UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quarta-feira, 27 de novembro de 2024
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Ernesto Che Guevara (14/06/1928 – 8/10/1967)

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“O Che era uma pessoa de infinita confiança e fé na humanidade. Era um exemplo vivo. Era seu estilo ser um exemplo, estabelecer um exemplo. Era uma pessoa com grande espírito de sacrifício, com uma natureza verdadeiramente espartana, capaz de qualquer tipo de abnegação.

Era um revolucionário completo que olhava para a humanidade do futuro e que, antes de mais nada, enfatizava os valores humanos, os valores morais da humanidade. E, acima de tudo, praticava a abnegação, a renuncia, o altruísmo.

Como todo revolucionário em tempo integral, ele sabia o que Jose Marti, esse grande patriota, queria dizer com essas palavras: “Toda a glória do mundo cabe num grão de milho”.

Os revolucionários não lutam por glória, nem para ocupar um lugar na História. O Che ocupou um grande lugar na história porque isso não era importante para ele, porque estava pronto para morrer desde a primeira batalha, porque sempre foi absolutamente abnegado.

As futuras sociedades serão feitas de gerações de pessoas como o Che! Uma sociedade melhor irá surgir com o comunismo.

Eis porque a juventude do mundo vê Che como um símbolo. O nome e a figura de Che são vistos com respeito, admiração e afeição em todos os continentes. Os que lutam pelos direitos civis, os que lutam contra a guerra da agressão, pela paz, assumem o nome e a bandeira de Che.

Graças a sua vida, sua abnegação, sua nobreza, seu altruísmo, seu heroísmo, ele se tornou o que é hoje. Ele nos legou seu exemplo. Ele se tornou uma bandeira, um modelo, um guerreiro. O Che é, em resumo, um modelo de revolucionário, como guerreiro e como comunista para todos os povos do mundo.”

Leia também: Lições de Che Guevara
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Fidel Castro Ruz

 

Zoya Kosmodemyanskaya, a guerrilheira símbolo da luta contra o nazismo

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Zoya Kosmodemyanskaya nasceu no dia 13 de setembro de 1923, na província de Tambov, na União Soviética. Seu nome é uma referência aos santos Cosme e Damião (Kosma e Demyan, em russo). Aos seis anos, sua família muda-se para a Sibéria, onde Zoya tem uma parte de sua infância em grande contato com a natureza. Aos oito anos, nova mudança. Dessa vez para a capital, Moscou. É lá que Zoya inicia sua formação política, ingressando nas Pioneiras, a organização responsável pelos primeiros ensinamentos socialistas às crianças e jovens de oito a quinze anos. Aos dez anos, seu pai morre precocemente.

Aos quinze anos, é transferida para o Komsomol, a juventude do Partido Comunista. Lá, cumpre com zelo as tarefas que lhe são confiadas, dedicando-se especialmente ao trabalho da alfabetização de adultos. Propõe e aprova em seu coletivo a meta de que cada militante seja responsável pela alfabetização de pelo menos mais 10 pessoas. Dizia que gostava desse trabalho porque a fazia sentir-se mais adulta, mais responsável. Essa responsabilidade também demonstrava em casa, sempre ajudando sua mãe nos serviços do lar e na educação de seu irmão mais novo, Shura. Adorava literatura e história. Seu sonho era ser escritora. Nessa época escreveu em seu diário:

“Respeita-te a ti mesmo; não te superestimes; não sejas incomunicável; não sejas parcial; não andes a clamar que os outros não te respeitam ou te apreciam; trabalha com afinco para te desenvolveres e assim adquirirás maior confiança em ti mesmo”

O trabalho na retaguarda

Os sonhos de Zoya, porém, e os de milhões de jovens em todo o mundo estavam ameaçados. O capitalismo criara o nazismo com o objetivo de aumentar a exploração sobre os trabalhadores em todo o mundo. O principal alvo da fúria nazista era a União Soviética, o seu governo revolucionário. Em 22 de junho de 1941, Zoya ouve pelo rádio o discurso do Molotov, Comissário do Povo para Assuntos Estrangeiros, anunciando a invasão nazista ao território soviético. Como militante do partido, tinha recebido treinamento militar e, no mesmo dia, alista-se nas forças de defesa.

O ataque nazista é cruel e fulminante. Várias cidades são destruídas. Moscou é bombardeada. Zoya participa da defesa da cidade durante os ataques aéreos. Depois, é transferida para a retaguarda, para os campos de batata que alimentam as tropas. Lá, se destaca não apenas na produção como também na luta política, mantendo sempre elevado o moral de seus companheiros de trabalho. Escreve para a mãe:

“Minha adorada mamãe: perdoa-me por não ter escrito ainda. É que me falta o tempo para cartas. Mamãe querida, bem sabes que estamos arrancando batatas, para ajudar o Estado a fazer a colheita … o trabalho aqui não é nada fácil, mas não te preocupes, quando voltar para Moscou verás como estou bem e feliz.”

A Guerrilheira Tanya

Quando termina seu trabalho no campo de batatas, Zoya volta a Moscou. A ameaça nazista, porém, ainda estava presente e cada vez mais próxima da capital. Zoya sabia que tudo de bom que os trabalhadores haviam construído depois do triunfo da Revolução de 1917 corria o risco de cair na mão dos nazistas, os mais reacionários inimigos do povo. Assim que toma conhecimento da situação, não tem dúvida: decide alistar-se como guerrilheira. A partir daí, adota o nome clandestino de Tanya. Antes de partir, diz a sua mãe: “Não te desesperes, mãe. Se me acontecer alguma coisa, não é razão para se desesperar. O Soviete cuidará de ti”.

Os guerrilheiros tiveram uma participação decisiva na vitória soviética sobre o fascismo. Enquanto o Exército Vermelho encarava o exército nazista, impedindo seu avanço, os guerrilheiros, compostos principalmente de civis, atacavam a retaguarda do inimigo. Sua missão era causar todo dano material e humano possível. Destruíam mantimentos, armazéns, vias de transporte e comunicação. Preparavam emboscadas e armadilhas. Atuavam à noite. Não permitiam que o inimigo descansasse, obrigando-o a ficar sempre alerta. Agiam como espiões. Forneceram valiosas informações ao Exército Vermelho.

