UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 28 de novembro de 2024
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A crise do Judiciário

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Enquanto não se cumprir a nossa Lei Maior, nossa Constituição Federal, a crise do Judiciário, que sempre é motivada, principalmente, por sua insuportável lentidão, jamais será sanada.

Proclama nossa CF, a prima facie, que “Todo poder emana do povo”, e que “são Poderes da União o Executivo, o Legislativo e o Judiciário” (arts. 1º e 2º). Ora, eximindo-se de eleições, não contraria frontalmente o Poder Judiciário nossa Constituição, provocando no Brasil uma democracia capenga?

O povo brasileiro, obrigatoriamente, elege dois Poderes (Executivo e Legislativo) e o Poder Judiciário não é eleito, por quê? Porque o juiz de direito tem o privilégio da vitaliciedade, prerrogativa que só se extingue com a morte. Aí reside a causa principal de toda essa morosidade na aplicação da Justiça em nosso país. Trabalhando ou não… o salário mensal é garantido.

Assim:

1. Só com eleições (= voto = democracia) para o Judiciário, estará nossa Lei maior integralmente cumprida em seus dois primeiros artigos.

2. A desculpa de excesso de recursos como causa da morosidade da prestação jurisdicional não convence, pois leis processuais são reformadas e a lentidão nos tribunais continua, provocando desânimo nos operadores do Direito, descrédito na Justiça.

3. Sem prejuízo do item 1 acima, por que não se aplicar aqui o que vige na Califórnia (EUA)? Lá, o juiz tem 90 dias para decidir uma demanda na primeira instância, senão perde o salário. Isso, certamente, aceleraria a nossa Justiça, esvaziando-se, de vez, o argumento de excesso de recursos.

Sugestões para eleições de juízes:

a) Porque a Justiça não tem partido, o (a) candidato (a) ao cargo de juiz de direito deve apenas ser advogado(a) com, no mínimo, 5 (cinco) anos de prática forense, expedindo a seção da OAB, onde se  realizou a inscrição, sua ficha limpa, condição indispensável para a candidatura. As eleições serão realizadas pela OAB e TRE, conjuntamente, todo ano que houver eleições para prefeitos e vereadores nos municípios brasileiros.

b) Toda sentença ou acórdão devem ser prolatados por juízes eleitos, em qualquer instância ou tribunal; desembargadores serão eleitos pela assembleia de juízes de primeira instância em cada Estado; ministros de tribunais superiores serão eleitos pela assembleia composta de dois desembargadores de cada Estado.

c) Tomando-se por dístico SÓ A VERDADE LIBERTA, o voto para a magistratura (ou voto “magistral”) não será obrigatório.

Não seria um grande salto democrático brasileiro, marco na história do nosso Judiciário, se, em 2012, o povo fosse às urnas votar, não só e obrigatoriamente para prefeitos e vereadores, mas nos juízes de primeira instância, em exercício, ungindo com o voto esses magistrados e, quiçá, outros candidatos para o cargo de Juiz de Direito?

Que o Congresso Nacional tire o peso da desconfiança que paira sobre si e mostre ao povo brasileiro que é capaz de tomar grandes e ótimas medidas para o Brasil.

Elio Bolsanello, São Paulo

Integração ameaçada em Diadema

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Há 20 anos a população de Diadema, em São Paulo, conquistou o direito à integração nos transportes coletivos municipais e intermunicipais através dos terminais do Centro e do bairro de Piraporinha. A integração era uma medida que amenizava o absurdo preço da tarifa de ônibus, que hoje está em R$ 2,80.

Após a privatização da ETCD, empresa pública municipal de transportes, medida antipopular tomada pela Prefeitura Municipal de Diadema, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em acordo com a EMTU e empresários, resolveu pôr fim à integração, afetando a vida de milhares de trabalhadores.

Se aprovado, o fim da integração causará desemprego, pois os custos da passagem serão repassados aos trabalhadores, dificultando a vida de quem mora em Diadema.

Para lutar contra esse assalto aos nossos bolsos, o MLB e o MLC, em conjunto com outras forças políticas, organizaram um movimento contra o fim da integração e contra a privatização dos serviços públicos. Uma passeata já foi realizada e várias reuniões estão sendo marcadas nos bairros.

