O Deutsche Bank, o maior banco alemão, lançou a ideia de criar o “geuro”, uma espécie de moeda paralela para manter a Grécia na Zona do Euro mas sem “ajuda” da troika no caso de as forças que combatem a austeridade vencerem as próximas eleições.
O Deutche Bank não lançaria uma ideia deste genero à revelia da chancelaria de Angela Merkel e do Banco Central Europeu, funcionando a iniciativa desde já como mais uma medida no pacote de chantagem sobre os eleitores gregos na perspectiva da consulta de 17 de junho.
A ideia é publicada num “estudo” do Deutsche Bank divulgado na segunda-feira. O “geuro” funcionaria como notas promissórias de dívida pública que poderiam ser colocadas no mercado. Seriam desvalorizáveis em relação ao euro mas, de acordo com o “estudo”, permitiriam ao governo de Atenas ter mais tempo para “aplicar as reformas” e as medidas de austeridade que vem sendo impostas pela troika.
Thomas Mayer, economista chefe do Deutche Bank, declarou ao jornal britânico The Observer que “um tal circuito paralelo poderá ser o mais provável desenvolvimento”, uma vez que a nova “moeda” permitiria à Grécia dinamizar as exportações e “regressar aos mercados”.
O estudo considera ainda que uma pré-condição para que a alegada solução funcione seria que o circuito ficaria restringido aos outros países da Zona Euro e ao FMI e serviria apenas para pagar a dívida grega. Os bancos gregos também necessitariam de “ajuda” e para isso seria criado um “banco mau” europeu.
O economista chefe do Deutsche Bank acrescentou que o fundo de resgate da Zona Euro, o Mecanismo de Estabilidade Financeira, poderia refinanciar os credores da Grécia, “restaurando” a confiança dos mercados, que assim deixariam de retirar o dinheiro dos bancos.
De acordo com este mecanismo, caso os gregos decidam votar mais uma vez, e agora com maior vigor, contra a austeridade, a Grécia não sairia formalmente do euro, a sua soberania econômica (e política) ficaria totalmente dependente de Berlim, os gregos sofreriam os efeitos das desvalorizações e da austeridade enquanto os mercados poderiam gerir a dívida de Atenas de forma a que a sua “confiança” não fosse afetada.
Foi divulgada na internet uma foto do grupo Racionais Mc’s registrada durante a gravação do videoclipe da música Marighella, na qual seus integrantes aparecem armados. A música fala sobre o comunista revolucionário Carlos Marighella, um dos líderes da luta armada no Brasil contra a ditadura militar. Usando boinas e jaquetas de couro, o visual dos músicos também lembra o dos Panteras Negras, grupo revolucionário de negros norte-americanos. Segundo a assessoria do grupo, o videoclipe deve ser divulgado em um mês.
Marighella (Racionais Mc’s)
[…]
Não se faz revolução sem um fuga na mão
Sem justiça não há paz, há escravidão…
Revolução no Brasil tem um nome…
A postos para o seu general
Mil faces de um homem leal (2x)
Marighella
Essa noite em São Paulo um anjo vai morrer
Por mim, por você, por ter coragem em dizer
Bankia, um dos gigantes da banca espanhola nacionalizado na semana passada devido ao risco de falência, continua a perder valor. As ações caíram 70 por cento num ano e empurraram a Bolsa de Madrid para o nível mais baixo do ano.
Segundo informações transmitidas pela imprensa espanhola, o banco vale hoje bastante menos que entidades normalmente de menores dimensões e, embora o governo o desminta, há sinais de fugas de depósitos principalmente por parte dos pequenos poupadores. As quedas em bolsa, que vão em dez sessões consecutivas, não são maiores porque o banco está a comprar ações próprias, agora recorrendo ao dinheiro dos contribuintes.
Numa época em que estão sujeitos a cortes brutais de salários e direitos sociais e também a um desemprego que ronda os 25 por cento, os cidadãos espanhóis são agora forçados pelo governo Rajoy a tentar estancar o desmoronamento de um gigante bancário devido a má gestão, a pretexto da crise, depois de há duas semanas o presidente do banco, Rodrigo Rato, ter se demitido.
Durante a manhã de quinta-feira as acções de Bankia chegaram a perder mais de 29 por cento, para 1,17 euros, e só a compra em massa feita pelo próprio banco forçou alguma recuperação.