O destacamento guerrilheiro de Zoya foi responsável por vários ataques às tropas invasoras. Uma informação, porém, iria mudar para sempre a história de Zoya. Ela e seus camaradas descobrem que uma pequena cidade nos arredores de Moscou, Petrishevo, fora invadida pelos alemães e transformada em um quartel-general. As casas haviam sido tomadas e os habitantes obrigados a servir aos nazistas. Zoya sabia seu dever. Sabia que as tropas de Hitler não poderiam ter um segundo sequer de descanso, e a idéia de que um povoado inteiro servia de refúgio para os fascistas a enfureceu profundamente. Reúne dois outros guerrilheiros e diz: “Vamos ver que espécie de repouso eles vão ter”.

Durante a noite, com grande habilidade, entra em Petrishevo sem ser notada. Alguns minutos depois, vários prédios da cidade estão ardendo em chamas. Zoya só se retira quando tem certeza de que o fogo estava suficientemente alto. Na saída, ainda corta os fios telefônicos, para impedir que os nazistas pudessem pedir socorro.

Apesar da ação bem sucedida, Zoya descobre que os fascistas haviam conseguido apagar o incêndio e que a cidade continuava a servir de quartel para os agressores. Insatisfeita, resolve voltar para terminar seu trabalho. Dessa vez, entra na cidade disfarçada em roupas de homem. Escondidos sobre o casaco e em todas as partes, benzina e fósforos. Conseguiu entrar em um dos prédios, mas havia caído em uma armadilha. Antes que pudesse sacar seu revólver, foi presa pelos alemães.

“Lutem sempre!”

Zoya foi espancada e torturada. Com o corpo e as roupas cobertos de sangue, foi levada à  casa do camponês Vasily Kulik, que relatou o que viu:

– Quem é você?  – pergunta o tenente-coronel Ruderer, comandante do 332º. regimento nazista.

– Não digo. – respondeu Zoya.

– Foi você que ateou fogo no estábulo na noite de anteontem?

– Sim.

– Qual seu objetivo ao fazer isso?

– Queria destruí-lo.

– Quando atravessou a fronteira?

– Não digo.

– Quem lhe mandou?

– Não digo.

Furioso, o coronel disse:

– Não diz? Em breve dirá.

Zoya foi torturada por mais duas horas. Mas, ao contrário do que pensava o coronel, ela não disse nada. Após as torturas, o camponês Vasily conseguiu convencer um dos guardas a deixá-lo levar um copo d’água para Zoya. Ela perguntou:

– Quantas casas eu queimei?

– Três. – respondeu Vasily.

– Queimei algum alemão?

– Um.

– Que mais?

– Vinte cavalos e o cabo telefônico.

Zoya suspirou. Gostaria de ter causado mais prejuízos. Mas a informação do resultado de seu ataque a reconfortou. Durante o dia seguinte, novas sessões de tortura. Mais uma vez ela não disse nada. Vendo que os interrogatórios eram inúteis, os nazistas decidiram enforcar Zoya em praça pública. Em seu pescoço penduraram uma placa com os dizeres: “Incendiária de lares”. Queriam que sua morte servisse de exemplo para os soviéticos. De fato, Zoya haveria de ser tornar um exemplo, porém bem diferente do que os nazistas planejaram.

A forca foi montada na praça central. Embaixo, uma cadeira. Os habitantes de Petrishtshevo foram obrigados a comparecer. Alguns choravam, outros viravam o rosto. Mas os alemães haviam ordenado, até, que fossem tiradas fotografias desse momento. Em cima da cadeira, com a corda no pescoço, Zoya aproveitou-se da espera e iniciou uma vibrante agitação política: “Avante, camaradas! Por que estão tristes? Sejam bravos! Continuem nossa luta. Matem alemães! Queime-os!  Envenenem-nos!”.

Os nazistas enlouqueceram. Não sabiam o que fazer. A máquina fotográfica foi rapidamente guardada. O carrasco correu para empurrar a cadeira. Zoya ainda gritou: “Lutem sempre! Stálin está conosco!”.

Foram suas últimas palavras. Isso aconteceu no dia 5 de dezembro de 1941. Zoya tinha, então, 18 anos. Seu corpo ficou pendurado durante vinte dias. Suas palavras e seu exemplo, porém, correram a União Soviética como um raio. Seguindo o exemplo de Zoya, milhares de jovens alistaram-se como guerrilheiros. Os guerrilheiros faziam da vida dos invasores um inferno. Os soldados de Hitler não podiam descansar. Não podiam dormir. Em qualquer lugar, a qualquer momento, havia um guerrilheiro pronto para atacar. Muitos soldados nazistas enlouqueceram. Milhares foram mortos pelos guerrilheiros.

Em 1º de dezembro de 1942, um ano depois da morte de Zoya e já durante a contra-ofensiva soviética, o jornal Izvestia publicou a seguinte notícia: “No decorrer dos primeiros dias da ofensiva de Rhzev, os soldados do general Povetkin esmagaram várias unidades de tropas alemãs”.

Entre essas tropas, completamente destroçado e atemorizado, estava o regimento que havia assassinado Zoya. O glorioso Exército Vermelho havia conseguido vingar a morte de sua heroína.

Homenagens

O silêncio de Zoya ante os nazistas foi tal que mesmo o Exército Vermelho teve dificuldade de identificar quem era a guerrilheira Tanya. Em 16 de fevereiro de 1942, Zoya tornou-se a primeira mulher a receber, postumamente, o título de Heroína da União Soviética. Em 1944, Lev Arnshtam fez um filme sobre sua vida. Foram compostas também peças de teatro e músicas em sua homenagem. Dois asteróides descobertos por astrônomos soviéticos foram batizados com seu nome. Ainda hoje há estátuas de Zoya nas cidades de São Petersburgo (antiga Leningrado), Tambov, Dorokhov e Petrishevo.