Maria Cristina, Diadema

Hospitais geridos por OSSs custam mais ao Estado

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A reforma administrativa no setor da saúde retrata a prática neoliberal direcionada para a sua mercantilização, sempre baseada na “ineficiência, ineficácia e rigidez dos serviços públicos, exigindo novas formas de gestão”. Essa reforma, porém, esbarra no Sistema Único de Saúde (SUS). Evitando um confronto direto, as reformas desse setor aparecem de forma disfarçada, através das organizações sociais de saúde (OSSs), também conhecidas como Fundações.

Criadas através de Medida Provisória durante o governo de FHC, as organizações sociais, atualmente previstas em lei, são empresas de direito privado que atuam no gerenciamento de atividades consideradas não exclusivas do Estado (ensino, pesquisa, tecnologia, meio ambiente, cultura e saúde). Neste modelo, o dinheiro público é utilizado para construir e equipar hospitais e depois transferi-los para serem geridos pelas OSSs, que passam a receber vultosos recursos financeiros do Estado para prestar serviços médicos, supostamente de melhor qualidade e com gestão mais ágil e econômica. O resultado, na prática, são serviços via de regra mais caros e de qualidade raramente melhor que os públicos bem administrados.

Por não exigir processo licitatório para contratos e compras, os produtos e serviços oferecidos pelas OSSs chegam a ser até 300% mais caros. No ano de 2010, somente no Estado de São Paulo, os hospitais geridos por OSSs custaram aos cofres públicos 50% a mais do que os hospitais administrados diretamente pelo Estado. Isto não significou, porém, uma melhor qualidade de atendimento: vários serviços previstos em contrato com o governo não funcionaram ou funcionaram precariamente.

Esse ano, o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), a principal OSS de Pernambuco, passou vários meses sem oferecer o serviço de mamografia por falta de manutenção nos aparelhos, apesar de receber repasse mensal do governo para oferecer esse e outros serviços. O atendimento no hospital também foi prejudicado por várias greves e a falta de profissionais especializados, deixando desassistidos centenas de pacientes.

Dos 58 hospitais e serviços de diagnóstico do Estado de São Paulo geridos por OSSs, 41 tiveram um déficit em 2010 que chegou à quantia de R$ 147,18 milhões, segundo relatório publicado em Diário Oficial.

Além disso, por se tratar de uma empresa privada, que visa ao lucro, pode haver restrição de atendimentos e diferenciação entre os pacientes do SUS e dos planos de saúde, gerando reserva de leitos e melhor assistência aos que podem pagar.

Em sentido contrário, vários sindicatos e movimentos sociais se uniram para combater a privatização da saúde. Organizada em vários Estados, a Frente contra a Privatização e em Defesa do SUS busca, através da mobilização popular, impedir o avanço das OSSs e garantir um sistema de saúde verdadeiramente universal, gratuito e de qualidade.

Ludmila Outtes, enfermeira e estudante de pós graduação em saúde coletiva

Estudantes cariocas organizam nova entidade

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Apesar do papel de vanguarda nacional protagonizado pelos estudantes cariocas em diversos momentos da vida política do país, há anos, os grupos que dirigem a Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas do Rio de Janeiro (Ames) abandonaram o rumo da luta e nem sequer congressos democráticos existem mais para definir a política e renovar a Diretoria da entidade.

Frente à situação, centenas de estudantes organizados pela Associação Estadual dos Estudantes Secundaristas do Rio de Janeiro (Aerj) e pela União da Juventude Rebelião (UJR) decidiram mudar essa realidade. Aproveitando a realização da etapa estadual do Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), os estudantes cariocas presentes decidiram construir uma nova entidade representativa, a União Municipal dos Estudantes Secundaristas do Rio de Janeiro (Umes).

Eleita presidente da comissão pró-Umes, a estudante Juliana Alves afirmou que a discussão sobre uma educação de qualidade passa pelo fim do pagamento da dívida pública e pelo investimento de 10% do PIB no setor.  Já Carlos Henrique Vieira, presidente da Aerj, afirma que “é fundamental para o desenvolvimento das lutas no Estado do Rio de Janeiro que haja uma entidade forte e democrática na Capital”.

