UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 28 de novembro de 2024
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MLB denuncia fome no país e conquista cestas básicas

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Sem comida, aguardam liberação de cestas

A jornada nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) por um Natal sem fome e sem miséria, em Pernambuco, ocorreu no Shopping Center Recife, maior centro de compras da cidade, localizado em Boa Viagem, bairro nobre da capital.

O ato teve inicio às 10:30h do dia 23 de dezembro quando cerca de 300 pessoas se aglomeraram em frente a loja do Bompreço (WalMart) do shopping, onde foi feito o ato com distribuição de panfleto e intervenções dos coordenadores e coordenadoras. Falando na manifestação Serginaldo Santos afirmou “ .. é uma denúncia da situação da população pobre nesse período de compra que não pode comprar”. O panfleto do MLB denunciava o capitalismo em que “ De fato, no Brasil, os pobres pagam mais imposto que os ricos. Entre os anos 2000 e 2006, os bancos recolheram somente R$ 51,9 bilhões de Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica, enquanto os trabalhadores pagaram R$ 233,8 bilhões.”

Imediatamente, a administração do Shopping acionou os seguranças e o Batalhão de Choque da Policia Militar, mas como as famílias se mostraram firmes e decididas a só saírem com as cestas básicas, a administração do Shopping recuou e providenciou as cestas, uma vez que devido o tumulto algumas lojas estavam fechando e avaliaram que seria mais barato pagar as cestas do que tentar tirar as famílias à força.

Em entrevista à imprensa, o presidente da CDL, Eduardo Catão”…acho que esse tipo de movimento deve ter sido orquestrado por alguém que sabe das coisas. Ele foi estratégico e planejado para isso”.  Assim por volta das 13:00h após a garantia da administração do shopping de doar as cestas, as famílias concordaram em aguardar as cestas na área do estacionamento do shopping, que só entregou 250 cestas básicas por volta das 16:30h.

Nesta ação do MLB participaram as famílias das ocupações Mércia de Albuquerque I e II, de Jaboatão dos Guararapes, Mulheres de Tejucupapo, campo grande e do condomínio Dom Helder Camara, em Recife, além das famílias de Olinda das ocupações Fernando Santa Cruz e Padre Henrique.

Hinamar Araújo, Recife

A Verdade comemora 12 anos no Ceará

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Em um clima de muita combatividade e rebeldia cerca de 180 trabalhadores, jovens, adultos, crianças, mulheres, realizaram um ATO POLÍTICO-CULTURAL no Auditório da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (FACED/UFC). O evento contou com diversas representações da sociedade civil, em especial o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB); a Central dos Movimentos Populares (CMP); o Movimento de Luta Índigena, o Movimento Luta de Classes, o Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal no Ceará; a Associação de Professores do Ceará (APEC), o Sindicato dos Petroleiros CE/PI, entre outros.

A mesa foi presidida pelo coordenador do Jornal ‘A Verdade’ no Ceará, Francisco Correia (Bita), que, de imediato abriu o evento com a Internacional Comunista, hino dos trabalhadores de todo o mundo. Logo após, uma apresentação do estudante Alisson Silva, do Instituto Federal do Ceará, abordou na forma de ‘teatro mudo’ a necessidade de abrir os arquivos da ditadura fascista.

Em seguida foi composta a mesa de debate na qual  foram chamados o advogado Márcio Aguiar, representando a Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (RENAP), a Defensora Pública do Estado do Ceará Amélia Rocha, o diretor da Associação Anistia 64/68 (jurídico e memória) Mário Albuquerque, o presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa de Pernambuco, Edival Nunes Cajá, membro também do Partido Comunista Revolucionário (PCR), e o Membro da Comissão de Direito Sindical OAB/CE Clovis Renato Costa Farias.

Todas as intervenções reafirmaram a necessidade de transformar a atual Comissão da Verdade num instrumento de luta pela justiça, não apenas da memória e verdade. Foi também ressaltado o fato do nosso país ter sido condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA em relação aos mortos da Guerrilha do Araguaia e até hoje a maioria dos mortos não terem sido encontrados. Para Cajá, nossa luta é muito importante: “Nós já fomos julgados e condenados nos tribunais deles, militares fascistas. O que nós queremos não é vingança. O que queremos é que os criminosos sejam julgados na forma da lei desse país e dos tratados internacionais. Não queremos colocar os generais no pau-de-arara, nem dar choques elétricos em todo o corpo. Mas, que paguem pelos crimes que cometeram. Eles sequestraram, torturaram, assassinaram e ainda ocultaram os cadáveres desses jovens revolucionários. São vários crimes. Que sejam julgados”.

Várias intervenções do plenário reforçaram essa luta. Em todas ficou claro ainda a necessidade do nosso povo conhecer sua história e dar um passo em frente à sua luta por democracia verdadeira. Ao final, foram chamados nomes de alguns companheiros assassinatos, em especial alguns ceareses, que honraram com seu sangue o dever de lutar por um país melhor.

Bergson Gurjão Farias- PRESENTE

David Capistrano – PRESENTE

José Montenegro de Lima – PRESENTE

Jana Barroso – PRESENTE

AGORA E SEMPRE!!

Francisco Correa e Serley Leal, Fortaleza

Ditadura do capital financeiro desemprega milhões no mundo

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Fila de desempregados na Espanha

Desde setembro de 2008, e, em particular ao longo deste ano, o mundo vive a agonia do sistema capitalista e o desenvolvimento de sua crise. Como todos já perceberam, não se trata da crise de um país, os EUA, ou de um grupo de países, a União Europeia, ou de uma moeda, o dólar ou o euro, como insistentemente os grandes meios de comunicação da burguesia divulgam, mas de uma crise geral do capitalismo, a maior desde a Segunda Guerra Mundial, e  que afeta todas as economias. Até a economia chinesa já mostra sinais de desaceleração e uma possível crise no mercado imobiliário com os bancos chineses reconhecendo que de 23% dos créditos sofrem um risco sério de não serem pagos. É a globalização, não a tão cantada em prosa e verso pelos apologistas da economia de mercado, mas sim a da pobreza e do desemprego.

A destruição provocada por essa crise é gigantesca. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), nos últimos anos, 80 milhões de trabalhadores foram demitidos em todo o mundo. Somente nos EUA, maior economia do planeta, e, outrora a locomotiva do capitalismo, são 22 milhões de desempregados. O Reino Unido, 3ª maior economia do mundo, tem 8,3% da população desempregada, mas entre os jovens de 16 a 24 anos, o desemprego é de 21,9%. Na Espanha, 45,8% dos jovens não têm emprego. Na Itália, metade das mulheres estão fora do mercado de trabalho e 29% dos jovens estão desempregados. No total, ainda segundo a OIT, os desempregados no mundo já somam mais de 205 milhões e 1,6 bilhão de pessoas estão em situação de emprego vulnerável. .