Durante a década de 1980, uma das principais militantes da Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão, organização que lutava contra a opressão fundamentalista sobre as mulheres daquele país, adotou o nome Zoya como seu nome clandestino. Assim, Zoya Kosmodemyanskaya continua inspirando os revolucionários em todo o mundo.

Referências:

  • Santa Rússia. Maurice Hindus. Editorial Calvino. 1944
  • www.greeklish.org/features/zoya

População em situação de rua cresce em São Paulo

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É visível o aumento da população em situação de rua em São Paulo. Essa percepção pode ser comprovada com a pesquisa realizada pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads) e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que aponta quase 14.000 pessoas nessa situação na cidade. Em 2000, quando foi feito o censo anterior, eram pouco mais de 8.000 pessoas nessa situação; assim, um aumento de quase 50%.

É importante lembrar que a rua não é lugar feito para morar: uma pessoa que se encontra hoje obrigada a dormir, comer e permanecer pelas calçadas está nessa situação porque já foi privada de todos os seu direitos, inclusive o de ter um lugar para morar. Por isso é que, quando falamos dessa população, dizemos “população em situação de rua” e não “moradores de rua”.

Percebe-se com tal cenário que está cada vez mais aguda a precarização da vida dos trabalhadores. Excluída do sistema de produção ou carente de política social dos governos – ou ainda os dois fatores conjugados –, uma parcela da população sem a estrutura mínima de um teto para se abrigar é forçada a dormir nas ruas, embaixo de viadutos e marquises.

Quem vive em situação de rua trava – e não é exagero dizer – uma luta diária para se manter vivo: para conseguir comida, evitar a violência da polícia e da população que não o aceita, manter-se distante das drogas e das doenças psicológicas, além de enfrentar as oscilações do tempo.

Nos meses de junho e julho deste ano, os termômetros de todo o Estado registraram as madrugadas mais frias do ano; na capital a temperatura chegou a 4ºC, mas em algumas cidades do interior desceu abaixo de 0ºC. Em decorrência das baixas temperaturas morreram por hipotermia algumas dessas pessoas em situação de rua, como os dois casos ocorridos na última semana de junho, um na cidade de Juquitiba e outro na de Penápolis.

Geni dos Santos, responsável pela Associação Rede Rua, relata que está cada dia mais difícil atender à demanda da população em situação de rua. “De alguns anos para cá, principalmente nas épocas de frentes frias, as filas que continuam depois que a lotação [do albergue] está completa são bem grandes. Isso é bastante preocupante, demonstra a descaso do governo em resolver a situação dessas pessoas.”

Para tentar esconder essa realidade, a Prefeitura de São Paulo vem deslocando os albergues, centros de acolhida e projetos de assistência para os bairros mais afastados do Centro, sem considerar que essa população necessita das condições dos centros urbanos para sobreviver. “Essa já parece ser uma movimentação do governo para se preparar para a Copa do Mundo, mas é um paliativo que não resolve em nada a problema dessas pessoas, só atrapalha”, afirma Geni.

Com o pretexto do combate às drogas, essa mesma prefeitura deseja adotar a internação compulsória dos dependentes químicos que estão em situação de rua, algo semelhante ao que já é feito no Rio de Janeiro. Trata-se da internação involuntária de jovens e adolescentes dependentes químicos (usuários principalmente de crack) sem nem sequer a autorização dos pais/responsáveis. Nos noticiários esta medida ditatorial acaba sendo mencionada como uma iniciativa boa dos governantes. Na realidade, não há estrutura, muito menos profissionais adequados para tratar essas pessoas; mais do que isso, especialistas confirmam que a maioria dos casos de internação involuntária tornam a recair.

Esses seres humanos são jogados às ruas se tornando invisíveis, e apenas sendo lembrados quando sua presença incomoda interesses políticos e econômicos. Guilherme Manoel de Araújo, que está em situação de rua, fala sobre essa política do governo: “O intuito disso, na realidade, nada mais é do que uma limpeza urbana; tirando pela situação em que eu me encontro, se tivesse a possibilidade de proporcionar uma vida melhor seria legal, porém obrigatoriamente não surtirá efeito algum. Querendo ou não, vai ser uma prisão!”

Esta é mais uma tentativa frustrada de tirar essas pessoas da vista dos turistas, não porque a pobreza e a dependência química dessa população sejam uma preocupação dos governos, mas porque isso não dá a São Paulo status de uma boa cidade metrópole.

Isabela Melo e Ana Rosa Carrara, São Paulo

Estudantes se mobilizam para mudar a Ubes

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No início do ano o governo cortou R$ 3 bilhões da educação para garantir mais R$ 50 bilhões para os pagamentos dos juros da dívida interna; foi uma medida absurda e drástica, pois o gasto com a educação no Brasil representa apenas 2,88% do total do Orçamento da União.

Enquanto isso, continua grave a situação das escolas do nosso país: baixos  salários para os professores – como demonstram as greves em vários Estados –, estrutura precária e merenda de baixa qualidade.

Segundo Carolina Sarmento, Coordenadora Geral da Fenet e militante da UJR, “é preciso modificar as prioridades no Brasil; a educação só é prioridade na campanha eleitoral, depois é desprezada pelos governantes”.

Mas em meio a esse caos na educação, a diretoria majoritária da Ubes não move uma palha contra o corte de verbas nem contra o avanço da privatização da educação. Na realidade, várias bandeiras históricas dos estudantes estão sendo abandonadas em troca de uma política de bajulação do governo. Prova disso é o silêncio e a cumplicidade da entidade diante dos criminosos leilões do petróleo brasileiro realizados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), ou o apoio ao novo Código Florestal, do deputado Aldo Rabelo (PCdoB) e da senadora Kátia Abreu (DEM), que anistia os responsáveis pelo desmatamento e favorece o agronegócio.