O congresso de fundação da nova entidade será no 1º semestre de 2012 e significará um novo momento para o movimento estudantil carioca e também nacional, um importante passo para organização dos estudantes brasileiros, resgatando parte importante de sua tradição de luta.

Caroline Gomes, da Comissão Pró-Umes

Posse da nova Diretoria do DCE-UFRPE

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DCE UFRPE

No dia 10 de novembro, a Diretoria recém-eleita do DCE-UFRPE realizou sua cerimônia de posse, para o terceiro mandato da chapa Resistência. O ato contou com a participação de ex-presidentes do DCE e outros importantes militantes. Logo após a cerimônia, houve ainda o lançamento do livro de poesias Do que sei do mundo, de Pedro Laurentino Reis, que presidiu o DCE entre 1977 e 1978. Lutadores que combateram a Ditadura Militar e que também contribuíram para a história do DCE-UFRPE foram homenageados, entre eles Pedro Laurentino, Edival Nunes Cajá (sociólogo e ex-preso político, hoje presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa), José Nivaldo (historiador da UFPE), Jucemário Dantas (movimento estudantil da UFPE na Ditadura) e Daniel Victor Ferreira (presidente do DCE-UFRPE na gestão que se encerrava).

Por fim, comemorou-se também o recebimento, por parte do Arquivo Público do Estado de Pernambuco (através de seu diretor José Moura), do prontuário de Odijas Carvalho de Souza, militante estudantil assassinado pela Ditadura Militar e patrono do DCE, o que muito contribuirá para que saibamos o que aconteceu com Odijas e que possamos punir seus algozes. A cerimônia de posse e o reencontro dos ex-presidentes do DCE, como Pedro Laurentino (1977/1978) e José Carlos (1979/1980 e 1980/1981) remontaram a história do movimento estudantil da universidade e confirmaram a máxima de que só conquista quem luta!

Lidiane Monteiro, coordenadora-geral do DCE-UFRPE

Congresso da JRE exige liberdade de Marcelo Rivera

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JRE em marcha

Nos dias 18 e 19 de novembro, na cidade de Ibarra, Equador, ocorreu o 10º Congresso da Juventude Revolucionária do Equador (JRE). O encontro teve a participação de mais de 600 delegados de 22 províncias daquele país, além de delegações da Colômbia, Peru, Venezuela e Turquia. O Brasil esteve representado por Rafael Coleto, da União da Juventude Rebelião (UJR).

A JRE é uma das principais organizações de jovens revolucionários da América Latina. Além de reafirmar a defesa da revolução e do socialismo científico, denunciou o governo autoritário do presidente equatoriano Rafael Correa.

Numa conjuntura de crescentes lutas da juventude, o congresso decidiu, por unanimidade, que a luta central da JRE é pelo socialismo científico e pelo fim da  exploração do homem pelo homem. O congresso também elegeu uma nova direção nacional para a organização, que terá como presidente o camarada Enver Orna, grande combatente revolucionário que já presidiu a JRE em sua província, além de já ser membro da direção nacional da Juventude Revolucionária.

Pais de Marcelo Rivera participam

Acusado injustamente de terrorismo pelo governo do presidente Rafael Correa, Marcelo Rivera, ex-presidente da JRE e militante do Partido Comunista Marxista-Leninista do Equador (PCMLE), está preso há dois anos por lutar por uma universidade de qualidade para o povo equatoriano. Recentemente, apesar de ter bom comportamento e ter cumprido todos os preceitos legais para reduzir sua pena, a Justiça negou sua liberdade, deixando claro que não existe democracia no capitalismo e que Rivera é, sim, um preso político no Equador.

Para fortalecer a campanha por sua liberdade – já que Rivera, para conquistá-la, precisará, além de cumprir a pena, pagar uma multa de cerca de R$ 540 mil, seus pais participaram do congresso da JRE. Eles estiveram em todos os 15 grupos de debates para dizer aos participantes que seu filho está preso injustamente, que Rivera é um lutador como todos os integrantes do congresso e para pedir a solidariedade daqueles jovens à causa de sua libertação.

