A burguesia e os latifundiários do Paraguai, apoiados pela embaixada do EUA, aplicaram sumariamente um golpe no país, valendo-se das próprias leis burguesas, que sempre permitiram que as classes dominantes impusessem sua vontade.
Em duas rodadas de votação no Parlamento, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, foi deposto de seu cargo no último dia 22 de junho. Na Câmara dos Deputados o resultado foi de 76 votos a favor do impeachment e apenas um contra, e no Senado de 39 votos a favor, quatro contra e uma abstenção. Assumiu imediatamente a Presidência da República o vice de Lugo, Federico Franco.
Em nota oficial, a Direção Nacional do Movimento ao Socialismo, partido do presidente deposto, afirma: “O Parlamento hoje só representa a si mesmo. Os parlamentares que votaram pela destituição do presidente Fernando Lugo não podem arrogar-se de maior representação que a si próprio. Assim, 115 indivíduos impuseram sua vontade sectária aos 700 mil cidadãos que elegeram Lugo como presidente”.
Da abertura formal do processo de cassação à sua execução, passaram-se menos de dois dias, não possibilitando tempo real para a defesa, nem muito menos tempo para que o povo paraguaio, maior interessado na questão, pudesse opinar ou se manifestar sobre os rumos do seu país. Dada à forma truculenta e apressada como tudo foi feito, a manobra se constituiu num “Golpe de Estado Parlamentar”. Tudo isso, realizado com total monitoramento da Embaixada dos Estados Unidos no Paraguai.
O ex-bispo da Igreja Católica foi eleito como alternativa à dominação dos partidos oligárquicos, ao Partido Colorado – que comandou o país por seis décadas, inclusive sob uma ditadura abertamente fascista –, e recebeu apoio de parte das classes trabalhadoras, que acreditou em suas propostas.
Com o propósito de ganhar as eleições, Lugo construiu uma composição com o Partido Liberal, um dos partidos tradicionais da oligarquia, denominada Aliança Patriótica para a Mudança.
Devido a essa aliança com forças reconhecidamente de direita, um importante setor dos trabalhadores, especialmente dos camponeses, e as principais organizações de esquerda (Movimento Popular Pyhuara e o Pátria Livre) não o apoiaram, além de terem alertado para sua posição de conciliação com os latifundiários.
Como a principal promessa de Lugo para as massas populares foi a realização de uma Reforma Agrária que acabasse com o latifúndio, e esta não se concretizou em quatro anos de governo, os conflitos sociais no campo aumentaram. O último ato desta disputa secular no Paraguai foi o assassinato de 11 camponeses e a morte de seis policiais numa ação repressiva do Estado contra uma ocupação de terras improdutivas. A verdade é que Fernando Lugo, preso à aliança com as forças conservadoras, não conseguiu implementar nenhuma das reformas políticas, econômicas e sociais que prometeu na campanha, perdendo apoio popular.
Apesar de este fato ter sido o detonador da crise que culminou com o impeachment do presidente, este não foi um caso isolado, tendo já o Parlamento aprovado a Lei Antiterrorista, com a sanção presidencial, justamente para reprimir as lutas dos trabalhadores da cidade e do campo.
Centenas de militantes políticos estão sendo processados, perseguidos, demitidos e mesmo assassinadosd e os camponeses paraguaios permanecem vivendo na miséria, sem saúde, sem lar, sem terras, enquanto uma minoria de ricos fazendeiros enriquece cada vez mais.
As forças reacionárias nacionais e internacionais, em especial o imperialismo norte-americano, o Partido Colorado (derrotado nas últimas eleições) e o Partido Liberal (que governava com Lugo na Vice-Presidência) aproveitaram o cenário político de instabilidade e aplicaram sumariamente um golpe, valendo-se das próprias leis burguesas, que sempre permitiram que as classes dominantes imponham sua vontade. Novamente, a história se repete em nosso continente, já tão marcado por manobras políticas, corrupção estatal, golpes e ditaduras militares.
Mas o Governo de Fernando Lugo não satisfazia por completo a burguesia e os latifundiários, já que se inscrevia entre os governos ditos progressistas na América Latina, que possuem certas contradições com o imperialismo ianque e que, permanentemente, são alvo de seus atos subordinadores.
Fica, mais uma vez, a lição: fazer aliança com a grande burguesia e os latifundiários é a mesma coisa que colocar raposas para tomar conta do galinheiro.
As massas populares, os povos originários, os trabalhadores, os camponeses, a juventude e a esquerda revolucionária paraguaia repudiam esta farsa para depor o presidente eleito e não reconhecem o impostor Federico Franco.
Seguirão seu caminho, firmes e de cabeça erguida lutando por seus interesses e pela libertação nacional e social e por um Paraguai socialista.
Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário (PCR)
O caminho que me leva ao aterro do Flamengo, onde aconteceu a Cúpula dos Povos, me obriga a cruzar com carros pretos, esfumaçados, de sirenes cintilantes, adesivos VIP, indo em direção ao Rio Centro onde acontece a Conferencia das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, reunião chapa branca, aonde só entra quem tem CPF em dia e foto recente.