Para Carlos Henrique, presidente da Aerj, diretor de escola técnica da Ubes e militante da UJR,  “a defesa do ponto de vista de que as riquezas do nosso país devem servir aos interesses do povo sempre foi uma marca da Ubes e não podemos aceitar essa traição aos interesses dos estudantes; e que se priorize a defesa do governo em vez dos interesses do povo brasileiro”

“Este ano se completam 30 anos da reconstrução da Ubes desde que a entidade foi proibida pela ditadura militar. A organização e a rebeldia dos estudantes secundaristas sempre amedrontaram os poderosos do nosso país, não podemos deixar que tudo isso seja pisoteado, completa Gabriela Valentim, dirigente da Ares do ABC de São Paulo.

Construir uma Ubes de luta

É impossível falar desse processo sem ressaltar o exemplo dos jovens que, com coragem e ousadia, entregaram toda sua energia para defender o fim da ditadura e a construção de uma sociedade socialista no Brasil. Exemplos como os de Édson Luís, Marco Nonato da Fonseca, Jonas José de Albuquerque, Antônio Ribas e José Montenegro de Lima nos fazem, num momento de comemoração da reconstrução da Ubes, exigir a abertura dos arquivos da ditadura militar e a punição imediata dos responsáveis por esses atos criminosos.

Stefanie Vilela, presidente da Uespe e militante da UJR, diz: “A luta dos estudantes, em diversos Estados, contra o aumento das tarifas do transporte público mostra a justeza dessa luta e a disposição dos jovens brasileiros”.

Diante da necessidade de transformar definitivamente esse quadro, a União da Juventude Rebelião (UJR) lançou a candidatura do estudante mineiro Gladson Reis, atual presidente da Ames-BH a presidente da Ubes.

Gladson é militante da UJR e é a principal liderança da luta pelo meio-passe em Minas Gerais e em defesa de uma educação pública de qualidade. Para Gladson, “A tarefa de transformar a Ubes é uma tarefa de todos os estudantes brasileiros. É preciso unir milhares de  estudantes e várias forças políticas para construirmos um movimento novo e combativo e que resgata a história de lutas dos secundaristas brasileiros e garanta nosso futuro num píis livre e justo, um país socialista.”.

Da Redação

Impunidade mantém violência no campo

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O desrespeito à legislação ambiental no meio rural e os recentes assassinatos de lideranças de trabalhadores na Região Norte mostram que a burguesia não hesita em usar a violência  contra os trabalhadores rurais para manter os seus interesses. Além da morte dos trabalhadores, temos o desrespeito à legislação trabalhista e o envenenamento de toda a população por meio dos alimentos contaminados por agrotóxicos.

Este ano já houve vários assassinatos:

1) Em abril, na cidade paraense de  Pacajá, Adão Ribeiro da Silva e “Nildo” foram mortos por terem supostamente denunciado plantadores de maconha dentro do assentamento Rio Bandeira.

2) Em maio assassinaram os ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, em Nova Ipixuna, também no Pará. Adelino Ramos foi assassinado em Vista Alegre do Abunã, em Porto Velho (Rondônia); ele havia denunciado a ação de madeireiros na região da fronteira entre os estados do Acre, Amazonas e Rondônia. E no dia 28 desse mês  foi encontrado morto em Nova Ipixuna, no Pará, o trabalhador rural Herenílton Pereira, de 25 anos.

3) Em junho, foi morto o  agricultor Marcos Gomes, que era acampado numa área do projeto de assentamento Sapucaia, em Eldorado dos Carajás, Pará. No dia 9, Obede Souza foi assassinado próximo a sua residência, no Acampamento Esperança, em Pacajá; ele teria denunciado e discutido com um grupo que seria responsável por extração ilegal de madeira na região.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) contabiliza 641 casos de violência no campo, com 918 mortes, nos Estados da Amazônia Legal. De 1985 a abril deste ano, somente 27 casos foram a julgamento, menos de 5%. Nesse período, 18 mandantes de crimes e 22 executores foram condenados e 17 executores absolvidos. Em todo o país, ocorreram 1.580 assassinatos no campo nos últimos 26 anos.

Para os representantes da burguesia, como a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) e o deputado federal Moreira Mendes (PPS-RO), os assassinatos são crimes comuns, sem relação com denúncias de irregularidades ambientais na região. A senadora admite que possa haver algum excesso, mas como resultado de “invasões” de propriedades privadas. Ou seja, para ela os pistoleiros contratados pela burguesia agem de forma legítima e os trabalhadores rurais são os criminosos.

 “O conflito não se restringe mais à terra, inclui também a disputa por recursos que existem nas propriedades, principalmente pela madeira. Hoje, os grandes proprietários vão aos assentamentos e oferecem dinheiro para que os assentados desmatem áreas de preservação e vendam os recursos. Quem não aceita essa situação é vítima da violência”, explica Elisângela Araújo, presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf). Simultaneamente, a burguesia altera a legislação florestal como forma de legalizar a violência que vem desenvolvendo contra os trabalhadores rurais e o meio ambiente, usando como um dos argumentos exatamente a defesa da exploração agropecuária dos assentados e pequenos agricultores.

A tendência é continuar a violência no campo. Hoje a bancada ruralista no Congresso  Nacional é composta por mais de 217 deputados e senadores e teve um incremento com a adesão dos deputados do PCdoB para alterar o Código Florestal. Tem um grande poder político para intimidar o Executivo e a minoria do Judiciário que resolve exigir dela o respeito à legislação atual. Os ruralistas, além de defenderem a violência contra os trabalhadores, desejam ainda:

1) Alterar para pior o Código Florestal;

2) impedir a criação de unidades de conservação e áreas indígenas;

3) aprovar a revisão da legislação trabalhista, para regularizar o trabalho escravo;

4) evitar a revisão dos índices de produtividade usados pelo governo para fins de reforma agrária, que são de 1964 e preveem revisão a cada 10 anos, revisão que nunca foi feita;

5) garantir que desapropriações de terras sejam feitas apenas se houver recursos garantidos no Orçamento da União;

6) liberar organismos geneticamente modificados (terminator”, com genes estéreis, que não se reproduzem); e

 7) alterar a legislação atual para facilitar o registro de agrotóxicos novos e os proibidos pela legislação atual, sabendo-se que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.