Durante a plenária final do congresso, os pais de Rivera estavam na mesa e havia uma urna para que os delegados mandassem cartas para ele. Para a surpresa de todos, o camarada Marcelo Rivera, que enviara uma mensagem de saudação ao congresso, telefonou e falou pelo viva-voz com todos os presentes, reafirmando que espera sua liberdade para voltar a lutar nas ruas pelo socialismo.Nesse clima de combatividade e de solidariedade ao companheiro, o congresso decidiu que uma das principais tarefas da JRE é a luta pela liberdade de Rivera.

Da Redação

Estudantes lutam contra repressão na USP

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Manifestação contra a repressão na USP

Nas últimas semanas a Universidade de São Paulo foi notícia nos diversos meios de comunicação devido à ação da Polícia Militar de São Paulo,que prendeu três estudantes que estavam com cigarros de maconha. Em resposta à ação da PM, centenas de estudantes ocuparam a administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e, depois, o prédio da Reitoria da universidade. A ação de reintegração de posse exigida pela reitoria ocorreu no dia 8 de novembro e se assemelhou a uma operação de guerra. Mais de 400 homens da tropa de choque da polícia, além de grupamentos do GOE, Gate, cavalaria e helicópteros ingressaram de madrugada na universidade. Esta ação, marcada por bastante truculência, terminou com a prisão de 73 estudantes. Na ação, a tropa de choque, além de jogar bombas de gás lacrimogêneo, cercou  o Crusp, a moradia universitária da USP, impedindo que os estudantes que lá moram saíssem para trabalhar ou estudar.

A grande mídia tem insistido em que os estudantes da USP se mobilizam pelo direito de usar drogas livremente, mas essa visão esconde os reais problemas existentes hoje na universidade. Na verdade, embora a USP seja considerada a melhor universidade da América Latina, com excelência no ensino e pesquisa, existe algo que os rankings não revelam. A USP tem se tornado uma universidade cada vez mais elitizada, antidemocrática e distante da sociedade. O que acontece hoje na USP é perseguição e repressão aos que se levantam contra este projeto de universidade. Os estudantes hoje se mobilizam pelo fim do convênio entre a USP e a Polícia Militar e por um plano de segurança que respeite os direitos humanos e a sua liberdade de organização e de manifestação. Exigem também a saída do reitor da USP, João Grandino Rodas, elemento que participou de julgamentos que inocentaram militares torturadores, investigado pela justiça por irregularidades em sua gestão, e que apesar de ter sido menos votado se tornou reitor por escolha pessoal do então governador José Serra.

Para exigir o atendimento dessas reivindicações, mais de três mil estudantes reunidos em assembleia decidiram decretar greve geral. Desde então, cresce a adesão às mobilizações com diversas unidades, como a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, a Escola de Comunicação e Artes, a Faculdade de Arquitetura, o Instituto de Biologia e o Instituto de Física paralisando suas atividades. No dia 10 de novembro, cinco mil universitários foram às ruas em São Paulo e, no último dia 24 de novembro, mais de três mil retornaram para lá a fim de dar uma “aula de democracia” ao governador Geraldo Alckmin, que tem atacado constantemente o movimento estudantil. Os estudantes da USP continuam lutando contra a política elitista que o governo do PSDB tenta implementar na universidade e pela construção de uma universidade pública, democrática, popular.

Rivaldo Xavier Junior, presidente do Centro Acadêmico de Física da USP e militante da UJR

Mensagem 2012 do PCR

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Mensagem de fim de ano para um novo ano de lutas. Em memória aos mortos e desaparecidos políticos da ditadura militar brasileira. Pela abertura dos arquivos da ditadura.

Cinco anos sem reajuste

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Os trabalhadores do Poder Judiciário Federal estão há cinco anos com seus salários congelados. O último reajuste concedido à categoria foi em 2006, no término do primeiro mandato de Lula.

Durante esse período a inflação oficial foi em torno de 32%, mas oficiosamente sabe-se que o poder de compra dos servidores foi corroído em quase 50%. Só a estimativa de aumento com educação para 2012, por exemplo, é de 12%.