O Bankia fizera há menos de um ano uma oferta pública de subscrição muito concorrida por pequenos poupadores, que compraram títulos a 3,75 euros e que agora valem cerca de 1,17, uma perda de 68 por cento. O valor de Bankia em bolsa é agora menor que os três mil milhões de euros que os aforradores então investiram, valendo cerca de 2700 milhões, bastante menos que bancos considerados pequenos como o Banco Popular e o Banco de Sabadell, cujo valor em bolsa é de 3500 milhões de euros.
Nomeada no último dia 10 de maio pela presidenta Dilma, a tão esperada Comissão da Verdade iniciará seus trabalhos no próximo dia 16 e terá por atribuição a apuração e o esclarecimento das violações dos direitos humanos praticados entre os anos de 1946 e 1988, em especial as torturas e assassinatos praticados pelo regime militar de 1964.
Porém, para muitos familiares dos mortos e desaparecidos da ditadura, a comissão ainda é muito frágil, pois além de contar com poucos membros, atuará por apenas dois anos, pouco tempo para cumprir uma tarefa de tamanha envergadura.
Esta é a avaliação da representante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Maria Amélia Teles: “o problema da comissão é o da lei, que abrange um período enorme e com dois anos de funcionamento para apurar todos esses crimes. Não é compatível o período que será apurado com a quantidade de integrantes”.
Fazem parte da comissão Cláudio Lemos Fonteles, ex-procurador-geral da República, Gilson Langaro Dipp, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, além do jurista José Paulo Cavalcante Filho, da psicanalista Maria Rita Kehl, do professor Paulo Sérgio de Moraes Sarmento Pinheiro (membro de missões internacionais da Organização das Nações Unidas – ONU) e da advogada Rosa Maria Cardoso Cunha, que defendeu Dilma durante a ditadura militar.
Para o Diretor Executivo da Anistia Internacional no Brasil, Atila Roque, “é hora do Brasil lidar como os demônios de seu passado, seguindo a linha de muitos outros países da região que já iniciaram o processo de responsabilização daqueles que violaram direitos humanos. Aqueles que foram vítimas de tortura ou perderam seus entes queridos nas mãos de agentes de segurança pública vêm esperando muito tempo para que a verdade sobre esses crimes seja revelada. A revelação da verdade e a realização da justiça servem tanto para garantir os direitos das vítimas e seus familiares, como para garantir que esses crimes não se repitam”.
O início dos trabalhos da Comissão da Verdade é uma importante vitória, fruto de anos de luta dos familiares dos mortos e desaparecidos, dos ex-presos políticos e de todos que lutam para que sejam punidos os torturadores e assassinos da ditadura militar brasileira.
Porém, vale alertar que esta luta está apenas começando e não podemos subestimar a resistência das elites e dos setores militares mais reacionários que de tudo farão para esconder a verdade e pressionar o governo para que o trabalho da comissão não vá até as últimas consequências.
Por fim, para que a Comissão da Verdade possa apurar todos os crimes da ditadura é necessário que nossa luta ganhe cada vez mais força, ocupando as ruas e mobilizando toda a sociedade em defesa da Verdade e da Justiça.
De acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica, realizada pelo Dieese durante o mês de abril em 17 capitais, os preços dos alimentos básicos tiveram alta em 15. As maiores altas ocorreram em Manaus (3,80%), Fortaleza (3,54%), Natal (2,93%) e Salvador (2,84%). São Paulo continua a ser a capital com os alimentos mais caros do país (R$ 277,27 pela cesta básica), seguida por Porto Alegre (R$ 268,10), Manaus (R$ 267,19) e Vitória (R$ 262,14).
O aumento dos preços dos alimentos em todo o país significa uma piora na situação dos trabalhadores e uma efetiva desvalorização do salário mínimo que é hoje R$622,00, suficiente para comprar apenas duas cestas básicas.
O trabalhador precisou cumprir, em abril, tendo como base o salário mínimo, uma jornada de 85 horas e 53 minutos, para comprar uma cesta básica. Levando em conta o salário líquido, este mesmo trabalhador, em abril deste ano, gastou 42,43% de seus vencimentos com a compra da cesta básica.