Hinamar A. Medeiros é engenheiro agrônomo

História: 50 anos da Cadeia da Legalidade

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No dia 25 de agosto de 1961, renúncia o então presidente do Brasil Jânio Quadros. O “vassourinha”, como era conhecido por ter usado em sua campanha esse símbolo, prometera varrer a corrupção do país. Não conseguindo seu objetivo, cede à pressão de grupos de direita, com menos de sete meses de governo e renuncia crendo que os que o elegeram implorariam por seu retorno e assim voltaria ao poder mais fortalecido.

Pela Constituição brasileira, em caso de renúncia assumiria o vice-presidente, João Goulart. Este, eleito pela camada mais pobre da sociedade brasileira, faria um governo bem mais à esquerda. Prometera em sua campanha reforma agrária, política, urbana dentre várias outras que entrariam em choque direto com os interesses das camadas mais ricas do Brasil.

No entanto, ao ser anunciada a renúncia, Jango estava em viagem oficial para a China. Assim, assume a chefia do Estado, Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados. Cumprindo o mandato da alta burguesia nacional e internacional, os ministros militares se opõem à posse do vice-presidente, formam uma Junta Militar para assumir o governo e anunciam a prisão de Jango, caso retornasse ao país.

Ainda no dia 26, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola (1922-2004), declara não concordar com a junta militar e defende a posse do vice João Goulart. Na noite deste mesmo dia, o Marechal Lott e seus correligionários fizeram um manifesto à população brasileira concitando-a a uma enérgica defesa da legalidade. Lott acabou preso por ordem do Ministro da Guerra, Marechal Odílio Denys.

Brizola, para não ter o mesmo destino, parte para a resistência, mobilizando no dia 27 as polícias civil, militar, rodoviária e a guarda civil gaúchas para defender o Palácio Piratini (palácio do governo estadual). Mobiliza também os equipamentos da maior rádio do estado, a Rádio Guaíba, para dentro das dependências do palácio e começa a fazer discursos e programações em favor da legalidade. Mais 15 rádios do país e do exterior formam uma enorme cadeia e começam a transmitir a programação da rádio de Brizola. Esse movimento é batizado de Cadeia da Legalidade.

O movimento sindical também se indigna com o golpe militar e começa a se mobilizar. Em São Paulo, até a noite do dia 29, o DOPS tinha efetuado mais de 200 prisões de operários e líderes sindicais que deflagravam greves políticas nas fábricas contra o golpe. No Rio de Janeiro, foi imposta forte censura à imprensa mesmo com a Constituição ainda vigente. A esta altura, o arcebispo D. Vicente Scherer se posiciona também a favor da legalidade.

O Ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Grun Moss, ordena um bombardeio ao Palácio Piratini. Mas isto não acontece porque os sargentos da Aeronáutica se recusam a cumprir tal ordem, furam os pneus dos aviões, armam barricadas nas pistas de decolagem e dão-se as mãos por trás das barricadas. Quando Brizola soube da decisão do bombardeio, ordenou a instalação de metralhadoras no alto do palácio e na vizinha catedral. Carros, jipes, sacos de areia e até bancos de cimento arrancados pelos estudantes defendiam o lugar. Ao mesmo tempo, pela rádio, Brizola faz um longo discurso, do qual segue um trecho:

“Não nos submeteremos a nenhum golpe. Que nos esmaguem. Que nos destruam. Que nos chacinem nesse palácio. Chacinado estará o Brasil com a imposição de uma ditadura contra a vontade de seu povo. Esta rádio será silenciada. O certo é que não será silenciada sem balas. Resistiremos até o fim. A morte é melhor do que a vida sem honra, sem dignidade e sem glória. Podem atirar. Que decolem os jatos. Que atirem os armamentos que tiverem comprado à custa da fome e do sacrifício do povo. Joguem essas armas contra este povo. Já fomos dominados pelos trustes e monopólios norte-americanos. Estaremos aqui para morrer, se necessário. Um dia, nossos filhos e irmãos farão a independência de nosso povo.”

O General José Machado Lopez, comandante do 3° Exército se deslocava até o Palácio Piratini, para falar com o governador. Ao final do discurso, Brizola já contava com mais de 50 mil pessoas ao redor do palácio à espera do General. Todos achavam que o comandante ordenaria a prisão do governador e estavam lá para impedir. Quando o General subia as rampas do palácio, a multidão de mais de 50 mil pessoas (boa parte já armada com um antigo arsenal da Brigada Militar, comprado no início dos anos 30 para um eventual confronto com Getulio, entoou o Hino Nacional, obrigando-o a virar-se, bater continência à bandeira e cantar o hino. O comandante do 3° Exército, na conversa com o governador, declara que vai defender a Constituição e, por conseguinte a posse de João Goulart.

A jornada de Jango para retornar da China ao Brasil, passa ainda pela França, por Nova Iorque, Argentina, Uruguai, enquanto Brizola organiza sua recepção no País, onde entraria  pelo território do Rio Grande do Sul.

Enquanto isso, Porto Alegre é isolada do restante do país de todas as formas possíveis. Da imprensa até os bancos, todos deixaram no isolamento a pequena cidade. O 3° exército, que contava com 120 mil homens no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, reage a esta situação e passa a controlar toda a região sul do país.

Enquanto Brizola organizava a resistência na capital, no interior essa tarefa era cumprida pelos famosos Centros de Tradições Gaúchas – CTGs. Havia também comitês de apoio de estudantes, bancários, intelectuais, ferroviários, artistas. E até tradicionais rivais, Grêmio e Internacional suspenderam o jogo de domingo e declararam apoio à campanha.