Na verdade, a política de reajuste zero se insere no quadro de tentativa de desmonte do serviço público no Brasil, que atinge até mesmo o Judiciário. Mesmo sabendo-se que cabe ao Estado a função de fazer a justiça, a precarização dos serviços cresce no interior dos tribunais. Trabalhadores terceirizados respondem até mesmo pela atividade-fim, o que é proibido por lei; a quantidade de servidores requisitados de prefeituras aumenta a cada dia, e é comum ver estagiários desenvolvendo atividades de servidores do quadro.

Faltam servidores, faltam varas e faltam juízes! Por isso a justiça é lenta. Muita procura e pouquíssima oferta, para utilizar uma linguagem de economista.

No presente momento o Judiciário tem funcionado como trampolim para aqueles que prestam concurso, visto que a carreira está perdendo paulatinamente o poder de atração. Técnicos e analistas preferem exercer as mesmas funções no TCU, Tesouro Nacional, Polícia Federal etc., recebendo em média 50% a mais que no Judiciário.

Diante desse quadro, os trabalhadores do Judiciário Federal deflagraram greve em 21 Estados da Federação. No Piauí, a greve teve adesão acima do esperado, com mais de 50% de presença nas assembleias diárias realizadas. Até mesmo as salas de audiências, menina dos olhos de juízes e desembargadores e que sempre ficaram entre os 30% dos serviços essenciais, também tiveram os trabalhos suspensos.

A greve objetiva concretamente a aprovação do Projeto de Lei nº 6613/2009 – conhecido como Plano de Cargos e Salários, ou simplesmente PCS. O PCS é de autoria do Supremo Tribunal Federal e tramita na Câmara Federal desde o final de 2009. Sua aprovação traz um impacto de 33% sobre o valor da folha atual, o que implica dizer que essa aprovação corresponde tão somente à reposição das perdas dos últimos cinco anos.

Mesmo assim, o governo Dilma tem se portado de forma intransigente, afirmando que o plano obrigará um aporte de R$ 7,5 bilhões nas contas do governo. A categoria em greve responde que este mesmo valor é o que seu governo gasta por mês para pagar juros a banqueiros e sustentar os esquemas de corrupção que proliferam em Brasília.

Além da intransigência do Governo Dilma, da omissão do STF e da subserviência dos deputados da base do governo, a inércia do sindicato de Brasília, que não puxou greve durante todo o período da mobilização, é um fator de desmotivação da luta. Somando-se ao fato de ser no Distrito Federal que as coisas se resolvem, Brasília conta com 20 mil dos 110 mil servidores existentes nacionalmente. Mas a direção imobilista do seu sindicato, que prefere apostar em conchavos a apostar no enfrentamento direto e aberto com o Governo Federal, terminou fragilizando a luta de toda a categoria.

Os trabalhadores do Judiciário Federal do Brasil temos plena consciência de que somos nós que carregamos nas costas essa enorme – e muitas vezes pesada – máquina chamada Justiça. Desde o recebimento das petições à realização das audiências, passando pela execução dos mandados, a preparação de votos e sentenças até o arquivamento dos processos, sempre há um servidor fazendo justiça no Brasil.Agora, é preciso que o Brasil faça justiça a esses servidores.

Pedro Laurentino Reis Pereira, diretor do Sintrajufe-PI

“A Vale e os produtores de gado querem fragmentar o Estado do Pará”

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Edmilson Brito Rodrigues, 54 anos, é formado em arquitetura, mestre em urbanismo e doutor em geografia pela Universidade de São Paulo (USP). Foi fundador e presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp) em 1984.  Em 1996 foi eleito prefeito de Belém e reeleito em 2000. Em 2005, mudou sua filiação partidária para o PSOL. Nas eleições de 2010, Edmilson foi o deputado estadual mais votado da história paraense. Um dos principais articuladores da frente contra a divisão do Estado do Pará, Edmilson Rodrigues concedeu entrevista exclusiva ao jornal A Verdade.

Carla Catiara, Belém e Redação

A Verdade – O senhor tem denunciado fortes interesses econômicos por trás da campanha pela divisão do Pará. Que interesses são esses?