Caminho cruzando uma pista de alta velocidade que devorou mais vítimas essa semana. http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/mulher-morre-atropelada-no-aterro-do-flamengo-20120621.html. Ao caminhar vou devagar e divagando se há uma luta de classes entre motoristas e pedestres. Fica claro que não há espaço para outros ritmos, a cidade impõe o seu, vorazmente. Já vejo tendas brancas e outras coloridas brotarem como flores redondas, capítulos entre as árvores do jardim de Burle Max. A cada passo naquela direção, mais distante vai ficando meu horizonte, como dizia Galeano:
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”.
Aterrizo lentamente no aterro, lembrando que piso no antigo morro de Santo Antônio, usado como adubo nesse lindo jardim. Piso onde havia um mar. Imagino suas praias com seus índios nus, esquecidos e afogados em um rio de janeiro que já foi de suas canoas de tronco só e de cuja a herança, nos restam apenas poucas memórias em nomes de ruas, sobrenomes e objetos de museus.
Começo essa caminhada na forma de texto, em homenagem ao professor Carlos Figueiredo do IBIO da UNIRIO que nos estimula a pensar e a professora Sandra Albernaz querida colega da Escola de Educação da UNIRIO, que me pediu para escrever algo sobre o que é essa tal “economia verde”. De pronto, começo a achar que a grafia mais correta talvez seja “green economy”. Prefiro escrevê-la em inglês, no idioma do império e dos neocolonizadores, o idioma da ONU para a Conferencia Oficial, pois é nessa língua que ela faz sentido e tem as suas ressonâncias em nossas vidas cotidianas e astuciosas[2].
É interessante notar a imensa dificuldade de traduzir essa ideia em especial para os povos originários. Esses dias me esforcei para explicar, na Cúpula dos Povos, no aterro, para meus amigos Guarani o que era a tal “green economy”. “Ao que parece essa discussão é muito mais pintada de verde do que “verde” de fato”, dizia um deles ao final de nosso papo, enquanto eu apertava sua mão como sinal de concordância e afinidade.
A base da green economy é o velho capitalismo, podre e moribundo. Prefiro continuar em inglês para não poluir o nosso português, uma língua parangoleica[3] que (ainda) nos pertence e nos une.
Tentei, mas descobri em meu pouco guarani, que não havia como traduzir a ideia de green economy. A dificuldade orbitava na ideia mesma de economia. Entre os povos originários faz mais sentido falar em eco-logia que em eco-nomia. Isso porque o prefixo “eco” que vem do grego oikos, quer dizer “casa” e nomia quer dizer administração, gerenciamento, daí economia: administração da casa. Entre os meus Guarani, assim como entre nós biólogos, é meio difícil, talvez impossível, pensar numa economia sem ecologia, já que “logia”, do grego, “logos”, quer dizer, estudo, saber. A pergunta é então: como administrar a casa sem conhece-la antes?
Este é o equívoco central, fundante e essencial da green economy. Em linhas gerais, ela não fala da vida, nem da casa, só remaneja o velho paradigma. Mas para entendê-la e fundamentar nossa crítica, vamos analisar sua ideia central, esta se baseia na inserção e criação de critérios verdes para a economia como um todo, como por exemplo, levar em consideração o ciclo de vida dos produtos, buscando o que eles chamam de produção mais limpa, que significa redução da poluição na fonte da geração dos produtos, estratégias de mecanismos de desenvolvimento limpo ou MDLs, uma economia que pense a redução do desperdício e do reaproveitamento, reciclagem e redução de materiais da produção ao descarte. São os famosos 3 Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) que já viraram 5 com recusar e repensar.
A proposta da green economy é o estímulo à uma economia que faça a redução da pobreza e das desigualdades sociais, através de empregos verdes e do tal desenvolvimento sustentável e da propalada sustentabilidade, das empresas às pessoas e governos, nessa ordem. Portanto, propõe-se promover o bem-estar e reduzir desigualdades sociais ao mesmo tempo em que se faz a redução dos riscos ambientais e da escassez ecológica. Para isso, há três pilares: ecoeficiência, ou seja, uso eficiente de recursos naturais, economia de baixo-carbono, ou seja, aquela que não emite ou reduz a emissão de gás carbônico e outros gases que contribuem para o polêmico aquecimento global, e então, supostamente, não influenciariam numa possível alteração climática, ao mesmo tempo em que ela seria uma economia inclusiva: http://www.radarrio20.org.br/index.php?r=conteudo/view&id=12&idmenu=20
Lindo? Os movimentos sociais, organizados ou não, as redes , os campesinos, o MST, o MAB, os índios, os migrantes climáticos, os povos tradicionais, os sedentos do planeta, os excluídos, o seu Miguel de Paraty, Seu Roque em Mamanguá, pescadores artesanais de Martim Sá, ribeirinhos do Amazonas, os que tiveram que deixar seus modos de vida por causa do acidente do rio Pomba, os pescadores de Sepetiba e da Baía de Guanabara, os trabalhadores de Jirau, os grupos agroecológicos, as ecovilas, alguns professores em greve e outras eco-vítimas, acham que a coisa pode não ser tão linda assim.