No fogo dessa batalha, Jango enfim chega a Porto Alegre. No entanto, preparava-se um golpe dentro do golpe. A Constituição era emendada tornando o país parlamentarista. Assim, Jango não teria força para, enquanto presidente, executar as reformas de base, e a burguesia, finalmente, conseguiria quebrar o monopólio estatal do petróleo.

Jango tinha duas opções. A primeira, proposta por Brizola, seria marchar até Brasília com o 3° Exército, e a segunda, fazer o acordo com os militares e voltar ao poder num Brasil parlamentarista. Jango preferiu a segunda opção.

A massa em frente ao Palácio Piratini vaiou um Jango silencioso. Nem discurso proferiu para evitar uma suposta guerra civil e com ela um banho de sangue. Meses depois, acabou sendo deposto com o golpe militar de 1964.

O maior legado da Cadeia da Legalidade foi ter demonstrado mais uma vez, aos olhos até dos mais duvidosos, a força que tem o povo brasileiro levantado em armas e a necessidade que tem esse mesmo povo de marchar rumo à vitória final.

 Queops Damasceno, Porto Alegre

Subterrâneos da Liberdade: uma trilogia de luta

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Os Subterrâneos da Liberdade é uma trilogia de Jorge Amado narrada com toda a graça, leveza e poesia características desse importante escritor brasileiro.  A partir do golpe da ditadura do Estado Novo Jorge Amado retrata a resistência ao governo fascista de Getúlio Vargas e segue até 1957, ano de conclusão da obra.

Vários personagens compõem a trama, que trata desde o drama particular de Mariana em suas tarefas diárias do Partido, até Manoela e seu pensamento pequeno-burguês que a conduz a um mundo lindo, luxuoso e podre ao mesmo tempo. A greve dos estivadores de Santos, a solidariedade dos soldados duramente reprimida pela polícia, a questão do latifúndio (metaforizada em Venâncio Florival e na luta de José Gonçalo), a guerra dos republicanos contra os falangistas na Espanha, que conta com a participação de comunistas de diversos  partidos do mundo, são temas abordados no livro.

O Partido Comunista Brasileiro da época é retratado em sua combatividade, sua determinação pela luta diária, pela elevação da consciência, pelas conquistas diárias que conduzem ao caminho da libertação do povo – e lembra muito a luta atual do Partido Comunista Revolucionário. A obra esclarece várias situações da militância, fortalecendo a determinação revolucionária de se lutar para conquistar um mundo novo sem exploração e injustiças.

“Metida tenho a mão na consciência / e não falo senão verdades puras / que me ensinou a viva experiência”: é com tal epígrafe de Camões que Jorge Amado inicia essa emocionante história, que mostra uma face pouco conhecida do povo brasileiro: a face da coragem e da luta.

(Mariana Mendes é estudante de Geografia da UFSCAR, Sorocaba, São Paulo)

David Siqueiros, um artista revolucionário

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David Alfaro Siqueiros nasceu em Chihuahua, a 29 de dezembro de 1896. Órfão de mãe desde pequeno, viveu como nômade em seu círculo familiar. Em 1908, sua família se instalou na Cidade do México. Foi inscrito por Dom Cipriano, aos quinze anos, na renomada Academia de San Carlos, onde lecionava Leandro Izaguirre (1867-1941), oficialmente considerado o maior pintor nacional do momento. Lá, Siqueiros conheceu Orozco (1883-1949) que, aos 28 anos, abandonara a agronomia para se dedicar inteiramente à arte (Orozco defendia a renovação do sistema de ensino, decalcado nos moldes franceses).  Siqueiros participou, com ele, da greve que os estudantes organizaram em 1911, e pela primeira vez dormiu na cadeia. Nesse mesmo ano, desencadeou-se o movimento revolucionário mexicano, contra o ditador Porfírio Diaz.

Em 1919, Siqueiros é nomeado adido militar da Embaixada do México na Espanha. Começam assim suas andanças europeias. Diego Rivera (1886-1957), que conheceu em Paris, abre-lhe os olhos para as grandes inovações da pintura francesa: fauvismo e cubismo. Em troca, Siqueiros narra e comenta a revolução. Em 1922, de volta ao México, funda com Rivera e Orozco a escola dos muralistas.

David Siqueiros era um comunista que buscava retratar os problemas e sofrimentos de seu povo e criar uma identidade nacional para o país depois da revolução mexicana (1910 – 1921) com seus murais para prédios públicos. Foi o mais radical do trio. Marxista declarado por toda a vida, ele abraçou a ideia de arte coletiva que educaria o proletariado para a ideologia marxista. Siqueiros  raramente usava um cavalete, preferindo métodos e tintas comerciais e industriais, como pigmentos à base de nitrocelulose (piroxilina) e a pistola de tinta.

Influenciado pelos povos indígenas mexicanos e pelos estilos assimilados na Europa, as obra de Siqueiros retratavam camponeses heróicos e fortes e trabalhadores comuns lutando contra invasores e regimes totalitários e opressores do sistema capitalista. Esse seu envolvimento político o levou a se exilar em 1932 nos Estados Unidos. Alguns anos depois veio à América do Sul, onde fez conferências no Brasil e na Argentina.

Em 1937, Siqueiros abandona a pintura para se alistar nas brigadas estrangeiras  que lutavam ao lado dos republicanos da Espanha. Passa boa parte da conflagração espanhola em Barcelona, discutindo pintura e colaborando na retaguarda do movimento revolucionário antifranquista.

Em 1940, exilou-se voluntariamente nos Estados Unidos e em Cuba por ter se envolvido num atentado fatal a Trótski. Regressa ao México, em 1944, terminando assim, o tríptico A Nova Democracia – súmula de suas esperanças no renascimento mundial, após a hecatombe que na Europa sacrificou, entre vidas e feitos, a própria arte.

Seu espírito revolucionário, contudo, não perdeu força. Em 1960, Siqueiros passou três anos numa prisão estadounidense por incitar uma greve. Em 1974, morre Siqueiros, um dos mais influentes artistas mexicanos.