Porém, o valor do salário mínimo, de acordo com a constituição, deveria ser o suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. Segundo os cálculos do mesmo Dieese para atender a essas necessidades, em abril, o salário mínimo deveria ser de R$ 2.329,35, o que corresponde a 3,74 vezes o mínimo atual.
O Encontro Continental foi marcado durante a Conferência das Mulheres de Base que se realizou em março de 2011 na Venezuela e teve a participação de mais de 30 países e de 21 mulheres brasileiras. A responsabilidade de organização dessa Conferência no Brasil é do Movimento de Mulheres Olga Benário.
São Bernardo foi a cidade escolhida para o evento pela tradição de luta de seus trabalhadores e por apresentar as condições necessárias para acolher o evento. Até o momento, cerca de oito países já confirmaram a presença.
O Encontro ocorre num momento de ressurgimento da luta dos trabalhadores e trabalhadoras contra mais uma crise do capitalismo e dos povos por sua libertação e independência. Porém, somos nós, mulheres,que sentimos na pele a pobreza, o desemprego, o trabalho com baixos salários. Somos duplamente exploradas e oprimidas pelo capitalismo, e também somos parte das classes trabalhadoras, oprimidas por nossa condição de gênero.
Para combater essa situação, em particular na América Latina, as mulheres se organizam para lutar pelo respeito aos seus direitos, por uma vida digna e com saúde, educação e bem-estar, visto que a imensa riqueza criada com o trabalho e os esforços de milhões de seres humanos, hoje serve apenas para satisfazer a insaciável sede de lucro dos ricos capitalistas.
Cresce, assim, a consciência da necessidade de um intercâmbio mundial de experiências, de cooperação e de promoção de ações de solidariedade. Estamos decididas a nos unir e a lutar por nossos direitos e por uma sociedade sem exploração, sem opressão e sem discriminação, por isso realizaremos esse Encontro Continental.
Lute pelos seus direitos! Ingresse no Movimento de Mulheres Olga Benário
As mulheres são a imensa maioria da população brasileira, no entanto, estão entre os que mais sofrem. Desde que nascemos nossos direitos são roubados: não temos acesso à saúde e educação de qualidade, levamos nas costas as obrigações domésticas e muitas de nós não tem emprego digno. Quando conseguimos algum trabalho, nosso salário é, em geral, menor do que o recebido pelos homens.
Na realidade, na imensa maioria das famílias, a mulher sofre a escravidão doméstica. É sobre ela, que recaem as tarefas dos filhos, da alimentação, da casa e de todo o mesquinho e pesado trabalho doméstico. Pior: com as mulheres cada vez mais trabalhando fora de casa, o que acontece é uma dupla jornada de trabalho, já que elas continuam fazendo todo o serviço de casa à noite ou bem cedo, antes de saírem para trabalhar, além de receberem salários mais baixos.
Também crescem, os casos de violência física e sexual contra as mulheres, incentivada pela propaganda burguesa nos meios de comunicação, que apresentam a mulher como objeto sexual ou uma mercadoria à venda, crescem em vez de diminuir. Tal situação, coloca a urgência de o movimento feminino tomar as ruas, organizar suas entidades de massa e dar um firme combate a todos esses abusos dos capitalistas contra a mulher. Por isso, e para lutar pelos direitos das mulheres e pelo socialismo fundamos o Movimento de Mulheres Olga Benário.
Vários são os exemplos da história do Brasil que revelam a importância da participação política das mulheres. É o caso da das heroínas de Tejucupapo; a luta pela independência do Brasil em relação a Portugal; a luta contra a ditadura militar; a luta pela anistia ampla; e centenas de greves operárias em todo o país revelam que as mulheres sempre estiveram na linha de frente da luta do povo brasileiro pela democracia e por uma sociedade justa. Também não é à toa que Dilma Roussef, uma ex-guerrilheira, chegou a presidência da República.
O Movimento de Mulheres Olga Benário é, portanto, fruto da luta de centenas de mulheres brasileiras contra a opressão e a exploração e por uma vida com direitos e dignidade numa sociedade nova, justa e socialista.
Entrevista de Leonardo Péricles, coordenador do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) no programa Palavra Ética, apresentado por Frei Gilvander, na TV Comunitária de Belo Horizonte.
O rapper paulistano Emicida foi preso sob alegação de “desacato a autoridade” após protestar, logo no início de seu show ontem (13) na capital mineira, contra o despejo da ocupação Eliana Silva, perpetrada com violência pela polícia militar na última sexta-feira.
