabenizou os servidores técnico-administrativos pela coragem e força que manifestaram em 2011, ao realizar uma greve de quatro meses, quando enfrentaram o que qualificou de “intransigência do Governo Federal”.

Em votações que entraram pela madrugada de domingo, os delegados aprovaram por maioria de votos a deflagração de Estado de Greve, definiram um calendário de mobilizações, a remessa dos destaques feitos à minuta do Plano de Lutas para as bases, propostas de alteração à organização do Comando Nacional de Greve e a manutenção da desfiliação da Fasubra à CUT e uma paralisação nacional nos días 9 e 10 de maio.

Mauricio Vieira, técnico-administrativo do Cefet-MG

Operários cruzam os braços em Belo Monte

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Os operários da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte realizam duas greves em apenas um mês. No dia 29 de março, revoltados com a morte do operador de motosserra Francisco Orlando Rodrigo Lopes, 34 anos, atropelado por uma retroescavadeira, decidiram paralisar suas atividades contra as péssimas condições de trabalho.

Falta água e comida de qualidade, e as péssimas condições de alojamento fazem com que os operários sejam vítimas frequentes de várias doenças como dengue, que chega a levar 30 casos de suspeita por dia ao único hospital de Altamira.
Desde o início de março, a insatisfação era grande devido a um desconto que atingiu até R$ 600 no contracheque dos trabalhadores por conta de cortes nas horas in intinere (correspondentes ao deslocamento dos trabalhadores até os canteiros de obra, consideradas como horas de trabalho). Os operários também reclamam da forma como são tratados. “A greve ia estourar no começo de março”, relata um trabalhador. “Foi quando a gente recebeu o salário [no início do mês] que a gente viu que cortaram as horas in itinere”. O pagamento ocorreu numa discoteca local. “Tratam a gente que nem bicho… Ficam 5 mil trabalhadores numa fila enorme, entra de seis em seis [no escritório provisório]. É muito inseguro, eles dão o dinheiro na nossa mão. Conheço três que foram roubados logo que saíram de lá”, explica o trabalhador ao jornalista do Movimento Xingu Vivo, Ruy Sposati (único jornalista presente em Altamira).

Os operários reivindicam equiparação salarial, redução do intervalo da baixada (visita à família, quando são de outras regiões) de seis para três meses, melhores condições na comida e água, o fim do desvio de função, baixada para ajudantes de produção (cargo mais baixo na hierarquia da obra), capacitação para funcionários, plano de saúde, aumento do cartão alimentação (hoje, em cerca de R$ 90), aumento de salário, pagamento de horas extras aos sábados, transporte digno, a “troca” do sindicato representativo e o direito à baixada para os trabalhadores que decidirem, por conta própria, morar fora dos canteiros de obras.

Demissões de grevistas gera nova greve

Para enfraquecer a luta dos trabalhadores, o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) tratou de demitir as principais lideranças do movimento, um total de 60 trabalhadores. Além disso, não cumpriu com o prazo de resposta firmado com a representação do Ministério do Trabalho e ainda se recusou a diminuir o tempo de baixada, uma das principais reivindicações dos trabalhadores e motivo de grande revolta nos canteiros de obras, já que a grande maioria dos trabalhadores são de estados vizinhos do Pará como Maranhão e Piauí. Assim, não restou aos trabalhadores outra alternativa, a não ser iniciarem outra greve, que teve início na manhã no dia 23 de abril.

A construção da usina de Belo Monte está orçada em R$ 26 bilhões, sendo que a estimativa é de que, até o final da obra, sejam utilizados R$ 30 bilhões. 80% deste montante é financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cujo dinheiro advém em grande parte do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), com um prazo de 30 anos para ser pago.

Todo o recurso financiado é repassado a grandes empresas como a Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Vale, OAS, Light, CEMIG, entre outras que, unidas no Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), administram toda a obra.

Em outras palavras, o dinheiro dos nossos impostos é retirado para financiar uma obra de quase R$ 30 bilhões a grandes empresas capitalistas que terão 30 anos para devolver este recurso a juros baixíssimos. Para aumentar os seus vantajosos lucros as empresas consorciadas no CCBM exploram como podem a força de trabalho de milhares de trabalhadores, que saem de outros estados em direção ao Pará em busca de melhores condições de vida.

Entretanto, o que encontram é uma cidade que abriga um verdadeiro monstro, que não respeita as mínimas condições de uma vida digna para os trabalhadores. A eles só resta a organização e a luta para enfrentar esta situação.

Emerson Lira, Belém

Servidores vão às ruas por aumento de salários

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Seguindo orientação do Fórum de Entidades Nacionais, que congrega 28 entidades dos servidores e mais três centrais sindicais (CUT, CTB e Conlutas), os servidores públicos federais de todo o país realizaram, em 25 de abril, mais um dia de luta, com paralisação, em defesa da pauta nacional e com o objetivo de preparar a categoria para uma possível greve geral.

Diante da insistente enrolação do Ministério do Planejamento, que insiste em afirmar que o Governo não tem orçamento para garantir os acordos firmados com as entidades no ano passado, os servidores realizaram manifestações com paralisações em vários órgãos públicos em todos os estados, com destaque para Brasília, onde o Sindsef/DF organizou uma manifestação especialmente com servidores do Arquivo Nacional e da Funasa, em frente ao Palácio do Planalto; e no Rio de Janeiro, estado que detém a maioria de servidores federais. O Sintrasef/RJ, juntamente com outras entidades, realizou uma passeata pelo Centro da Capital, com a presença de 600 servidores. Também paralisaram suas atividades os funcionários do Arquivo Nacional e da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e os servidores da cultura (Museus e Funarte).

Em todas as manifestações foi denunciado o fato de que, enquanto fala em austeridade quando se dirige aos servidores, o Governo concedeu, nos últimos dois anos, R$155 bilhões em incentivos fiscais para empresas privadas abocanharem seus lucros. Desde o ano passado, o Governo cortou 105 bilhões das áreas sociais. De acordo com Vicente do Carmo, diretor do Sintrasef/RJ e membro do MLC, “o dia 25 demonstrou que os servidores públicos brasileiros vão seguir o exemplo dos trabalhadores europeus, que realizam greves e manifestações por seus direitos e contra os governos capitalistas”.

Victor Madeira, Rio de Janeiro