A arte visionária e profética de Siqueiros possui uma força que nasce do tom de discurso. Um discurso plástico; feito em voz alta, para ser ouvido e entendido como grande protagonista de seu tempo.

Diogo Belloni, estudante de Astronomia da UFRJ e militante da UJR

Negado pedido para redução da pena de Rivera

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O Comitê Único de Reabilitação Social negou pedido de redução da pena do dirigente estudantil Marcelo Rivera, membro do Partido Comunista Marxista-Leninista do Equador (PCMLE) e ex-presidente da Federação dos Estudantes Universitários do Equador (Feue).

“O Departamento de Avaliação e Controle do Centro de Reabilitação qualifica minha disciplina como exemplar, conduta exemplar. Estudo direito a distância, participo de todos os cursos. Dou aulas de alfabetização e computação nas celas. Tenho uma nota de 98, numa escala de 100, mas nada disso foi considerado no julgamento do meu pedido”, afirmou Rivera em entrevista ao jornal La Hora.

Marcelo Rivera disse ainda que a decisão foi “eminentemente política, visando ao amedrontamento dos lutadores sociais”. E completou: “Nada nem ninguém vai me deter na luta por dias melhores para meu país. O Equador vive hoje um regime de terror e medo”.

A perseguição também se estendeu a sua família. “Minha mãe trabalhava na Universidade Central como zeladora e, logo após minha prisão, foi despedida. Meu irmão estudava num dos colégios anexos à universidade e foi obrigado  a transferir-se. Perseguição familiar que vai além de um enfrentamento político. Decidiram me afastar da minha família para me amedrontar, mas estamos otimistas”, denunciou.

Rivera foi acusado de agressão terrorista e destruição de bens, no dia 8 de dezembro de 2009, quando a Reitoria da Universidade Central do Equador tentava aprovar a todo custo seu projeto de reforma universitária. Por isso, foi condenado a três anos de prisão, além de uma multa de 300 mil dólares. Em março, logo após a greve de fome de 27 dias que realizou, foi transferido de Quito para o Centro de Reabilitação de Sucumbíos (mais conhecido como a “Guantánamo do Equador”), em Lago Agrio.

Da Redação

“Os grandes monopólios, como a Warner ou a Sony Music, promovem uma arte alienante”

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O jornal A Verdade entrevistou Antonio Guerrero Drouet, membro da União de Artistas Populares do Equador (Unape) e do Partido Comunista Marxista-Leninista do Equador (PCMLE). Guerrero foi presidente da Unape de 2007 a 2009, é membro de sua direção nacional e poeta e escritor da esquerda revolucionária equatoriana.

A Verdade – Fale-nos um pouco sobre seu ingresso no PCMLE e sobre a importância da cultura para o Partido.

Antonio Guerrero – Sou um intelectual revolucionário. No ano de 1968, mais jovem que agora, nos estatutos do PCMLE, junto às características e condições para ser um militante estava escrito: não explorar o trabalho alheio, ser operário, camponês pobre e outros aspectos que correspondiam e correspondem às qualidades básicas para ser membro do partido. Saltou a mim de maneira vivaz: “intelectual revolucionário”. Me identifiquei com isso, era professor do ensino médio, gostava de ler e escrever literatura, poesia progressista, era membro da Casa da Cultura equatoriana da minha província, Esmeraldas. Fui vice-presidente de núcleo e me esforcei para cumprir os deveres de militante. Ingressei no Partido Comunista Marxista-Leninista do Equador quando tinha 27 anos. O regime populista de Velasco Ibarra reprimia fortemente a luta dos trabalhadores, dos camponeses, da juventude universitária e secundarista. Nos forjamos nesses combates que estavam ligados à luta contra o revisionismo contemporâneo kruchevista. Meu partido, desde aquela época, prestou sempre atenção à intelectualidade revolucionária,  para que estudássemos e assimilássemos o marxismo-leninismo. Em março de 1970 se realizou a 1ª Conferência Nacional do PCMLE, que aprovou nossa linha geral e os estatutos. Nossa resolução política e tática para essa conjuntura previa a luta contra a ditadura militar de corte desenvolvimentista e petroleira. Com os jovens do colégio Vargas Torres, onde eu era professor, contribuí na formação do grupo “Rumo ao povo”, que levava a arte, a literatura e o teatro aos bairros, sindicatos e comunidades camponesas. Assim, construir um poema, uma canção, um conto, tinha como propósito impulsionar a luta revolucionária para a conquista do Poder Popular.

No Equador se desenvolvia a corrente artística que tinha em “Los Tzánsicos”, de Quito, uma forte expressão política contra a dominação oligárquica nacional e norte-americana. Esses anos marcaram o ritmo da nossa poesia, da canção popular, do teatro e da pintura, que teve no Centro de Arte Nacional e em Rafael Larrea formidável destaque nas décadas de 80 e 90 e até o fim do século 20. Eu era um quadro dedicado às tarefas de construção das forças revolucionárias, mas escrevia poesia, elaborava contos e estimulava, nos coletivos em que militei, o trabalho artístico-literário popular.

Como você vê a cultura e a estética da indústria cultural capitalista?

A concepção estética do individualismo, que é a concepção estética das classes opressoras em geral e da burguesia em particular, é hegemônica, ainda que pesem as contradições que elas  suportam dentro de sua arte decadente: a promoção do “antiterrorismo”, a pornografia, o erotismo, a alienação, combinando com habilidade com outras formas que atraem para a sua concepção a juventude das classes médias.

Os grandes monopólios de arte massificadora, como a Warner ou a Sony Music, promovem essas expressões artísticas alienantes e conseguem enormes recursos provenientes do mercado criado por eles. Elvis Presley e Michael Jackson ainda depois de mortos são meios de enriquecimento desses monopólios que exploram e manipulam e às vezes enriquecem e destroem moralmente (como Lady Gaga, Justin Bieber, Shakira, etc.).