No início da música “Dedo na ferida”, dedicada às vítimas do atentado fascista do governo tucano de São Paulo contra as famílias do Pinheirinho, Emicida afirma que “Somos todos Eliana Silva”, e convoca o público a levantar o dedo do meio contra a polícia que desocupa as famílias mais humildes e contra os políticos que não respeitam a população.
Dedo na ferida Emicida
[…]
O povo tem que cobrar com os parabelo
Porque a justiça deles, só vai em cima de quem usa chinelo
E é vítima, agressão de farda é legítima.
Barracos no chão, enquanto chove.
Meus heróis também morreram de overdose,
De violência, sob coturnos de quem dita decência.
Homens de farda são maus, era do caos,
Frios como halls, engatilha e plau!
Carniceiros ganham prêmios,
Na terra onde bebês, respiram gás lacrimogênio.
“Era uma vez um rei chamado Midas. Ele tinha muita sede de riqueza e pediu aos deuses em quem acreditava para que tudo o que ele tocasse se transformasse em ouro. Foi atendido. Imaginem sua felicidade, até perceber que não podia mais comer nem beber, pois a água, os alimentos, tudo virava ouro em suas mãos. Arrependido, voltou a implorar aos seus deuses para perder essa capacidade de transformar tudo em ouro; em troca, ofereceu toda a sua fortuna”.
Assim é o capitalismo. Transforma tudo em mercadoria, em lucro,em dinheiro. Nãoimporta a destruição da natureza, da vida, de tudo. Se não for contido, chegará ao ponto de não se ter mais alimento nem água para beber. Pior do que Midas, é que o capitalismo não se arrepende. Se não for contido por uma revolução do povo consciente e organizado, destruirá mesmo a vida na terra.
Era assim que Domitila explicava ao povo nas suas palestras, nos seus discursos e na sua Escola de Formação Política, o que é o capitalismo e a necessidade da revolução popular em vista da construção do socialismo. Simples, didática, envolvente, símbolo das lutas dos mineiros, dos trabalhadores, das mulheres bolivianas; na verdade, ícone do povo da América Latina.
Das minas bolivianas para o mundo
No dia 7 de março do corrente ano, o coração de Domitila Barrios de Chungara parou de bater, aos 75 anos de idade, vítima de câncer de pulmão, doença que atinge grande parte dos trabalhadores em minas. Elanasceu e cresceu no meio de uma cultura profundamente machista, na qual a compreensão era de que lugar de mulher é em casa e que mulher não precisa aprender a ler e escrever, pois isto serve apenas para mandarem carta para os namorados.Mas teve sorte, pois seu pai, um camponês que depois se tornou mineiro, lhe dizia que“as mulheres podem fazer as mesmas coisas que os homens”.
Até o ano de 1961, não havia organização de mulheres nas minas e, na maioria dos casos, os homens não deixavam que elas participassem das reuniões. Foi com Domitila, na Mina Siglo XX (Século 20), que as mulheres começaram a conquistar seu espaço até formarem o Comitê de Donas de Casa, mulheres de mineiros, órgão de apoio à luta dos trabalhadores, ligado ao sindicato e à Central Operária Boliviana (COB).
No ano de 1967 (o mesmoem que Che Guevarafoi executado no solo boliviano), o então ditador René Barrientos ordenou que o Exército interviesse nas minasem greve. Omassacre aconteceu nas comunidades de Catavi e Lalagua, com o assassinato de dezenas de operários. Grávida, Domitila foi presa e torturada, tendo perdido o filho.
Mas foi na década de 70 que ela ficou conhecida mundialmente. Em 1975, representou os trabalhadores da Bolívia na Conferência Mundial das Mulheres, realizada no México, dentro da programação da ONU no Ano internacional da Mulher. Domitila não gostou muito do evento: “…Diziam que era um evento que ia representar camponesas, donas de casa, mulheres trabalhadores e pobres. Não foi assim. As mulheres presentes eram quase todas de formação acadêmica e completamente diferentes de nós, bolivianas, mineiras e donas de casa. Cumpri a tarefa de denunciar o que acontecia nas minas (o salário baixo, a superexploração), mas os organizadores e participantes da Conferência não estavam interessados em nossos problemas sociais”.1
Entretanto, foi essa conferência que proporcionou ao mundo o conhecimento da situação dos mineiros da Bolívia e transformou Domitila em sua referência. Não pela conferência, em si. É que Moema Viezer, uma educadora brasileira, se interessou pelo tema e por aquela brava mulher. Realizou uma série de entrevistas e publicou o livro Se me deixam falar – Testemunho de Domitila, uma mulher das minas da Bolívia, que foi traduzido em 14 idiomas e vendeu milhares de exemplares. Domitila passou a ser convidada para palestras em diversos países em continentes.