A discussão para esses grupos que fizeram coro na Cúpula dos Povos, é que a tal green economy é só pintar de verde o velho capitalismo excludente, patriarcal, racista, hipócrita, cruel, genocida e injusto de sempre. Para eles, essa suposta nova forma de economia, estaria usando o discurso da sustentabilidade como a velha estratégia antropofágica do capitalismo, ou seja, usando a sua imensa habilidade de incorporar e ressignificar qualquer coisa que se oponha a ele.
Desta forma, diretrizes ambientais, viram estratégias de marketing ecológico, o famoso greenwashing, bem como diferencial competitivo para conquista de um mercado de consumo cada vez mais “consciente”. O mercado consumidor se transforma num passe de mágica, em mercado verde, transformando compras governamentais, de empresas e de pessoas, em compras verdes e conscientes, http://cio.uol.com.br/tecnologia/2010/04/23/sustentabilidade-governo-lanca-portal-para-compras-verdes/. Ou seja, aquelas comprinhas feitas com “critérios ambientais”, do tipo: “leve esse camisa de algodão mestiço, rústico e azul, feita por mulheres-monges canhotas do alto solimões e do Tibet sagrado, costuradas pelas mãos sagradas do fogo sagrado dos povos do alto himalaia esquerdo, três é 10 real! Pode pagar com visa, a gente parcela” e coisas do tipo!
A incorporação do discurso ambientalista pelo “setor produtivo”, pelo capitalismo em processo de falência, cria estratégias de alianças público-privadas entre governos e empresas de eco-fachadas, tenta flexibilizar leis ambientais, financia a campanha de deputados e senadores para isso. Neste ponto, gostaria de dizer que venho estudando o financiamento de campanha da chamada “bancada ambientalista” no parlamento brasileiro e está ficando claro como as empresas transnacionais, símbolo de nosso modelo, mais interessados e “líderes” do discurso da green economy, entram no jogo político “democrático”. Elas financiam, sistematicamente, as campanhas de deputados e senadores (desde o início da carreira pública deles) e quando eles chegam lá, esses filhos-da-puta, ocupam cargos estratégicos nas comissões de meio ambiente tanto no senado quanto na câmara. Por isso conseguiram aprovar as vergonhosas, vexatórias e espúrias alterações no código florestal, aprovar Belo Monte e outros, mesmo com a sociedade, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) , Academia Brasileira de Ciências, entre outros segmentos sendo contrários[4].
O discurso da green economy fala em reciclagem e numa economia baseada na redução do desperdício que pensa os ciclos de vida dos produtos, e não no ciclo de vida das pessoas, como se os produtos tivessem vida e não consumissem a vida. Dessa forma, justifica-se manter milhares de catadores como catadores de lixo sem direito à mobilidade social. É uma economia que ao pensar no valor da natureza, quantificando seus custos e serviços ambientais, dialeticamente gera a precificação e a mercantilização da vida.
Vejamos os três pilares da economia verde: ecoeficiência, economia de baixo carbono e inclusão social, vamos fazer uma leitura crítica sobre os mesmos. Em primeiro lugar, a chamada ecoeficiência, como o nome sugere, trata-se de um fruto do pensamento neoliberal que quer medir a produtividade e a eficácia dos processos ambientais, nesse sentido, a natureza sempre perde, pois ela tem um tempo outro, um tempo próprio, nada eficiente diante dos desafios do mercado, por isso a necessidade da intervenção humana. É uma lógica coerentemente perversa. Que fez por exemplo, enquanto se negociava um acordo pífio na Rio+20, mudando uma vírgula aqui e um ponto parágrafo ali, a ambientalista Dilma doava 20 bilhões do seu , do meu, do nosso din din para salvar os bancos europeus, é a chamada “solidariedade dos emergentes” http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/06/120619_g20_encerra_pu_ac.shtml
E mais 20 bilhões para a “infraestrutura nos estados” *(tipo assim, arco metropolitano que ia extinguir uma espécie de anfíbio) http://www.portogente.com.br/texto.php?cod=66678. Pergunto, porque não nos deu o aumento?
É importante lembrar também, que se ser ecoeficiente é reduzir problemas ambientais, podemos dizer: “Houston, temos um problema!” a Petrobras, a Vale. A Bunge, A MONSANTO e outras transnacionais altamente degradadoras e poluidoras têm todos os selos e prêmios de ecoeficiência.
O outro problema é concentrar os esforços em torno do gás carbônico e do discurso das mudanças climáticas. Tem gente que acredita nisso e tem gente que não, o problema para mim é, como nos falava Edgar Morin na Cúpula dos Povos, o risco da cegueira da hiperespecialização, olhamos para a molécula de CO2 e não para os conflitos e injustiças ambientais. Nesse sentido, ao reduzirmos cartesianamente a questão, não conseguimos contribuir em quase nada para mudanças sociais de fato. Como, por exemplo, a valorização verdadeira dos índios. Neste momento, enquanto escrevo essas linhas sentado numa confortável poltrona, a situação dos mortais é a seguinte: campesinos hondurenhos estão sendo mortos por conflitos no campo, pessoas estão sobre escolta policial no programa de proteção a testemunhas por conflitos e injustiças socioambientais na Amazônia, trabalhadores e moradores dos arredores de Jirau, estão sendo criminalizados, removidos e assassinados, torturados, desaparecidos, o presidente paraguaio que representa uma alternativa a uma ditadura de 70 anos sofre um golpe.[5].