Até setores da economia que registram aumento de lucros, demitem. Relatório da consultoria Gartner informa que no terceiro trimestre deste ano foram vendidos 440,5 milhões de telefones celulares no mundo, crescimento de 5,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Entretanto, a joint-venture Nokia Siemens Networks, segunda maior fabricante de aparelhos para telecomunicação sem fio, anunciou em 25 de novembro, que vai demitir 17 mil, 23% do quadro de funcionários da empresa.

Assim é o sistema capitalista: produz a crise, mas joga sobre os trabalhadores todo o seu ônus. Por isso, cresce em todo o planeta o número de familias sem teto, de prostituição e do comércio mundial de drogas.

Em 2008, disseram os governos e os economistas burgueses que o caminho para sair da crise era  o Estado utilizar os recursos públicos para salvar os bancos e monopólios. E assim foi feito. Trilhões de dólares foram injetados no sistema financeiro internacional. No Brasil, lembremos que o governo salvou da falência os bancos Votorantim, de Antonio Ermirio de Morais, e o Panamericano, de Silvio Santos e financiou a juros baixíssimos as  montadoras de automóveis.

Portanto, para salvar a oligarquia financeira ou “essa gentalha”, como diria Quico, personagem do programa Chaves, os Estados se endividaram, tomando dinheiro emprestado exatamente do capital financeiro a juros altíssimos e entregaram quase de graça para os bancos. Resultado, as dívidas públicas dispararam: a Alemanha deve 83% do PIB; a França, 86%; a Itália, 121%; Portugal, 106%, a Espanha, 65% e a Grécia 151,9%. A dívida do Japão atinge 200% do seu PIB e a dos EUA, 100%, cerca de 14,5 trilhões de dólares.

Golpe de mestre

O mecanismo do capital financeiro para fazer dinheiro fictício na crise é bastante engenhoso.

Primeiro, as agências de risco, empresas que têm os bancos entre seus proprietários, avaliam negativamente um país e reduzem sua nota. Em seguida, como o risco para investir nos papéis desse país passou a ser maior, os bancos cobram uma taxa de juros mais elevada pelos títulos colocados à venda. Com a recessão, consequência da queda do poder de compra dos trabalhadores, os governos arrecadam menos e têm menos recursos para fazer investimentos, manter os serviços sociais, os gastos com as Forças Armadas e com a Polícia. Estimulados pelo mercado financeiro, os Estados pagam altas taxas de juros pelos novos empréstimos. Seguem assim até que todos descobrem que o rei está nu, ou seja, que estão inadimplentes e suas dívidas se tornam impagáveis. Para se ter uma ideia, a dívida da Itália supera a  2,5 trilhões de euros, mas o Fundo de Estabilização Europeu criado para atender os países sem dinheiro para pagar dívidas, só tem em caixa 250 bilhões de euros. Aí, entram em ação, os representantes oficiais da oligarquia financeira – o FMI, o Banco Mundial, o Banco Central Europeu e, de resto os bancos centrais dos países, que em troca de novos empréstimos para refinanciar as dívidas exigem medidas antipopulares.

Por isso, os títulos dos governos da Espanha (6,6%), da Itália (7,3%), Portugal, Reino Unido, (3,7%) não param de subir.  A França também entrou na roda. As agências de risco ameaçam tirar a nota AAA do país e que já paga juros de 3,7%. E a Alemanha, que ria à toa, no final de novembro, tentou vender 6 bilhões de euros em títulos mas só conseguiu compradores para 3,6 bilhões.  Mesmo o Brasil, país que segundo o governo está imune à crise, paga juros de 11% por seus títulos e até outubro, gastou a pequena fortuna de R$ 197 bilhões com juros da dívida pública.

Para pagar esses juros, os governos cortam investimentos, verbas da educação e da saúde, arrocham o salários dos servidores, aumentam a idade para o trabalhador se aposentar e demite trabalhadores. Agem assim, mesmo sabendo que essas medidas só pioram a situação, pois, como mostra a Grécia, o receituário recomendado pelo FMI e pelo Banco Central Europeu, está levando o país para o quinto ano seguido de recessão.

Por esta razão, os lucros dos bancos, mesmo com a crise, aumentam. Segundo o The Wall Street Journal, os bancos norte-americanos tiveram entre julho e setembro deste ano, lucro de US$ 35 bilhões, o maior dos últimos quatro anos. No Brasil, entre janeiro e setembro de 2011, o Itaú registrou o maior lucro da história, R$ 10,9 bilhões e o Bradesco, R$ 8,30 bilhões no mesmo período.

Em Portugal, por exemplo, o governo pegou emprestado do BCE e do FMI e de bancos internacionais 79 bilhões de euros. Deste montante, 12 bilhões de euros vão para salvar bancos portugueses, operação chamada elegantemente de recapitalização dos bancos. Por esse empréstimo, o estado português, portanto o povo, pagará de juros 34,40 bilhões de euros. Ou seja, socializa os prejuízos e privatiza os lucros. Grécia, Portugal e Irlanda passaram pela mesma via crucis.

Para a continuidade dessa política, é necessário que a oligarquia tenha total e absoluto controle sobre os governos. Por isso, a intervenção da troika, Banco Central Europeu, FMI e a União Europeia nos governos da Europa impondo primeiros-ministros e planos econômicos.  Dizem que são técnicos que entendem mais de economia, mas, na verdade, são interventores do capital financeiro internacional para assegurar que os recursos públicos sigam direto para os bolsos dessa minoria que se apoderou do mundo.

Eles são surdos

Contra essa política, mas ainda não contra esse sistema, os trabalhadores e a juventude, não param de lutar para que os ricos paguem a conta da crise.  Em outubro ocorreram manifestações em 85 países contra a política dos governos capitalistas de sacrificar o povo para salvar banqueiros e monopólios. No dia 24 de novembro, Portugal realizou sua maior greve geral da história. Na Grécia, só este ano foram realizadas cinco greves gerais. Na última, mais de meio milhão de pessoas ocuparam as ruas centrais de Atenas contra o governo dos lacaios do FMI e do Banco Central Europeu. Na Itália, no dia 17 de novembro, milhões foram às ruas contra o desemprego e as medidas do governo de corte dos direitos. Nos EUA, aumenta o número de movimentos como o Ocupa Wall Street, o Ocupe Califórnia; o Ocupe San Francisco e o Ocupe Oakland.  Na América Latina, também no dia 24, a juventude foi às ruas na maioria dos países contra a privatização e em defesa da educação publica e gratuita.

Ora, o capitalismo é um sistema econômico que tem como único objetivo garantir o enriquecimento da burguesia, da classe capitalista. Acontece que a burguesia, uma classe reduzidíssima de pessoas, centraliza o conjunto das riquezas produzidas na sociedade em suas mãos, enquanto a maioria da população vive com baixos salários e na pobreza. Em virtude dessa contradição, o consumo das massas populares, os principais consumidores de uma sociedade, é cada dia menor, ocasionando a crise de superprodução: tem mercadorias mas não têm compradores.