Cinco mulheres derrubam um general
Domitila não concebia a libertação da mulher desvinculada da libertação de todos os trabalhadores, e nisso se diferenciava do movimento feminista: “A nossa posição não é igual à das feministas. A nossa libertação consiste primeiramente em conseguir que o país seja liberado para sempre da opressão das grandes potências capitalistas e que possamos formar um governo da classe trabalhadora, incluindo nós, mulheres. Aí, então, as leis, a educação, tudo será feito de acordo com as necessidades do povo. Então, sim, vamos ter mais condições de chegar a uma liberação completa, também da nossa condição de mulheres”.
Em 1978, Domitila resolveu desafiar a ditadura de Hugo Banzer. Juntamente com quatro companheiras, iniciou uma greve de fomeem La Paz. Um padre aderiu, depois outras pessoas; com dez dias, eram 1.500. A mobilização foi tomando conta da cidade, do país, em diversas formas: passeatas, greves de fome, atos públicos, todos exigindo o fim da ditadura. Finalmente, o general Banzer caiu. Outros ditadores lhe sucederam e a redemocratização se deu no ano de 1982.
Breve linha do tempo
Habitada há 20 mil anos, a Bolívia abrigou grandes civilizações, sendo considerada mais importante a nação Tiahuenco. Fez parte do Império Inca. Vieram os Quéchua e os Aymara. No século 16, os espanhóis a dominaram e exploraram suas riquezas, enfrentando sempre revoltas indígenas até a independência conquistada na luta comandada por Simón Bolívar, de quem herdou o nome (1825). A colonização não conseguiu destruir os povos nativos, como no Brasil. Mais de 60% da população boliviana tem origem indígena.
Após a libertação, não se criou a Grande Pátria Latino-americana preconizada por Bolívar. Ao contrário, a Bolívia sofreu constantes agressões dos vizinhos, para quem perdeu três quartos do seu território. Em 1879, na guerra contra o Chile, ficou sem o acesso ao mar, e em 1903 perdeu o Acre para o Brasil.
Como os demais países da América Latina, a Bolívia se integrou ao capitalismo internacional de forma dependente e associada. Suas riquezas naturais continuaram sendo sugadas por empresas estrangeiras. Das minas, sob condições desumanas de trabalho, surgiu forte organização operária, base principal da Central Operária Boliviana (COB). Para manter o sistema, as classes dominantes precisaram implantar sucessivas ditaduras.
O fim da ditadura não se traduziu em mudança no modelo econômico. Ao contrário, a burguesia continuou governando cada vez mais atrelada ao imperialismo e seguindo o receituário do FMI. Na década de 90, vieram as privatizações e modernização das minas. Milhares de operários perderam o emprego, a poderosa COB se enfraqueceu.
A luta do povo, entretanto, não parou. O eixo é que se deslocou do movimento operário para o movimento indígena e dos pequenos camponeses (cocaleros). Estes constituíram a base do Movimento para o Socialismo (MAS), que elegeu em 2005 o primeiro presidente índio da história boliviana: Evo Morales Ayma.
O presidente eleito recebeu uma Bolívia nas seguintes condições: país mais pobre da América do Sul, com 60% dos seus 9 milhões de habitantes abaixo da linha da pobreza e 38% em extrema pobreza; desemprego de 12%, com 40% de subempregados; renda dos indígenas 40% inferior à dos não indígenas.
Morales nacionalizou as riquezas naturais, procedeu à revisão dos contratos com empresas estrangeiras, criou mecanismos de participação popular na gestão pública. Tem melhorado as condições de vida do povo e reafirmado a soberania do país, juntando-se à Associação Bolivariana, que envolve Bolívia, Cuba, Equador, Venezuela e Nicarágua (Alba).
Domitila sempre!