Edmilson Rodrigues – As classes dominantes, mancomunadas com o Estado brasileiro, com o governo atual, têm uma geopolítica para o Brasil e para Amazônia, e a tentativa de esquartejar o Pará faz parte dessa estratégia. Sem controle do território não há exercício do poder. Para eles, o controle do território é poder explorar o território como mercadoria, mas acontece que há barreiras políticas. Apesar das diferenças, quando um Estado é mais forte politicamente, mesmo que estejam à frente governos conservadores, é mais difícil impor as licenças ambientais, as licenças para exploração de minerais, as licenças para privatização de terras – para legalização de terras criminosamente apropriadas pelos latifundiários, pois são milhares de quilômetros quadrados de terras griladas que poderiam servir à reforma agrária. Os grandes oligopólios, especialmente a Vale do Rio Doce, as madeireiras, os produtores de gado, os grandes latifundiários e alguns grandes empresários urbanos têm interesse em fragmentar o Estado, porque assim eles poderão controlar mais diretamente e mais facilmente os novos governos e as novas estruturas estatais instaladas. Basta dizer que o primeiro governador vai poder nomear os desembargadores e, portanto, o Executivo vai dominar diretamente a formação do Judiciário, e isso significa um Judiciário que vai dizer “sim, senhor” ao governador. Vai nomear os membros do Ministério Público, o que significa que a instituição de defesa do interesse da sociedade vai estar totalmente subserviente ao Executivo e, ao mesmo tempo, o Judiciário vai estar também submetido a esse Executivo. Da mesma forma, tanto o Poder Legislativo quanto o primeiro governador eleito sairão desse clima de vitória para eles, que é a derrota do povo, porque a vitória deles é o esquartejamento do Pará. A vitória deles é a criação de Estados controlados pelos oligopólios de mineradoras, madeireiras e produtores bovinos, ou seja, são as patas do boi, a dinamite usada nas minas e as motosserras determinando, por conta do financiamento de campanha, quem serão os governadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores. Enfim, vai ser tudo um aparato burocrático completamente a serviço do grande capital financeiro expresso nessas empresas que hoje dominam o cenário econômico do Estado do Pará; ou seja, seriam três Estados frágeis, dominados por esses oligopólios.

Eles dizem que é importante dividir porque teríamos mais deputados federais e estaduais em cada Estado, mais dois governadores, dois tribunais de Justiça, mais três senadores por cada Estado, para defenderem os interesses da região. Eles dizem assim: vamos ter nove senadores, em vez de três. O que é totalmente absurdo, porque hoje a Amazônia (Região Norte) tem 21 senadores, o Nordeste tem 27, do Sudeste são 12 e o Sul só tem nove. Então, o que explica o Estado de São Paulo receber tantos recursos? Enquanto temos a Lei Kandir para nos tirar impostos, São Paulo – que consome a energia de Tucuruí, paraense, que vai pelo sistema integrado nacional de energia – recebe lá o ICMS, que é pago no lugar de consumo e não no local de produção. Por que nosso minério, que é exportado para São Paulo, Minas, Rio ou para o Japão, a China ou para os EUA, não deixa impostos aqui? Por conta da lei Kandir. Então, não é quantidade de senadores. O que falta, na verdade, é o Pará ter respeito pelo seu povo e mostrar que o território paraense e a riqueza que a natureza nos deu em minérios, a biodiversidade expressa nas florestas e na fauna são realmente inigualáveis em qualquer outra parte do mundo. Nossa diversidade social: existem180 línguas vivas dos povos indígenas, a quantidade enorme de quilombolas… Não é à toa que o primeiro quilombola reconhecido foi no Pará, em Oriximiná; exatamente um quilombola que resiste até hoje à dominação da Vale e da Mineração Rio do Norte. Então essa riqueza, essa força, essa diversidade social, cultural e ideológica são a força do Estado do Pará. Nós temos é que unir o nosso povo em torno de um projeto estratégico de transformação; e, fragmentando o nosso Estado, esse sonho ficará mais distante ainda.

Com essa divisão do Estado, quais serão os principais prejudicados?