Logo, para resolver a crise, seria necessário recuperar o poder de compra das massas trabalhadoras, garantir salário digno e trabalho para todos, mas o capitalismo não tem nenhum objetivo social, seu objetivo é obter o lucro para a classe capitalista, não importa a que custo ou que conseqüências isso provoque.  Resultado, as massas veem, a cada ano, seu poder de compra diminuir e o desemprego crescer. Com efeito, segundo estudo da OIT, de 118 países, 69 registraram aumento da piora das condições de vida da população e nunca o mundo teve tanta gente passando fome. Por outro lado, o mercado global de luxo, voltado para a elite mundial, cresce e movimenta 191 bilhões de euros.

Para agravar esse quadro, com a crise, acelera o processo de concentração do capital, isto é, diminui  ainda mais o número de capitalistas proprietários dos meios de produção. De fato, segundo o estudo The network of global corporate control (rede de controle global das transnacionais), realizado pelo Instituto  Federal de Tecnologia de Zurique,  após exame de 43.000 empresas mundiais, 80% dessas empresas são controladas por somente 737 outras empresas, bancos, grandes grupos industriais ou fundos de investimentos e pensões. Entre essas 737 empresas ou entidades, estão o banco britânico Barclays, os norte-americanos JP Morgan, Merrill Lynch, Goldman Sachs, Morgan Stanley e grupos bancários franceses, alemães e ingleses.

Em resumo, o mercado nada mais é que menos de 800 bancos e monopólios que controlam a economia mundial e nomeia primeiroS-ministros, decidem as guerras, para que bolsa ou paraíso fiscal deve ir o capital finaceiro, qual deve ser o país a ser esfolado e espalham a fome e destroem o meio-ambiente.

A propósito, vale a pena lembrar as palavras de Lênin escritas em 1917, quase um século atrás, mas de grande atualidade: “Há meio século, quando Marx escreveu O Capital, a livre concorrência era, para a maior parte dos economistas, uma “lei natural”. A ciência oficial procurou aniquilar, por meio da conspiração do silêncio, a obra de Marx, que tinha demonstrado, com uma análise téorica e histórica do capitalismo que, a livre concorrência gera a concentração da produção, e que a referida concentração, num certo grau do seu desenvolvimento, conduz ao monopólio. Agora, o monopólio é um fato. ”

(…)

“O capitalismo na sua fase imperialista, conduz à socialização integral da produção nos seus mais variados aspectos; arrasta, por assim dizer, os capitalistas, contra a sua vontade e sem que disso tenham consciência, para um certo novo regime social, de transição entre a absoluta liberdade de concorrencia e a socialização completa.”

“A produção passa a ser social, mas a apropriação continua a ser privada. Os meios sociais de produção continuam a ser propriedade privada de um reduzido número de individuos. Mantêm-se o quadro geral da livre concorrência formalmente reconhecida, e o jugo de uns quantos monopolistas sobre o resto da população torna-se cem vezes mais duro, mais sensivel, mais insuportavel.”

 Para abolir esse sistema, não basta, pois, medidas macroprudenciais; é preciso acabar com a  ditadura da oligarquia financeira sobre os governos e a economia, é preciso nacionalizar os bancos e as companhias de seguros, cancelar as dividas públicas e, principalmente,  socializar os meios de produção. Enfim, para resolver a crise, é preciso acabar com sua verdadeira causa, a contradição entre apropriação das riquezas por uma minoria e o caráter social da produção. Portanto, a própria crise capitalista colocou o dilema: ou se tem governos impostos pelo mercado, pela oligarquia financeira, ou se tem governos a favor dos trabalhadores.

Lula Falcão, membro do Comitê Central do PCR e diretor de Redação de A Verdade

Dados do IBGE revelam necessidade de transformação social

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Ao longo deste ano o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou alguns dados preliminares acerca do último Censo. O desenvolvimento deste estudo, que é realizado a cada decênio, é fundamental para que os governos mapeiem as principais mudanças e/ou permanências verificadas nas áreas social, econômica, política e cultural que ocorreram no país nos últimos dez anos. Além disso, este tipo de estudo ajuda na elaboração e implementação das políticas públicas, seja no combate à miséria ou mesmo na elevação do nível educacional do País, por exemplo.

 Prestes a se tornar a sexta maior economia do mundo, superando inclusive uma das maiores potências mundiais, o Reino Unido, o Brasil amarga diversas permanências socioeconômicas. Uma análise pouco aprofundada do desempenho do País nos últimos dez anos nos revelou alguns dados positivos e outros extremamente negativos e duramente persistentes para a riqueza que é gerada no país. Na educação, por exemplo, houve uma redução importante, mas pouco significativa, do analfabetismo; ou seja, se em 2000 o Censo registrava uma média de 12,8% de analfabetos no Brasil, em 2010 os dados registraram uma redução de apenas 3,8%. Isso significa que 9% da população brasileira continua analfabeta; em termos absolutos, são 14,6 milhões de brasileiros com mais de 10 anos de idade que não sabem ler nem escrever.

Os números mostram ainda um envelhecimento gradual da população, uma vez que pessoas com 65 anos ou mais representam agora 7,4% nos dados de 2010, em contraposição aos 5,9% de 2000. O envelhecimento da população é um indicador que pode demonstrar uma melhora da qualidade de vida da população, mas é preciso analisar estes dados com profundidade, conhecendo a realidade de cada região, pois alguns dados são apresentados com uma média global, distorcendo, assim, a realidade. Além disso, é preciso saber se o País está preparado para realizar o atendimento, a partir das políticas governamentais, dessa mesma população.

Por outro lado, os dados trazem alguns números preocupantes e bastante corriqueiros quando nos referimos às características socioeconômicas do Brasil. Os serviços públicos e infraestrutura continuam a desejar. Para se ter uma ideia, no que se refere ao saneamento básico apenas 55,4% dos 57,3 milhões de domicílios são ligados à rede de esgoto; dos restantes, 11% utilizavam fossa séptica e os outros 32% utilizavam formas alternativas; isso significa que os rios, os córregos e as fossas rudimentares ainda são utilizados em substituição à rede de esgoto.

Mais: cerca de 10% da população brasileira ainda utiliza mecanismos no mínimo antiquados para a época atual, em função da tecnologia de que dispomos, ou seja, para que a água chegue ao lar de quase 20 milhões de brasileiros, a alternativa continua sendo o poço artesiano, os rios etc. Os números mais amargos continuam sendo os da desigualdade de renda entre os domicílios.