Domitila apoiava Morales, mas tinha reservas quanto ao caráter revolucionário do seu governo. Explicava: “O MAS é um movimento, não um partido com uma ideologia, um caminho definido. Eles dizem ‘vamos ao socialismo’, mas não dizem como será o caminho para o socialismo, como vamos chegar lá. Num movimento entra todo tipo de gente. Alguns integrantes do MAS estão agindo corretamente enquanto outros estão só se aproveitando. Mas o presidente [Morales] tem caráter forte, boa conduta e bons colaboradores. Nós, os poucos que sobrevivemos, estamos todos velhos. Precisamos formar novos quadros políticos, novos dirigentes dessa geração nova”.2
O presidente Evo Morales homenageou a heroína, concedendo-lhe post mortem o prêmio Condor dos Andes. Ela está entre aqueles seres humanos que não morrem jamais. Domitila morreu? Viva Domitila!
Notas
1 Entrevista concedida em setembro de 2010 à revista Caros Amigos; na ocasião, Domitila estava em tratamento médico num hospital de Havana.
No mundo de hoje, o número de depressivos é maior do que o de contaminados pela aids – que são 33 milhões. Há algum tempo já se sabia da grave enfermidade de que padece a sociedade, mas uma recente pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizada em 20 países, demonstrou a intensidade com que essa enfermidade afeta a saúde mental de diferentes povos.
O Episódio Depressivo Agudo (conhecido pela siglaem inglês MDE) é uma doença caracterizada por um conjunto de sintomas físicos e psicológicos associados a altas taxas de comorbidades médicas, invalidez e morte prematura. A pesquisa da OMS, divulgada no segundo semestre do ano passado, indica que o percentual de atingidos com a doença saltou de 5,5% para 14,6% em 12 meses. No caso do Brasil, a pesquisa foi realizada apenas na região metropolitana de São Paulo e indicou que 10,4% da população sofre com algum tipo de depressão.
Ainda em relação ao caso brasileiro, a pesquisa foi mais abrangente e investigou outros casos de distúrbios psicológicos além da depressão, como pânico, fobias específicas, fobia social, transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos de humor. Segundo a professora Maria Carmen Viana, da Universidade Federal do Espírito Santo e uma das coordenadoras da pesquisa, “estima-se que 44,8% da população já apresentou pelo menos uma vez na vida algum transtorno mental. Nos 12 meses anteriores à entrevista, a prevalência foi de 29,6%”
Diante de dados verdadeiramente alarmantes sobre o aumento do número de pessoas afetadas por doenças psicológicas, não se pode deixar de questionar quais são as causas, o que está por trás de tamanho crescimento. Ainda mais no Brasil, que é um país que vive, segundo a propaganda oficial, um período de crescimento econômico, período em que as pessoas estão consumindo mais e tendo a oportunidade de realizar seus sonhos. Se é verdadeira a propaganda, por que tanta depressão e tanta tristeza?
A grande mídia, quando divulgou os dados da pesquisa da OMS, tratou de vincular a depressão exclusivamente à violência dos grandes centros urbanos. No entanto, a pesquisa mundial indica que mesmo em países com índices de violência relativamente baixos, como o Japão, por exemplo, a depressão afeta um número considerável de pessoas. A alta violência nas cidades não é, portanto, o único causador de tanta tristeza que leva à doença.
Podemos citar entre os fatores que levam ao crescimento dos casos de depressão, sem dúvida, a situação cada vez mais precária do trabalhador. De um lado, vemos a pressão produtiva misturar-se com o assédio moral, a jornada de trabalho cada vez mais extensa, o longo trajeto entre a casa e o trabalho ficar cada vez mais extenuante por conta do trânsito e das péssimas condições de transporte público. Por outro lado, os baixos salários não acompanham, nem de longe, as exigências de consumo que a própria sociedade inventa.
Temos como resultado os trabalhadores sempre endividados, seja com cartão de crédito, prestações ou aluguel. As preocupações decorrentes desse estresse estão muito ligadas ao crescimento dos casos de depressão e outros distúrbios e desmentem a propaganda que afirma ser o desenvolvimento econômico capitalista a solução para o País e para a felicidade do povo.