Os trabalhadores serão os mais prejudicados, porque os Estados criados já nascem com déficit de mais de R$ 2 bilhões. O que significa dizer que esses Estados vão se endividar para cumprir suas obrigações. Aquilo que ficar para o Estado de Carajás, caso seja viabilizada essa desgraça, aquela estrutura que ficar para o Estado de Tapajós, dificilmente tudo isso vai ser mantido com qualidade (que hoje já é precária). Se há falta de investimento nessas regiões é porque há governos calhordas que aprofundam as desigualdades, porque governam para enriquecer os ricos; então, o que já é ruim vai piorar. Significa que vamos empregar mais recursos na burocracia e menos recursos para viabilizar postos de saúde, educação, pavimentação de ruas, drenagem, esgoto, água… Então nós vamos aprofundar as mazelas sociais. Se faltam recursos para assistência, saúde e educação, isso significa que vai ter mais gente morrendo nas portas dos hospitais, mais jovens sem escola, mais analfabetos, mais crianças nas ruas, mais jovens submetidos à violência estrutural, ao crime organizado, ao narcotráfico – a violência aumentando, a prostituição infantil  aumentando. Ou seja, isto prejudicaria os três Estados. Não se pode permitir que os trabalhadores votem a favor do sim, manipulados pelos interesses das grandes mineradoras, madeireiras, dos produtores de gado, agropecuaristas e, ao mesmo tempo, de políticos oportunistas que, querendo ser governador de Estado, senador, e sabendo que é mais difícil serem eleitos por um Estado como o Pará, com 7,5 milhões de habitantes, tentam fragmentar, porque assim, quiçá, consigam realizar os seus sonhos de oportunismo e carreirismo político.

Na história do Pará há registro de alguma divisão do povo? A Cabanagem não mostra que povo paraense sempre se uniu para defesa dos seus interesses?

É bom lembrar-se disso. Toda a Amazônia e parte do Maranhão eram o Grão Pará, e a Cabanagem, que durou de 1835 a 1840, foi um processo de luta intensa desde a tomada do poder, mas que começou a se forjar muito antes. O próprio Brig Palácios, naquela tentativa de constituir-se império e unir a Amazônia  – que era o Grão Pará e o Maranhão – com o resto do Brasil, constituiu em um único país o que até então eram colônias diferentes, duas colônias portuguesas, uma com a capital no Maranhão (que depois foi para Belém) e a outra que era o restante do Brasil. Hoje somos um único país e não queremos dividir esse país.

Após a Cabanagem houve uma estratégia de esquartejamento, de modo que da província do Grão Pará foram criados vários Estados. Uma das mais recentes agressões ao território paraense foi a criação do território do Amapá. Fala-se que Getúlio Vargas ligou para Barata e disse: “Tenho uma empresa norte-americana que irá explorar o manganês. Barata disse: “Pode mandar conversar conosco, presidente”. Getúlio Vargas disse: “Você não está entendendo, eu estou decretando a criação de um território autônomo, nomearei o governador desse território e a empresa irá explorar, por 50 anos, o manganês. E aí a empresa norte-americana não precisou de meio século: em pouco mais de 40 anos já tinha transformado as minas de manganês num grande buraco. Na década de 1990, a empresa saiu do Estado do Amapá, deixando lá o povo abandonado. O Brasil abriu mão de sua soberania e, veja só, foi esquartejando o Pará que  Getúlio Vargas conseguiu impor essa sangria ao território.É inadmissível que, depois de ter perdido tanto, agora aceitemos que, com o discurso de que o Pará é muito grande, deve ser dividido. E aí se cria o Estado do Tapajós, com 58% do território do Pará, onde cabe pelo menos uma França e meia. Se uma metrópole como Belém, um governo assentado a partir da capital de Belém, com mais de dois milhões de habitantes, tem dificuldade de administrar o Estado que é grande, é porque há governos que não têm interesse em diminuir as desigualdades territoriais e sociais. De modo que não é possível aceitar essa barbárie que pretendem impor. Nesse sentido a luta é suprapartidária. Temos que alimentar este sentimento nativista e dizer que quem ama o Pará tem que mantê-lo unido. A direita naturalmente trabalha para conquistar os paraenses de todas as regiões em favor da divisão porque ela está totalmente financiada pelos oligopólios, mas não é consenso mesmo nessas regiões. Nas viagens que tenho feito, há pouco cheguei do encontro mundial contra Belo Monte, muitos altamirenses afirmam ser contra a criação do Estado de Tapajós. Fui a Marabá, fui a Curianópolis, e muitas pessoas disseram: “Isso é coisa de políticos oportunistas que querem roubar o nosso dinheiro”. Então no povo há esse sentimento de rebeldia, por mais que as grandes empresas que querem dividir o Pará digam que têm maioria e que o povo quer.