O país continua apresentando também uma grande desigualdade. Os 20% mais ricos do país têm um patamar de renda semelhante ao de países como Canadá e Alemanha, ao passo que o restante da população vive numa condição muito parecida com a dos países pobres.

O índice de Gini foi utilizado para medir o grau de desigualdade. Quanto mais próximo de 0, menor desigualdade; quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade. Apesar de a taxa média do Brasil sofrer uma queda, cerca de 11,5%, o País ainda apresenta um índice de desigualdade superior a muitos países do Terceiro Mundo.

De acordo com o IBGE, a parcela dos 10% com os maiores rendimentos ganhava 44,5% do total de renda (recebia em média R$ 9.501 ao mês) e a dos 10% com os mais baixos rendimentos, apenas 1,1%. Em outra estimativa, agora com os 50% de menores rendimentos, chegou-se à conclusão de que este grupo concentrava apenas 17,7% do total (recebendo em média R$ 225 ao mês). Em termos práticos, isso significa que os ricos ganham 42 vezes mais que os pobres no Brasil.

Os dados mostraram ainda que metade da população recebeu, durante o ano de 2010, cerca de R$ 375, valor bem abaixo do salário mínimo pago na época, que era R$ 510. Por outro lado, a desigualdade de gênero e racial permanece, pois os maiores salários ainda são pagos a homens, cerca de 42% a mais que o das mulheres, e, ao mesmo tempo, os números mostram que a população negra e parda ganha 3,2 menos que a população branca.

Desta forma, a divulgação desses dados assinala a necessidade de uma permanente reflexão e luta pela transformação social. As reduções verificadas são insignificantes quando nos deparamos com o tamanho do país e a riqueza que possuímos. O que se vê é uma concentração regional, resultado de uma permanência histórica. Ao mesmo tempo, as ações públicas caminham a passos lentos.

Se a população está envelhecendo, quais as ações desenvolvidas que protegem o direito do idoso na atualidade? Será que o País está preparado para atendê-los em sua plenitude? Se há uma redução do analfabetismo. por que não questionar a qualidade da educação que é oferecida e a formação que é dada ao professor? O fato é que a materialização dessa desigualdade está refletida nas zonas rurais, nas cidades médias e nos grandes centros urbanos do País. Os espaços urbanos, por exemplo, dispõem de espaços para os pobres e espaços para os ricos: lojas, áreas de lazer, escolas, faculdades, condomínios privados e lugares. Cada dia eles segregam mais, aumentando o fosso de desigualdade que ainda persiste no Brasil.

Por isso, cada vez mais é fundamental o questionar permanente da atual sociedade capitalista, pois em todos estes anos ela foi incapaz de resolver os principais males que afligem nossa população, pois se houve mudanças, como eles apontam, todas vieram da luta dos povos oprimidos e subjugados que são responsáveis por produzir a riqueza deste País, mas que não usufruem do que eles mesmos produzem.

Cleiton Ferreira, geógrafo

Fontes: IBGE, Folha de S.Paulo, 29/04/2011; Agência Carta Maior, 16/11/11.

Fontes: Folha de S.Paulo, 29/04/2011; Agência Carta Maior, 16/11/11.

Menucci, um maestro de luta

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Da esquerda para direita: Abelardo da Hora, Germano Coelho e o maestro Menucci

Violinista e maestro, Geraldo Menucci é uma importante personalidade artística nacional. Nascido no Rio de Janeiro (3/6/1929), em 1951 foi morar no Recife, onde vive até hoje. É amigo do artista plástico Abelardo da Hora, com quem trabalhou na Casa das Artes e no Movimento de Cultura Popular (MCP),  na década de 1960.

Fundador do Coral Bach (1952), Menucci recebeu a honra de ter a ação reconhecida por Heitor Villa-Lobos, pioneiro do canto coral no Brasil: “Considero um verdadeiro milagre”. Emocionou o mundo quando da participação do coral no 6º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, em 1957, em Moscou. Acabou por estender as apresentações do coral a vários outros países, como a Polônia, a Bulgária e a então Tchecoslováquia. Na volta, foi preso por ter visitado países socialistas.

Defensor da cultura popular, foi responsável por diversas ações no sentido de fortalecer a cultura e o gosto do povo pela música erudita. Organizou a Serenata Fluvial, no Rio Capibaribe, no Recife, aproveitando os músicos do MCP; para isso utilizou dez canoas com seis cantores em cada. Ainda pelo MCP, baseado em Paulo Freire, forjou centros de alfabetização populares. “Que sentido tem a letra ‘c’, de castelo, para um favelado? É melhor você botar um ‘b’, de barraco. (…) Dá uma conjuntura, há semântica, do que ele vive”, conta Menucci.

Musicou o Hino do Camponês, de autoria do então deputado Francisco Julião, importante personalidade das Ligas Camponesas. Por essas e outras proximidades e trabalhos com personalidades populares e comunistas, foi perseguido e expulso da Prefeitura do Recife quando do golpe de 1964. Ainda perseguido, foge para o Rio de Janeiro com a ajuda de Dom Helder. Lá é preso e torna-se amigo do – também preso político – ator Mário Lago. Quando solto, funda dezena de corais pelo Brasil.

Menucci é anistiado pela Lei de Anistia, de 1980, e ainda hoje trabalha como maestro e luta para estruturar e fortalecer a Orquestra Sinfônica de Olinda, Pernambuco.

Eduardo Augusto e João Henrique

Morte e Vida Severina: retrato da desigualdade

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Capa de Morte e Vida Severina

Um clássico é sempre um clássico. Não importa os anos que passam. Essa regra pode e deve ser usada para o filme feito para a TV Morte e vida severina, baseado no também clássico livro homônimo do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, publicado pela primeira vez em 1955.

Sem cair na mesmice de outras produções que, apesar de muito caras, não têm o dom de transmitir a realidade em poesia. Afinal, histórias como a de Severino são mais comuns do que se possa imaginar

A obra dirigida por Zelito Viana em 1971 consegue retratar os sentimentos presentes no poema de João Cabral e os contrastes da vida real que se faz presente durante todo o enredo do personagem principal: o Severino.

A luta constante do povo sertanejo castigado pela seca e por seus governantes e pela ganância de poucos que possuem tudo, transforma muitos Severinos em retirantes que se embrenham na mesma jornada dolorosa em busca de esperança. O caminho é quase sempre de desgraça, fome e morte. No final, nem todos têm a mesma sorte do protagonista que vê no nascimento de uma criança desconhecida o sonho de dias melhores desistindo de encerrar a própria vida.

O filme abre então a possibilidade de refletirmos sobre a realidade de muitos Severinos dos dias de hoje.  Não é apenas a seca que os flagela. É o desemprego que é muito alto no Sertão e a falta de investimentos que terminam gerando o êxodo rural quando pessoas como o Severino do filme tentam ir aos grandes centros em busca de oportunidades. A maioria deles encontra mais desigualdade ainda. Aliás, a falta d’água no Sertão não é só natural, pois há tecnologia avançada para levar água para essas regiões. Prova disso é lugares desérticos já possuírem mar e rios artificiais, já que esses lugares são de interesse comercial.