Também estão entre os fatores do aumento das doenças psicológicas os interesses da indústria farmacêutica multinacional. Em 2010, foram vendidos 18,45 milhões de caixas do ansiolítico Clonazepam, e as vendas desse tipo de medicamento crescem de maneira fenomenal. O líder de vendas desse tipo de medicamento é o Rivotril, da farmacêutica suíça Roche.
Como se sabe, o objetivo de todas as empresas capitalistas é o lucro, e tudo são capazes de fazer para aumentar sua lucratividade, o que significa, neste caso concreto, aumentar a venda de medicamentos. Temos assistido nos planos privados de saúde a uma larga indicação por ansiolíticos, muitas vezes sem qualquer análise cuidadosa do paciente. Já no Sistema Único de Saúde (SUS), o tratamento adequado dos casos de doenças psicológicas é um sonho muito distante. Dessa maneira, pacientes com casos iniciais de problemas psicológicos têm a situação agravada em virtude do uso indiscriminado de ansiolíticos ou de outro medicamento de tarja preta.
Por último, também causa depressão a destruição das ligações afetivas entre as pessoas, resumindo todas as relações humanas a uma mera troca monetária. Numa sociedade consumista, que tem como objetivo praticamente exclusivo o lucro privado, temos assistido à destruição da cultura popular, à venda e à falsificação de valores como solidariedade, humanismo e o compromisso com as futuras gerações. Prevalecem o individualismo, o egoísmo e a subjugação e exploração da mulher, do pobre, do negro, da criança ou de qualquer pessoa em situação social desfavorável. Essa realidade, nem a propaganda nem as leis escritas – mas nunca aplicadas – conseguem esconder. De fato, não é possível ser feliz neste tipo de sociedade.
Fontes:
Cross-national epidemiology of DSM-IV major depressive episodeem http://www.biomedcentral.com/1741-7015/9/90/abstract
Com o aprofundamento da crise econômica no Brasil, o Governo Federal lançou a sua política para tentar evitar o processo de desindustrialização¹, o plano chamado “Brasil Maior”. Desde o ano passado, ocorreu uma série de movimentações políticas com o objetivo de lançar as bases do repasse de muitos bilhões para o setor privado com a roupagem de “fomento à inovação tecnológica” e “competitividade”. Vejamos esses passos.
Uma das medidas mais importantes é o fortalecimento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O órgão recebe 0,5% do PIB² e passará a receber 0,9%, até 2014. A Finep utiliza os seus recursos para financiar projetos públicos ou privados. Mas, segundo o Ex-ministro de C&T, Aloísio Mercadante, a prioridade é o setor privado: “Colocamos mais recursos para crédito exatamente para incentivar a empresa privada fazer inovação”. O orçamento da Financiadora é atualmente de R$ 6 bilhões, enquanto o próprio ministério de Ciência e Tecnologia sofreu cortes de verbas de R$ 2 bilhões, ficando com R$ 4,7 bilhões.
Esse incentivo às indústrias é a política de inovação tecnológica, isto é, passar dinheiro público para os industriais, visando aumentar a competitividade da indústria do país que, a cada dia que passa, perde na balança comercial³, mostrando a fragilidade da economia brasileira, majoritariamente exportadora de commodities, com a tendência de aprofundamento da crise no país.
Projetos ameaçam conquistas da classe operária
As outras medidas do plano para salvar a indústria são de um campo único que visa impor derrotas a conquistas históricas dos trabalhadores brasileiros. Medidas para flexibilizar as leis trabalhistas e subsidiar a produção para “manter os empregos no Brasil”.
A verdade é que a tática do Governo é promover a aliança entre o capital e trabalho. A declaração do deputado federal José de Fillipi (PT) sentencia claramente: “Os trabalhadores terão de se sentar à mesa com os industriais numa nova perspectiva, não mais na dicotomia entre capital e trabalho. Essa dicotomia não vai deixar de existir, mas os representantes dos dois setores vão ter que negociar”.
Entretanto, a política de conciliação se mostra ineficiente a cada dia, e os capitalistas querem “concessões negociadas para manter os empregos”. Os dados de desemprego na indústria só aumentam. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), só em março, foram demitidos 4.500 trabalhadores4 no Estado, que é maior parque industrial do país.