E por fim, seu último pilar a ideia de inclusão social. Gosto de lembrar de Enrique Dussel, filósofo argentino, que nos diz que não se trata de incluir os excluídos, se trata de transformar a sociedade.
Mas, como eu acredito num mundo afetuoso e que só o amor constrói, o que vejo de alternativa é apontar para outros pilares, os pilares que a Cúpula Dos Povos apontou, ou seja por uma economia solidaria, baseada na justiça socioambietal, contra a mercantilização da vida e pela defesa dos bens comuns.
Nesse sentido, este é o momento de radicalização do pensamento ambientalista, como nos diz Agripa[6]. Radical do latim radis, quer dizer raiz, então radicalizar quer dizer ir até a raiz de algo, neste caso a raiz do problema é o sistema capitalista, neoliberal, do estado mínimo, da flexibilização das leis, da gestão, do produtivismo e da produtividade, da precarização do trabalho e do trabalhador, que mercantiliza a vida, polui, privatiza a semente, o genoma, a água e nos envenena, consumindo e privando-nos da natureza, gerando exclusão, miséria, luta no campo, conflitos e injustiças socioambientais, destruição ambiental, perda da bio e sociodiversidade e diretores de polos da EAD. Tudo isso sob o aval dos selos ambientais, das certificações, normas ISSO-isso, ISSO-aquilo, do greenwashing, que dá prêmios de meio ambiente e outras panaceias da ecopalhaçada da green economy, que nada mais é do que o velho modelo fantasiado de verde, com “políticas pra inglês ver”, com uma lógica interna que incorpora o discurso ambiental em “práticas de sustentabilidade”, que pinta o telhado de verde e manda mijar no banho para sanar a culpa judaico-cristã dos nossos “empresários conscientes”.
Enfim, precisamos mudar o sistema, mudar o modelo, tornando-o capaz de olhar para quem precisa ser visto. Isto se chama REVOLUÇÃO. Assusta? Como dizia Guimarães Rosa: “carece de ter coragem”! E ela já está acontecendo. Esse modelo já era! Veja o que está acontecendo na praça Tahir, em Quebec, na Síria e em várias partes do mundo.
Eu continuo apostando no diálogo, na construção de uma agenda comum, mas sobretudo, na visibilização dos vulneráveis, dos esquecidos, na visibilização de suas lutas. Precisamos nos unir a elas, pensar numa agenda de pesquisa que nos aproxime dos movimentos sociais e das pessoas. Que nos aproximemos em particular dos índios, a quem tanto devo por tudo que me ensinam.
Aprendi, seguramente, muito mais com meus Tudjá Kuery (os mais velhos) que com minha formação acadêmica formal. Vou terminar repetindo o que falei esses dias no Rio Centro:
Celso Sánchez (Esse texto é dedicado à Professora Sandra Albernaz e ao Professor Carlos Figueiredo da UNIRIO)
Notas
[1] Este título me foi dado por um guardador de carros, o famoso “flanelinha”, na rua Silveira Martins no Catete, e embora eu tenha a maior antipátia dessa turma, devo admitir: vox populi, vox dei!
[2] No sentido de Certeau,que nos diz que entre estratégias e táticas vamos criando nossa vida cotidiana e astuciosa, em suas palavras: “ Il est toujous bon de se rappeler qu’il ne faut pas prendre les gens pour des idiots.” (Sempre é bom lembrar que não se deve ter as pessoas por idiotas. Tradução deste idiota) CERTEAU, Michel d L’invention du quotidien, t. I: arts de faire. Paris, Gallimard, 1990.
[3] Em refencia a obra de Hélio Oiticica – Parangolé. – Ressalva: Prof. Alberto Roiphe, me perdoe por essa e outras blasfemias! Lembre-se das palavras de Jesus:”Perdoe-os, eles não sabem o que dizem” .. nem o que escrevem, aliás ele (eu) não sabe (sei) escrever!
[4] Para maiores informações: http://www.remea.furg.br/edicoes/vol27/art7v27.pdf
[5] Para maiores detalhes: www.cebraspo.org.br/ br.vlex.com/vid/-318732847/ http://www.folhabv.com.br/Noticia_Impressa.php?id=107951 http://desacato.info/2010/12/ataque-militar-contra-campesinos-hondurenhos/ http://racismoambiental.net.br/2011/12/camponeses-ameacados-de-morte-no-amazonas-perderao-protecao-da-forca-nacional/ http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5853788-EI294,00-OEA+expressa+preocupacao+e+pede+devido+processo+no+julgamento+de+Lugo.html[6] ALEXANDRE, Agripa Faria. A perda de Radicalidade do Movimento Ambientalista Brasileiro. Uma contribuição à critica do movimento. Blumenau Florianópolis:Edifurb Editora da UFSC. 2000. p.23.