Ao nos depararmos com os versos de João Cabral em imagens, os sentimentos surgem: tristeza; raiva; pena; empatia e às vezes até a mesmo impotência diante de tanta injustiça, mas também alegria e a esperança de dias felizes. Com grandes atuações de Luiz Mendonça, José Dumont, Elba Ramalho e Jofre Soares, o filme mostra nossa realidade nua e crua que, apesar de terem se passado mais de 50 anos, pouco ou quase nada mudou.

Ver está obra-prima comove e encanta e é uma boa opção para quem gosta de refletir sobre a realidade social de nosso país.

Lene Correa, Recif

Conferência de Mulheres das Américas é lançada em Pernambuco

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No mundo inteiro as mulheres estão nas ruas por mudanças sociais, emprego, educação, saúde e contra o corte de aposentadorias e a violência.  Com esse espírito de transformação, o Movimento Mulheres Olga Benário iniciou a preparação da Conferência de Mulheres das Américas que será realizada em São Paulo em maio de 2011, por decisão da Conferência Mundial de Mulheres de Base, que aconteceu em março deste ano em Caracas, Venezuela.

Assim, no dia 22 de novembro, a Casa do Estudante de Pernambuco, no Recife, viu seu auditório lotado com mais de 100 pessoas. O lançamento fez referência ao Dia Internacional de Combate à Violência contra Mulher (25 de novembro), colocando esta questão como tema central do debate que foi realizado.

Guita Kozmhinsky, que dirigiu os trabalhos em nome do movimento, saudou as mulheres presentes resgatando as Irmãs Mirabal, assassinadas na República Dominicana, em 1960, por sua luta contra o governo fascista do presidente Leônidas Trujillo. O Promotor Público Westei y Contte, que fez uma análise do desenvolvimento jurídico que culminou com a criação da Lei Maria da Penha, a qual foi uma vitória do movimento de mulheres.

Em seguida, Fátima Souza, escritora e Secretária de Saúde de Fernando de Noronha, afirmou que a violência contra a mulher é uma questão de saúde pública, referindo-se ao processo histórico e cultural que gerou a opressão da mulher nos primórdios da história da humanidade e que se mantêm até nossos dias.

A secretária estadual da Mulher, Cristina Buarque, prestigiou a atividade com sua presença, fez uma análise antropológica das mulheres no Brasil e afirmou que as mulheres sofrem muitas formas de violência, mas que a violência moral dói tanto quanto a física. Outra questão importante abordada pela secretária foi a dívida social com os negros em nosso pais, em especial com as mulheres negras.

Sandra Tavares, Secretária da Mulher do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, falou da importância da presença feminina em todos os espaços de luta, em especial na luta de classes e na luta sindical.

Elisabeth Araújo, representando o Movimento de Mulheres Olga Benário, falou sobre o nascimento do Movimento a partir das experiências de luta de vários movimentos e convocou todas à luta, afirmando que o Olga Benário foi construído para se somar aos outros movimentos e fortalecer a luta pelo socialismo.

Importantes presenças enriqueceram o evento. Em destaque, Steffany Vilela, presidente da União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco; Marília Novaes, presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Pernambuco, entre várias lideranças estudantis, sindicais, como José Augusto Santana, presidente do Sindlimp-PE; lideranças do Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas (MLB), como Serginaldo Quirino e Graça Alves, além da Secretaria de Direitos Humanos.

Realizar lançamentos da Conferência de Mulheres das Américas nos estados é uma tarefa prioritária para a realização com êxito da Conferência das Américas. Todas companheiras podem ajudar nesta construção, seja na divulgação, por jornais ou internet, em contatos para a infra-estrutura e principalmente mobilizando o conjunto de mulheres do nosso país, e defendendo o mesmo princípio da comunista Olga Benário “Lutar pelo novo, pelo justo, pelo melhor do mundo”.

Da Redação

As raízes da violência contra a mulher

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Estima-se que, no Brasil, a cada dois minutos cinco mulheres são agredidas e que seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica. É o que aponta a pesquisa Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil 2011, realizada pelo Ipsos com assessoria do Instituto Patrícia Galvão.

A pesquisa divulgou ainda o fato de que machismo e alcoolismo são apontados como os principais motivadores dessas agressões e sinaliza as razões pelas quais as mulheres continuam com uma relação mesmo após sofrer violência: falta de condições econômicas para se sustentar e sustentar os filhos, seguido pelo medo de serem mortas.

Também a pesquisa Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado, da Fundação Perseu Abramo/Sesc, de 2010, informa que mais de 80% dos casos denunciados de violência contra a mulher são praticados por maridos ou namorados.

Segundo ainda o Instituto Patrícia Galvão, é cada dia maior o número de casos denunciados que se enquadram em violência doméstica, isso porque o entendimento sobre as formas desse tipo de violência se ampliou entre a população brasileira. Os dados da pesquisa do Instituto Avon/Ipsos mostram que, além da violência física, a humilhação e a ameaça são consideradas agressões graves. A mesma pesquisa revela a descrença da população quanto à proteção jurídica e policial em caso de violência doméstica: 59% das mulheres e 47% dos homens entrevistados declaram não confiar na proteção proporcionada às mulheres por essas instâncias.

No Ceará, em Fortaleza, de janeiro de 2009 a outubro de 2011 foram registrados 20.728 casos de agressões. Somente este ano, a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) já registrou 8.909 boletins de ocorrência.

Tal situação não se restringe ao Brasil. Em 2007, o Conselho da Europa, na véspera das comemorações do Dia Internacional da Mulher, informou que entre 20% e 25% das mulheres europeias sofreram violência física pelo menos uma vez na vida, de acordo com um estudo realizado em 31 dos 46 países que formam a organização pan-europeia.

A opressão da mulher

A violência contra a mulher não começou ontem. Há séculos e até milênios a mulher é subjugada na sociedade. A violência física, sexual, psicológica contra a mulher – ou o “direito” de agredir mulheres – está ligada a uma relação de poder na sociedade. É como se determinada parcela da população tivesse o poder de ditar o que a mulher pode ou não fazer e, se ela não se submeter, deve apanhar para colocar-se no seu lugar.

Mulheres e homens são biologicamente diferentes e essas diferenças determinaram historicamente que cumprissem papéis sociais diferentes. Mas nos primórdios das sociedades essa divisão não significava nenhuma hierarquia. Não havia propriedade privada e todos trabalhavam e produziam o que era necessário para garantir a sobrevivência de todos, cumprindo tarefas diferentes, mas complementares para a comunidade.