Vejamos a relação entre capital e trabalho que será empreendida
Os trabalhadores ficam com o “Brasil Menor”
O Ministério do Trabalho prepara um projeto para que as empresas possam contratar nas seguintes modalidades, atualmente ilegais: um contrato eventual em que o trabalhador só receberá quando for chamado para trabalhar, isto é, contratar e chamar para trabalhar quando lhes for conveniente; a outra é com o mesmo objetivo, mas por hora trabalhada.
Com o verniz de manutenção do emprego no país o BNDES prepara uma linha de crédito de 500 bilhões, para as empresas.
“Redução do Custo Brasil”: desoneração tributária da ordem de R$ 24,5 bilhões. Isto é, ao mesmo tempo em que o Governo dá dinheiro através da Finep e BNDES, faz uma grande renúncia fiscal.
O “Brasil Maior” em lucros para os industriais e “Menor” em salários para os trabalhadores5.
Mas a ânsia por lucros da burguesia e a luta para obter meios mais rentáveis e fáceis não para. Segundo Paulo Skaf, presidente da Fiesp, além de achar tímidas as ações governamentais, opina sobre as concessões no Brasil: “O Governo precisa chamar os leilões para as concessões de energia elétrica que vão vencer em 2015. Com eles, e com as usinas hidrelétricas que já existem e não precisam de investimento, vai ser retirado do preço da energia o valor da amortização que a sociedade já pagou duas vezes durante 56 anos”. Isto é, o povo investiu durante 56 anos, e, agora que o parque hidroelétrico está quase pronto, sendo possível baixar o alto preço da energia no país, o lobby pela concessão/privatização se fortalece.
Competitividade e inovação tecnológica
São palavras que imperam nos discursos de Dilma e outros dirigentes da nação. Na prática, a tentativa é preparar o Brasil para competir com a China, que detém importante produção industrial. Para tornar o Brasil competitivo é necessário aumentar a produção e baixar o preço, portanto, é uma inovação com dinheiro público, canalizado para melhorar o rendimento de indústrias privadas somadas ao regime de trabalho chinês, que começa com medidas de flexibilização, terceirização e precarização.
Pedindo as sobras
É cada vez mais claro que toda a campanha de aliança com a burguesia brasileira para desenvolver a nação é um caminho para ter algumas políticas paliativas de amortecimento das revoltas populares por salários, melhores condições de trabalho, contra a carestia, moradia popular, terra, saúde, educação, acesso à informação e tecnologia. Entretanto, o aprofundamento da crise econômica, cíclicas e inevitáveis, é um fato que derruba o voo sem asas da socialdemocracia6.
A inovação tecnológica pode e deve ser destinada a resolver problemas históricos do povo brasileiro. Para isto, é preciso esforço político. A organização da produção, aliada a um planejamento do uso das riquezas do país, é capaz de resolver nossos problemas sociais, meta a ser alcançada plenamente sob um novo regime econômico e social, o socialismo.
É hora de ampliarmos o debate sobre esses temas na juventude. Questões como as mudanças do Código Florestal, O “AI-5 digital”, o fruto das pesquisas acadêmicas serem privatizadas através das patentes, “concessões selvagens” de serviços públicos como defendida pela Fiesp, “parceira” da atualdireção da UNE e da Ubes, os leilões do Pré-sal e o ensino público tecnológico sendo passado para a iniciativa privada através do Fies e Pronatec, são alguns exemplos dos desafios inseridos no campo da tecnologia.
2 – Os servidores públicos lutam por um reajuste salarial que totalizam 0,5% do PIB.
3 – Segundo o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), nos últimos seis anos, a balança comercial tinha um superávit de R$ 5 bilhões e caiu para um déficit de R$ 70 bilhões, ou seja, uma perda de R$ 75 bilhões. Resultando uma maior dependência econômica com o aumento da importação de produtos industrializados.
4 – Extraído do jornal Valor Econômico.
5 – A renúncia fiscal de 2011 totaliza mais de R$ 100 bilhões. 10% do PIB de 2011, que defendemos que vá para educação, totalizam R$ 105 bilhões.
6 – “O imperialismo está indissoluvelmente ligado ao capitalismo, e, consequentemente, as tentativas de reformar as bases do imperialismo constituem um desejo ingênuo e recuam em direção a uma adulação servil ao imperialismo dissimulada sob pretensões científicas. Bela lógica, na verdade!”. Lênin, em Imperialismo, fase superior do capitalismo.
Ricardo Senese, Diretor de Ciência e Tecnologia da UNE
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