Qual a importância desse debate que no momento se trava no Estado do Pará?

A proposta sobre a divisão do Estado, que é uma tentativa de esquartejar o Pará, traz um aspecto positivo: é que ela está permitindo um debate sobre que estratégia deve ser traçada para o verdadeiro desenvolvimento do Pará. Os partidos estão divididos, e talvez o único partido legal que tem posição oficial contra a divisão seja o PSOL. O PT está dividido, o PSDB também. Há segmentos do PSDB comandando a frente contra a divisão e há grande parte do PSDB a favor da divisão. No entanto, o que tem de positivo é que todos estão sendo obrigados a perceber que a única forma de manter o Pará forte, unido, é discutir uma estratégia de desenvolvimento econômico e social que não se reduza à concentração de terras e de lucros nas mãos de poucos. Neste sentido, a reforma agrária passa a ser uma necessidade, e ela entra neste debate estratégico. Mesmo os deputados e os políticos de direita estão sendo obrigados a discutir, por exemplo, o controle das terras públicas em favor de uma reforma agrária, o combate à violência, o controle das nossas riquezas minerais. Somente em 2010 foi R$ 1,7 bilhão que deixou de entrar no Estado do Pará, é muito dinheiro. Em 2011, a previsão é de que mais de R$ 2 bilhões deixarão  de entrar.  Quem fica com esse dinheiro? Os exportadores, a Vale do Rio Doce, as madeireiras, os pecuaristas, o agronegócio, os muito ricos se apropriando de um dinheiro que deveria ser usado na educação, na saúde, na assistência, no combate à violência. Se somos o segundo na pauta de exportação e um dos maiores produtores de minérios do mundo, o povo tem que se beneficiar disso, e não uma minoria de grandes empresas. O plebiscito, que é uma tentativa de destruição da unidade territorial paraense, contraditoriamente gerou essa possibilidade do movimento de esquerda, a exemplo do Partido Comunista Revolucionário que está presente nos atos e fazendo a defesa dos interesses estratégicos, assim como a militância do PSOL, do PSTU, da esquerda em geral. É preciso unir a esquerda para defender um governo a favor dos interesses dos povos da Amazônia, do Estado do Pará, dos camponeses, dos indígenas, dos quilombolas, dos pescadores, dos operários, dos estudantes e dos professores.

Um livro para ler de um fôlego

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Fernando Morais

Os últimos soldados da Guerra Fria, o mais novo livro do escritor Fernando Morais, retrata a história de 14 agentes cubanos infiltrados em organizações de extrema direita no EUA, com o objetivo de interceptar ações terroristas contra Cuba. A operação, chamada pelos cubanos de  Rede Vespa, conseguiu evitar vários atentados contra a Ilha.

No livro, Fernando Morais revela com detalhes os métodos utilizados por esses cubanos para ingressarem nos EUA, como se infiltraram nas organizações de extrema direita e os métodos de segurança que usaram para proteger a existência da Rede Vespa.

A principal missão dos agentes cubanos era enviar informações sobre as organizações terroristas e de futuras ações que pretendiam realizar, para que o governo estivesse preparado para impedir atentados.  Ações das organizações terroristas contra Cuba, como Hermanos; Fundação Nacional Cubano-Americana (FNCA); Partido da União Nacional Democrática (Pund), entre outras, são apresentadas com inúmeros dados comprovando a existência de uma rede terrorista contra o governo cubano.  Em especial, o livro destaca a história de cinco  cubanos: Gerardo Hernández, Ramón Labañino, Fernando González, Antonio Guerrero (Tony) e René González, permitindo ao leitor conhecer a vida desses patriotas cubanos como se fosse um romance.

Livros, jornais, sites, revistas, depoimentos, filmes e documentários e tantos outros materiais são utilizados por Fernando Morais para escrever esse belíssimo livro em que narra tão bem a heroica história de vida e luta dos cinco heróis cubanos. Um livro para ler de um fôlego.

Anatália A. Silva, da coordenação do MLB