Com o desenvolvimento da sociedade e a produção de excedentes, surgem as bases para a apropriação desses excedentes: a propriedade privada. A propriedade privada, por sua vez, traz outra necessidade: a herança, ou para quem deixar essa propriedade acumulada.

É somente a partir dessas novas necessidades que começa a existir a família como a conhecemos hoje, a família nuclear composta de um homem, uma mulher e seus filhos. Já que a maternidade era evidente, para a certificação da paternidade só havia uma forma: manter a mulher na esfera privada como forma de garantir sua monogamia e permitir somente ao homem a participação na esfera pública.

Não é difícil imaginar que manter a mulher subjugada a essa situação não foi fácil; muita opressão foi necessária para que a sociedade “naturalizasse” essa forma de viver. Era necessário que o homem exercesse poder sobre a mulher, que ditasse como deveria ser sua vida; era necessário construir a ideia de que a mulher é inferior e, por ser inferior, tem que acatar essa realidade e ser dirigida por um homem que sabe o que é melhor para ela.

Tal relação de poder entre esses dois gêneros perdura até hoje, ainda que em muitos aspectos tenha se alterado conforme a realidade. Até hoje carregamos as mazelas de uma sociedade que tenta manter a mulher restrita ao espaço privado, doméstico, cuidando de afazeres que socialmente são entendidos (porque foram construídos ideologicamente) como menores, como cuidar da casa e dos filhos.

Então a origem da opressão contra a mulher vem de uma relação social determinada por uma relação econômica, e sua manutenção acontece sobre essas mesmas bases. A submissão da mulher, pacificamente ou não, a uma relação de violência, está determinada, em última instância, por uma situação econômica. Uma mulher pobre, com filhos, sem formação profissional ou mesmo sem estudo, que não possui nada, nem condições de vender sua força de trabalho, está muito mais vulnerável a permanecer em uma relação onde sofra violência.

Como dar um basta em uma situação assim, ainda que se tenha consciência de seu absurdo, se não há condições materiais de viver de modo diferente?

Luta cotidiana

Há cinco anos o Brasil aprovou uma nova legislação relativa ao tema da violência contra a mulher, a Lei nº 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha. Essa lei leva o nome de uma personagem emblemática da situação de violência sofrida pelas mulheres: Maria da Penha Maia Fernandes, que foi recorrentemente agredida pelo marido por anos e sofreu duas tentativas de assassinato, até ficar paraplégica em consequência dessas agressões.

A Lei Maria da Penha é um marco no avanço jurídico do enfrentamento à violência contra a mulher, pois prevê uma resposta muito mais efetiva do Estado a essa violação, evitando que as condenações por crimes de violência doméstica sejam atenuadas quando está em questão a “honra masculina”. Proíbe, por exemplo, a aplicação de penas alternativas que mantêm a mulher sob situação vulnerável enquanto o agressor distribui cestas básicas, por exemplo.

A aprovação de leis que colaborem com a emancipação da mulher é muito importante para a mudança de comportamento da sociedade. O processo de formação de consciência de homens e mulheres passa, entre outros, pelo fato de “sabermos” que determinada atitude é correta ou não. Quando a lei diz que a violência doméstica – física, psicológica, moral, sexual e patrimonial – é crime, isso colabora com o entendimento da sociedade como um todo de que esse comportamento é errado, é injusto, e deve ser combatido.

Mas olhemos para alguns dados sobre Serviços de Atendimento à Mulher disponíveis no país, divulgados pela Agência Patrícia Galvão:

O Brasil tem mais de 5.500 municípios e apenas:

  • 466 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
  • 190 Centros de Referência (atenção social, psicológica e orientação jurídica)  
  • 93 Juizados Especializados e Varas adaptadas
  • 72 Casas-Abrigo
  • 57 Defensorias Especializadas
  • 21 Promotorias Especializadas
  • 21 Promotorias/Núcleos de Gênero no Ministério Público
  • 12 Serviços de Responsabilização e Educação do Agressor

Estes dados em geral já são bastante ruins, porém quando olhamos para os aparelhos de Estado que deveriam garantir à mulher condições de viver sem depender economicamente do agressor, como as Casas-Abrigo, ou que visem a uma efetiva mudança de comportamento, como os Serviços de Responsabilização e Educação do Agressor, os números são piores: são apenas 72 Casas-Abrigo e 12 Serviços de Responsabilização e Educação do Agressor.

Assim a lei, apesar de apresentar uma perspectiva de prevenção e assistência à vítima, ainda tem muitos limites; sua maior força ainda está no seu caráter punitivo. Os aspectos mais avançados no sentido de uma conscientização da questão da violência são os mais difíceis de aplicar, e ela acaba, ainda que não pretenda, mantendo a lógica de individualizar um problema que é social.

Por tudo isso, afirmar que a mulher somente será verdadeiramente livre numa nova sociedade em que não exista a exploração do homem pelo homem, não é mera questão retórica. Pois somente numa sociedade socialista será possível pôr fim às amarras econômicas produzidas e reproduzidas diariamente pelo sistema capitalista e construir homens e mulheres novos.

Movimento de Mulheres Olga Benário – São Paulo

Eleições derrotam social democracia na Espanha

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Governada pelo Partido Socialista dos Operários da Espanha (PSOE) e com 22% da população desempregada, a Espanha realizou no dia 20 de novembro eleições gerais. Nos últimos anos, o PSOE e Zapatero implementaram medidas de fazer inveja a qualquer neoliberal: cortes nas áreas sociais, aumento da idade mínima para aposentadoria e congelamento dos salários dos servidores públicos. Todas essas medidas aprofundaram a recessão no país e aumentaram a concentração de riqueza.

As pesquisas eleitorais já previam uma dura derrota para o PSOE em resposta a essas medidas antipo-populares realizadas pelo governo. Os dados da eleição, no entanto, mostraram uma derrota ainda mais profunda, sendo este o pior resultado do PSOE desde o fim do franquismo. A abstenção eleiotral também cresceu muito, configurando-se como a segunda opção eleitoral. O Partido Popular (PP), organização de extrema direita que conta com diversos quadros que estiveram na ditadura de Franco, conquistou uma ampla maioria no parlamento, possibilitando assim o crescimento dos ataques contra os direitos dos trabalhadores.

A esquerda espanhola encontra-se enfraquecida e não consegue aparecer para o povo como uma alternativa viável, em virtude da presença do reformismo em grande parte do movimento popular. Como se sabe, a Espanha voltou a ser, desde o fim do franquismo, uma Monarquia Parlamentar, e vários partidos ditos socialistas participam do “consenso” da constituição monárquica que oprime as nacionalidades da Espanha e mantêm os privilégios de uma oligarquia.