O caso da senhora Luciana Ferreira, 41 anos, mãe solteira de três filhos, residente na Quadra A, lote 25 no Conjunto Geralda Medeiros, pode ser comparado aos inúmeros casos que foram denunciados ao Ministério Público em busca de solução para reparar uma injustiça. Luciana mora de favor em uma das casas que foi parar na mão de quem não precisa de moradia. Agora o “dono” da casa a quer de volta e busca na justiça ordem de desejo para Luciana e seus três filhos. Vivendo de bico através de faxinas em residências, de contribuição de pessoas da Igreja, Luciana é mais uma vítima da política de moradia em Patos.
Dona Luciana não foi contemplada com moradia através dos programas sociais dos governos, apesar de se encaixar perfeitamente nos requisitos para receber. O dono da casa, ao contrário de Luciana, recebeu a moradia popular devido à aproximação com políticos influentes na distribuição de casas. Como o “dono” não precisava de residência emprestou para que Luciana morasse temporariamente até que ele desejasse ter de volta a casa. Passados quase três anos, o “dono” volta e pede na justiça que Luciana seja despejada.
Assistentes Sociais da Companhia Estadual de Habitação Popular – CEHAP tomaram ciência do caso e comprovaram que quem de fato precisa da casa é Luciana e seus filhos, mas todos os documentos estão em nome do cidadão que foi contemplado com a casa. O caso agora está na justiça. O receio de Luciana é de que ela seja expulsa da residência com seus filhos passando a engrossar a fila dos sem-teto.
O caso relatado é semelhante a outros inúmeros denunciados junto ao Ministério Público. Enquanto quem não precisa de moradia popular recebeu generosamente casas, outros, como no fato relatado, enfrentam dificuldades para moradia indo constituir favelas na cidade de Patos e no país.
No dia 4 de junho, pacientes, familiares e funcionários do Hospital Universitário Pedro Ernesto foram surpreendidos com um incêndio que afetou todo o almoxarifado do HU. Todo o material do hospital foi destruído. Entre eles, seringas, luvas e medicamentos. Diversos andares foram afetados, cerca de 100 pacientes tiveram que ser deslocados e uma senhora de 65 anos morreu após inalar fumaça. Segundo o Governador do Estado, Dr. Sergio Cabral, a morte da mulher já estava prevista, a inalação da fumaça apenas abreviou o tempo.
Após o acidente diversas falhas foram encontradas. Entre elas a não existência de uma brigada de incêndio no hospital e 12 anos sem vistoria do corpo de bombeiros, falta de material cirúrgico e filme para raio-x e diversas salas de cirurgia funcionando com metade de sua capacidade. Isso tudo evidencia o descaso com a saúde pública em nosso estado. Em um bairro próximo ao hospital, fica o estádio de futebol Mario filho (Maracanã), onde foram gastos R$1 bilhão e 600 milhões em reformas enquanto a Unidade hospitalar recebeu em 5 anos R$35 milhões para a aquisição de aparelhos. Isso evidência a preferência do governo em investir mais dinheiro na Copa do Mundo em detrimento da saúde. Segundo o diretor do hospital, a construção é da década de 40. Por isso, há muito problemas elétricos e hidráulicos. Já a assessoria do Governo informou que o prédio é uma construção nova, que tem cerca de um ano. Nesse jogo de empurra, os mais prejudicados são os pacientes que dependem desse atendimento e ficarão sem medicamentos. O problema da saúde pública no Brasil é fruto de uma política econômica que privilegia o capital financeiro em vez do povo. Enquanto se destina 3,6% do PIB em Saúde, se gasta 45,9% em juros e amortizações da dívida pública. Entendemos, que para termos uma saúde de qualidade, devemos ter hospitais bem equipados, funcionários capacitados e materiais a serem disponibilizados a população (medicamentos, seringas, etc.), investimento público nas unidades hospitalares e melhor remuneração aos profissionais da área.
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Na manhã da última quarta-feira (4) o MLB – Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – recebeu a proposta da secretaria de habitação de Belém de inclusão das 100 famílias participantes da ocupação Sá Pereira num projeto habitacional do programa Minha Casa, Minha Vida para pessoas de renda entre 1 e 3 salários mínimos. A proposta havia sido verbalizada pelo secretário Osvaldo Gonzaga em reunião com o MLB na tarde da última segunda-feira.
Ocupação e organização das famílias foram capazes de garantir a conquista
A ocupação Sá Pereira se deu no prédio abandonado do INSS localizado na Avenida Presidente Vargas, centro de Belém, nas primeiras horas do domingo do dia 06 de maio. No mesmo dia por volta das oito horas da noite as 100 familias da ocupação eram surpreendidas pela ação truculenta da Guarda Municipal que pela força invadiram o prédio, e aterrorizando as famílias desocuparam o local.
Sem deixar a poeira baixar e aproveitando o calor do momento as famílias decidiram permancecer em luta e realizarem ato na frente do prédio no dia seguinte seguindo em passeata em direção a prefeitura.