Diante dessa ofensiva, nós, do Partido Comunista, temos como parte de nossa ideologia e de nossa teoria científica a nossa concepção estética proletária, que se fundamenta na tese de que a classe operária e os povos fazem a história. Este é nosso arquétipo estético vigoroso, formidável, de onde brotam nossos heróis; nosso protótipo que, no marco da crise atual do capitalismo, se expressa nas lutas que se apresentam na Europa –Espanha, Grécia, Inglaterra – e nos países árabes, na luta política e social que se desenvolve na América Latina, particularmente no Equador.

E como você define a cultura popular e a estética revolucionária? Qual sua relevância?

A arte popular (que tem expressões de classe incertas no folclore, nas etnias e nacionalidades, nas culturas nacionais), principalmente como disseram Brecht e Rafael Larrea, é aquela arte que confronta a arte e a literatura burguesas e imperialistas na atualidade, assim como a política da burguesia. O governo de Rafael Correa [o atual presidente do Equador], cada vez mais identificado com os interesses dos Estados Unidos e da China imperialista, das oligarquias nacionais, dos banqueiros e exploradores nacionais, se apresenta como “de esquerda” e vende gato por lebre às faixas sociais que ainda conseguem ganhar com as reformas e obras desenvolvimentistas. A essa política – no nosso caso e sem negar apoio no campo artístico e literário às lutas dos povos da terra – nossa arte deve apontar, para que realmente adquira conotação popular. Meu último livro O arcanjo e a pedra, se refere precisamente a esses fatos políticos e mostra o semblante do “arcanjo” Correa

Qual o papel da Unape?

A União de Artistas Populares do Equador foi reconstituída em 2004 e está preparando seu 3º Congresso. Sua concepção e práxis é construir arte popular, multicultural, emancipadora.

A Unape existe em 16 das 24 províncias do Equador, mas em todas temos alguns grupos de artistas e escritores. Temos direções nacional e provinciais. Trabalhamos com muitos grupos musicais, com dança mestiça, indígena e negra, com pintura, vídeos, literatura nos diversos gêneros. Organizamos oficinas para diferentes áreas. Naturalmente temos visão e concepção populares da arte e da literatura. Temos limitações, mas trabalhamos em todos os terrenos, agora no terreno da teoria e da práxis, da criação artística e literária para avançar no processo revolucionário.

Todos os anos realizamos eventos artísticos importantes: em agosto, em Guayaquil, já há 27 anos, realiza-se o Festival Rosa de Agosto, com música, dança, teatro etc. Esse evento acontece em homenagem a uma jovem professora, Rosa Paredes, militante do PCMLE, morta durante a greve nacional do magistério durante a ditadura militar petroleira desenvolvimentista, em 1973. Em fevereiro realiza-se, em Quito, o festival Jaime, Hermano Pueblo, em memória de Jaime Hurtado, dirigente comunista assassinado durante o governo da democracia cristã de Jamil Mahuad, no fim do século passado.

A Unape continua o trabalho do Centro de Arte Nacional, criado por Rafael Larrea, poeta, músico, propagandista, organizador e formador de quadros para todas as frentes. Contribuiu também no alinhamento dos artistas militantes para que construíssemos um polo de atração para os artistas e escritores progressistas, democráticos e patriotas. Consta da linha do nosso partido que o Equador é um país plurinacional, multiétnico, pluricultural e, por meio dessa organização, trabalhamos para fortalecer a luta de classes e o processo emancipador que se desenvolve no Equador.

E para encerrar?

Envio um abraço fraterno e revolucionário para os camaradas do Partido Comunista Revolucionário no Brasil.

Vivian Mendes, Redação

Mulheres têm menos acesso aos transplantes de órgãos

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O estudo “Desigualdade de transplantes de órgãos no Brasil: análise do perfil dos receptores por sexo, raça ou cor”, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e apresentado no primeiro semestre deste ano, trata do perfil das pessoas que recebem transplantes de órgãos, como coração, fígado, rim, pâncreas e pulmão, e da questão da desigualdade no acesso a esses transplantes no Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com a Constituição Brasileira, o acesso aos transplantes de órgãos deve ser universal, ou seja, igual para todos, independentemente de sua raça, cor, sexo, nível econômico etc., porém o estudo do Ipea mostra que mulheres e pessoas negras, pardas ou amarelas são menos beneficiadas nesses procedimentos. A situação se agrava quando é constatado que a maioria da população brasileira é composta por mulheres e negros e pardos, e ainda que a necessidade de receber os transplantes é bem semelhante entre gênero, raça e cor. Ou seja, nada justifica essa disparidade.

A análise não se aprofunda nas causas dessa desigualdade, mas aponta alguns fatores que contribuem para que ela exista. Entre eles estão as condições de saúde dos pacientes, as características socioeconômicas, o estilo de vida, os níveis de escolaridade e a posse de planos e seguros de saúde privados. Assim, aqueles e aquelas que durante toda a vida já sofrem maiores privações de acesso à saúde de qualidade têm este fator pesando contra si no momento em que necessitam de um transplante.

O fato é que a desigualdade no acesso aos transplantes não pode ser visto como algo normal ou natural. Essa situação é resultado de toda uma estrutura existente na atual sociedade. Não se trata de acaso ou coincidência; a maior parte da nossa classe é composta por mulheres e “não brancos”, que evidentemente durante a vida acumulam debilidades físicas que os fazem menos aptos a receber um transplante, apesar de a lei garantir, ao menos no papel, a universalidade no atendimento.

Esta é mais uma prova de que as leis, por melhores e mais avançadas que sejam – como é o caso da lei que regulamenta o SUS – são insuficientes para garantir justiça e dignidade para o nosso povo.

Vivian Tavernaro, do Movimento de Mulheres Olga Benário

Alguns índices apontados no estudo:

– De cada quatro pessoas que recebem um transplante de coração, três são homens;

 – 65% dos que recebem transplante de fígado são homens e 77% são brancos.

Acesse o estudo completo no link www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/tds/td_1629_WEB.pdf