Em nota oficial sobre as eleições, o Partido Comunista da Espanha Marxista-Leninista (PCE-ML) afirmou: “Pode-se estranhar essa vitória arrasadora de uma força reacionária repleta de elementos oriundos do franquismo e de políticos corruptos em um momento como o atual, no qual a oligarquia trabalha para aprofundar seu ataque contra as classes populares. Mas o PP não ganhou por seus méritos. Foi a traição realizada por um governo “social-democrata” o que levou muitos cidadãos a buscar a vingança com um maciço voto de castigo na única força que se via como possibilidade de chegar à maioria. O recurso do voto útil, no qual a esquerda institucional é pródiga em utilizar para pressionar os eleitores, terminou por voltar-se contra eles próprios”.

O PCE-ML também apontou como muito importante o nascimento da alternativa Republicanos: “Para iniciar o caminho da unidade consequente da esquerda, nasceu Republicanos, uma federação que nosso partido apoia plenamente  e que, apesar de todas as dificuldades, apresentou candidaturas em oito circunscrições e implantou núcleos em numerosas províncias. Virão meses muito duros. A União Europeia do capital e da guerra está dando passos para acabar com qualquer resto de soberania dos estados-membros. Entramos em um período no qual os dias podem valer por anos, de mudanças constantes. A foto política surgida nas eleições de 20 de novembro não vai durar muito”.

Redação São Paulo

Encontro de sindicalismo classista convoca trabalhadores à luta contra o capital

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A 8ª edição do Encontro Latino-Americano e Caribenho de Sindicalistas (ELCS) se realizou com grande sucesso na cidade de Santo Domingo, capital da República Dominicana, nos dias 18, 19 e 20 de novembro. Além de dezenas de organizações do país-sede, compareceram ao evento 150 delegados de entidades e movimentos de mais dez países: Brasil, Equador, Colômbia, Porto Rico, Haiti, Martinica, Guadalupe, México, EUA e Filipinas (os dois últimos como convidados especiais). A delegação do Movimento Luta de Classes (MLC) foi composta pela companheira Denise Maia e os companheiros Luiz Henrique Assis, Rafael Freire e Victor Madeira.

A preparação desta atividade ficou por conta de um Comitê Coordenador Internacional, do qual é membro o Movimento Luta de Classes (MLC). O comitê se reuniu em diversos momentos, como no 1º Congresso do MLC, em meados de 2010, em Belo Horizonte, e durante o 9º Congresso da União Geral dos Trabalhadores do Equador (UGTE), em dezembro passado. A partir deste debate coletivo, foram traçadas as linhas gerais do 8º ELCS e definido seu tema central: “A crise do sistema capitalista: formas de organização, níveis de unidade, demandas e alternativas atuais dos trabalhadores”.

O ato de abertura se realizou em clima de grande alegria e expectativa no Colégio dos Engenheiros e Arquitetos Dominicanos. A mesa oficial contou com a presença de representantes de cada um dos países presentes e do Comitê Nacional Preparatório. Coube ao MLC a saudação em nome das delegações internacionais, feita pelo companheiro Victor Madeira, dirigente da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef). A palestra inaugural, com o tema “A crise do sistema capitalista” foi feita por Nelson Erazo, presidente da UGTE.

O dia 19 iniciou-se com os informes dos países acerca das lutas dos trabalhadores dentro de sua realidade específica e no contexto geral da crise capitalista. Como um todo, o que se verifica é um aprofundamento das contradições entre os trabalhadores e as classes dominantes, levando a um reaquecimento e a uma radicalização das lutas. E o balanço dessas lutas evidencia que o proletariado, os setores juvenis e populares têm dado uma resposta à altura do que exige este momento especial.

O informe do MLC foi apresentado pelo companheiro Rafael Freire, presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba, que  ressaltou o grande ano de lutas vivido pelos trabalhadores brasileiros, especialmente pelas grandes greves realizadas por setores operários da construção pesada, como nas obras dos estádios da Copa de 2014, das usinas hidrelétricas no Norte, da refinaria de petróleo em Suape (Pernambuco), etc. Também as greves nacionais dos bancários, Correios, servidores técnico-administrativos das universidades federais, professores e servidores dos institutos federais tecnológicos, bombeiros do Rio de Janeiro, professores públicos de vários estados, etc. Apontou as lutas e mobilizações desenvolvidas pelo MLC, como nas greves e paralisações nos setores da limpeza urbana, água, construção civil, metalurgia, indústria naval e de alimentos, educação, etc. e a luta contra os leilões do Pré-Sal e por uma Petrobras 100% estatal.

Em seguida, foram formados os grupos de trabalho para debater os temas já apresentados. Posteriormente, palestra com o tema “Estratégia de organização dos trabalhadores”, mais informes das entidades dominicanas acerca da realidade local.

No último dia do encontro, Colômbia e Haiti tiveram a oportunidade de apresentar mais detalhadamente sua conjuntura, por se tratarem de países em que as contradições do sistema estão num nível mais elevado do que nos demais. Na Colômbia, o ex-presidente Álvaro Uribe investiu, em seus oito anos de governo, mais recursos públicos no setor militar do que nas áreas sociais. O objetivo é sufocar a luta revolucionária que desenvolvem no país as Farcs e as demais guerrilhas pela libertação nacional e social. Já no governo do atual presidente Juan Manuel Santos, o que se vê é uma escalada de prisões e assassinatos de sindicalistas e o fechamento do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os EUA, convertendo a Colômbia, cada vez mais, num Estado policial, fascista e pró-imperialista.

No Haiti (país situado na porção ocidental da ilha Hisponiola, dividindo-a com a Republica Dominicana) a situação é gravíssima. Além da miséria que assola a imensa maioria da população, ocorreu, em 2010, um terremoto de grandes proporções na capital Porto Príncipe, provocando a morte de mais de 200 mil pessoas e deixando outras milhões desabrigadas. Desde então, o país está ocupado por tropas da ONU, sob o comando do Exército brasileiro. Esta missão, que deveria ser de paz, ao invés de promover a efetiva reconstrução do país quanto à sua estrutura física, agricultura, rede de saúde e educação, saneamento básico, frentes de trabalho, está servindo unicamente para impedir, à força, a revolta popular contra séculos de exploração dos países ricos (seja França ou EUA) e contra as condições desumanas impostas pelas elites locais e suas forças policiais de repressão e extermínio. Registram-se frequentemente denúncias de espancamentos, roubos, estupros e execuções por parte das tropas de ocupação contra os moradores das favelas do Haiti.

Após a exposição destes importantes temas, formaram-se novos grupos de trabalho para levantar propostas concretas sobre os eixos de organização, formação, mobilização, propaganda, resoluções/moções e declaração oficial.