Fruto do ato as famílias conquistaram o canal de diálogo com a secretaria de habitação que assumiu compromisso de até o fim de junho apresentar um proposta ao movimento.
Em todo esse período as famílias continuaram se reunindo semanalmente no núcleo do MLB aumentando a cada reunião o potencial de moblização realizando ato na FUNPAPA exigindo cesta básica e de olho no prazo dado pelo secretario se fazendo presente no dia 28 de junho na SEHAB para cobrar a resposta do compromisso firmado.
Para Fernanda Lopes, coordenadora do MLB, esse histórico de luta e organizaçao é o principal responsável para que essas familias possam ter no dia de hoje uma resposta positiva e o real compromisso da prefeitura em garantir a construção de moradia própria pra quem tanto precisa.
O MLB está certo que o exemplo da ocupação Sá Pereira será capaz de moblizar cada vez mais pessoas que sofrem mês a mês com o pagamento dos altos aluguéis. O clima é de grande festa e a reunião do MLB que ocorre na tarde de hoje (sexta-feira) promete se transformar num verdadeiro ato de comemoração da conquista do sonho da casa propria.
Em debate realizado no dia 26 de junho, o Centro Cultural Manoel Lisboa (CCML), abordou o recente golpe de estado promovido no Paraguai.
A Cônsul da Venezuela, Coromoto Godoy, apresentou em seu debate que o alerta à possibilidade de golpe já era dada desde a presença constante de representantes dos EUA em visitas nos países da América Latina. O golpe já vinha sendo programado e havia que se considerar a relação próxima e visitas constantes do vice-presidente à embaixada dos EUA no Paraguai. Assim, a condição política que se configurou no país após os últimos conflitos agrários e a posição do presidente terminaram por ser o pretexto esperado pelos 5 deputados ruralistas que propuseram o impeachmant do presidente, que em um julgamento arbitrário foi deposto do poder sem ao menos ter o direito de defesa.
Diante de tal quadro e considerando as diferenças do processo de resistência do povo paraguaio, de forma a preservar a vida do seu povo, o presidente Lugo vê em sua aceitação da decisão uma forma de evitar um derramamento de sangue no país. Contudo, é certo o seu comparecimento na reunião da Unasul e permanência no MERCOSUL, que debaterá a posição dos países da América (já em sua maioria absoluta tendo se posicionado contrários à condição daquele país hoje) acerca do golpe.
Coromoto saudou a iniciativa do CCML e afirmou a necessidade de o povo sentir-se cidadão dessa “Pátria Grande” que é a América Latina, se unindo contra o golpe e apoiando o presidente Lugo. Afirmou ser o golpe dado contra governo do Paraguai, um golpe à um governo eleito pelo povo que servia ao povo e defendia, entre outras, a re-apropriação das terras improdutivas dos grandes latifundiários, inutilizadas por estes, pelo povo. Assim, espera-se que o sentimento de solidariedade entre os povos da América cresça, que os países da “nuestra América” defendam esse país irmão e tomem partido, posto que os latifundiários já tomaram a sua posição.
Em maio, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Têxteis de Ipojuca (Sindtêxtil), Rodrigo Rafael, foi demitido pela Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe) como forma de intimidação às lutas que o sindicato passou a desenvolver desde o início do ano, quando foi fundado.
No entanto, a solidariedade de vários sindicatos e a intervenção do Departamento Jurídico do Sindtêxtil foi decisiva para virar o jogo a favor dos trabalhadores. No último dia 20 de junho, o juiz da 3º Vara do Trabalho de Ipojuca, Edgar Gurjão Wanderley Neto, decidiu “que a reclamada (empresa) proceda à imediata reintegração do reclamante em seus quadros, sob pena de pagamento de multa diária”. Acompanhado por um oficial de justiça e por vários dirigentes sindicais do Movimento Luta de Classes (MLC), Rodrigo Rafael foi reintegrado em suas funções na empresa.
“Esta vitória na Justiça demonstra que os patrões não podem tudo, ao contrário do que eles pensam. Vamos continuar lutando até reintegrar a companheira Alais Santos, tesoureira do sindicato, também demitida, e, acima de tudo, nos fortalecer a partir desta decisão para exigir a abertura imediata das negociações sobre a pauta de reivindicações que o Sindtêxtil apresentou em defesa da categoria”, afirmou Rodrigo.
Retaliações ao sindicato
O sindicato foi fundado dia 25 de fevereiro deste ano para fazer frente aos abusos cometidos contra os trabalhadores (assédio moral) e para lutar por melhores condições de trabalho (a empresa reduziu gastos com climatização dos ambientes e com refeitório) e por melhores salários.
Temendo o importante papel que o sindicato demonstrou desde o primeiro momento de sua organização, os capitalistas da Citepe se apressaram em deflagrar uma campanha de perseguição aos dirigentes sindicais. Mudaram os diretores do sindicato de setor e de turno para isolá-los dos demais trabalhadores e, numa tentativa desesperada de manter os operários longe da influência do Sindtêxtil, chegaram a demitir o presidente e a tesoureira.
A Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe) produz cerca de 500 toneladas de fios texturizados por mês, e a previsão, com o incremento de mais 14 máquinas até o final do ano, é passar para 2.300 toneladas. O volume de investimentos no Complexo Petroquímico, onde atuam a Petroquimíca Suape e a Citepe, é de R$ 6 bilhões, entretanto, os operadores da Citepe recebem míseros R$ 789,24.
Imagine poder descobrir e redescobrir fotos importantes que marcaram a história da humanidade. Adentrar ao universo no qual o homem está diretamente conectado com o mundo e sua marcha histórica. Compreender as transformações sociais ocorridas ao longo dos séculos. Entender os aspectos que levaram a decadência do Capitalismo como regime filosófico, econômico e político-social, partindo para a compreensão das lutas de classe, premissas do Marxismo-Leninismo.
Esses são aspectos abordados pelo livro Socialismo Científico – HISTÓRIA, volume 1: Sinopse de História Universal; método materialista dialético da Pré-História aos tempos atuais. Uma obra completa, alicerçada pelo tripé História, Filosofia e Economia, que aborda essencialmente a importância histórica para o Socialismo Científico(SC).
Ao utilizar genericamente a expressão Socialismo Científico, o autor Zola Florenzano, que completou recentemente 100 anos, nos faz compreender as mais gerais leis político-sociais guiando o leitor a um caminho de mudanças sociais.
Utilizando-se de uma linguagem clara, objetiva e de fácil compreensão, o livro parte da análise dos primeiros registros da humanidade, passando por importantes movimentos históricos. Ao leitor é possível viajar pela história das civilizações e compreender aspectos marcantes da Idade Média, do Capitalismo, das Revoluções Científicas e da Religião.
O livro ainda nos leva a conhecer as transformações políticas, econômicas e sociais, as descobertas marítimas, o Iluminismo, a Revolução Russa, as duas grandes Guerras Mundiais, o término da Guerra Fria e as perspectivas para o Século XXI. Em sua última explanação o autor aborda a influência de Marx e o futuro do Marxismo.
Em suas quase mil páginas, Socialismo Científico – HISTÓRIA, volume 1, apresenta ao leitor uma nova forma de ver e analisar os acontecimentos do passado. Um livro instigante voltado não apenas para historiadores, mas, sobretudo, para aqueles que desejam percorrer e compreender o universo contemplativo da história da humanidade.
O lançamento do livro vai ocorrer no dia 7 de julho no Circulo Militar do Paraná, às 17 horas. Largo Bittencourt, nº 187, Curitiba.
“Não trocaria um pedaço da terra de Cuba por todo o dinheiro que poderiam dar-me”
Teófilo Stevenson, Munich 1972
No dia 11 de junho, morreu uma estrela do pugilismo mundial, o cubano Teófilo Stevenson. Nascido em 29 de março de 1952 na cidade de Delicias, província de Las Tunas, Stevenson ganhou todos os títulos da Associação Internacional de Boxe (Aiba). Foi campeão mundial dos pesos meio-pesados, em 1969, e passou à categoria máxima um ano depois, para se proclamar campeão do Caribe.Tricampeão olímpico (Munich – 1972, Montreal – 1976 e Moscou – 1980), tricampeão mundial (Havana – 74, Belgrado – 78 e Reno – 86), o lutador também venceu os Jogos Pan-Americanos e Jogos Centro-Americanos e do Caribe.Exímio boxeador, dotado de talento e técnica extraordinários, Stevenson, além de um excelente atleta, leal com seus adversários e implacável em suas lutas, foi um do
s grandes defensores, ao redor do planeta, do regime socialista cubano.
Stevenson negou, por diversas vezes, convites para se transformar em lutador profissional e abandonar seu país, perdendo assim a chance de lutar contra Muhammad Ali. Em resposta a uma proposta de contrato que lhe renderia cerca de U$$5 milhões (R$ 9 milhões), proferiu sua mais marcante frase: “O que é um milhão de dólares em comparação ao amor de oito milhões de cubanos?”.
Ultimamente, Teófilo Stevenson se
dedicava à Vice-presidência da Federação Cubana de Boxe, munindo de sonhos e ideologia jovens garotos e garotas apaixonados pela modalidade e por sua Pátria Socialista.
No dia 7 de junho, a jovem operária Débora Heloar, de 20 anos, faleceu dentro da empresa Delphi Packard Electric Systems, empresa americana que fabrica chicotes elétricos (fiação elétrica) para a Fiat Automóveis na cidade mineira de Itabirito, próximo à região dos Inconfidentes. A morte da jovem revoltou os operários da fábrica e intensificou a campanha de denúncias contra a multinacional.