Na plenária final, todas as propostas dos grupos foram aprovadas por unanimidade, destacando-se: 1. Defesa de uma organização sindical por ramos de produção (metalurgia, telecomunicações, saúde, educação, alimentos, construção civil e pesada, etc.); 2. Formatação de um projeto de escola permanente de formação sindical em nível internacional; 3. Reforço nas mobilizações e unificação das palavras de ordem do Dia Internacional de Luta das Mulheres (8 de março); Dia Internacional dos Trabalhadores (1º de maio); Dia de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (25 de novembro); Dia de Mobilização pelos Direitos dos Migrantes (18 de dezembro), entre outros; 5. Luta por uma educação pública de qualidade, laica e para todos; 6. Reforma agrária; 7. Liberdade de organização sindical e libertação de todos os presos políticos, com reforço à campanha em favor do líder estudantil equatoriano Marcelo Rivera e dos cubanos presos nos EUA; 8. Maior interação entre as organizações sindicais do continente, a partir de fóruns permanentes na internet, um site unificado do ELCS, etc.; 9. Rechaço à ocupação da ONU no Haiti, sob as ordens do imperialismo norte-americano.

Como encerramento do 8º ECLS, todos os participante entoaram de pé e com o braço esquerdo erguido o hino dos trabalhadores de todo o mundo, A Internacional.

A 9ª edição será realizada no México, em 2013, também no mês de novembro. A declaração oficial do encontro destaca que:

“Estamos convencidos e comprometidos com nossa organização, por isso, entendemos a necessidade da unidade e da mobilização para enfrentar nossos inimigos de classe.” (…)

“Faz-se oportuno e necessário o chamado para que se produza uma vigorosa integração continental, na qual a classe operária assuma a vanguarda combativa sob uma perspectiva classista e revolucionária. Neste sentido, este 8° Encontro Latino-Americano e Caribenho de Sindicalistas se reafirma como um importante espaço de reflexão a serviço da classe trabalhadora. É importante insistir na urgente necessidade de continuar, ampliar, fortalecer quantas iniciativas se requeiram para alcançar cada vez maiores níveis de unidade.”

“O sindicalismo classista se constrói em unidade permanente com a classe e combatendo os mais diversos desvios existentes, entre os quais o sindicalismo amarelo, o revisionismo, o anarco-sindicalismo, aos quais podemos opor um sindicalismo consequente, que enfrente a repressão policial, o regime jurídico em que se sustenta, e defenda a plena liberdade de atuação sindical.”

Na avaliação de Victor Madeira, do MLC, “o encontro foi muito produtivo e ratificou a necessidade de construir um sindicalismo classista e articulado em nível internacional, como alternativa dos trabalhadores para suas reivindicações mais específicas e para a conquista do socialismo, única saída ante a crise geral do sistema capitalista”.

Da Redação

Uso de agrotóxicos não diminuiu a fome no mundo

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No mundo, uma em cada sete pessoas vai para a cama com fome, (um bilhão entre a população de sete bilhões). Atualmente, o caso mais grave é o do continente África, onde a crise de fome, seca, conflitos e alta dos preços dos alimentos continuam a castigar a região Nordeste do continente, que compreende a Somália, Uganda, Etiópia, Quênia, Djibuti e Eritréia. A crise na Somália já matou 30 mil crianças de fome e já é considerada a pior dos últimos 60 anos.

O modelo de alimentação homogeneizante, global, padronizado ou norte-americano, tem por base alimentos altamente processados, ricos em gorduras, carboidratos, açúcares e sódio. Uma alimentação com essas características apresentam como consequências problemas de saúde como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão, etc. A perda de diversidade alimentar na cultura da população ocasiona problemas à saúde, e esse modelo apresenta também implicações ambientais, devido às práticas de agricultura intensiva, mecanizada, com elevada utilização de insumos químicos como agrotóxicos e implicações sociais ocasionadas pela significativa marginalização e empobrecimento dos pequenos produtores rurais.

O Brasil, para garantir o fornecimento de produtos para manter este modelo de alimentação norte-americano elevou o consumo de agrotóxicos. O governo brasileiro potencializou investimentos na monocultura que incentivaram o uso de agrotóxicos nas plantações; garante a isenção fiscal e tributária como parte da política expansionista do agronegócio; concede hoje redução de 60% na alíquota de cobrança do ICMS a todos os agrotóxicos; isenta completamente de IPI, PIS/Pasep e Cofins; etc. Esta política mostra a opção da classe burguesa no Brasil em ser submissa aos países imperialistas e exportadora de matéria prima (A Verdade, nº 134).

Conforme dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2009, o Brasil contava com 2.195 marcas de agrotóxicos registradas, relacionadas a 434 tipos de agrotóxicos. No ano de 2010, foram vendidas 789.974 toneladas, o que representou um valor de 6,8 bilhões de dólares. As dez principais empresas multinacionais responsáveis pela comercialização de quase 80% desses produtos foram: Syngenta (14,0%), Milenia (11,3%), Monsanto (11,1%), Nufarm (8,3%), Dow (7,5%), Bayer (7,1%), Basf (6,0%), Nortox (4,7%), Atanor (4,6%) e DuPont (4,2%). Pode-se verificar que o crescimento das vendas no Brasil foi maior que no mundo, sendo que, desde 2008, nosso país é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, posição antes ocupada pelos Estados Unidos.

O uso de agrotóxicos está dentro de um contexto maior no Brasil, como a questão agrária, onde não se realizou uma reforma para repartir a terra aos camponeses. Inclusive, estudos mostram que a concentração fundiária está crescendo no país. Faz-se uso dos agrotóxicos para garantir a colheita em grandes plantações, aumentando os lucros da burguesia do agronegócio em detrimento de qualquer outra questão como a saúde da população e o meio ambiente.

A representação da burguesia rural no Congresso Nacional é conhecida como Bancada dos Ruralistas e tem vários mecanismos para pressionar o Governo quando vê algum de seus interesses ameaçados, a exemplo da votação na Câmara do Novo Código Florestal (ver A Verdade nº 131). Na luta ideológica justifica o agronegócio como solução para a economia brasileira e que é a exportação de commodities a melhor forma de o Governo garantir o pagamento das suas contas externas.

Contrariando a tese de que o uso dos agrotóxicos seria a saída para alimentar uma população crescente e que iria acabar com a fome no mundo, temos hoje infinitas experiências que mostram ser possível alcançar boas produtividades a baixíssimo custo através de sistemas ecológicos de produção, sem agrotóxicos. Trata-se de sistemas diversificados, de baixo impacto ambiental, capazes de produzir alimentos saudáveis e contribuir para a promoção da segurança alimentar e nutricional, com uma alimentação diversificada e melhor renda para os pequenos agricultores.

O Brasil se sujeita a ter na economia mundial um lugar subalterno e sob o domínio de grandes empresas multinacionais, permitindo qualquer coisa, sem regulação, tudo em nome das exportações e de um crescimento que enriquece meia dúzia de pessoas e leva milhares de outras, na zona rural e urbana, para a miséria.

Hinamar Araújo de Medeiros, agrônomo