Uma das denúncias que os trabalhadores fazem é sobre o fato de que, quando os empregados afastados temporariamente retornam ao trabalho, voltam a exercer as mesmas atividades que geraram as doenças profissionais e suas sequelas. Andreia, um exemplo dessa situação, já ficou afastada duas vezes, o que totaliza quatro anos longe da empresa pelo mesmo problema. “Trabalhava no setor de tableiro, que era uma bancada fixa onde são montados os chicotes. Quanto voltei, o setor foi renomeado para conveyor e a mesa agora é giratória, e nela o ritmo de trabalho é acelerado, o tempo da máquina é controlado e um chicote fica pronto em um minuto e quarenta e cinco segundos”, conta, e completa: “Sem falar na tensão e no cansaço que retiram todo o nosso interesse em manter uma vida saudável”.
Os números registrados ilustram a situação na empresa, onde mulheres e adolescentes são tratados como verdadeiros escravos. Atualmente, 130 empregados estão afastados e outros 60, na faixa de 20 a 26 anos, foram aposentados por invalidez. Entre as doenças profissionais mais comuns estão a Dort (Distúrbios Ósseos Musculares Relacionados ao Trabalho), antes conhecida por LER (Lesões por Esforços Repetitivos) e a surdez ocupacional. No geral, de 1994 a 1999 foram registrados 2.066 casos de afastamento por doença profissional em todo o setor metalúrgico.
Laudo confirma más condições
Um laudo de 1997, feito por uma equipe de especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a pedido do Ministério Público do Trabalho, confirma as más condições de trabalho na empresa. Segundo o documento, “particularmente os setores de montagem de chicotes (tableiros móveis) e cockpit, as condições são inadequadas e antiergonômicas, estando em vários aspectos em desacordo com a legislação em vigor”. Em outros dois setores de produção, ainda segundo o documento, “apesar de à primeira vista a carga de trabalho não se ter mostrado muito intensa, alguns problemas e queixas foram também observados e deverão ser propostas melhorias”. O laudo conclui que, diante das condições inadequadas de trabalho, é fácil entender por que o número de casos de doenças profissionais existentes é significativo na empresa.
Os trabalhadores, porém, denunciam essa situação. Uma funcionária da fábrica enviou a A Verdade uma carta contando como aconteceu a morte da operária de apenas 20. Segue, na íntegra, o relato.
No dia 05/06/2012, segunda-feira, Débora chegou à empresa passando mal e se queixando de dor de ouvido e dores no corpo; passou quase o dia todo no ambulatório e, mesmo sentindo dores, não a encaminharam para o hospital.
No dia 06/06/2012, terça-feira, a jovem foi ao hospital por conta própria. Chegando ao hospital, Débora falou o que sentia à médica, que mal a examinou – apenas perguntou onde ela trabalhava e, quando ela disse “Delphi”, a médica deu um dia de atestado para ela; achou que era invenção, pois a empresa não é bem-vista.
No dia 07/06/2012, quarta-feira, Débora retornou à empresa. Chegou passando mal, sentindo muita falta de ar. Pediu água, pegamos a água; na hora em que ela foi beber, pediu pra poder ajudar porque já não estava enxergando; após beber a água, veio a desmaiar. Um brigadista que estava por perto a levou para sala de segurança, onde tinha dois bombeiros conversando, e ela sentada numa cadeira. Perguntamos como ela se sentia; ela disse que estava sentindo muita falta de ar e não estava nem conseguindo conversar; Mal conseguia levantar a cabeça, estava muito pálida e fraca. Débora chegou por volta das 5h30 e só foi levada para o hospital às 7h30, e, antes de a levarem para o hospital, já tinham ocorrido dois desmaios que, na conclusão de todos, eram dois ataques cardíacos. Chegando ao hospital, Débora veio a ter o terceiro ataque cardíaco, que foi fulminante.
Eu nunca vi uma empresa que não tem uma ambulância, não tem um médico ou enfermeira. Eles acham que temos que passar mal na hora em que eles querem, não tem nem remédio direito. O ambulatório abre entre 7h e 8h – fora o descaso que os chefes fazem e fizeram, mesmo depois que a jovem veio a falecer. A empresa não fez caso dos amigos que choravam, não pararam o setor onde ela trabalhava. Um dos amigos pediu à empresa que liberasse todos do setor para ir ao enterro, mas não permitiram e um dos chefes falou: “Como ia ficar a produção da empresa e como eles iam explicar pra Fiat que a empresa perdeu produção por causa de uma funcionária que tinha falecido?”. Mesmo depois que os funcionários disseram que trabalhariam mais tempo e nos finais de semana para não perder produção, eles disseram que não liberariam.
Isso é um absurdo, vários funcionários da empresa estão revoltados e alguns não querem nem trabalhar mais, pelo descaso com que trataram a morte da jovem.
A Delphi já vem sendo denunciada com várias queixas de funcionários que passam mal, e se o médico achar que estão aptos a trabalhar, eles são obrigados a trabalhar mesmo não tendo condições. Vários funcionários saem de licença por doença, por dores musculares, por problemas que dão dentro da empresa e mesmo depois de ficarem bastante tempo afastados; quando voltam, eles exercem o mesmo trabalho. Fora o estresse que têm alguns funcionários, que chegam a fazer tratamento. O estresse é tanto que uns chegam a entrar até em depressão e têm que fazer acompanhamento com psicólogo. E quando isso vai acabar? Quando mais pessoas morrerem…”
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